Gaspar 80 anos

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CRUZEIRO DO VALE


GASPAR 80 ANOS | MARÇO, 2014

12 LAGOA DO SONHO AO IMPOSSÍVEL 42 POÇO GRANDE DE ZONA RURAL A ÁREA DE INVESTIMENTOS 16 GASPAR GRANDE DE CARA NOVA 46 GASPARINHO E ALTO GASPARINHO OS 20 CENTRO O ANTIGO E O NOVO FAZEM COSTUMES DE UMA GERAÇÃO A HISTÓRIA DE GASPAR 53 BELA VISTA LAR DE ANTIGAS MEMÓRIAS 25 BELCHIOR CLIMA FAMILIAR E 68 BARRACÃO E MACUCOS INDÚSTRIA TÊXTIL GRANDE POTENCIAL TURÍSTICO PEDE PASSAGEM

32 MARGEM ESQUERDA SOB A BÊN- 73 SANTA TEREZINHA E GASPAR MIRIM ÇÃO DE DONA LETE

36 SETE DE SETEMBRO LUGAR DE OPORTUNIDADES

CONQUISTAS DA UNIÃO

77 COLONINHA E FIGUEIRA A NOVA CASA DE 800 MORADORES

ARRAIAL DO OURO MEMÓRIAS DO GARIMPO

EXPEDIENTE Diretor Gilberto Schmitt (Reg. Prof. 1557 - MTB/SC) Depto. Financeiro Ana Lúcia Schramm Schmitt Indianara Schmitt Gilberto Schmitt Filho Depto. Comercial Maurício Rodrigues Editor-chefe Jean Laurindo (Reg.Prof. 3889 - MTB/SC) Chefe de Redação Sandro Lauri Galarça (Reg. Prof. 8357 - MTB/RS) Projeto Gráfico e Diagramação Sandro Lauri Galarça Anúncios Maria Luiza Junges Fotografias Jean Laurindo Jessé de Almeida Joana Gall Gilberto Schmitt Reportagens Ana C. Bernardes, Joana Gall, Jean Laurindo, Thiago Moraes Pesquisa Histórica Leda Maria Baptista Impressão Gráfica ZF, Blumenau Circulação Março 2014

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CARTA AO LEITOR

Orgulho do passado, esperança no futuro Os bairros para além da freguesia São Pedro eram pouco habitados e basicamente dependentes da agricultura. A população era composta por imigrantes e famílias vindas de regiões como o Alto Vale, em busca de novas oportunidades e de um futuro próspero. Oitenta anos depois, diante de uma cidade com cerca de 70 mil habitantes, com elevados índices de qualidade de vida e em franco processo de desenvolvimento, é possível dizer que aqueles primeiros moradores de Gaspar triunfaram. “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, mas sim as que respondem melhor à mudança”. A frase do evolucionista Charles Darwin, amigo de Doutor Hermann Blumenau, desbravador de toda a região que mais tarde seria dividida formando o Vale do Itajaí, encaixa-se bem na história escrita por Gaspar ao longo desses 80 anos de emancipação política. Foi preciso se adaptar para migrar do modelo agrícola para o industrial, para abrigar mais e mais moradores em terras antes restritas à herança familiar. Foram décadas

de mudanças, novos conceitos e evolução, que permitiram que a cidade chegasse à marca dos 80 anos com a perspectiva de futuro otimista como a da juventude. Como eternizou o poeta gaúcho Mário Quintana, “o passado não reconhece o seu lugar” e, de fato, continua presente nas paisagens, nas memórias e nos costumes do povo de Gaspar. Parte dessa cultura e desse legado é apresentada nesta edição especial da Revista Cruzeiro do Vale, que comemora os 80 anos de Gaspar. Mais do que um presente para a cidade, a publicação é uma forma de documentar e destacar a trajetória específica de cada bairro nas últimas oito décadas. O material foi pensado e produzido com carinho e dedicação pela equipe do Cruzeiro do Vale para que a comunidade possa celebrar o aniversário da cidade e também refletir sobre a trajetória que nos trouxe aos dias atuais, assimilando os pontos positivos e negativos da história construída pela comunidade. Afinal, o caminho a ser trilhado nos próximos 80 anos é responsabilidade exclusiva de todos nós.

Cel. Aristiano Ramos, 441 - 1º andar Centro - Gaspar/SC | Fones: (47) 3332-9060 | 3332-4259 | 3332-5768 - redacao@cruzeirodovale.com.br | www. cruzeirodovale.com.br Fundado em 1º de junho de 1990 por Gilberto Schmitt e João Nivaldo Tomazzia 2 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

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Arraial do Ouro

Memórias do garimpo

Local hoje marcado pela tranquilidade e pelo clima bucólico, região do Arraial e Arraial do Ouro já atraiu centenas de homens à procura do sonho dourado

REPORTAGEM THIAGO MORAES

G

arimpeiros que trabalharam em busca de ouro durante cinco décadas no bairro Arraial do Ouro guardam somente no olhar o semblante de lembranças do passado. Um tempo que trouxe dor e coisas ruins, mas saudosismo também. Eles não perderam o direito aos fatos pretéritos, até mesmo de sentir saudade do que aconteceu há mais de 75 anos. As experiências vividas não acabaram em um estalar de dedos. Eles não estão proibidos de relembrar, de chorar e de remoer aquilo que poderia ser revisto, mesmo que não queiram de volta o que foi vivido e perdido. Lembram de cada minuto da busca pelo ouro. As histórias que nunca acabam de ser contadas continuam bem vivas dentro deles. Um enredo recheado de ganância, disputas, festas, miséria, mortes, lendas e recordações. “São as minhas marcas. Elas não são visíveis, mas não deixam de sangrar. O tempo não consegue apagá-las”, engatilha Adão Sabel, 77 anos, que cresceu e conviveu com garimpeiros nas décadas de 1950 e 1960. Desde a descoberta da primeira grota rica de ouro, em 1939, a fofoca ficou forte no bairro Arraial do Ouro. Até os tempos atuais notícias de que ainda há ouro varam o município de

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Gaspar. Desde a década de 1940 até o final dos anos 1990, no coração do Arraial, centenas de homens garimparam quilos e mais quilos de ouro, carregando nas mãos, nas costas, nos ombros, na cabeça, onde desse, a “menina dos olhos” do bairro. No início da descoberta, o Arraial se transformou em uma das maiores corridas do ouro conhecidas do Sul do país, com uma concentração de trabalho humano que chegou a ter mais de 1 mil garimpeiros, entre as décadas de 1940 e 1980. Adão da Silva, hoje motorista de ônibus aposentado e morando com a esposa no bairro Vila Nova, em Blumenau, conviveu por décadas com a guerra feroz do garimpo. Nas palavras contundentes de Adão, não há espaço para divagações e conclusões laterais. “Meus familiares contavam que tudo começou quando 300 homens que exploravam carvão vindos do Sul de Santa Catarina descobriram ouro no Arraial”, relembra Adão. Em 1947, com 9 anos, Adão já era órfão e trabalhava para comer. Morando com a tia, ele ia bombear água nos poços de uma casa vizinha para uma dezena de pessoas trabalhar durante o dia em uma obra. “Ganhava dois mil réis a hora. Uma miséria! Dava o dinheiro para minha tia em troca de comida e roupa. Mas a danada (a tia, já falecida) me enrolava, não recebia nem um par de meia!”, revolta-se.

Vocabulário dos garimpeiros Fagulhar: Palavra utilizada pelo garimpeiro que deseja dizer quando vara o mato em busca de ouro, em busca do cascalho do fundo do rio. “Bamburrou”: Expressão que resume o sonho de arrancar um volume de ouro capaz de mudar o destino do garimpeiro.

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JESSÉ DE ALMEIDA

Festas, jogatinas e

mortes

perto. Tinha dia que tinha briga de foice até a morte. Via tudo de longe, era moleque. Ouro é uma desgraça, meu filho”, sentencia Adão. A vontade de encharcar a língua no bar com pinga era a mesma para apunhalar a terra de sol a sol em busca de grandes quantidades de ouro. Foi assim com um parente de Adão. Após incontáveis jornadas, o familiar achou aproximadamente 10 quilos de ouro. “Ele escondeu o ouro em uma bananeira, cavou dois metros de profundidade no próprio Arraial. Passado pouco tempo, uma empresa de grande porte comprou o terreno onde estava guardado o tesouro. Em uma operação rotineira de trabalho, o ouro de meu parente foi encontrado. Resultado: o homem se enforcou. Morreu de ganância”, lamenta. Adão chegou até a tirar o seu ouro, mas vendia para sobreviver. “Era sempre poucas pedrinhas, dava para quase nada”, relata. Adão chegou ao Arraial em 1946 e permaneceu até 1967. Mais tarde foi trabalhar em Blumenau. Hoje tem dois filhos, cinco netos e quatro bisnetos.

Adão conta as dificuldades do garimpo

Arraial é uma aldeia ou povoação temporária, formada em função da extração do ouro. O córrego que banha essas áreas é também chamado de Ribeirão Arraial.

com as suas hemácias. Especialista em furação, Jorge expressa um semblante combalido e fúnebre, fruto da vida que levou nas décadas de 1970 e 1980, quando se esgotava de tanto garimpar em busca de dias melhores para a sua família. Jorge chagava a cavar, com os companheiros, mais de quatro metros de profundidade em busca de pepitas. “Havia vigilância dos próprios garimpeiros do Arraial do Ouro para que ninguém de fora viesse. As empresas, em torno de quatro, que exploraram o Arraial, em especial a região conhecida como vulcão, existente até hoje, levaram muito ouro. Na época auge, o vulcão era como se fosse um aterro gigante onde se deposita lixo, mas no caso

Aparentemente, Maria Petry Wilbert leva uma vida normal no bairro Arraial do Ouro, no interior de Gaspar. Dedicando todo o tempo para cuidar da casa onde vive e para ajudar a cunhada a fazer pães e doces caseiros, a senhora de 78 anos se diferencia quando o assunto é gestação e criação de filhos. “Dou graças a Deus pelos meus 18 filhos! Todos os meus meninos e meninas são uma bênção em meu viver. Meu coração tem espaço para cada um deles, assim como para toda minha família, composta atualmente de 110 pessoas”, comemora a matriarca, que tem 43 netos e 10 bisnetos, fora os demais agregados à família. Natural de Luiz Alves, Maria veio para Gaspar com o esposo, Victor Wilbert, em 1959. Chegaram ao bairro Belchior já com quatro filhos.

Em busca do ouro Um buraco era aberto na grota. Os homens cavavam até atingir o cascalho. Depois reviravam, lavavam e peneiravam com a

Arraial do Ouro

Ninguém sabe ao certo quantos quilos de ouro foram extraídos da terra do Arraial do Ouro. Estimativas de moradores antigos dão conta de que o volume extraído é superior a quatro toneladas (hoje R$ 392 milhões). “Na década de 1980 foi muito forte a exploração de ouro no Arraial. Houve semana em que se extraiu mais de 60 quilos. Mas como diz o ditado do garimpeiro: jamais diga a verdade sobre quantidades. Mesmo que esteja montado no ouro, o garimpeiro vai sempre jurar de pés juntos que está sem um centavo”, dispara um morador do bairro. Jorge (nome fictício), aparentando uns 50 anos, é um garimpeiro de fala mansa, mas que tem o bichinho do ouro impregnado nas veias junto

aqui era ouro. Lamento o fato de os garimpeiros ficarem a ver navios”, afirma Jorge, que tem como maior patrimônio as experiências de vida na mata do Arraial. A exploração do ouro no Arraial foi minguando no final da década de 1990, inclusive com manifestações populares contra a exploração por parte das empresas. Atualmente, o garimpo é supercontrolado por órgãos federais. O ouro é um metal de transição amarelo brilhante, pesado, dúctil e maleável que não reage com a maioria dos elementos químicos. A China é a líder mundial em produção de ouro. As reservas brasileiras de ouro representam cerca de 2% do total mundial.

Uma mãe de ouro

GILBERTO SCHMITT

Acostumado a pegar no pesado desde cedo, não foi difícil para Adão começar suas aventuras na mata do Arraial do Ouro. Lama, doença, água contaminada e o cheiro de fezes humanas se impondo sobre o corpo brutalizado da selva. Trilhas abertas no mato, cobertas de lama, água suja e barrancos. Onde batia o coração do garimpo, lá estava Adão, vendo tudo. “Eu vi homens com febre nos olhos e as pernas atoladas no barro arrancando o ouro das entranhas da terra. Era difícil achar uma criatura no Arraial que não fosse apaixonada por aquele ritmo de vida. Aproveitava as horas de folga durante a semana para ir atrás de meus ourinhos, e acabava testemunhando a rotina dos garimpeiros”, conta Adão, apontando para um matagal que era prodigioso em ouro em décadas passadas. O Arraial do Ouro aparenta atualmente ser um bairro tranquilo, bucólico. Porém, nas épocas de garimpo, a paz passava distante dali. Adão conta que os homens arrancavam da terra o ouro que iam gastar à noite no bar. Ali, homens e mulheres jogavam baralho, fumavam, bebiam, comiam e dançavam. E os varões brigavam por causa de mulheres como se estivessem em uma rinha de galo. “Tudo isto acontecia nos finais de semana, quando ninguém garimpava. Havia uma mulher para cada 50 homens, acredito. Isto que havia uns 500 garimpeiros que trabalhavam nas décadas de 1950 e 1960, quando pude acompanhar tudo isso de

Quantidade incerta

bateia, uma espécie de bacia, até sobrar só o ouro. O uso de máquinas pesadas era na época em que empresas exploravam o Arraial do Ouro, e caminhões saíam carregados do minério, além de outros veículos que esperavam nos arredores do bairro por uma chance de entrar na região.

Os demais nasceram e foram criados entre o Belchior e o Arraial do Ouro. “Todos os meus filhos estão vivos e somente três residem fora de Gaspar”, orgulha-se. Com o dom de pegar criança no colo e cuidar desde a infância, para Maria parir sempre foi algo natural, uma dádiva dada às mulheres. “Todos me chamam de mamãe. Isto não tem preço. No meu aniversário, nos dias das mães e no Natal a casa fica do jeito que meu esposo gostava, cheia de nossas crianças”, ressalta Maria, que perdeu o esposo há nove anos. “Meu querido marido amava demais crianças. Demos uma educação de princípios e conduta ética aos nossos filhos, ensinos que vieram de meu pai também, Aloísio Petry. Desde quando a criançada ia à escola aqui mesmo no Arraial do Ouro,

até quando estavam em casa, a criação sempre foi baseada na unidade da família e no cuidado afetivo que devemos ter com nossos familiares”, ensina. Antigamente, destaca Maria, era importante a vida antiga com muitos filhos. “Eles ajudavam na criação do gado e no trabalho de campo também, pois meu marido trabalhava com melado de cana-de-açúcar e venda de cachaça”, destaca. Ainda hoje parte dos filhos continua administrando a fábrica de cachaça, que faz 50 anos neste ano, e produzindo melado, entre outros produtos caseiros, como pães e cucas. A empresa de cachaça tem encomenda mensal para a região do Vale do Itajaí e Grande Florianópolis. “Amo colocar o nosso pão caseiro no forno e sentir o cheiro da retirada da fornalha”.

Maria Petry teve 18 filhos, todos ainda vivos 8 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

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Milagre fortaleceu laços familiares A maioria dos partos de Maria foi parto normal. Somente os últimos quatro nasceram em hospital. Em um dos casos, a parteira trazida pelo esposo não chegou a tempo e a própria sogra ajudou nos trabalhos de parto. “Minha fé e devoção ao catolicismo sempre estiveram comigo e com minha família nas muitas aventuras que passamos juntos”, garante. A casa onde Maria mora, no Arraial do Ouro, tem cinco quartos e os filhos e filhas ajudaram na construção e na ampliação. O vínculo familiar aumentou ainda mais em dois episódios. O primeiro foi um acidente quando o casal levava os filhos à missa de domingo na carroceria de uma picape, em 1989. Após uma falha mecânica, o veículo caiu em um barranco e sobre um pontilhão que havia logo na descida do barranco. “Foi um milagre de Deus. Ajudamos uns aos outros e saímos todos do automóvel. Todos meus 17 irmãos escaparam”, lem-

bra Ivo Wilbert, que mora na casa da família com a esposa Luciana Hostins Cândido Wilbert e os quatro filhos. Em 2008, a família superou as marcas de destruição que a enchente de 2008 deixou. “Lembro que tivemos que sair de helicóptero e ficamos 10 dias fora de casa. Para o sustento de nosso gado, eu, com meus irmãos, abrimos uma picada na mata para chegar até nossa casa. Na época, fomos morar com um de nossos irmãos no Belchior. “Estes dois acontecimentos foram angustiantes, mas fortaleceram nossa família”, avalia. Exemplo de mãe e de superação, Maria Petry Wilbert construiu uma vida de mãos dadas com o marido e os filhos, seja nas atividades diárias do campo ou nas horas de lazer. “É muito bom poder ter hoje este legado familiar tão sólido. Desejo levar isto quando construir minha família”, revela o filho de Ivo e neto de Maria, João Vitor, de 17 anos.

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LAGOA

Do possível ao impossível

U

ma frase de São Francisco de Assis exposta em um dos copos de vidro em uma prateleira da casa de Guido Nagel simboliza o gênesis e a história da família Nagel, coluna do bairro Lagoa. “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. Foi esta atitude que o pai de Guido, Floriano Nagel, teve quando deixou a minúscula cidade germânica de Bühlertann para partir rumo a Blumenau em 8 de dezembro de 1932. Uma forte crise na Alemanha entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial foi o motivo do êxodo que trouxe Floriano ao Brasil. “O pai fez um pouco mais de 23 dias de viagem quando aportou em Santa Catarina. Havia mais de mil passageiros no navio”, descreve Guido, de 74 anos, um dos sete filhos de Floriano e sua esposa, Lídia Maria Splenger Nagel. Ainda solteiro, Floriano permaneceu dois anos em Blumenau e tinha o sonho de trabalhar na agricultura, com cana-de-açúcar, leite, aipim, feijão, entre outros alimentos. Assim, Floriano conseguiria o sustento da futura família que desejava construir. Mas antes da boa terra havia um deserto para percorrer. Encarou dois anos e meio como servente de pedreiro e de serviços

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gerais no colégio Santo Antônio. Em relato do próprio Floriano no diário de anotações “Família Nagel do Brasil: Sua gente, sua história”, o alemão conta que trabalhou no fundamento do colégio, pertencente aos padres franciscanos. “O que mais senti foi o calor intenso, sempre por volta de 25º a 40º graus, pois não estava acostumado”, relata Floriano. Passado este período de árdua labuta, Floriano economizou o máximo que pôde e foi vislumbrar novos horizontes no bairro Poço Grande, em Gaspar. Depois de ter sondado vários terrenos em cidades do Vale do Itajaí, em 1934 ele comprou um terreno por um ótimo preço, já que o antigo dono estava chateado com as constantes enchentes. “Mais de duas décadas depois, em 1960, mais estabilizado com o trabalho da agricultura, construímos uma casa no bairro Lagoa, que fica ao lado da minha atual residência. Nossa família morou quase 40 anos nesta casa. O assoalho está um pouco danificado devido às enchentes, mas a casa em si está intacta, maravilhosa”, declara Guido, que há nove anos construiu outra residência ao lado da antiga casa comprada na Lagoa. “Talvez um dia reformemos a casa ao lado né, querido?”, sugere a esposa de Guido, Elzira Koehler Nagel, que recebe de Guido um sorriso com semblante positivo. Floriano morreu aos 97 anos de idade, em Gaspar.

Noventa anos após o patriarca deixar a Alemanha com destino ao Vale do Itajaí, família Nagel ainda conserva costumes interioranos no bairro Lagoa

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população dos bairros Arraial do Ouro e Lagoa é de 5.395 pessoas, o equivalente a 7,5% da população de Gaspar • IPTU: 0,07% do valor arrecadado em 2014 é proveniente desses dois bairros • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, os bairros são

CERAMFIX

responsáveis por 0,12% da arrecadação.

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ÁLBUM DE FAMÍLIA

A guerra à

distância Floriano casou em 23 de julho de 1935. Teve 12 filhos, sete homens e cinco mulheres, um deles já falecido. Sua esposa, Lídia Nagel, era de uma família tradicional da região do Pocinho, do patriarca João Splenger. Mesmo depois da desintegração com a Alemanha, o país germânico nunca deixou de ser uma espécie de satélite para Floriano. “Desde a minha chegada sempre mantive contato com meus familiares, porém este contato foi interrompido devido à Segunda Guerra Mundial por sete anos. Por outro lado, dou graças a Deus que estava livre destes fatos horrorosos”, conta Floriano em seu diário de anotações. Ainda jovem, Floriano perdeu um irmão na Segundo Guerra devido a um atropelamento de trem em uma construção ferroviária. O tempo foi passando e, a cada ano, Floriano se convencia de que sua vida estava se consolidando em terras gasparenses. “Ainda hoje viajo no tempo e fico impressionado com o esforço do meu pai”, revela Guido, que tem quatro filhos e nove netos. Vinte e três anos após chegar ao bairro Lagoa, a família Nagel passou seu momento mais difícil na enchente de 1983. “Perdemos tudo. Graças a Deus que a casa ficou de pé e eu tinha retirado o gado uma semana antes da cheia”, relembra Guido. Segundo um dos moradores mais antigos da Lagoa, a enchente de 2008 foi repentina, mas a de 1983 ocorreu aos poucos. Mesmo assim, por causa de uma chuvarada da noite para o dia, A família Nagel ficou presa em casa. “Não podíamos cruzar o bairro em busca de comida durante mais de um dia. O jeito foi retirar as nove pessoas de nossa família, inclusive meu pai, de barco. Conseguimos refúgio na casa de um amigo em outra região de Gaspar, onde ficamos 18 dias”,

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conta Guido, que recorda de relatos do pai sobre uma enchente também de proporções catastróficas em 1911. O bairro Lagoa também sofreu com a malária. Na década de 1940, a maioria da população contraiu a doença, inclusive Floriano, vítima da peste por duas vezes. “Depois de uma campanha maciça onde as casas foram pulverizadas com inseticidas, a doença foi erradicada na década de 1960, porém muitas crianças morreram neste período”, testemunha Guido. Criado em Gaspar e sob influência da língua alemã desde a infância, Guido teve um dos momentos mais emocionantes de sua vida quando foi visitar, em 1995, a cidade natal de seu pai, Bühlertann, que hoje conta com pouco mais de 3 mil habitantes. “Em casa falávamos alemão. Houve dificuldade na escola, mas com os vizinhos conversávamos em português. Temos sete primas na Alemanha e um de nossos parentes mora na casa que o meu pai morava no século passado. Foi uma emoção tremenda poder rever a origem de nossa família. A casa está reformada e a essência da residência está preservada”, informa Guido, que ajudou na construção da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo e da Capela São Brás, na Lagoa. Com um vínculo forte com a igreja católica, que vem de geração em geração, Guido nasceu em Gaspar, e guarda com imenso carinho uma recordação histórica trazida da Alemanha, na região da Floresta Negra. Trata-se de uma foto de Guido com familiares com uma réplica de um boneco que representa um vendedor de relógio suíço. “Há 800 anos vendedores suíços saíam com uma espécie de mochila para vender relógios na Alemanha de casa em casa”, explica.

Floriano chegou no bairro depois da crise na Alemanha

Lagoa Os terrenos eram muito alagados, cheios de inços, com lagoas fundas, repletas de jacarés onde também viviam bandos de marrecos d’água. A partir de 1920 os terrenos foram drenados para o cultivo da canade-açúcar. A localidade de Porto Arraial recebeu este nome devido a existência ali de um porto fluvial com estaleiro para construção e reparos de embarcações.

Vida na Lagoa De acordo com Guido, a família ainda cultiva alguns traços da vida da agricultura, como plantação de feijão, aipim, além de ter uma vaca para tirar o leite da família e plantação de cana para produção de melado. “Gosto da vida de agricultor, aprendi muita coisa com meu pai. De 1973 a 2000 trabalhamos muito com pecuária leiteira. Minha esposa produz geleia desde 1997”, afirma Guido, aposentado desde os 60 anos. Guido conta que até o final da década de 1990 a família ainda possuía 40 vacas. “Vendíamos queijos, mas não deu para continuar devido à alta inflação da época”, conta Guido, que chegou a trabalhar na indústria nos anos 1970, voltando depois para a agricultura. Guido faz questão de ressaltar a importância das famílias na vida e no desenvolvimento da Lagoa. Sobrenomes como Silva, Costa, Alves de Andrade, Santos, Venturini, entre outros, ajudaram no crescimento do bairro. “A Lagoa é um bairro que sempre cultivou os valores concretos da família. Em uma era digital tão individualista,

é preciso sempre valorizar a família como base da sociedade”, reforça. O morador salienta a evolução do bairro em sua estrutura, como água encanada na maioria das 300 casas da Lagoa, além de escolas, creches, igreja, cemitério e algumas regiões que têm asfalto. “Atualmente vou ao Centro de Gaspar só quando preciso de fato, umas duas vezes por semana”, conta Guido. Fato é que a família Nagel está no rol de famílias que pagaram um preço altíssimo para construir uma vida que ecoa a sua alegria de viver até hoje em Gaspar, em especial na Lagoa. E quis o destino que Guido fosse o único dos irmãos atualmente que residisse no bairro Lagoa. Ali, na vida rural e ao mesmo tempo urbana, Guido não reclama da vida, mas busca incentivar as famílias a lutar pela unidade familiar. “Continuo à medida que posso. Levanto 5h para fazer o meu melado que o pai fazia há décadas atrás. A vida é assim, temos de fazer o possível para nos darmos conta de que o impossível também está ao nosso alcance”.

Da Alemanha para a Lagoa

Casa da família Nagel, na Alemanha

Já idoso, Floriano Nagel passeia pelo bairro

Família enfrentou fortes enchentes em 1983 e 1984

Residência da família, em registro do passado

Antigo casarão da família, em foto atual CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS | 15


Gaspar Grande

De cara nova

Doma de cavalos, bailes de chão batido e água cristalina do ribeirão fazem parte da história da localidade

Gaspar Grande O bairro servido pelas águas do Ribeirão Gaspar Grande recebeu o mesmo nome. A localidade de Garuba tem seu nome ligado a árvore Garuva, abundante na região. Alto Minas são terras altas do bairro Gaspar Grande, onde existiam minas de materiais preciosos explorados nos séculos XVIII e XIX (1700-1800).

o percurso das águas. Nesta época, lá pela década de 1960, ele e os vizinhos brincavam no riacho e tomavam a água limpa. Hoje, por causa da poluição, isso não é mais possível. De família agricultora, Reinaldo lembra que foi criado na região das plantações de arroz, que na época era um banhado. Para arar a terra, seu pai Alfredo Isense, hoje com 90 anos, tinha a ajuda de bois e cavalos, já que não havia maquinário para isso. “Sinto que o bairro está evoluindo em vista do que era. Hoje

a vida é mais fácil, tem comércio, antigamente não tinha”, lembra o aposentado. Quando criança, Reinaldo se divertia brincando no mato e indo à escola, depois, é claro, de ajudar a família na roça, junto com os outros 10 irmãos. “Eu também sinto saudades de ajudar a domar os bois. Eles laçavam no pasto e palanqueavam no pé de Figueira. Depois derrubava no chão e furava o chifre pra usar na canga. Eram usados na roça ou pra puxar madeira no mato. Os cavalos também eram comprados

xucros e a gente domava. Eu gostava”. Reinaldo concorda que o bairro onde nasceu está crescendo e se modificando, mas para ele isso é inevitável. Na opinião dele, 60% dos vizinhos não são pessoas de Gaspar, mas famílias que vieram de fora à procura de oportunidades. “Hoje tudo tem que crescer. Conheço gente que veio pra cá com duas bolsas debaixo do braço e são gente certa, honesta, tiveram a chance. Que vá crescendo assim. É só trabalhar em conjunto que vai dar certo”.

REPORTAGEM JOANA GALL

A

imagem do campo verde e das plantações de arroz se mistura com a construção de casas e novos prédios. Assim é o bairro Gaspar Grande, onde o clima rural sobrevive na cena dos animais pastando, enquanto carros e caminhões cruzam a estrada de calçamento. A região tranquila, na verdade, já foi bem mais calma. A recente inauguração de edifícios trouxe mais movimento e moradores para o bairro, que cresce com a chegada dos novos vizinhos.

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A mudança é bem-vinda pelos moradores mais antigos, mas observada com cautela. Apesar da pouca idade, a estudante Marciana Borderes, de 20 anos, percebe o aumento da população e sente saudades da época em que o bairro era mais pacato. Nascida na região, a família mora no bairro há muitos anos e ela conta que notou o aumento no fluxo de veículos e a circulação de pessoas diferentes. “Antes costumava ser mais tranquilo, mais parado, mas eu gosto mesmo assim. Pretendo ficar aqui em Gaspar. Não é uma cidade grande, mas também não é pequena. É um meio termo”.

Quem entende muito do assunto “antigamente” é o morador Reinaldo Alfredo Isense, um motorista que viajou por todo o Brasil e agora está aposentado. Com 57 anos, ele viu muitas mudanças acontecerem no Gaspar Grande. Uma delas foi a dragagem do ribeirão que leva o nome do bairro. Esta melhoria aconteceu há cerca de 40 anos e trouxe muitas mudanças para a região. Conforme Reinaldo conta, antes qualquer chuva “colocava tudo no fundo da água”. Então, com a obra, diversas curvas do ribeirão foram cortadas, o que acabou mudando um pouco CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS | 17


Os bailes do Schramm JESSÉ DE ALMEIDA

Aleda Soares lembra dos bailes que aconteciam no modesto estabelecimento da família

Mais para o interior do Gaspar Grande, lá pela década de 1950, Villi Schramm comprou uma vendinha que iria ficar para a história do bairro. Feita de madeira, a construção ficava na beira da estrada e era ponto de encontro dos vários agricultores e vizinhos da região. Em dias de baile os conhecidos se reuniam e dançavam na pista de chão batido. Os músicos eram os próprios fazendeiros. Nas domingueiras, os colonos chegavam depois do almoço, cada um trazendo um instrumento musical, e a festa durava a tarde inteira. Mas a música tinha hora pra terminar: às cinco da tarde era hora de voltar pra casa, picar o trato para o gado e tirar o leite das vacas. Quem lembra disso tudo é a atual dona do mercado, Aleda Soares, a conhecida Pupa. Aposentada, ela é uma das filhas mais velhas de Villi e, entre idas e vindas, trabalha há 48 anos no balcão. Ela conta que desde os 4 anos já ajuda a família no comércio, vendendo “pinguinha” para os fregueses. Anos mais tarde, depois que o pai comprou a primeira geladeira do Gaspar Gran18 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

de – ainda a querosene – ela fazia os picolés e vendia aos domingos. Ainda criança, Pupa ia junto com a mãe lavar a roupa no Rio Itajaí-Açu. Na sua lembrança, o rio era bem mais estreito do que atualmente. “A gente brincava na beirada e os peixes vinham quando tomava banho. Também pegava camarão que tinha no ribeirão e assava na chapa, em casa”. Pupa também lembra da primeira vez em que viu uma máquina patrolar a rua. Ela e um dos irmãos saíram correndo para a estrada para “cheirar a terra”. “Era engraçado, eu nunca tinha visto aquilo. Sinto saudades desse tempo que era mais calmo, não tinha assalto, era mais tranquilo. Mas é bem melhor de se viver hoje em dia, naquela época não se tinha dinheiro, era tudo mais difícil. Era divertido, mas hoje é bem melhor”, reconhece. Pupa lembra que os bailes promovidos pelo pai duraram cerca de 20 anos e fizeram muito sucesso. Há cerca de 30 anos ela e o marido assumiram as vendas e acabaram transformando a antiga venda em um pequeno mercado do bairro.

Novo lar No último ano dois grandes residenciais foram construídos no bairro Gaspar Grande, o Acácia e o Porto de Bremen. Os empreendimentos atraíram várias famílias para a região, e consequentemente aumentaram a população do bairro. Ana Paula Fausel Gomes, corretora de imóveis, explica que a procura por estes imóveis foi muito grande pois era uma oportunidade de trocar o aluguel pelo imóvel próprio. Através do financiamento Minha Casa Minha Vida, dezenas de famílias conseguiram adquirir um novo lar no Gaspar Grande, com subsídios do governo e taxas de juros diferenciadas. Juntos, os dois residenciais disponibilizaram cerca de 260 novos apartamentos, que foram adquiridos, em sua maioria, por famílias que já moravam de aluguel em Gaspar. “A procura foi muito grande, tanto é que temos somente mais algumas unidades à venda no Porto de Bremen. Na entrega do imóvel percebemos a felicidade das famílias. Algumas vezes não é tudo exatamente do jeito que eles sonharam, mas com certeza é um grande primeiro passo para a casa própria”, explica Ana Paula.

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Gaspar Grande é de 1.900 moradores. Isso sigifica que 2,45% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 3,02% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o bairro é responsável por 0,81% da arrecadação.

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Centro

O antigo e o novo fazem

a história de Gaspar I ndiferente às décadas que se passaram desde a sua construção, o casarão grande e branco permanece imponente na esquina das ruas Industrial José Beduschi e Coronel Aristiliano Ramos, no Centro de Gaspar. Na época em que a casa foi construída, a cidade ainda vivia à base da agricultura com plantações de arroz e cana-de-açúcar. O casarão era só mais um em meio a tantos outros. Agora, com pré-

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dios modernos crescendo ao seu redor, a construção preserva um pouco do que a cidade foi um dia. Propriedade da família Soares, o terreno da casa era bem maior do que é atualmente, tomava conta de vários outros lotes que existem hoje. Foi há muitas décadas que o casal José Paulo Krauss e Cecília S. Kraus adquiriu a propriedade, a fim de cuidar dos 11 filhos. O enorme jardim, onde atualmente existe uma lan house, era um bosque

Proprietários e município debatem sobre o futuro dos casarões, enquanto famílias antigas assistem às mudanças na cidade

repleto de árvores frutíferas. Os filhos solteiros moravam com os pais na casa de paredes grossas e piso de assoalho. Quem conta a história é a aposentada Schirley Vanzuita Krauss, 73 anos, viúva de um dos filhos do casal, Erico Krauss. Hoje ela mora em uma residência ao lado do casarão, e lembra com saudades da época em que visitava os sogros e frequentava os bailes de gala da Sociedade Alvorada. “Sinto falta dos tempos de debutante de minha filha, ou quando colocávamos aqueles vestidos rodados e íamos dançar valsa no clube. Hoje o que toca ali é muito diferente”, ressalta. Schirley ainda conta que a família possuía muitas terras e na época existiam engenhos de cana na cidade, além de uma usina de açúcar que ficava bem no Centro. A casa já não é mais original, foi modificada para abrir salas de aluguel e quem toma conta da propriedade hoje é a cunhada de Schirley, Esteofânia Krauss. A aposentada conta que já foi

procurada para vender sua residência, pois é vizinha do casarão. Mas ela prefere que as coisas continuem como estão. “Sempre achei a casa linda, ela é altíssima, fresca, feita de um barro vermelho, um material que não existe mais, e era toda decorada com móveis rústicos. Eu prefiro a preservação do que a originalidade. Moro aqui do lado e não tenho interesse em vender, passei toda a vida de casada aqui e só saio depois de morrer”, completa. A alguns metros dali vive a aposentada Laura Hanemann Schönfelder, 91 anos. Moradora nativa de Gaspar, ela conta que nunca quis sair da cidade e gosta muito da região. Há muitos anos ela e o marido, que morreu no ano passado, compraram um casarão antigo que pertencia a um dentista. O casal já morava no Centro, em uma construção onde atualmente existe a loja Bazar União. “Eu estava varrendo a calçada e a

mulher do dentista, que era minha vizinha, perguntou se eu não queria comprar a casa. Eu não sabia se a gente ia ter como pagar, mas deu negócio”, conta ela. A aposentada mora até hoje no casarão cor-de-rosa. Laura lembra que na época em que os filhos eram pequenos, a família tocava o bar e restaurante União. A cidade era pequena e servia de passagem para quem viajava, os clientes comiam e seguiam seu caminho. Um dos pratos mais famosos era o bolo de queijo, que atraía fregueses de Florianópolis para fazer encomendas e levar os pratos nas viagens. A aposentada viu a cidade crescer e gosta de como está hoje, diz que as mudanças são boas para o desenvolvimento de Gaspar. Ainda assim, ela sente saudades da época em que conhecia todos os vizinhos e que “tudo era bem diferente”. “Não conheço mais a minha cidade, muitas famílias de fora vieram morar aqui”, destaca.

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+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Centro é de 1.500 moradores. Isso significa que 3,13% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 9,38% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o bairro é responsável por 29,44% da arrecadação. JOANA GALL

Preservar ou renovar? Há algum tempo uma discussão sobre o futuro dos casarões toma conta da cidade, principalmente do Centro de Gaspar. O assunto está sendo debatido na revisão do Plano Diretor e também existe um projeto de lei que pretende amparar os proprietários desses imóveis, oferecendo algum tipo de benefício para a sua manutenção. A secretária de Turismo, Indústria e Comércio, Patrícia Sheidt, explica que a questão financeira que envolve as construções é difícil, e hoje não existem benefícios que apoiem os proprietários e incentivem a preservação dessas casas. Dentro desse debate entram não só os casarões antigos, mas também as casas em estilo enxaimel, que existem em alguns outros bairros. “É uma característica da cidade, temos no Centro, mas em outros bairros também. Elaboramos um catálogo inicial e fizemos a análise de aproximadamente 40 imóveis para serem incluídos na Lei de Patrimônio Histórico. O município tenta, vai conversando, mas atualmente é permitido que o proprietário reforme ou derrube”, explica. Ainda de acordo com ela, o projeto de lei deve ser encaminhado à Câmara ainda no primeiro semestre, e o desafio é conseguir estimular e incentivar a preservação. Além de descontos ou benefícios em impostos, como o IPTU, uma das formas de beneficiar o proprietário seria o instrumento de transferência do direito 22 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

de construir. Ou seja, confere ao proprie- Indústria e Comércio de SC, o Banco tário de uma dessas construções a possi- Inco. Para manter o lugar ou fazer repabilidade de exercer seu potencial cons- ros, ele enfrenta dificuldades. O contatrutivo em outro lote, ou de vendê-lo. dor explica que as obras acabam saindo Além da manutenção ser mais cara, mais caras do que em uma construção uma das dificuldades de se manter imó- atual porque devem seguir a mesma esveis antigos costuma ser o valor comercial. trutura original. Em respeito à mãe, ele As propriedades valorizam de maneira ainda não vendeu o imóvel, mas a ingeral, e um casarão acaba perdendo valor tenção era construir um novo prédio ou se comparado a prédios modernos, por fazer negócios. exemplo. Na hora de alugar ou vender, “Só defende a preservação quem os investidores preferem construções mais novas. “Entendo que o poder público tem que incentivar também e acredito que dá para integrar a arquitetura moderna com o anA área territorial situada entre a foz dos Ribeirões Gastigo. Vejo que essas construções par Grande e Gaspar Mirim era anteriormente chamada têm muito potencial turístico e o por “Freguesia”. É que em 1857 Dr. Blumenau comprou comerciante pode valorizar isso, explorando o prédio”, opina Paessas terras. Ali estabeleceu um importante porto trícia. fluvial (atrás do atual correio) para poder transportar a Já o proprietário e contador produção de sua colônia até o Porto de Itajaí. Também Lio César Schmitt, 65 anos, disdividiu as terras em lotes urbanos e os vendeu para corda e afirma que é contra a preservação. Sua família comcomerciantes e outros empreendedores. Doou grande prou uma construção antiga no área às comunidades religiosas para construção de Centro de Gaspar e ele transfortemplos, escolas e outras serventias. Em 1861, é criada mou as salas do térreo em pontos a “Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar”, cuja comerciais. Anteriormente a casa foi alugada por seu pai e era a rematriz se edificaria nas terras entre os ribeirões. sidência da família, sendo adquiEm 18/03/1934, com a emancipação política de Gaspar, rida na década de 1960. a antiga freguesia passou à categoria do Centro da Lio conta que antes de mocidade de Gaspar. rarem na casa, ela foi a primeira sede na cidade do antigo Banco

não é proprietário. Se fosse uma cidade turística, se um casarão antigo desses realmente fizesse diferença, ainda tudo bem. Mas olha quantas casas já foram demolidas. Obrigar a manter o imóvel assim é uma depreciação do patrimônio”, critica. Para ele, a lei não ajudaria em nada, pois Gaspar é um município que precisa se desenvolver. Ele ainda explica que em casos de o prédio ser público, como o da Prefeitura, é favorável à preservação pois pertence à comunidade. Porém, quando se trata de bens particulares, não. “Este tipo de construção ninguém quer, se a pessoa tem interesse de comprar é pelo terreno, não pela casa. Vai comprar e colocar abaixo”. A empresária Marli S. da Silva, 61 anos, é filha da aposentada Laura, que tem um casarão rosa no Centro da cidade. Ela também acredita que manter este tipo de construção é perder dinheiro e o certo seria fazer imóveis novos. Marli garante que

não se apega à história que tem com o prédio e gosta de coisas modernas. “Daqui a pouco tem que reformar, tem cupim, tem fiação, encanamento. Não dá para se prender, a vida segue, acho errado manter assim. Eu não me importo se derrubarem e minha mãe também não”, confessa. JOANA GALL

Laura e o marido, já falecido, compraram um casarão antigo no centro da cidade

Schirley lembra dos engenhos de cana no centro da cidade

Centro

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Belchior

INFORME COMERCIAL MERCADO TÊXTIL

Gasprint fortalece atuação

Clima familiar e grande

potencial turístico

É logo nos primeiros metros da rua Artur Poffo, na Comunidade Bom Jesus, que está a fábrica da Gasprint Confecções, empresa com experiência de 26 anos na área têxtil. A companhia produz pijamas e roupas femininas no sistema Private Label, em que as mercadorias levam a marca de terceiros e precisam atender a rigorosas exigências de qualidade. As peças da Gasprint são vendidas para alguns dos principais magazines e redes de varejo do vestuário do país. Atualmente a Gasprint Confecções conta com 65 colaboradores diretos e 280 indiretos. A produção é de aproximadamente 200 mil peças ao mês e 85% deste volume é composto por pijamas, carro-chefe da empresa. As etapas de desenvolvimento, corte, revisão e expedição são realizadas na unidade da empresa, hoje com 2 mil metros quadrados de área construída, enquanto processos como tecelagem e costura são terceirizados.

Neste mercado de lojas de departamento, o diretor Edelberto Theiss explica que o trabalho do setor de desenvolvimento é determinante. “As lojas nos passam um briefing das peças que desejam e nós aperfeiçoamos isso. Nossa equipe de criação viaja e faz pesquisas para buscar inspirações e despertar o interesse por nossas peças”, explica.

Passado e futuro O momento atual da empresa é de destaque no segmento têxtil. No entanto, o início das atividades foi bem mais modesto. Em uma garagem do bairro Arraial, há 26 anos, Edelberto Theiss deu início à Gasprint Estamparia com uma única mesa de apenas 12 formas. À medida que os pedidos surgiram, a firma cresceu e conquistou clientes mesmo em meio à instabilidade econômica. Em 2000 surgiu a Gasprint Confecções, que foi conciliada com a estamparia por dois anos e depois alçou voo solo, consolidando as vendas junto aos magazines. Para dar sequência a essa fase da Gasprint, a meta é expandir a estrutura. Um novo galpão será construído para o setor de corte, que será automatizado para alavancar a produção. Além disso, a empresa também pretende trabalhar com licenciamento de marcas e personagens. “Ainda há muitos segmentos nos magazines em que podemos ampliar nossa presença”, afirma Theiss.

“Sou muito grato aos amigos e colaboradores que ajudaram no progresso da Gasprint. Sozinho não se constrói nada, todos foram e são fundamentais”. Edelberto Theiss

R. Artur Poffo, 265 - Santa Terezinha - Gaspar Fone: (47) 3332-8095 / E-mail: contato@gasprint.com.br 24 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

U

ma região bem mais rural, e com menos infraestrutura, fazia parte do Belchior no passado. Há 50 anos alguns moradores já trabalhavam fora, em cidades um pouco mais desenvolvidas como Blumenau. O bairro não tinha muita coisa além de poucas casas, plantações e ruas sem calçamento. Famílias antigas eram os principais vizinhos da região, e todos se conheciam. Domingo Pereira de Souza era plantador de fumo e gostava de sair para pescar nas horas vagas. A proprietária

Rota das cascatas e polo da indústria moveleira, o bairro não perdeu as características de lugar calmo e sossegado de uma floricultura, Isabel Schmidt, 64 anos, lembra com saudade da época em que o avô trazia o peixe fresco na hora do almoço. Como seu pai sempre trabalhou fora, ela teve muito contato com a família e passou a infância brincando com os primos e vizinhos nas terras dos avós. “A gente brincava no morro em pé de goiaba, jabuticaba. Hoje as crianças não fazem mais isso. Nós entrávamos na carroça e soltávamos ela lá de cima, barranco abaixo. Chegávamos quebradas e ainda por cima apanhávamos”, conta ela, aos risos.

Nessa época Isabel estudava no colégio do bairro, o Frei Policarpo, que era administrado por freiras. A empresária conta que a instituição era muito rigorosa e ela não sente saudades. “Sempre gostei de pintar as unhas de vermelho, as freiras viam e brigavam comigo”, relembra. Contando do seu avô até o seu neto, a família de Isabel já vive no Belchior há cinco gerações e ninguém quer sair. Ela mora nas antigas terras do avô e conta que a água que brota do chão é abundante e limpa, como quando era criança.

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“Mudou muita coisa aqui no bairro, agora tem até asfalto aqui na frente. Veio muita gente de fora morar, mas ainda é um lugar bem família. Fora isso também tem as cascatas que atraem bastante turistas. Isso aqui era uma calmaria”, afirma. Uma das pessoas que veio de outra cidade e escolheu o Belchior foi a florista Patrícia de Almeida, 39 anos. Depois de morar em Joinville, Porto Belo e Blumenau, ela se estabeleceu no bairro já faz 15 anos. Embora não tenha vivido no lugar tanto tempo quanto Isabel, Patrícia acha a região calma e de boa vizinhança, a maioria das pessoas continua sendo de famílias nativas do lugar.

A florista explica que uma das características do bairro é o entrosamento entre os moradores. A comunidade se organizou e mantém vivos os costumes do Clube de Caça e Tiro, com competições, jogos de bolão e uma festa que escolhe o rei e a rainha. Além disso, as senhoras do bairro também participam do Clube de Mães com atividades como chás e artesanatos. “Já tive vontade de sair, mas hoje não tenho mais. Acho que o bairro e também Gaspar têm de se conservar como são. Só acho que os moradores têm que ter mais orgulho de dizer que são daqui. Já briguei com pessoas que são gasparenses e falam mal da cidade”, admite Patrícia.

Turismo fortalecido

JOANA GALL

Florista Patrícia escolheu o bairro Belchior para morar e abrir sua empresa há 15 anos JESSÉ DE ALMEIDA

Conhecido por muitos turistas e vi- fecha para um período de obras, pois sitantes por seu potencial turístico, o a cada temporada inauguramos uma Belchior se destaca também em função nova atração”, explica. Além do hotel da Rota das Águas, com parques estru- com as piscinas e brinquedos aquátiturados e repletos de diversão. No alto cos, a cascata também possui trilhas, do verão a região atrai milhares de pes- salão de jogos e campos de futebol. soas, principalmente de outros estados Monique é natural do Belchior e e países vizinhos da América Latina. acredita que o bairro não está prepaAs cascatas são um descanso para rado para receber tantas pessoas. Falta o corpo, com opções de lazer para to- infraestrutura principalmente nas esdas as idades e preços acessíveis, fi- tradas. De acordo com ela, alguns visicam em uma região retirada, na divisa tantes chegam a reclamar do acesso às com Blumenau. Os empreendimentos cascatas, pois sendo um lugar turístisão diversificados e dependendo dos co deveria receber mais atenção. “São atrativos, como toboáguas ou piscinas muitos caminhões que vêm abastecer infantis, agradam famílias, jovens e a as cascatas e ônibus de turismo que terceira idade. passam por aqui. Às vezes recebemos A coordenadora de marketing de 50 ônibus num só dia”, completa. uma das cascatas, Monique Reinert, 23 anos, conta que esta foi uma das melhores temporadas de verão da região, por causa do calor intenso. O local em que trabalha participa do roteiro de turismo do estado A hipótese mais aceita sobre a nomenclatura do bairro e por isso recebe pessoas que também visitam as praias. Em está baseada na denominação da própria cidade, que comparação com o último ano, tem ligação com os Reis Magos: Gaspar, Belchior e o parque teve um crescimento Baltazar. Gaspar daria nome ao município; Belchior de 10% em relação aos visitanbatizaria a região noroeste (Belchior Baixo, Belchior tes. Central e Belchior Alto). O ribeirão e as redondezas “Durante as férias nós abrimos todos os dias, mas agora também acabaram recebendo o mesmo nome. Baltazar só em dias determinados. Já não seria homenageado por nenhuma localidade. nos meses de inverno o parque

Belchior

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Para amenizar o problema, a estrada principal que leva a alguns dos parques, rua José Patrocínio dos Santos, deve ser pavimentada ainda neste ano. Conforme o anúncio feito pela Prefeitura, o contrato de pavimentação foi assinado no final de 2013, porém, garante pavimentação e drenagem em apenas 780 metros da via. O recurso de R$ 975 mil para a realização das obras é proveniente de uma emenda parlamentar, e o município oferece R$ 200 mil como contrapartida. O projeto está pronto e aguarda a aprovação e as considerações da Caixa Econômica Federal.

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Belchior é de 6.300 moradores. Isso significa que 8,89% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 6,67% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o bairro é responsável por 1,87% da arrecadação.

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JESSÉ DE ALMEIDA

Diversificação Ricardo vê qualidades no bairro

Além das cascatas e do clima tranquilo, o bairro Belchior reserva outra característica marcante. Há alguns anos os moradores trabalham com a produção de móveis sob medida, criando um polo da indústria moveleira na região. Com móveis clássicos ou rústicos, o segmento faz parte da economia do bairro e hoje garante o sustento de muitas famílias. Ricardo Froehlich, 28 anos, trabalha como marceneiro na empresa que o pai fundou há 15 anos. Ele acredita que por causa da localização do bairro e também pelo aumento da construção civil, o ramo ganhou força e muitas pessoas acabaram abrindo empresas ou aderindo à profissão. “Os móveis sob medida aproveitam muito mais o espaço. Atualmente a maioria dos clientes possui apartamento, até pela facilidade de comprar, então este tipo de mobília

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é a melhor opção”, argumenta. Talvez por estar mais perto de Blumenau do que do próprio Centro de Gaspar, a maioria dos clientes é da cidade vizinha. De acordo com ele, apenas 5% do trabalho é feito para Gaspar ou cidades do litoral, como Itapema. Já os colaboradores da indústria de sua família moram todos no bairro, e ele acredita que exista mão de obra suficiente na região. “Grande parte aqui dos vizinhos trabalha no bairro, pouca gente vai pra fora, e a maioria trabalha com móveis. É muito calmo e tranquilo, quem vem morar aqui fica contente”, garante. Ainda conforme o marceneiro, o salário da região é bom e sempre tem emprego. O bairro disponibiliza tudo o que os moradores precisam como empresas, comércio e mercados – embora ele ache que o preço seja maior.

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INFORME COMERCIAL

INFORME COMERCIAL COPERPÃO

EMPREENDEDORISMO

O pão de cada dia da Coperpão

A família Hostert não se lembra da última vez que dormiu antes da meia-noite. Nem da vez que pôde desfrutar de um final de semana cheio sem que houvesse a necessidade de trabalhar. “Quem quiser trilhar o caminho do empreendedorismo não tem escolha. Não temos final de semana nem feriadões. Nós colhemos o que plantamos. Deixei desde cedo meu período de festas à parte para fazer o negócio de nossa família andar”, afirma Diego Hostert, 25 anos, que ao lado da esposa Silvana, do irmão Jonathan e do pai José Luiz, e demais familiares, é responsável pelos sete anos de consolidação da Coperpão, indústria de panificação do Belchior Baixo.

O início Os irmãos Hostert se lembram como se fosse hoje o número de pães que foi à primeira fornalha: “Era alta madrugada do dia 21 de janeiro de 2007. Foram 30 pães. Daí em diante fomos duplicando e triplicando a produção”, registra Diego, que tem a madrugada como reduto preferido para estudar as estratégias da empresa. “Acompanho diariamente toda engrenagem de produção, o que resulta na qualidade de nossos produtos”, ressalta. Com a mão na massa desde o início, Diego e Silvana faziam os pães para José Luiz vender para mercados, padarias e conveniências. A Coperpão permaneceu no primeiro ano nos fundos de um restaurante no Belchior Baixo e, de janeiro de 2008 até o fim de 2013, em um galpão na frente da residência de José Luiz, na rua José Schmitt Sobrinho. Nos primeiros cinco anos o negócio da família Hostert era vinculado à Cooper Gaspar, Cooperativa de Agroindústria de Produtos Artesanais de Gaspar. “Saímos da Cooper Gaspar não por qualquer divergência, mas sim pelo fato de necessitarmos criar nossa própria marca, a Coperpão, devido à expansão obtida nos negócios nos últimos dois anos. Além disso, nossa logística exigia uma sede própria para receber a matéria-prima de produção. Pôr o nome de Coperpão foi uma maneira de não esquecer de nossa origem”, explica o sócio Jonathan Hostert, 30 anos.

Engrenagem de produção é acompanhada diariamente pelos diretores da empresa, que primam sempre pela qualidade dos pães

Rua Vidal Flávio Dias, 3120 - Belchior Baixo - Gaspar

Nova sede e promessa de crescimento Estabelecida desde 15 de dezembro de 2013 em um terreno de 5 mil metros quadrados, com área construída de 1 mil metros quadrados e equipamentos de última geração, a sede da Coperpão é dividida em depósito, produção, fornos, resfriamento, fatiação e expedição. “Ressalto que não vendemos para o consumidor final, somos uma indústria. Nosso carro-chefe de fornecimento é o pão caseiro de aipim e batata. O pão integral com linhaça é um de nossos destaques também. Nosso produto é um dos melhores do mercado e com um preço bom. Nossa farinha de trigo, principal matériaprima, vem dos três estados do Sul do país, pois variamos os pedidos conforme a linha de produtos e qualidade em questão. Primamos sempre por um mix de qualidade”, observa Diego. A Coperpão quase não para. A única pausa ocorre das 13h30 de sábado até as 3h30 de domingo. A produção é intensa para os 41 colaboradores, distribuídos em três turnos. Em meio ao dia a dia de trabalho, os administradores projetam um futuro que promete expandir a atuação da Coperpão nas 14 cidades onde a indústria já tem clientes e também em outros municípios. Com sólido crescimento nestes sete anos de vida, a Coperpão pretende triplicar a capacidade produção até dezembro de 2015. Aumentar o mix de produtos está no horizonte da Coperpão. O foco da fábrica é o pão caseiro, de forma. “Estamos trabalhando para entrar em um futuro breve na linha light. Toda nossa linha de produção é feita em nossa sede e distribuída nas cidades com nossa frota própria de nove veículos. Fornecemos para padarias, feirantes, centros de conveniência e várias redes de supermercados. No total hoje são mais de 400 clientes”, afirma Jonathan. Na calamidade de 2008, a empresa ficou uma semana sem produzir por estar localizada num dos pontos mais atingidos pela explosão do gasoduto. Nada que o esforço da família não pudesse recuperar mais tarde com o trabalho diário na fabricação de pães. Hoje, o patriarca José Luiz reconhece o crescimento da empresa e aposta em dias ainda melhores. “Estamos cientes da responsabilidade que adquirimos por meio de nosso trabalho. E estamos na batalha para continuar nesta caminhada de crescimento aliado à qualidade de nossos produtos. Nossos funcionários vêm da região do Belchior, do bairro Fortaleza em Blumenau e de Brusque. Estamos implantando um plano de carreira para motivar e valorizar nossos colaboradores”, conclui José Luiz.

Diversificação

Fone: (47) 3397-8244 www.coperpao.com.br | facebook.com/coperpao 30 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

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Margem Esquerda

Sob a bênção de dona Lete

Testemunha das mudanças que o bairro sofreu em 50 anos, a benzedeira Celestina Weiss ajuda a manter viva a cultura da cura pela fé

As primeiras orações foram feitas quando ela ainda tinha 30 anos. Dona Lete herdou o dom do pai e da mãe e hoje, junto com outras idosas do bairro, pode ser considerada uma das poucas benzedeiras remanescentes da cidade. “Os velhos foram morrendo e os mais novos parece que não quiseram aprender”, acredita. Quebranto, raiva, mau-olhado, carne rasgada, zipra (uma espécie de vermelhão na pele). Dona Lete empresta sua fé e benze contra todos esses problemas, por intermédio de folhas de arruda, rosário ou agulha, dependendo do caso. A benzedeira chega a atender 20 pessoas por dia em sua casa, vindas de várias cidades. “Fico feliz por fazer o bem às pessoas. É tão bom quando alguém volta e diz que ela ou seus filhos estão melhores”, conta. Algo que ainda a incomoda é o preconceito de algumas pessoas, que confundem a atividade com macumba ou magia negra. “Tem gente que diz que benzer é pecado, mas não concordo. O que eu faço é uma oração e que ajuda as pessoas. Não tem nada

REPORTAGEM JEAN LAURINDO

de mal nisso, tem? Algumas pessoas até me procuram com outros pedidos, ou querendo ver cartas, mas nem dou conversa. Meu negócio é só benzer”, defende-se. O rosário em mãos e o quadro de Santa Luzia na parede da sala dão mostras da religiosidade da católica dona Lete, que frequenta uma corrente de orações às quintas-feiras. Mesmo com o alto número de pessoas que a procuram, ela continua com sua vida humilde e não cogita cobrar pelos serviços. “Se eu fosse cobrar já poderia estar num palacete ao invés de continuar pagando minha casa. Mas benzimento cobrado não tem valor”, ensina.

Contraste de décadas

Quando dona Lete chegou ao bairro Margem Esquerda, há 50 anos, havia apenas uma casa na região da rua Antônio Zendron. “O resto era tudo capoeira”, recorda. O marido, Roberto Vaz, foi quem desmatou a maior parte dos terrenos, o que ajudou a atrair mais famílias para a localidade. “Meu ‘velho’ trabalhava em

Blumenau e às vezes ia para a venda à noite, então passei muito medo no começo”, relembra dona Lete. É por causa do marido que Lete ganhou um apelido que ainda a acompanha hoje em dia. O esposo da benzedeira trabalhou na construção da Ponte Hercílio Deeke, em 1960. No caminho para a obra, levava pedaços de palha no bolso de trás da calça para enrolar cigarros nos intervalos do expediente. No tradicional clima descontraído do trabalho, não demorou para seu Roberto virar o Rabo de Palha. Por associação, dona Lete ficou conhecida como a mulher do Rabo de Palha. “Meu ‘velho’ morreu há 18 anos, mas era muito popular e tem gente que me conhece assim até hoje”, diverte-se a moradora, que divide as horas vagas entre as orações, os netos e o crochê. Com Gaspar chegando aos 80 anos, dona Lete afirma que a cidade está muito melhor atualmente. “Hoje somos cercados de casas, a vizinhança é muito boa, há mais infraestrutura e conforto. As coisas melhoraram muito nesse tempo”, assegura.

“E

u te benzo de quebranto, de raiva, de mau-olhado e de bem querer. Te benzo de todos os problemas que você tiver na caixa do teu corpo, na tua casa, no teu serviço. Aonde estiver tem que sair, como as ondas do mar. Aonde não vá cristão batizado nem galo possa cantar, somente a Virgem Maria que vai te guardar”. Assim Celestina Weiss, a dona Lete, 83 anos, começa a benzer os moradores que a procuram na sala de casa, na rua Antônio Zendron, no bairro Margem Esquerda.

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JEAN LAURINDO

Margem Esquerda ontem e hoje Rosalina das Neves, a dona Rosa, mudou-se para o número 320 da rua Luís Franzói, no bairro Margem Esquerda, em junho de 1952. Na época, apenas quatro ou cinco casas formavam a nova vizinhança da família. Rosa já havia morado nos bairros Gasparinho e Santa Terezinha e, aos 19 anos, chegava à nova localidade com os pais, o marido Alcebíades e as duas filhas, Terezinha e Valdecir, ainda pequenas. “Ninguém conhecia nada, era só mato. A estrada geral era um caminho de roça. Não existia a ponte, que só foi construída em 1960”, relembra. A travessia para o Centro era feita por uma balsa. Rosa e o marido recorriam a uma batera para ir ao trabalho em uma tecelagem. A luz era de querosene e a água era tirada com molinete direto do rio. O que havia até então na margem esquerda do rio eram longas áreas voltadas à agricultura. “Meu pai plantava aipim, cana, amendoim, feijão, milho e depois ia ao mercado trocar por outros alimentos”, recorda. Hoje com 81 anos, dona Rosa curte a aposentadoria ao lado da filha em uma casa no mesmo local, mas em uma realidade totalmente diferente. A vocação rural do bairro ficou para trás e deu lugar à expansão urbana, com forte crescimento populacional. O movimento ganhou força após a construção da Ponte Hercílio Deeke e o surgimento de empresas da área têxtil, que abriram oportunidades de emprego e atraíram

novos moradores. Com isso, vieram estabelecimentos como supermercados, farmácias e lojas, algo que faz dona Rosa gostar de morar no bairro. “Aqui temos tudo que precisamos, a vizinhança é muito boa e em 10 minutos estamos no Centro. Sinto saudades do que passou, mas vivemos muito bem hoje”, reconhece. Aos 91 anos, Maria Madalena Threiss, a dona Didi, também se mostra satisfeita com a realidade do local em que mora, na rua Pedro Simon. Apesar disso, cobra melhorias na cidade que completa 80 anos. “Minha neta já ficou sem atendimento no posto de saúde e o calçamento de paralelepípedo é horrível. Esses são dois pontos que podiam melhorar”, opina. Mesmo com o aumento no número de moradores nos 50 anos em que mora no bairro, dona Didi ainda o considera um local pacato. “É um lugar calmo, a vizinhança é unida. Gosto de morar aqui”, revela. Dez anos mais jovem que dona Didi, Rosa das Neves alcançou no ano passado a marca de 80 anos, que neste mês de março é comemorada por Gaspar. Mesmo satisfeita com a vida que leva na Margem Esquerda moderna, a aposentada guarda algumas sugestões para que a cidade fique ainda melhor após completar oito décadas. “Uma necessidade que temos é um sistema de tratamento de esgoto. Foi colocada rede de gás, de água, mas até agora não tivemos nada para o saneamento”, cobra dona Rosa.

Dona Rosa, moradora da localidade desde 1952 JEAN LAURINDO

Dona Didi, satisfeita com o lugar onde mora

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do bairro Margem Esquerda é de 6.644 pessoas, incluindo a localidade Sertão Verde. Isso significa que 9,42% dos moradores de Gaspar residem na região.

Promessa de expansão Se há 50 anos a realidade do bairro Margem Esquerda era diferente da atual, com predominância da área rural, nos anos que virão pela frente a tendência é de que a expansão industrial e urbana seja ainda maior. Com a conclusão da Ponte do Vale e o andamento de projetos como a duplicação da BR-470, a expectativa é de que o local atraia mais investidores, fazendo com que novas empresas venham a se instalar no bairro. Há um ano e três meses, a empresa KZ Parabrisas, com matriz em Ituporanga, abriu uma unidade às margens da BR-470, próximo à entrada da localidade Sertão Verde. O gerente Cleiton Rafael Foster conta que o movimento é bom neste período, principalmente no verão. Com a perspectiva de duplicação da BR-470, que está prestes a ter a ordem de serviço expedida no lote 2, a expectativa é de que os negócios possam ir ainda mais longe. “Temos uma preocupação que é a distância entre os acessos, mas como o projeto envolve

vários viadutos, acreditamos que as vendas possam aumentar após a obra”, afirma. O economista Nazareno Schmoeller, professor da Furb, confirma que um projeto como a duplicação da BR-470 é capaz de provocar uma forte expansão econômica nas localidades que cercam a rodovia. Segundo ele, as vias de acesso são cruciais para o desenvolvimento e podem fazer com que a economia local cresça muito acima do PIB nacional. “A duplicação vai atrair mais negócios nessas regiões e os próprios gastos na construção gerarão economia maior na cidade. No entanto, é importante que a comunidade se mobilize pela obra do Contorno de Gaspar, que com a segunda ponte e a duplicação, colocaria a cidade em outro patamar. Blumenau não tem mais áreas para empresas, o que existe é muito caro, e a tendência é expandir em direção ao Litoral. Se Gaspar puder comportar essa demanda terá condições de crescimento muito favoráveis”, explica.

• IPTU: 9,43% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o bairro é responsável por 3,66% da arrecadação.

Margem Esquerda As terras a partir da margem esquerda do Rio ItajaíAçu, servidas pelas ruas Luiz Franzói, Pedro Simon e parte da BR-470, formam o bairro Margem Esquerda. A partir dos anos 1960, com a Ponte Hercílio Deeke, transformou-se de área agrícola em urbana.

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Sete de Setembro

Lugar de oportunidades

F

loricultura, padaria, mercado, lojas de roupas. Todo o tipo de comércio parece ter espaço no bairro Sete de Setembro, que virou um dos preferidos no meio do empreendedorismo. A área se mantém com características bastante residenciais, mas quem deseja montar o próprio negócio vem encontrando um lugar ao sol na região.

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Tradicional bairro da cidade, Sete de Setembro desperta o interesse de moradores e também de novos empreendedores na área de serviços

Depois de se aposentar da carreira de motorista, o comerciante Luis Henz montou uma floricultura no bairro Sete de Setembro, há seis meses. Ele e sua esposa vieram de Lageado (RS) e se mudaram para Gaspar há dois anos, onde resolveram iniciar um novo projeto. Luis conta que conheceu a cidade na época em que trabalhava trazendo e levando cargas para a Bunge e gostou da cidade. Uma das razões para eleger o município para morar foi a tranquilidade e a localização. Já o Sete de Setembro foi escolhido para a floricultura por sua posição dentro do município e pelo trânsito que flui melhor do que em outras regiões. “Nossa intenção é estabelecer família aqui. Acho a cidade bonita, mas não sei se chega a ser turística. Tem algumas coisas para melhorar, como saúde e a questão do hospital”, destaca o comerciante. Ainda assim, ele afirma que não pode se queixar do posto de saúde do bairro Poço Grande, onde já foi atendido. “Também gosto de elogiar a maternidade onde nosso filho nasceu. O atendimento dos profissionais foi muito bom”, enaltece Luis.

Já o empresário João Ferrari acha que o bairro tem para onde crescer e quem sabe pode até virar um novo Centro. Nascido no Poço Grande e de família de agricultores, João deixou as plantações de mandioca, arroz e cana-de-açúcar para trabalhar em uma grande empresa. Ele explica que o salário era melhor do que se ganhava na lavoura e também mais garantido – independente do tempo bom ou ruim, o pagamento era sagrado no final do mês. “Pra mim esse é o melhor bairro de Gaspar. Mais calmo, bem localizado e está crescendo cada vez mais. Estou muito contente com o Sete de Setembro”. Quando deixou o sítio da família e se mudou para a cidade, em 1986, a paisagem da região era bem diferente. Conforme ele conta, era tudo mais deserto, não passava carro e onde hoje existem casas era um matagal. O terreno em que mora atualmente foi vendido pelo vizinho, que loteou as terras onde plantava arroz. João lembra que até poucos anos atrás muitos lotes onde moram vizinhos eram pastos com criação de gado e que até a região onde existe o fórum era uma fazenda.

Quem também deixou de ser agricultor para virar empresário foi o aposentado Sílvio Bailer, de 80 anos. Pelo que ele lembra, Gaspar era uma vila pobre que vivia só de agricultura e, depois de muito tempo, começaram a aparecer as indústrias. Sua família vendeu o sítio que tinha e se mudou para a cidade, já que não conseguiam dinheiro para comprar máquinas agrícolas. Ele conta que a vida do colono era muito difícil, o trabalho era braçal e eles não tinham como pagar empregados para ajudar. Na época ele morava com os pais e os irmãos, as terras da família eram em Gaspar Grande e na Vila Garuba. Até hoje, quando vai visitar o interior, ele garante que “tá igual, não mudou nada”. Morador do bairro há 30 anos, o aposentado afirma que está feliz com a região e a cidade está arrumada, organizada. Para ele, Gaspar está no caminho certo. “Eu tenho saudade da agricultura, os colonos são muito massacrados, é uma pena. Mas gosto daqui e não iria embora, estamos perto de tudo, tem igreja, mercados. Eu não voltaria para o interior”, garante.

CRUZEIRO CRUZEIRO DO DO VALE VALE || GASPAR GASPAR 80 80 ANOS ANOS || 37 37


JOANA GALL

Centro Cívico O bairro Sete de Setembro é mapeado também como o local ideal para receber o chamado Centro Cívico, que deve reunir prédios importantes para o município como Fórum, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, policlínica e até a Câmara de Vereadores. Boa parte dos moradores aprova a presença dessas instituições, mas alguns não acreditam que a atuação dessas entidades altere muita coisa no cotidiano do bairro. A proprietária de um mercado Fernanda Custódio Bendini, por exemplo, acredita que a ampliação do Fórum não vai mudar sua rotina. Nascida em Gaspar, ela afima que gosta da cidade onde toda a família mora e não pensa em sair daqui. “O bairro é tranquilo, familiar e eu me criei em Gaspar. Espero que cresça ainda mais e que o trânsito evolua”, explica. Fernanda ainda conta que chegou a morar no bairro Margem Esquerda durante um tempo, mas prefere o Sete de Setembro porque o risco de alagamentos é menor. “Eu também

espero que saiam mais comércios por aqui, não ficamos tão pertinho do Centro. Além disso, acho que as pessoas também precisam de uma área de lazer, como uma pista de caminhada ou para bicicleta. Mais parques também seria bom”, complementa. O aposentado Sílvio Bailer não sabe dizer se os prédios alterariam sua rotina, mas acredita que o bairro Sete de Setembro está indo muito bem. Porém, assim como Fernanda, ele acha que falta uma pista de caminhada para os idosos, pois a avenida é muito movimentada. Fora isso, Sílvio aprova o crescimento da cidade e acha que as pessoas que escolhem Gaspar para morar são bem-vindas. A cidade precisa de mão de obra e as pessoas vêm para trabalhar. “A cidade ainda vai crescer muito, tem muitas empresas e o pessoal hoje tem dinheiro. Daqui a pouco vai ser uma cidade grande. Eu fico feliz, vejo que o povo está com emprego. Gaspar está aumentando”, finaliza.

Para Fernanda, novo Fórum não mudará rotina JOANA GALL

Projetos para o bairro Para melhorar a infraestrutura do bairro e acompanhar a evolução rápida do lugar, a Prefeitura planeja algumas obras para a região, que devem ser inauguradas durante este ano. Uma delas é a conclusão do Centro de Desenvolvimento Infantil Dorvalina Fachini, que fica no final da rua Prefeito Júlio Schramm. O projeto foi licitado com o valor total de R$ 1,77 milhão, a maior parte oriunda do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, FNDE. O prédio tem oito salas, playground, anfiteatro, banheiros, cozinha, sala de informática e bloco administrativo. A capacidade é para 224 crianças. A creche está sendo inaugurada na

programação de aniversário de 80 anos do município. Outro projeto aguardado pelos moradores é a conclusão da Policlínica. O recurso de R$ 3,5 milhões foi liberado pelo governo federal para uma área de mais de 3 mil metros quadrados. O local abrigará diversos serviços de saúde como consultórios odontológicos, de enfermagem e médicos de diversas especialidades, a farmácia básica, salas de vacinas, pronto atendimento, vigilâncias epidemiológicas, sanitária e ambiental, além da sede da Secretaria de Saúde. No entanto, ainda não há um prazo definido para a conclusão da obra.

Policlínica representa investimento público de R$ 3,5 milhões

Silvio vê com bons olhos crescimento do bairro

Sete de Setembro O bairro é assim denominado devido à rua principal que o formou. A rua Sete de Setembro, antigamente chamada de “Rua do Caramujo”. A

JESSÉ DE ALMEIDA

partir da década de 1930, desempenhou importante papel na urbanização residencial da cidade de Gaspar.

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Sete de Setembro é de 5.200 moradores. Isso sigifica que 8,20% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 8,30% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, o bairro é Moradores falam da tranquilidade do bairro e avaliam o crescimento como natural e positivo 38 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

responsável por 1,75% da arrecadação.

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INFORME COMERCIAL

INFORME COMERCIAL

Atuação em condomínios

ALARME FÉLIX

Soluções eficientes

A base de operações da Félix Alarmes fica no bairro Coloninha, de onde a empresa monitora os sistemas instalados em imóveis de toda a região. O controle é feito durante 24 horas por dia, com garantia de atendimento rápido em caso de alguma situação suspeita, o que proporciona tranquilidade e segurança aos clientes. “A vigilância e o monitoramento eletrônico são muito mais eficientes e também mais vantajosos do que a maioria das alternativas que existem na área da segurança”, garante o proprietário da Félix Alarmes, Francisco Felaço.

Diferencial

Um dos diferenciais de mercado da Félix Alarmes é o serviço de locação de equipamento para vigilância e monitoramento eletrônico. Assim, o cliente não precisa bancar o custo inicial de aquisição de todos os aparelhos para implantar um sistema em uma residência ou estabelecimento comercial, que são locados pela empresa.

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Há 22 anos no mercado, a Félix Comércio e Monitoramento de Alarmes se destaca pela atuação com sistemas de monitoramento eletrônico, vigilância e segurança patrimonial. Os serviços atendem casas, indústrias, estabelecimentos comerciais e condomínios residenciais, com soluções voltadas a proteger os imóveis e garantir segurança aos clientes. A Félix Alarmes foi pioneira neste ramo no município e cresceu juntamente com o setor, incorporando as novidades e tecnologias que o mercado desenvolveu ao longo desses anos. Os serviços não se limitam à vigilância eletrônica e envolvem desde a instalação de alarmes, portões eletrônicos e interfones até sistemas de câmeras em circuito fechado de TV e monitoramento de alarmes. Para atender à demanda de atendimentos, a empresa conta com 12 viaturas, oito motos e aproximadamente 80 funcionários. A principal área de atuação da Félix Alarmes é formada pelas cidades de Gaspar, Ilhota e Blumenau, onde a empresa conquistou boa base de clientes no último ano. Mas a atuação também chega ao Litoral, em cidades como Navegantes e Itapema.

Uma das mais recentes novidades da empresa diz respeito à ampliação no leque de serviços oferecidos. Desde o ano passado a Félix Alarmes atua também com o fornecimento de profissionais para serviços de zeladoria, limpeza e jardinagem em prédios e residenciais. Empreendimentos de cidades como Blumenau e Gaspar já estão entre os clientes da empresa, que em alguns casos também incorpora o serviço de vigilância e monitoramento eletrônico. Tendo como foco principal a qualidade nos serviços prestados aos clientes, a Félix Comércio e Monitoramento de Alarmes está sempre inovando. Em novembro de 2013, o proprietário da empresa, Francisco Felaço, e o coordenador de instalações, Sandro Laurentino, participaram da Feira Internacional de Segurança de Tecnologia do Canadá. Os dois únicos gasparenses presentes na feira foram a Toronto acompanhados por um grupo de 23 pessoas da região Sul do Brasil e lá se reuniram com representantes de diversos locais do mundo. “A experiência foi maravilhosa e com certeza valeu muito a pena participar. Eram mais de 200 empresas expondo seus produtos e ficamos encantados”, diz Francisco. O convite para a Félix Alarmes estar presente na feira partiu de um dos fornecedores, a Tyco (fabricante de alarmes da DSC). A ideia de ir ao Canadá logo foi aceita, pois, além de passar pelos estandes das empresas participantes, havia ainda a oportunidade de conhecer a fábrica e todo o processo de desenvolvimento dos produtos da marca. “Esta é uma das empresas líderes mundiais no segmento de alarmes. Ao conhecer a fábrica, conseguimos comprovar a qualidade dos equipamentos que estamos vendendo. Vale ressaltar ainda que fomos a primeira equipe do Brasil a conhecer a fábrica da Tyco”, afirma Felaço.

Monitorando as tendências

COMÉRCIO E MONITORAMENTO DE ALARMES

47.3332-3527 alarmefelix@brturbo.com.br Rua Arnoldo Koch, 170 - Coloninha - Gaspar /SC

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Poço Grande

De zona rural a área de

investimentos A

s plantações de canade-açúcar, mandioca e arroz tomavam conta do cenário, e as crianças brincavam no final da antiga estrada de ferro, onde existia uma cachoeira. O matagal crescia abundante na beira das poucas estradas que existiam e levavam de uma casa a outra, geralmente vizinhos de uma mesma família. A paisagem era um “vazio, não tinha nada”, só uma mercearia, ou vendinha, como o comércio era chamado na época. Poucas pessoas tinham carro e a locomoção era feita a pé ou de bicicleta. O garçom Gilberto Reinert, 42 anos, lembra com saudades da infância que passou no Poço Grande, brincando na roça e correndo pelo mato. De família agricultora, Gilberto conta que ia para a escola de manhã

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e ajudava em casa à tarde, o que era normal naquele tempo em que todo mundo trabalhava. “Lembro que muita gente perdeu as plantações na enchente de 1984. Minha família também, foi uma tristeza”, conta ele. “Na época a gente tomava banho de cachoeira, brincava no mato, tinha um monte de primos e primas por aqui”, complementa. Beto, como é conhecido, sente saudades do ritmo de antigamente. Ele garante que não pensa em se mudar do bairro, nem da cidade, mas gostaria que a região tivesse mantido mais as características do passado. A cachoeira em que ele brincava com as outras crianças, por exemplo, se transformou em um pequeno riacho. Além disso, ele acredita que quando era criança a cidade tinha menos problemas com violência.

“Não tinha essa coisa das drogas, era mais tranquilo. A gente saía de casa e deixava a janela aberta que não acontecia nada. Mesmo assim Gaspar é uma cidadezinha boa de se morar, tem muita oportunidade e união do povo, todo mundo no bairro se conhece. Eu gosto muito daqui”, completa. Vinte e cinco anos foram suficientes para mudar totalmente a paisagem do bairro, que virou uma região de grande movimento, como uma das principais vias de acesso de Gaspar. O Poço Grande se expandiu, aumentou o número de casas e comerciantes e os moradores têm muitas expectativas para a região. “Acho um bairro ótimo. A escola é boa, mas acho que poderia investir um pouco mais na educação. Quem sabe trazer uma universidade”, comenta Gilberto.

Moradores lembram com saudades do passado mas aguardam ansiosos pelo futuro, que pode alçar o bairro a um novo patamar

Gaspar cresce e a população aumenta A paisagem do Poço Grande passou por muitas mudanças, mas este não foi o único bairro que sofreu alterações com o tempo. Mauro José Gubert, diretor do Orçamento Participativo, afirma que com o passar dos anos todos os bairros vêm crescendo em relação ao desenvolvimento populacional e, na avaliação dele, nenhum se destaca mais do que o outro. Mauro e a equipe do OP trabalham diariamente com moradores de Gaspar e, de acordo com ele, a cidade tem vários focos de novos moradores.

Bairros como Bateias, Santa Terezinha e Sete de Setembro chegam a ter ruas inteiras com moradores que vieram de outros municípios, vários do Oeste de Santa Catarina. “Nossa localização é boa e temos ofertas de emprego diárias, passa até carro de som divulgando as oportunidades. Acredito que Gaspar tem muito o que comemorar, pois conseguiu mostrar quem é, uma cidade próspera com povo trabalhador”, defende. Durante suas pesquisas de trabalho, Mauro afirma que algumas comu-

nidades chegaram a pensar em fechar ou diminuir as escolas, porque acreditavam que estavam diminuindo e não teriam crianças o suficiente. De acordo com ele essa realidade mudou completamente e alguns colégios ainda tiveram de ser ampliados. “Apesar da educação e da saúde serem questões nacionais, aqui na região o que os moradores mais pedem é pavimentação e infraestrutura de ruas. Mesmo assim Gaspar é uma boa cidade, geralmente quem vem, não volta”, completa.

Gilberto Reinert sente saudades do ritmo da vida de antigamente

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Projetos para a região

Novo prédio para

a Prefeitura

O Poço Grande passou por várias mudanças nos últimos anos, mas moradores e comerciantes esperam por mais. A comunidade aposta em mais atenção, e também movimento, em função de fatores como a conclusão da Ponte do Vale e a possível mudança da Prefeitura para a região. A aquisição do prédio onde funcionava a sede administrativa da empresa Bunge foi aprovada pela Câmara de Vereadores em 2013, mas estagnou nesse início de ano. Ainda assim, os moradores seguem sob forte expectativa. A gerente comercial Marise Schmitt trabalha há 11 anos em um mercado bem próximo à possível sede do Executivo e conta que a família pensa até em ampliar o comércio, uma aposta de que as vendas podem aumentar. Para ela, a vinda da Prefeitura para o bairro pode ser significativa não só para quem trabalha, mas também para quem mora na região. “Seria ótimo, praticamente podemos considerar que vai ser o centro da cidade. Acho que vai melhorando gradativamente, o bairro poderia ir crescendo junto com a Prefeitura. Seria bom ter mais variedade no comércio como lojas e farmácias mais próximas”, destaca. Grande parte dos clientes do mercado hoje são caminhoneiros ou pessoas que estão de passagem, a freguesia do próprio bairro ainda é minoria. Ampliar e modernizar o estabelecimento também é uma das formas de tentar atrair os moradores locais. “Pretendemos fazer antes que outro venha e faça, né? 44 | CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS

JOANA GALL

Mas o pessoal às vezes sai daqui para comprar em outros lugares. Esperamos que isso também mude”, conta ela. A família da es- Marise Schmitt diz que a família pensa em ampliar o comércio JOANA GALL tudante Vanessa Cichelero é mais uma que depositou suas fichas no Poço Grande. Na realidade, apostaram em Gaspar. Os pais de Vanessa vieram de Iporã do Oeste há cerca de 10 anos e fixaram residência na cidade. Ela conta que o município tem muito mais oportunidades de emprego e não deseja voltar Vanessa aposta no novo rumo que o bairro está tomando para a cidade natal. Além disso, gosta da localização do mu- o imóvel que pertence à Bunge tem o nicípio. “Embora não seja uma cidade valor de R$ 13 milhões, que seria pargrande, fica perto de outros municípios celado pelo município. O assunto não é maiores e também da praia”, lembra. segredo na cidade, mas mesmo assim a Há cerca de oito meses sua família administração municipal prefere não se montou um restaurante próximo ao pré- pronunciar oficialmente sobre a mudandio em que a Prefeitura pode se instalar, ça. De acordo com a assessoria de imacreditando que o ritmo de trabalho po- prensa da Prefeitura, ainda não há nada derá mudar bastante. “Deve ficar bem acertado entre a multinacional e o mumais movimentado, conhecido. Hoje nicípio. No último encontro entre a Prenossos clientes são motoristas ou pesso- feitura e a empresa foram apresentadas as que passam a trabalho. Pouca gente novas exigências quanto à negociação, é aqui do bairro, vamos ver como fica”, que trouxeram dúvidas sobre o negócio completa. e estão sendo avaliadas pelas partes, Segundo informações da Prefeitura, sem prazo para uma decisão final.

Além da transferência da Prefeitura, outras mudanças também devem acontecer no bairro e mudar a rotina dos moradores. Uma delas é a construção de uma nova unidade de saúde. O projeto ainda está em fase de elaboração pela Secretaria de Planejamento, sem data para iniciar. Fora isso, a Ponte do Vale, que será a segunda ligação entre as margens esquerda e direita do Rio Itajaí-Açu, está em fase final de

construção no bairro. A obra é orçada em mais de R$ 42 milhões, com recursos municipais e federais. A inauguração da ponte é esperada com ansiedade pelos moradores de Gaspar. O aposentado Sílvio Bailer, 80 anos, acha que depois de pronta a via vai diminuir o trânsito dentro da cidade e até ajudar nas entradas dos bairros. “Vai ser ótimo ligar a ponte com as avenidas, vai facilitar o transporte de cargas e ajudar no deslocamento das pessoas”.

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Poço Grande é de 2.700 moradores. Isso significa que 3,37% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 7,04% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, o bairro é responsável por 17,21% da arrecadação.

Poço Grande O bairro Poço Grande tem este nome devido a grandes e profundos poços no leito do Rio Itajaí-Açu. Nos séculos XVIII-XIX e início do XX, a navegação fluvial era o mais importante meio de transporte e comunicação entre o interior e o litoral. Os práticos das embarcações estudavam detalhadamente o leito do rio, possibilitando a navegação rápida e segura. Clube de Aeromodelismo Asas do Vale é um dos atrativos do bairro

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Gasparinho e Alto Gasparinho

La fede, l’amore, il lavoro Os costumes de uma geração

Com a maior concentração de descendentes de italianos da cidade, os bairros Gasparinho e Alto Gasparinho ainda mantêm vivas as tradições dos antepassados

Luis Alidor e Leondina tentaram manter idioma italiano após o casamento, sem sucesso

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do bairro Gasparinho e Alto Gasparinho é de 3.295 pessoas. Isso significa que 4,56% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 3,88% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro Gasparinho e 0,51% do Alto Gasparinho.

REPORTAGEM ANA C. BERNARDES

U

ma criança que corria praticamente sozinha pelas estradas, já que pouca vizinhança se tinha. As ruas eram de um barro tão grosso que os pés, sempre descalços, custavam a ficar totalmente limpos. Nos terrenos vizinhos quase nada se via, além do pasto verde e quase interminável. Pela estrada, os mais velhos caminhavam para chegar até o destino, que geralmente era o centro da cidade, já que no bairro pouca coisa havia. Algumas vezes, via-se uma carroça passando pela rua. Uma vez, lembra, até chegou a ver um carro daqueles que só os ricos podiam ter e se impressionou com o ronco e a rapidez a que chegava. Não havia mercados, lojas, farmácias, igreja, muito menos escolas e posto de saúde. Mas havia muito carinho e amizade entre os poucos habitantes que lá moravam, a maioria descendente de italianos. É assim que Luis Alidor Dagnoni,

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• Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal

86 anos, lembra-se do bairro em que nasceu, cresceu, criou os filhos e onde continua vivendo. O bairro Gasparinho, que até hoje possui a maior concentração de descendentes de italianos da cidade, foi o local escolhido pelos pais de seu Luis Alidor, após seus avós virem da Itália para morar no Alto Vale. “Meus pais moraram alguns anos em Ascurra e acabaram chegando ao Gasparinho na época em que não havia nem cinco famílias por aqui. Todos eram italianos, então acabaram se entendendo e achando um bairro muito bom para se viver”, explica. Desde criança, ele vive em meio aos hábitos e à cultura italiana. Entretanto, os costumes foram se perdendo e hoje a geração atual da sua família já não os segue. “Quando éramos crianças, eu e meus irmãos só falávamos italiano em casa e também com os vizinhos. Mas isso não foi passado para os meus filhos e hoje ninguém fala, inclusive eu. Até entendo, mas perdi o jeito”, conta.

A cultura foi se perdendo após ele se casar com Leondina Aninha Dagnoni, 82 anos, que não era descendente de italianos. Ela até chegou a aprender um pouco da língua, mas nunca repassou aos filhos. “Como a maioria dos moradores do bairro falava italiano eu chegava a entender, mas era algo difícil para mim. Por isso ele (Luiz Alidor) teve que se acostumar com o português e hoje já nem se lembra do italiano”, brinca a simpática senhora. Entretanto, o casal segue até hoje os três pilares essenciais da cultura italiana: a fé, o amor e o trabalho.

recolhido por empresas, o bairro Gasparinho é responsável por 4,18% da arrecadação e o Alto Gasparinho por 13,87%.

JESSÉ DE ALMEIDA

Alto Gasparinho O bairro é assim chamado tendo em vista a localização: terras altas e nascentes do Ribeirão Gasparinho.

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Cultura que não se perde

Uma alemã em terras italianas

GILBERTO SCHMITT

ARQUIVO CV

Avós de seu Hercílio e bisavós de dona Santinha chegaram ao Brasil em 1875

Diferente do casal Dagnoni, Hercílio Bertoldi, 87 anos, e Matilde Santinha Bertoldi, 75, nunca deixaram a cultura dos avós e pais se perder. Moradores do bairro Alto Gasparinho há muitas décadas, o casal ainda prioriza as raízes trentinas. Os avós de seu Hercílio e bisavós de dona Santinha chegaram ao Brasil em 1875, durante a grande imigração italiana. Na época, a Itália e países vizinhos sofriam com a crise no setor agrário e com a miséria da população. Por este motivo, muitos italianos seguiram em direção aos países da América, procurando por melhores condições de vida. Três grupos de imigrantes chegaram ao Brasil, um deles conhecido por trentinos que até então viviam em uma região dominada pelo Império Austro-Húngaro. “Primeiro meus avós paternos foram para

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Nova Trento, depois meu pai foi para Botuverá e também se casou com uma descendente de italianos. Mais tarde, quando eu ainda era jovem, viemos para Gaspar morar no Alto Gasparinho, onde estou até hoje. Assim que chegamos nos sentimos em casa, afinal todos os poucos moradores do bairro e também do Gasparinho eram italianos”, relembra. Pouco tempo depois, ele se casou com dona Santinha, que também possui origens trentinas. Vivendo até hoje na casa que tanto amam e no bairro pelo qual sentem grande carinho, ambos conseguiram preservar as origens. “Quando estamos sozinhos, só falamos o nosso dialeto trentino, que é diferente do italiano clássico. Nossos filhos também falam o idioma, então só conversamos em português quando nossos genros, noras e netos estão em casa”, afirma

Santinha. Ela conta ainda que os seis filhos só aprenderam a falar a língua portuguesa quando foram para a escola. “É uma pena que o nosso dialeto não tenha continuado com nossos netos. Para nós, essa sempre será a nossa língua oficial”. Outro costume sempre preservado pelos dois é a religiosidade, um dos pilares essenciais dos italianos e dos descendentes. Esse costume também foi passado para os filhos, que sempre tiveram que rezar junto com os pais para agradecer por tudo que lhes foi dado. Além do idioma e da fé, o casal nunca deixa de preparar a típica comida italiana, como a polenta, o tortéi e o macarrão. “Hoje a polenta virou comida chique. Lembro que quando era criança, chegávamos a comer até duas vezes por dia, pois era o que tínhamos. Hoje as pessoas comem porque gostam mesmo”, compara.

Ana Maria Dagnoni, 88, é de origem alemã

Embora o bairro fosse tomado por italianos e descendentes, dona Ana Maria Dagnoni, 88 anos, sempre se sentiu em casa morando no Gasparinho. De origem alemã, ela se mudou ainda muito nova para o bairro em que continua morando e precisou se acostumar a conviver com o idioma italiano que todos os moradores falavam na época. Pouco tempo depois, o idioma passou a fazer ainda mais parte de seu dia a dia, já que se casou com um descendente de italiano. “Aprendi um pouco do idioma e até hoje entendo, mas em casa acabávamos falando o português mesmo. Imagina misturar o alemão com o italiano? Não daria certo”, brinca. Apesar da diferença de idiomas, dona Animi afirma que sempre foi muito bem recebida no bairro e que não se imaginaria morando em outro lugar da cidade. Facilmente, ela ainda se lembra de como as coisas eram diferentes na localidade há mais de seis décadas. Além das estradas de barro e do difícil acesso, Animi diz que a comunidade

era ainda mais unida e todos estavam sempre se visitando. “Mesmo não tendo escolas e sendo difícil chegar até os bairros mais desenvolvidos, o bairro era um lugar muito bom de viver. Infelizmente hoje há muitos moradores novos e é difícil fazer amizade com todos”, afirma. Assim como ela, seu Luiz Alidor e a esposa Leondina também gostam de viver no bairro e esperam nunca deixar o local. “Dá saudades de como o bairro era antigamente, já que cresceu muito, mas eu ainda não o troco por nada”, afirma Luiz.

Antepassados

Escutar as histórias de vida dos familiares e, dessa forma, mergulhar no passado é a melhor maneira que Bárbara Bernardo, 23 anos, encontrou para resgatar as gerações passadas de sua família. Neta de seu Hercílio e dona Santinha e moradora do Gasparinho, a jovem acredita que conhecer a cultura italiana, principalmente a trentina, é dar valor à história dos antepassados. “É instigante saber como viemos parar aqui, no Gasparinho, por exemplo, e também o que nos leva a seguir uma tradição que não é a de nosso país. Nunca posso deixar de agradecer a meu nonno e nonna. Se não fossem as histórias deles eu não poderia conhecer nem mesmo a minha. Estudar a cultura de nossos antepassados é iniciar uma busca por nós mesmos”, ressalta. Desde criança Bárbara está envolvida com a cultura de sua família, com hábitos e costumes tipicamente italianos. Ainda muito jovem, ela passou a fazer parte do Circolo Trentino di Gasparin, um grupo que tem como objetivo resgatar a cultura trentina através de músicas típicas, e também

JESSÉ DE ALMEIDA

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aprendeu a falar italiano. “Desde criança tenho contato com essa cultura quando ouvia meu nonno e nonna conversando em italiano, ou quando iniciavam uma conversa com os filhos em português e, rapidamente, trocavam de idioma e falavam como se estivessem cantando. Era um dialeto”, explica. Já na faculdade, ela realizou um amplo trabalho sobre a imigração trentina no Brasil e na Argentina, contando histórias de verdadeiros imigrantes italianos que ainda preservam os costumes.

Circolo Trentino

Anualmente, o bairro Gasparinho recebe uma grande festa que tem como objetivo manter vivas as tradições italianas. A tradicional Festa Italiana, que acontece no mês de maio, é promovida pelo Circolo Trentino di Gasparin, um grupo de descendentes italianos formado em meados da década de 1990 para divulgar a herança trazida por italianos. De acordo com a presidente do grupo, Maria José Nicoletti, os integrantes do Circolo se reúnem mensalmente para ensaiar músicas do Folclore italiano. Hoje, o grupo conta com cerca de 50 pessoas de todas as idades, sendo que o integrante mais novo tem 3 anos e o mais velho, 87. “A função do Circulo Trentino di Gasparin não se limita somente em manter e promover a cultura trentina e italiana, mas promover ações de cidadania e de cunho social, usando nossos valores principais que são a fé, o amor e o trabalho”, explica. Há pouco mais de seis anos, alguns integrantes do grupo também ofereciam aulas gratuitas de italiano para os moradores. O projeto, porém, não teve continuidade pela falta de professores. CRUZEIRO DO VALE | GASPAR 80 ANOS | 49


ESPECIAL

ESPECIAL

AMOR PELA ARTE

Talento e inspiração sem fim Talento de sobra e vontade de compartilhar conhecimento com todos. Essas são características marcantes do casal de escritores Júlio César Bridon dos Santos, 70 anos, e Arlete Trentini dos Santos, 61. Ao longo de suas trajetórias como escritores, o casal já conquistou mais de 30 prêmios pelo Brasil e mundo afora, além de publicar diversos livros e participar de antologias em vários idiomas. Apesar de já ter recebido reconhecimento nacional e internacional, o trabalho do talentoso casal não para. Recentemente, Bridon esteve na França para o prélançamento de seu 12° livro, intitulado “Aimer & Rever À Paris”, que conta com diversas poesias românticas. O lançamento da obra acontece neste mês, no Salon Du Livre de Paris, na França.

O novo livro será apenas editado em francês, mas os brasileiros terão em breve mais uma chance de conferir o talento do escritor. Ainda neste ano, Bridon vai lançar o romance “Ilha dos Sonhos”, disponível em português e espanhol, e também o livro de poesias “O Viajor de Poesias”, editado somente em Os trabalhos de Arlete também seguem em ritmo intenso. Após lançar português. seus conceituados livros infantis “Histórias da Vovó Arlete” e “Piloto – O Cãozinho Amigo”, ambos editados em português e inglês, a escritora segue publicando textos e poesias em antologias, que são livros que contam com a participação de diversos autores. A expectativa é de que ela continue apenas participando de antologias, mas Bridon antecipa: “ainda vamos escrever um livro juntos. Ela tem ótimas poesias”. Arlete divide os dotes artísticos também com as artes plásticas. Em outubro do ano passado, um quadro pintado por ela fez parte de uma exposição no Museu do Louvre, em Paris. Os escritores também são comendadores da Academia de Letras de Goiás Velho, ALG, delegados da Academia de Letras e Artes de Valparaíso (Chile), ALAV, Embaixadores da Paz da Divine Academie Française des Arts el Lettres, e membros de diversas academias de letras do Brasil e do mundo. Além de todo o trabalho realizado mundo afora, Arlete e Bridon se dedicam a dissipar o conhecimento em Gaspar, cidade pela qual sentem grande carinho. No ano passado, o casal desenvolveu o projeto “O poeta vai às escolas”, que tem como objetivo levar os livros do casal aos estudantes da cidade. “É uma honra tão grande ver que eles estão lendo nossos livros e estão gostando que pretendemos continuar com essa ideia”, afirma. O projeto já foi adotado em outras cidades.

Artes plásticas

Homenagens à cidade Uma cidade que está na sua melhor idade. Quantas histórias têm acumuladas nas páginas de jornais e na memória dos moradores. Quantos berços e sonhos esta cidade embalou. Esta é a cidade que escolhi para viver. Uma cidade que me acolheu com carinho. Aqui eu e meu esposo constituímos a nossa família. São quatro filhos, que junto com as pessoas que tocaram seus corações, nos deram cinco netinhos. Nesta cidade temos muitas coisas maravilhosas e que nos encantam e preenchem nossos corações de alegria e orgulho. Também choramos com as catástrofes que se abateram sobre ela, mas somos todos cidadãos fortes e de cabeça erguida continuamos a caminhada. Eu e meu esposo Bridon estamos trilhando o caminho das letras e artes. Tudo começou na nossa querida Gaspar e agora sempre mencionamos com o maior orgulho o nome desta terra por todos os lugares que vamos (...). Nossa história se funde com a própria história da nossa cidade. Teremos sempre gratidão por esta cidade. Só nos resta dizer “SALVE GASPAR”. Arlete Trentini dos Santos

Casal Júlio César Bridon dos Santos e Arlete Trentini dos Santos esbanja empenho e vocação na literatura e nas artes plásticas

“GASPAR – 80 ANOS” Aqui cresci, nasci, Me eduquei e trabalhei. Busquei primeiro as primeiras coisas, Aquelas que me fariam ser o que hoje sou. Por isso tenho dentro do peito Encravado em meu coração O gostinho de ser gasparense E também os nossos filhos. Esta terra de palmeiras, Corredeiras e cascatas Me fez acreditar no amor e na felicidade Para compartilhar com os demais o desejo maior. Gaspar, nos seus 80 anos completados em março Me traz muitas recordações de alegria e felicidade Onde, com a graça divina, Pude educar e criar meus filhos Amo Gaspar de todo coração Pois aqui vivo, moro e trabalho Por isso, me sinto um ser abençoado por Deus Para vibrar com seus 80 anos de existência. JC Bridon – 25/02/2014

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Bela Vista

Lar de antigas memórias

C

avalos e pôneis para passeios, cabanas para os visitantes passarem a noite, pista de corrida e um minizoológico. Uma grande área de lazer em uma cidade tranquila, este foi um dos principais atrativos que encantou o aposentado Willians Ramos, 61 anos. Por causa do hotel Paraíso dos Pôneis, ele deixou sua cidade natal, Concórdia, e se mudou para Gaspar há 38 anos. Em princípio Willians iria somente passar um tempo descansando na região. Os dias de passeio acabaram e ele resolveu ficar morando na cidade: alu-

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Sede do Instituto Federal de Santa Catarina, bairro oferece novas oportunidades para estudantes e trabalhadores gou uma casa, conseguiu um emprego e trouxe a esposa. Ele lembra que o hotel, um ponto turístico do Bela Vista na época, era muito movimentado, lotado de carros e pessoas acampando. Ele frequentava muito o lugar, gostava de andar a cavalo e aproveitava a estrutura do local. Um dos motivos de ter escolhido o bairro foi a localização. Além disso, o Bela Vista sempre foi uma região residencial, embora muito menor do que atualmente. O aposentado lembra que na época em que veio morar na cidade, uma balsa atravessava o rio Itajaí-Açú levando os moradores do Bela Vista até o outro lado, em direção à BR-470 ou ao

Belchior Baixo. “Uma das principais vias do bairro, a atual Adriano Korman na época era só a metade do que é hoje. O pessoal chamava de Rua do Fogo. Eles diziam que ali ‘era quente’. Eu não sei ao certo, mas acho que é porque dava muita briga”, conta. De acordo com o aposentado, muita coisa mudou depois da grande enchente de 1983. Na opinião dele, se não fosse essa tragédia o bairro estaria muito melhor. Willians conta que depois do desastre o hotel fechou, a balsa parou de trafegar e muitos moradores abandonaram a região, desanimados. Com o tempo, algumas pessoas voltaram e novas famí-

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JESSÉ DE ALMEIDA

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Willians passaria um tempo na região, mas acabou fixando moradia

lias se mudaram para o Bela Vista. “Por causa da enchente foi feita uma obra na estrada que dá acesso ao bairro e subiram o nível da rua em 70 centímetros. Lembro que a água tomou conta de tudo, os moradores ficaram ilhados, isso aqui virou um mar”, recorda. Muito envolvido com a comunidade, o aposentado assumiu esse ano a presidência da Associação dos Moradores do bairro, mas há muito tempo participa das atividades na comunidade. Ele conta que há mais de 20 anos ajudou a fundar o time Bela Vista Esporte Clube, que fez parte da Liga de Futebol de Gaspar. Como o trabalho era voluntário e os jogadores também não recebiam para jogar, ele fazia de tudo um pouco: era técnico, presidente e torcedor. “Também ajudei a construir a nossa Igreja da Imaculada Conceição, que hoje é uma Paróquia. Sinto falta das pessoas que se envolviam junto comigo e

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Ermíneo deixou a cidade de Ascurra e se estabeleceu no Bela Vista

já morreram, como por exemplo a família Zimermann. Eles com certeza foram um dos pilares na formação aqui do bairro”, conta Willians, que lamenta o fato de as famílias hoje não serem tão comprometidas com o bairro. “Eu gosto muito daqui, é bom de morar, mas acho que temos que criar mais raízes com o lugar. Fico preocupado, mas espero que tenha um futuro bom. Que as pessoas e entidades trabalhem mais unidas, com esse sentido de ajudar”, completa. Também faz muitos anos que o aposentado Ermíneo Prade, de 76 anos, deixou sua cidade natal, Ascurra, e se mudou para Santa Catarina. Antes de fixar residência em Gaspar e escolher o Bela Vista para morar, ele ainda viveu um tempo trabalhando em Blumenau. Depois de chegar à região, há 30 anos, Ermíneo comprou uma casa na rua Clara

Schmitt, onde mora até hoje. Ele lembra que na época tinha somente três carros no bairro: o dele, o do vizinho Tuti e o do Padre – que na verdade era o apelido de um morador comum. “Não tinha calçamento, não tinha nada, era tudo banhado, um mato. A única rua era essa minha que eu moro. Mudou muito isso aqui, o crescimento foi muito bom, aumentou uns 1.000%. Antes não passava nem ônibus, tinha que pegar lá embaixo no asfalto”, recorda. Ermíneo ainda conta que ele e a esposa gostaram do bairro e escolheram Gaspar para passar o resto da vida, mas pensaram em desistir depois da enchente. “Eu quis ir embora, não era acostumado com aquilo. Eu passei pelo meu terreno de bateira, lá pra baixo encheu tudo de água, Mas estou contente em Gaspar, a família acabou indo morar pra Blumenau, mas não vou sair daqui”, finaliza.

Ensino de qualidade e gratuito Em novembro de 2010 o Instituto Federal de Santa Catarina começou a oferecer seus primeiros cursos de qualificação no bairro Bela Vista. A cada novo ano a instituição foi implementando o quadro de estudos e atualmente conta com blocos de prédios modernos com 18 salas de aula, laboratórios de química, física e matemática e uma biblioteca aberta à comunidade. Muitos moradores de Gaspar já conhecem o Instituto, mas não sabem ao certo como funciona. Atualmente o local trabalha com diferentes cursos profissionalizantes, desde qualificações com menor duração de tempo ou cursos técnicos integrados onde o aluno pode fazer o ensino médio ou já ter

concluído. A melhor parte é que os cursos são gratuitos. A coordenadora de Extensão e Relações Externas e professora de matemática, Vanessa Deschsler, conta que por verem uma entrutura nova e bonita do lado de fora, algumas famílias ou estudantes não querem entrar achando que o ensino é cobrado. Para ela a comunidade ainda está se adaptando, conhecendo a escola. “Os cursos não são cobrados e possuem qualificação profissional. Não fazemos distinção e divulgamos a instituição em diferentes lugares, e mesmo assim grande parte dos interessados vem de colégios públicos. Cerca de 70%

dos estudantes é de Gaspar, 20% de Blumenau e o restante de outros municípios como Ilhota e Navegantes”, explica.

Bela Vista Antigo Arraial do Belchior e Belchior Baixo Margem Direita. Na década de 1960 construiu-se ali um moderníssimo clube de campo, seu nome: “Bela Vista Country Club”. A partir daí, o lugar passou a ser conhecido pelo nome do clube e mais tarde, oficialmente Bairro Bela Vista.

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O ingresso no Instituto pode ser feito de duas formas, dependendo do que o aluno irá estudar, através de análise socioeconômica dos candidatos, ou uma prova de conhecimentos. Atualmente a instituição atende 500 estudantes, mas a previsão é de que até 2016 este número cresça para 1.200. Conforme a coordenadora, o tema dos cursos oferecidos segue um critério analisado para cada município específico. Em Gaspar, por exemplo, sentiu-se a necessidade de formar pessoas técnicas em vestuário, química ou modelagem do vestuário. A intenção é de que nos próximos anos o instituto inicie também os cursos superiores. Com tantas pessoas circulando pelo bairro, a coordenadora destaca que um dos únicos problemas na região é a questão do trânsito. “Em relação ao transporte público não tivemos muitos problemas, mas o trânsito é movimenta-

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do e às vezes perigoso”, conta. Para tentar resolver o problema o vereador Giovano Borges apresentou, ainda em 2013, um projeto à administração pública sugerindo mudanças no sentido de algumas ruas. Segundo ele, o bairro terá que aguardar até que obras como a drenagem da Rua Amazonas, em fase de execução, sejam concluídas para que novas vias sejam pavimentadas e sirvam de alternativa ao tráfego de veículos. O comerciante Fabrício Rosa, 32 anos, conta que a família tem loja no bairro há cerca de 20 anos e sente que aumentou o fluxo de pessoas. Ele acredita que o número de moradores cresceu em decorrência dos novos loteamentos que foram criados no bairro, e também por causa da exploração da construção civil. “A gente aqui da loja percebe que aumentou o movimento, também por causa dos alunos do Instituto Fede-

ral que passam por aqui. Eu me criei no Bela Vista, tenho muitos amigos e minha família é daqui. Não moro mais em Gaspar hoje, mas eu recomendaria a cidade”, finaliza.

+ info • População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Bela Vista é de 10.500 moradores. Isso sigifica que 15,33% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 9,98% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o bairro é responsável por 8,76% da arrecadação.

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Barracão

Indústria têxtil pede passagem

+ info

Com ofertas de emprego de sobra, região ganhou força com empresas especializadas no segmento e pode crescer ainda mais

• População: Conforme o último levantamento feito em 2013, a população do Barracão, mais localidade de Óleo Grande é de 4.500 moradores. Isso significa que 6,13% dos moradores de Gaspar residem na região. Já no Bateias e no Macuco, a população estimada é de 3.500 pessoas, o equivalente a 4,84% do total da cidade. • IPTU: 3,26% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente do bairro

pliar as instalações. A gerente financeira Jeane Carvalho Dalci conta que, agora, a empresa está mais bem posicionada em termos de logística, o que ajuda na hora de escoar a produção. A maior parte dos clientes é de fora do estado, principalmente São Paulo. “Não moro em Gaspar, mas conheço o bairro há 27 anos. É impressionante como a parte industrial despontou. Acredito que vá crescer ainda mais. Porém, precisamos de mais incentivo como asfalto e transporte, se não o crescimento vai travar”, opina.

Barracão, enquanto a arrecadação do Bateias corresponde a 2,02% do total da cidade e a do bairro Macucos, a 0,04%. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, o Barracão é responsável por 0,82% da arrecadação. Já o Bateias responde por 0,19% e o Macucos por 0,03%. JOANA GALL

Barracão

Na tentativa de atrair mais funcionários, a indústria na qual ela trabalha acabou fazendo horários mais flexíveis e abre somente de segunda a sexta-feira. Além disso, a empresa não exige experiência em certos cargos, como auxiliar de tecelão. “A intenção é dar oportunidade para quem está aprendendo a função. Acho que poderiam abrir mais cursos profissionalizantes na área têxtil aqui em Gaspar”. A malharia, que chegou ao Barracão há pouco mais de um ano, veio originalmente de Brusque e se mudou para am-

Aline ressalta as ótimas oportunidades de emprego

O nome Barracão está ligado à imigração italiana, ocorrida a partir de 1875, quando foi construído, nas proximidades da atual Escola Marina Vieira Leal, um barracão, que servia de abrigo às famílias dos imigrantes, enquanto aguardavam por seus lotes e moradias.

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estaque na indústria têxtil, o bairro Barracão ganha cada vez mais espaço no mercado e chama a atenção pela qualidade dos produtos, voltando olhares de todo o Brasil para Gaspar. A região se especializou no segmento há alguns anos e hoje, o ramo é fonte de renda para centenas de famílias da cidade. O local se desenvolveu rapidamente e muitos moradores contam com melhorias para que o crescimento se expanda ainda mais. Pela estrada principal que dá acesso ao bairro já é possível avistar diversas placas e outdors indicando fábricas, malharias, facções e lojas de roupas. Grande parte da produção acontece no próprio bairro, mas não fica por ali.

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Os clientes são diversificados e vem de longe à procura de produtos. “Trabalhamos só com vendas em atacado e a maioria dos compradores vem de outros estados. Aqui temos produtos de fabricação própria, mas compramos mercadoria pronta também”, explica a auxiliar de vendas e estudante Aline Schuartz. Toda a família dela trabalha com produção têxtil há vários anos, e ela acredita que o polo ainda tem muito para evoluir. Moradora da localidade Óleo Grande, Aline conta que há muitas oportunidades de emprego na região, mas geralmente para serviços que não exigem especialização. A maioria dos funcionários que trabalha na sua empresa mora no próprio bairro, ou então veio

de outras cidades de Santa Catarina em busca de oportunidades em Gaspar. Mesmo com tantas pessoas se mudando para a cidade, alguns empresários garantem que ainda é difícil encontrar mão de obra, e que a oferta é maior que a procura. Alini Batisti trabalha no setor de Recursos Humanos de uma das empresas do Barracão, e comenta que a faixa pendurada com os dizeres “contrata-se funcionários” já é fixa do lado de fora do prédio. “Acredito que são poucas pessoas disponíveis no mercado e existe muita rotatividade. É muito fácil trocar de emprego porque sempre têm vagas. Temos cerca de 50 funcionários na empresa, a maioria é do próprio Barracão ou Bateias”, explica.

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O que pensam os moradores Perto dali, em uma confecção e loja de pijamas, trabalha a auxiliar de administração Alessandra Nunes. Moradora do Barracão há 18 anos, ela gosta do bairro, garante que é tranquilo e lugar de pessoas trabalhadoras. Ela mora no loteamento Vila Isabel e conta que em certas regiões só se encontra moradores em casa de noite, quando todos voltaram do trabalho. “Me sinto bem aqui, é bem calmo e está crescendo a cada dia”, destaca Alessandra. Para ela, a única coisa que falta no bairro são creches. Ela e o marido dividem os cuidados com as duas meninas que ficam em casa durante o dia, e estão na lista de espera do centro de educação infantil. Quanto às opções de lazer o presidente da Associação de Moradores do Vila Isabel, Amvi, Elias Anísio Lana, comenta que a situação realmente melhorou depois da construção de um parque infantil, nos arredores do loteamento. Além disso, a associação está iniciando algumas atividades no complexo esportivo do Vila Isabel, em parceria com a Fundação Municipal de Esportes. “Acredito que a demanda nesse setor está boa agora”, avalia. Já no trabalho, Alessandra concorda que sobra serviço e às vezes falta mão de obra. Os proprietários da loja em que trabalha estão pensando em ampliar

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o espaço nos próximos meses, mas também estão preocupados com a falta de funcionários. “Como é uma empresa familiar os funcionários se sentem bem aqui, mas mesmo assim já estamos pensando nisso. Tem muito emprego no Barracão, mas é segmentado, quem quiser outra área vai para outros lugares”. Segundo a secretária de Indústria, Comércio e Turismo, Patrícia Alessandra Nunes destaca as pessoas e a tranquilidade do local Scheidt, grande parte do crescimento de Gaspar acontece em áreas de limite com outras cidades, caso do Barracão. Fazendo extrema com Brusque, a região se desenvolveu muito industrialmente e a pre– O bairro Macucos era anteriormente chamado: feitura tem planos para incentivar o “Poço Grande Fundos”. Ali viviam açorianos crescimento. “A intenção é ampliar agricultores. Com a chegada dos alemães, o perímetro urbano na direção do bairro Macucos, onde existe mais notadamente das famílias Schramm e Schmitt, espaço, além de fazer investimento grande desenvolvimento ocorreu. na estrutura do local, para dar mais Tendo em vista a popularidade da família apoio aos comerciantes. Os moraSchmitt, apelidados de “macucos”, o lugar dores estão se preparando para o desenvolvimento e o município está passou a ser conhecido como a localidade dos fazendo sua parte. A transformação é “macucos”. Mais tarde, oficialmente Bairro visível”, garante a secretária.

Macucos

Macucos.

O pequeno e precioso A estrada sinuosa de chão batido corta o interior de Gaspar, passando por plantações e sítios. Nas margens da via surgem algumas casas – a maioria de antigas famílias – que dão vida à comunidade. Os animais ficam nos pastos, enquanto vizinhos conversam à vontade em frente às casas, com janelas e portas abertas. Assim é a tranquilidade do bairro Macucos. Um dos bairros mais bucólicos de Gaspar, a calma do lugar contagia quem passa. Considerada área rural, algumas indústrias começam a se instalar na região e viram local de trabalho de alguns moradores. O auxiliar de produção Paulo Roberto Barbosa de Santos, 31 anos, mora no Macucos desde que nasceu e sair do bairro não é sua intenção. Paulo conta que viveu alguns anos fora de Gaspar, mas conseguiu convencer a esposa e voltou para a ter-

Macucos

ra de origem. “Aqui meu filho brinca e não tem perigo como em outros lugares A minha família toda é daqui, já morei até em São Paulo, mas sempre preferi um lugarzinho assim”, conta. Apesar de ser tranquilo, ele acha que faltam algumas melhorias na região, como pavimentação da estrada principal e creche. Mesmo assim, Paulo acredita que há mais coisas positivas para falar de Gaspar do que negativas. “A cidade melhorou muito, agora tem muito mais empregos e a urbanização está ótima, está indo bem. Eu tenho amigos em todos os bairros que vou, gosto muito daqui”, afirma. Quem também criou raízes no Macucos – raízes muito antigas, por sinal – foi o aposentado Sirilo Schmitt, 71 anos. Ele conta que seu avô, Pedro Carlos Schmitt, foi um dos fundadores da região. Na época, pediu autorização para morar nas terras e chegou

Paulo Roberto nem pensa em sair do bairro

para desbravar o local. Ele não chegou a conhecer o avô, mas lembra das histórias que seu pai contava sobre ele. “Ele ia no meio do mato abrindo as estradas, tudo com uma enxada, acho que isso faz uns 120 anos. Antes dele isso aqui era só mata virgem. Então minha família foi aumentando e se espalhando pela região. Eu, por exemplo, tive 18 irmãos. Hoje estão espalhados, só 11 estão vivos”, conta o aposentado. Quando ficou um pouco mais velho, os caminhões começaram a passar pelas estradas do Macucos. Sirilo conta que prestava atenção e fazia caminhõezinhos de madeira para os irmãos mais novos, porque ele já sabia a verdade sobre o “segredo do Natal”. “Eu não sou profissional, mas faço tudo na madeira”, conta ele. “O Macucos é formidável, eu ainda considero uma região familiar”.

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Santa Terezinha

Conquistas da união

U

m dos maiores bairros de Gaspar, o Santa Terezinha hoje carrega o nome da padroeira da localidade. Mas nem sempre foi assim. O bairro era conhecido apenas como rua Brusque até o início da década de 1980, quando moradores e religiosos católicos fundaram a Comunidade Santa Terezinha. A primeira sede, ao lado da atual escola Zenaide Schmitt Costa, recebeu as celebrações por muito tempo, mas, em 2003, deu lugar à nova capela, construída com o envolvimento dos moradores na prin-

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Construção da capela e da nova área de lazer mostram força de moradores do bairro Santa Terezinha, local em forte fase de expansão cipal via do bairro, a rua Barão do Rio Branco. Quem acompanhou de perto esse processo foi Nelson Reinert, 62 anos. O aposentado era o presidente da Comunidade Santa Terezinha quando houve a mudança da capela e, há quatro anos, reassumiu o cargo com a responsabilidade de concluir as últimas etapas do salão de eventos da comunidade, erguido junto à capela. A exemplo de outros moradores, Nelson participou ativamente das obras, ajudando nas instalações, e fala com orgulho do patrimônio comunitário, que conta com 3.018 metros de área

construída. “Tudo foi feito com muita seriedade, administrando centavo por centavo, sem falar no envolvimento dos moradores, que até ajudaram na construção com mutirões”, recorda. Na avaliação dele, a nova capela representa uma conquista e faz parte da história do bairro. Além da igreja, foi construído o salão comunitário, com cozinha, banheiros e amplo espaço para eventos, uma rampa de acesso e uma gruta, que abriga a imagem de Nossa Senhora das Graças. As missas ocorrem sempre aos domingos, às 8h, e nas noites da primeira sexta-feira do mês. “Não foi apenas a capela que foi

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construída. O bairro cresceu muito, ganhou empresas, conta com escola e posto de saúde. Podemos dizer que hoje é muito bom morar aqui”, avalia Nelson, que mora com a esposa e os dois filhos há 32 anos no Santa Terezinha. Arregaçar as mangas e ir à luta parece ser uma marca do bairro. Diante da falta de áreas públicas de lazer para os moradores, problema comum em várias localidades de Gaspar, a comunidade se reuniu e decidiu dar início à construção de um novo espaço, que deve ser inaugurado ainda no primeiro semestre. Nesta primeira etapa está sendo construída uma quadra coberta de futebol suíço com grama sintética. No futuro a intenção é ampliar o es-

paço e fazer também uma pista de caminhada, cancha de bocha e até uma academia. A organização para construir o espaço de lazer começou no ano passado com uma ação entre amigos, que arrecadou os recursos para iniciar a obra. A operadora de caixa Daniela da Silva Stanke, 31 anos, trabalha há seis anos em um mercado no Santa Terezinha e confirma a falta de áreas públicas de lazer no bairro. “Não tem um parque ou um lugar para fazer atividades com os idosos. Vai ser bom quando todos puderem usufruir desse espaço”, afirma. Daniela destaca o desenvolvimento da região, mas ressalta que a pavimentação na rua principal do bairro poderia ser melhorada. “O bairro é

Tesoureiro da Associação de Moradores, Euclides Rampelotti

bem estruturado, tem escola, creche e posto de saúde. Acho que a cidade vai ter um futuro bom”, completa.

Desenvolvimento da região Há 40 anos chegava ao bairro Santa Terezinha uma nova família. Laurinda Teireixa era uma moça recém-casada, que saiu do sítio onde morava com os pais e veio para a cidade. Ao invés de estranhar a mudança, ela gostou. Hoje, a senhora de 67 anos faz crochê para vender e lembra da época em que se mudou para o bairro. “Muitas estradas eram de barro e algumas ruas de hoje nem existiam ou eram só um trilho que a pessoa passava a pé no meio do matagal. Lembro de quando a água encanada foi instalada, na época isso aqui tudo enchia com a chuva. Recentemente cercaram o Cemitério Municipal, o que nos trouxe mais segurança. Tudo isso já melhorou bastante nossa vida”, afirma. Quem também adotou o Santa Tere-

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zinha, mas como local de trabalho, foi a comerciante Sandra Regina Schmitz, 50 anos. Frequentadora do bairro há bem menos tempo do que Laurinda, Sandra comanda uma floricultura no bairro há poucos meses e ainda está se adaptando ao lugar, mas ela ressalta que a receptividade dos moradores foi muito boa. Sobre o crescimento do bairro e da cidade, Sandra acredita que para evoluir ainda mais Gaspar poderia buscar uma vocação específica, como ocorre com Ilhota na moda praia e com Brusque no ramo têxtil. “Quem sabe uma característica da cidade não seja o turismo? Poderia ser uma identidade. Além disso, acredito que a vinda de mais empresas, com diversidade, ajudaria no crescimento de Gaspar”, analisa.

Crescimento se estende ao Gaspar Mirim A poucos quilômetros do bairro Santa Terezinha, a comunidade do Gaspar Mirim também assistiu a um intenso desenvolvimento nas últimas décadas. Áreas predominantemente rurais abriram espaço para o surgimento de indústrias de diferentes setores, supermercados, comércios e prestadores de serviço. A expansão econômica e o potencial do bairro são tamanhos que a revisão do Plano Diretor, responsável por determinar as diretrizes de construções e da ocupação do solo da cidade, prevê que a localidade do Gaspar Mirim, juntamente com o Barracão, seja encarado como novos eixo de crescimento. Quando se mudou da Volta Grande, entre Gaspar e Brusque, para a

rua Rodolfo Vieira Pamplona, no Gaspar Mirim, Oscar Michei, o Caio, 58 anos, não imaginava que a localidade passaria por essa transformação. “Na época só passava carroça na estrada e o único vizinho era o da casa ao lado”, recorda. Trinta anos depois, o trecho em que Caio mora ainda é de estrada de chão e cercado por arrozeiras, mas pode-se dizer que é uma exceção. Metros atrás ou adiante, o bairro recebe a cada dia novas empresas e moradias, como as famílias que residem na Cohab ou no Loteamento Novo Horizonte, o que exige mais investimentos e impulsiona ainda mais o desenvolvimento do bairro. Por muitos anos, Caio trabalhou com JOANA GALL

plantação de arroz, mas recentemente ele decidiu se aposentar. Apesar das mudanças no bairro, o morador vê com bons olhos esse processo e acredita que aos poucos o desenvolvimento vai se consolidando no Gaspar Mirim. “A maior prioridade hoje para continuar com esse crescimento seria o asfalto e também uma tubulação maior, porque quando chove forte a água chega a ultrapassar a estrada”, denomina.

Santa Terezinha Bem próximo ao centro, foi até a década de 1980 conhecido como “Rua das Cuias” ou

+ info

“Rua Brusque”. Em 1986, com o trabalho das religiosas católicas (Irmã Edith e Irmã Mauramexicana), fundadoras das “Comunidades Eclesiais de Base”, apoiadas pelas catequistas, que

• População: Conforme o último levantamento

lecionavam religião na Escola Zenaide Schmitt

feito em 2013, a população do Santa Terezinha

Costa, fundaram com a participação ativa de

é de 9.000 moradores e do Gaspar Mirim

moradores, a comunidade, cuja padroeira, por

é de 1.900. Isso significa que 13,03% dos

votação, foi escolhida “Santa Terezinha”. Foram

moradores de Gaspar residem no Santa

anos de grande envolvimento da comunidade.

Terezinha e 2,63% no Gaspar Mirim.

Em 1993, uma imagem de Santa Terezinha,

• IPTU: 16,64% do imposto arrecadado em

doada pela Igreja de Navegantes chegou a nova

2014 é proveniente dos dois bairros.

sede própria da comunidade, situada ao lado da

• Em relação ao Imposto Sobre Serviço de

escola. Daí em diante, toda região passou a ser

Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal

chamada “Santa Terezinha”.

recolhido por empresas, os bairros são responsáveis por 3,94% da arrecadação.

Gaspar Mirim - Bairro próximo ao centro, servido Localidade onde mora Oscar Michei, no Gaspar Mirim, deve mudar com novos investimentos

pelas águas do Ribeirão Gaspar Mirim.

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Coloninha e Figueira

A nova casa de 800 moradores

N

o mês de maio completa um ano que o Residencial Milano foi inaugurado e virou lar de mais de 800 pessoas. Mesmo depois de tantos meses, os novos moradores ainda estão aprendendo a viver em conjunto e se adaptando ao bairro Coloninha. Todos eles já moravam no mínimo há cinco anos em Gaspar, mas vieram de lugares diferentes como Belchior, Bela Vista, Lotamento Jardim Primavera e Santa Terezinha. O complexo foi construído para famílias de baixa renda que moravam em área de risco, fizeram um cadastro e foram sorteadas pela Caixa Econômica

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Federal. A intenção era auxiliar esses moradores na aquisição da casa própria e tirá-los do aluguel e de áreas suscetíveis a alagamentos e deslizamentos de terra. O Milano é composto por 224 apartamentos divididos em 14 blocos, além de dois salões de festas, áreas de lazer para crianças e garagens. A síndica do residencial, Ilza Cinara dos Santos Mandicaju, assumiu o posto há dois meses e conta que o perfil dos moradores é bem variado, mas a maioria das famílias é chefiada por mulheres, geralmente mães divorciadas. “Eu já morava em apartamento antes, mas não nessa quantidade de pessoas. É complicado porque cada um tem sua particularidade,

mas está sendo uma experiência nova”, explica ela. Ainda de acordo com Ilza, o objetivo da comissão que administra o residencial é lutar por melhorias e tentar organizar a vida em conjunto. Mais do que amenizar as discussões entre os moradores, também é sua função cuidar da hidratação do esgoto, limpeza da caixa d’água, segurança da portaria e regularizar a questão dos moradores inadimplentes com o condomínio. “Muitos moradores moravam em casas e ainda estão se adaptando, mas vai ficar melhor com o passar dos meses. Aqui é um bairro muito bom, a localização é boa e tem tudo perto”. Conforme Ilza, boa parte dos moradores não preci-

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sou mudar de emprego por causa da mudança e continua trabalhando nos locais de sempre, como as empresas e indústrias de Gaspar. Para cuidar de um espaço tão grande e auxiliar na manutenção, a comissão administradora precisa de ajuda. A servente de merendeira Diva Paula é uma das fiscais que ajuda a manter a ordem no residencial, e lembra da felicidade de ter sido sorteada para morar no Milano. “Foi uma sorte grande, estou adorando a casa nova.

para os mais novos com a ajuda do Papai Noel, que visitou o lugar. Além disso, neste mês de março a comissão também preparou o Carnaval das Crianças e em abril pretende fazer a primeira gincana do residencial. Apesar de gostarem da estrutura e da localização do novo bairro, os moradores aguardam algumas melhorias, como uma linha de transporte público que circule mais próximo ao residencial. Diva comenta que boa parte das mães de família do Milano tem que levar as crianças para a creche de ônibus, e depois pegar mais um transporte para trabalhar. Se houvesse um ponto de ônibus mais perto do residencial, seria melhor.

JESSÉ DE ALMEIDA

Servente de merendeira Diva ajuda a cuidar do espaço

Na hora em que fui pegar a chave foi uma alegria, eu queria que a família toda estivesse junto”, conta Diva, que divide o lar com mais quatro pessoas. Quanto à adaptação ao prédio e aos outros moradores, ela conta que no começo foi difícil já que não era acostumada a ter vizinhos tão perto. Para promover a integração entre os moradores e mais lazer para as crianças, a administração do Milano já realizou alguns eventos nesses meses. No final de 2013, com a ajuda de empresários de Gaspar, o residencial promoveu o Natal do Milano, onde distribuiu lembranças

Diversão e peixe fresco O bairro Figueira é uma região boa para se trabalhar, mas também para se divertir. Uma opção de lazer que existe no local há mais de 16 anos é o Pesque e Pague Fernandão. Com 13 lagoas de criadouro e duas para a pesca, o lugar abre de terça-feira a domingo, das 8h até as 19h, e não cobra pela entrada. A proprietária Eliana Sabel, moradora de Gaspar, explica que a maioria dos visitantes é de outras cidades, como Blumenau. “Daqui mesmo são poucos que vêm, mas sempre temos bastante movimento. Nos domingos servimos almoço e também temos uma lanchonete”. Os peixes disponíveis nos tanques são a carpa e a tilápia. Ainda de acordo com ela, as mulheres estão conquistando o posto de grandes pescadoras no Pesque e Pague. “Muitas famílias passam o dia aqui e muitas senhoras também. Elas acompanham os maridos, mas às vezes vêm com as amigas em grupo para pescar”, revela.

Há 25 anos em Gaspar, Aurinor escolheu o bairro Figueira para montar sua videolocadora

Os 800 novos moradores do Coloninha não chegaram a modificar a vida do bairro vizinho, Figueira. Pelo menos é essa a opinião do comerciante Aurinor Aloizi, conhecido como Alemão. Ele, que mora há mais de 25 anos em Gaspar, escolheu o bairro Figueira para montar sua locadora de DVD e acha a região perfeita para se morar. Alemão lembra que quando chegou na cidade, depois que o pai foi transferido do trabalho de Jaraguá do Sul, o município era muito desvalorizado até mesmo pelos moradores. “Não se comprava um carro em Gaspar, porque era mais bonito e melhor comprar em Blumenau. Hoje é um lugar ótimo de se viver, é bem centralizado e tem um grande crescimento”, ressalta. Alemão conta que de vez em

quando muda de rota e visita ruas em que geralmente não passa, e fica impressionado com a quantidade de galpões e indústrias que se instalam em Gaspar. Para ele, as empresas são sempre bem-vindas e são a chave para a cidade crescer ainda mais. Quando montou seu estabelecimento no bairro Figueira, muitos vizinhos reclamavam do município, mas ele prefere elogiar a cidade, que completa 80 anos. “A água era um problema em Gaspar, mas melhorou bastante. Acho que agora o transporte, o trênsito tem que melhorar, mas é gradativo, não tem como não crescer. Eu quero falar bem da cidade que hoje está linda, muito bonita. As pessoas têm mania de ficar crucificando alguém. A dificuldade sempre vem, mas a cidade está crescendo”, completa.

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Obras para a região Conforme a programação feita pela Prefeitura, a região dos bairros Coloninha e Figueira será sede de dois importantes prédios municipais. Um deles é um novo Centro de Educação Infantil, construído com recursos da Pró-Infância de acordo com Programa Ações Articuladas, PAR. A verba já foi aprovada e a contrapartida do município será o terreno.

O outro prédio que está em fase de construção adiantada é o Centro de Convivência do Idoso, com 90% da construção já executada. O Centro está sendo construído na rua Frei Canísio, no bairro Coloninha, e está orçado em mais de R$ 1,2 milhão, com recursos próprios da Prefeitura. O local terá estacionamento e uma área de aproximadamente 900 metros

quadrados de área construída em dois pavimentos. Conforme o projeto, a área terá um salão para a realização de eventos e uma sala de jogos no piso inferior. Já na parte superior terá sala de oficinas, consultório médico, auditório, biblioteca e a parte administrativa. O prédio possui ainda elevador e banheiros adaptados para deficientes.

Figueira

Coloninha

+ info

O nome do bairro se deve à existência de uma

Em 1835 com a fundação da Colônia Itajaí-Grande

• População: Conforme o último

grande árvore do tipo figueira, que ficava

e do Arraial do Belchior (atual Clube Bela Vista),

à beira do caminho para Blumenau. Ali, era

cada colono recebe um lote pequeno para moradia

costume parar para dar de comer e beber aos

e formação do povoado. Descendo o rio, recebeu

cavalos e aos viajantes. Em 1930 o prefeito

também a área bem maior para trabalhar com ag-

Leopoldo Schramm construiu a Escola Munici-

ricultura, pecuária e engenhos. Então morariam na

pal de Figueira, ao lado da majestosa árvore.

sede do arraial e trabalhariam na sua “colônia”. Daí

A localidade de Águas Negras é assim denomi-

que o bairro Coloninha é assim chamado porque

nada porque suas terras são banhadas pelo

era onde ficavam os lotes coloniais, chamados de

ribeirão Águas Negras.

“Colonie” pelos colonos alemães.

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levantamento feito em 2013, a população dos dois bairros juntos é de 8.033 moradores. Isso sigifica que 11,55% dos moradores de Gaspar residem na região. • IPTU: 15,75% do imposto arrecadado em 2014 é proveniente destes dois bairros. • Em relação ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, ISSQN, tributo municipal recolhido por empresas, os bairros são responsáveis por 6,8% da arrecadação.

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CIRCULO

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