Contraponto 132 - edição JUNHO/JULHO

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Jogos de alto nível evidenciam despreparo e falta da profissionalização de árbitros no Brasil

© Divulgação/ESPN

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Quarteto de arbitragem da polêmica final do Paulista 2018, Palmeiras × Corinthians

a primeira profissão de muitos. Inglaterra e Espanha hoje são referências no meio, e têm métodos a serem espelhados. Para um juiz entrar no ramo e se tornar profissional, ele tem de cumprir alguns requisitos, como ter no mínimo 18 anos e no máximo 38 anos, ensino médio completo e capacidade para realizar atividades físicas intensas. Além disso, terá de buscar um curso, com faculdades e instituições responsáveis por oferecer planos. Árbitros das divisões de elite, que são associados à CBF e/ou FIFA, possuem calendário para o ano inteiro, com aproximadamente dois jogos por semana, recebendo de R$2.000 a R$5.000 por partida. Porém, para séries mais baixas e campeonatos de base, os juízes possuem um começo de ano atarefado. No entanto, no decorrer do ano a carga diminui, o que implica na maioria dos profissionais de menor calibre a conciliar outro emprego para que tenham uma renda fixa. © Marcos Ribolli/GE

A precariedade da arbitragem afeta também os torcedores que, mesmo estando de fora, têm suas visões sobre a uito se fala sobre os inúmeros necessidade da profissionalização da proproblemas de desenvolvimento fissão. Fernando Muro, torcedor do Pale do desperdício de potencial do meiras, em entrevista ao Contraponto, futebol brasileiro: desde gramados ruins, afirma que há uma necessidade de mecalendário bagunçado, à desvalorização lhora em todos os ramos de quem apita de técnicos. Mas, uma das principais cau- os jogos. “Eu acho que a arbitragem brasisas da não evolução do esporte no país é a leira deve melhorar muito. Ela é fraca até arbitragem. mesmo com o VAR, que demora muito Não é de hoje que o baixo nível da cate- para tomar decisões.” goria é discutido, com decisões equivocaMuro ainda comenta que a profissiodas e uma série de polêmicas e escândalos, nalização dos árbitros é necessária, tanto como a “Máfia do Apito”, em 2005, no qual no vídeo como também nos critérios dos alguns árbitros manipularam resultados juízes em campo. “Têm jogos que um lande partidas a favor de apostas. ce é falta para amarelo, mas – em outro O juiz Edilson Pereira de Carvalho, ár- jogo – em um lance parecido o árbitro deibitro FIFA (Federação Internacional de Fu- xa o jogo rolar.” tebol) na época, interveio diretamente em O torcedor complementa: “O VAR 11 jogos, que posteriormente foram re- chegou para mudar o futebol. Acho que é marcados, como o tão famoso confronto necessária uma preparação especial para ente Corinthians e Internacional, em que essa ferramenta porque o jogo corre e, os clubes disputavam a liderança do Cam- quanto menos intervenções, melhor. Por peonato Brasileiro daquele ano. A partida isso, é importante saber usar.” terminou empatada em 1 a 1, com um Muro afirma que a qualidade da arbipolêmico pênalti não marcado no jogador tragem está diretamente ligada à qualidaTinga, que culminou na expulsão do meio- de do jogo. “A partir do momento em que a -campista por simulação. autoridade máxima daquele jogo, que é o juiz, se dedica apenas àquilo na sua vida, ele tende a ser um melhor profissional, cometendo menos erros e deixando o jogo mais bonito, focando nos atletas e no espetáculo.” Apesar de todos esses problemas, e de cada vez mais a arbitragem brasileira estar atrás de ligas renomadas como a Premier League, Suposto pênalti em Tinga, em um dos principais na Inglaterra, ou a La Liga, jogos envolvendo a Máfia do Apito na Espanha, por que não há uma profissionalização? A resposta é simples: está na lei que O esquema, denunciado pelo jornalista André Rizek e publicado na revista a categoria não pode ser profissionalizaVeja, ocasionou na denúncia de Pereira da. De acordo com a Lei Pelé, que rege de Carvalho à justiça, além de mais um as diretrizes do futebol brasileiro e amárbitro, Paulo José Danelon, pelo crime parado pela Lei Geral do Esporte, a arde formação de quadrilha e falsidade ide- bitragem não pode ser profissional. Ela ológica. Porém, o Tribunal de Justiça de deve ser autônoma, permitindo a cada São Paulo avaliou que não houve alguma árbitro ter diversas profissões e tornando o apito uma forma de complementar ação criminal. Com a chegada do Árbitro de Vídeo uma renda. Isso, de certa forma, impede a Con(VAR) ficou ainda mais evidente o despreparo da categoria para apitar jogos de alto federação Brasileira de Futebol (CBF) de nível e muitos desses problemas decor- se dedicar a melhorar os profissionais da rem da pouca ou nenhuma profissionaliza- área: faltam cursos, treinamentos e planos de carreira – justamente por não ser ção da arbitragem no Brasil. Por Davi Garcia, Gustavo Romero e Lucas Malagone

© Djalma Santos/Gazeta Esportiva

Acontecimentos como a “Máfia do Apito”, em 2005, escancaram o problema no país

Manifestação contra o racismo da torcida do Fortaleza, no jogo contra o River Plate

CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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