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Jogos de alto nível evidenciam despreparo e falta da profissionalização de árbitros no Brasil

Jogos de alto nível evidenciam despreparo e falta da profi ssionalização de árbitros no Brasil

Acontecimentos como a “Máfi a do Apito”, em 2005, escancaram o problema no país

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Por Davi Garcia, Gustavo Romero e Lucas Malagone

Muito se fala sobre os inúmeros problemas de desenvolvimento e do desperdício de potencial do futebol brasileiro: desde gramados ruins, calendário bagunçado, à desvalorização de técnicos. Mas, uma das principais causas da não evolução do esporte no país é a arbitragem.

Não é de hoje que o baixo nível da categoria é discutido, com decisões equivocadas e uma série de polêmicas e escândalos, como a “Máfi a do Apito”, em 2005, no qual alguns árbitros manipularam resultados de partidas a favor de apostas.

O juiz Edilson Pereira de Carvalho, árbitro FIFA (Federação Internacional de Futebol) na época, interveio diretamente em 11 jogos, que posteriormente foram remarcados, como o tão famoso confronto ente Corinthians e Internacional, em que os clubes disputavam a liderança do Campeonato Brasileiro daquele ano. A partida terminou empatada em 1 a 1, com um polêmico pênalti não marcado no jogador Tinga, que culminou na expulsão do meio-campista por simulação.

A precariedade da arbitragem afeta também os torcedores que, mesmo estando de fora, têm suas visões sobre a necessidade da profi ssionalização da profi ssão. Fernando Muro, torcedor do Palmeiras, em entrevista ao Contraponto, afi rma que há uma necessidade de melhora em todos os ramos de quem apita os jogos. “Eu acho que a arbitragem brasileira deve melhorar muito. Ela é fraca até mesmo com o VAR, que demora muito para tomar decisões.”

Muro ainda comenta que a profi ssionalização dos árbitros é necessária, tanto no vídeo como também nos critérios dos juízes em campo. “Têm jogos que um lance é falta para amarelo, mas – em outro jogo – em um lance parecido o árbitro deixa o jogo rolar.”

O torcedor complementa: “O VAR chegou para mudar o futebol. Acho que é necessária uma preparação especial para essa ferramenta porque o jogo corre e, quanto menos intervenções, melhor. Por isso, é importante saber usar.”

Muro afi rma que a qualidade da arbitragem está diretamente ligada à qualidade do jogo. “A partir do momento em que a autoridade máxima daquele jogo, que é o juiz, se dedica apenas àquilo na sua vida, ele tende a ser um melhor profi ssional, cometendo menos erros e deixando o jogo mais bonito, focando nos atletas e no espetáculo.” Apesar de todos esses problemas, e de cada vez mais a arbitragem brasileira estar atrás de ligas renomadas como a Premier League, na Inglaterra, ou a La Liga, na Espanha, por que não há uma profi ssionalização?

A resposta é simples: está na lei que a categoria não pode ser profissionalizada. De acordo com a Lei Pelé, que rege as diretrizes do futebol brasileiro e amparado pela Lei Geral do Esporte, a arbitragem não pode ser profissional. Ela deve ser autônoma, permitindo a cada árbitro ter diversas profissões e tornando o apito uma forma de complementar uma renda.

Isso, de certa forma, impede a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de se dedicar a melhorar os profi ssionais da área: faltam cursos, treinamentos e planos de carreira – justamente por não ser a primeira profi ssão de muitos. Inglaterra e Espanha hoje são referências no meio, e têm métodos a serem espelhados.

Para um juiz entrar no ramo e se tornar profi ssional, ele tem de cumprir alguns requisitos, como ter no mínimo 18 anos e no máximo 38 anos, ensino médio completo e capacidade para realizar atividades fí sicas intensas. Além disso, terá de buscar um curso, com faculdades e instituições responsáveis por oferecer planos.

Árbitros das divisões de elite, que são associados à CBF e/ou FIFA, possuem calendário para o ano inteiro, com aproximadamente dois jogos por semana, recebendo de R$2.000 a R$5.000 por partida. Porém, para séries mais baixas e campeonatos de base, os juízes possuem um começo de ano atarefado. No entanto, no decorrer do ano a carga diminui, o que implica na maioria dos profi ssionais de menor calibre a conciliar outro emprego para que tenham uma renda fi xa.

Suposto pênalti em Tinga, em um dos principais jogos envolvendo a Máfi a do Apito

O esquema, denunciado pelo jornalista André Rizek e publicado na revista Veja, ocasionou na denúncia de Pereira de Carvalho à justiça, além de mais um árbitro, Paulo José Danelon, pelo crime de formação de quadrilha e falsidade ideológica. Porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo avaliou que não houve alguma ação criminal.

Com a chegada do Árbitro de Vídeo (VAR) fi cou ainda mais evidente o despreparo da categoria para apitar jogos de alto nível e muitos desses problemas decorrem da pouca ou nenhuma profi ssionalização da arbitragem no Brasil.

© Djalma Santos/Gazeta Esportiva

Quarteto de arbitragem da polêmica fi nal do Paulista 2018, Palmeiras × Corinthians

© Marcos Ribolli/GE

Manifestação contra o racismo da torcida do Fortaleza, no jogo contra o River Plate

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