A luta incansável dos corpos nativos
Por Gabriela Costa, Julio Cesar Ferreira e Maria Luiza Marinho
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A luta indígena brasileira No Brasil ocorre o mesmo. Embora, segundo dados do censo de 2010, haja mais de 305 etnias e 274 línguas indígenas remanescentes, sua preservação cultural e desenvolvimento social estão precarizados por questões como: a falta de territórios, de preservação ambiental e a perseguição sociocultural das práticas indígenas. Essa diversidade de etnias também está inserida em diferentes contextos, visto que cada aldeia se encontra em um território diferente, com uma disponibilidade de recursos variados. A professora Avelin Kambiwá exemplificou essa pluralidade: “O Nordeste teve
© Felipe Márin
s mazelas que permearam os povos originários na América Latina têm em sua história semelhanças. O Brasil colonizado em 1.500 por Portugal e seu representante: Pedro Álvares Cabral e aliados, traziam da Europa seus princípios etnocêntricos que visavam a exploração da terra nativa, e como consequência ao longo da jornada, propuseram a mudança de comportamentos de culturas indígenas. As maneiras utilizadas foram diversas: catequização, destruição de culturas, guerras, genocídios, escravidão e torturas. Todas tornaram-se inerentes para que o objetivo de Portugal fosse atingido: o acúmulo de riquezas e territórios. Os indígenas não podiam utilizar sua língua materna; caso contrário, teriam suas línguas cortadas. Mesmo depois de anos, os povos nativos ainda têm suas vozes silenciadas de forma brutal, como afirma a socióloga, especialista em gênero, raça e estudos religiosos e também indígena, Avelin Kambiwá: “As aldeias tinham que negar a sua identidade para não serem mortas”. O genocídio e a escravidão foram utilizados como ferramenta para a extração e plantio de elementos da natureza. Os povos indígenas brasileiros viram-se em uma situação que necessitaria de resistência, portanto não recuaram e lutaram com as armas que continham. Entretanto, não conseguiram uma vitória efetiva, pois estavam em uma circunstância vulnerável. No Chile, não foi diferente. Tudo começou com a chegada dos espanhóis ao território denominado Wallmapu, em 1540, com Pedro de Valdivia à frente da tomada violenta do território, que corresponde atualmente à cidade de Santiago – uma luta que durou quase 200 anos. Até que o povo Mapuche conseguiu derrotar o Império Espanhol, tornando-se o povo originário que conquistou a sua independência. O Tratado de Quilín reconheceu a independência Mapuche em um acordo que foi alcançado por meio de muita luta.
gente da terra; e é necessária essa conexão” comenta Javiera Peña, estudante de Terapia Ocupacional e nativa mapuche. Depois de um certo tempo, e após a independência do Chile e da Argentina, esses dois países começam a atacar os nativos novamente. A captura e morte ilegal do povo Mapuche, no Chile, é chamada de Pacificação da Araucania, nome dado pelos colonizadores ao território Mapuche. A Pacificação foi uma ação coordenada que visava tomar as terras que seriam entregues a empresas estrangeiras, principalmente as inglesas. “De pacífico não teve nada”, afirma Javiera. “Falam muito sobre os libertadores do Chile, mas, na verdade, foram libertadores de si mesmos para continuar com os genocídios”. Atualmente no Chile, os povos originários estão sendo empurrados para territórios denominados “reduções”, que são reservas territoriais inferiores a 5% do que um dia eles povoaram. São terras muito improdutivas, que trazem como resultados a pobreza e um sistema que não sustenta a cultura Mapuche e seu desenvolvimento.
A luta Mapuche Os Mapuche são um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. “Somos povos da terra. Na verdade, na nossa língua, é exatamente isso que significa ‘mapuche’:
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Bandeira do povo mapuche erguida em ato de protesto
© Acervo Pessoal
A conexão entre a história de resistência do povo Mapuche no Chile e dos indígenas brasileiros
Ane/ Waiã Pataxó e o Cacique da aldeia Pataxó (seu avô). Ahnã ehdù uï pataxi Tibá
um tipo de invasão diferente das invasões em outras regiões do Brasil. O interesse nesse território não era de escravizar os indígenas, mas sim de tomar as terras. Então essa usurpação se deu na forma de genocídio puro”. Segundo Avelin, esse processo ocorreu por vários séculos até que, em 1988, com a Constituição brasileira já em vigor, o artigo 231 da carta magna assegurava aos indígenas a liberdade de exercer seus costumes, crenças e tradições, bem como a possibilidade de falar seus próprios idiomas, e o direito originário às terras que ocupavam. “A proposta antes de 1988 era de que os povos indígenas fossem integrados à população. Mas, a partir desse ano, nós conquistamos o direito à diferença, o direito de sermos povos tradicionais em qualquer tempo e em qualquer lugar”, contou a especialista. Essa mesma lei garante o direito à terra, cabendo à União demarcar esses territórios e assegurar que eles não sejam invadidos.
Ensinamento e resistência Mapuche Em entrevista concedida ao Contraponto Awkan Akün, cozinheiro Mapuche Williche (os Williche são grupos que ocupam o território Sul do Chile e que tiveram, em sua história, inúmeros integrantes que lutaram bravamente contra os espanhóis na área da Patagônia) relata que as principais reivindicações hoje em dia são: o reconhecimento
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP