TEMPOS DE VIOLÊNCIA

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dia seguinte. Perante o delegado Juvenal de Toledo Piza, identificou-se como sendo Angelina Maggi, italiana, com vinte e trez anos de idade, casada, costureira, residente nesta cidade, não sabendo ler nem escrever. Disse que vivia em companhia de Américo Blois havia três anos, sendo bem tratada por ele, não tendo senão pequenos atritos proprios da vida em commum. O mobiliário da casa, disse ela, havia sido dado por ele. Angelina negou a versão do jornal e contou outra história: às 19h do dia 9 de outubro, Américo foi à sua casa, na rua Costa Ribeiro75, dizendo que iria abandoná-la, ameaça esta motivada por ciúmes. Ela insistiu para que ele desistisse de seu propósito, mas ele se mostrou resoluto. Ela, então, num acesso de fúria, passou a quebrar e atirar à rua móveis, vidros e demais objetos que o próprio Américo havia lhe dado. Ele procurou acalmá-la e recolheu os objetos atirados à rua. Nisto, uma vizinha, Nhá Chica, a pedido de Américo, apareceu e disse a ela que deixasse de estragar os móveis e não praticasse mais loucuras. Américo pediu à vizinha que fizesse companhia à Angelina e retirou-se. 75

Num dos quartos da casa, estava ainda Henriqueta Marcondes Cesar, em tratamento de uma doença. No dia seguinte, passou pela casa o advogado Eduardo Vergueiro de Lorena, parou e ficou conversando com Angelina do lado de fora, ao lado da cerca. Falaram sobre o incidente do dia anterior, e Lorena perguntou se Américo havia lhe ofendido e quebrado muitos móveis. Sugeriu que ela desse parte à polícia. À noite, visitaram a casa os advogados Lorena e Afonso Dionísio Gama e o médico Calixto de Medeiros. Os dois primeiros disseram a ela que, quando ocorresse episódio semelhante, os procurasse, que eles tomariam providências junto à polícia. E insistiram para que ela denunciasse Américo pelos fatos já ocorridos. Ambos entraram na sala de jantar e no quarto de dormir de Angelina para verem os estragos. Viram o corpo da moça à procura de sinais da briga. No mesmo dia 19 de outubro, os médicos José de Castro Goyanna e Calixto de Medeiros procederam ao auto de corpo de delito da jovem. Descreveram-na como sendo de côr branca, com vinte e tres annos de idade, residente a rua Cos-

Atual rua Presidente Kennedy.

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