IRRIGAZINE # 94

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A nova edição da Irrigazine chega repleta de conteúdos que refletem a força, a diversidade e a inteligência da agricultura irrigada brasileira. Dando continuidade à série especial sobre os Polos de Irrigação no Brasil, apresentamos dois exemplos emblemáticos: o Vale do Açu, no Rio Grande do Norte, e o Baixo Acaraú, no Ceará. Regiões que se destacam pela eficiência produtiva, pela inovação tecnológica e pela contribuição ao desenvolvimento do Semiárido nordestino.

Participamos da FiiB – Feira Internacional da Irrigação Brasil, que reuniu produtores, técnicos e empresas em torno das principais tendências em irrigação e fertirrigação. Também destacamos em nossas páginas a IrrigaShow, outro importante evento do setor, que reforça o dinamismo e a constante busca por inovação na agricultura irrigada brasileira. Outro destaque é o Encontro Técnico do GIFC – Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar, que focou nas variedades responsivas, produtividade sob irrigação e os desafios da colheita mecanizada em canaviais de altíssima produção.

Nos próximos dias, as atenções se voltam para Fortaleza (CE), que sediará o 34º CONIRD, o 9º INOVAGRI International Meeting e o V Simpósio Brasileiro de Salinidade na Agricultura (SBS-AgriS) — um encontro que promete reunir os maiores especialistas e pesquisadores do país.

Entre os artigos desta edição, Simone Silotti, consultora em inteligência tributária para o agro, traz uma valiosa contribuição sobre as mudanças tributárias que entram em vigor na virada do ano — leitura essencial para produtores e empresas do setor.

Em “Irrigação deficitária: uso estratégico da água na agricultura”, os autores apresentam o conceito de uma “dieta de água”, com a aplicação de volumes inferiores à necessidade hídrica da cultura — uma prática sustentável e cientificamente embasada.

E, completando o conteúdo técnico, publicamos a parte 3 da série “Irrigação por gotejamento subterrâneo”, do engenheiro José Giacoia Neto, aprofundando o tema com informações essenciais sobre projeto e manejo desse sistema.

Cada reportagem reafirma o propósito da Irrigazine: divulgar conhecimento, conectar pessoas e fortalecer o ecossistema da irrigação brasileira.

A irrigação é, mais do que nunca, o elo que integra o país — do Semiárido nordestino aos vales do Sul — garantindo segurança alimentar, inovação e sustentabilidade.

Boa leitura e até a próxima edição!

DIREÇÃO

Denizart Pirotello Vidigal denizart@irrigazine.com.br

JORNALISTA

Bruna Fernandes Bonin MTB 81204/SP

COLABORAÇÃO

José Giacoia Neto | Simone Silotti | Iêdo Peroba de Oliveira Teodoro | Maria Deyse Silva dos Santos | Maria Damiana Rodrigues Araújo | Fernando Campos Mendonça

EDITORAÇÃO E CAPA

André Feitosa

PRODUÇÃO/ PROJETO GRÁFICO

Interação - Comunicação e Design

FOTOS Divulgação

REVISÃO

Denizart Vidigal Barufe

CONTATO

Comercial e Editora AGROS Ltda. comercial@irrigazine.com.br

ASSINATURAS

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A Revista Irrigazine não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados o pelas opiniões emitidas pelos entrevistados, fontes e dos anúncios publicitários.

“Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” Josué 1:9

A Feira Internacional da Irrigação Brasil (FIIB) 2025 já passou, mas seu impacto no setor continua significativo. Realizada entre 19 e 21 de agosto de 2025, no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), a FIIB reafirmou seu papel como palco estratégico para a apresentação de tecnologias, debates especializados, networking e negócios no universo da irrigação nacional.

POLOS IRRIGADOS

A série especial Polos Irrigados segue desvendando os territórios onde a irrigação muda o mapa da agricultura brasileira. Nesta edição, a Irrigazine destaca dois polos nordestinos que mostram como o uso inteligente da água é capaz de gerar riqueza, sustentabilidade e protagonismo regional: o Vale do Açu, no Rio Grande do Norte, e o Baixo Acaraú, no Ceará.

Como na irrigação: não deixe que seus créditos tributários vazem pela mangueira Irrigação deficitária: uso estratégico da água na agricultura Irrigação por

Minas Gerais regulamenta nova política para impulsionar a agricultura irrigada

A agricultura irrigada em Minas Gerais deve ganhar novo fôlego com a regulamentação da Política Estadual de Agricultura Irrigada Sustentável, oficializada em outubro de 2025 por meio de decreto do Governo do Estado. A medida detalha as diretrizes do Plano Estadual de Agricultura Irrigada Sustentável (Peais) e promete simplificar o licenciamento de projetos, fortalecer a gestão da água e estimular a expansão da área irrigada no território mineiro.

Atualmente, apenas cerca de 15% da área produtiva do estado é irrigada, segundo o secretário de agricultura, pecuária e abastecimento, Thales Fernandes. A expectativa é que o novo marco regulatório ajude a reverter esse cenário, criando condições mais favoráveis para o avanço da irrigação em diferentes regiões.

O decreto define critérios para certificação de projetos de irrigação, a criação de uma base de dados estadual com informações sobre os empreendimentos e a implementação de ações regionais voltadas ao uso eficiente da água. Além disso, o texto prevê agilidade nas autorizações para pequenos projetos, medida que deve beneficiar produtores e impulsionar o agronegócio local.

“O produtor vai ter a possibilidade de reservar água no período das chuvas. As regiões mais beneficiadas serão justamente aquelas com maior escassez hídrica, menor índice pluviométrico e maior histórico de conflitos pelo uso da água”, explica Ariel Chaves, chefe do Núcleo de Gestão Ambiental da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais.

Segundo Ariel, o decreto também estabelece um roteiro claro para o licenciamento dos empreendimentos irrigantes, indicando os documentos e órgãos responsáveis por cada etapa do processo.

Os projetos reconhecidos como de utilidade pública poderão contar com apoio do Estado, inclusive na construção de poços artesianos e barramentos para armazenamento de água.

O novo decreto é resultado de projeto de lei apresentado pelo deputado Antônio Carlos Arantes (PL) e reforça o compromisso de Minas Gerais com uma irrigação mais sustentável, produtiva e regionalmente equilibrada, capaz de ampliar a competitividade do agronegócio mineiro nos próximos anos.

MIDR moderniza regras para reconhecimento dos Polos de Agricultura Irrigada

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) atualizou as regras para o reconhecimento oficial dos Polos de Agricultura Irrigada no Brasil. A Portaria nº 2.982/2025, publicada nesta semana, substitui a norma anterior (Portaria nº 2.154/2020) e marca um avanço importante na consolidação da irrigação como instrumento estratégico de desenvolvimento regional, segurança alimentar e geração de renda.

Desde o início da iniciativa, o MIDR já reconheceu 18 Polos de Agricultura Irrigada distribuídos por diferentes regiões do país. Esses territórios têm se destacado como referências em gestão hídrica, aumento de produtividade e diversificação agrícola, fortalecendo o papel da irrigação no crescimento do agronegócio brasileiro.

De acordo com Bruno Cravo, diretor do Departamento de Projetos Estratégicos da Secretaria Nacional de Segurança Hídrica (SNSH), a revisão da portaria acompanha a evolução do setor.

“A atualização representa um passo importante para o fortalecimento da agricultura irrigada no país. Modernizamos os critérios de reconhecimento dos Polos, tornando o processo mais claro, transparente e seguro. A irrigação é uma tecnologia estratégica para ampliar a produção, gerar empregos e impulsionar o desenvolvimento sustentável das regiões brasileiras”, destacou.

Entre as principais mudanças trazidas pela nova portaria está a criação do Comitê de Reconhecimento dos Polos, formado por representantes técnicos que irão analisar as solicitações de reconhecimento de forma colegiada. A medida garante maior transparência, padronização e consistência nas decisões.

O texto também atualiza conceitos e critérios técnicos para a formalização dos Polos, reforçando sua integração à Política Nacional de Irrigação (PNI) — que será regulamentada por decreto nos próximos meses. Essa conexão fortalece a visão de que a irrigação vai além da produção agrícola, assumindo um papel estruturante na gestão territorial e no planejamento setorial da água.

“Com a atualização da portaria, consolidamos um marco regulatório moderno, que valoriza os Polos e amplia o papel estratégico da irrigação no desenvolvimento regional”, reforçou Cravo.

A iniciativa Polos de Agricultura Irrigada integra as ações do MIDR voltadas à implementação da Política Nacional de Irrigação e à promoção de um modelo de crescimento produtivo mais sustentável e equilibrado. Ao reunir gestão hídrica, inovação e cooperação regional, os Polos se consolidam como laboratórios de desenvolvimento, fundamentais para o futuro da agricultura irrigada no Brasil.

Apenas 28% da área irrigada por pivô central no Brasil está conectada, revela levantamento da ConectarAGRO

Apesar do avanço da irrigação e da adoção de tecnologias no campo, a conectividade ainda é um gargalo para o desenvolvimento pleno da agricultura digital no Brasil. Um levantamento inédito realizado pela ConectarAGRO mostra que apenas 28,26% da área irrigada por pivôs centrais no país tem acesso à internet 4G ou 5G. Entre os equipamentos avaliados, somente 13,55% estão totalmente conectados, revelando um descompasso entre a modernização das lavouras e a infraestrutura digital disponível.

A irrigação por pivôs centrais é reconhecida como uma das tecnologias mais eficientes para o uso racional da água e para o aumento sustentável da produtividade. No entanto, a falta de conectividade limita o uso de soluções de agricultura de precisão, como monitoramento remoto, automação do manejo hídrico e integração de dados em tempo real — ferramentas cada vez mais indispensáveis para a eficiência e sustentabilidade do setor.

Expansão da irrigação e desafios regionais

De acordo com a Embrapa, o Brasil possui hoje 2,2 milhões de hectares irrigados por pivôs centrais, quase 300 mil hectares a mais do que em 2022, quando a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) contabilizaram 1,92 milhão de hectares.

O levantamento da ConectarAGRO também revela uma mudança importante no mapa da irrigação nacional: o Oeste da Bahia ultrapassou o Noroeste de Minas Gerais, tornando-se o maior polo de irrigação por pivôs centrais do país. No ranking estadual, Minas Gerais, Bahia e Goiás seguem na liderança em área irrigada. Já entre os municípios, São Desidério (BA) aparece em primeiro lugar, seguido por Paracatu e Unaí, ambos em Minas Gerais.

Atualmente, mais de 70% da irrigação por pivôs centrais está concentrada no Cerrado, bioma que sustenta boa parte da produção de grãos do país. O Pantanal, por outro

lado, ainda não apresenta registro do uso dessa tecnologia.

Conectividade avança lentamente em grandes polos

Mesmo entre os líderes em área irrigada, os índices de conectividade ainda são baixos. Minas Gerais, por exemplo, possui apenas 26,5% da área irrigada por pivôs conectada, com números especialmente reduzidos em Paracatu (1,5%) e Unaí (10,4%).

Em Goiás, dos 313,4 mil hectares irrigados, apenas 24% contam com cobertura digital. O município de Cristalina, um dos maiores polos irrigados do estado, apresenta 37% de conectividade.

Na Bahia, terceira colocada em área irrigada, com 294,3 mil hectares, o cenário é semelhante: apenas 17% das áreas estão conectadas. Mesmo o Oeste Baiano, considerado um dos polos mais tecnificados do país, registra cobertura média de 16%.

Nordeste lidera em digitalização

O contraste aparece quando se observa o desempenho de estados com menor área irrigada, mas com maior digitalização. São Paulo lidera entre os grandes produtores, com 53,4% de seus 247 mil hectares irrigados conectados. No Nordeste, Ceará (72%) e Paraíba (77%) se destacam como exemplos de que é possível integrar irrigação intensiva e conectividade. Polos como Jaguaribe (CE) e Petrolina/Juazeiro (BA/PE) demonstram que a digitalização no campo traz ganhos concretos em produtividade, sustentabilidade e gestão hídrica.

Conectividade: o novo insumo da produção agrícola

Para Paola Campiello, presidente da ConectarAGRO, os números comprovam que a conectividade rural deixou de ser um diferencial e passou a ser um insumo essencial para a agricultura moderna.

“A conectividade rural é a chave para viabilizar a agricultura de precisão, ampliar a eficiência no uso da água, garantir rastreabilidade e abrir novas oportunidades de desenvolvimento social e econômico. Conectar o campo é indispensável para que o Brasil consolide uma agricultura

cada vez mais inteligente, sustentável e competitiva”, afirma Campiello.

A executiva ressalta que, sem acesso à internet, o produtor perde a oportunidade de integrar equipamentos, otimizar o uso dos recursos naturais e acessar informações estratégicas para o manejo. “Conectividade é produtividade”, resume.

Tecnologia, gestão e sustentabilidade

O levantamento da ConectarAGRO deixa evidente que a expansão da conectividade é um dos grandes desafios para o futuro da irrigação no país. Com a área irrigada por pivôs centrais crescendo em ritmo acelerado, a infraestrutura digital precisa acompanhar esse avanço para garantir o uso pleno das tecnologias disponíveis.

Mais do que levar sinal de internet ao campo, trata-se de viabilizar um novo modelo de produção, baseado em dados, automação e sustentabilidade. E, nesse contexto, conectar as áreas irrigadas é o próximo passo para consolidar o Brasil como potência global em agricultura irrigada inteligente.

IrrigaShow 2025: encontro de inovação, técnica e desafios para a conectividade no campo

Entre os dias 10 e 12 de setembro, o distrito de Campos de Holambra (Paranapanema, SP) se transformou em um palco de debates, demonstrações tecnológicas e articulações estratégicas para a agricultura irrigada. Na sua 13ª edição, o IrrigaShow concentrou empresas, pesquisadores, produtores e governos para discutir os rumos do setor — especialmente num cenário em que conectividade no campo se mostra tão decisiva quanto a capacidade de distribuição de água.

O evento ofereceu uma extensa programação com palestras técnicas, painéis multidisciplinares e exposição com mais de 50 marcas, promovendo a integração entre inovação e aplicação prática no campo. Participantes tiveram a oportunidade de acompanhar debates sobre agrometeorologia aplicada, financiamento de tecnologias, novas plataformas digitais para irrigantes, além de casos de sucesso regionais e projetos locais.

Entre as participações institucionais de destaque, o governo paulista — por meio da SP Águas — apresentou sua intervenção no setor irrigado e reforçou cooperação com irrigantes, enquanto a Desenvolve SP levou ofertas de crédito ao público técnico.

Mas o IrrigaShow 2025 não se limitou ao discurso técnico: reforçou responsabilidade social com campanha solidária que arrecadou 1.460 kg de doações. Essa ação, integrada ao evento, reforça a noção de que o agronegócio irrigado está cada vez mais conectado com demandas locais e sociais.

Apesar do caráter robusto e do envolvimento de diferentes atores, ficou claro que o desafio da irrigação moderna vai além da mecânica: exige infraestrutura digital integrada. Isso ecoa no panorama nacional. Integrar tecnologia e conectividade será o diferencial dos próximos anos.

Conectividade no campo tema bastante debatido no evento | Foto: Divulgação

CONIRD 2025: Avanços e Desafios na Agricultura Irrigada

De 3 a 5 de novembro de 2025, Fortaleza (CE) será o ponto de encontro dos principais nomes da irrigação no país. A cidade sediará o 34º Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem (CONIRD), que acontecerá em conjunto com o 9º INOVAGRI International Meeting e o V Simpósio Brasileiro de Salinidade e Agricultura Sustentável no Semiárido Tropical (V SBS-AgriS). O evento, que será realizado no Centro de Eventos do Ceará, reunirá especialistas, pesquisadores, técnicos, produtores e estudantes para debater os avanços e desafios da agricultura irrigada no Brasil e no mundo.

Com o tema central voltado a Agricultura Irrigada: Gestão Hídrica, Tecnologia e Resiliência Ambiental, o CONIRD 2025 tem como objetivo promover o intercâmbio de conhecimentos e apresentar soluções inovadoras e sustentáveis para o setor. A programação abordará temas fundamentais, como novas tecnologias de irrigação, salinidade do solo e da água, práticas agrícolas sustentáveis e o papel da inovação no campo.

Entre os assuntos em destaque estão: Nexus Água-Energia-

Alimentos, inovação e difusão tecnológica na irrigação, agricultura 4.0, inteligência artificial aplicada à irrigação, boas práticas agrícolas e eficiência no uso da água, transferência de tecnologia ao agricultor, modelos de assessoria ao irrigante, além de debates sobre mudanças climáticas e manejo dos recursos naturais.

A programação contará com mesas-redondas, palestras com especialistas nacionais e internacionais, reuniões institucionais e apresentações científicas em formato de pôster e apresentações orais. O evento também será um espaço de networking e troca de experiências entre diferentes segmentos do setor, conectando o conhecimento acadêmico com as demandas do campo.

Voltado a profissionais e estudantes das áreas de engenharia agrícola, agronomia, recursos hídricos, meio ambiente e demais setores ligados à irrigação e drenagem, o CONIRD 2025 promete ser um marco na discussão sobre o futuro da agricultura irrigada no Brasil, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e a inovação no uso da água.

Tema central deste ano é agricultura irrigada: gestão hídrica, tecnologia e resiliência ambiental | Foto: Divulgação

FIIB - Feira Internacional da Irrigação Brasil 2025 movimenta o setor e destaca inovações tecnológicas

A Feira Internacional da Irrigação Brasil (FIIB) 2025 já passou, mas seu impacto no setor continua significativo. Realizada entre 19 e 21 de agosto de 2025, no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), a FIIB reafirmou seu papel como palco estratégico para a apresentação de tecnologias, debates especializados, networking e negócios no universo da irrigação nacional.

A edição 2025 registrou crescimento expressivo em relação ao evento anterior, com aumento de aproximadamente 25% na área construída e 15% no número de expositores, reunindo mais de 100 marcas. Essa expansão refletiu o interesse crescente do mercado por soluções inovadoras e eficientes em irrigação, desde o campo até áreas urbanas e paisagismo.

Programação técnica e instituições de referência

A FIIB não se resumiu a estandes comerciais: a programação técnica foi robusta, com palestras, painéis e minicursos abordando temas como automação, irrigação de precisão,

manejo de água, políticas públicas, mudanças climáticas e estratégias sustentáveis.

Instituições de ensino e pesquisa de renome estiveram presentes, reforçando a conexão entre mercado e academia. Entre elas, IAC (Instituto Agronômico de Campinas), UNESP, ESALQ-USP, UFV, UESB, Kansas State University e University of Nebraska contribuíram com palestrantes e especialistas que compartilharam experiências e pesquisas voltadas à eficiência hídrica e à inovação tecnológica.

Exposição comercial e soluções apresentadas

Um dos grandes atrativos da FIIB 2025 foi a ampla exposição comercial, que permitiu aos visitantes ver tecnologias funcionando “ao vivo”. As empresas apresentaram soluções em diversos níveis do ecossistema de irrigação, incluindo:

• Equipamentos: bombas, aspersores, válvulas, tubulações e sensores;

• Sistemas automatizados e de controle: integração de IoT,

softwares de gestão e monitoramento em tempo real;

• Integração tecnológica e digitalização de processos de irrigação;

• Soluções para paisagismo e irrigação urbana, incluindo parques, jardins e áreas verdes;

• Serviços de consultoria, projetos e implantação, garantindo suporte técnico especializado.

Segundo Denizart Vidigal, presidente da FIIB, “a irrigação é a principal ferramenta que o agricultor dispõe para enfrentar as mudanças climáticas”, destacando a relevância das tecnologias apresentadas e o papel do setor na adaptação às variabilidades climáticas.

Tendências emergentes no setor

Durante a feira, algumas tendências se destacaram como centrais para o setor de irrigação no Brasil:

• Eficiência hídrica e sustentabilidade: tecnologias que reduzem desperdícios e aumentam a produtividade com

menor consumo de água;

• Automação, digitalização e irrigação de precisão: integração de sensores, algoritmos, controle remoto e coleta de dados em tempo real;

• Soluções para agricultura, paisagismo e áreas urbanas: expansão das práticas de irrigação para além do campo tradicional, incluindo cidades e áreas verdes;

• Integração com práticas ambientais e mudanças climáticas: debates sobre como adaptar sistemas de irrigação a condições climáticas variáveis e pressões hídricas crescentes;

• Adoção institucional e políticas públicas: reforço do papel de órgãos e entidades do setor na disseminação de tecnologias e apoio ao desenvolvimento de políticas voltadas à irrigação.

A FIIB 2025 consolidou-se como vitrine tecnológica e ponte entre o mercado e a academia, demonstrando como o setor de irrigação no Brasil pode se conectar às tendências globais e se preparar para os desafios futuros. A feira evidenciou que a inovação, a integração tecnológica e a sustentabilidade são caminhos essenciais para fortalecer a produtividade, a resiliência agrícola e a gestão eficiente da água no país.

GIFC reúne mais de 340 especialistas para debater irrigação em cana-de-açúcar

Mais de 340 profissionais do setor sucroenergético, representando 72 usinas e empresas, se reuniram em São José do Rio Preto, SP para o Encontro Técnico do Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar (GIFC). O evento, ocorrido em 25 de setembro de 2025, focou intensamente nas variedades responsivas, produtividade em irrigação e os desafios da colheita mecanizada.

Com a presença de pesquisadores dos principais institutos de melhoramento genético do país e de representantes de usinas de diversas regiões que trouxeram dados reais de campo e enriqueceram o debate sobre a importância da avaliação e seleção de clones mais adaptados às condições de sistemas irrigados.

O gestor agrícola do grupo Jalles, Patrick Campos, apresentou a evolução dos canaviais irrigados na empresa e como a irrigação ganhou relevância no ganho de produtividade e no planejamento da colheita antecipada nos campos irrigados.

Sandro de Souza, gerente agrícola da Usina Santa Adélia, apresentou o plano da empresa para irrigar 60% de seus canaviais até 2031, representando mais de 25 mil hectares irrigados.

A coordenadora de irrigação da Usina da Mata, Graziela Nunes, apresentou um comparativo de produtividades entre variedades plantadas no gotejamento e no sequeiro, obtendo um ganho nos cultivos irrigados de 50,3% para a variedade RB92579 e 40,7% para a CTC4.

As discussões revelaram o potencial da irrigação, com exemplos de produtividades superiores a 200 toneladas por hectare em áreas irrigadas. Contudo, estas altas produtividades geram desafios na colheita, como as perdas significativas na colheita mecanizada, a manutenção da qualidade da matéria-prima, o acamamento da cana e o embuchamento das máquinas, pontos cruciais para a eficiência operacional.

POLOS IRRIGADOS

Vale do Açu (RN) e Baixo Acaraú (CE)

A série especial Polos Irrigados segue desvendando os territórios onde a irrigação muda o mapa da agricultura brasileira. Nesta edição, a Irrigazine destaca dois polos nordestinos que mostram como o uso inteligente da água é capaz de gerar riqueza, sustentabilidade e protagonismo regional: o Vale do Açu, no Rio Grande do Norte, e o Baixo Acaraú, no Ceará.

Distantes geograficamente, mas unidos pela eficiência hídrica e pela inovação no campo, esses polos representam o avanço da agricultura irrigada no Semiárido — regiões que aprenderam a transformar escassez em produtividade e a fazer da tecnologia um caminho para o desenvolvimento local.

A irrigação permite a produção diversificada de frutas como melão, mamão, banana e melancia | Foto: Divulgação

Vale do Açu (RN): o coração produtivo do sertão potiguar

O Distrito de Irrigação do Baixo Açu (DIBA) é um exemplo emblemático de como a irrigação bem planejada pode sustentar economias regionais inteiras. Localizado no semiárido potiguar, o polo reúne produtores de diferentes escalas que abastecem mercados nacionais e internacionais com frutas tropicais e culturas diversificadas.

Com cerca de 2.700 hectares em operação e previsão de ampliação, o DIBA tem apostado na modernização da infraestrutura, no uso de energia solar e em sistemas de irrigação de alta eficiência. Entre os principais cultivos estão melão, banana, mamão, melancia e coco, além da produção de feno e hortaliças irrigadas. A irrigação por gotejamento e microaspersão, com fertirrigação automatizada, e o uso crescente de energia fotovoltaica garantem produtividade e sustentabilidade.

“O Vale do Açu mostra como a irrigação pode ser um vetor

de desenvolvimento econômico e social, fortalecendo a agricultura familiar e integrando pequenas e grandes propriedades”, destaca pesquisa da Embrapa.

Além de movimentar mais de R$ 70 milhões por ano, o polo fortalece a agricultura familiar irrigada, oferecendo assistência técnica, cooperativas e capacitação para pequenos produtores.

Os desafios no Vale do Açu estão concentrados na manutenção da infraestrutura, na redução dos custos de energia e operação, no aumento do acesso a crédito específico e na garantia de estabilidade hídrica durante períodos críticos. Por outro lado, surgem oportunidades significativas, como a expansão de áreas irrigadas com energia renovável, a abertura de novos mercados para frutas tropicais, a integração entre pequenos e grandes produtores e o avanço em certificações de origem e rastreabilidade, consolidando o polo como referência em produção eficiente e sustentável.

O Baixo Acaraú combina gestão hídrica e tecnologia para fortalecer a agricultura irrigada no litoral cearense | Foto: Divulgação

Baixo Acaraú (CE): tecnologia e sustentabilidade no litoral cearense

No norte do Ceará, o Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, gerido pelo DNOCS, se tornou referência nacional em fruticultura irrigada. São mais de 12 mil hectares de área irrigável, com 8,4 mil hectares já produtivos, reunindo empresas, cooperativas e produtores familiares em torno de cadeias produtivas consolidadas.

O polo alia tecnologia de irrigação, gestão da água e inovação no manejo, sendo responsável por parte significativa das exportações de frutas do estado. Entre os cultivos mais comuns estão mamão, maracujá, melancia, banana, coco e hortaliças, com alternância de grãos e fruticultura de ciclo curto.

A irrigação por gotejamento e aspersão automatizada, o monitoramento remoto com sensores de umidade e parcerias com universidades e centros de pesquisa garantem produtividade e inovação.

“O Baixo Acaraú mostra que a irrigação pública pode gerar desenvolvimento sustentável e oportunidades em toda a região”, afirma nota técnica do DNOCS.

Os desafios do polo cearense incluem a manutenção constante da infraestrutura hidráulica, a necessidade de qualificação dos pequenos produtores para gestão eficiente, a redução de custos energéticos e limitações orçamentárias em investimentos públicos. Ainda assim, há grande potencial para ampliar exportações e certificações de qualidade, adotar sistemas de automação e controle digital, integrar energia solar aos sistemas de irrigação e fortalecer cooperativas e a agricultura familiar, consolidando um modelo de irrigação pública que gera desenvolvimento sustentável.

Irrigação como vetor de futuro

Tanto no Vale do Açu quanto no Baixo Acaraú, a irrigação se consolida como instrumento de transformação territorial. A eficiência no uso da água, a integração tecnológica e o fortalecimento das cadeias produtivas mostram que o futuro da agricultura nordestina passa pelo uso inteligente dos recursos hídricos.

A Irrigazine segue acompanhando de perto os polos que movem a irrigação no Brasil — onde cada gota conta e cada avanço tecnológico representa mais produtividade, sustentabilidade e prosperidade no campo.

O Baixo Acaraú combina gestão hídrica e tecnologia para fortalecer a agricultura irrigada no litoral cearense Foto: Divulgação

Como na irrigação: não deixe que seus créditos tributários vazem pela mangueira

No campo, aprendemos cedo que irrigar não é apenas molhar: é dosar, canalizar e garantir que cada gota cumpra seu papel. Um sistema com vazamentos pode comprometer a colheita inteira. O mesmo vale para a gestão tributária. Com a Reforma em andamento, não basta produzir — é preciso evitar que créditos e oportunidades escapem como água de uma mangueira furada.

Como Embaixadora da FIIB – maior feira de Irrigação do Brasil, vi de perto o empenho de grandes empresas em planejar com cuidado cada detalhe do sistema de irrigação: do diagnóstico até a definição do projeto e a escolha cuidadosa de cada acessório. Essa mesma lógica agora se impõe ao planejamento tributário. Vou dar uma visão geral, mas é fundamental aprofundar o tema para garantir competitividade.

O que vem pela frente

A Emenda Constitucional n.º 132/2023 inaugura um novo desenho:

• Consumo: ICMS, ISS, PIS e Cofins se unem em dois tributos — IBS e CBS, formando o IVA Dual.

• Patrimônio: novas regras para heranças e doações (PLP 108/2024).

• Renda: mudanças no IRPJ e propostas de tributação de dividendos.

Na prática, isso altera a forma como o produtor rural e as empresas vão irrigar o próprio fluxo de caixa: parte do imposto será retida já no pagamento (split payment).

A empresa não receberá o valor integral da Nota Fiscal, o que pode secar o caixa no meio da safra se não houver planejamento. Será indispensável projetar o impacto no capital de giro e alinhar prazos de pagamento e recebimento.

Pessoa Física ou Pessoa Jurídica: o registro que retém ou libera água

Mais de 90% dos produtores ainda operam como pessoa física. Isso é como irrigar com balde em plena estiagem... funciona, mas limita o alcance.

Com o novo IVA, o CNPJ permite recuperar créditos tributários — uma vantagem que o CPF não oferece. Para quem já está conectado a cooperativas, redes de abastecimento ou agroindústrias, migrar para CNPJ pode ser estratégico: além de recuperar créditos, amplia acesso a mercados e financiamento. Compare:

Alíquotas e isenções: nem toda a chuva é de graça.

A Reforma prevê alíquotas zero ou reduzidas para insumos, produtos agropecuários e itens da cesta básica. Mas atenção: fretes, consultorias, serviços técnicos e locação de equipamentos podem não estar isentos.

Quatro etapas para não perder água pelo caminho

De acordo com especialistas, até 2026 as empresas precisam seguir um passo a passo estratégico:

Silotti

1) Diagnóstico tributário: entender a carga atual e quais operações terão mais impacto;

2) Gestão de créditos: mapear insumos e serviços aptos a gerar créditos no novo sistema.

3) Revisão de processos e contratos: ajustar cláusulas comerciais, logísticas e de prestação de serviços para evitar perdas.

4) Capacitação e tecnologia: investir em sistemas de gestão e preparar equipes, garantindo rastreabilidade e conformidade.

Calendário da Reforma: Antecipe-se

A transição será gradual: entre 2026 e 2033, os tributos antigos e novos coexistirão. Quem se preparar antes terá menos riscos e mais competitividade.

Como se preparar para 2026

1) Monitore as leis complementares: elas definirão o regime especial do agro.

2) Converse com seu contador: avalie a adequação dos sistemas de notas e contabilidade aos novos tributos e simule cenários.

3) Converse com emissor de NF: obrigatoriedade do preenchimento dos campos IBS, CBS e IS nas notas fiscais a partir de janeiro de 2026.

4) Organize documentos: rastreabilidade será indispensável para gerar créditos.

5) Renegocie contratos: entenda onde há perda de eficiência e como ficará o repasse dos novos tributos.

6) Treine sua equipe: prepare funcionários e parceiros para entender as mudanças na prática.

7) Busque sustentabilidade: eficiência energética e hídrica podem render incentivos.

Conclusão: irrigar é também reter

Assim como a irrigação leva água e nutrientes até a raiz, a Reforma Tributária exige retenção de créditos e gestão precisa. Quem encarar esse novo sistema como parte do manejo — tão essencial quanto a irrigação, a nutrição e o plantio — colherá não apenas mais, mas melhor.

Sim, não será simples. Mas estou aqui para apoiar. Como Embaixadora da FIIB, me coloco à disposição para caminharmos juntos no planejamento tributário.

Quem começar agora estará irrigando não só a safra de hoje, mas também a competitividade do agro brasileiro no futuro.

* Simone Silotti atua como consultora em inteligência tributária para o agro. É palestrante, sócia da Vale Louros e do Grupo Studio e responsável pelo projeto ESG #FaçaumBemINCRÍVEL. Formada em Gestão do Agronegócio, com MBA em Gestão de Projetos pela USP ESALQ, recebeu o Prêmio Internacional Líder da Ruralidade do IICA, o Prêmio Josué de Castro, o Prêmio Mulher do Agro 2024, entre outros reconhecimentos. É também uma das 100 Mulheres da Forbes Agro e integrante do Grupo Forbes Mulheres Agro. Coautora do Livro ENSEMBLE. Contato: (11) 9 9758-1923 | www.valelouros.com.br

Irrigação deficitária: uso estratégico da água na agricultura

Iêdo Peroba de Oliveira Teodoro1,2, Maria Deyse Silva dos Santos1, Maria Damiana Rodrigues Araújo1, Fernando Campos Mendonça1 1 Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) | 2 iedopot06@usp.br

1. O desafio da água no Brasil

Você já parou para pensar em como a água é distribuída no Brasil? Embora nosso país detenha 12% de toda a água doce do mundo, a verdade é que ela é mal distribuída. Cerca de 80% de toda essa água está na Região Norte, enquanto partes do Nordeste e Sudeste enfrentam escassez hídrica. Como a agricultura é a atividade que mais consome água no país, saber usá-la de forma inteligente é uma necessidade para continuar produzindo.

A irrigação representa cerca de 50% do consumo de água no País, e com o avanço das mudanças climáticas, aumenta a pressão sobre os recursos hídricos. Por isso, é essencial adotar práticas que conciliem produtividade e sustentabilidade, tal como a irrigação deficitária, uma técnica inteligente para otimizar o uso da água e garantir a produção, especialmente onde há limitação de recursos hídricos.

2. Irrigação deficitária: uma “dieta de água” para a planta

De forma simples, a irrigação deficitária consiste na aplicação de um volume de água inferior à necessidade hídrica da cultura, durante todo o ciclo ou em momentos estratégicos dele. Pense nela como uma “dieta hídrica”.

O objetivo é fazer com que a planta se desenvolva bem, sem perdas expressivas de produtividade, maximizar a eficiência do uso da água (produtividade por volume de água aplicado) ou viabilizar a agricultura em regiões de baixa disponibilidade hídrica, como por exemplo, o perímetro irrigado em Petrolina - PE.

Os benefícios são claros:

• Em locais com pouca água, a estratégia permite alocar a água para os estádios fenológicos mais críticos da cultura, garantindo a produção;

• Em locais com muita água: a economia de água e energia é o grande atrativo, pois possibilita aumentar a área irrigada ou usá-la para outros fins.

O PARADOXO: “menos água, mais área irrigada”

Pode parecer estranho, mas reduzir a aplicação de água por hectare pode permitir que você irrigue uma área total maior. A Tabela 1 mostra um exemplo prático para uma fazenda de 100 hectares irrigados e área total em expansão.

Tabela 1. Ganho de área irrigada com a aplicação da irrigação deficitária em uma propriedade que irriga inicialmente 100 hectares

É importante destacar que o ganho de produção da fazenda pode ser ainda maior, pois a contribuição do regime pluviométrico regional pode suprir parte da demanda hídrica da cultura, reduzindo os custos com a irrigação e promovendo a racionalização no uso da água.

3. Como fazer? As duas principais estratégias Existem duas formas principais de aplicar a irrigação deficitária, e a escolha depende da sua cultura, do solo e do sistema de irrigação.

Irrigação Deficitária Controlada (IDC): “Fechando um pouco a torneira”

A IDC baseia-se em um princípio direto e simples: aplicar uma quantidade de água inferior à necessidade hídrica total da planta (Figura 1A), o que permite gerenciar o “quanto” você vai irrigar.

Irrigação Deficitária Parcial (IDP): “Irrigando um lado da planta”

Aqui o foco não é a quantidade total, mas “onde” a água será aplicada. A técnica consiste em suspender a irrigação de um lado da planta, focando a aplicação exclusivamente no lado oposto (Figura 1 B).

O “Pulo do Gato”: A versão mais avançada é a IDP alternada, onde se troca periodicamente o lado irrigado. Isso “engana” a planta, estimulando-a a criar raízes mais fortes e profundas em ambos os lados. O resultado? Uma planta mais resistente à seca e até com menor risco de tombamento.

Figura 1. Técnicas de imposição na irrigação deficitária: controlada (A) e parcial (B). Fonte: Autores

4. Atenção: a técnica exige cuidado e planejamento!

A decisão entre idc e idp, bem como a escolha da modalidade específica, depende de um planejamento criterioso que envolve a cultura, o tipo de solo, o sistema de irrigação instalado e as condições climáticas. É preciso conhecer a sua área e a cultura para adequar “quanto” e “onde” irrigar. Portanto, dominar essas técnicas é um passo fundamental para garantir a resiliência, a sustentabilidade e a lucratividade da agricultura irrigada no Brasil. Embora a implementação da irrigação deficitária seja uma estratégia

relevante para a otimização do uso da água, ela apresenta riscos e demanda cuidados, tais como:

1 Evitar trabalhar no limite: a técnica funciona com uma margem de segurança hídrica muito pequena. Ao operar com uma lâmina de água intencionalmente inferior à demanda da cultura, a lavoura torna-se suscetível a perdas produtivas em períodos de seca mais intensos ou prolongados, podendo sofrer perdas de produtividade, demandando atenção às mudanças no manejo estratégico na propriedade;

2 Atenção às mudanças climáticas: elas tornam as previsões do tempo menos confiáveis. É fundamental um plano baseado em conhecer a cultura, preparar o solo, capacitar a equipe e monitorar o clima com ferramentas simples;

3 Fazer a análise de custo-benefício: falhas no cálculo e no manejo da irrigação deficitária podem levar à quebra de produtividade cuja perda financeira supera os ganhos obtidos com a economia de água e energia, ou com a expansão da área irrigada, inviabilizando a sustentabilidade da operação agrícola. Portanto, é importante verificar se o ganho de produtividade na área adicional irrigada compensa a perda de produtividade na área anteriormente irrigada com 100% da necessidade hídrica.

Considerações finais: vale a pena?

Sim, vale muito a pena, desde que bem-feita. A irrigação deficitária é mais que uma forma de economizar água; é uma ferramenta estratégica para tornar a agricultura brasileira mais forte e resiliente. Para ter sucesso é preciso aliar conhecimento agronômico, planejamento e tecnologia (sensores e bons softwares de monitoramento climático).

Dominar essa técnica é um passo gigante para uma gestão inteligente da água, garantindo que o agronegócio do Brasil continue produtivo e competitivo no futuro.

Irrigação deficitária é uma mudança de mentalidade: produzir com consciência, respeitando o meio ambiente e garantindo o futuro da produção agrícola no Brasil.

Irrigação por gotejamento subterrâneo em paisagismo – Parte III

José Giacoia Neto - Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV). Agriculture International Business Manager Global, Rain Bird.

Instalação e Layout

A instalação dos tubos gotejadores apropriados para uso enterrado deve ser feita de maneira muito cuidadosa e precisa. O espaçamento entre linhas tem que ser exato para evitar desuniformidade de aplicação.

Como os espaços são pequenos, temos que instalar as linhas de gotejamento com espaçamentos bem definidos.

A instalação sempre tem que ser feita retirando uma borda

de 10 a 15 cm. Pessoalmente, o autor recomenda 15 cm. Feito isto dividimos a largura resultante pelo espaçamento entre linhas recomendado e depois efetuamos um ajuste arredondando o resultado e dividindo novamente.

Exemplo: Área com 6 metros de largura e solo argiloso: Retiramos o recuo da bordadura de 15 cm: 600 cm – 30 cm = 570 cm

Espaçamento tabelado e recomendado para solo argiloso (ver último artigo), varia de 45 a 60 cm. Para este exemplo

Fig. 1. Instalação com espaçamentos equidistantes entre linhas e fechando um circuito dentro de um gramado já existente

vamos adotar 50 cm de espaçamento.

Número de espaçamento seria:

Onde:

L = Largura da área

B = Bordadura

E = Espaçamento recomendado de acordo com o tipo de solo

Agora temos que arredondar. Aqui temos duas opções e não temos que necessariamente seguir a regra matemática. Se não, não temos certeza do tipo de solo podemos arredondar para cima ou se temos podemos seguir a matemática que é arredondar para cima somente quando a primeira casa decimal é igual ou maior de 5.

Neste exemplo vamos arredondar para cima, portanto 12. Agora voltamos e dividimos novamente a largura menos a bordadura por este número

E = 570/ 12 = 47,5 cm.

Ou seja, o espaçamento entre linhas será de 47,5 cm. O recomendado é fazer um gabarito para calibrar bem a distância entre linhas em cada instalação.

Em gotejamento subterrâneo, é recomendado sempre temos as instalações feitas em circuito fechado e com uma válvula de limpeza ao lado oposto da entrada de água. Esta válvula de limpeza sempre instalada em uma caixa de válvula para fácil acesso.

Além disso também a instalação de um filtro de segurança em cada setor e válvula de admissão de ar em pontos mais elevados quando o setor possui desnível. O interessante é que a válvula pode ser instalada no próprio tubo gotejador e exatamente nos pontos mais elevados da área.

A válvula de admissão de ar possui duas funções: Primeiro, quando o sistema desliga e temos um desnível a água vai drenar para o ponto mais baixo. Para drenar é necessário entrada de ar e como o tubo está enterrado ele pode “sugar” terra e entupir os gotejadores. Além disso quando o sistema começa a funcionar é necessário também sair o ar para entrar a água. Este dispositivo otimiza e protege a integridade do sistema

Fig.3. Exemplo de Layout de instalação de tubo gotejador subterrâneo em circuito fechado.

Recentemente foi lançado no mercado um tubo gotejador para uso enterrado com válvula anti-drenagem que suporta até 3 metros de coluna de água.

Este modelo é extremamente útil e perfeito para instalações em desnível e paredes verdes.

Fig. 2. Foto de válvula de admissão de ar e antivácuo

Layout de instalação.

Devido as mais variáveis formas de área a irrigar, o layout mesmo respeitando a distância entre linhas pode e deve ser feito em diferentes direções ou sentidos bem com serem curvos para atender com uniformidade a forma da área.

Temos canteiros de formas mistas onde temos áreas com parte retilínea e outras curvas.

Temos estacionamentos com formas geométricas variadas etc.

O projeto tem que ser feito e elaborado de forma a: 1. Otimizar o tempo de instalação.

2. Ter aplicação de lâmina de água homogênea em toda a área,

3. Permitir fácil operação e manutenção futuras.

Fig. 4. Tubo Gotejador anti-drenante para áreas com desnível
Fig. 5. Exemplo de layout de instalação em estacionamentos

O tempo de instalação também conta muito pois são muitas saídas e conexões a instalar quando usamos PVC. Para agilizar é importante utilizar ferramentas de instalação adequadas que agilizam oferecem mais conforto e segurança ao instalador. O uso adequado de ferramentas resulta em economia de tempo de até 80%.

Além disso a Rain Bird desenvolveu uma mangueira de derivação que já em vem com joelhos giratórios préinstalados em espaçamentos de 30 ou 45 cm em uma tubulação de PMDE de 25 ou 32 mm.

Este produto fornece grande velocidade e flexibilidade de instalação. Em áreas de contorno tortuoso temos uma grande vantagem frente a instalação de derivações por tubulação de PVC.

Até a próxima.

Fig. 7. Tubo de derivação com saídas pré-instaladas, equidistantes para instalação de rede de tubos gotejadores

Fig. 6. Adição de linhas com mudança de largura da área

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