IRRIGAZINE #93

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Inovação, tecnologia e diversidade na agricultura irrigada

Nesta edição da Irrigazine, mergulhamos em temas que revelam a amplitude e o dinamismo da agricultura irrigada no Brasil. Nosso artigo de capa destaca a irrigação e a necessidade hídrica da cultura do cacau, evidenciando como a moderna cacauicultura, com técnicas de irrigação por gotejamento e pivô central, vem impulsionando a produtividade e a sustentabilidade dessa importante cultura.

Também ressaltamos a FiiB – Feira Internacional da Irrigação Brasil 2025, que acontecerá em agosto em Campinas (SP) e será palco do lançamento desta edição da revista. O maior evento do setor reunirá autoridades, técnicos e profissionais em uma programação intensa, celebrando as inovações e os desafios da irrigação no país.

Dando continuidade à nossa série sobre os polos de irrigação no Brasil, apresentamos o capítulo “Entre várzeas e vales: irrigação do Semiárido ao Sul”, que destaca o cultivo de arroz no Médio Jacuí (RS) e a vibrante fruticultura de Petrolina e Juazeiro, às margens do rio São Francisco — uma verdadeira diversidade agrícola irrigada em diferentes regiões e realidades climáticas.

Outro destaque é o artigo “Eu, você e a IA. Quando a tecnologia encontra a gestão!”, assinado pelo CEO da Netafim, Ricardo Almeida, que compartilha sua experiência com a inteligência artificial, ferramenta que, apesar de complexa, já faz parte do cotidiano da agricultura digital brasileira.

Para os projetistas e técnicos, o aprofundamento no artigo “Irrigação por gotejamento subterrâneo em paisagismo, parte II”, do engenheiro agrícola José Giacoia Neto, traz detalhes técnicos fundamentais sobre a instalação do tubo gotejador, comprimento das linhas laterais e taxa de precipitação, aspectos essenciais para sistemas eficientes e duradouros.

Convidamos todos a explorarem esta edição rica em conhecimento, inovação e diversidade, reafirmando o compromisso da Irrigazine em ser a fonte confiável e inspiradora do setor de irrigação no Brasil.

Boa leitura e até breve!

DIREÇÃO

Denizart Pirotello Vidigal denizart@irrigazine.com.br

JORNALISTA

Bruna Fernandes Bonin MTB 81204/SP

COLABORAÇÃO

José Giacoia Neto | Ricardo Almeida | Francisco Adriano de C. Pereira | Vital Pedro da Silva Paz | Luis Fernando de Souza Magno Campeche | Gerlange Soares da Silva

EDITORAÇÃO E CAPA

André Feitosa

PRODUÇÃO/ PROJETO GRÁFICO

Interação - Comunicação e Design

FOTOS

Divulgação | Divulgação/Jati Divulgação/Bauer | Divulgação/Netafim Gerlange Soares

REVISÃO

Denizart Vidigal Barufe

CONTATO

Comercial e Editora AGROS Ltda. comercial@irrigazine.com.br

ASSINATURAS

Débora Pirotello Vidigal WhatsApp: (17) 99612-1224 revista@irrigazine.com.br Acesse irrigazine na internet: www.irrigazine.com.br

A Revista Irrigazine não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados o pelas opiniões emitidas pelos entrevistados, fontes e dos anúncios publicitários.

“Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” Josué 1:9

VIDIGAL
Diretor

Entre várzeas e vales: Irrigação do Semiárido ao Sul

Na nova edição da série especial Polos Irrigados, a Irrigazine percorre dois extremos do mapa brasileiro onde a água, quando bem manejada, transforma realidades: o tradicional polo de arroz irrigado do Médio Jacuí, no Rio Grande do Sul, e o vibrante polo de fruticultura de Petrolina e Juazeiro, às margens do rio São Francisco, no Semiárido nordestino.

Irrigação e necessidade hídrica da cultura do cacau

A atividade cacaueira é largamente desenvolvida nas regiões tropicais úmidas, onde uma das espécies do gênero Theobroma, ou Theobroma cacao L, se constitui num dos cultivos mais importantes, sendo explorado na África, América Latina e Ásia (SOLORZANO et al., 2015).

Eu, você e a IA. Quando a tecnologia encontra a gestão!

por gotejamento subterrâneo em paisagismo.

Gestão de águas subterrâneas é tema de palestra da Embrapa no 2º Seminário Mineiro de Irrigação

O pesquisador Lineu Rodrigues, da Embrapa Cerrados (DF), foi palestrante no 2º Seminário Mineiro de Irrigação, em Montes Claros (MG), no dia 13 de agosto, com o tema “Gestão de águas subterrâneas (Experiências do Nebraska/EUA)”.

Promovido pelo Sistema Faemg Senar em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, o evento é um espaço de troca de experiências, difusão de conhecimentos e fortalecimento da agricultura irrigada para o desenvolvimento sustentável do Norte do estado.

Segundo os organizadores, a segunda edição do seminário destacou a interdependência e a conexão entre as águas subterrâneas e superficiais na gestão dos recursos hídricos, além da interface entre a irrigação e a demanda energética em Minas Gerais.

Na palestra, o pesquisador da Embrapa Cerrados abordou a importância do planejamento no contexto da gestão para a produção de alimentos, ilustrada com a experiência do estado norte-americano na gestão das águas superficiais e subterrâneas. “Mostramos um pouco do trabalho que estou fazendo em Nebraska, estimando demandas de águas verde e azul (atual e futura) para subsidiar o planejamento, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Cerrado”, afirma, salientando que o Brasil necessita de uma agenda de desenvolvimento própria, com estratégias de curto, médio e longo prazo.

Nesse contexto, Rodrigues destaca a importância de alternativas de alocação de água, trazendo um olhar mais moderno e utilizando não apenas um modelo único e restritivo. “A base de tudo isso é o planejamento, e para planejar precisamos criar uma cultura de cuidar dos dados”, completa.

Release FIIB 2025

FiiB 2025: maior vitrine da irrigação no Brasil acontece em agosto em Campinas

Consolidada como o principal evento da irrigação nacional, a FiiB – Feira Internacional da Irrigação Brasil – realiza sua próxima edição entre os dias 19 e 21 de agosto, em Campinas (SP). A feira reúne o maior número de empresas do setor em um mesmo espaço, aliando exposição de tecnologias, capacitação técnica e conteúdo de alto nível.

Com crescimento de 25% na área construída e maior número de expositores em relação à última edição, a FiiB 2025 contará com mais de 100 marcas representadas, incluindo fabricantes nacionais, importadores e prestadores de serviços. Também participam instituições de destaque como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Embrapa, ESALQ-USP, UNESP, UFV, UESB, UFMS e universidades internacionais como Kansas State University e University of Nebraska.

“O evento é uma oportunidade única para irrigantes e profissionais do setor conhecerem inovações tecnológicas, participarem de treinamentos e ouvirem mais de 60 palestrantes de alto nível, nacionais e internacionais”, destaca a organização.

A programação da FiiB está estruturada para tratar de temas estratégicos:

Dia 19/08 – Abertura oficial com autoridades, representantes de instituições e associações do setor. Está aguardada a presença do secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai, do prefeito de Campinas, Dário Saadi, além de representantes do MIDR, ANA, ABID, CNA, Abimaq-CSEI, Codevasf, entre outros. Os painéis discutirão temas como sustentabilidade, desafios da agricultura irrigada, a irrigação como fator de desenvolvimento econômico e cenários para o mercado da irrigação no Brasil. Estão confirmados a participação em painéis do Diretor da Agência Nacional de Águas, Marco José Melo Neves, do

secretário executivo de Desenvolvimento Econômico

Sustentável do Mato Grosso do Sul, Rogério Thomitão Beretta, e da presidente da Irriganor, ex-secretária de Agricultura de Minas Gerais, Ana Valentini. Anderson Galvão, da Céleres Consultoria, fará uma palestra sobre as oportunidades e desafios do agronegócio brasileiro e também participará do painel Cenários para o Mercado de Irrigação no Brasil, juntamente com os CEOs das empresas Valley, Netafim, Rivulis, Rain Bird e Bermad. Neste dia ainda acontecerá a Jornada de Fertirrigação Agredu, coordenada pelo professor da UFV, Everardo Mantovani e a participação de técnicos de empresas como Bauer & Irricontrol, SLC Agrícola e Embrapa.

Dia 20/08 – O Seminário de Tecnologias para Pivô Central, terá a participação internacional de professores das Universidades do Kansas e Nebraska. O cacau irrigado terá um painel exclusivo com a presença de técnicos de São Paulo, Bahia e Pernambuco. Outros temas de destaque como hidráulica, segurança hídrica, irrigação eficiente e sustentável e manejo de fertirrigação e paisagismo.

Dia 21/08 – Último dia e uma agenda intensa voltada para o manejo da irrigação em cana-de-açúcar, pastagens, citros e gestão de energia elétrica e modelos híbridos. Temas como sensores de solo para manejo de irrigação, produtos biológicos na fertirrigação, automação de sistemas de irrigação, pivô central, café irrigado, tecnologias de precisão com inteligência artificial e quimigação. Ainda, um painel sobre a comunicação do setor de irrigação com a sociedade e uma palestra inspiradora para revendas de irrigação com técnicas de vendas.

A FiiB reafirma seu papel como a maior vitrine da irrigação no Brasil, promovendo o avanço da agricultura irrigada com foco em tecnologia, eficiência e sustentabilidade.

Jati lança conexões PVC-O para adutoras de alta performance

A Jati Irrigações acaba de apresentar sua linha de conexões PVC-O PN180, desenvolvida para substituir as tradicionais conexões de ferro fundido em sistemas de adutoras. A novidade promete mais praticidade e economia para o produtor, sem abrir mão da resistência e da durabilidade.

Segundo a empresa, as conexões foram aprovadas em testes com mais de 36,0 kgf/cm² de pressão, garantindo segurança mesmo em condições severas de operação. Compatíveis com todas as marcas de tubulações disponíveis no mercado brasileiro, os produtos chegam com patente requerida e design exclusivo.

Com tecnologia avançada, as conexões em PVC-O oferecem menor risco de rompimento e maior vida útil, reduzindo custos com manutenção e substituição de peças. Além disso, a estrutura do material assegura um desempenho superior em sistemas que exigem alta pressão e confiabilidade.

Além da robustez e economia, as conexões em PVC-O também se destacam por sua contribuição ambiental, já que o material é leve e pode ser reciclado, reduzindo o impacto ambiental em comparação às conexões de ferro fundido. Sua facilidade de manuseio e instalação acelera o processo nas obras, diminuindo o tempo de parada dos sistemas de irrigação e otimizando a produtividade no campo. Com a crescente demanda por soluções eficientes e sustentáveis na agricultura, a Jati Irrigações aposta que sua linha PVC-O PN180 será uma peça-chave para modernizar o mercado brasileiro, alinhando inovação tecnológica e responsabilidade ambiental.

Desenvolvidas segundo rigorosos padrões internacionais, as conexões PVC-O PN180 atendem às normas da ABNT e possuem certificações que asseguram a qualidade e segurança do produto. A resistência à pressão acima de 36 kgf/cm² permite que sejam aplicadas em sistemas de adutoras de grande porte, especialmente em regiões que demandam irrigação intensiva. O lançamento reforça a tendência de substituição dos materiais tradicionais por soluções mais leves e duráveis, refletindo uma mudança importante no setor de irrigação brasileiro. Especialistas apontam que a adoção de tecnologias como o PVC-O pode representar redução significativa nos custos operacionais a médio e longo prazo para produtores rurais.

Bauer reúne especialistas e lança material inédito sobre culturas irrigadas

A Bauer promoveu, no dia 07 de agosto de 2025, um encontro institucional exclusivo em sua unidade localizada em São João da Boa Vista (SP). O evento foi marcado pelo lançamento oficial do Guia de Culturas Irrigadas, uma publicação técnica inédita que reúne dados atualizados, recomendações práticas e informações estratégicas sobre as principais culturas beneficiadas pela irrigação no Brasil.

Com a presença de profissionais de destaque do agronegócio, pesquisadores e professores das principais universidades e instituições especializadas, o encontro foi um espaço privilegiado para a troca de experiências e discussão sobre os avanços tecnológicos que estão transformando a irrigação no país.

De acordo com a Bauer, o objetivo do evento foi aproximar ainda mais a pesquisa, a tecnologia e o campo, promovendo soluções que aliem produtividade e uso eficiente da água. “Estamos diante de um cenário em que a irrigação desempenha um papel essencial na segurança alimentar global e na sustentabilidade da agricultura. Nosso compromisso é oferecer conhecimento e ferramentas que ajudem produtores a superar desafios e aumentar a eficiência”, destaca a empresa.

O Guia de Culturas Irrigadas, que foi apresentado oficialmente durante o jantar especial do evento, chega como uma ferramenta indispensável para produtores,

consultores e técnicos. O material reúne informações detalhadas sobre necessidades hídricas, recomendações de manejo e dados atualizados de mercado, servindo como um norte para quem busca adotar práticas mais modernas e assertivas na irrigação.

A programação do encontro também incluiu uma visita guiada à fábrica da Bauer, permitindo aos convidados conhecer de perto os processos produtivos, soluções inovadoras e tecnologias de automação que têm impulsionado a irrigação de precisão. Entre os destaques estão sistemas inteligentes para gestão da água, voltados à redução de desperdícios e aumento da eficiência operacional.

Outro momento importante foi a abertura institucional conduzida pelo Prof. Everardo Mantovani, referência nacional em irrigação e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que compartilhou sua visão sobre as tendências e os desafios do setor nos próximos anos.

Para proporcionar uma experiência completa, a Bauer ofereceu hospedagem aos convidados e um jantar especial de recepção, no qual o guia foi lançado oficialmente. A empresa reforça que o encontro foi uma oportunidade única para networking e integração entre representantes da indústria, pesquisadores e produtores, fortalecendo o debate sobre inovação, produtividade e sustentabilidade no uso da água.

Divulgação/Bauer Bauer apresenta o futuro da irrigação que une tecnologia e sustentabilidade

Vinícolas paulistas ganham protagonismo no mercado nacional de vinhos

O estado de São Paulo tem ganhado protagonismo crescente no mercado nacional de vinhos, ocupando uma posição estratégica na cadeia produtiva da vitivinicultura brasileira. Nos últimos anos, passou por um processo de transformação que fortaleceu sua presença no segmento dos vinhos finos, com vinícolas se destacando em concursos nacionais e internacionais, ampliando ainda mais sua importância econômica e cultural no setor.

Recentemente, dois dos mais importantes concursos internacionais confirmaram essa vocação das vinícolas que integram a Wines of São Paulo (WSP), associação que nasceu da união de onze produtoras paulistas de vinho. “O ponto central dessa junção foi a constatação da grande qualidade dos vinhos, por meio de premiações em importantes concursos nacionais e internacionais, e da necessidade de unir as iniciativas para difundir essa qualidade aos consumidores brasileiros, que ainda pouco conhecem a respeito”, diz Luiz Biagi, presidente da WSP.

No Concurso Mundial de Bruxelas, foram cinco medalhas: Terras Altas ganhou duas de Ouro e duas de Prata, enquanto a Davo levou uma de Prata. No Decanter World Wine Awards, um dos mais prestigiados do mundo, as vinícolas do grupo

ganharam 16 medalhas ao todo. Levaram as de Prata a Davo (1), Ferreira (2), Guaspari (1), Refúgio (1) e Terras Altas (1) e as de Bronze foram para Arcano (1), Davo (4), Ferreira (2), Guaspari (1) e Refúgio (2).

Apostando na diversidade de microclimas e terroirs do estado, as vinícolas da WSP têm surpreendido especialistas e conquistado prêmios nacionais e internacionais com rótulos que encantam pela qualidade e identidade. “O Sudeste passou a ser a região do Brasil com maior número de vinhos premiados, o que consolida nossa vocação. Só no Decanter World Wines Award, que é considerado o Oscar do vinho, as vinícolas da associação somam mais de 130 medalhas. Estamos todos comprometidos com a excelência e a vontade de mostrar que é possível produzir vinhos extraordinários em solo paulista”, comenta Biagi.

De acordo com ele, a ascensão do vinho do estado é fruto de uma combinação estratégica entre inovação, investimento em tecnologia e valorização do terroir. A técnica da dupla poda utilizada pelas vinícolas revolucionou a viticultura paulista, permitindo a produção do chamado vinho de inverno, que aproveita o clima ameno do estado e grande amplitude térmica para cultivar uvas vitis de alta qualidade.

Metade do inverno: produtores intensificam estratégias para enfrentar as geadas e manter a produtividade no campo

Ondas de frio seguem atingindo

o país e irrigação é aliada no

manejo e na proteção das lavouras

Agosto marca a metade do inverno no Brasil, uma estação que segue impondo desafios aos produtores rurais, especialmente aqueles que cultivam frutas, hortaliças e culturas mais sensíveis às baixas temperaturas. As geadas continuam sendo um dos fenômenos mais temidos, capazes de causar perdas significativas nas lavouras e comprometer a produtividade.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o inverno deste ano, iniciado em 20 de junho e com término previsto para 22 de setembro, segue sob influência de massas de ar polar que provocam quedas acentuadas nas temperaturas.

Em julho, o país já registrou episódios severos de geadas no Sul, no Sudeste e em áreas de maior altitude do CentroOeste. E as previsões indicam novas incursões de ar frio para agosto, principalmente no Sul e no Sudeste, mantendo o alerta para os agricultores.

Nesse cenário, a irrigação, frequentemente associada ao período de estiagem, ganha protagonismo também como ferramenta de proteção contra as geadas. Em situações críticas, a técnica pode ser decisiva para reduzir os impactos do frio extremo e garantir a integridade das plantas.

“Os sistemas de irrigação modernos não se limitam ao fornecimento de água. Eles são parte de uma estratégia de manejo inteligente, oferecendo diagnósticos e soluções para enfrentar riscos climáticos, inclusive no inverno”, destaca Danilo Silva, gerente agronômico da Netafim.

A empresa vem ampliando o uso do sistema de aspersão com função antigeada, tecnologia já presente em diversas propriedades brasileiras. A lógica é simples e eficiente: a irrigação é acionada antes e durante a formação do gelo, molhando folhas, frutos e flores. Quando a água congela, cria-se uma película protetora que mantém a temperatura

próxima a 0 °C, evitando que os tecidos vegetais sofram danos mais graves.

Em julho, por exemplo, o INMET registrou mais de 20 ocorrências de geadas severas em municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de áreas de São Paulo e Minas Gerais. Para culturas de alto valor agregado, como uvas, maçãs e hortaliças, os prejuízos podem ultrapassar R$ 100 mil por hectare em caso de perda total da safra.

“O investimento em projetos antigeada tem excelente custobenefício. Ele preserva a produtividade e a rentabilidade, além de dar mais segurança ao produtor”, reforça Silva.

Entre os diferenciais das soluções da Netafim estão a automação do sistema, que garante acionamento preciso nos horários mais críticos (normalmente durante a madrugada), e o uso de aspersores MegaNet, que proporcionam distribuição uniforme da água mesmo em áreas com topografia irregular. Esses equipamentos possuem ainda mecanismos de proteção contra entupimentos e desgaste pelo tempo.

Produtores que já adotaram a tecnologia comprovam sua eficácia. Eduardo Joaquim Riva, de Caxias do Sul (RS), relata que viu o retorno do investimento já na primeira safra. A Família Perazzoli, de Pinheiro Preto (SC), enfrentou temperaturas de até -3 °C sem prejuízos graças ao sistema antigeada.

Danilo Silva conclui que, com planejamento e tecnologia, é possível reduzir riscos e manter bons resultados no campo mesmo nos meses mais frios do ano:

“A irrigação inteligente não é só para a seca. É um recurso estratégico para todas as estações, e agora, no inverno, pode ser a diferença entre o sucesso e a perda da próxima safra.”

Divulgação/Netafim| Sistema em operação: irrigação por aspersão protege lavouras durante madrugadas de frio intenso

Incertezas climáticas aumentam a preocupação no campo

Apesar do inverno rigoroso, especialistas lembram que o cenário não era esperado para esta safra. Muitos modelos meteorológicos previam um inverno mais ameno, reflexo da transição entre El Niño e La Niña, mas a intensidade das massas de ar polar surpreendeu até mesmo os mais experientes.

Essa instabilidade aumenta a apreensão no campo. Produtores que não se prepararam para o frio extremo vivem dias de incerteza e tensão, monitorando cada boletim climático para tomar decisões rápidas. Em culturas como frutas temperadas, hortaliças e café, uma única madrugada

de geada pode comprometer meses de trabalho e investimentos.

“O que preocupa é que, com as mudanças climáticas, eventos extremos tendem a ser mais frequentes e menos previsíveis. Isso coloca o agricultor em um cenário de risco constante, exigindo planejamento e tecnologias que tragam segurança para a produção”, alerta Silva.

Com agosto ainda pela frente e setembro reservando possíveis surpresas, o recado para os produtores é claro: a tecnologia não elimina os riscos, mas pode ser a principal aliada para quem busca estabilidade e produtividade em um clima cada vez mais imprevisível.

POLOS IRRIGADOS

Entre várzeas e vales: Irrigação do Semiárido ao Sul

Na nova edição da série especial Polos Irrigados, a Irrigazine percorre dois extremos do mapa brasileiro onde a água, quando bem manejada, transforma realidades: o tradicional polo de arroz irrigado do Médio Jacuí, no Rio Grande do Sul, e o vibrante polo de fruticultura de Petrolina e Juazeiro, às margens do rio São Francisco, no Semiárido nordestino.

Separados por milhares de quilômetros e realidades climáticas completamente distintas, esses dois polos ilustram com maestria a diversidade da agricultura irrigada brasileira — do cultivo de arroz em várzeas frias à produção de frutas tropicais em um dos climas mais secos do país. Em comum, a eficiência no uso da água como motor de desenvolvimento regional, geração de renda e segurança alimentar.

Foto: Divulgação | Área agrícola irrigada no Médio Jacuí, exemplo de tecnologia aplicada para garantir produtividade em períodos de estiagem

Foto: Divulgação | Sistema de irrigação no Médio Jacuí, impulsiona a produção de grãos e arroz irrigado na região

Médio Jacuí (RS): tradição em arroz irrigado e novas possibilidades

Localizado na região central do Rio Grande do Sul, o polo irrigado do Médio Jacuí tem sua base na cultura do arroz irrigado. Com relevo plano, solos argilosos e presença de rios como o Jacuí e o Pardo, a região reúne condições naturais para a irrigação por inundação — um método tradicional, mas que convive hoje com novas tecnologias e uma crescente diversificação de culturas.

Municípios como Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Encruzilhada do Sul e Restinga Sêca são referência na produção de arroz de alta qualidade, mas também têm investido em soja, milho, pecuária integrada e cultivos de inverno, aproveitando o potencial hídrico e a estrutura de drenagem instalada.

Principais cultivos e sistemas de irrigação

O arroz continua sendo o carro-chefe, irrigado principalmente por inundação controlada, com gestão de lâminas d’água e sistemas de represamento. No entanto, a adoção de aspersão convencional e pivô central tem ganhado espaço, especialmente em áreas de diversificação. A integração lavoura-pecuária tem crescido, com a irrigação garantindo pastagens de qualidade no inverno. Além disso, o uso de energia solar em pequenas propriedades começa a ser explorado como alternativa às tarifas elevadas.

Desafios: Gestão hídrica em anos de estiagem ou El Niño; Necessidade de modernização das estruturas de contenção e canais; Dificuldade de acesso a crédito específico para irrigação no Sul.

Oportunidades: Ampliação da irrigação para grãos e pecuária; Integração com sistemas de energia renovável; Valorização do arroz irrigado gaúcho com certificações e rastreabilidade.

Petrolina/Juazeiro (PE/BA): fruticultura irrigada no coração do Semiárido

Às margens do rio São Francisco, entre os estados de Pernambuco e Bahia, está um dos mais emblemáticos polos de agricultura irrigada da América Latina. O polo Petrolina/ Juazeiro é sinônimo de fruticultura tecnificada e produção para exportação, graças à combinação entre clima seco, sol abundante, água do “Velho Chico” e tecnologia de ponta.

Desde os anos 1970, com os projetos públicos de irrigação da Codevasf, o polo vem se desenvolvendo como um exemplo mundial de como a irrigação pode transformar o Semiárido em celeiro de frutas tropicais, conectando pequenas propriedades e grandes empresas em torno de cadeias produtivas sofisticadas.

“Essa região é prova viva de que irrigação planejada gera riqueza, empregos e qualidade de vida em pleno Semiárido”,

resume o engenheiro agrônomo João Marcos Vieira, da Embrapa Semiárido.

Principais cultivos e sistemas de irrigação

O polo é líder nacional na produção irrigada de:

• Uva de mesa e para vinhos finos (com até três colheitas por ano)

• Manga (variedades como Tommy Atkins, Kent e Palmer)

• Banana, goiaba, acerola, melão, mamão e coco

• Frutas orgânicas e exóticas (romã, pitaya, figo, atemoia)

A irrigação é predominantemente feita por gotejamento com fertirrigação, com controle rigoroso via sensores e automação. Há também uso de microaspersão e sistemas de reuso de água em algumas áreas. A energia elétrica ainda predomina, mas há crescente adoção de painéis solares em propriedades médias e grandes.

Desafios: Modernização da infraestrutura pública de canais e estações de bombeamento; Salinização em áreas com

manejo inadequado; Custo da energia elétrica e regulação do uso da água.

• Oportunidades: Expansão para novos mercados internacionais; Certificações de origem, orgânicos e rastreabilidade; Fortalecimento da agricultura familiar irrigada com assistência técnica e cooperativas.

Duas realidades, uma mesma lógica: produzir com inteligência hídrica

Entre as várzeas do Sul e os vales do Nordeste, a irrigação se mostra essencial para sustentar a produção agrícola brasileira frente aos desafios climáticos e de mercado.

Em Petrolina/Juazeiro e no Médio Jacuí, a água é recurso estratégico, seja para manter a tradição ou para abrir novos caminhos de inovação, sustentabilidade e protagonismo no campo.

Na próxima edição da série Polos Irrigados, a Irrigazine segue desvendando os territórios onde a irrigação continua redesenhando o futuro da agricultura brasileira.

Pivôs centrais e gotejamento garantem alta produtividade e qualidade na fruticultura do Polo Petrolina-Juazeiro

Foto: Divulgação | Uso intensivo de tecnologias de irrigação no Vale do São Francisco transforma o semiárido em um polo agrícola estratégico

Irrigabras: 40 anos irrigando o futuro. Na FIIB destaca seu mais novo lançamento: Nimbus SAT by Soil

Tradição, inovação e compromisso com o produtor rural marcam a trajetória da Irrigabras, que celebra quatro décadas de história apresentando seu mais novo avanço tecnológico na FIIB.

Em 2025, a Irrigabras completa 40 anos de dedicação ao campo brasileiro. Desde sua fundação, em 24 de setembro de 1985, a empresa tem sido referência em soluções de irrigação por aspersão eficientes e duradouras, contribuindo para o crescimento sustentável da agricultura e a produtividade em diversas culturas.

Quatro décadas depois, a Irrigabras segue fiel à sua missão: oferecer tecnologia de ponta e atendimento próximo ao produtor. Este ano, a comemoração se torna ainda mais especial com mais uma participação na FIIB – Feira Internacional da Irrigação do Brasil, em Campinas (SP), um dos eventos mais importantes do setor, reunindo empresas, especialistas e produtores.

Com o portfólio mais completo do setor, a Irrigabras oferece ao produtor sistemas de irrigação por aspersão para diferentes realidades, como carretéis irrigadores, pivôs centrais e tubos e acessórios, que podem ser implantados em áreas de todos os tamanhos — do pequeno ao grande produtor. Essa versatilidade garante soluções sob medida para cada propriedade, sempre com foco em eficiência, durabilidade e alto desempenho.

No estande da Irrigabras os visitantes poderão conferir de perto o lançamento: Nimbus SAT, a mais nova versão da telemetria de irrigação desenvolvido pela empresa em parceria com a Soil Tecnologia. O Nimbus SAT by Soil representa um salto tecnológico: graças à conectividade via satélite o produtor consegue monitorar e controlar

a irrigação, mesmo em áreas sem sinal de internet móvel, garantindo mais autonomia, precisão e tranquilidade no manejo. A solução é ideal para regiões remotas e amplia o alcance das tecnologias de automação no campo.

Além do Nimbus SAT, a Irrigabras também oferece o Nimbus Wi-Fi, solução que permite o controle do pivô localmente por meio de um sinal gerado pelo próprio painel central, possibilitando a operação no campo tanto pelo painel quanto pelo celular.

“O Nimbus SAT é mais do que uma simples telemetria. Ele traduz o nosso compromisso de estar ao lado do produtor, independentemente de onde ele esteja. É uma tecnologia feita para a realidade do Brasil rural”, destaca Renato Simões Barroso Jr., Diretor Comercial e fundador da Irrigabras.

“Chegar aos 40 anos com a confiança do produtor é motivo de orgulho. Nosso objetivo sempre foi criar soluções que ajudem o agricultor a produzir mais e melhor, com responsabilidade e visão de futuro”, afirma Iracy Coleti Jr., Diretor Administrativo/Industrial e também fundador da empresa.

Celebrar 40 anos é também reafirmar valores como confiança, qualidade e inovação. A participação na FIIB reforça a presença da Irrigabras, que se destaca no cenário da irrigação nacional e mostra que o futuro já está acontecendo no campo, com tecnologia e paixão pelo que se faz.

Foto: Acervo Irrigabras | Painel do Pivô Central Irrigabras e Controlador Nimbus SAT by Soil

Irrigação e necessidade hídrica da cultura do cacau

e Gerlange Soares da Silva

1. A irrigação na cacauicultura

A atividade cacaueira é largamente desenvolvida nas regiões tropicais úmidas, onde uma das espécies do gênero Theobroma, ou Theobroma cacao L, se constitui num dos cultivos mais importantes, sendo explorado na África, América Latina e Ásia (SOLORZANO et al., 2015).

A produção mundial de cacau está concentrada na África que oferta 72% do volume global de 5,226 milhões de toneladas em amêndoas secas, obtidas em 2021, merecendo destaque a participação da Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões (AREMU-DELE, et al, 2022). O Brasil ocupa o sétimo lugar em 2021 com a produção de 310.537 mil toneladas (IBGE, 2022).

Atualmente, a cacauicultura brasileira está em franca expansão no estado do Pará e apresenta várias áreas renovadas nos estados da Bahia e Espírito Santo, além de manter as áreas tradicionais nos estados do Amazonas, Rondônia e Acre, e expande pequenas áreas no Mato Grosso.

Nos últimos 15 anos, o cacau vem alcançando novas fronteiras, sendo implantado em regiões não tradicionais, por meio do cultivo a pleno sol com fertirrigação em áreas planas, onde vem apresentando bons resultados, a exemplo das regiões do Centro Oeste baiano e semiáridas do nordeste brasileiro (Ceará, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte) e em plantios instalados na região sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo). Existem no país mais de 70.000 propriedades em 12 estados Brasileiros desenvolvendo a atividade cacaueira com uma área plantada de 597.228 hectares, sendo 95 % nos estados da Bahia e Pará (IBGE, 2022).

Na moderna cacauicultura, os produtores têm introduzido inovações tecnológicas, visando ao aumento da produtividade e competitividade. Neste sentido, há uma ampla perspectiva para o emprego da irrigação e da fertirrigação, temas que requerem conhecimentos específicos para a lavoura do cacau, os quais estão sendo desenvolvidos para esta cultura ou extrapolados de outras lavouras. O cacau é uma cultura com alta sensibilidade ao hidroperíodo, sendo a escassez ou excesso de água no solo um fator limitante para o aumento de produtividade. Em todo o mundo, a cacauicultura foi difundida prevalentemente nas áreas úmidas, sendo raro o emprego de

irrigação. Por essa razão, há escassez de literatura científica para o correto planejamento, dimensionamento e manejo da irrigação.

Recentemente, o cultivo de cacau irrigado em regiões não tradicionais, além de alcançar altas produtividades, apresenta menor risco de problemas fitossanitários devido às condições ambientais menos favoráveis ao desenvolvimento de doenças, principalmente quando o sistema de irrigação é localizado (gotejamento e microaspersão).

Neste sentido, são apresentadas informações para o uso eficaz da água de irrigação na cultura do cacau, de maneira a instrumentalizar os técnicos e agricultores no manejo da água em sistemas de irrigação localizados, além de facilitar a tomada de decisão pelos produtores.

2. Demanda hídrica ou Evapotranspiração do cacaueiro

A evapotranspiração da cultura (ETc), refere-se a perda total de água, pelos processos simultâneos de evaporação e transpiração, por uma cultura qualquer vegetando sob condições padrões, em qualquer estádio de desenvolvimento.

As necessidades hídricas do cacaueiro, assim como das demais culturas, podem ser determinadas por métodos diretos e indiretos. Na literatura existem diversas metodologias para essa determinação, a exemplo do: balanço hídrico em um determinado volume de solo; métodos lisimétricos - pesagem; drenagem e lençol freático; bem como os métodos indiretos que se baseiam em dados agrometeorológicos: razão de Bowen, aerodinâmico, Penman-Monteith e evaporímetros, entre outros (SANTOS et al., 2017).

O cacaueiro é uma espécie tradicionalmente cultivada em ambiente úmido, onde não há fortes limitações sobre a disponibilidade de água no solo e, por essa razão, existem poucas informações sobre seu consumo hídrico, seja sombreado ou não. Estes registros seriam um importante subsídio para o manejo da irrigação em qualquer condição. Leite (2013) determinou o consumo hídrico de cacau jovem irrigado, cultivado em consórcio com bananeira e pau-brasil, em um experimento conduzido no Centro de Pesquisa do Cacau (CEPLAC/CEPEC), em Ilhéus, Bahia. Os resultados

Foto: Divulgação | Cristalina combina altitude, clima e irrigação para liderar a produção de sementes e hortaliças no país

mostraram que a evapotranspiração média da cultura foi de 3,5 mm por dia, sendo o consumo médio de água da cultura de 31,5 litros.dia. planta-1, em uma área com espaçamento de 3 m x 3 m (densidade de 1.111 plantas ha-1), localizada em região de clima quente e úmido, sem estação seca definida, caracterizado como Af, segundo a classificação de Köppen.

Silva e Pereira (2020) determinaram a evapotranspiração da cultura do cacau e da evapotranspiração de referência durante um ano do ciclo de produção da cultura irrigada por micro aspersão, no sistema de monocultivo a pleno sol, em Cruz das Almas - BA, Brasil, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1. Cacaueiro implantado sobre lisímetro de pesagem a pleno sol, no Núcleo de Engenharia de Água e Solo da Universidade Federal do Recôncavo, Cruz das Almas, Bahia. Foto: Gerlange Soares

Esses autores encontraram valores médios de ETc correspondentes a 3,97 mm dia-1 no período de crescimento da planta, 2,75 mm dia-1 na floração, 3,04 mm dia-1 no desenvolvimento de frutos e 4,53 mm dia-1 na maturação de fruto, conforme Tabela 1 a seguir:

Tabela 1. Evapotranspiração média diária da cultura do cacau (ETc) e evapotranspiração de referência (ETo), em um ano do ciclo produtivo do cacau cultivado em lisímetro de pesagem, em estudo na UFRB.

O estudo citado permitiu inferir sobre o coeficiente de cultura (Kc) do cacaueiro, a partir dos registros de evapotranspiração de referência (ETo) e evepotranspiração da cultura, para os diferentes estádios observados, conforme apresentado na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2. Coeficiente de cultura do cacau nos diferentes estádios, obtidos em estudos em lisímetro de pesagem na UFRB, em um ciclo de 30 meses.

Estudos realizados por CAMPECHE (2024) na Região semiárida do Vale do São Francisco, trabalhando com lisimetria de pesagem encontrou valores de Evapotranspiração média da cultura do cacau, variedade PS 1319 de 3,75 mm/dia e coeficiente de cultuvo de 0,94, muito próximo ao preconizado pela FAO, que varia entre 0,95 a 1,05

3. Métodos de Irrigação para o cacaueiro

De uma forma geral, os métodos de irrigação se classificam nos seguintes: irrigação por superfície (sulcos, faixas e inundação); aspersão (aspersão convencional, pivô central e autopropelido); e irrigação localizada (gotejamento e microaspersão).

Não existe um método de irrigação que seja melhor que o outro, mas, existem métodos que se adaptam melhor às condições específicas de solo, situação topográfica, tipo de cultura, espaçamento e outros fatores.

Os métodos de irrigação localizados, representados pelos sistemas de microaspersão e gotejamento, são os mais adequados ao cultivo do cacaueiro, por atendem a situações específicas, sendo os mesmos adotados em várias regiões, principalmente no cultivo a pleno sol com fertirrigação, sistema bastante utilizado nas fronteiras de expansão da cacauicultura, em áreas com escassez ou má distribuição de chuvas (NETAFIM, 2008).

Na Figura 3 é ilustrada a aplicação de água por aspersão convencional e microaspersão na cultura tanto em regiões tradicionais tanto em regiões não tradicionais. A escolha depende do tipo de solo, regime pluviométrico, fonte de água e principalmente percentagem de área molhada.

A Figura 2 ilustra a aplicação de água por irrigação na cultura do cacau, em diferentes situações de exploração/produção.

(A) Gotejamento com uma linha lateral por fileira de planta

(B) Gotejamento com duas linhas laterais por fileira de planta

Figura 3. Sistema de aspersão convencional sub copa (esquerda) e microaspersão (direita) em cacaueiro

(C) Pivot Central na cultura do cacau a pleno sol no Oeste da Bahia, município de Côcos, Fazenda Santa Colomba. Proteção externa para minimizar efeito do vento (quebra vento).

Figura 2 – Cacau irrigado por diferentes sistemas de irrigação (localizado e pivô central)

Em suma, áreas de cultivo de cacau, a irrigação desempenha um papel crucial, mas sua aplicação e resultados variam significativamente entre regiões.

Em regiões tradicionais, como o sul da Bahia e Pará, o cacaueiro é cultivado sob condições climáticas naturalmente favoráveis, com chuvas bem distribuídas. Nesses locais, a irrigação é menos uma necessidade e mais um seguro contra secas inesperadas ou prolongadas. Ela é usada de forma complementar, garantindo a produtividade e a saúde das plantas em períodos de estresse hídrico, sem alterar drasticamente o sistema de cultivo estabelecido. O foco é manter a estabilidade da produção e proteger o investimento.

Já em regiões não tradicionais, como o sudeste do Brasil, cerrados e semiárido, onde o clima pode ser mais seco ou as estações de chuva menos previsíveis, a irrigação é um fator determinante para o sucesso da lavoura. Nesses locais, a irrigação não é complementar, mas essencial. Ela permite que o cacaueiro seja cultivado em áreas que, de outra forma, seriam inadequadas, abrindo novas fronteiras agrícolas para a cultura.

A adoção de sistemas de irrigação eficientes é fundamental para o manejo da água, o que exige um planejamento e investimento mais robustos, mas oferece a possibilidade de altos rendimentos e maior controle sobre a produção.

Eu, você e a IA. Quando a tecnologia encontra a gestão!

Quando recebi o convite para escrever sobre Inteligência Artificial (IA) para esta revista, minha primeira reação foi me perguntar: qual caminho seguir? Falar das tendências futuras? Do impacto no setor de irrigação? De como tirar proveito imediato? Depois de algumas reflexões, decidi que o mais honesto seria compartilhar minha própria jornada, não como especialista, mas como alguém que, como muitos, está tentando entender e acompanhar a revolução que estamos vivendo no agro.

A verdade é que este artigo pode estar ultrapassado em poucas semanas. E isso não é um problema, é só mais uma evidência da velocidade absurda com que as coisas estão mudando. Em pouco tempo, IA passou de um tema técnico e distante para algo que está presente no nosso dia a dia, ao alcance de um clique.

Olho para trás e vejo minhas “alfabetizações”. Aprendi a ler na pré-escola, mais tarde, fiz curso de datilografia para garantir uma carreira no futuro! Já adulto, vieram o inglês, graduação e MBAs, depois o Google, e agora, inevitavelmente, me vejo em um processo de alfabetização em IA via cursos, livros, artigos, conversas com especialistas... Assim como o agricultor em algum momento precisou aprender a usar GPS no trator, a fazer adubação com taxa variável, a interpretar uma estação meteorológica ou imagens de drones, eu também preciso me adaptar.

Mais de dois bilhões de pessoas nasceram depois de 2007, ano em que o iPhone foi lançado. Para essa geração, o mundo já nasceu digital. Para os nascidos antes desta data, essa transformação foi chegando aos poucos, em etapas. E foi em 2023, com o lançamento do ChatGPT, que percebi, de forma clara e pessoal, que a IA tinha deixado de ser uma ideia distante para se tornar uma ferramenta real, acessível e transformadora, inclusive para o campo.

Como gestor aprendi que para avaliar uma nova tecnologia, é preciso responder a três perguntas: Quão distante ela está? Quão certo é que ela vai acontecer? E qual é o impacto potencial? No caso da IA, a resposta foi clara: a distância é agora, a certeza é de 100%, e o impacto é inimaginável.

Desta vez, tecnologia e gestão estão se encontrando. Líderes, mesmo sem formação em TI, precisam entender o básico da IA. E os técnicos, por sua vez, têm que falar a linguagem do negócio. A ponte está sendo construída. Esse cruzamento entre gestão e tecnologia é especialmente importante na agricultura, onde decisões rápidas e baseadas em dados podem definir o sucesso de uma safra ou de todo um negócio.

A agricultura digital já é uma realidade, e a irrigação está no centro dessa transformação. Hoje a IA já conecta sensores de solo, clima e planta, decidindo a hora certa e o volume exato de água para cada metro quadrado. Mais produtividade, menos desperdício, decisões embasadas, tempo otimizado. E isso já está acontecendo, a IA não é um modismo, é uma ferramenta concreta para o campo. E, nesse sentido, a irrigação, a agricultura em todas as suas formas do hortifruti ao grão, do pequeno ao grande produtor, todos temos uma oportunidade rara.

Podemos ver hoje fazendas no Brasil utilizando IA para prever pragas com semanas de antecedência, a partir da análise cruzada de dados climáticos e históricos da lavoura. Drones com algoritmos inteligentes sobrevoam lavouras e identificam falhas de plantio, doenças ou estresse hídrico antes mesmo que o olho humano perceba. E já é possível estimar a produtividade de uma safra semanas antes da colheita, combinando imagens de satélite, dados genéticos e variáveis ambientais. Tudo isso permite ao agricultor tomar decisões mais rápidas, mais e com muito mais impacto.

Mas atenção a IA é poderosa em processar dados, identificar padrões e sugerir caminhos. Porém, ela não tem propósito, não sonha, não sente, e é aí que entramos. O ser humano continua sendo essencial para formular a pergunta certa, interpretar o contexto e tomar a decisão final com empatia e responsabilidade.

Aliás no mundo da IA, vamos precisar menos de respostas e mais de boas perguntas. A resposta poderosa só vem depois da pergunta inteligente. E, para isso, precisamos de curiosidade, humildade e abertura para aprender com quem sabe, mesmo que seja alguém mais jovem do que a gente. Em minha busca pelo conhecimento eu cresci ouvindo gurus, porem hoje aprendo muito com os “guris”, por assim dizer.

Tenho o privilégio de estar em uma empresa que respira inovação no campo. Na Netafim trabalhamos diariamente para trazer aos agricultores tecnologias em irrigação por gotejamento e microaspersão, sensores, algoritmos e dados para produzir mais e melhor. Ver isso de perto me ensinou que IA não é um luxo futurista é um aliado real para quem vive da terra e cuida dela todos os dias.

Por fim, não acho que a IA vá substituir o ser humano. Mas ela vai, sim vai impulsionar quem estiver disposto a aprender. E, no campo, quem souber conversar com a IA hoje, de preferência irrigando, vai certamente colher mais amanhã!

Irrigação por gotejamento subterrâneo em paisagismo. Parte II

José Giacoia Neto - Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV). Agriculture International Business Manager Global, Rain Bird.

Nesta segunda abordagem sobre a tecnologia com escudo de cobre para gotejamento subterrâneo vamos dissertar sobre a metodologia de projetos.

A maneira de projetar um sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo para gramados em paisagismo possui alguns requisitos específicos e alguns que são os mesmos do dimensionamento em agricultura.

1. Profundidade de instalação do tubo gotejador subterrâneo.

Para cada tipo de vegetação existe uma profundidade de instalação de acordo com a % de concentração de raízes. Para Arbusto com raízes com profundidade média de 35 cm, a instalação pode ser realizada a 20 cm de profundidade.

Especificamente para gramados, a profundidade recomendada é de 10 a 12 cm. Em alguns casos de solos com alto teor de argila (>70%), podemos instalar a 15 cm de profundidade. 2. Espaçamento entre linhas de tubos gotejadores.

Para gramados existe um gráfico de recomendação de espaçamento mínimo e máximo entre linhas de gotejadores segundo tipo de solo e também avaliação do técnico de especificação.

Fig. 1. Espaçamentos entre linhas de tubo gotejadores subterrâneos de acordo com o tipo de solo

3. Comprimento Máximo de Linha Lateral

A metodologia utilizada para determinar o comprimento máximo de linha é a mesma de projetos de gotejamento em agricultura. É realizado da mesma maneira e pode ser por gráficos ou tabelas.

Fig. 2. Tabela com máximos comprimentos de linha para diferentes pressões de entrada por vazão de emissor

A tabela constante na Fig. 2. mostra o comprimento máximo de linhas para três modelos disponíveis de vazões de emissores espaçados a 30 cm.

O projetista especifica o modelo que deseja trabalhar e depois determina a pressão que vai chegar na entrada da linha de emissores.

Exemplo: Eleito o modelo de 2,3 lph, o projetista determina a pressão de entrada na linha de gotejamento de 1,4 bares (14 mca), para esta pressão o comprimento máximo da linha lateral em uma área plana será de 89 metros. Existem tabelas que mostram também para aclives e declives de 2%.

4. Taxa de Precipitação

A taxa de precipitação é determinada de acordo com a vazão e o espaçamento entre linhas.

Dependendo do tamanho da área onde vamos instalar o tubo gotejador, o custo de instalar um setor exclusivo pode gerar um custo excessivo e inviabilizar a instalação.

Para evitar a criação de um novo setor podemos trabalhar com espaçamentos entre linhas e vazões para chegar a mesma taxa de precipitação liquida de outros emissores do projeto e não ter que criar um novo setor.

Exemplo: Temos uma setor com aspersores sprays com uma taxa de precipitação de 42 mm/h e uma área estreita onde queremos utilizar o tubo gotejador enterrado.

A eficiência do gotejamento enterrado é de 95% e a eficiência dos aspersores sprays é de 75%.

A precipitação líguida dos spray será portando de 42 x 0,75 = 31 mm/h.

Temos que buscar uma taxa de precipitação teórica na tabela = PT = PL/ ef onde

PT = Precipitação teórica

PL = Precipitação líquida

Ef = eficiência

PT = PL/ ef = 31.5 / 0.95 = 33.16 mm / h

Com este valor vamos na tabela e selecionamos o tubo de 2,3 lph de vazão com espaçamento entre linhas de 0,25 m que é o mais próximo deste valor.

4. Imagem com canteiro de largura variável entre caminhos

Na Fig. 4 vemos uma situação típica de um canteiro central com largura variável onde não existe nenhum outro emissor que conseguiria aplicar água com eficiência e sem molhar os caminhos.

Fora dos caminhos temos áreas de largura maior onde podemos utilizar outros emissores. Esta seria uma situação típica onde podemos colocar em um mesmo setor gotejamento enterrado e outros emissores efetuando uma calibração de taxa de precipitação.

Até a próxima.

Fig. 3. Tabela com cálculo de taxas de precipitação em função de espaçamento entre linhas e vazões.

Fig.

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