Tribuna do Espiritismo - julho de 2017

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Julho de 2017

Coragem moral Tema sugere investigação de nós mesmos Paulo Cezar Fernandes paulojonia@gmail.com

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llan Kardec, no Capítulo V, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Bem-aventurados os aflitos”, no item -16– “O Suicídio e a loucura”, investigou dois famosos conceitos da história da filosofia moral, os quais, como todos os demais trazidos pelo Consolador, são absolutamente profícuos para orientar nossa conduta Ética, a saber, Covardia moral e Coragem moral. No diálogo de Platão intitulado Menon, Sócrates já havia exposto suas deduções acerca do que é a Virtude, concluindo ser ela uma fortaleza da Alma. Nesse diálogo, o velho filósofo deduz ser a Coragem uma postura do ânimo muito em conformidade com a Virtude, mas, a qual, se não perfeitamente orientada pela razão, poderia levar o seu portador a cometer atos temerários. A Coragem foi, assim, apresentada por Platão como uma das quatro virtudes cardeais, ou seja, um daqueles estados universais do ânimo capazes de nos guiar para a realização do Sumo bem. Aristóteles, discípulo e sucessor filosófico deste último, apesar de ter adquirido autonomia intelectual em relação ao seu mestre, deduziu também ser a Coragem uma das Virtudes Éticas. Nesta linha de raciocínio, Allan Kardec reflete sobre a Covardia e a Coragem como duas potências da Alma, as quais são exponencialmente modificadas em decorrência do conhecimento de si que o indivíduo adquira. Segundo ele, na medida em que a pessoa conquiste o saber de

que se é um Espírito reencarnado, mais Coragem moral ela realiza em seu estado íntimo. Assim, diante dos princípios e leis Espíritas, Kardec concluiu que o conhecimento sobre a reencarnação é o mais eficaz instrumento para se aniquilar de vez a Covardia moral, cujo resultado mais nefasto é o suicídio. Por isso, o organizador

Com seu tirocínio filosófico, Allan Kardec acertadamente deduz que o Espiritismo, ao combater definitivamente o Materialismo, ou seja, aquela ilusória pretensão de que somos exclusivamente o resultado da evolução da matéria, contribui sobremaneira para a construção da Coragem moral e a consequente

do trabalho dos Espíritos, concluiu que a principal missão do Espiritismo é combater o Materialismo. A experiência espírita demonstra que, quando plenamente consciente de que as agruras existenciais não passam de provas ou expiações livremente escolhidas para se alcançar condições mais virtuosas do sentimento, o Espírito reencarnado desenvolve Coragem moral fortalecendo sua resistência em face do egoísmo, vício radical resquício da evolução do instinto, do qual se originam e se alimentam todos os demais vícios espirituais.

redução da Covardia. Esta última se fortalece toda vez que nos recusamos a enfrentar nossas dificuldades existenciais íntimas, como, igualmente, os deprimentes estados sociais, nos quais, pelo fragilidade do senso Ético da humanidade, ainda prevalecem a miséria de muitos provocada pela injustiça de uns poucos privilegiados. Não foi por outro motivo que os Espíritos, na resposta 932, de O Livro dos Espíritos, atestaram que, embora fadado ao insucesso, o Mal ainda sobrepuja o Bem no mundo, especialmente em virtude da timi-

dez dos bons, ou seja, da Covardia moral daqueles que, embora já mais capacitados a oferecerem resistência à influência insidiosa dos ainda moralmente equivocados, se omitem, permitindo que a iniquidade sacrifique sempre os mais fracos. Assim, estes dois conceitos analisados e esclarecidos por Allan Kardec, a Covardia e a Coragem moral, são de fundamental importância para investigarmos nossas condutas e comportamentos cotidianos, nossas posturas diante das flagrantes injustiças sociais e danos humanitários que a modernidade ainda sustenta, especialmente nos países em que as Instituições democráticas se encontram em processo de fortalecimento, permitindo que os vícios egoísticos sobrepujem, com tanto escândalo, as tímidas posturas virtuosas. O fundamento evangélico para nortearmos nossas determinações já foi deixado pelo Manso Rabi da Galileia, ao nos recomendar: “Seja o seu sim, sim, e o seu não, não”. Cumpre a cada um buscar o conhecimento de si da maneira mais eficiente, tal como nos recomenda a pergunta 919 de O Livro dos Espíritos, a fim de que, desenvolvendo a Coragem Moral, não contribuamos, ainda que por culpa omissiva, para a preponderância do escândalo no mundo, pois, a advertência do Mestre Jesus ainda paira sobre nossas cabeças: “Ai daquele por quem vier o escândalo.” r


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