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5. Bibliografia comentada

A novela de Eustáquio Gomes é repleta de referências a outras obras, fazendo menções ora mais sutis ora explícitas a conceitos de diversos campos do conhecimento. Como propusemos neste Manual, questões relativas ao embate entre pragmatismo e utopia, ceticismo e credulidade, a visão material do mundo e a visão metafísica descortinam novas e muitas vezes difíceis perguntas. Mesmo assim, é importante apontar direções se procuramos diversificar nossos instrumentos de interpretação da realidade e tudo o que a envolve, em especial as obras de arte.

Seja numa perspectiva de enriquecimento cultural ou a partir de uma demanda da compreensão profunda dos múltiplos sentidos escondidos nas camadas da narrativa, o caminho importa sempre mais do que o destino. Daí a variedade de obras de referência que podem se relacionar com aspectos abordados até aqui e observados na leitura ou na releitura de O Vale de Solombra. Elas investigam noções facilmente relacionadas ao enredo principal, mas também a outros motivos que vão aparecendo à medida que a trama é construída. Por vezes é no detalhe, ou na pista deixada pelo autor, que se esconde um universo de outros enigmas a serem decifrados por vocês e por seus alunos.

Mas não vejam essa lista como material de estudo centrado em determinados propósitos deste ou de qualquer livro. A ideia é contribuir para o alargamento de sua abordagem da obra literária, sabendo ser esse um percurso incerto, mas potencialmente rico se procuramos boas fontes de reflexão. Entre outras razões porque não temos a pretensão de esgotar os temas no diálogo com estas ideias. Portanto, após ler os comentários aos títulos a seguir, já é possível exercitar a memória e procurar as conexões com a história de Luís Quintana, Benjamin, Luisito e os demais personagens da novela.

BACHELARD, Gaston. A Poética do Devaneio. Tradução de Antônio de Pádua Danesi.

São Paulo: Martins Fontes, 1988. Não tanto porque Bachelard recupera ideias de Jung — autor importante para alcançar outros sentidos no livro de Eustáquio Gomes — mas especialmente pela abordagem que faz da relação entre a imaginação e os psiquismos humanos, A Poética do Devaneio há de provocar uma série de reflexões sobre os lugares do sonho — acordado ou dormindo — e o ofício de quem escreve literatura.

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BERNARDO, Gustavo. O Livro da Metaficção. Ilustrações de Carolina Kaastrup. Rio de

Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2010. Um romance que conte a história de outro romance. Um filme no qual o espectador veja o personagem encenando outro filme sobre como os filmes são feitos. Eis alguns exemplos do fenômeno que leva Gustavo Bernardo a se perguntar: “Por que a ficção precisa falar tanto da própria ficção?”. Embora as questões que levanta sejam filosoficamente complexas, o maior mérito da obra está na clareza com que desvenda esses enigmas conceituais que continuamente nos são colocados pelas boas obras de arte. CHIAMPI, Irlemar. O Realismo Maravilhoso. São Paulo: Perspectiva, 2008. Este é provavelmente o livro mais completo e criterioso na abordagem do conceito que tangencia outros — como o Fantástico e o Maravilhoso — muitas vezes confundindo leitores e pesquisadores quanto à suas marcas de distinção. O volume é teórico, mas não deixa de abrir muitas perspectivas de sentido para quem já se encantou com as narrativas de Gabriel García Márquez e do cubano Alejo Carpentier. COSTA, Max. MELO, Thiago. Uma Introdução à Metafísica. Curitiba: InterSaberes, 2015. O tema metafísico tão explorado no romance pode ser ampliado em compreensão, se o professor for aos conceitos que norteiam aquela ciência — partindo de Aristóteles, em sua abordagem da Filosofia Primeira, passando pelo argumento ontológico e a

Crítica de Kant até os argumentos que procuram explicar os fenômenos mais complexos (ou talvez de fato inexplicáveis) propondo alternativas às leis do mundo físico. ECO, Umberto. O Nome da Rosa. Tradução de Aurora Bernardini e Homero Freitas de

Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Dos maiores clássicos da literatura publicados no século XX, O Nome da Rosa mistura elementos de literatura policial e romance histórico. Na trama, que se passa num mosteiro beneditino no século XIV, ocorre uma série de assassinatos de monges e a investigação do frade franciscano William de Baskerville — personagem que alude a Sherlock Holmes — acompanhado de seu assistente Adso (Watson). O tema dos livros proibidos mobiliza parte importante da intriga. ECO, Umberto. Sobre a Literatura: ensaios. Rio de Janeiro: Record, 2003. Estão aqui reunidos alguns dos ensaios mais instigantes do escritor e teórico italiano, percorrendo temas como as funções da Literatura, estilo e símbolo. Em dois dos textos, a menção a Borges faz pensar sobre a sua utilização da cultura universal como componente do jogo textual entre escritor e leitor. Mas também despertará grande interesse o artigo sobre a Ironia Intertextual e os Níveis de Leitura. JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy e Dora Mariana Ferreira da Silva. Petrópolis: Vozes, 2000. O autor transformado em personagem neste livro merece ser lido sempre, em especial por uma de suas proposições mais inquietantes: há aspectos do comportamento humano que não podem ser explicados segundo a experiência individual ou a ação do inconsciente de uma pessoa, mas sim a partir de formas de psique que estão

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“presentes em todo tempo e todo lugar”, como arquétipos compartilhados. A repetição desses motivos ou temas na História reforça a importância de Jung para muito além dos estudos da Psicologia. Suas ideias contribuem para a análise de diferentes fenômenos: da literatura à música e muito mais. MACHADO, Ana Maria. Como e Por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2002. A construção de um repertório de leitura que permita ao indivíduo aumentar os seus horizontes de significação são o mote para que Ana Maria Machado recupere uma série de histórias universais e atemporais, para refletir sobre o prazer que elas podem proporcionar. É obra fundamental para professores de todos os segmentos, problematizando também as condições de existência do texto literário nas salas de aula. MINDLIN, José. Uma Vida entre Livros: reencontros com o tempo. São Paulo: Edusp/

Companhia das Letras, 1997. Nesta belíssima edição ilustrada, o bibliófilo conta sua história, recheada de casos interessantes, mas discute também a paixão pelos livros, revendo os elementos constituidores da cultura na qual se inserem os profissionais de encadernação — como a personagem Diva —, editores, livreiros, gráficos e escritores. Do prazer sensível de tocar e folhear as páginas aos grandes sentidos da leitura, a obra vai muito além da biografia de um colecionador. POUILLON, Jean. O Tempo no Romance. Tradução de Heloysa de Lima Dantas. São Paulo:

Cultrix, 1974. Diferente de muitas obras teóricas que se detêm especialmente sobre a intriga para estabelecer uma visão crítica sobre o gênero, o livro de Pouillon segue provocador na na análise a partir da elaboração temporal e tudo o que a envolve — noções como a da cronologia dos acontecimentos, termos como passado, presente, futuro e mesmo o ritmo da narrativa e mais. SCHÜLER, Donaldo. Teoria do Romance. São Paulo: Ática, 2000. A obra do professor Donaldo Schüler promove o debate sobre o gênero, abordando alguns dos seus conceitos mais fundamentais — intertextualidade, narrador, personagem, tempo, espaço e imaginação — e investindo sobre exemplos retirados de alguns dos maiores romances da literatura universal. SPERBER, Suzi Frankl. Ficção e Razão: uma retomada das formas simples. São Paulo:

Aderaldo & Rothschild/FAPESP, 2009. A partir das narrativas orais, universais e dos contos de fadas, Suzi Sperber reúne nesse livro discussões teóricas que não miram apenas os grandes estudiosos da matéria literária. Justamente porque é na linguagem comum, no que é próprio à fala e à escrita dos homens em seu tempo e lugar que repousa o seu olhar revelador. STIERLE, Karlheinz. A Ficção. Tradução de Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Caetés, 2006. Neste volume curto está a grande contribuição de Stierle para pensar modalidades já investigadas por muitos outros autores, desde Aristóteles até Heidegger, e colocar

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em questão as relações entre ficção, realidade e imaginário, chegando à discussão sobre os lugares da ficção e da teoria da literatura. VALLADARES, Henriqueta do Couto Prado (org.). Paisagens Ficcionais: perspectivas entre o eu e o outro Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. A coletânea de artigos tem como ponto de convergência as “viagens” empreendidas por autores que acabam por “ficcionalizar a si mesmos”. São reflexões nas quais o leitor vai compreendendo como é criada uma nova cartografia a partir das construções do imaginário social. Estas análises dialogam intensamente com O Vale de Solombra. VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. Os longos anos de experiência de Suzana Vargas à frente de cursos e projetos de promoção da leitura a levaram a conduzir essa reflexão bem fundamentada conceitualmente e de máximo interesse para educadores de todos os níveis. As discussões sobre o papel das Rodas de Leitura e a “arte de ler em grupo” são contribuições decisivas para a formulação de manuais como este que vocês têm nas mãos.

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O vale de Solombra

Eustáquio Gomes

ISBN: 978-65-88439-01-2

Temas: Os mistérios da vida e da morte, muito além dos limites do conhecimento e da mente humana sobre ambos

Gênero: Novela

Ensino Médio

Paratexto de apoio ao aluno e material digital: Ricardo Benevides

LFE EDITORA, CONSULTORIA E NEGOCIOS LTDA

Rua João Pereira, 81 | Conj22 São Paulo | SP | 05074-070

1ª edição 2021

Ricardo Benevides é escritor, professor adjunto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Doutor em Literatura Comparada (Uerj, 2010).

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