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Carta aos Professores

Prezada Professora, Prezado Professor,

Vamos conversar um pouco sobre este Manual que oferecemos a vocês na intenção de contribuir com o seu trabalho em sala de aula com os estudantes. Em primeiro lugar, não deve ser visto como texto de orientação ou guia para estabelecer atividades de resposta definida, ao abordar a narrativa no ambiente escolar ou a partir dele. Trata-se de uma proposição para ampliar os olhares sobre a obra, destacando aspectos que porventura não chamaram tanto a atenção de vocês (e dos alunos) na primeira leitura. É claro, o Manual está articulado com os princípios da Base Nacional Comum Curricular, mirando a construção de conhecimentos em várias áreas, mas especialmente em Língua Portuguesa e Literatura. Ora de maneira mais explícita, ora mais indireta, o material deve mobilizar as competências gerais de conhecimento, pensamento crítico e criativo, repertório cultural e comunicação — de acordo com as competências gerais 1, 2, 3 e 4 da BNCC. Também está conectado ao texto de apoio oferecido aos estudantes.

Dentro desta proposta, encontraremos discussões que partem de um valor fundamental para a Educação, o que vê na arte mais que um caminho para aprimorar a sensibilidade do espírito e engrandecer a nossa humanidade. A arte sempre teve um papel importantíssimo para que as pessoas pudessem lidar com a realidade. Como diz Antonio Candido, mais especificamente sobre a Literatura, ela é “uma necessidade universal experimentada em todas as sociedades. Das sociedades mais primitivas às mais avançadas, o homem tem necessidade de efabular”. O professor cita Goethe para lembrar que o “homem entra na literatura e quando sai está mais rico e compreendendo melhor o mundo”.

Portanto, alinhados a estas ideias, precisamos falar sobre as obras de arte, sobre os livros de literatura com o interesse de extrair o melhor deles, numa operação de troca de impressões, pesquisa, leitura e releitura. Isto não significa que será feito de maneira igual por todos os leitores. Por mais que apontemos questões a partir dos livros, essa construção de sentido é sempre particular, porque é mediada pelo repertório anterior de leitura, pelas vivências e tangenciada pelos afetos de cada um.

Vejam por exemplo o destaque da quarta capa deste O Vale de Solombra. Lá está um complemento ao título ou provocação aos leitores: “Vale de encantos e mistérios”. Eis aí um ponto para pensar no que acabamos de mencionar sobre as particularidades de cada leitura. Sim, porque o que encanta um não age de maneira tão intensa sobre outro. Há mistérios

SUMÁRIO

que inquietam os mais céticos, podendo não parecer nada tentadores aos mais crédulos. Cada leitor vive essa condição de autonomia para fazer do livro o que bem entender.

Porém, também partimos da vontade de fazer o aluno pensar sobre tudo o que pode envolver a sua vida, formulando novas noções, ampliando sua capacidade de argumentar, diversificar suas escolhas e aprender sobre si mesmo. A transformação que uma Educação proporciona, nesses momentos, se assemelha à grande metáfora proposta neste livro. Não sabemos o que é o destino final, mas é a caminhada que importa. É nela que vamos fazendo as escolhas do trajeto e percebendo o que nos reserva a história — do texto e a nossa.

A obra que vamos investigar é rica em intertextualidades, de texto econômico, cheio de polissemias, e convida a refletir sobre alguns dos maiores temas da humanidade. A relação entre vida e morte, o conhecimento sobre o mundo material em contraponto às explicações metafísicas, o papel do sonho na existência do homem, a paixão pelos livros, a sabedoria ancestral de culturas orientais, tudo isso compõe um quadro desafiador para o leitor desavisado.

É claro, ele pode extrair compreensão e prazer desta história sem ir fundo nos detalhes, apenas deixando-se entreter pela prosa ágil e sedutora de Eustáquio Gomes. Aqui e lá vai esbarrar numa palavra incomum à experiência coloquial, mas isto não tende a dificultar em nada a sua entrega à narrativa — chegando mesmo a enriquecê-la, como veremos numa proposta à frente.

Podemos avançar, e que esse caminho seja produtivo para vocês e seus alunos.

SUMÁRIO