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3.2 Proposta de produção de texto

Voltando ao enredo, logo nos primeiros capítulos da onírica parte 2, depois de entrar no Packard de Funes, o carro segue em descida interminável entre “paredões de pedra” formando “gargantas tão estreitas, que nelas não cabia mais que um veículo [...] E a descida era íngreme”, (p.75). O que parece a descida ao inferno (de Dante. Lembram da epígrafe?) leva Quintana a encontrar Domitila. Ela diz: “Já sei, Funes mandou o senhor para cá. Ele sempre me manda os perdidos deste e de outro mundo”, (p.80).

O que se segue adiante é uma sucessão de ocorrências no mínimo improváveis, mas que vão sendo aceitas naturalmente por Quintana e também, muito possivelmente, pelo leitor. Para compreender melhor esse território fértil às circunstâncias místicas, devemos propor outras leituras e atividades que aprofundem o espírito crítico dos estudantes sobre o gênero do Realismo Maravilhoso.

No romance Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, uma das epígrafes antecipa a fala do protagonista, o velho Tuahir: “O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.

Mia Couto é das vozes mais marcantes da Literatura Africana de todos os tempos. Traduzido em muitos idiomas ele fez chegar a diferentes partes do mundo histórias com enredos surpreendentes, encantadoras por seu exercício inventivo (na verdade, reinventivo) da linguagem. Nelas, a riqueza da cultura de seu continente se reflete nas descrições dos personagens, na elaboração de tramas que investem com frequência nos episódios que chamaríamos de sobrenaturais, mas que são até certo ponto triviais no plano do animismo africano. Daí a recorrência com que sua obra é compreendida nos termos do Realismo Maravilhoso.

Sendo assim, queremos propor duas leituras de contos bem curtos daquele escritor, ambos do livro Na Berma de Nenhuma Estrada (Companhia das Letras, 2015). O primeiro se chama “A Morte, o Tempo e o Velho”. O segundo é o conto que dá título à obra. Vejamos um trecho:

“— A senhorinha segue na cidade? — Não, vou para a outra, a seguinte. — É que depois não há mais cidade. Depois não há mais lugar nenhum. — É exactamente aí que eu vou. Riem-se. Dizem que sou louca. Por pouca sorte, não sou. Quando somos loucos a vida nunca nos faz mal. Eu sou é de outra vida, não venho de ninguém, nem vou para nenhum Deus.”

SUMÁRIO

• Peçam a dois ou mais voluntários para lerem os contos em voz alta para a turma.

Depois discutam o que exatamente nessas narrativas estabelece o caráter do maravilhoso, algo próximo do sobrenatural. Então perguntem que relação eles veem entre essas histórias de Mia e o enredo de O Vale de Solombra.

Com base nessas reflexões e leituras, proponham aos estudantes a escrita de uma nova viagem, a outro lugar diferente, onde Quintana não esteve.

• Gostaríamos que vocês produzissem um texto, como se fossem acrescentar um novo trajeto ao destino de Luís Quintana, na parte 2 do livro. Vocês devem considerar esse clima de sonho, escrever dentro do espírito de imaginação livre sobre a geografia do futuro destino, mas raciocinando sobre como as viagens anteriores foram narradas e o que elas têm em comum.

SUMÁRIO