TCC arqurbuvv - Preenchendo Vazios Urbanos: Uma proposta de reconfiguração para Vila Velha - E.S.

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ARQUITETURA E URBANISMO

2021/2

PREENCHENDO VAZIOS URBANOS: UMA PROPOSTA DE RECONFIGURAÇÃO PARA VILA VELHA – ES

FLÁVIA LOPES DO NASCIMENTO



UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

FLÁVIA LOPES DO NASCIMENTO

PREENCHENDO VAZIOS URBANOS: UMA PROPOSTA DE RECONFIGURAÇÃO PARA VILA VELHA - ES

VILA VELHA 2021


FLÁVIA LOPES DO NASCIMENTO PREENCHENDO VAZIOS URBANOS: UMA PROPOSTA DE RECONFIGURAÇÃO PARA VILA VELHA - ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Profª. Drª. Ana Paula Rabello Lyra

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FLÁVIA LOPES DO NASCIMENTO PREENCHENDO VAZIOS URBANOS: UMA PROPOSTA DE RECONFIGURAÇÃO PARA VILA VELHA - ES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Profª. Drª. Ana Paula Rabello Lyra Parecer da comissão em 25 de novembro de 2021. COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Paula Rabello Lyra Universidade Vila Velha Orientadora _______________________________ Prof.ª Me. Izabela Uliana Pellegrini Universidade Federal do Espirito Santo Membro Externo _______________________________ Iago Longue Martins Universidade Vila Velha Avaliador Interno

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Aos amores da minha vida: meus pais, Rose e Antônio, minha irmã, Fernanda, meu sobrinho, Bento e ao meu companheiro, Elio.


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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a ela que foi a minha sustentação em cada um dos desafios que vivi até hoje e é a maior incentivadora que eu tenho para ser uma pessoa e aluna melhor todos os dias, minha irmã Fefe. Aos meus queridos papai e mamãe, que sempre fizeram tudo para que eu realizasse cada um dos meus sonhos, eu os amo muito. Ao meu amor Elio, meu companheiro de vida, ainda conquistaremos o mundo juntos. À minha orientadora Dra. Ana Paula Rabello Lyra, por ter sido uma mentora e inspiração para mim. A pesquisa científica foi parte fundamental dos últimos anos da minha vida, e minha graduação em Arquitetura e Urbanismo não teria sido tão gratificante se nossos caminhos não tivessem se cruzado. À minha co-orientadora Arquitetura e Urbanista Me. Izabela Uliana Pellegrini pela ajuda sempre e por todo conhecimento compartilhado.

Ao meu co-orientador Iago Longue Martins, que contribuiu de forma abundante para o meu trabalho.

Flávia Lopes do Nascimento



“Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia O medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia Então erguemos muros que nos dão a garantia De que morreremos cheios de uma vida tão vazia Nas grandes cidades de um país tão violento Os muros e as grades nos protegem de quase tudo Mas o quase tudo quase sempre é quase nada E nada nos protege de uma vida sem sentido Entre as sombras, entre as sobras Da nossa escassez Um dia super, uma noite super Uma vida superficial Entre cobras, entre escombros Da nossa solidez Nas grandes cidades de um país tão irreal Os muros e as grades Nos protegem de nosso próprio mal Levamos uma vida que não nos leva a nada Levamos muito tempo pra descobrir Que não é por aí não é por nada não Não, não, não pode ser é claro que não é, será? Meninos de rua, delírios de ruína Violência nua e crua, verdade clandestina Delírios de ruína, delitos e delícias Violência travestida, faz seu trottoir Em armas de brinquedo, medo de brincar Em anúncios luminosos, lâminas de barbear Viver assim é um absurdo (como outro qualquer) Como lutar pelo poder (lutar como puder)“

Humberto Gessinger e Augusto Licks


RESUMO Esse trabalho busca compreender os efeitos das rupturas urbanas na cidade contemporânea, utilizando como recorte a área compreendida pelo bairro Divino Espírito Santo no município de Vila Velha, E.S.. A pesquisa identifica o crescimento acelerado e os princípios funcionais modernistas do desenvolvimento das cidades nas últimas décadas, como responsáveis pela atual morfologia repleta de rupturas da cidade contemporânea. Destaca-se dentre estas rupturas, ao observar a malha urbana, uma variedade de áreas de vazios subutilizados e ociosos. As características especulativas por parte do setor imobiliário desta ocupação, sugere que estes espaços ociosos existem devido à ausência de uma ocupação mais democrática. Ao identificar tal problemática, o estudo propõe maneiras de qualificar e recuperar os vazios urbanos por meio do levantamento teórico e projetual, que irá embasar uma intervenção e propor formas de ocupações democráticas da cidade. Com o diagnóstico da área de intervenção, conclui-se apresentando uma proposta projetual amparada em estratégias embasadas pelas diretrizes e conceitos abordados, criando áreas igualitárias capazes de reconciliar as rupturas visando a valorização do pedestre. Palavras-chave: Vazio urbano; Espaços ociosos; Ruptura urbana; Dignidade Urbana.


ABSTRACT the present paper aims to understand the effects of urban ruptures in the contemporary city, using the area comprised by the Divino Espírito Santo neighborhood in Vila Velha, E.S. and proposing ways to qualify and recover urban voids through a theoretical and projectual survey, which will support an intervention and propose forms of democratic occupations. Focusing on the intervention, the research starts from the accelerated growth of cities in recent decades, where it is possible to observe in the urban fabric a variety of underutilized and idle empty areas, which are consequences of the urbanization process for the morphology of the urban space. These spaces exist due to the lack of occupation, social interest, transformation of urban uses and also as a consequence of real estate speculation. With the diagnosis of the intervention area, it is concluded by presenting a proposal supported by strategies based on the guidelines and concepts discussed, creating egalitarian areas that promote urban vitality. With the diagnosis of the intervention area, it is concluded by presenting a project proposal supported by strategies based on the guidelines and concepts discussed, creating egalitarian areas capable of reconciling the ruptures aiming at the valorization of the pedestrian.

Keywords: Urban voids; Residual urban voids; Urban rupture; Urban fragmentation.


LISTA DE ABREVIATURAS APA Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde DOTS Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável FAPES Fundação de apoio à Pesquisa do Espírito Santo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS Instituto Nacional do Seguro Social ITDP Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento PDM Plano Diretor Municipal PDUI Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado PIB Produto Interno Bruto POPS Privately Owned Puclic Spaces PMVV Prefeitura Municipal de Vila Velha RMGV Região Metropolitana da Grande Vitória SEDEC Secretaria Nacional de Defesa Civil TPCL Cadastro Territorial Predial de Conservação e Limpeza


LISTAS DE MAPAS Mapa 1 - Localização do bairro Divino Espírito Santo Mapa 2 - Zoneamento urbano do bairro Divino Espírito Santo Mapa 3 - Vazios urbanos do bairro Divino Espírito Santo Mapa 4 - Perfil fundiário do bairro Divino Espírito Santo Mapa 5 - Figura fundo de padrão de ocupação do bairro Divino Espírito Santo Mapa 6 - Figura fundo da malha viária do bairro Divino Espírito Santo Mapa 7 - Classificação viária do bairro Divino Espírito Santo Mapa 8 - Características da mobilidade urbana do bairro Divino Espírito Santo Mapa 9 - Infraestrutura e equipamentos urbanos do bairro Divino Espírito Santo Mapa 10 - Percepção ambiental do bairro Divino Espírito Santo Mapa 11 - Infraestrutura e equipamentos urbanos do bairro Divino Espírito Santo Mapa 12 - Percepção ambiental do bairro Divino Espírito Santo Mapa 13 - Rupturas - vazio urbano Mapa 14 - Rupturas - elemento natural Mapa 15 - Rupturas - ruptura viária Mapa 16 - Rupturas - enclave fortificado Mapa 17 - Rupturas - aglomerado subnormal Mapa 18 - Síntese das rupturas Mapa 19 - Síntese das rupturas com região de estudo Mapa 20 - Mapa de potencialidades e vulnerabilidades da região de recorte Mapa 21 - Mapa de morfologia da região de recorte Mapa 22 - Mapa de caracterização da região de recorte Mapa 23 - Mapa de uso e ocupação do solo da região de recorte Mapa 24 - Manter, renovar e requalificar da região de estudo. Mapa 25 - Diretrizes de ocupação da região de estudo Mapa 26 - Setorização de ocupação da região de estudo

42 43 44 44 44 45 45 46 46 47 48 48 49 49 49 50 50 50 52 52 53 53 53 56 56 56


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Taxa de urbanização: indicação de população urbana e rural no Brasil de 1940 a2010 Figura 2 - Contraste entre condomínio fechado e favela de Paraisópolis Figura 3 - Quadras curtas e Jacobs Figura 4 - Tipologias de quadras Figura 5 - 8 ações do DOTS Figura 6 - Relação de usos compactos Figura 7 - Imagem aérea metropolitana de Portland Figura 8 - Escala-humana de Jah Gehl Figura 9 - Escala-humana de Jah Gehl Figura 10 - Bahnhofstrasse, Zurique, Suíça Figura 11 - Categorias do iCam 2.0 do Índice de Caminhabilidade do ITDP Figura 12 - Conjunto das Artes - Vista da Rua Formosa Figura 13 - Diagrama de usos e implantação Figura 14 - Diagrama de usos e implantação Figura 15 - Conjunto das Artes Figura 16 - Central St. Gilles Court Figura 17 - Planta baixa do térreo- St. Gilles Court Figura 18 - Central St. Gilles Court Figura 19 - Planta baixa do térreo - Ed. Brascan Century Plaza Figura 20 - Brascan Century Plaza Figura 21 - Brascan Century Plaza Figura 22 -Brascan Century Plaza Figura 23 - Brascan Century Plaza Figura 24 - Edifício e Praça Seagram Figura 25 - Edifício e Praça Seagram Figura 26 - Planta baixa do térreo Figura 27 - Conexão do Conjunto das Artes Figura 28 - Aglomeração urbana da Grande Vitória em 1970 Figura 29 - Malha urbana de Vila Velha em 1950 Figura 30 - Malha urbana de Vila Velha em 1980 Figura 31 - Foto aérea de Vila Velha em 1990 Figura 32 - Inserção do Shopping Vila Velha, Hospital Vila Velha e Terminal de ônibus Transcol Vila Velha Figura 33 - Visualização de relevo do bairro Divino Espírito Santo Figura 34 - Espaço público no bairro Divino Espírito Santo Figura 35 - Rua Manoel Freitas Dias Figura 36 - Perfil Viário esquemático: Rua Emília Espírito Santo Figura 37 - Perfil Viário esquemático: Rua Getúlio Freire Nunes Figura 38 - Perfil Viário esquemático: Rua Juscelino Kubitscheck

26 28 33 33 33 34 34 34 34 35 35 36 36 36 36 37 37 37 38 38 38 38 38 39 39 39 40 42 42 42 42 43 43 45 46 47 47 47


Figura 39 - Canal na Av. Gonçalves Lêdo Figura 40 - Alagamento nos limites do bairro Divino Espírito Santo com o bairro com o bairro Praia da Costa Figura 41 - Canal enquanto ruptura elemento natural Figura 42 - Ruptura viária - via com velocidade permitida de 60km/h Figura 43 - Região de estudo Figura 44 - Implantação geral com desenho de paisagismo Figura 45 – Pavimento tipo geral Figura 46 – Quadra 01 implantação e humanizado Figura 47 – Extrema esquerda da quadra 01 Figura 48 – Extrema esquerda da quadra 01 Figura 49 – Kombi biblioteca na quadra 01 Figura 50 – Área livre na quadra 01 Figura 51 – Casa de acolhimento na quadra 01 Figura 52 – Casa de acolhimento na quadra 01 Figura 53 – Floreiras na quadra 01 Figura 54 – Quadra 02 implantação e humanizado Figura 55 – Playground infantil e ao fundo pet parque na quadra 02 Figura 56 – Área livres de uso público na quadra 02 Figura 57 – Quadra 03 implantação e humanizado Figura 58 – Jardim sensorial na quadra 03 implantação e humanizado Figura 59 –Espaços públicos na quadra 03 Figura 60 – Implantação da quadra 04 Figura 61 – Implantação humanizada com térreo dos edifícios da quadra 04 Figura 62 – Planta baixa dos pavimentos tipo da quadra 04 Figura 63 – Vista de espaços públicos da quadra 04 Figura 64 – Parkout a esquerda e Street skate a direita da quadra 04 Figura 65 – Parkout da quadra 04 Figura 66 – Relação de edifícios e espaços públicos da quadra 04 Figura 67 – A direita quadra 04 e a esquerda quadra 05 Figura 68 – Habitações do tipo HMP da quadra 04 Figura 69 – Habitação de interesse social de até 3 salários mínimos da quadra 04 Figura 70 – Implantação e humanizado da quadra 05 Figura 71 – Pavimento tipo da quadra 05 Figura 72 – Frente da quadra da quadra 05 Figura 73 – Horta comunitária da quadra 05 Figura 74 – Frente da quadra da quadra 05 Figura 75 – Permeabilidade visual entre edifícios e espaços públicos da quadra 05 Figura 76 – Implantação e humanizado da quadra 06 Figura 77 – Implantação e humanizado da quadra 06 Figura 78 – Áreas públicas da quadra 06 Figura 79 – Áreas públicas da quadra 06

48 48 50 50 52 61 61 62 62 62 62 63 63 63 63 64 64 64 65 65 65 66 66 66 67 67 67 68 68 68 68 69 69 70 70 70 70 71 71 72 72


1 INTRODUÇÃO 21

2 EXPANSÃO URBANA E PROCESSOS DE RUPTURA 25 2.1 A FORMAÇÃO DAS RUPTURAS 26 2.2 A MORFOLOGIA DAS RUPTURAS 27 2.3 OS VAZIOS URBANOS 30

3 CONCEITOS E ESTRATÉGIAS PARA MITIGAR AS RUPTURAS 33 3.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA A QUALIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE RUPTURA 34 3.2 REFERÊNCIAS PROJETUAIS PARA QUALIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE RUPTURA 36 3.3 CORRESPONDÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROJETUAL 41

4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO 43 4.1 BREVE HISTÓRICO 4.2 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO 4.3 DIAGNÓSTICOS E CONDICIONANTES 4.4 MAPEAMENTO DAS RUPTURAS

44 44 45 51

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 54 5.1 CONCEITO E MÉTODO PROJETUAL 55 5.2 PROPOSTA PROJETUAL 59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77

REFERÊNCIAS 80

ANEXOS 83


SUMÁRIO


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1. INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃO

Entender os vazios urbanos, significa investigar e analisar os diferentes fatores geradores do espaço urbano e suas consequências para a qualidade de vida urbana. A compreensão desse conjunto morfológico que constitui a cidade contemporânea perpassa a composição de formas, volumes e atributos que melhor qualificam as relações sociais e políticas da população. Ao longo dos anos a paisagem urbana sofreu grandes transformações, devido a crescente população e a intensa urbanização, resultando em uma acelerada concentração imobiliária, de indústrias, serviços e principalmente, de trabalhadores. Esta transformação gerou uma configuração urbana com reflexos nas dinâmicas de uso e ocupação do solo urbano. No Brasil, o aumento exponencial da população gerou um caos urbano, com soluções de espraiamento que levou uma parcela das pessoas a se instalarem em regiões periféricas e em áreas non aedificandi. Parte dessas ocupações que se constituíram de forma informal formaram o que o IBGE identifica como aglomerados subnormais. Trata-se do reflexo de um processo de urbanização despreparado, culminando em espaços urbanos caóticos, de um contexto que permitiu a origem das rupturas urbanas (SANTOS, 2005 e LYRA, 2020). A temática sobre Rupturas Urbanas vem sendo estudada pelo grupo de pesquisa Dignidade Urbana, liderado pela Professora Ana Paula Rabello Lyra e tem como foco a identificação e o mapeamento dos elementos morfológicos da cidade que impedem ou limitam a apropriação e fruição do pedestre. O grupo de pesquisa identifica como ruptura urbana 5 tipologias, dentre as quais, destaca-se as rupturas por vazios urbanos. O presente trabalho tem como foco os vazios urbanos, objeto de estudo de Iniciação Científica da autora desta monografia que também integra o Grupo de Pesquisa Dignidade Urbana, desde 2018. Os vazios urbanos, assim como as demais rupturas, são uma barreira na gênese de espaços urbanos dignos por configurarem-se pela ociosidade e autocracia do mercado imobiliário, Quando inseridas na dinâmica da cidade são nocivas tanto para a formulação de espaços enquanto entidades estéticas, quanto para a relação comportamental no interior e exterior dos espaços ociosos, pela sua dimensão de intervenção na produção dos espaços adjacentes. A existência dessa categoria no tecido urbano, prejudica o desenho urbano e a dinâmica da cidade e, consequentemente, também compromete a densidade urbana. Além disso, vazios urbanos são também um obstáculo para o adensamento e se tornam um instrumento de segregação. Verifica-se que a ocorrência desses vazios gera custos adicionais para a implantação e manutenção de uma infraestrutura em um novo espaço que poderia ter sido ocupado na área deste espaço ocioso. Ademais, a presença destes espaços que ocupam glebas consideráveis de parcelas urbanas das cidades faz com que as pessoas se tornem vítimas de grandes distâncias de deslocamento. Destacam-se ainda nesse processo, os vazios situados em áreas espraiadas da cidade que passam a compor em grande parte zonas periféricas (EBNER, 1997).

A relevância das questões voltadas para o tema das rupturas e dos vazios urbanos, ganhou repercussão social quando aconteceu, na Constituição Federal de 1988, a inserção de um capítulo voltado para a política urbana. Destacam-se os artigos 182º e 183 da Constituição Federal, regulamentados pelo Estatuto da Cidade, em 2001 com complementações sobre as políticas urbanas das cidades. Essas soluções trouxeram instrumentos para que os municípios possam ordenar a cidade em direção a um desenvolvimento e crescimento sustentável. O presente estudo centra-se na análise das transformações urbanas Brasileiras com foco na região metropolitana de Vitória, e pontualmente no Bairro Divino Espírito Santo, em Vila Velha. Pretende-se a partir da compreensão de como os vazios urbanos desqualificam o espaço urbano, encontrar meios capazes de reverter tal cenário e desenvolver uma proposta projetual de transformação urbana em nível de plano de massas. A área referida constituiu-se objeto de estudo e intervenção deste trabalho, pois possui uma quantidade de vazios urbanos expressiva, além da grande quantidade de terrenos que quando ocupados formaram uma nova tipologia de ruptura - os enclaves fortificados, tornando-se assim, objeto de interesse deste Trabalho de Conclusão de Curso. A partir de um diagnóstico da área de intervenção e entendendo as diretrizes teóricas estudadas, pretende-se indicar inovações que promovam a vitalidade do bairro, gerando segurança e qualidade espacial para a cidade. Dessa forma, a proposta será pautada em referenciais teóricos, considerando as reflexões sobre um desenho urbano que promova qualidade espacial e a ocupação dos vazios urbanos de forma digna e democrática. Para isso, norteia-se por características específicas do local de intervenção, incluindo os condicionantes locais e formas atuais de apropriação, identificados através da elaboração do diagnóstico. A relevância deste projeto se dá pela busca pela em buscar formas de materializar a vitalidade urbana e pela melhorar a qualidade espacial da área de estudos, por meio do levantamento teórico e pela da intervenção projetual proposta. A intensão é ocupar, propondo formas de ocupação de os vazios com características de vulnerabilidade para que se tornem espaços inclusivos e democráticos. Nesse sentido, abordado considerou-se a construção dos vazios urbanos e seus impactos, respaldados de informações georreferenciadas e do contexto pontual, buscando contribuir paraa promoção de a melhorias da estrutura urbana em foco, a partir do diagnóstico da área de estudo. O referencial pesquisado para embasar o diálogo teórico consistiu em diversos autores, em diferentes formatos de publicações, como livros, artigos e monografias, como Jacobs (2001), Gehl (2015) e Speck (2017), que atribuem ao desenho urbano, características e diretrizes capazes de formar espaços democráticos, providos de vitalidade urbana e que promovam a interação social e a diversidade de usos e funções.

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Para isto, o trabalho está estruturado em cinco capítulos, sendo estes, iniciados pela presente introdução. O Segundo capítulo apresenta a temática sobre o processo de expansão urbana, a consequente formação das rupturas decorrentes do aumento da população e das falhas da administração urbana. Ainda no capítulo 2 pode ser visto a caracterização de cada uma das tipologias de rupturas urbanas, com foco para os vazios urbanos. O terceiro capítulo traz três tópicos. O primeiro expõe as diretrizes e soluções teóricas que visam reverter as rupturas urbanas. O segundo tópico apresenta referências práticas projetuais de lugares que foram capazes de requalificar espaços que sofriam com processos de rupturas. Por último, o tópico três faz uma síntese entres os dois tópicos anteriores, relacionando as referências teóricas e práticas. O capítulo quatro apresenta a análise da região de intervenção, apresentando um breve histórico de formação do bairro, na sequência são apresentados a localização e características gerais e por último é realizado o diagnóstico e a análise de condicionantes, utilizando dados disponibilizados pelo GeoBases, da PMVV e elaborados pela autora. Por fim, o capítulo cinco apresenta a proposta de ocupação dos vazios urbanos, baseado em todas as diretrizes e conceitos teóricos e projetuais identificados. O resultado do trabalho visa recuperar e qualificar os vazios urbanos identificados, criando áreas democráticas que promovam a vitalidade urbana.

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Esse capítulo apresenta um breve histórico da origem das rupturas urbanas como reflexo das relações sociais e políticas e seus desdobramentos na morfologia das cidades a partir da metade do século XX. Está estruturado em três partes complementares, sendo a primeira aquela que relaciona a necessidade de expansão ao êxodo rural e seus desdobramentos na configuração das cidades. A segunda, tem como foco a caracterização das rupturas que surgiram a partir do espraiamento identificado no processo de expansão urbana e a última, na contextualização e implicações dos vazios urbanos. Sendo este último, o elemento de ruptura que caracteriza o fenômeno que instiga este estudo.

2. EXPANSÃO URBANA E A 25 CONFIGURAÇÃO DAS RUPTURAS


2.1 A FORMAÇÃO DAS RUPTURAS Para entender o processo que deu origem às rupturas urbanas, é necessário investigar e analisar os diferentes fatores transformadores do espaço urbano e quais os interesses por trás de cada um deles. Compreender esse fenômeno, é entender que a cidade contemporânea é um reflexo de relações sociais e políticas. Em 1960 foi deflagrado no Brasil um processo socioeconômico, o êxodo rural, que é o embrião das transformações que as cidades viveram desde então, pois esse processo culminou em um grande crescimento populacional, que é a causa da intensa urbanização das últimas décadas e firmou uma inesperada concentração imobiliária, de indústrias, serviços e principalmente, de trabalhadores (SANTOS, 2005). Ao longo do extenso processo de desenvolvimento das cidades existiram muitos ciclos de mudanças, em algumas o crescimento urbano ocorreu de maneira mais lenta, e em outros momentos de maneira acelerada. Esses ciclos implicaram em diversas modificações na morfologia das cidades, e o tecido urbano que pode ser visto hoje é uma implicação dessas transformações. Entender a formação das rupturas urbanas, significa entender todos os processos de transformação que acompanharam o desenvolvimento de uma cidade (SANTOS, 2005 e SCHAYDER, 2017). A nível mundial, esse processo teve início na segunda metade do século XVIII, entre 1750 a 1850, quando a cidade da Inglaterra foi alvo de um grande desenvolvimento tecnológico no processo de produção, onde vemos surgir as primeiras fábricas. Esse acontecimento implicou em transformações que modificaram a forma como os centros urbanos existiam anteriormente (SCHAYDER, 2017). No Brasil o inicio do crescimento econômico ocorreu por meio de incentivos econômicos à industrialização que deflagraram o processo de êxodo rural. A configuração urbana litorânea, espraiada e desarticulada que dominava o continente até então, começa a ser alterada por volta de 1930 com um tímido início de inflexão. Neste período ocorre o prelúdio da modernização da sociedade no Brasil, e vemos o fim da hegemonia dada economia agrícola, o início da migração rural-urbana e o surgimento das primeiras indústrias (SANTOS, 2005).

Figura 1 - Taxa de urbanização. Fonte: Atlas Socioeconômico, 2010

Após esse processo de transformação das cidades ao absorver a população rural, as regiões do Brasil reagiram a isso de diferentes maneiras, pois o ritmo de crescimento era superior à capacidade das autoridades de identificar e solucionar os problemas, caracterizando assim o início de diversas dificuldades no desenvolvimento das cidades, que é agravada com a formação das primeiras conurbações (SANTO, 2005 e MARICATO, 1987). Dessa forma, temos um grande movimento de formação urbana, com demandas habitacionais, para acomodar a crescente população econômica e para ofertar novos empregos, além de ser necessário a promoção de infraestruturas, relacionadas à mobilidade, à saúde, ao abastecimento e fornecimento de energia, água e outras necessidades básicas. A resposta dos gestores públicos para estas demandas surgiu de forma emergencial para resolver situações pontuais que com o passar do tempo foram se revelando parte dos grandes problemas urbanos que as cidades passaram a enfrentar (LYRA, 2020). A recessão que surgiu nos anos 80 e 90 do século XX associadas a um crescimento populacional superior ao do PIB, tornando o PIB per capita menor que zero, trouxe um forte impacto ambiental e social que se desdobrou no aumento da desigualdade social. Nesse momento, o Brasil passa a concentrar a pobreza nos grandes centros urbanos e uma exorbitante quantidade das pessoas passam a viver em áreas de vulnerabilidade ambiental como morros, áreas alagadas e várzeas (MARICATO, 1987). Surge como consequência desta desigualdade, um acentuado registro de ações antissociais que gerou insegurança na população. No final do século XX, diferentes cidades brasileiras lançaram algumas reformas urbanas com foco no saneamento básico, embelezamento paisagístico e na regularização imobiliária dentro do perímetro da cidade formal. Concomitante, a população que era excluída desse processo, ocupava meios de moradia cada vez mais insalubres. Esse processo pode ser visto na maior parte das capitais do Brasil, conjugando saneamento ambiental, embelezamento e segregação territorial. A região Sudeste que concentrava a maioria das atividades dos setores secundários e terciários e das migrações brasileiras registrava neste período os mais altos índices de informalidade da habitação. Esses, continuam crescendo e prejudicando os padrões de desenvolvimento urbano das cidades, assim como a paisagem natural e urbana (SANTOS, 2005). No processo de urbanização que vivemos hoje, que é conduzida por determinações contraditórias do modelo econômico que vivemos - o capitalismo -, o espaço urbano se torna a possibilidade concreta de extração da mais valia e da transferência de valor. Conforme Maricato (2015), a urbanização da forma como ocorre é o genitor dos baixos salários da periferia, da informalidade das habitações e da acentuação das26 desigualdades sociais e exclusão dentro das cidades.


Esse conjunto de acontecimentos materializados por um processo de planejamento racional funcionalista resultou em malhas urbanas difusas e monofuncionais (LYRA, 2020). Os problemas que foram gerados pelas conformidades acima que moldaram as cidades que vemos hoje, preocupam gestores urbanos, políticos e acadêmicos. Dentre esses problemas se destacam a exclusão social, o crescimento desordenado de áreas periféricas, o crescimento ordenado do solo concentrado em áreas litorâneas ou de interesse do mercado imobiliário e a presença de espaços introspectivos, negligenciados e ociosos dentro do espaço urbano consolidado. Segundo Maricato (2000), o processo de exclusão socioespacial é o resultado de cidades que na ausência de uma infraestrutura adequada para receber aquela quantidade de migrantes optou por assentá-los em habitações em série situadas nas periferias da cidade. Esses extensos conjuntos habitacionais acentuaram a ocupação dispersa do tecido urbano, com efeitos negativos para a morfologia da cidade. As principais consequências desse processo são relativas à segurança e à mobilidade. O vício nas decisões dos gestores públicos com o contínuo déficit habitacional ainda persiste em diretrizes urbanísticas que proporcionam desenvolvimento rápido, contínuo e prático, sem a devida preocupação com a qualidade de vida da população e da paisagem urbana. Verifica-se uma falta de aplicabilidade de instrumentos urbanos e o interesse da iniciativa privada em detrimento dos interesses da sociedade, tudo isso contribuindo para a má formação do espaço urbano. Esse estudo identificou nesse processo contínuo difuso a ocorrência de elementos que comprometem a fluidez e livre circulação do pedestre. São fragmentos isolados da cidade e caracterizados por glebas introspectivas, ociosas, negligenciadas ou inseguras à apropriação do pedestre. Esses fragmentos são identificados neste estudo como elementos de rupturas urbanas (LYRA, 2020). Dessa forma, é fundamental a compreensão dos efeitos das rupturas urbanas na cidade contemporânea, sendo necessário entender e identificar as suas diferentes formas que corroboram para um processo de fragmentação socioespacial e resulta em configurações segregadas. Na configuração atual das cidades, trata-se daquelas áreas identificadas dentro do próprio contexto urbano como ocupações com realidades espaciais, físicas e sociais contrastantes, materializadas por uma forma de diferenciação social e não-interação de grupos e classes sociais como resultado. Neste cenário que caracteriza a situação das cidades contemporâneas, o espaço urbano é projetado para o afastamento coletivo, com restrição do contato com a população (NETTO, 2014). 2.2 A MORFOLOGIA DAS RUPTURAS

A morfologia urbana pode ser definida como o estudo da forma que resulta entre os elementos constituintes do espaço urbano junto a componente humana e suas transformações ao longo do tempo. Os efeitos antrópicos dessa relação têm comprometido a função inclusiva da cidade, por meio da ruptura constante entre homem, natureza e cidade. Os elementos difusos, dispersos e introspectivos da cidade contrapõem-se à cidade inclusiva, em que a diversidade é materializada através das oportunidades que contribuem para a coletividade e para a participação de toda a comunidade na vida urbana, por meio do respeito pelo espaço e pela paisagem natural (LYRA, 2004). Essas premissas se materializam por meio da conciliação entre a paisagem e o tecido urbano e pelas demandas de expansão das ocupações urbanas com a paisagem ambiental intrínseca à região, aliados às premissas de conforto ambiental. Quando a ruptura morfológica ocorre, ou seja, o tecido urbano configura-se de forma retalhada em espaços ociosos, introspectivos e que inibem a apropriação e fluidez do pedestre, a cidade e sua população sofrem. Forma-se um espaço urbano constituído por fragmentos de enclaves fortificados, aglomerados subnormais, glebas vazias, introspectivas e áreas de preservação isoladas do tecido urbano. Essas são as características que condicionam o espaço urbano e formam as rupturas urbanas (LYRA, 2004), tornando ainda mais complexo manter as diretrizes que contribuem para tal. A morfologia urbana exposta no cenário acima, reflete a forma da desigualdade. As experiências vividas em determinadas partes da cidade são sempre diferentes, e em algumas circunstâncias sociais, podem chegar ao antagonismo. Na prática, temos a exclusão de um grupo de pessoas em determinadas áreas urbanas, contíguo a um espaço configurado e dividido entre cidade formal e informal, onde a primeira é diferenciada pelo planejamento e a segunda por assentamentos espontâneos, fugindo do processo de urbanização legal. A realidade descrita sugere que as cidades contemporâneas estão favorecendo a ocorrência de ambientes contraditórios à democracia. Isso se confirma ao observarmos o tecido urbano da cidade com grandes contrastes no tamanho das quadras e lotes identificados em regiões com realidades econômicas antagônicas. O que ocorre é a promoção de experiências negativas, marcadas pelas problemáticas urbanas já citadas, que intensificam as diferenças sociais e reforçam os sentimentos de separação e de ineficiência governamental. Verifica-se ainda na configuração morfológica do tecido urbano dessas cidades, uma transformação que tem reduzido as oportunidades de conexões, permeabilidade física do pedestre e espaços livres destinados ao uso público. O caráter do espaço público e da participação dos cidadãos na vida pública vem sendo drasticamente modificado, indicando uma limitação também da legislação urbanística Brasileira. Essa situação permite e

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incentiva o crescimento desordenado da cidade, e conduz os instrumentos urbanísticos a favorecer positivamente o setor imobiliário e negativamente o contexto urbano em si. Ademais, surgem na dispersão do tecido urbano os fragmentos vazios sujeitos de especulação. A falta de continuidade governamental é mais um empecilho na manutenção da ordem urbana, visto que na prática as obras urbanas sofrem com irregularidades de governos, que apresentam propostas distintas e, em diversas situações, são interrompidas após o término do mandato governamental. O Plano Diretor Municipal (PDM), que é o principal instrumento legislativo urbano, tem a função de implementar a prática urbana positiva, porém funciona como uma barreira para tal. Na prática, o PDM não passa de um dispositivo que desvaloriza e segrega regiões, conduz à desproporcionalidade da divisão de orçamento e à falta de oportunidade de espaços coletivos de uso público. Esse conjunto morfológico culmina e intensifica os problemas de segurança urbanos e de segregação. Esse cenário de rupturas morfológicas sugere a necessidade de se promover uma política conciliadora das demandas de expansão das ocupações urbanas com a paisagem ambiental local, de forma a reduzir a ocorrência de uma malha fragmentada, introspectiva e dispersa. Para isso é preciso mitigar as barreiras físicas de descontinuidade que impedem a permeabilidade, a caminhabilidade e promovem a insegurança no espaço urbano.

Diante do exposto, deduz-se que as ocorrências de rupturas urbanas dentro de um espaço urbano constituído tornaram-se evidentes a partir do final dos anos 20, quando foram percebidos espaços residuais de sobra de áreas edificadas (Rubio, 2002, apud Binello & Maculan, 2019). Salgueiro (1998), identifica que esses espaços residuais podem ser constatados tanto em áreas centrais como em áreas periféricas. Em pormenores, as rupturas urbanas fazem referência a um processo, diante da dinâmica da cidade, e constituem-se de barreiras físicas de descontinuidade que impedem a caminhabilidade, a permeabilidade e fluidez do pedestre e promovem a insegurança no espaço urbano. A existência dessas conformidades, prejudica o desenho e a vitalidade urbana (DUARTE, 2002 e LYRA, 2021).

cidade exerce como concentrador de riqueza e população e, consequentemente, se torna um maximizador das desigualdades e das formas de assentamentos precários (SILVA, 2014). Nesse processo a dicotomia e o contraste entre as realidades formais e informais, esta última constituída pelos aglomerados subnormais, intensificam o que o Bauman (2009) chama de mixofobia, ou medo de misturar-se. Esse medo do desconhecido ou dos “excluídos” é identificado por LYRA (2021) como uma ruptura urbana, na medida em que o conjunto do aglomerado subnormal provoca uma quebra na continuidade do tecido urbano adjacente provocando uma sensação de insegurança e medo para livre circulação e apropriação de pedestres por entre suas vielas. Outra ruptura urbana identificada nos estudos de LYRA (2021) são os enclaves fortificados. Para compreender os enclaves é necessário entender a expansão do espaço urbano no Brasil, Teresa Caldeira (2000) identifica 3 tipologias de configuração urbana no Brasil no século XX. A primeira tipologia durou até 1940 e era caracterizada pela malha compacta e pela aglomeração de diferentes grupos sociais segregados pelas moradias desiguais. A segunda tipologia, que pode ser vista a partir dos anos 40, foi impulsionada pelos movimentos migratórios dirigidos aos centros urbanos, houve uma acentuação da polarização de classes sociais, surgiu a cidade industrial em que as classes média e alta residiam no centro, onde eram providas de infraestrutura e o restante da população era deslocada para loteamentos precários e distantes dos centros urbano, por vezes, irregulares. A partir da década de 1980, surge a última forma, em que é visto o padrão segregacionista prevalecer, mas espacialmente diferente das tipologias anteriores, no qual existia a relação centro x periferia. Esse novo padrão são os enclaves, caracterizados por aproximar grupos sociais semelhantes, separados por barreiras físicas (muros e grades) e sistemas de segurança dos demais grupos sociais.

Umas das tipologias de rupturas são os aglomerados subnormais, identificados pelo IBGE como um conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais caracterizadas pela ausência de título de propriedade e pelo menos uma destas características: irregularidade das vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes e/ou carência de serviços públicos e, essenciais como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e iluminação pública. (IBGE, 2010). Os aglomerados subnormais estão relacionados principalmente ao contexto econômico, relacionado ao papel funcional exercido pelas cidades na divisão territorial. Dessa forma, quanto maior a concentração de capital e mercado de trabalho, maior o atrativo que a

Figura 2: Contraste entre condomínio fechado e favela de Paraisópolis Fonte: http://www.gerts.ong.br/2019/09

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A terceira ruptura diz respeito a acessibilidade e a mobilidade urbana, que entraram em voga quando se tornaram um grande problema na expansão urbana e prioridade para o planejamento das cidades, tornando necessárias políticas públicas voltadas ao planejamento viário. A malha viária passa nesse momento a receber grande atenção no âmbito da pesquisa e planejamento urbano, pois é difundida a ideia de que cidades com malhas bem articuladas e com grande oferta de espaços destinados ao deslocamento do pedestre resultam em condições favoráveis ao desenvolvimento socioeconômico (GARATEGUY, 2011).

de rios destinados a ocupação de vias para circulação de veículos motorizados, seja pelas apropriações informais que ocorrem em suas bordas. Além dos canais negligenciados pelo crescimento desordenado e a urbanização das cidades, pode-se citar as áreas verdes que poderiam funcionar como espaços livres de uso públicos, mas que são mecanismos de reprodução de insegurança, fragmentação e isolamento (VIANA, 2019). Elementos naturais não planejados e amparados que podem ser definidos como rupturas e limites, não reproduzem ou representam a experiência real dos materiais que constituem a paisagem tátil. A experiência presencial na paisagem é conduzida por momentos, olhares e desvios acidentais, quando as experiências sensoriais se desdobram através de caminhadas, encontros e contatos habituais ao longo do tempo. A experiência sensorial de cada pessoa é dada pela experiência do corpo no espaço, o sujeito inserido na paisagem em contato com os elementos naturais é uma parte totalmente integrante das relações do meio em que vive (VIANA, 2019).

Partindo desse contexto, que coloca em evidência o planejamento viário, é possível identificar como o gerador dos problemas da acessibilidade e da mobilidade urbana, a descontinuidade das redes de ruas. Os fragmentos de malhas urbanas são constantemente modificados, adicionados sem que haja nenhum tipo de articulação com o tecido urbano existente. Essa circunstância é um gerador na diminuição de níveis de acessibilidade e deslocamento dos núcleos de centralidade, gerando um aumento dos percursos, má A inserção das áreas naturais de maneira planejada na malha urbana pode funcionar como distribuição dos fluxos e que impacta na natureza socioeconômica (GARATEGUY, 2011). uma solução, promovendo a qualificação de espaços públicos, a convivência social, e a A ruptura viária, identificada no contexto da mobilidade urbana, está focada nos diferentes aproximação da sociedade com a biofilia. níveis de descontinuidade da malha viária que impõe limites e são prejudiciais à A última tipologia identificada no estudo de LYRA (2021) como uma ruptura urbana são os caminhabilidade e causam a interrupção na permeabilidade do pedestre em circular pelo vazios urbanos. Os vazios urbanos constituem-se em barreiras na gênese de espaços tecido urbano. Mouette (1998) e Waisman (2004) definiram o termo “efeito barreira” para urbanos dignos, assim como as demais quebras que existem no tecido urbano. Inseridas na referenciarem às restrições ou dificuldades do deslocamento a pé, ocasionadas pelo tráfego dinâmica da cidade, não são prejudiciais apenas para a formulação de espaços enquanto e pela via de circulação gerando uma restrição ao livre movimento dos pedestres entre os entidades estéticas, mas também nocivas com a relação comportamental no interior e dois lados da via. Além das barreiras físicas causadas pelo tráfego de veículos, o risco ao exterior das regiões criadas com a dimensão da sua intervenção na produção dos espaços qual o pedestre está exposto ao caminhar, principalmente ao efetuar a travessia da via, gera (VAZ E SILVEIRA, 2007). uma queda na mobilidade dos pedestres. Os impactos do “efeito barreira” formam uma A cidade de Vila Velha tem crescido na mesma proporção que as rupturas urbanas citadas cadeia, e podem ser classificados em níveis diferentes, de acordo com o grau de interação acima. Multiplicam-se a dualidade entre bairros formais, planejados, com oferta dos mais que existe entre eles. variados serviços e com disponibilidade de lazer privativo e os bairros informais, com Outra tipologia de ruptura urbana são os Elementos Naturais, identificados como áreas de moradias irregulares, ausência de serviços básicos de infraestrutura, com escassez de potencial paisagístico da cidade que sofreram transformações antrópicas que serviços e comércios e espaços públicos de lazer desqualificados ou nulos. Essa negligenciaram a qualidade ambiental de suas áreas, em função de usos e apropriações que circunstância cria uma segregação socioespacial onde o espaço urbano possui parte constituíram barreiras para fluidez do pedestre e para a vitalidade urbana (JACOBS, 2013; integrada e parte não integrada, isso sendo demarcado por renda e capacidade de consumo GEHL, 2014). (HARVEY, 2009). Isso culmina na perda de várias funções ecológicas, sociais e psicológicas desses Nota-se, entretanto, que apesar dos estudos que evidenciam o aspecto nocivo dessa elementos de cunho geográfico-natural, como consequência das apropriações indesejadas dualidade, assim como da manutenção de políticas que favorecem a ocorrência e de sítios da cidade (HANNES, 2016). O referido cenário materializa-se em contraponto ao manutenção de processos especulativos como os vazios urbanos que fragilizam a sentido de cidade como resultado e espaço das relações sociais e de trocas (CHOAY, 2003). segurança e o processo de inclusão previstos no Estatuto das Cidades. Este estudo propõe Destacam-se no espaço urbano Brasileiro, os inúmeros canais (extintos rios) que funcionam debruçar-se sobre este aspecto específico da ruptura urbana por vazios urbanos, no intuito como limites e rupturas, pois foram negligenciados pelo crescimento do tecido urbano em de apresentar formas de mitigação deste cenário em uma parcela do município de Vila 29 detrimento de ocupações introspectivas que repelem a natureza, seja pelos tamponamentos Velha.


2.3 OS VAZIOS URBANOS

O ITDP identifica como vazio urbano espaços que contrariam o proposto sobre atributos Aqueles espaços ociosos da cidade, constituídos por glebas sem ocupação e apropriação relacionados a fachadas fisicamente permeáveis, urbana, em que o tecido urbano se configura como um espaço residual em meio a cidade visualmente ativas, uso público diurno e noturno e usos mistos, com perímetro de 50% da urbanizada e construída, são identificados como vazios urbanos. face da quadra ocupado por lotes sem uso, sendo terrenos vazios ou edificações sem uso. Os vazios urbanos passaram a ser problematizados na década de 1970, quando as condições precárias das formas de morar no perímetro urbano passam a ser questionadas por segmentos voltados para questões sociais. Até então, o espaço não vazio era ocupado por construções e o espaço vazio retratava as áreas verdes e os locais de circulação. Quando a aceleração do processo capitalista passa a ter um impacto no tecido urbano, os vazios mudam de natureza, deixam de ser espaços sem relevância, se tornam um indício de problemas na formação da cidade e que, possivelmente, as normas urbanísticas precisam de uma atenção à funcionalidade. Nesse mesmo período, a legislação urbanística começa a ser repensada, para que a cidade se torne funcional, justa e menos utópica (SIQUEIRA, 2010). A presença dos vazios indica uma sociedade formada por desigualdades no desenvolvimento social e econômico, que se molda para as regras do capital. Assim, é imprescindível, para entender os vazios urbanos, compreender como o teor político e as formas de manutenção de poder são enfáticas na presença e manifestação dos vazios urbanos (EBNER, 1997). Os vazios urbanos, como uma modalidade de ruptura, são uma barreira na gênese de espaços urbanos dignos, assim como as demais quebras que existem no tecido urbano. Inseridas na dinâmica da cidade, não são prejudiciais apenas para a formulação de espaços enquanto entidades estéticas, mas também nocivas com a relação comportamental no interior e exterior das regiões criadas com a dimensão da sua intervenção na produção dos espaços. As rupturas podem ser entendidas como processos ou produtos urbanos que negam ou levam a negação da vida urbana plena e digna (VAZ E SILVEIRA, 2007). Os vazios se manifestam no espaço urbano por áreas desabitadas vazias em locais de adensamento demográfico, localizados em zonas equipadas com serviços públicos coletivos e individuais. O acesso à terra em determinadas regiões da cidade indica como o contraste social se expressa na sociedade. Além de um obstáculo para o adensamento, se torna um instrumento de segregação, onde, além dos custos adicionais para a implantação e manutenção de uma nova infraestrutura em um novo espaço, afastado das regiões já adensadas, as pessoas se tornam vítimas de grandes distâncias de deslocamento. Ademais, os espaços espraiados e distantes do aglomerado urbano mais valorizado da cidade passam a compor, em grande parte zonas de aglomerados subnormais (EBNER, 1997). A classificação e a identificação dos vazios urbanos são ambíguas em relação a comprimento de quadra e metragem quadrada, assim como as suas características para reconhecimento.

No referencial teórico os vazios urbanos podem ser encontrados como áreas sem um futuro imediato, as quais o planejamento urbano não indicou a viabilidade de uso, espaços vazios ou fragmentados de solos em zonas degradadas da cidade consolidada, sem função dentro da cidade; espaços resultantes de processos econômicos e das crises ocorridas ao longo dos anos que resultaram em zonas abandonadas, vagas, incompletas ou desconecta; espaços que resultam do avanço urbano sobre lugares que antes eram identificados como polos industriais, com uma ampliação do desenho urbano desordenada ou ainda como espaços residuais da malha urbana (CLEMENTE, SILVEIRA, 2011; NASCIMENTO, 2016; Silva,1999; BORDE, 2003). Rolnik (1990) identifica como vazios urbanos lotes com área superior 500m² baseado em dados do Cadastro Territorial Predial de Conservação e Limpeza (TPCL). No Plano Diretor Municipal de Vila Velha é considerado imóvel urbano não utilizado todo tipo de edificação que esteja comprovadamente desocupada há mais de cinco anos ou quando o solo urbano é subutilizado em situações em que o coeficiente de aproveitamento não atinge o mínimo definido para a zona. Os vazios urbanos são prejudiciais para o espaço urbano por promoverem a ociosidade da infraestrutura já instalada e serem uma barreira na gênese de espaços urbanos dignos, assim como as demais rupturas. Quando inseridos na dinâmica da cidade, não são prejudiciais apenas para a formulação de espaços enquanto entidades estéticas, mas também nocivas com a relação comportamental no interior e exterior dos espaços criados com a dimensão da sua intervenção na produção dos espaços.

Além disso, os vazios urbanos são fomentadores da falta de segurança e controle, somamse a aspectos de oportunidades privada transformando os vazios urbanos em áreas de especulação formando terrenos supervalorizados providos de infraestruturas mantidas pela sociedade, enquanto uma parcela considerável, dessa mesma sociedade, se estabelece em áreas desprovidas de infraestrutura e serviços. Os vazios urbanos são também um obstáculo para o adensamento e se tornam um instrumento de segregação, onde, além dos custos adicionais para a implantação e manutenção de uma nova infraestrutura em um novo espaço, as pessoas se tornam vítimas de grandes distâncias de deslocamento, para além, os espaços espraiados passam a compor em grande parte zonas de aglomerados subnormais. Neste trabalho, os vazios serão levados em conta sempre que se configurarem como espaços ociosos, sejam eles por terreno vazio, edifícios desativados ou abandonados.

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Quando inseridos dentro de um cenário paisagístico são considerados um elemento natural. Além disso, configuram-se rupturas urbanas quando a dimensão do referido vazio implica em um impedimento para a fluidez do pedestre, para a permeabilidade urbana. A partir do entendimento da forma como as rupturas excluem e segregam o espaço urbano, criando fragmentação e isolamento entre os habitantes e tendo como a principal consequência a falta de vitalidade nas cidades, em especial a maneira como os vazios urbanos são prejudiciais para a cidade, a próxima seção vai apresentar métodos que visam a reintegração de espaços ociosos dentro do perímetro urbano.

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O conteúdo deste capítulo procura reunir um repertório capaz de ilustrar possíveis caminhos para uma intervenção que seja capaz de revitalizar vazios urbanos. Para isso, serão estudados no item 3.1 as principais fundamentações teóricas, utilizadas como referência para qualificação desses espaços e no subcapítulo 3.2 serão destacados três projetos com a mesma intenção, buscando edifícios de uso misto, que promovam permeabilidade, visibilidade espacial e a concepção do espaço através da dimensão da escala humana. Por fim, o último subtópico vai apresentar a correlação entre os dois subcapítulos anteriores, relacionando as estratégias identificadas na fundamentação teórica que foram adotadas nos projetos estudados.

3. CONCEITOS E ESTRATÉGIAS PARA MITIGAR OS VAZIOS URBANOS


3.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA A QUALIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE RUPTURA Pensar a cidade de forma a favorecer o pedestre diante do atual cenário de rupturas já descrito, depende de um olhar holístico com foco no usuário final da cidade, as pessoas. Nessa perspectiva buscou-se nas publicações de Jacobs (2001), Gehl (2015) e Speck (2017) um repertório que contribuíssem com esse olhar sobre o desenho e planejamento da cidade. Esses autores criticam a setorização urbana e incentivam o adensamento equilibrado e a diversidade, os espaços urbanos com distintos usos e ocupação destinados as pessoas de diferentes idades, padrões econômicos e etnias, e se opõem ao que pode ser visto nas cidades hoje: espaços de segregação social, econômica e étnica.

"Quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de modenatura, pode desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas fachadas contíguas" (PORTZAMPARC, 1997, p. 47.)

Em sua publicação “Morte e Vida de Grandes Cidades”, Jane Jacobs (2001), se contrapõe ao planejamento urbano monofuncional do período modernista e propõe um novo olhar focado em estratégias que sejam capazes de resgatar a vida nas cidades, a Vitalidade Urbana. A proposta contempla uma combinação de usos principais, como centros comerciais, conjuntos de moradias, atividades de lazer e educação, capazes de atrair pessoas para um determinado espaço. Para a autora, esses usos devem ser combinados a usos secundários para gerar diversidade urbana e potencializar esse espaço urbano a ser ocupado em diferentes horários do dia para promover a sensação de segurança que a população carece (JACOBS, 2001). Outra estratégia indicada pela autora é a adoção de quadras curtas. Elas são capazes de proporcionar maior permeabilidade, diferente de quadras mais longas, que não oferecem tanta diversidade de escolha. Permitir ao pedestre maiores possibilidades de escolha quanto aos seus percursos. Desta forma, lhes dá a possibilidade de conhecer novos lugares e proporciona encontros com o outro, com o diverso e com uma multiplicidade de experiências urbanas (JACOBS, 2001).

Figura 3: Quadras curtas de Jacobs. Fonte: Jacobs (2001), p. 198–199 apud Tenório (2012), p. 110.

Em relação a tipologia de quadras, Portzamparc (1997) complementa tal ideia, ao defender a configuração de quadras abertas como uma solução contemporânea para os grandes aglomerados urbanos. Ela consegue conciliar as características positivas da rua corredor da cidade tradicional e dos edifícios autônomos da cidade moderna. Nessa tipologia, os edifícios continuam sendo autônomos, mas a ligação entre eles são os vazios de travessia e permanência pública. O autor defende:

Figura 4: Tipologias de quadras. Fonte: Portzamparc, 1997.

A formação da diversidade urbana demanda também uma concentração relativamente alta de pessoas e da densidade urbana. No Brasil as cidades apresentam um modelo de crescimento urbano espraiado e disperso, setorizando diferentes áreas da cidade e formando baixas densidades populacionais. Esse tipo de ocupação do solo urbano tornou-se um problema com a expansão do tecido urbano em conjunto ao crescimento da população, o que acabou despertando uma corrida por novos modelos de gestão urbana. O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que tem intenção de promover cidades mais sustentáveis e compactas, e criou o Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), que é um modelo que busca reorientar as políticas e estratégias de planejamento e desenho urbano, através da construção de bairros compactos, de alta densidade, que proporcionam às pessoas diversidade de usos, serviços e espaços públicos seguros e ativos, favorecendo a interação social (WRI Brasil, 2021). O DOTS atua na definição do macrozoneamento e zoneamento urbanos e na identificação de projetos transformadores estruturados no entorno de um eixo ou entorno de estações de transporte coletivo. A estratégia pauta das ações da imagem abaixo tem a intenção de promover uma cidade compacta, eficiente, justa e saudável.

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O referido modelo baseia-se em uma ocupação urbana compacta que segue o seguinte conjunto de diretrizes urbanísticas: a promoção de unidade territoriais autônomas em termos de oferta de equipamentos, serviços, empregos e moradia, como forma de diminuir a demanda por transporte e as distâncias a serem percorridas; o fortalecimento de subcentros e a formação de novas centralidades para diminuir a convergência de deslocamentos para os centros das cidades; a ocupação do solo de forma compacta (maiores densidades populacionais e construtivas) para diminuir as distâncias intramunicipais e viabilizar o transporte coletivo e os modos não motorizados; a promoção da ocupação dos vazios urbanos para otimizar os deslocamentos via transporte público e a limitação da área de expansão urbana (GEHL, 2015).

Figura 6: Relação de usos compactos. Fonte: Rogers (2001), p. 39 apud Suassuna e Lacerda (2018), p. 127.

O referido modelo compacto é inverso à urbanização dispersa que produz a expansão e extensão da malha urbana e do modo de produção urbano para além dos limites da cidade consolidada. Nesse processo, predominam as baixas densidades habitacionais, apoiadas em um amplo sistema de infraestrutura viária, como destaca Sposito (2007). Essa forma de expansão urbana gera a fragmentação da ocupação do território, que deixa extensos espaços menos adensados entre núcleos urbanos ocupados.

consequência principalmente da atividade do mercado imobiliário em busca de novas (e mais baratas) áreas de ocupação, aliado ao recrudescimento da violência urbana, que leva as classes médias e altas a procurarem uma segregação planejada (CALDEIRA, 1997). Segundo os autores aqui citados, a promoção da densidade na cidade compacta não diz respeito apenas a verticalização e máxima ocupação do espaço urbano, pois é necessário existir um equilíbrio entre essa densidade para não comprometer a qualidade do conjunto construído nos aspectos referentes a fluidez e segurança do pedestre. Por esse motivo, para Jan Gehl (2015), as cidades precisam ser construídas com foco na “escala-humana”, em que a vida, os espaços de uso coletivos e os edifícios são pensados de forma complementar, e nessa ordem. O autor explica: “Eventos que ocorrem no espaço urbano ou nas portas e janelas dos andares térreos podem ser vistos a distância de até 100 metros. Nessas situações, também podemos nos aproximar e usar de todos os nossos sentidos. Da rua, temos dificuldade para perceber eventos que ocorrem nos andares mais altos. Quanto mais alto, maior a dificuldade de enxergar. Temos de recuar cada vez mais para ver, as distancias se tornam cada vez maiores e o que vemos e o percebemos diminui. Gritos e gestos não ajudam, muito. De fato, a conexão entre o plano das ruas e os edifícios altos efetivamente se perdem depois do quinto andar" (GEHL,2015,p.41.)

Imagem 7: Imagem área metropolitana de Portland, EUA, com a barreira de crescimento urbano bem definida. Fonte: Caos planejado, 2021.

A dispersão urbana e o distanciamento entre núcleos urbanos ocupados são caracterizados, ainda, como fenômenos contemporâneos, da pós-industrialização, sendo

Imagens 08 e 09: Escala-humana de Jah Gehl. Fonte: Jan Gehl, 2015, p. 40.

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Em relação a referida relação de “escala humana”, Jeff Speck (2012) complementa em seu livro “Cidade Caminhável", que um dos parâmetros fundamentais para garantia desta relação está na caminhabilidade. Para o autor o desenho urbano deve priorizar o uso de faixas de veículos estreitas a fim de proteger o pedestre e diminuir a velocidade e a arborização, capazes de reduzir o número de acidentes ao dar mais conforto para circulação do pedestre. Outro ponto destacado pelo mesmo autor é referente a qualidade do ambiente construído, onde as fachadas ativas e a diversidade da arquitetura devem ser privilegiadas para estreitar esta relação entre público e privado e por consequência, a caminhabilidade. Para o autor, esses fatores são necessários para que o espaço urbano seja confortável, interessante e seguro. Neste caso, as barreiras, limites e interrupções que são antagônicos a essas diretrizes devem ser excluídas da cidade. A caminhabilidade tanto contribui com a apropriação urbana, como também é um indicador dessa vitalidade, sendo um meio para melhorar o espaço público. Resultados de pesquisas ressaltam os benefícios da caminhabilidade na área social, econômica, ambiental e política SPECK, 2017).

O estudo da caminhabilidade e da valorização do pedestre é muito recente, ganhou destaque com as publicações de Gehl e Speck, e desde então se tornaram diretrizes para discussões e aplicações práticas em relação à mobilidade urbana. Um exemplo é a ferramenta desenvolvida pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento do Brasil (ITDP). O ITDP é uma entidade sem fins lucrativos que promove o transporte através da mobilidade sustentável e desenvolveu um Índice de Caminhabilidade. O objetivo é facilitar a mensuração das características do ambiente urbano que são determinantes para a circulação dos pedestres e apresentar recomendações a partir dos resultados obtidos nesta avaliação. Esse índice é composto por 15 indicadores, agrupados em 6 categorias para serem utilizados por pesquisadores e gestores públicos no diagnóstico da caminhabilidade, na escala do bairro (ITDP, 2019).

Assim como Gehl (2015) e Speck (2017), para Jacobs (2001), a promoção da caminhabilidade é fundamental, pois pessoas transitando em ruas e calçadas são os elementos mais importantes na promoção da vitalidade de uma cidade. A autora reforça a maneira como a diversidade de uso e a ocupação da cidade em todos os horários são fundamentais para o estímulo do dinamismo urbano. Em “Cidade para pessoas”, Gehl (2015) mostra que a vida acontece a pé. Autônomo a sua intenção, a caminhada pelo espaço urbano torna propício trocas e atividades sociais, que fazem parte dos percursos de um pedestre. O autor estabelece que andar é muito mais que percorrer um trajeto, o andar deve permitir que o pedestre pare, mude de direção, de velocidade, que corram. Um exemplo de cidade caminhável é Zurique, na Suíça, que possui uma mobilidade sustentável pautada na intensificação do pedalar e do caminhar. Além disso, a cidade é exemplo na promoção do transporte multimodal e na criação de estacionamentos subterrâneos para a formação de grandes praças e zonas exclusivas para pedestres e também do desestímulo do uso do transporte individual motorizado (ARCHDAILY, 2014)

Figura 11: Categorias iCam 2.0 Fonte: ITDP Brasil, 2019, p.13

A partir destas premissas, esse estudo identificou que para reverter o cenário de rupturas por vazios urbanos, esses espaços devem ser pensados de forma a promover a diversidade e a vitalidade urbana, através da inserção de tipologias que valorizem o pedestre, a caminhabilidade e a continuidade. 3.2 REFERENCIAIS PROJETUAIS PARA QUALIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE RUPTURA

Nesse tópico foram selecionadas 4 referências projetuais de projetos com usos diversos e interligados por meio da configuração em quadra aberta, como exemplos de edifícios que proporcionam a vitalidade urbana e a permeabilidade, como o conjunto Praça das Artes, o Central St. Gilles Court, o Brascan Century Plaza e o Conjunto Seagram. Figura 10: Bahnhofstrasse, Zurique, Suiça. famosa pelo intenso fluxo de pedestres (Foto: Pedro Szekely/Flickr, 2019)

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CONJUNTO PRAÇA DAS ARTES, São Paulo, Brasil, 2012 (Figuras 12 a 15) O Conjunto Praça das Artes está localizado no centro da cidade de São Paulo, e foi inaugurado em 2012. Sua área de implantação é um espaço consideravelmente reduzido, que anteriormente era caracterizada como uma área residual abandonada entre as edificações preexistentes. O conjunto ocupa um centro de quadra com entorno já consolidado. Para sua realização foi necessária a desapropriação de algumas casas vizinhas, feitas no decorrer do processo de execução do projeto que foi modificando e ampliado em relação a proposta original. O espaço disponível para o projeto era um conjunto de lotes interligados ao centro da quadra. Esta conexão entre os lotes tornou possível que o conjunto se desenvolvesse em 3 direções, o que possibilitou a implantação de três fachadas nas vias: Vale do Anhangabaú (Rua Formosa), Av. São João e rua Conselheiro Crispiniano.

Figura 12: Conjunto das Artes - Vista da Rua Formosa (Foto: Nelson Kon, 2016)

A implantação do edifício se tornou um marco na mobilidade da região. O térreo livre proporcionou uma travessia dentro da quadra com acesso para as três vias que circundam a quadra. Ao longo desta grande galeria aberta, alguns usos foram instalados, como comércios e serviços, com a intenção de tornar o centro da quadra atrativo.

Figura 13 e 14: Diagrama de usos e implantação. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-dasartes-brasil-arquitetura) Link só na lista de referências.

A princípio, o projeto funcionaria apenas como uma edificação anexo satélite do teatro municipal, com um programa voltado para atividades profissionais e educacionais de música e dança. Porém, ao longo de sua elaboração surgiram novas oportunidades para o conjunto de caráter público que possibilitou ampliar a proposta para promover, através da integração do edificado e da área comum, a convivência e a vida urbana. A partir desta ampliação, foi implantado no edifício além das Escolas, os Corpos Artísticos do Teatro Municipal. Os blocos do edifício variam de 2 a 13 pavimentos que se relacionam através de passarelas e rampas. Na fachada da Rua Formosa foi integrado também o antigo edifício do Cine Cairo ao complexo de artes, onde é possível identificar a forma como o novo edifício dialoga com suavidade e harmonia com os prédios preexistentes.

Figura 15: Conjunto das Artes. arquitetura)

(Foto: https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-

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CENTRAL SAINT GILES - RENZO PIANO, Londres, 2010 (Figuras 16 a 18) O Central Saint Giles Building está localizado em Camden, um distrito no centro de Londres, no Reino Unido. O projeto, datado de 2010, tem como proposta tornar a quadra que antes dava lugar a um único edifício abandonado, em um complexo de uso misto com escritórios, comércios, restaurantes e residências de interesse social. O projeto possui uma escala compatível com os edifícios do entorno. O térreo ativo possui uso público, mesclando comércios e áreas livres. Os blocos são independentes e cada uma das fachadas são únicas em altura, orientação, cor e relação com a luz natural. No centro da quadra há um grande pátio, que concentra a atividade pública, é neste espaço que a vida social é gerada, reforçando a identidade urbana do conjunto.

Figura 17: Planta baixa do térre- St. Giles Court. (Foto: RPBW – Planta, 2015)

Figura 16: Central St. Giles Court. (Foto: Michel Denance, 2015) Figura 18: Central St. Giles Court. (Imagem: Joost Moolhuijzen, 2015)

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BRASCAN CENTURY PLAZA - JORGE KONIGSBERGER E GIANFRANCO VANNUCCHI, São Paulo, Brasil, 2000 (Figuras 19 a 23)

O quarto exemplo é o Ed. de uso misto Brascan Century Plaza, que está localizado no bairro Itaim Bibi, em São Paulo. O lote anteriormente abrigava uma fábrica abandonada, e foi incorporado pela Brascan que em parceria com o escritório Konigsberger Vannucchi Arquitetos Associados definiu que ali se tornaria um empreendimento de quadra aberta de uso múltiplo agregando os seguintes usos: hospedagem, escritórios, complexo cultural, lazer e serviços (MOREIRA, 2016). Um dos principais objetivos era suprir a carência de espaços públicos e de centralidade marcante que existia no bairro, adotando assim o empreendimento como privado, mas com espaço público de uso coletivo. O espaço público amplo foi possibilitado pela verticalização do edifício, que se concentrou em 3 torres com 31 andares, liberando área para designação pública (MOREIRA, 2016).

Figura 20 e 21: Brascan Century Plaza. (Foto: Nelson Kon, 2016)

Figura 19: Planta baixa do térreo - Ed. Brascan Century Plaza. (Fonte: http:// vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.044/2397 - Acesso: 01/06/2021r)

O térreo é constituído em um grande jardim que ocupa quase toda a área livre do terreno. Nessa área a dinâmica é garantida pelo acesso às lojas, cafés, cinemas e às torres. Desta forma, o projeto se abre para a cidade enquanto promove segurança e vitalidade.

Figura 22 e 23: Brascan Century Plaza. (Foto: Veja SP, 2016)

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PRAÇA E EDIFÍCIO SEAGRAM BUILDING, PARK AVENUE, NY - MIES VAN DER ROHE E PHILIP JOHNSON, Nova York, USA, ANO ??? (Figuras 24 a 26)

A praça foi criada para ser de acesso público, como parte da Resolução de Zoneamento de 1961 de NY, que substituiu a Resolução de zoneamento de 1916 e ofereceu incentivos para Esse exemplo foi incentivado pela política dos espaços livres públicos de propriedade os empresários da construção civil instalarem os POPS como contrapartida para aumentar o privada - –“Privately Owned Public Spaces (POPS)” que surgiu a partir de uma revisão na coeficiente de aproveitamento do edifício. legislação urbana de Nova York em 1961. Os POPS são um sistema de bonificação utilizado Em suma, o Seagram destaca-se tanto pela sua arquitetura quanto pela sua inovação social em NY para a criação de espaços de propriedade privada de uso coletivo, que contribuem ao disponibilizar parte de seu terreno como área livres de uso público para os habitantes de para a formação de um sistema de espaços livres e enobrecem a paisagem urbana local, Nova York. O projeto consolidou a imagem da corporação para a qual foi construído e ao devido a permeabilidade visual gerada (OLIVEIRA E PISANI, 2017). mesmo tempo sua eficiência no desempenho da sua função como centro de escritórios e de O Edifício Seagram é um dos primeiros POPS construídos na cidade. O conjunto alinhado espaço público que se mantém até os dias de hoje. Apresenta-se assim como um de 38 andares foram implantados com recuo de 31 metros da calçada, criando uma praça monumento atemporal de elegância, tecnologia e eficiência. junto à esquina. Inaugurado em 1958, ele se tornou uma referência para os edifícios erguidos em seu entorno, e ainda hoje é referência projetual como edifício promotor da vitalidade urbana e da política dos POPS (VILAÇA, 2015). A ocupação do edifício com o espaço livre foi elevada em três degraus acima da calçada da Park Avenue com o intuito de criar o simbolismo de um oásis em meio a uma avenida turbulenta. A proposta do térreo ocupado por uma galeria de arte e as calçadas largas favorecem as exposições do Seagram Building que criam uma identidade de uma praça como um lugar de arte para o público onde se pode pausar ao ar livre da vida do escritório e da cidade. O térreo abriga também um conjunto de restaurantes e Brasseries (VILAÇA, 2015).

Figura 26: Planta baixa do térreo - Ed. Seagram. (Foto: Stier, 2012)

Figura 24 e 25: Edifício e Praça Seagram. (Foto: Hagen Stier, 2015)

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3.3 CORRESPONDÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROJETUAL CONJUNTO PRAÇA DAS ARTES O projeto Praça das Artes converge com as diretrizes teóricas estudadas ao propor um espaço permeável, livre, que promove segurança, diversidade de uso e caminhabilidade. A implantação desse equipamento cultural, além de atender à histórica carência de espaços para o funcionamento do Teatro, desempenha papel indutor estratégico na requalificação da área central da cidade, uma vez que o rico e complexo programa de uso, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança, está fortemente marcado por funções de caráter público, voltados à convivência e vida urbana. A relação do entorno é uma das potencialidades do projeto, com a criação de passarela aberta entre os edifícios, a criação de uma continuidade com os edifícios, a retenção dos transeuntes, o descanso e a convivência e a continuação da cidade.

BRASCAN CENTURY PLAZA O projeto se baseia na quadra aberta defendida por Christian de Portzamparc (1997) em “A terceira era da cidade”, onde o autor sintetiza que esse modelo permite a reinvenção da rua, se tornando legível, permeável e de fácil visualização, realçada por visuais e pela luz do sol. Além disso, essa tipologia torna possível a integração do edifício privado com o espaço público, com áreas particulares se articulando com as áreas livres da cidade. É possível observar grandes diferenças entre o Brascan Century Plaza enquanto espaço público e privado, mas essas diferenças não prejudicam a percepção do elemento urbano que os aproxima e une: a permeabilidade do solo, que possibilita a integração de edificações privadas com o espaço público que os envolve. Pode-se observar também a partir desta análise que essas diferenças demonstram que a tipologia urbana "quadra aberta" não é exclusiva de determinados padrões socioeconômicos ou princípios estéticos, mas uma possibilidade potencial de inclusão e reconciliação entre o público e o privado. Uma das principais características do edifício foi a preocupação com a escala humana e a cidade, ampliando o espaço coletivo, quebrando possíveis barreiras entre espaço público e privado, tornando-se um local de convivência e permanência. PRAÇA E EDIFÍCIO SEAGRAM BUILDING, PARK AVENUE, NY - MIES VAN DER ROHE E PHILIP JOHNSON O conjunto Seagram possui importantes características com espaços térreos predominantemente livre de uso público e coletivo, e com parte construída ocupada por galeria, ainda sendo acessível ao uso coletivo. Além disso, uma das características do edifício foi a promoção de melhorias para a iluminação natural e aeração de uma área de alta densidade de ocupação comercial e residencial, para amenizar o caráter predominantemente rígido e verticalizado (OLIVEIRA E PISANI, 2017).

Uma das principais características do edifício é a busca pela inserção de atividade mista na área, fornecendo variedade de usos, particularmente lojas, restaurantes e habitação, introduzindo vigilância diurna e noturna.

A quebra desse adensamento proporciona a permeabilidade da quadra, além de promover espaços de permanência e contemplação. Esses novos espaços criam uma conexão com os outros espaços públicos, formando uma paisagem urbana que mescla propriedades e usos. A praça é aberta e convidativa a partir da calçada, e possui assentos e caminhos largos e é capaz de promover o sentimento de proteção e segurança, sendo bem iluminada, visualmente ligada a outros espaços públicos. Os assentos do espaço público acomodam lugares confortáveis, assentos fixos e móveis com agrupamentos diferentes promovendo flexibilidade (OLIVEIRA E PISANI, 2017).

O desenho do edifício é de volumes complexos, que são pensados de maneira cinzelada, fragmentada e com escala reduzida para se encaixar no contexto do entorno. Em cada circunstância, as fachadas usam de uma cor que corresponde ao edifício circundante, integrando o conjunto ao seu ambiente urbano imediato.

O projeto adota os parâmetros estabelecidos por Gehl (2015) para as qualidades dos espaços de uso público relacionadas aos atos de: acessar (facilidade ou não de acesso a espaço público), ver (visibilidade entre o interior do espaço público e o exterior) e permanecer (a existência de assentos).

Figura 27: Conexão do Conjunto das Artes (Foto: https://pt.slideshare.net/JulianaCarvalho18/praa-das-artescentro-spaulo-sp)

CENTRAL SAINT GILES BUILDING

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Esse capítulo vai complementar a discussão quanto a problemática da formação dos espaços urbanos com foco nas características do bairro Divino Espírito Santo. Para isso, foram identificadas as características de formação do bairro e seu entorno, assim como os aspectos morfológicos inerentes à região.

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


4.1 BREVE HISTÓRICO Vila Velha é uma cidade com a formação urbana recente, que até meados dos anos 1960 tinha a economia baseada majoritariamente no setor primário. A construção da Rodovia Carlos Lindenberg, que fez ligação entre Vila Velha e Vitória, por meio da Ponte Florentino Ávidos, foi fundamental para a formação dos primeiros conjuntos habitacionais de Vila Velha. Até 1950, o espaço onde é hoje o bairro Divino Espírito Santo fazia parte da fazenda Cruz do Campo e os registros apontam a existência de apenas 12 famílias no bairro até 1966 (A TRIBUNA, 1998). Figura 31: Foto aérea de Vila Velha em 1990, podem ser vistos Boa Vista, Divino Espírito Santo, Cocal, Coqueiral de Itaparica, Itapoã e Soteco. Fonte: MAPLAN, 1990.

4.2 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

Figura 28 - Aglomeração urbana da Grande Vitória em 1970. Fonte: Programa CPM/BIRD, 1980.

Esse cenário de estagnação começou a ser alterado após os anos 1970, quando são instaladas grandes indústrias na região da Grande Vitória, como a Companhia Vale do Rio Doce e a CST, em Vitória e na Serra, respectivamente. Tais inserções impulsionaram a migração com um aumento significativo na população e na estrutura urbana dos municípios de Vitória e Vila Velha. Esse período ficou marcado pelo obsoleto ordenamento do desenvolvimento pelo poder público e por invasões massivas a terrenos na cidade de Vila Velha, situação que marca o histórico de formação do bairro Divino Espírito Santo.

Figura 29 - Aglomeração urbana da Grande Vitória em 1970. Figura 30 - Malha urbana de Vila Velha em 1980. Fonte: ALMEIDA, 1985.

No final da década de 1980 foi finalizada a construção da Ponte Darcy Castello de Mendonça. A finalização dessa obra teve um impacto direto na ligação entre os municípios de Vitória e Vila Velha, impulsionando a indústria da construção civil em Vila Velha e causando um grande aumento populacional no município.

O bairro Divino Espírito Santo está localizado na região norte da cidade de Vila Velha que compõem a Região Metropolitana da Grande Vitória, já conturbada pelos municípios de Cariacica, Vitória e Serra, além dos municípios de Fundão, Guarapari e Viana. O bairro faz fronteira com os bairros Centro, Cristovão Colombo, Boa Vista, Ilha dos Ayres, Praia da Costa, Itapoã e Soteco (Mapa 01).

Mapa 01- Localização do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O Divino Espírito Santo é um bairro majoritariamente residencial e horizontal com 8031 habitantes e com o predomínio de habitações unifamiliares. Possui um núcleo central

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comercial com lojas de pequeno e médio porte concentradas nas vias da Av. Luciano das Neves e Av. Antônio Ataíde, com destaque para lojas do setor moveleiro (Censo, 2010). Segundo dados do IJSN, o bairro está completamente localizado em área urbanizada. Dentro do perímetro do bairro estão localizados importantes instituições como a Universidade Vila Velha, o Shopping Vila Velha, o Hospital Vila Velha, Terminal de ônibus Transcol Vila Velha, INSS e o Fórum, além de possuir vias de conexão intermunicipal como a Av. Luciano das Neves.

4.3 DIAGNÓSTICOS E CONDICIONANTES

Localizado no centro da região administrativa 01, o bairro Divino Espírito Santo faz parte de 4 zonas distintas estabelecidas pelo Plano Diretor Municipal de Vila Velha (PDM), são elas a zona de ocupação prioritária 5 e 2, a zona especial de interesse urbanístico e um pequeno trecho de zona especial de interesse ambiental, como pode ser visto no mapa 02.

Figura 32 - Inserção do Shopping Vila Velha, Hospital Vila Velha e Terminal de ônibus Transcol Vila Velha Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

O bairro tem formação recente e ainda hoje é caracterizado pela grande quantidade de vazios urbanos, que em 1999 já eram problematizados: “No bairro existem grandes vazios urbanos que revelam potencial para o investimento imobiliário, principalmente, diante de atrativos como a proximidade com o centro e com as praias do município." (A TRIBUNA, página 55,1999) De 1999 para cá, muitos desses terrenos foram ocupados, na maior parte das vezes formando outra tipologia de ruptura, os enclaves fortificados, constituídos por edificações introspectivas que se relacionam com o seu interior, como por exemplo o Shopping Vila Velha e alguns conjuntos residenciais murados, mas, ainda hoje, a região concentra uma grande quantidade de vazios urbanos. Em relação aos terrenos construídos, o censo de 2010 identificou que 89,8% dos domicílios são realmente ocupados, contra 10,2% desocupados.

Mapa 02 - Zoneamento urbano do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

De forma recorrente, o bairro passa por problemas de alagamento pela presença de redes de drenagem obstruídas. Isso gera o acúmulo da água da chuva e do esgoto na rua, sendo considerada a maior problemática do bairro, que traz transtornos para a comunidade desde a criação do loteamento. Além disso, o bairro está dentro da Zona de Interesse Metropolitano que compõem a Macrozona de Dinamização Urbana do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana da Grande Vitória devido o potencial econômico e de expansão urbana, demonstrando a relevância que esse espaço possui para a dinâmica da RMGV e do município.

Figura 33 - Visualização de relevo do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: BR TOPOGRAPHIC, 2021.

A figura 33 apresenta a caracterização geomorfológica do bairro, onde é possível identificar um relevo majoritariamente plano com a variação de 0m a 12m de altitude, sendo as áreas mais baixas os espaços que mais sofrem com alagamentos na região. 45


públicos, constituídos pelas vias destinadas a circulação dos veículos motorizados e terrenos sem ocupação Terminal rodoviário Hospital

Universidade

Shopping

03 - Vazios urbanos do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O mapa 03 apresentam os vazios urbanos do bairro Divino Espírito Santo. Para esse mapeamento foram considerados como vazios de terrenos ociosos ou subutilizados. Este mapa destaca que a maior concentração dos vazios está situada em duas regiões, próximo ao hospital Vila Velha, ao norte, e a sudoeste, no limite do bairro. É possível observar também, que em muitas circunstâncias, são identificados agrupamentos de diversos lotes vazios.

Mapa 04 - Perfil fundiário do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O mapa 04 apresenta o perfil fundiário dos lotes e o agrupamento por área, onde se pode identificar que a maioria dos lotes possui uma área de até 80m². O perfil fundiário também expõe a diversidade de dimensões de lotes espalhados por todo o perímetro do bairro, com variação de 80 até 900m². Dentre estes, verificam-se 5 lotes com dimensões acima dos 900m2, onde estão situados, respectivamente: o Shopping Vila Velha, a unidade Bioprática da Universidade Vila Velha, o hospital Vila Velha, o Terminal Rodoviário Vila Velha. Tal situação acende o alerta para a vulnerabilidade o bairro em relação a sua segurança, visto que o registro desta situação fundiária, revela uma grande ocorrência de apropriações introspectivas que se somadas aos vazios identificados no mesmo bairro, potencializa as áreas vazias de atrativos ao pedestre e por consequência, tornam-se vulneráveis a ocorrência de ações antissociais (LYRA, 2020). No mapa 05, de figura fundo, o padrão de ocupação, favorecido pelo perfil fundiário identificado no mapa anterior, revela que os espaços em preto indicam áreas privadas, enquanto os identificados pela cor laranja indicam os vazios urbanos, que também possuem caráter privado. Deste assentamento resultam as áreas em branco destinadas aos espaços

Mapa 05 - Figura fundo de padrão de ocupação do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021. 46


Entende-se por espaços públicos aqueles destinados as áreas que sejam de uso comum e posse de todos, que possibilitam encontros urbanos, passagem e permanência pública. Pelos mapas apresentados, pode ser identificada uma predominância de espaços privados em relação aos espaços públicos, o que limita a fluidez do pedestre e consequentemente, a presença do olhar vigilante das pessoas que ao transitar pelos espaços públicos, contribuem para sua segurança. Além das ruas, no bairro existem algumas praças e espaços destinados a uso público, decorrentes do termo de ajuste de conduta feito pelo Shopping Vila Velha. Um desses espaços é a Praça da Rua José Rezende Filho (figura 33), que sofre com a falta de iluminação, arborização e equipamentos públicos. A situação de desprezo favorece o acúmulo de uma grande quantidade de lixos e entulhos no entorno, o que afasta a apropriação do espaço pela população e facilita a apropriação por pessoas em situação de ruas e usuários de drogas.

Figura 34 - Espaço público no bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

uma quantidade considerável de imóveis comerciais, que se encontram principalmente nas extremidades do bairro e mais próximo às principais avenidas. É considerável também a quantidade de edifícios de uso institucional ocupando 7% do bairro com uma grande concentração de instituições de ensino. ÁREA / m²

Percentual

Uso residencial

386.086,20

37%

Uso comercial

174.175,67

16%

Uso de serviços

30.981,73

3%

Uso Institucional

75.889,98

7%

Uso Industrial

23.829,68

3%

Uso Misto

20.618,23

2%

Vazios Urbanos

116.174,00

11%

Area total de lotes

827.755,49

79%

Vias

221.347,67

21%

Area total

1.049.103,16 m²

100%

Tabela 01- Percentual de uso e ocupação do solo. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Mapa 06 – Uso e ocupação do solo. Fonte: FERREIRA, 2017.

Conforme pode ser analisado no mapa 06, e reforçado no quadro 02, o bairro possui o uso predominantemente residencial, se concentrando nas áreas mais internas do bairro, com

Mapa 07 - Gabarito do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021. 47


O gabarito do bairro é majoritariamente ocupado por edifícios entre 1 e 3 pavimentos, isso ocorre devido a grande quantidade de casas unifamiliares ou multifamiliares de pequeno porte e dos edifícios comerciais baixos. Esse conjunto de mapas demonstra que a área é pouco adensada em relação aos bairros mais litorâneos e centrais do município. Essa morfologia torna-se atrativa a futuras especulações imobiliárias o que aumenta a tensão sobre os critérios de ocupação que possam melhor favorecer a qualidade de vida urbana da região.

malha viária) ao mapa 09, da classificação viária do bairro Divino Espírito Santo. É possível constatar, a partir da observação desses mapas, uma malha viária cuja hierarquia favorece a movimentação na região, confirmada pela concentração de usos comerciais e institucionais ao longo desses eixos viários, com a presença de vias arteriais (roxo e vermelho) e vias coletoras (amarelo). A região mais central do bairro é caracterizada pela predominância de vias de caráter local (rosa). O perfil viário das ruas não possui padrão regular, e apresentam uma infraestrutura pouco satisfatória, como pode ser visto nas figuras abaixo.

No mapa 08 as vias dos bairros estão identificadas na cor preta e os lotes na cor branca com o objetivo de melhor ilustrar a tipologia da malha viária para análise do desenho. A partir deste mapa, é possível perceber a predominância de um traçado irregular que tende para uma malha ortogonal. A análise da Figura-fundo da malha viária indica uma grande quantidade de vielas e ruas sem saída e estreitas e outras, com continuidade interrompida. Tais características sugerem uma evolução a partir de uma ocupação informal com a ocorrência de irregularidades verificadas até hoje por meio dos aglomerados subnormais ilustrados no plano de regularização fundiária do município de Vila Velha (VILA VELHA, 2019), verificadas na figura 34. Figura 35 e 36 – Indicação de área que carece de regularização fundiária; Manoel Freitas Dias. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

Mapa 8 - Figura fundo da malha viária do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

Como pode ser observado na Figura 34, a rua Manoel Freitas Dias, assim como muitas outras dentro do perímetro do bairro, sofrem com a descontinuidade, tornando-se ruas estreitas e sem saída, e no caso dessa rua em específico, essa formação viária ocorreu com resíduo, em decorrência da implantação do Shopping Vila Velha. O referido padrão de ocupação se confirma ao comparar o mapa 08 (Figura-fundo da

Mapa 9 - Classificação viária do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

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Neves, a forma de ocupação do tecido urbano em direção a porção oeste do bairro, compromete a fluidez do pedestre que se vê inibido pelas condições impostas pele desenho urbano local. Trata-se de um trecho sem capilaridade para o pedestre que precisa percorrer distâncias maiores para terem acesso aos serviços disponibilizados ao longo do referido eixo viário.

Figura 37 - Perfil Viário esquemático: Rua Emília Espírito Santo. Fonte: FERREIRA, 2017.

\

Figura 38 - Perfil Viário esquemático: Rua Getúlio Freire Nunes. Fonte: FERREIRA, 2017.

Mapa 10 - Características da mobilidade urbana do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

Dentro do Divino Espírito Santo são identificados 10 estabelecimentos de ensino. Sendo destes, 2 universidades, 4 escolas de ensino fundamental e médio público, 2 escolas de ensino fundamental e médio privado, 1 centro de educação infantil particular e 1 Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais - APA. Figura 39 - Perfil Viário esquemático: Rua Juscelino Kubitscheck. Fonte: FERREIRA, 2017.

Dentro do perímetro do bairro existem diversos eixos de transporte público, na maior parte das vezes localizados em vias de caráter coletor ou arterial, ou próximos aos edifícios de maior porte e atração. Duas operadoras de transporte urbano atendem ao bairro, a Sanremo e o Transcol, e essa última, possui um terminal rodoviário, o Terminal Vila Velha, possibilitando acesso rápido a transporte para outras cidades da RMGV. Apesar da disponibilidade de acesso a diversos pontos distribuídos ao longo da Av. Luciano das

Segundo dados levantados pelo Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI), toda a extensão do bairro possui cobertura de esgoto, água tratada, iluminação pública e coleta de lixo. Segundo dados da base do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) dentro do bairro não existe nenhuma unidade de saúde pública, apenas o Hospital Vila Velha, que é uma instituição privada. Além disso, dentro do perímetro do bairro não é identificado nenhum tipo de serviço de policiamento, apenas em regiões próximas, como pode ser visto no mapa 11.

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do bairro, as formas de ocupações promovidas na região e também aos estreitamentos e modificações que os canais da região sofreram ao longo dos anos. No perímetro do bairro, além da ocorrência de alagamentos, a SEDEC não identifica áreas com riscos de desmoronamentos ou outros riscos geológicos.

Mapa 11 - Infraestrutura e equipamentos urbanos do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

Em relação aos aspetos ambientais do bairro, vale destacar a relevância histórica dos rios, hoje canalizados, que possuíam uma função de subsistência e lazer à população local (SANTOS, 2011). Atualmente eles se encontram em uma situação de abandono e descuido por parte do poder público e dos moradores. Na imagem 38 pode ser visto um trecho do canal Bigossi, na altura da Av. Gonçalves Lêdo, que recebe uma grande quantidade de esgoto. Em decorrência dessa situação, toda a região próxima aos canais Bigossi e da Costa (mapa 12) sofrem com os fortes odores desagradáveis que emanam dos mesmos.

Mapa 12 - Percepção ambiental do bairro Divino Espírito Santo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O bairro apresenta alguns visuais significativas de seu entorno possibilitados pela escala horizontal predominando da região. Tanto a Pedra dos dois olhos, localizada no município de Vitória, quanto o Convento da Penha, ainda podem ser vistos de diferentes pontos do bairro. Entretanto, a inserção de edifícios com gabaritos acima de 6 pavimentos começa a ameaçar tais visuais que precisam ser mapeadas para serem preservadas através da ampliação do cone visual do PDM, hoje limitado a um eixo de aproximação do Convento da Penha. Esta iniciativa pode contribuir para a preservação de marcos visuais relevantes para a composição da paisagem local. Enquanto isso, alguns equipamentos edificados de grande Figura 40 - Canal na Av. Gonçalves Lêdo. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021. porte consolidam-se como fragmentos isolados que contribuem pelo afastamento da cidade Segundo Sartório (2018), a recorrente ação antrópica sobre os referidos corpos hídricos x natureza, como: o Hospital Vila Velha, o Shopping Vila Velha e o Terminal Vila Velha. provocou alterações nos sistemas associados ao ciclo hidrológico desta bacia. A consequência deste efeito causa um desequilíbrio na dinâmica do ambiente natural preexistente responsáveis pelas ocorrências de alagamentos verificados na região (Figura 39). Segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), entre 2003 e 2015 o bairro sofreu com 7 grandes inundações. Essa situação ocorre devido ao perfil topográfico 50


4.4 MAPEAMENTO DAS RUPTURAS

No tópico 4.3, são identificadas as rupturas urbanas que fazem parte do bairro Divino Espírito Santo a partir das informações produzidas pela pesquisa “O Direito de se viver com Dignidade nas Cidades. Mapeamento e Qualificação das Rupturas no bairro Soteco, Vila Velha, E.S”, do Grupo de Pesquisa Dignidade Urbana, coordenado pela Professora Ana Paula Rabello Lyra. O mapa 13 tem como foco a identificação dos vazios urbanos enquanto rupturas urbanas, ou seja, quando sua dimensão e característica inibe ou impede a livre fluidez do pedestre. Para esse levantamento foi levado em conta os vazios localizados dentro do perímetro urbano do bairro, que ocupam mais de 50% da face da quadra, pois infere-se que nestes casos a junção com a área adjacente introspectiva constitui uma frente contínua com mais de 150m de extensão linear, ou nas próprias frentes de vazios que apresentam mais de 150m.. Neste caso, foram considerados os lotes sem uso ou desocupados, os lotes sem elementos construídos ou subutilizados e os espaços vazios sem destinação à preservação paisagística e natural ou a atividades de lazer para integração da comunidade. Foram levados em conta os lotes únicos ou contíguos, cuja dimensão de área sem ocupação conectada corresponda aos itens citados anteriormente. Mapa 14 - Rupturas - elemento natural. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela Vale destacar que a referência dos 150m de extensão linear foi feita com base nos critérios PMVV, 2021. de dimensão de quadra do índice de caminhabilidade do ITDP (2019) O mapa 14 ilustra as rupturas do tipo cidade x natureza, caracterizada por aquelas em que as características do Durante o processo de mapeamento dos vazios urbanos não foi identificado nenhum vazio elemento natural impedem a permeabilidade do pedestre (Lyra, 2020). Neste caso, podem ser identificadas urbano do tipo edifício abandonado, situação que está relacionada com o caráter de duas extensões de corpo hídricos que se caracterizam como rupturas, pois possuem extensões contínuas sem opções de transição transversal entre espaços constituídos por distâncias de 150m. Tais corpos hídricos ocupação recente do bairro. Os vazios urbanos encontrados concentram-se próximos à também apresentam péssima balneabilidade, já que se trata de um curso d'água com concentração de esgoto instalação do hospital Vila Velha ao norte e a oeste do Shopping Vila Velha na parte sul, de despejo e forte odor. sendo esses dois edifícios caracterizados como rupturas urbanas do tipo enclaves fortificados, por apresentarem ocupações introspetivas com dimensões de lotes que também comprometem a livre fluidez do pedestre, e consequentemente, sua caminhabilidade (Mapa13). Hospital VV

Shopping Vila Velha

Mapa 13 - Rupturas - vazio urbanos. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

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Mapa 15 - Rupturas - ruptura viária. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela


Os mapas 14 e 15 apresentam respectivamente as rupturas do tipo elemento natural e do tipo ruptura viária. A figura 40 ilustra o que acontece no entorno dos canais localizados nos limites do bairro, onde o pedestre se depara com grandes barreiras para a travessia no local.

Figura 41 - Canal enquanto ruptura elemento natural - barreira para pedestres. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

As rupturas viárias, são caracterizadas como vias em que a velocidade é superior a 60km/h, compondo também uma barreira ao caminhar do pedestre, uma dessas está ilustrada na figura abaixo, a rodovia Luciano das Neves.

Mapa 16 - Rupturas - enclaves fortificados. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021,

Os aglomerados subnormais foram identificados baseados no levantamento disponibilizado pela prefeitura municipal de Vila Velha que identificou lotes que carecem de regularização fundiária.

Figura 42 - Ruptura viária - via com velocidade permitida de 60km/h: Av. Luciano das Neves. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

Os enclaves fortificados foram identificados quando se caracterizam como quadras monofuncionais e introspectivas, com dimensões acima de 151m em uma de suas faces, com apenas um ou nenhum acesso, quando são condomínios fechados, murados que oferecem múltiplas atividades sociais restritas aos moradores, com dimensões acima de 151m, ou quando possuem acessos restritos e privados, sendo proibida a entrada de indivíduos não autorizados quando o mesmo estiver fechado (ex: shopping), com dimensões acima de 151m.

Mapa 17 - Rupturas - aglomerados subnormais. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

Lyra (2020) utilizou o Plano de Regularização Fundiária de Vila Velha (2019, pag. 94) como referência para identificar os aglomerados subnormais do bairro, levantamento disponibilizado pela prefeitura municipal de Vila Velha que identificou os lotes que carecem de regularização fundiária.

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Mapa 18 - Síntese das rupturas. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

A síntese das rupturas urbanas existentes no bairro permite a identificação de um conjunto de barreira em toda a sua extensão, e com a manifestação de todas as tipologias de rupturas urbanas.

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Esse capítulo vai resgatar as questões teóricas e práticas que foram abordadas, direcionando para estratégias que irão mitigar os efeitos dos vazios urbanos na região de estudo. Vão ser identificadas estratégias adequadas para a área, de forma que a proposta de intervenção seja capaz de reconciliar as rupturas visando a valorização do pedestre.

55 5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO


5.1 CONCEITO E MÉTODO PROJETUAL

Figura 43 - Região de estudo. Fonte: Imagem extraída do Google Maps, 2021.

As bolhas que identificam o foco de assaltos foram elaboradas baseadas em dados disponibilizados pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social. Mapa 19 - Síntese das rupturas com região de estudo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

A área de recorte escolhida está identificada no mapa acima, na porção norte do bairro Divino Espírito Santo. O local foi escolhido devido à alta concentração de vazios urbanos no local e a designação dessa região como uma área de interesse estratégico e econômico no Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) da Região Metropolitana da Grande Vitória. As imagens que ilustram o mapa 19 caracterizam a região, que possui uma grande quantidade de terrenos vazios com acúmulo de lixo e em alguns casos, os vazios são murados, gerando sensação de insegurança no local. Na figura 42, pode ser vista a situação da região atualmente, podendo ser observado um conjunto de terrenos vazios e poucas áreas construídas. Além disso, no mapa 20, abaixo, pode ser analisado os elementos que têm relação de influência na região, seja de vulnerabilidade ou de potencialidade. A Região tem proximidade com um ponto nodal de média intensidade, que possui influência no tráfego de toda a cidade, além de possuir um grande polo gerador de trânsito, o hospital Vila Velha. Foi realizado um levantamento no local, para coletar dados relacionados ao acúmulo de lixo, uso e tráfico de drogas e análise das áreas de lazer, que podem ser vistos ao lado.

Mapa 20 - Mapa de potencialidades e vulnerabilidades da região de recorte. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

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área de lazer improvisado, com alguns equipamentos em um estado de conservação ruim. A quadra 03 concentra um espaço restante da área de lazer da quadra 02 e o restante da quadra é um vazio com despejo de lixo. A quadra 05 é uma área também vazia com lixo e ocupação de moradores de rua e usuários de drogas. A quadra 04, situada no limite do bairro, está adensada por habitações subnormais e um edifício multifamiliar. A quadra 06 é majoritariamente desocupada, sendo a porção sul um galpão de uso não identificado.

Mapa 21 - Mapa de morfologia da região de recorte. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O mapa de morfologia acima, permite uma conclusão sobre o desenho urbano que existe no local, com quadras recortadas, vias irregulares e a presença de alguns becos.

Mapa 23 - Mapa de uso e ocupação do solo da região de recorte. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

Mapa 22 - Mapa de caracterização da região de recorte. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O mapa 22 divide a região em quadras, identificando a atividade ou uso que ocorre em cada uma delas.

OCUPAÇÃO

ÁREA

PERCENTUAL

Serviços

2524m²

6,5%

Institucional

905m²

2,4%

Residencial

8084m²

20,8%

Vazios Urbanos

27326m²

70,3%

TOTAL

38839m²

100%

Tabela 02 - Percentual de ocupação por uso. Fonte: Elaborado pela autora.

A quadra 01 apresenta uma área residual que é um vazio urbano, desprovido de uso, ocupação ou atividade urbana. A quadra 02 já caracteriza um espaço público, sendo uma

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O mapa 23 e a tabela 02 trazem dados acerca do uso e ocupação do local. A maior parte dos lotes estão vazios e existindo uma quantidade considerável de ocupação residencial. Os demais usos apresentam um percentual pouco expressivo. As prioridades globais, que devem atender a todo o espaço, dizem respeito à criação de novos espaços públicos, a promoção de mobilidade urbana sustentável e a criação de habitações sociais e equipamentos e serviços comunitários. Os edifícios devem promover uma área de alta densidade de ocupação comercial e residencial junto a permeabilidade da quadra, além de promover espaços de permanência e contemplação. Esses novos espaços devem criar uma conexão com os outros espaços públicos, formando uma paisagem urbana que mescla propriedades e usos. As praças e as áreas públicas e abertas devem ser convidativas a partir da calçada, e possuir assentos e caminhos largos, sendo capazes de promover o sentimento de proteção e segurança, sendo bem iluminada e visualmente ligada a outros espaços públicos. O projeto irá adotar os parâmetros estabelecidos por Gehl (2015) que são capazes de promover espaços públicos de qualidade: acessar (facilidade ou não de acesso a espaço público), ver (visibilidade entre o interior do espaço público e o exterior) e permanecer (a existência de assentos).

Na tabela a seguir foram inseridas as teorias indicadas no capítulo 2 que serão materializadas nas propostas projetuais e irão nortear o partido do projeto.

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CONCEITO

DEFINIÇÃO

AUTOR

Vitalidade Urbana

Jane Jacobs define como o resultado de espaços de diversidade de usos e interações sociais, sendo capaz de promover segurança, atratividade e interação entre as pessoas. Está relacionado também com diversidade de usos, tamanho das quadras, distribuição etária e tipos de edifícios. densidade (proporção entre espaços edificados e espaços livres); proximidades e distâncias na malha de ruas; características da relação da edificação com o espaço público (permeabilidade do espaço público e privado); permeabilidade visual (interface entre espaço edificado e espaço aberto público) ligado à presença de pessoas nos espaços públicos e à utilização dos espaços tanto para execução de determinadas atividades como pela contemplação e lazer.

JACOBS (2011)

Urbanidade

A teoria da urbanidade está relacionada ao modo como os espaços da cidade acolhem as pessoas, à qualidade do desenho da cidade e suas formas urbanas. Saboya define que são as dimensões da Urbanidade: muitas pessoas utilizando os espaços públicos, especialmente calçadas, parques, praças; diversidade de perfis, interesses, atividades, idades, classes sociais; alta interação entre os espaços abertos públicos e os espaços fechados; diversidade de modos de transporte e deslocamentos; pessoas interagindo em grupos; traços da vida cotidiana.

SABOYA (2011)

Térreo ativo

A presença de térreos ativos contribui para que o espaço urbano, por meio do incentivo à movimentação de pedestres, se torne mais atraente e permeável. As fachadas ativas integradas ao passeio são subsidiadas pela zona de proteção, que faz a interface entre o movimento de pedestres e veículos.

AGUIAR, FIGUEIREDO, NETTO (2012)

Uso misto

A combinação de usos principais, como centros comerciais, conjuntos de moradias, atividades de lazer e educação, que sejam capazes de atrair pessoas para um determinado espaço, onde esses usos devem ser combinados a usos secundários, gerando diversidade urbana, potencializando esse espaço urbano a ser ocupado em diferentes horários do dia e promovendo a sensação de segurança.

JACOBS (2001)

Cidade compacta

Esse modelo reúne um conjunto de diretrizes urbanísticas, são elas: a promoção de unidades territoriais autônomas em termos de oferta de equipamentos, serviços, empregos e moradia, como forma de diminuir a demanda por transporte e as distâncias a serem percorridas, o fortalecimento de subcentros e a formação de novas centralidades para diminuir a convergência de deslocamentos para os centros das cidades. A urbanização dispersa produz a expansão e extensão da malha urbana e do modo de produção urbano para além dos limites da cidade consolidada.

GEHL (2015)

Permeabilidade visual

O contato através da experiência entre o que está acontecendo no ambiente público e o que está acontecendo nas residências, lojas, fábricas, oficinas e edifícios coletivos adjacentes pode promover uma extensão e enriquecimento das possibilidades de experiências, em ambas as direções. Além de reforçar a proximidade física através da possibilidade de algum tipo de interação concreta entre espaço edificado e aberto, mesmo que à distância.

GEHL (2011)

Quadra curta

Elas são capazes de proporcionar maior permeabilidade, diferente de quadras mais longas, que não oferecem tanta diversidade de escolha. Permitir o pedestre de maiores possibilidades de escolha quanto aos seus percursos lhe dá a possibilidade de conhecer novos lugares e proporciona encontros com o outro, com o diverso e com uma multiplicidade de experiências urbanas.

JACOBS (2001)

Quadra aberta

Portzamparc (1997) defende a configuração de quadras abertas como uma solução contemporânea para os grandes aglomerados urbanos. Ela consegue conciliar as características positivas da rua corredor da cidade tradicional e dos edifícios autônomos da cidade moderna. Nessa tipologia, os edifícios continuam sendo autônomos, mas a ligação entre eles são os vazios de travessia e permanência pública.

PORTZAMPAR C (1997)

Escala humana

As cidades precisam ser construídas pensando em escala humana, priorizando “vida, espaço, prédios”, nessa ordem. Eventos que ocorrem no espaço urbano ou nas portas e janelas dos andares térreos podem ser vistos a distância de até 100 metros. Nessas situações, também podemos nos aproximar e usar de todos os nossos sentidos. Da rua, temos dificuldade para perceber eventos que ocorrem nos andares mais altos. Quanto mais alto, maior a dificuldade de enxergar. A conexão entre o plano das ruas e os edifícios altos efetivamente se perdem depois do quinto andar.

GEHL (2015)

Caminhabilidade

São estabelecidos os parâmetros fundamentais para a caminhabilidade sendo alguns deles: o uso de faixas de veículos estreitas a fim de proteger o pedestre e diminuir a velocidade, a arborização, que seu estudo indica ser capaz de reduzir o número de acidentes, e o ambiente construído, onde as fachadas ativas e a diversidade da arquitetura contribuem para o caminhar. Para o autor, esses fatores são necessários para que o espaço urbano seja confortável, interessante, seguro e que transmita segurança.

SPECK (2012)

Tabela 03 – Diretrizes teóricas para projeto pratico. Fonte: Elaborado pela autora baseado nos autores indicados.

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5.2 PROPOSTA PROJETUAL Partindo do entendimento da espacialidade da região de estudo, foi elaborado um mapa que identifica a maneira como as quadras vão ser ocupadas, dividindo em espaços a manter, renovar ou requalificar e por uso a ser implantado ou requalificado. Foi priorizado manter um único edifício dentro do perímetro de devido o seu caráter de ocupação já consolidada com alto coeficiente de ocupação.

Mapa 26 - Setorização de ocupação da região de estudo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021. Mapa 24 - Manter, renovar e requalificar da região de estudo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O mapa 25 apresenta a setorização de ocupação identificada com ícones em áreas públicas e letras nos edifícios. R: residencial, C: comercial AC: casa de acolhimento.

A casa de acolhimento terá caráter controlado, com área de lavar roupas, quartos, banheiros A partir da identificação da nova ocupação que cada espaço ira receber, foi elaborado o e espaços para refeições com a intenção a grande quantidade de moradores de rua que mapa 25, que caracteriza e descreve as novas ocupações. existe na região. As duas quadras de ocupação residencial mais próximas ao Terminal Transcol Vila Velha terão ocupação residencial de habitação de interesse social devido ao déficit habitacional existente na região, e a área já possui essa tipologia de moradia. Os equipamentos públicos propostos foram identificados a partir da carência de atividade semelhantes no bairro e nos bairros vizinhos, existindo demanda por atividades que atendam crianças, jovens adultos, além de atender grandes conjuntos de públicos que frequentam o espaço, advindos principalmente do hospital Vila Velha e do terminal rodoviário de maneira que os espaços se tornem convidativos e promovam a vitalidade urbana, priorizando sempre o pedestre, os espaços de convívio e as trocas sociais.

Mapa 25 - Diretrizes de ocupação da região de estudo. Fonte: Elaborado pela autora baseado em dados da GEOWEB e pela PMVV, 2021.

O desenho proposto para os edifícios é marcado pela horizontalidade e por retas bemmarcadas com grandes aberturas, promovendo uma ampla permeabilidade visual. O projeto paisagístico tem a intensão de ser uma contraposição ao projeto arquitetônico. O desenho escolhido é de linhas orgânicas moldadas a partir de círculos, semicírculos e união entre tangentes gerando uma diversidade de percursos, além de influenciar na formação e no desenho dos equipamentos e mobiliários urbanos.

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O paisagismo contempla arvores grande e médio porte, além de arbustos de grande e pequeno porte e forrações, que podem ser vistos na tabela abaixo. Nome pop.

Característica

Nome científico

Porte

Pau-forro

Árvore de grande porte

Tabebuia spp

H: 8 a 35m

Jacarandá

Árvore de grande porte

Caesalpinia leiostachya

H: 15m

Mangueira

Arvore de grande porte

Mangifera indica

H: 12 a 30m

Pitangueira

Arvore de médio porte

Eugenia uniflora

H: 6 a 12m

Abelia

Arbusto médio

Caprifoloaceae

H: até 1,2m

Acalifa

Arbusto médio

Acalypha

H: até 2,5 m

godseffiana Lambari

Forração

Astynax

H: até 20cm

Esmeralda imperial

Gramado

Zoysia japonica

H: 3 a 5cm

Tabela 04 – Tabela de espécies. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

As páginas seguintes trazem a implantação com desenho de paisagismo, a implantação humanizada e o pavimento tipo dos edifícios. A pavimentação dos espaços públicos foi feita com piso intertravado retangular 10x20cm, foram utilizadas lixeiras duplas, postes de iluminação que utilizam energia renovável solar, foram utilizados decks de madeira de tábuas corridas e ao longo dos projetos podem ser encontrados bicicletários e mobiliários e diferentes equipamentos urbanos.

Figura 44 – Implantação geral com desenho de paisagismo. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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Figura 45 – Pavimento tipo geral. Fonte: elaborado pela autora, 2021. Figura 44 – Implantação geral humanizada. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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QUADRA 01

Figura 47 – Extrema esquerda da quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 48 – Extrema esquerda da quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 46 – Quadra 01 implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021. A quadra 01 é o ponto mais próximo da poligonal de estudo da principal via da região e com maior proximidade ao terminal de ônibus Transcol, região com alto fluxo de pedestres. Nesse espaço foram implantados equipamentos públicos que possuem a intenção de atender a esse fluxo de pessoas, são eles: os jardim de flores, a casa de acolhimento que ira atender os moradores de rua na região, servindo refeições e ofertando Figura 49 – Kombi biblioteca na quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021. dormitórios, a kombi biblioteca, que possui administração privada para uso público, uma grande diversidade deespaços livres que podem ser apropriados de diferentes maneiras e a oferta de quiosques que colaborariam para administração do espaço por meio da iniciativa privada. 63


Figura 50 – Área livre na quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 51 – Casa de acolhimento na quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 52 – Casa de acolhimento na quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 53 – Floreiras na quadra 01. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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QUADRA 02

Figura 55 – Playground infantil e ao fundo pet parque na quadra 02. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 54 – Quadra 02 implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

A quadra 02 está localizada em uma região mais central da poligonal, possui grande proximidade ao hospital as os edifícios multifuncionais. Possui equipamentos urbanos que tem a intenção de atender aos moradores locais e de regiões próximos: playground infantil e parquinho para cachorros.

Figura 56 – Área livres de uso público na quadra 02. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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QUADRA 03

Figura 58 – Jardim sensorial na quadra 03 implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 57 – Quadra 03 implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

A quadra 03 tem muita proximidade ao hospital Vila Velha, e esse fator foi determinante para que seus equipamentos fossem direcionados a formação de espaços de permanência, contemplação e descanso com quiosque que está direcionado a atender os visitantes do hospital Vila Velha e um grande jardim sensorial.

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QUADRA 04

Figura 60 – Quadra 04 - implantação. Fonte: elaborado pela autora, 2021. Figura 61 – Quadra 04 – implantação humanizada com térreo dos edifícios. Fonte: elaborado pela autora, 2021. Figura 62 – Quadra 04 – planta baixa dos pavimentos tipo. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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A quadra 04 possui uma grande extensão contendo um edifício mantido por se caracterizar por uma grande ocupação já estabelecida. Na porção norte a esse edifício o espaço foi usado exclusivamente voltado para uso público coletivo, com a instalação de pistas de street skate e campos de parkout, além das áreas de permanência e descanso com quiosques.

Ao sul do edifício existente temos a ocupação com 4 torres de habitações de interesse social com unidades de 38 a 52m² sendo que, em dupla, elas fazem ligação em formato de passarela destinados a moradias de famílias com renda familiar mensal média de no máximo 3 salários-mínimos. As unidades contemplam 01 vaga de garagem, 02 quartos, 01 banheiro, cozinha e área de estar, sendo ao todo 9 apartamentos por andar em cada uma das quatro torres com 12 pavimentos, o limite estabelecido pela PMVV, sendo o primeiro térreo, totalizando 396 unidades. Abaixo estão implantadas duas torres que atenderam a Habitação de mercado popular (HMP), que são destinadas ao atendimento habitacional de famílias cuja renda mensal seja entre 6 e 10 salários-mínimos, com dois sanitários e 01 uma vaga de garagem, 02 quartos, cozinha e área de estar com área entre 75 e 85m² contemplando 10 unidades por pavimento em cada uma das duas torres com 11 pavimentos tipos e um térreo, que somam 220 unidades.

Figura 64 – Quadra 04 – parkout a esquerda e street skate a direita. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Os térreos são permeados por lojas e espaços públicos com mobiliários urbanos.

Figura 63 – Quadra 04 – vista de espaços públicos. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 65 – Quadra 04 – Parkout. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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Figura 66 – Quadra 04 – relação de edifícios e espaços públicos. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 68 – Quadra 04 – Habitações do tipo HMP. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 67 – A direita quadra 04 e a esquerda quadra 05. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 69 – Quadra 04 – Habitação de interesse social de até 3 salários mínimos. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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QUADRA 05

Figura 70 – Quadra 05 - implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021. Figura 71 – Quadra 05 – pavimento tipo. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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A quadra 05 possui na porção norte um conjunto de quatro torres com uso térreo com lojas comerciais e o pavimento tipo com salas comerciais. As salas comerciais possuem uma área de 50m² com 01 banheiro e 01 vaga de garagem. Elas somam 12 salas por pavimento em cada torre com térreo mais 11 pavimentos tipo, totalizando 528 salas comerciais. Na parte abaixo estão implantadas duas torres de HIS destinada a famílias com renda familiar mensal média de no máximo 6 salários-mínimos, sendo 22 unidades com 60m² por pavimento em cada uma das torres, que possuem 11 pavimentos tipos e mais o térreo, totalizando 484 unidades.

No centro da quadra esta localizado uma horta comunitária, além de mobiliários urbanos e equipamentos para uso público.

Figura 74 – Quadra 05 – frente da quadra. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 72 – Quadra 05 – frente da quadra. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 73 – Quadra 05 – horta comunitária. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 75 – Quadra 05 – Permeabilidade visual entre edifícios e espaços públicos. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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QUADRA 05

Figura 76 – Quadra 06 - implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021. Figura 77 – Quadra 06 - implantação e humanizado. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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A quadra 06 foi ocupada com 5 torres com térreo comercial e pavimento tipo residencial com unidades que variam de 90 a 120m. Em cada pavimento existem 6 unidades, e cada torre possui 11 pavimentos tipos e mais o térreo, totalizando 264 unidades. O térreo possui uma diversidade de mobiliários públicos, com áreas de contemplação, descanso e espaços flexíveis que podem ser apropriados de diversas maneiras.

Figura 78 – Quadra 06 – áreas públicas. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Figura 79 – Quadra 06 – áreas públicas. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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As tabelas abaixo são demonstrativas de ocupação, que identificam resultados e quantitativos, além de ser possível apontar que os índices urbanísticos foram atendidos, sendo CA máximo 3,5, a taxa de ocupação de 60% e o gabarito máximo de 12 pavimento, que foi utilizado em todos os edifícios multifuncionais.

Área total da quadra

Área térreo construída

Área construída total

Área construída total existente

Área pública

850m² 99.621,6m²

Área térreo construída existente 1429m²

Quadra 01 Quadra 02 Quadra 03 Quadra 04

17.028,30m² 2.620,50m² 3.712,40m² 32.410,10 m²

850m² 8.301,8m²

15.719m²

17.028,30m² 2.620,50m² 3.712,40m² 22.679,3m²

Quadra 05 Quadra 06

29.114,50 23.117,10

7.935,2m² 6.300m²

95.220,40m² 75.600m²

-

-

20.179,30m² 16.817,10 m²

Unidades residenciais 616 484 264

Unidades comerciais 4 1 2 43 574 46

Tabela 05 – Quadro de áreas por quadra. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Quadra 01 Quadra 02 Quadra 03 Quadra 04 Quadra 05 Quadra 06

CA 0,05 3,07 3,27 3,27

TO 4,99% 25,61% 27,25% 27,25%

Tabela 06 – Quadro resultados por quadra. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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DIAGRAMAS: PROJETOS X DIRETRIZES TEÓRICAS Os diagramas ao lado indicam a presença das diretrizes projetuais no projeto. O diagrama 01 indica a interação social e o diagrama 02 a urbanidade, conceitos que estão relacionados com a forma como os espaços públicos são projetados e na relação entre áreas publicas e privadas e na diversidade desses espaços, para que eles sejam atrativos e promovam segurança. Por isso as decisões projetuais se pautaram em oferecem espaços flexíveis, que provam permeabilidade visual e que sejam capazes de permitir que muitas pessoas usem esses espaços, as calçadas e os equipamentos, que atendam a diferentes públicos com atividades direcionadas para diferentes faixas etárias e perfis. Os espaços criados vão proporcionar a realização de atividades especificas ou atividades flexíveis, sempre em conjunto a espaços de permanência e contemplação.

Diagrama 01– Interação social. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Diagrama 02 - Urbanidade. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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DIAGRAMAS: PROJETOS X DIRETRIZES TEÓRICAS Os diagramas ao lado indicam a presença das diretrizes projetuais no projeto. O diagrama 03 demonstra a permeabilidade visual, a escala humana, a segurança, os térreos ativos e a quadra aberta que são propostos. A presença de lojas nos térreos permite que os espaços urbanos se tornem mais seguros e funciona como um incentivo a movimentação de pedestres, além de tornar o interior das quadras muito mais atrativo. Além disso, a abertura da visão através do térreo reforça uma proximidade física que cria um grande campo visual entre os espaços livres e os espaços construídos. A abertura da quadra pelos edifícios multifuncionais cria uma diversidade de percursos além de proporcionar espaços de permanência e travessia publica no interior das quadras. A conexão que existe entre os edifícios para as extremidades das quadras e o interior das quadras um item fundamental mantenedor da segurança, a visibilidade dos pavimentos é um incentivo ao caminhar e a segurança do pedestre. O diagrama 04 apresenta as características de caminhabilidade, uso misto e cidade compacta. A junção de moradias com áreas com lazer, comércios e serviços em um único espaço potencializa a ocupação urbana em diversos horários e favorece a formação de um núcleo urbano compacto, que vai ser capaz de oferecer diferentes atividades sem que grandes distancias sejam percorridas. A caminhabilidade é um fator que foi gerado por todos os parâmetros acima e também pelo uso de faixas elevadas para que o transito seja reduzido e uma grande conjunto de arvores e vegetações.

Diagrama 03 – Permeabilidade visual, escala humana, segurança, quadra aberta e térreo ativo. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

Diagrama 04 - Caminhabilidade, cidade compacta e uso misto. Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnostico elaborado da área de estudos com a intenção de identificar os aspectos condicionantes do bairro, a fim de correlacionar com a formação dos vazios urbanos, tornou possível identificar a importância da efetivação da administração pública e seus instrumentos urbanísticos, onde observamos a necessidade de medidas, que sejam capazes de impedir a reprodução de processos de segregação sócio-espacial com a valorização de espaços vazios em áreas adensadas. Dessa maneira, um plano diretor, para a eficácia, precisa de ampliação da fiscalização política, com projetos que se adequam a realidade social, e que sejam capazes de reconciliar as rupturas existentes e evitar que os espaços que hoje se apresentam como vazios urbanos, no futuro, quando ocupados, se tornem novas tipologias de rupturas.

Nesse sentido, abordar o fenômeno dos vazios urbanos a partir de um recorte como região de estudo buscou amenizar, em parte a polissemia entre os termos que o envolvem. Somado a isso, é fundamental levantar o papel dos espaços urbanos residuais no tecido urbanizado inserido em espaços consolidados em uma cidade tão distante de estratégias de gestão e planejamento, que ainda lida com questões da precarização da infraestrutura urbana existente e o déficit habitacional. Mesmo que existam estudos e publicações referentes aos métodos de desenho urbano que geram vitalidade e segurança desde os anos 60, a realidade atual indica que tais estudos ainda não foram de fato aproveitados e implantados no desenho das cidades. Fato este que pode ocorrer devido a não conscientização da população da importância de se preservar e utilizar os espaços públicos e por parte das autoridades, que durante muitos anos priorizaram a expansão e ocupação das vias e edificações em detrimento das pessoas, prescindindo do papel fundamental que as cidades exercem na segurança e convívio social. O projeto prático objetiva apresentar uma proposta de ocupação, que para sua funcionalidade, precisa estimular que todas as demais quadras, quando ocupadas, devem prever a existência de mais equipamentos públicos, de mais serviços comunitários e principalmente, de espaços que sempre valorizem o pedestre, e que ocorra reintegração dessas áreas residuais urbanas e fragmentadas da cidade, buscando entender sua relação com o usuário e estudando alternativas que gerem um espaço funcional e reconciliado.

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REFERÊNCIAS

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