Diplomatica 20 - Business and Diplomacy

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´ Diplomatica Nº20 FEVEREIRO 2014 €7 (Cont.)

BUSINESS & DIPLOMACY

Entrevista Embaixadora de Cuba DIPLOMÁTICA 20 • DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

Uma nova era

Dossier Batalha contra o Ébola Moçambique Filipe Nyusi O novo Presidente

Durão Barroso O adeus à Europa

A queda do BES nas relações com Angola

Tunísia A primavera Árabe

O FENÓMENO

DILMA ROUSSEFF Dias Nacionais: Angola, Brasil, México,

Alemanhã, Aústria, Roménia, Turquia, Andorra, Argélia, Arabia Saudita, China e Coreia

1 • DIPLOMÁTICA - JUNHO/JULHO 2008

With English Texts


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Agradecimento: Arboretto


Assuntos Summary

Editorial - Prenúncio de um novo provir Editorial - Harbinger of new stem Espaço Diplomático: Diplomatic Area: Karima Benyaich, Embaixadora do Reino de Marrocos - A segurança e a luta contra o terrorismo, as escolhas de Marrocos Karima Benyaich, Ambassador of the Kingdom of Morocco - The security and the fight against terrorism Paul Schmit, Embaixador de Luxemburgo - As relações entre o Luxemburgo e Portugal Paul Schmit, Ambassador of Luxembourg - Relations between Luxembourg and Portugal Klára Breuer, Embaixadora da Hungria - Europa: a nossa história e destino comum Klára Breuer, Ambassador of Hungary - Europe: our shared history and destiny Ulrich Brandenburg, Embaixador da Alemanha - 2014: Passado e presente nas relações entre a Alemanha e Portugal Ulrich Brandenburg, Ambassador of Germany - 2014: The past and present of Portuguese-german relations Saloua Bahri, Embaixadora da Tunísia - Da transição constitucional à transição democrática Saloua Bahri, Ambassador of Tunisia - From the constitutional transition to the democratic transition Bronisław Misztal, Embaixador da Polónia - Os efeitos buldozzer do século XXI Bronisław Misztal, Ambassador of Poland - The bulldozer effects of the 21st Century Hikmat Ajjuri, Embaixador da Palestina - Sussuros na presença do Mal é uma cultura não-democrática Hikmat Ajjuri, Ambassador of Palestine - Whisper in the Presence of Wrong is a Non-democratic Culture Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre - Viver em Portugal, uma experiência maravilhosa Thalia Petrides, Ambassador of Cyprus - Living in Portugal, a wonderful experience

5

6 8 12 14 16 18 20 22

Líderes - Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália - a via larga - o papel da Europa e da Itália no Mundo Leaders - President of Italy - The high road - Europe and Italy’s role in the world

24

Ébola - Um tempo de incertezas Ebola - A time of uncertainty

29

Jean-François Blarel, Embaixador de França - Mobilização contra o ébola Jean-François Blarel, Ambassador of France - Mobilization against Ebola

32

Despedida de Durão Barroso faz balanço positivo Durão Barrosos's farewell with positive balance

34

Barroso condecorado pelo Presidente da República Barroso awarded by the President of the Portuguese Republic

42

Brasil a duas vozes - O “fenómeno” Dilma The two sides of Brazil - The Dilma phenomenon

44

Cavaco Silva visita Emirados Árabes Unidos Cavaco Silva visits the United Arab Emirates

50

Cavaco Silva ratifica acordo de livre comércio com Colômbia Cavaco Silva ratifies free trade agreement with Colombia

56

Cavaco Silva e Alberto II do Mónaco - na 5ª Convenção de Negócios da BioMarine Cavaco Silva and Albert II of Monaco in the 5th Biomarine business convention

57

Johana Ruth Tablada de la Torre, Embaixadora de Cuba Johana Ruth Tablada de la Torre, Ambassador of Cuba

59

Angola no caminho do progresso e desenvolvimento Angola on the path of progress and development

64

Opinião - As consequências da queda do BES nas relações económicase políticas Luso-Angolanas Opinion - The consequences of the fall of BES in the Portuguese-angolean economic and political relations

68

Filipe Nyusi - De ilustre desconhecido a presidente de Moçambique Filipe Nyusi - Illustrious unknown to president of Mozambique

72

Mala Diplomática - Dias nacionais: Brasil, México, Alemanha, Austria, Roménia, Turquia, Andorra, Argélia, Arábia Saudita, China, Coreia Diplomatic pouch - National days: Brazil , Mexico, Germany , Austria , Romania, Turkey , Andorra , Algeria, Saudi Arabia, China, Korea

76

Imamat do Príncipe Aga Khan Prince Aga Khan's Imamat

100

Textos em Inglês English textes

105

DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

4 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


EDITORIAL

Prenúncio de um novo provir Ao fim de um ano marcado por tristes acontecimentos, não se perdeu contudo a esperança que outros tempos hão-de vir, irreversíveis, perenes, onde um outro mundo se afirme como sementeira nova de esperança, fraternidade e paz, contra estes tempos de cólera e intolerância à solta. Tempos de fundamentalismo supostamente religioso, com o Estado Islâmico a revelar-se a este mundo, num cenário de mortes e tragédia e a trazer ao de cima o que de pior a Humanidade foi acumulando ao logo dos tempos por razão da nossa arrogância e da indesculpável distração colectiva. Tempos de fogo, com o eclodir da guerra aqui mesmo ao lado, na Ucrânia, colocando a velha Europa com um barril de pólvora no seu ventre, de consequências imprevisíveis. Mais adiante, aqui a um abraço de mar, a tragédia que se abateu sobre o povo irmão de Cabo Verde e que sublinha a impotência humana perante a força indomável da natureza, mas que propicia do mesmo modo o reencontrar com os valores maiores da solidariedade. Aqui, mesmo em casa, deparamo-nos com o acentuado empobrecimento da população portuguesa, com o espectro da fome pairando em muitos lares e com a desesperança à solta. No entanto, neste oceano de contratempos e vilanias, uma luz de esperança abriu-se, neste ocaso de ano velho, com a aparente queda do “muro de Cuba” e o retomar das relações diplomáticas entre este país latino-americano e os Estados Unidos da América. 2014 não foi um ano feliz para Portugal e para o mundo. Mas a vida continua, fazendo de cada dificuldade uma alavanca para avançar num mundo melhor, sempre assim foi e sempre assim será. A diplomacia será certamente determinante, como sempre foi. Que o diálogo, o respeito pelas diferenças e a paz possam marcar 2015 como prenúncio de um novo provir.

Harbinger of a new stem After a year marked by sad events, we not yet lost hope that other times are to come, irreversible, perennials, where another world to assert itself as a new seed of hope, fraternity and peace, against these times of wrath and intolerance loose. Times of so-called religious fundamentalism, with the Islamic State to proving to this world a death and tragedy scenario and bringing out the worst that humanity has accumulated through the time by reason of our arrogance and inexcusable legal distraction. Times of fire, with the outbreak of war right beside us, in Ukraine, putting the old Europe with a time bomb in her womb, with unforeseeable consequences. Nearby, to the extent of an embrace, the tragedy that befell our brotherly people of Cape Verde and marking the human impotence before the indomitable force of nature that, at the same time, has shown us the highest values of solidarity. Here, even at home, we are faced with the sharp depletion of the Portuguese population, with the specter of hunger hovering in many homes and hopelessness on the loose. However, in this ocean of setbacks and villainy, a light of hope opened, in the evening of the old year, with the apparent fall of the "wall of Cuba" and the resumption of diplomatic relations between the Latin American country and the United States of America. 2014 was not a happy year for Portugal and the world. But life goes on, making every difficulty a lever to advance to a better world. So always was and always will be. Diplomacy will certainly be decisive, as ever. That dialogue, respect for differences and peace to mark 2015 as harbinger of a new stem.

Os particulares, empresas e instituições que desejem manifestar o seu apoio para com a população afetada pela erupção na Ilha do fogo, em Cabo Verde poderão entregar os seus donativos, em roupas, produtos alimentares não perecíveis, material escolar e outros, na seguinte morada: Regimento de Sapadores Bombeiros, Quartel de Marvila Rua Dr. Espírito Santo – Marvila Resposável: Sub-chefe Principal Antonio Sonim Telemóvel: 916 418 678 Email : antonio.sonim@cm-lisboa.pt Horário: das 09 às 17

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 5


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Karima Benyaich, Embaixadora do Reino de Marrocos A segurança e a luta contra o terrorismo, as escolhas de Marrocos

"

O FANATISMO DO ÓDIO, A EXPLORAÇÃO

DA RELIGIÃO E O DESVIO DOS SEUS PRINCÍ-

PIOS MAIS NOBRES SÃO AS BALIZAS QUE REGEM A IDEOLOGIA DOS EXTREMISTAS

Desde os ataques de 11 de

tamento permanecem inalterados:

Setembro de 2001, a luta contra

cultura de ódio, ostracismo e

o terrorismo está no centro das

rejeição da alteridade são sempre

preocupações da Organização

a base dos seus argumentos.

das Nações Unidas quer no Con-

O fanatismo do ódio, a explora-

selho de Segurança bem como na

ção da religião e o desvio dos

Assembleia Geral.

seus princípios mais nobres são

A actualidade internacional,

as balizas que regem a ideologia

infelizmente lembra-nos todos

dos extremistas. Frustração, igno-

os dias, que já não estamos em

rância e insegurança são ainda o

condições de relaxar os nossos

seu terreno preferido.

esforços contra as ameaças ter-

A Resolução 2178 do Conselho

roristas.

de Segurança das Nações Uni-

Embora os grupos terroristas te-

das, adoptada na Cimeira do

nham evoluído na forma, no modo

Conselho em Setembro passado,

de funcionamento e nas ambi-

sublinha a importância da luta

ções, os seus métodos de recru-

contra a radicalização religiosa e

6 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

"


o extremismo violento. Esta luta

reformas políticas necessárias,

é muitas vezes reduzida à única

que efectivamente luta contra o

dimensão de segurança, esque-

radicalismo violento batalhando

cendo-se, assim, a importância

contra o terrorismo.

dos factores culturais e religiosos.

A abordagem marroquina, é as-

A experiência marroquina na luta

sim consistente, porque as ini-

contra o terrorismo é baseada

ciativas e a lógica desenvolvidas

numa abordagem realista em

internamente são compatíveis e

políticas comprovadas. É parte de

complementares com as acções

uma estratégia política implementada desde que o país foi atingido fortemente pelo terrorismo durante os atentados de Casablanca de 16 de Maio de 2003. A abordagem marroquina é, acima de tudo global, porque é baseada em várias dimensões. Na verdade, Marrocos está convencido de que não pode haver segurança, paz sustentável e estabilidade sem a implementação do tríptico: segurança, desenvolvimento humano sustentável e inclusivo e promoção dos autênticos valores culturais e religiosos. Para atingir estes objectivos, três áreas foram desenvolvidos pelo

"

MARROCOS ESTÁ CONVENCIDO DE

QUE NÃO PODE HAVER SEGURANÇA, PAZ

SUSTENTÁVEL E ESTABILIDADE SEM A IMPLEMENTAÇÃO DO TRÍPTICO: SEGURANÇA, DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL E INCLUSIVO E PROMOÇÃO DOS AUTÊNTICOS VALORES CULTURAIS E RELIGIOSOS

Reino: – Optimização da governação de segurança e melhoria do quadro

"

jurídico da luta contra o terroris-

de cooperação realizadas com os

mo;

parceiros estrangeiros.

–Luta contra a insegurança e

A contribuição de Marrocos, é

precariedade social promoven-

a expressão da sua crença de

do o desenvolvimento humano

que toda a acção antiterrorista

sustentável, através da Iniciativa

definida globalmente, só é viável

Nacional para o Desenvolvimento

através do compromisso indivi-

Humano (INDH), lançada por Sua

dual e colectivo dos Estados. A

Majestade o Rei Mohammed VI

dimensão regional, como tal, é

em Maio de 2005;

muito importante.

–Reestruturação da área religiosa

São todos estes factores que

preservando os princípios do diá-

determinam o compromisso de

logo, abertura e tolerância, regis-

Marrocos contra o terrorismo bem

tado durante séculos no repositó-

como a sua mobilização contínua

rio sunita e malaquita do Reino.

contribuindo desta forma para os

– É esta combinação destes três

esforços da comunidade interna-

elementos, juntamente com as

cional.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 7


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Paul Schmit, Embaixador de Luxemburgo As relações entre o Luxemburgo e Portugal

"

AS EXCELENTES RELAÇÕES DIPLOMÁ-

TICAS E DE AMIZADE QUE EXISTEM ENTRE O LUXEMBURGO E PORTUGAL SÃO UM BOM PONTO DE PARTIDA

PARA FORTALECER AS TROCAS COMERCIAIS E LOGÍSTICAS

"

As relações mais que centená-

destino, onde foram acolhidos de

valor de 45 milhões de euros (20º

rias entre os dois países foram

braços abertos.

lugar) e importou bens no valor de

fortalecendo-se de forma gradual,

As excelentes relações diplomáticas

30,5 milhões de euros (36º lugar).

entre outros, pelo facto de o actual

e de amizade que existem entre

Estes valores têm permanecido

Chefe de Estado do Luxemburgo ser

o Luxemburgo e Portugal são um

constantes ao longo dos últimos

descendente directo da maioria dos

bom ponto de partida para fortalecer

anos. Mais de metade das expor-

Reis portugueses e, pelo acolhimen-

as trocas comerciais e logísticas.

tações para o Luxemburgo provêm

to em Portugal, no Verão de 1940,

A balança comercial entre os dois

do sector agrícola, enquanto que os

da Família Grão-Ducal e do Governo

países é dominada pelas trocas no

metais são o bem mais importado.

luxemburguês no exílio, graças aos

sector dos serviços, mas existem

Uma das primeiras visitas oficiais

vistos emitidos pelo Consul Geral de

igualmente oportunidades nas áreas

que o Primeiro Ministro do Luxem-

Portugal em Bordéus, Dr. Aristídes

do comércio e da logística. Os dois

burgo, Xavier Bettel, desejou efec-

de Sousa Mendes. E mais recen-

países encontram-se em posições

tuar, no passado mês de Março

temente, nos anos 1960 e 1970 do

relativamente baixas na tabela das

e apenas dois meses após a sua

século passado, devido à emigração

importações e exportações: 20º e

tomada de posse, foi a Portugal, jus-

de milhares de portugueses que

36º lugar. Em 2013, Portugal expor-

tificando: “As relações bilaterais são

escolheram o Luxemburgo como

tou para o Grão-Ducado bens no

excepcionais. Mais de 16% dos

8 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


cidadãos residentes no Luxem-

entre os diferentes actores dos dois

de investigação universitária ou do

burgo são portugueses (cerca de

países no que diz respeito à Educa-

IPN, a formação ao mais alto nível e

90.000 pessoas). A História, a

ção e às Comunidades Portuguesas,

a promoção da Ciência e da Tecno-

cultura e a gastronomia portuguesas

no sentido de se encontrarem as

logia, bem como a colaboração entre

estão muito presentes no Luxembur-

melhores formas de integração das

a Universidade do Luxemburgo e as

go e contribuem para o enriqueci-

várias línguas estrangeiras na forma-

Universidades de Aveiro, Coimbra e

mento da sociedade multicultural do

ção dos jovens e daí tirar o máximo

Universidade Nova de Lisboa, foram

Grão-Ducado. Os laços são fortes

proveito, e de apoiar os imigrantes

temas abordados durante esta visita.

e queremos manter esta relação de

portugueses no que diz respeito ao

No decorrer dos encontros entre os

amizade, diria mesmo familiar, entre

mercado de trabalho e do alojamen-

dois ministros da Educação e das

os dois países”.

to no Luxemburgo.

respectivas equipas, foram tam-

Por seu turno, o Primeiro Ministro

Na área da Educação os contactos

bém discutidos projectos na área

português Pedro Passos Coelho,

têm sido vários, tendo-se efectuado

da aprendizagem multi-lingue para

efectuou uma visita oficial ao Luxem-

visitas bilaterias, do Ministro Nuno

crianças de tenra idade, a avaliação

burgo nos dias 22 e 23 de Outubro,

Crato ao Luxemburgo em Julho e do

de cursos integrados e cursos para-

tendo sido acompanhado pelo Minis-

Ministro Claude Meisch a Portugal

lelos em Português no Luxemburgo

tro da Educação, Nuno Crato, pelo

em Setembro último. A visita do Mi-

e o seu papel na aprendizagem,

Secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, e pelo Secretário de Estado das Comunidades portuguesas, José Cesário. As relações económicas entre o Luxemburgo e Portugal, nomeadamente no domínio das energias renováveis, que ambos desejam desenvolver mais, foi um dos temas abordados pelos dois Primeiros Ministros durante esta visita. Sublinharam a necessidade de reforçar

"

A HISTÓRIA, A CULTURA E A GASTRONOMIA PORTUGUESAS ESTÃO MUITO PRESENTES NO LUXEMBURGO E CONTRIBUEM PARA O ENRIQUECIMENTO DA SOCIEDADE MULTICULTURAL DO GRÃO-DUCADO

"

as relações comerciais, estando

a fim de se encontrar as melhores soluções. Visitas recíprocas continuarão a ser organizadas, para melhor se conhecer as características e as particularidades de funcionamento dos dois países. Numa iniciativa da Câmara de Comércio do Luxemburgo e da Câmara de Comércio Luso-Belgo-Luxemburguesa, teve lugar no passado mês de Julho, uma deslocação a Lisboa de um grupo de agentes económicos

previstas missões económicas dos

nistro da Educação do Luxemburgo

luxemburgueses. Durante o semi-

ministérios da Economia dos dois

a Portugal, teve lugar no contexto de

nário que foi organizado no âmbito

países. Neste contexto, o Primeiro

uma colaboração mais aprofunda-

desta visita, vários especialistas do

Ministro Bettel sublinhou as boas re-

da que os dois ministros decidiram

sector da logística de ambos os paí-

lações ao nível politico, diplomático e

adoptar, nos domínios da educação

ses puderam apresentar as diferen-

de amizade entre o Grão-Ducado e a

e da investigação, e vem no se-

tes oportunidades neste sector, em

República Portuguesa, sublinhando

guimento de um primeiro contacto

franca expansão no Luxemburgo, e

que, a nível económico há ainda um

estabelecido no Luxemburgo, em

trocar experiências e informações

grande potencial por desenvolver.

Julho de 2014. O Ministro Meisch

durante os vários encontros B2B que

Durante a visita do Primeiro Ministro

visitou, entre outros, a Universidade

foram organizados. É intenção dos

português, Xavier Bettel e Pedro

de Coimbra e o Instituto Pedro Nu-

dois países, através dos seus minis-

Passos Coelho também aborda-

nes (IPN, Associação para a Inova-

térios da Economia e das entidades

ram alguns dos desafios bilaterais,

ção e Desenvolvimento em Ciência

responsáveis pelo comércio externo,

nomeadamente o sistema educati-

e Tecnologia). A investigação e o

continuar a desenvolver este tipo de

vo luxemburguês e a situação dos

desenvolvimento tecnológico, a

contactos, numa optica de expansão

imigrantes portugueses no Luxem-

criação de empresas inovadoras –

e crescimento em áreas onde ainda

burgo. Há uma estreita colaboração

incubação baseada em projectos

há muitas oportunidades. ■ ➤

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 9


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Paul Schmit, Ambassadeur Luxembourg Les relations entre le Luxembourg et le Portugal Les relations plus que centenaires

L’histoire, la culture et la gastronomie

pays, notamment au niveau Éducation

entre les deux pays sont basées sur un

portugaise sont très présentes au

et Communautés portugaises, pour

rapprochement progressif symbolisé

Luxembourg et enrichissent la société

trouver des voies de progression afin

par le fait que l’actuel Chef de l’Etat

multiculturelle du Grand-Duché. Les

de mieux pouvoir tenir compte de la

luxembourgeois descend en ligne

liens sont étroits et il faut maintenir la

richesse des nombreuses langues

directe de la plupart des Rois portugais

relation amicale, voire familiale entre

étrangères dans la formation des

et par l’accueil, en été 1940, de la Fa-

les deux pays».

jeunes ou de soutien aux les immi-

mille grand-ducale et du gouvernement

Pour sa part, le Premier ministre portu-

grants portugais au niveau du marché

luxembourgeois en exil, notamment

gais, Pedro Passos Coelho, a effectué

du travail et du logement au Luxem-

grâce à des visas délivrés à l’époque

les 22 et 23 octobre, une visite officielle

bourg.

par le Consul général du Portugal à

au Luxembourg, accompagné du mi-

Des échanges au niveau de l’éduca-

Bordeaux, Monsieur Aristides de Sou-

nistre de l’Éducation et de la Science,

tion avaient déjà eu lieu en juillet et

sa Mendes.

Nuno Crato, du Secrétaire d’État aux

en septembre, avec respectivement

Les liens entre les deux pays ont

Finances, Manuel Rodrigues, et du

les visites du Ministre Nuno Crato au

connu un développement majeur dans

Secrétaire d’État aux Communautés

Luxembourg et la visite du Ministre

les années 1960 et 1970, grâce à

portugaises, José Cesário.

Claude Meisch au Portugal.

l’émigration souhaitée et favorisée de

Les deux Premiers ministres ont abor-

La visite du Ministre Meisch au Portu-

plusieurs dizaines de milliers de Portu-

dé les relations économiques entre le

gal s’est inscrite dans le contexte d’une

gais vers le Luxembourg.

Luxembourg et le Portugal, notamment

collaboration approfondie que les deux

Les excellentes relations diplomatiques

celles dans le domaine des énergies

ministres ont décidé de poursuivre

et d’amitié qui existent entre le Portugal

renouvelables, qu’ils souhaitent déve-

dans les domaines de l’éducation et

et le Luxembourg sont un bon point

lopper davantage. D’autre part, sont

de la recherche. Elle a fait suite à un

de départ pour renforcer les échanges

prévues des missions économiques

premier échange au Luxembourg en

commerciaux et logistiques. Il est

des ministères luxembourgeois et

juillet 2014. Le Ministre Meisch a, entre

évident que la balance commerciale

portugais de l’Économie, afin d’inten-

autres, visité l’Université de Coimbra et

entre le Luxembourg et le Portugal est

sifier les relations entre les deux pays.

l’Institut Pedro Nunes (IPN, Associa-

dominée par les échanges de services,

Dans ce contexte, le Premier ministre

tion pour l’Innovation et le Développe-

mais il existe également des opportuni-

Bettel a souligné les bonnes relations

ment en Science et Technologie)

tés au niveau du commerce physique

au niveau politique, diplomatique et

La recherche et le développement

et de la logistique.

«familial» entre le Grand-Duché et la

technologique, la création d’entreprises

Les deux pays ne se placent qu’aux

République portugaise, tout en mettant

innovantes - incubation (sur la base

20e et 36e rang en ce qui concerne les

l’accent sur le fait qu’au niveau éco-

d’idées issues de projets de recherche

exports et imports de biens. En 2013,

nomique, il y a encore «du potentiel à

universitaires ou de l’Institut, et la for-

le Portugal a exporté des marchan-

développer». Une mission économique

mation de haut niveau et la promotion

dises pour 45 millions d’euros vers le

organisée par la Chambre de Com-

de la science et de la technologie ont

Grand-Duché (20e rang) et importé

merce du Luxembourg, en collabora-

été des sujets abordés lors de cette vi-

des biens pour 30,5 millions d’eu-

tion avec la Chambre de Commerce

site (collaboration entre l’Université du

ros (36e rang). Ces chiffres restent

Luso-Belgo-Luxembourgeoise, avait

Luxembourg et les Universités d’Avei-

constants depuis des années. Plus

eu lieu au mois de juillet dernier à Lis-

ro, Coimbra ou avec l’Universidade

de la moitié des exportations vers le

bonne. Lors du séminaire, des experts

Nova de Lisboa).

Luxembourg est constituée de produits

dans le domaine de la logistique se

Lors des rencontres entre les deux mi-

alimentaires tandis que les métaux

sont exprimés sur les différentes possi-

nistres et leurs équipes, l’apprentissage

dominent les importations.

bilités d’échanges entre les deux pays,

multilingue en bas âge, l’évaluation des

Une des premières visites offi-

des sociétés portugaises ayant eu l’oc-

cours intégrés et des cours parallèles

cielles que le Premier ministre du

casion de mieux connaître ce domaine,

en portugais au Luxembourg et son

Luxembourg, Xavier Bettel, a sou-

en forte expansion au Luxembourg,

rôle dans l’apprentissage multilingue

haité effectuer, au mois de mars

lors de plusieurs rencontres B2B.

en bas âge ont aussi été discutés,

dernier et quelques mois après son

Aussi des problèmes bilatéraux ont

dans le but de trouver les meilleures

entrée en fonction, a été au Portu-

été abordés, notamment le système

solutions.

gal : «Les relations bilatérales sont

éducatif luxembourgeois et la situation

Des visites réciproques sont orga-

exceptionnelles. Plus de 16% des

des immigrants portugais au Luxem-

nisées afin de mieux connaître les

résidents luxembourgeois (90.000

bourg. Il existe une collaboration étroite

caractéristiques et particularités de

citoyens) sont d’origine portugaise.

entre les différents acteurs des deux

fonctionnement des deux pays. n

10 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015



ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Klára Breuer, Embaixadora da Hungria Europa: a nossa história e destino comum

"

O MEU OBJECTIVO É TRAZER A HUNGRIA MAIS PERTO DE PORTUGAL E VICE-VERSA, APROXIMANDO, ASSIM, O POVO HÚNGARO DO

POVO PORTUGUÊS. ASSIM, A NOSSA TAREFA É: APROXIMAR O DISTANTE

"

É uma honra para mim aceitar o

em ser a guerra que acabaria

Outubro não seja apenas uma cau-

convite da Revista Diplomática por

com todas as guerras, originando

sa húngara. Continuamos a lem-

forma a dar o meu contributo à

ainda mais sofrimento ao longo do

brar com gratidão todos aqueles

edição de Dezembro, num ano tão

século 20.

que, de fora da Hungria, ajudaram

importante para o meu país. Este

Todos os anos, entre 23 de Outu-

os nossos revolucionários nesses

ano a Hungria, juntamente com

bro e 4 de Novembro, os húngaros

dias de Outubro e a seguir.

outros países da nossa região,

recordam os heróis da Revolução

Sabemos que a revolução foi

comemora o 25º aniversário das

de 1956 que teve uma duração

brutalmente derrotada em Novem-

alterações democráticas e o 15º

curta mas, a meu ver, foi também

bro de 1956, mas acredito que em

aniversário da sua adesão à NATO

uma importante chamada de aten-

1989 acabou por sair vitoriosa.

e à UE.

ção para o resto do mundo. Foi

Não é uma mera coincidência que

Este ano é igualmente importan-

este levantamento que ajudou mui-

o estado democrático tenha sido

te recordar o início da I Guerra

tas pessoas a entenderem o que o

declarado precisamente no dia 23

Mundial, uma guerra frequente-

comunismo realmente significava

de Outubro de 1989, há 25 anos.

mente referida como a ‘guerra de

para a nossa região. É, por isso,

Nós na Hungria sabemos que há

irmãos’ das nações europeias que,

minha convicção que a preserva-

muitas razões para lembrarmos os

pela forma como terminou, falhou

ção da memória da Revolução de

heróis de 1956, tendo para com

12 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


eles uma dívida de gratidão. O

também, um entendimento forte

ra da Hungria em Portugal, espero

sacrifício deles não foi em vão.

daquilo que queremos alcançar,

poder contribuir para encontrarmos

1956 é, para nós, símbolo da liber-

em conjunto, em prol dos nossos

novas áreas de cooperação entre

dade e de solidariedade.

cidadãos. Temos que restabele-

os nossos países. Estou convenci-

O ano de 1989 trouxe enormes

cer a nossa confiança – o nosso

da de que nas áreas da economia,

mudanças para a nossa Região.

crescimento e competitividade

cultura, ciências e tecnologia e na

Para o mundo inteiro, o símbolo

dependem dela. Os elementos

procura das respostas certas para

mais visível destas mudanças pro-

constitutivos duma Europa forte

as questões sociais preocupantes

vavelmente é a queda do muro de

são as próprias nações.

poderemos reforçar-nos mutua-

Berlim. Para nós, húngaros, é mo-

O Primeiro-Ministro da Hungria,

mente através da cooperação.

tivo de grande orgulho termos con-

Sr. Viktor Orbán recentemente

Gostaríamos de dar a conhecer

tribuído para esse acontecimento

escreveu o seguinte: “Os valores

aos nossos amigos portugueses

com a abertura da nossa fronteira

mais importantes da Europa são

as porcelanas de Herend, o nosso

com a Áustria, através da qual

as suas nações, as nações na sua

vinho de Tokaj, a excelente Aca-

dezenas de milhares de cidadãos

diversidade. (…) Porque existem

demia de Música Ferenc Liszt, os

da Alemanha Oriental deixaram

raízes nacionais de vários milha-

nossos laboratórios de pesquisa,

o Bloco do Leste em direcção ao

res de anos – cortá-las seria igual

bem como as universidades que

Ocidente. Sobre esse acto históri-

ao suicídio. É minha convicção

oferecem programas de formação

co recomendo vivamente o livro de

que as nações deveriam ser mais

completos em inglês, alemão e

Andreas Oplatka, Der erste Riss

envolvidas no trabalho realizado

francês.

in der Maurer (A primeira brecha

na União. (…) A Europa institucio-

Outrora, por razões históricas

no Muro). Note-se que na altura

nalizada não se pode afastar dos

conhecidas, os húngaros chega-

do acontecimento, há 25 anos, as

estados-membros e dos cidadãos.

vam a Portugal em circunstâncias

tropas soviéticas ainda estavam no

(…) Temos que enfrentar com

infelizes. Hoje constatamos que o

território da Hungria.

firmeza os desafios e problemas,

número de húngaros em Portugal

A liberdade e a democracia são,

procurando as respostas certas

cresce de novo, mas desta vez

por tanto, preciosas para os hún-

com uma postura de implacável

graças às liberdades que tanto

garos. Acreditámos e continuamos

rectidão. Mas para isso precisa-

prezamos na União Europeia.

a acreditar que a Europa é a nossa

mos de saber o que queremos.

Os nossos jovens visitam cada

pátria comum – razão pela qual

Precisamos de humildade para al-

vez mais os nossos países, atra-

nós sentíamos aprisionados no

cançar os nossos objectivos, duma

vés, por exemplo, do Programa

Bloco do Leste. Ao recordar esses

visão clara e inequívoca, duma

Erasmus. É, para mim, motivo de

tempos, sinto uma real alegria por

liderança política capaz de definir

grande satisfação poder referir que

‘tudo isso ter acabado’.

e manter um rumo. É desta for-

recentemente foi fundada a asso-

A seguir, o povo húngaro expres-

ma que as nossas preocupações

ciação dos húngaros em Portugal,

sou, através de referendos, a sua

sentidas pela Europa se poderão

a Associação Portugal - Hungria

vontade de apoiar a adesão da

converter no ponto de partida da

para a Cooperação, que convida

Hungria à NATO e a UE. E quando

acção comum.”

todos os interessados a ela se

a Hungria teve a honra de assumir

Hoje, quando estamos a sair da

unirem.

a presidência rotativa do Conselho

crise, a necessidade desta acção

A Hungria, talvez até a Europa

da UE em 2011, o nosso lema foi

comum e a consciência de que

Central, pode parecer um pouco

‘Europa forte’. Acreditamos, de

todos estamos dependentes uns

distante de Portugal. O meu objec-

facto, numa Europa forte, uma as-

dos outros são cada vez mais

tivo é trazer a Hungria mais perto

piração provavelmente mais válida

pertinentes. A cooperação entre os

de Portugal e vice-versa, aproxi-

que nunca. No entanto, para nós,

pequenos e médios países dentro

mando, assim, o povo húngaro do

isto não significa apenas institui-

da União é duma importância fun-

povo português. Assim, a nossa

ções fortes em Bruxelas. Significa,

damental. Como nova Embaixado-

tarefa é: aproximar o distante.

(1) Texto original: http://www.miniszterelnok.hu/cikk/orban_viktor_aggodalom_europaert?utm_source=mandiner&utm_medium=link&utm_campaign=mandiner_201411

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 13


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Ulrich Brandenburg, Embaixador da Alemanha 2014: Passado e presente nas relações entre a Alemanha e Portugal

"

NENHUM DOS PAÍSES FICOU A GANHAR

COM A GUERRA. QUER A JOVEM REPÚBLICA

PORTUGUESA, QUER A ALEMANHA, SOFRERAM ABALOS POLÍTICOS E ECONÓMICOS DECORRENTES DA I GUERRA MUNDIAL, O QUE ACABOU POR DITAR O FIM DAS JOVENS DEMOCRACIAS REPUBLICANAS

"

Uma série de eventos em 2014

alemães e portugueses confronta-

do Cônsul-geral de Portugal em

procuram marcar na Europa a recor-

ram-se não só na frente ocidental

Bordéus, Aristides de Sousa Men-

dação coletiva de acontecimentos

de Flandres e do norte de França,

des, que concedeu aproximadamen-

históricos que moldaram o destino

mas também em África. Ambos os

te 30.000 vistos, salvando assim a

do continente no passado século. Há

lados sofreram perdas significativas.

vida destes perseguidos, 10.000 dos

100 anos eclodiu a I Guerra Mundial,

Nenhum dos países ficou a ganhar

quais cidadãos judeus.

a “catástrofe original” do século XX;

com a guerra. Quer a jovem repúbli-

O dia 9 de Novembro de 1989 foi um

há 75 anos a Alemanha nazi invadiu

ca portuguesa, quer a Alemanha, so-

dia de grande alegria, não apenas

a Polónia e despoletou a II Guerra

freram abalos políticos e económicos

para nós na Alemanha. A alegria

Mundial; e há 25 anos o Muro de

decorrentes da I Guerra Mundial, o

pela superação da divisão da Eu-

Berlim caiu, permitindo a reaproxima-

que acabou por ditar o fim das jovens

ropa e pelo fim da Guerra Fria foi

ção entre os povos da Europa.

democracias republicanas. Durante

partilhada por muitos portugueses,

Estas memórias históricas também

a II Guerra Mundial, um Portugal

que somente 15 anos antes tinham

têm um significado para as relações

neutro tornou-se um ponto de passa-

pacificamente lutado pela liberdade e

entre a Alemanha e Portugal. Os

gem seguro para muitos perseguidos

democracia no seu país.

nossos dois países foram adversá-

pelo regime nazi na Alemanha e nos

Contudo, a história coletiva de am-

rios na I Guerra Mundial. Soldados

países ocupados. Sublinho o papel

bos países remonta a um período

14 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


muito anterior. A primeira institui-

perfazendo hoje aproximadamente

Erasmus, seja para a totalidade do

ção de solidariedade social criada

120.000 residentes. São um exemplo

curso. Ambos os países proporcio-

por alemães em Lisboa – a Associa-

de integração bem-sucedida e um

nam condições atrativas. No ano

ção de S. Bartolomeu dos Alemães

elo de ligação importante e estável

letivo 2012/13, mais de 900 estudan-

em Lisboa – foi fundada no séc. XIII

entre os nossos dois países. Por

tes alemães estudavam em univer-

e ainda existe. Posteriormente, os

outro lado, Portugal suscita cada vez

sidades portuguesas, e 1500 portu-

comerciantes das cidades hanseáti-

mais interesse dos cidadãos ale-

gueses – 1000 dos quais, já a viver

cas estabeleceram-se aqui, por for-

mães, também pela maior facilidade

na Alemanha - em universidades

ma a transacionar diretamente com o

em viajar hoje em dia. Chegam a

alemãs. Evidentemente que estes

império português. A criação da CCI-

Portugal para trabalhar, estudar ou

números ainda têm grande margem

LA em 1954 surge assim numa longa

após a reforma. Vários milhares de

para crescer.

tradição cooperante entre os agentes

alemães estão hoje em casa em Por-

Urge, assim, aumentar a oferta de

económicos de ambos países. Em

tugal. O número de turistas alemães

ensino das respetivas línguas no

Junho de 2014 comemoraram-se os

em Portugal tem vindo a crescer

país parceiro, especialmente no

60 anos desta Câmara, na presença dos Presidentes dos dois países. Em Portugal estão representadas cerca de 300 empresas alemãs. Muitas delas usufruem das condições de instalação e desenvolvimento que Portugal tem para oferecer. Não é por acaso que entre o “Top 10” de maiores exportadores de Portugal se encontram três empresas alemãs. Empresários alemães enaltecem a qualificação e a fiabilidade dos colaboradores portugueses, contribuindo para as vantagens de investir em Portugal, que nos últimos anos tem melhorado consideravelmente a sua competitividade a nível internacional.

ensino escolar e universitário para

"

capacitar os jovens com as ferra-

URGE [...] AUMENTAR A OFER-

mentas linguísticas que facilitem a

TA DE ENSINO DAS RESPETIVAS LÍNGUAS NO PAÍS PARCEIRO, ESPECIALMENTE NO ENSINO ESCOLAR E UNIVERSITÁRIO PARA CAPACITAR OS JOVENS COM AS FERRAMENTAS LINGUÍSTICAS QUE FACILITEM A SUA INTEGRAÇÃO

Mas existe outra data que poucas

"

sua integração. Infelizmente o ensino da língua alemã nas escolas portuguesas nem de longe representa a intensidade das relações bilaterais entre os dois países. Ao contrário, o conhecimento da língua portuguesa na Alemanha estaria em pior estado, se lá não existisse a comunidade portuguesa. Outra área em que deveríamos estreitar os laços é a I&D, pois ambos os países têm criado um enquadramento favorável à prossecução dos seus objetivos, que também têm claras repercussões económicas.

vezes é mencionada na comuni-

e em 2013 quase 120.000 turistas

cação social. Há precisamente 50

portugueses visitaram a Alemanha. A

-se no topo da agenda, quer em

anos, o carpinteiro português de 38

Alemanha representa, com 5%, o 6º

Portugal, quer na Alemanha, por

anos, Armando Rodrigues de Sá,

lugar no ranking de destinos estran-

exemplo.

iniciou o seu caminho de Vale de

geiros para os portugueses. Esta

Alemanha ao centro da Europa, Por-

Madeiros para a Alemanha. À sua

rota rumo ao conhecimento mútuo é

tugal no Ocidente: eis um belo exem-

chegada à estação de Colónia-Deutz

extremamente positiva para ambas

plo de aproximação e cooperação na

foi celebrado como o milionésimo

as culturas e países.

UE, onde representamos interesses

trabalhador estrangeiro a chegar

As boas relações entre a Alema-

comuns. Cooperação e interdepen-

à Alemanha. Muitos portugueses

nha e Portugal não são, contudo,

dências económicas, partilha de

chegaram antes e depois dele. Parte

um motivo para complacência. Um

valores, mas também uma melhoria

desta comunidade regressou a Por-

número crescente de estudantes

da aprendizagem mútua, são as

tugal, tal como Armando Rodrigues

alemães inscreve-se em universida-

melhores garantias para evitar uma

de Sá. Muitos outros permanece-

des portuguesas - e vice-versa – seja

repetição das amargas experiências

ram e criaram raízes na Alemanha,

por semestre, através do programa

do século XX.

As energias renováveis encontram-

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 15


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Saloua Bahri, Embaixadora da Tunísia De la transition constitutionnelle à la transition démocratique

"

AUJOURD’HUI, ON PEUT DIRE QUE LA TUNISIE A RÉUSSI SA TRANSITION DÉMOCRATIQUE

"

Il y a près de 4 ans, le 14 janvier

culture inapte à la démocratie et à

intensément ce moment, tout en

2011, la Tunisie, petit pays plutôt

la liberté.

s’attachant à rendre hommage à

connu par sa stabilité et sa séré-

Malgré la crise économique et le

ceux qui ont donné leur vie, pour

nité, a donné le signal aux révolu-

contexte sécuritaire, maitrisé tou-

redonner aux tunisiens leur liberté

tions arabes, qui hélas, ont eu des

tefois par l’expertise et la vigilance

et leur dignité et de choisir libre-

suites plutôt préoccupantes.

des forces de l’ordre, les élections

ment respectivement leurs repré-

Le 26 octobre 2014, ce même petit

législatives se sont déroulées dans

sentants à l’Assemblée et leur

pays précurseur, a organisé les

la discipline et la sécurité et le

président (parmi les 27 candidats),

premières élections législatives

peuple tunisien a montré une autre

le 23 novembre 2014.

libres et transparentes.

fois sa maturité, sa clairvoyance

La Communauté internationale a

L’évènement est historique, la

et son adhésion à la gouvernance

aussi salué la manière civique du

Tunisie continue de montrer

la plus proche possible de son

déroulement des élections, qua-

l’exemple et de démontrer que la

identité culturelle et de sa vision

lifiées de « crédibles et transpa-

Démocratie est possible partout

du devenir global de son pays.

rentes » par la mission d’observa-

où des femmes et des hommes

Cet exercice démocratique réus-

tion électorale de l’UE.

prouvent leur détermination pour

si a été enregistré comme une

5,200 millions d’électeurs tuni-

elle. Il n’est pas de peuple ou de

victoire pour la Tunisie qui a vécu

siens dont 311,034 résidents à

16 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


l’étranger, ont élu 217 députés à

gouvernement d’indépendants

velle Démocratie, va aujourd’hui

l’Assemblée des Représentants du

technocrates.

devoir s’attaquer à relever les

peuple parmi les 13.000 candidats

Face à la nouvelle réalité plurielle

défis socio-économiques, et à faire

inscrits sur 1320 listes représen-

qui caractérise actuellement la so-

preuve d’une gouvernance efficace

tant une multitude de partis.

ciété tunisienne, toutes les ques-

et effective, nécessitant toutes

Les résultats ont donné 85 sièges

tions complexes et contradictoires

les énergies et toutes les compé-

au parti séculier hétéroclite, Nida

qu’ont rencontré les tunisiens

tences des tunisiens à tous les

Tounès, 69 sièges au parti isla-

ont été résolues sur la base du

niveaux de responsabilité. Les tu-

miste Enahdha, l’Union patriotique

compromis entre les forces politi-

nisiens doivent retrouver confiance

libre : 16 sièges suivi du front po-

co-sociales du pays, convaincues

dans l’avenir et restaurer l’image

pulaire, (coalition de gauche), 15

en cela que tout passage en force

d’un pays dynamique, vivant, riche

sièges et du parti Afek Tounès : 8

aboutirait à une impasse.

de sa jeunesse éduquée qui doit

sièges. Le taux de participation est

Le texte constitutionnel adop-

avoir sa place dans la construction

de 61,8 % et à l’étranger de 29 %.

té sur la base du consensus en

économique.

Le processus démocratique en

est la meilleure illustration. Son

Tunisie continue son chemin. La

interprétation pour garantir une

L’Etat tunisien légitimé par les

prochaine échéance des élections

démocratie moderne en reste un

élections libres sera à même de

présidentielles prévue le 23 novembre, constitue une nouvelle date historique, la 1 ère entre des concurrents soumis aux règles du pluralisme et de la liberté démocratique, même si un second tour aura lieu fin décembre si aucun candidat ne remporte la majorité absolue des suffrages lors du premier tour. Ces élections constituent la der-

surmonter les débordements et les

"

dérapages sécuritaires.

L’ETAT TUNISIEN LÉGITIMÉ PAR LES ÉLECTIONS LIBRES SERA À MÊME DE SURMONTER LES

Les nouveaux élus de l’Assemblée des Représentants du peuple sont appelés à respecter l’intérêt national et d’être animés d’une volonté politique réelle de restructurer le pays. Les électeurs, concernés par

DÉBORDEMENTS ET LES DÉRAPAGES SÉCURITAIRES

les affaires publiques, ont aussi

"

nière phase d’un long processus de transition démocratique et

une responsabilité pour contribuer à la dynamique socio-économique ; seul fait garant de l’équilibre de la relation entre gouvernés

permettront à la Tunisie de mettre

enjeu dont dépend l’attitude des

et gouvernants et sans occulter la

un terme à 4 ans de situation pro-

acteurs politiques et de la coalition

place centrale de la société civile

visoire de transition et de se doter

au pouvoir.

ainsi que les médias déterminés à

d’institutions pérennes.

Aujourd’hui, on peut dire que

Après avoir fixé les fondements

la Tunisie a réussi sa transition

occuper pleinement leur positionnement de 4 ème pouvoir et qui

constitutionnels de sa Répu-

démocratique. Certaines caracté-

serviront de contrepoids à toute

blique démocratique à travers

ristiques de la Société tunisienne

dérive ou défaillance du pouvoir

l’adoption, le 26 janvier 2013, de

expliquent cette réussite : une

législatif.

sa nouvelle constitution, la Tu-

classe moyenne importante, une

Le processus démocratique en

nisie a mis en œuvre toute une

population éduquée, une armée

Tunisie est irréversible, reste que

feuille de route pour la prépara-

républicaine qui n’a jamais mani-

la réussite de la prochaine étape

tion de ses échéances électo-

festé d’appétit pour le pouvoir, des

demeure aussi tributaire de la re-

rales, convenue dans le cadre du

femmes dotées de droits impor-

lance économique et de la reprise

dialogue national et sur la base

tants et actives et une société

des investissements notamment

d’une approche consensuelle sur

civile dynamique et vigilante.

étrangers.

tous les sujets d’intérêt national,

La nouvelle Tunisie qui édifie une

J’ai bon espoir, les tunisiens sont

notamment la nomination d’un

nouvelle République et une nou-

des faiseurs de miracles!

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 17


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Bronisław Misztal, Embaixador da Polónia Os efeitos buldozzer do século XXI

"

A TENTATIVA DAS MASSAS SE MOVEREM DAQUI PARA LÁ TORNOU-SE EMBLEMÁTICA DA NOSSA ERA

"

Basta um olhar superficial pela

escondam e abandonem os seus

cultos de personalidade como

geopolítica mundial para per-

lares); a insegurança (que é um

"putinismo" – num substituto do

ceber que, com 2014 a chegar

sentimento avassalador de um

individualismo pelo coletivismo

ao fim, existem poderosos pro-

futuro incerto e, frequentemente,

normativo); o anti-humanismo em

cessos a afetar grande parte do

uma perspectiva pessimista de

contradição com os direitos hu-

globo. São eles: a diminuição do

que o amanhã será pior do que

manos, anteriormente acordados

papel das fronteiras administra-

hoje); a confusão agregada (o

e legalmente reconhecidos como

tivas (que se tornam porosas,

estado de espírito das popula-

direitos trazidos pela moderni-

penetráveis, pouco protegidas e

ções, independente de fronteiras

dade; vagas de limpezas étnicas

sujeitas a violações); a erosão

territoriais, melhor expresso na

e religiosas; violência contra

do papel regulador dos tratados

ausência do conhecimento dos

populações civis com sequestros,

internacionais (que são negligen-

mecanismos que governam o

assassinatos e estupros utiliza-

ciados, contornados e omissos e

mundo, muitas vezes também na

dos como meio de terrorismo e

não respeitados pelos governos);

forma de aceitação do caos ou

coerção. Em termos de mapa, é

o despovoamento (pelo desen-

da ilegalidade); o retorno e cres-

fácil observar esses processos

raizamento de grandes grupos

cimento de poderosos "ismos"

em curso em toda a África, Médio

ou populações, a transgressão

do século XX – o nacionalismo,

Oriente, no Sudeste da Europa,

das fronteiras nacionais que faz

o fundamentalismo, o imperialis-

mas também na Ásia Oriental.

com que as pessoas fujam, se

mo, o populismo, e também em

Assim, estes processos existem

18 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


em resultado de crescentes

estrutura normativa que abriu o

cessos anteriores de franchising

desigualdades entre nações e

sistema do mundo aos que pro-

dos direitos humanos e sociais,

economias nacionais, com uma

curavam oportunidade e liberda-

que encontraram grande aber-

impressionante pobreza em terri-

de apenas cerca de meio século

tura, os processos buldozzer

tórios cada vez maiores, e riqueza e afluência a encolher até mesmo no Ocidente. O desemprego que atinge os jovens, em alguns países afetando uma em cada três pessoas, é outro processo macro que não poupa sequer as economias ocidentais anteriormente bem desenvolvidos. Todos os pontos acima contribuem para o efeito buldozzer, que é um fenómeno que move, na verdade empurra grandes ondas de pessoas pondo-as em

"

invertem essa mesma abertura

OS PADRÕES

e no imediato as comunidades

DE PARTICIPAÇÃO SEGMENTADOS E

tentam fechar-se. A diminuição do espaço da sociedade civil, a segregação espacial e social,

DESCONTÍNUOS, OS RAMAIS IRREGULARES

a desigualdade, os direitos de cidadania fraturados, os padrões

DE ELEITORES ESTÃO INTERLIGADOS ÀS TENTATIVAS DE IMIGRAÇÃO, AO TRABALHO ILEGAL

de participação segmentados e descontínuos, os ramais irregulares de eleitores estão interligados às tentativas de imigração,

"

ao trabalho ilegal, ao tráfico humano e à violência explícita. A humanidade já provou que é

movimento. Para ser mais preci-

antes, este movimento coincide

capaz de predizer e, de forma

so, os processos buldozzer são

com economias em contratação,

considerável, lidar com grandes

caracterizados por uma capaci-

com a redução dos padrões de

desastres naturais, oferecendo

dade dupla. Por um lado, acumu-

produção, com vôos de refugia-

controlo de danos e compen-

lam questões sociais, geralmente

dos, perseguição religiosa e com

sando os impactos negativos na

sob a forma de capital humano.

a disseminação da pobreza e a

sociedade. Hoje estamos diante

Isso significa que produzem

disfunção urbana pelas maiores

da necessidade de desenvolver

tipos de pessoas, que se tornam

e mais terríveis cidades do mun-

métodos de manipulação, anteci-

potenciais materiais de mobili-

do. Os processos buldozzer são

pando e compensando os resul-

zação. Por outro, os processos

como a erupção de um vulcão,

tados dos principais processos

buldozzer deslocam material

com magma que desce encostas

buldozzer. A diplomacia é um

humano acumulado e mobilizado,

e vales. Ao contrário dos pro-

instrumento que pode ajudar.

principalmente, empurrando-o, ou enviando-o para longe, atravessando hemisférios culturais ou fronteiras estaduais. Os vetores de mobilidade, tradicionalmente, vão do Sul para o Norte e do Oriente para o Ocidente do globo. Manifestam-se em centenas de milhares de pessoas deslocadas que se estabelecem na estrada, na margem do rio, que sobem paredes e desmontam medidas de protecção física, a fim de ir daqui até lá. A tentativa das massas se moverem daqui para lá tornou-se emblemática da nossa era. Recorrendo à mesma

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 19


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Hikmat Ajjuri, Embaixador da Palestina Whisper in the Presence of Wrong is a Non- democratic Culture

"

”THE WORST SIN TOWARDS OUR

FELLOW CREATURES IS NOT TO HATE THEM, BUT TO BE INDIFFERENT TO THEM; THAT´S THE ESSENCE OF INHUMANITY”.

"

George Bernard Shaw

No conflict on earth has more

oppressed people, determined to win

International law and international

international attention devoted

their freedom.

humanitarian law, Israel continued to

to it than the Israeli Palestinian

People in Western democracies enjoy

receive unconditional support from

conflict; it is the only question of the

peace, justice and equality in their

Western leaders. This support had

cold war era, which is still waiting

territories. Because the people in

for our misfortune perpetuated the

for an answer. It is all because

these democracies make the system,

Israeli military occupation and pushed

the International Community –

implement it and observe it. In an

a peaceful settlement further. This

represented by the UN and its

utter contradiction, the Palestinians

support had contributed tremendously

security council – against all the

are forced to live under the Israeli

contributed to change negotiations

rules has so far allowed Israel ,the

occupation and endure mental and

from a realistic option to end this

occupying power, to ignore the

physical torture, captivity, bondage,

conflict to a trick by which Israel gains

International Law and meanwhile

political slavery in addition to poverty

time to grab more and more of the

call on the oppressed Palestinians to

and hunger at the hands of the

land which is internationally allotted

forego their internationally recognized

occupying forces. Ironically and in

for the sovereign state of Palestine.

right to resist this Israeli military

spite of these facts and many others

The major Western powers have in

occupation. All in spite of the norm

including total ignorance of Israel

the past, viewed the Apartheid regime

that no power on earth can stop an

to all calls on Israel to comply with

in South Africa as well as Israel, as

20 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


their strategic partners in their cold

In fact, the resurgence of the Taliban

and to ethnically cleanse it of its

war struggle to isolate the Soviet

and the emergence of terror such as

indigenous Palestinian residents

Union and to protect their interest

Al-Qaeda and its new generation,

is a recipe for hatred, anger and

in the Middle East. As soon as the

Islamic state in Iraq and Syria (ISIS)

radicalism. More importantly a recipe

cold war ended, the West toppled

as well as the previous wars in

for a religious war.

the South African Apartheid regime

Iraq and Afghanistan and nuclear

Finally, I find it quite inspiring to

because it became an unbearable

ambitions in the region, are all

realize that this fact has lately been

burden on the West and the Western

collateral to the Israeli occupation of

acknowledged first, by John Kerry, the

humanitarian and democratic values.

the Arab territories, including the state

US secretary of state who suggested

Because Israel and Apartheid South

of Palestine. Israel, the occupying

that a peace agreement between

Africa are two sides of one coin,

power is the only state that ignores

Israel and the Palestinians would

the West is now obliged to follow

the international law and blatantly

help the campaign to defeat the

the same rules with Israel to end its

conducts terror with impunity.

jihadists of the Islamic State (ISIS)

occupation in order to burry once and

The Israeli Film director Shai Carmeli-

in Iraq and Syria. "As I went around

for all the cold war and finally bring peace to our world. Israel is so far the only apartheid state left on the face of our planet. The architect of the South African Apartheid itself, Prime Minister, Dr. Hendrik Verwoerd, said in 1961: "The Jews took Israel from the Arabs after the Arabs had lived there for a thousand years. Israel, like South Africa, is an apartheid state.” Today in the Holy Land: – Palestinians are forced to carry identification cards at all times when travelling from city to city. – Palestinians must apply for a difficult to obtain permit to travel from city to city. – Palestinian Christians and Muslims are not allowed to buy, rent or lease land in 93% of the state of Israel because they are not Jewish. – Israel takes 85% of the Palestinian

"

I FIND IT QUITE INSPIRING TO REALIZE THAT THIS FACT HAS LATELY BEEN ACKNOWLEDGED FIRST, BY JOHN KERRY, THE US SECRETARY OF STATE WHO SUGGESTED THAT A PEACE AGREEMENT BETWEEN ISRAEL AND THE PALESTINIANS

WOULD HELP THE CAMPAIGN TO DEFEAT THE JIHADISTS OF THE ISLAMIC STATE (ISIS) IN IRAQ AND SYRIA

"

and met with people in the course of our discussions about the [antiIslamic State] coalition ... there wasn't a leader I met with in the region who didn't raise with me spontaneously the need to try to get peace between Israel and the Palestinians, because it was a cause of recruitment and of street anger and agitation that they felt they had to respond to," said Mr Kerry, at a state department gathering to mark the Muslim Eid al-Adha festival. Former president Bill Clinton, said on the 21st of Sep. 2010 “solving the Israeli Palestinian conflict would take away much of the motivation for terrorism around the world”. I with these inspiring quotes from strategic allies of Israel, dare to call on the International community, including friends of Israel, first not to let world peace be hijacked by irresponsible Israeli politicians such as Netanyahu

water resources and the remaining

Pollak said in August 2006: “Life under

and his extreme coalition. Second to

15% is divided between Palestinians

occupation is life under permanent

follow the brave steps of the Kingdom

in the West Bank and Gaza.

terrorism”. I, on too many occasions,

of Sweden, to fully recognize the state

– In the West Bank, Palestinians

affirmed the integral relation between

of Palestine as a first and positive

are not allowed to drive on roads

the Israeli occupation, its crimes

step to forcing Israel to end its 47

allocated for Jewish settlers.

against humanity and the emergence

years of occupation of the state of

All attempts by Western powers, in

of the Islamic radicalism or terrorism

Palestine. Indifference as well as

their quest to ensure global safety

but to no avail. The Israeli creation

whispers in the presence of wrong

and security, are unfortunately,

of new facts to Judaize Jerusalem,

is neither a democratic culture nor a

directed towards the wrong targets.

the third holiest place for all Muslims

European value.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 21


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre Viver em Portugal, uma experiência maravilhosa

"

PORTUGAL, AO MESMO TEMPO

MAJESTOSO E MODESTO, ORGULHOSO E RESERVADO, FELIZ E MELANCÓLICO, CONTEMPORÂNEO E CLÁSSICO

A vida de um diplomata é repleta

co espaço para a interpretação

de experiências enriquecidas pela

racional. Será a beleza do campo

diversidade cultural de muitas

ou a elegância arquitetónica que

partes diferentes do mundo. É

transforma a rotina do quotidiano

um estilo de vida gratificante

numa viagem agradável? Será o

desde que sejamos capazes de

calor das pessoas ou a clemência

nos adaptar rapidamente à vida

do clima que faz com que valha

quotidiana de um novo país a

a pena acordar todas as manhãs

aproximadamente cada quatro

para ir trabalhar? Há alguns anos

anos. É difícil, no entanto, des-

fiquei impressionada quando me

crever de forma disciplinada a

apercebi de que os portugueses

razão pela qual gosto de viver

adoram profundamente animais

em Portugal. As emoções vêm

de companhia. Para mim, este

à tona de uma só vez evocando

é um sinal inequívoco de uma

memórias desvanecidas ou re-

sociedade civilizada avançada. Fiz

centes, encriptadas em imagens,

comparações relutantes com outras

sons e cheiros que deixam pou-

sociedades onde já desempenhei

22 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

"


primeiro lugar, evocando memó-

aproveitei a oportunidade para

plesmente para a imensidão das

rias nostálgicas das minhas ori-

fotografar alguns dos incríveis

secções de produtos para animais

gens mediterrânicas.” Agora, com

lugares da cidade de Braga.

nos supermercados portugueses,

os meus colegas embaixadores,

Eu tiro fotografias todos os dias

ou pelo facto de ter de marcar

planeamos vender as fotografias,

como homenagem à vida. É uma

uma consulta no veterinário com

39 no total, por uma causa de

atividade fácil de executar em

muitos dias de antecedência.

caridade.

Portugal, porque a inspiração che-

Há quase um ano, conversando

Outra experiência mais recente

ga constantemente e o espírito do

com embaixadores de outros

da convidativa beleza de Portugal

país liberta sensibilidades artís-

países sobre as maravilhas de

foi a minha visita profissional a

ticas. Portugal, ao mesmo tempo

Portugal, surgiu a ideia de orga-

Braga no final de setembro, onde

majestoso e modesto, orgulhoso

nizar uma exposição de fotografia

também comemorámos o Dia

e reservado, feliz e melancólico,

com uma seleção das nossas fo-

Nacional de Chipre. Ao darmos

contemporâneo e clássico: Eu

tografias que retratam Cascais. A

início a uma estreita colaboração

amo-o pelo que é, um lugar mara-

ideia tornou-se um projeto que foi

da região do Minho com Chipre,

vilhoso para viver.

o meu cargo, olhando sim-

finalmente concretizado no Museu da Presidência da República, com o inestimável apoio do Presidente da Câmara de Cascais Dr. Carlos Carreiras. A participação dos embaixadores de treze países (Angola, Bangladesh, Bulgária, Cabo Verde, Chipre, Emirados Árabes Unidos, França, Itália, Japão, Letónia, Luxemburgo, Marrocos, Sérvia) tornou o projeto uma experiência única para todos nós, como prova de camaradagem e solidariedade. No catálogo

Cascais

impresso da exposição escrevi o que me inspirou mais em Cascais. Repito-o aqui porque descreve em poucas palavras o que eu sinto sobre Portugal de forma geral. “Vejo generosidade na beleza da paisazem, na abundânsia de pinheiros centenários, nas cores do mar em constante mudança, na elegância das casas, nos antigos

Lisboa

armazéns industriais, no mercado do peixe, nas ruas estreitas por onde gatos vadios se passeiam altivamente. Nas minhas fotografias tentei capturar a essência da minha admiração por Cascais. Há muitos aspectos maravilhosos, mas o Guincho fica sempre em Braga

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 23


LÍDERES

Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália The high road - Europe and Italy’s role in the world

co- protagonist in a close network of relations, ranging from contacts with the heads of foreign diplomatic missions, whose credentials he accepts, to meetings with the Heads of State, whom he receives in Italy and who, in turn, receive him during State or informal visits abroad. There are therefore a large number of meetings with an international focus – and this has certainly been the case during my term of office. I have had 112 meetings in Italy with foreign Heads of State, plus many more with government and embassy officials; and I have made 75 visits abroad, including some at the invitation of international organizations such as the United Nations, NATO and the European Parliament. The initiatives and events organised to celebrate the 150th anniversary of Italian Unification, culminating in the grand celebrations held in Rome on 2 June 2011, offered a special opportunity for such meetings. Also of special significance were the annual “United for Europe” gatherings of My conversation with Federico

against every challenge and test.

the eight “non-executive” European

Rampini and my answers to his

The Italian President, therefore, has

Presidents, following a tradition

questions and promptings reflect my

no powers of government but does

inaugurated by my predecessor

seven-years (2006-2013) as President

have precise functions sanctioned

Carlo Azeglio Ciampi with his then

of the Italian Republic, an intense

by the Constitution – including that

colleagues.

and intensive experience, both

of representing Italy in international

I mention this institutional framework

domestically and in the international

life but doing so alongside and in

and my own personal experience in

sphere. Under the Italian Constitution,

agreement with the government;

order to clarify that the judgements

drafted between June 1946 and

and with respect for the executive’s

and views expressed in the following

December 1947 in a country newly

powers of decision, underpinned

pages are based on the exchanges

liberated from fascism, the Head of

as they are by the confidence of

and discussions, both public and

State is a “non- executive” President.

Parliament, both in foreign policy and

private, which have been the core of

This principle was confirmed in later

over security and defence.

my international activities between

decades through the analysis and

So, without any confusion

2006 and 2013, and on the detailed

interpretation of the Constitution, by

or duplication of powers and

analysis done both in advance of and

political practice and in the decisions

responsibilities (except for a handful

after each meeting.

of the courts – all of which have

of cases of friction and disagreement

I should add and underline that these

shown Italy’s founding charter to be

in the last few decades), the President

activities have brought me into close

a live constitutional instrument proof

of the Republic is both participant and

contact with many key international

24 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


actors, with whom I was thus

and thinking (about which I wrote in

the shape of a new Europe. A goal

able to develop important personal

2007 in a volume of essays, entitled

which encompassed rapprochement

relationships. It may therefore be

Altiero Spinelli e l'Europa).

and reconciliation between nations

of some interest, if I provide some

So it was with heartfelt emotion that,

and peoples whose mutual hostility

examples and recall some of the

in the clear light of that May morning

had dragged Europe, not once, but

events which have held, for me,

in 2006, I spoke in Ventotene of

twice in the 20th century, into the

a special personal and emotional

Spinelli’s ideals and struggles in

abyss of two increasingly devastating

significance. Take, for example, the

the following terms: “This is the

world wars. A goal, therefore, of

way my first seven-year term began

richest legacy on which our younger

peace and cooperation, above all

and the way it ended.

generations can draw for their

between France and Germany, as

It began – on 21 May 2006, just a

moral development and in their

the essential political framework for

few days after my inauguration at

actions, as they look to the future.”

a process of European integration

the Quirinale – with a visit to the

I still believe that today. Indeed, I

inspired by something more than

island of Ventotene for a ceremony to

am more than ever convinced of

purely economic principles. Europe

commemorate the 20th anniversary

the truth of that statement when I

was not born – and even less today

of the death of Altiero Spinelli. The

witness how diminishing knowledge

can it be confined – within a purely

ceremony was a fitting tribute to a

and understanding of the European

economic dimension.

man from whom I had learnt a most

“project” among large sections of

That is what we felt, my friend and

valuable lesson both in ideals and in

citizens and voters has given rise to

colleague, Gauck, and I, in the hills

behaviour.

a growing lack of trust in politics, in

of Sant’Anna di Stazzema. And that

I am referring here to a distant time

democracy and in a common future.

is why that day seemed to me an

in my own political and cultural

My seven years in office ended on

ideal final point of arrival after those

life, a period (from the end of the

24 March 2013 with a pilgrimage

seven years during which much of my

1960s) described as the “European

to Sant’Anna di Stazzema – the

work, both at home and abroad, had

apprenticeship” of the Italian

scene, towards the end of the

been inspired by European ideals and

Communist Party (PCI). During

Second World War, of one of the

convictions.

those years the PCI shifted from a

worst Nazi atrocities in Italy. I made

I would also like to add that, in

negative and suspicious view of the

that pilgrimage, as President of

watching Germany’s President

nascent European Community to

the Republic, with Joachim Gauck,

pay tribute to the tragic victims of

the realization that the Party should

President of the Federal Republic of

the forces of war and oppression

not cut itself off from the integration

Germany. We paid joint tribute to the

unleashed by Nazism in every corner

process begun by Italy (with Alcide De

memory of the victims – defenceless

of Europe, I was reminded of the

Gasperi) and the other five “founding-

people of all ages, children, entire

unforgettable and exemplary image of

countries”.

families. And in that tribute, as we

Chancellor Willy Brandt when, himself

I took part in that evolution within the

two Presidents embraced and in turn

previously exiled as an opponent of

PCI with wholehearted commitment,

embraced the inhabitants of that small

Nazism, he fell to his knees, deeply

though not as directly as figures

village – the survivors of the massacre

moved, before the monument to the

such as Giorgio Amendola and

and the descendants of the victims,

victims of the Warsaw ghetto.

Nilde Iotti, who experienced it at first

all of them humble and hard-working

Brandt’s life and ideas have always,

hand through their election to the

people – we keenly felt the spirit, and

and increasingly, acted as a beacon

Strasbourg Assembly in 1969. A

the fullest and highest significance, of

for me, from the first time I met

decisive inspiration to me in this was

European unity.

him until the day, much later, when

my personal relationship with Altiero

Overcoming deadly and aggressive

we discussed the Italian left and

Spinelli (who was elected as an

forms of nationalism: that was the

its relations with Europe’s Social

independent Member of Parliament in

goal which Altiero Spinelli had taken

Democrats. That conversation took

the PCI group in 1976) and the insight

to heart when, from the island where

place on 9 November 1989, the day

this gave me into his own experience

he was held prisoner, he envisaged

which, through a strange coincidence ➤

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 25


Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália

and an unexpected acceleration of

generation of pro-Europeans. People

and of our continent’s potential

history, also witnessed the fall of the

like Bronislaw Komorowski, who had

contribution to positive developments

Berlin Wall.

become President of Poland following

in global affairs, starting with the

My mind went back to that magical

the great tradition of Solidarnosć,

search for a peaceful solution to the

moment, that personal conversation

whose most eminent representative,

conflict in the Middle East.

with Willy Brandt, when I was invited

in terms of European sensibility and

Spending time in the Pope’s company

to Berlin’s Humboldt University in

culture, Bronislaw Geremek, I had first

was a new experience for me, made

2013 to open its annual “Willy Brandt

met and admired in the 1980s.

all the more rich and stimulating by

Lectures” with a talk on Europe. At

Or Danilo Turk, President of Slovenia

the cultural breadth and depth of his

the University, I once again met Egon

until 2012 and an expert of the Italian

personality. But our uncommon trust

Bahr, one of the most eminent and

School of international law. Turk

and fellow feeling cannot be explained

faithful of the Ostpolitik Chancellor’s

worked with me and the new Croatian

simply in terms of personal affinities.

pro- European aides.The last time we

President, Ivo Josipović, in paving the

What drew us together was the

had met had been at Brandt’s funeral

way for a new era of reconciliation and

core common backdrop to our lives,

service at the old Reichstag building

cooperation in the Adriatic to ease

both of which had been stamped by

in Berlin in October 1992 – a moving

the terrible tensions inherited from the

the events – events both great and

and emotional occasion for both of us.

events of World War II in the Balkans.

terrible – of the 20th century.

Readers will wonder why I keep going

My meetings – not only at the highest

Events which our two countries,

back to events which occurred in the

institutional levels but also with

Germany and Italy, had, more

distant past when talking about those that took place just a few years or even a few months ago. Well, that past laid the foundations for the way in which I was to fulfil my international responsibilities as President. In performing those duties I of course respected fully and exclusively the tradition and vision of Italy’s role and interests in foreign affairs and the

than any others, experienced in all

"

EUROPE WAS NOT BORN – AND EVEN LESS TODAY CAN IT BE CONFINED – WITHIN A PURELY ECONOMIC DIMENSION.

"

international arena.

their drama and trauma right up to the middle of the last century. As individuals, both Joseph Ratzinger and I had drawn from that common experience a drive and determination to identify with the vision of a new, united Europe; and to continue to cherish and pursue that vision even after we had reached positions of the highest responsibility, as leader of

My many years of experience in

ordinary people – in Trieste in 2010

the Catholic Church and Head of the

international affairs – albeit some of

and in Pula in 2011 were, and are,

Italian State.

them in party-political roles, though

among my most vivid experiences in

This warm and profound relationship

not when I was Speaker of the Italian

the process of European enlargement

between President and Pontiff was

Chamber of Deputies or chair of the

and unification.

also, of course, hugely important in

European Parliament’s Constitutional

The unique relationship which

further strengthening the substantial

Affairs Committee - have meant that

developed between me, as President

and mutually respectful collaboration

I have always felt at ease and was

of the Italian Republic, and Pope

between Church and State in Italy.

never the least uneasy, when finally

Benedict XVI, until his resignation

I mention this relationship here

I came to represent my country,

in February 2013, also had its roots

not so much as an element of the

the entire country, in Europe and

in that European journey towards

international policies which I pursued

throughout the world as President of

unity. Our friendship arose from an

as President but as a core factor

the Republic.

immediate, shared interest in getting

in the cohesion of Italian society, a

I was able in effect to pick up,

to know and understand each other

cohesion which must constantly be

uninterrupted, my friendships and

and in comparing views and opinions

strengthened and renewed. We have

collaboration with people I had first

on issues with which we were both

now embarked on the same path with

met 20 years before, such as the

engaged in our respective roles.

the new Pope, Francis.

Presidents of Austria, Heinz Fischer,

Of those themes, Europe soon

That Europeanism which, since the

and of Israel, Shimon Peres. And

emerged as being of paramount

1950s, has been a key element of

right from the start I found I had

interest. We agreed on the decisive

Italy’s presence in and contribution to

much in common with a far younger

role of integration and unification

international affairs, has at the

26 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


same time always been inseparable

in February 2013 – somewhat to my

wingers in particular, Germans,

from another cardinal feature: our

surprise, I encountered echoes of that

British and Spanish – whom I would

friendship and alliance with the United

interest and memories still live of the

meet later in my career in various

States in the broader framework

role I played in the 1970s and since.

roles and on different occasions.

of transatlantic relations. In my

I have gradually gained a deeper

The many experiences and

experience during my first seven year

and richer understanding of the

influences I have recalled in these

term as President, these two strategic

history and ideals underpinning the

few pages eventually converged in

axes of policy have continued to be

relationship between Europe and

the relationship which developed,

as inseparable as they were for the

the United States, of their common

at the highest level, with the US

previous three decades.

roots and of their shared belonging

leadership: between the President of

In 1978, when I was able to pay my

to the “West”, as the heart of

Italy and the President of the United

first visit to the United States, I did

democracy. Indeed, I can claim a

States. I followed Barack Obama’s

not limit myself just to presenting the

certain coherence and consistency

emergence and election as leader

political situation in Italy, in which the

of understanding, strengthened as it

of the United States closely, with

views of the left were then finding

was by the revisions and changes in

fitting institutional neutrality but with

their rightful place. Speaking in some

the cultural and political landscape

personal enthusiasm and hope.

of the most prestigious American

which I witnessed in the lead-up to

The relationship which has grown

universities and opinion-forming

the historic turning point of 1989.

between us has reached a level

institutions, I acted as standard bearer

That continuity, and other fruitful

of consideration, trust and mutual

for a vision of a European community

experiences, served me well in the

confidence – and, in human terms, of

which was becoming ever more

fulfilment of my duties and in the

real friendship - which I could never

inclusive and assertive; a Europe

contribution I made, during seven

have foreseen. After all, we come

which was also starting to develop

years as President, both on the

from very different generations and

a more autonomous profile on the

European political and institutional

backgrounds. That those differences

international scene but without calling

front and in European-American

were not an obstacle, but rather acted

into question its historic ties with the

relations.

as a stimulus, shows how important

United States. That mission was a far

One such experience which I like to

– in relations between countries and

cry from the kind of anti-Americanism

recall is my participation, in the

between their leaders – are such

which was then still rife among the left

1980s and ’90s, in a series of

affinities of approach and attitude, of

wing opposition in Italy.

twice-yearly events in which the

ways of thought and feeling, of ideals

The vision I set out was perceived

Aspen Institute brought together

and moral background, in addition to

at the time – given my position

a small selection of European

a sense of common political direction

as a senior figure in the Italian

parliamentarians and a larger group

and commitments.

Communist Party – as a kind of

of US representatives and senators to

Both Italy and Europe have benefited

“Eurocommunism”, a movement in

focus on the development of East-

from this climate established

which the more thoughtful and open-

West relations in those crucial years.

between the President of Italy and

minded political and cultural circles

Another truly formative experience

the President of the United States

in the United States showed a keen

was my ten years, from 1984, as a

of America in the exercise of their

interest. Just as they showed a keen

member of NATO’s Parliamentary

respective roles and their common

interest not so much in the day-to-day

Assembly. That role taught me

responsibilities. Italy’s national interest

workings of Italian domestic politics

a great deal about defence and

and the common European interest:

as in the singular reality which was

security issues and brought me

in the end, these have counted, and

the PCI. During my most recent visit

into contact with colleagues –

still count, more for me than anything

to the United States – a State Visit

Europeans, primarily, and left-

else.

Enviado pela Embaixada de Itália em Portugal

P.S. - *This book stems from an idea conceived by Federico Rampini and developed – and co-authored – by us as part of the “balance sheet” of my seven year term as President (May 2006 to April 2013); and of the initiatives and international relations, in which I was an active player in my institutional role. But then, in totally unexpected circumstances and in spite of my clear declarations of my opposition to the notion, I was asked to stand for re-election as President. That election took place on 20 April 2013 after a vote showing overwhelming support. So this book went to press soon after the start of my second mandate and cannot, of course, give an account of developments in my international activities which have yet to happen. However, we worked on the text up to the day before the book went to press, paying the fullest possible attention to all developments taking place at that time on the European and world stage.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 27


Um dos maiores pacotes de doações na história da empresa

A Bayer aumenta a doação de medicamentos para doentes com ébola para um valor total de mais de 3,7 milhões de euros

• Nova doação à “Action Medeor” de antibióticos no valor de 1,15 milhões de euros • Combate infecções secundárias bacterianas em pessoas na Libéria e na Serra Leoa • Doação em dinheiro adicional de EUR 50.000 para vestuário de proteção

Lisboa, 15 de Dezembro de 2014 – A Bayer aumenta

A companhia está também a doar 50.000 euros à

o apoio aos doentes de ébola na Liberia e na Serra

“Action Medeor”, com a finalidade de ajudar à compra

Leoa. A companhia efectua nova entrega do antibiótico

de equipamento de protecção para duas enfermarias

ciprofloxacina, com um valor de 1.150.000 euros. Esta

que foram criadas na Monróvia, nos finais de Outubro

medicação não trata a infecção com o vírus ébola em

de 2014. A companhia já fez também uma doação à

si, mas pode ser usada para as infecções bacteria-

Caritas Internacional, no valor de 25.000 euros, para a

nas secundárias que podem ocorrer na sequência da

compra e distribuição de desinfectante das mãos para

infecção com risco de vida. A distribuição para as duas

a Libéria, como medida preventiva.

clinicas na Monróvia, a capital da Libéria, e em centros de saúde na área circundante à capital, será realizada

Bayer: Ciência para uma Vida Melhor

pela maior organização especializada em ajuda inter-

A Bayer é uma empresa global com competências cen-

nacional e distribuição de medicamentos, com sede

trais nas áreas da saúde, agricultura e materiais de alta

na Alemanha, “Action Medeor - Das Medikamente-

tecnologia. Como empresa de inovação, a Bayer marca

nhilfswerk”. A Bayer já doou ciprofloxacina em várias

a tendência em áreas de investigação intensiva. Os

dosagens e com diferentes formas de administração

produtos e serviços Bayer foram desenvolvidos para o

num valor de cerca de 2,57 milhões de euros para o

benefício das pessoas e contribuírem para a melhoria

tratamento de doentes infectados com o vírus ébola na

da qualidade de vida. Ao mesmo tempo, o Grupo visa

Serra Leoa e na Libéria, através de outra organização,

criar valor através da inovação, crescimento e alta

a norte-americana “Direct Relief”. Esta doação de medi-

rentabilidade. A Bayer assume o compromisso com os

camentos para o tratamento de ébola a doentes africa-

princípios de desenvolvimento sustentável e actua de

nos num valor total de 3,7 milhões de euros é uma das

forma social e eticamente responsável. No exercício de

maiores já feitas pela Bayer.

2013, o Grupo empregou 113.200 funcionários, obteve

“Continuamos a reforçar o nosso compromisso de

uma facturação de cerca de 40.200 milhões de euros,

ajuda às pessoas infectadas e a procurar contribuir

realizou investimentos de mais 2.200 milhões de euros

para controlar a epidemia desta doença” refere Marijin

e destinou mais de 3.200 milhões de euros para investi-

Dekkers, Chairman do Board of Management da Bayer

gação e desenvolvimento.

AG. “Com esta doação, damos continuidade à nossa responsabilidade social enquanto companhia interna-

Para mais informação visite o site www.bayer.pt ou

cional de saúde”.

www.bayer.com

28 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


DOSSIER

Ébola Um tempo de incertezas

Entre dúvidas e certezas relativas, responsáveis políticos e organizações internacionais, clínicos e cientistas concertam esforços para dar resposta a uma epidemia que vem manchando de morte os países pobres do continente africano e já provocou arrepios de medo no velho continente e no gigante norte-americano.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 29


Ébola

As previsões da Organização

propagação.

avançadas por Aylward.

Mundial de Saúde (OMS) dão de-

Os números da doença e do

O director-adjunto da OMS tem

molidoras. Entre 5.000 a 10.000

rasto de morte que tem deixado

vindo a acompanhar no terreno

novos casos de ébola deverão

à sua passagem em África são

todas as acções promovidas por

surgir por semana desde De-

incontabilizáveis, não se saben-

esta agência das Nações Uni-

zembro e a taxa de mortalidade

do com rigor a contabilidade

das, o que lhe dá uma autoridade

continua nos 70 por cento dos in-

real de infectados e de mortos,

acrescida para falar do assunto

fectados pela doença em países

mas há números divulgados que

e apelar à comunidade interna-

como a Libéria, Serra Leoa e Gui-

indicam, até hoje, mais de cin-

cional para concertar esforços no

né Conacri. Os números foram

co mil vítimas num universo de

combate à doença, dando “pro-

avançados pelo director-adjunto

mais de dez mil contagiados pela

vas de maior determinação para

da OMS, Bruce Aylward. De tal

doença. O problema é que exis-

responder de forma decisiva". E

forma a epidemia preocupa os

tem muitos casos não registados

o mundo parece querer seguir o

líderes mundiais que em Outubro

principalmente nos países mais

apelo. Para além do Conselho de

último o Conselho de Seguran-

afectados; o que poderá fazer

Segurança, ministros da Saúde

ça das Nações Unidas reuniu

disparar estes números de forma

da União Europeia têm vindo

de emergência para equacionar

surpreendente, particularmente

também a concertar estratégias,

estratégias de combate à sua

se se confirmarem as previsões

principalmente depois de se ter

"

OS NÚMEROS DA DOENÇA E DO RASTO DE MORTE QUE TEM DEIXADO À SUA PASSAGEM EM ÁFRICA SÃO INCONTABILIZÁCEIS, NÃO SE SABENDO COM RIGOR A CONTABILIDADE REAL DE INFECTADOS E DE MORTOS, MAS HÁ NÚMEROS DIVULGADOS QUE INDICAM, ATÉ HOJE, MAIS DE CINCO MIL VÍTIMAS NUM UNIVERSO DE MAIS DE DEZ MIL CONTAGIADOS PELA DOENÇA

"

30 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


percebido que o ocidente rico e

“esterilizado” das misérias africanas não é imune ao problema.

Incertezas dominam Aeroportos, portos e redes ferroviárias estão agora sob rigoroso controlo na Europa, depois do arrepio provocado pelo caso da assistente de enfermagem espanhola. Com as medidas entretanto implementadas, o aumento exponencial da doença pode vir a não atingir as previsões mais catastrofistas, mas as incertezas são bem mais que as certezas. Embora haja razões para um moderado optimismo. No Senegal e na Nigéria, por exemplo, os esforços das autoridades parecem ter sido coroados de êxito afastando este países africanos da lista negra dos afectados. Para já Europa e Estados Unidos parecem livres de problemas de maior. A única morte registada nos EUA e a doente infectada em

"

DE QUALQUER MODO, SE COMPARADO COM OUTRAS EPIDEMIAS, O ÉBOLA ESTÁ BEM AQUÉM DAS MAIS CATASTROFISTAS PROJECÇÕES INICIAIS. POR EXEMPLO, SÓ A MALÁRIA TERÁ CAUSADO QUALQUER COISA COMO 1,2 MILHÕES DE VÍTIMAS

No velho continente há a registar

MORTAIS. ALIÁS, AS POSSIBILIDADES DE CONTRAÇÃO DO VÍRUS DE ÉBOLA SÃO IMENSAMENTE INFERIORES ÀS DA MALÁRIA, JÁ QUE SÓ É POSSÍVEL ATRAVÉS DO

ainda a morte de um funcionário

CONTACTO DIRECTO COM OS INFECTADOS

Espanha, entretanto recuperada, decorreram de quebras nos protocolos de segurança quando lidavam com pessoas infectadas.

"

da ONU, de origem sudanesa, que teve contacto com a doença

do ZMAPP, um anticorpo experi-

causado qualquer coisa como 1,2

na Libéria e acabou por morrer

mental que foi ministrado a dois

milhões de vítimas mortais. Aliás,

em Setembro último em Leipzig,

norte-americanos repatriados da

as possibilidades de contração

na Alemanha.

Libéria para os EUA em Agosto e

do vírus de ébola são imensa-

que receberam tratamento numa

mente inferiores às da malária, já

Vacina em 2015

unidade de saúde de Atlanta.

que só é possível através do con-

A OMS anunciou, entretanto, que

E no Reino Unido o laboratório

tacto directo com os infectados,

espera ter disponível uma vacina

GSK testou, ao que parece com

nomeadamente através de um

para o ébola já a partir de 2015.

êxito, uma vacina que poderá

líquido biológico, como o sangue,

A intenção é erradicar a febre

estar pronta no próximo ano,

as fezes ou o vómito.

hemorrágica provocada por um

confirmando-se as previsões da

O surto verificado em África,

vírus transmitido através do con-

OMS.

segundo especialistas, não teria

tacto directo com sangue, fluidos

De qualquer modo, se compa-

ocorrido de momento que fossem

biológicos ou tecidos de animais

rado com outras epidemias, o

garantidos às populações cuida-

e pessoas infectadas.

ébola está bem aquém das mais

dos médicos de base e higiene,

As experiências com fármacos

catastrofistas projecções iniciais.

boa nutrição e quantidades ade-

têm-se sucedido, como é o caso

Por exemplo, só a malária terá

quadas de vitaminas C e D.

n

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 31


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Jean-François Blarel, Embaixador de França Mobilização contra o ébola

O Presidente da República Fran-

ta luta, logo disponibilizando

çois Hollande, na intervenção

peritos, apoiando a acção do

feita perante os embaixadores

governo guineense e da Cruz

franceses no final do mês de

Vermelha francesa, ao mesmo

Agosto, evocou o ébola como

tempo que agindo no seio das

sendo uma das grandes crises

estruturas internacionais. Peran-

que afectam o planeta. Esta

te o agravamento da epidemia, a

epidemia que atinge o continente

França decidiu aumentar signifi-

africano, onde provocou enormes

cativamente o seu compromisso

danos no passado, já causou

concentrando-se na Guiné Co-

mais de 4.500 vítimas este ano.

nacri, país francófono. A 22 de

O contágio atinge agora vários

Outubro, o Presidente da Repú-

outros continentes, em propor-

blica François Hollande anunciou

ções que estão seguramente

um plano francês de luta contra o

controladas.

ébola neste país, passando pela

Na sequência dos pedidos de

mobilização de financiamentos

ajuda lançados à comunidade

de um montante superior a 100

internacional, felizmente muitos

milhões de euros, para intervir

países se mobilizaram. A União

em três domínios-chave: a for-

Europeia assume inteiramente

mação de profissionais de saúde

a sua quota-parte de trabalho:

(criação de dois centros, um em

SÓ A MOBILIZAÇÃO GLOBAL NA LUTA CONTRA O VÍRUS ÉBOLA PERMITIRÁ IMPEDIR A SUA

as decisões tomadas pelo Con-

França, outro na Guiné), a toma-

PROPAGAÇÃO E

selho Europeu a 24 de Outubro

da a cargo destes profissionais

confirmam o papel primordial

em caso de contaminação (ins-

da Europa na resposta global a

talação na Guiné de uma estru-

esta crise, pelo volume da ajuda

tura hospitalar complementar ao

(mais de 600 milhões de euros),

mecanismo europeu de evacua-

pelo reforço da acção no terreno

ção sanitária, na qual a França

em prol dos cuidados de saúde

também participa), e a criação

prestados às populações, pela

de centros suplementares. Além

implantação de um dispositivo

disso, a França reforça a protec-

europeu destinado a garantir aos

ção civil guineense através de

profissionais de saúde inter-

acções de formação e está im-

nacionais uma tomada a cargo

plicada no reforço dos controlos

adaptada em caso de necessi-

aeroportuários em Conacri. Pelo

dade, pelo reforço das medidas

seu lado, Portugal está também

de precaução e pela nomeação

muito envolvido, concentrando os

de um coordenador europeu que

seus esforços na Guiné-Bissau.

assegure a boa execução destes

Só a mobilização global na luta

dispositivos.

contra o vírus ébola permitirá im-

A França encontra-se entre os

pedir a sua propagação e condu-

países mais empenhados nes-

zirá à sua irradicação.

32 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

■ ➤

"

CONDUZIRÁ À SUA IRRADICAÇÃO

"


Jean-François Blarel, l’ambassadeur de France Mobilisation contre l’Ebola

Le Président de la République

du gouvernement guinéen et de

François Hollande, lors de son

la Croix-Rouge française, et en

intervention devant les ambas-

agissant au sein des structures in-

sadeurs français à la fin du mois

ternationales. Face à l’aggravation

d’août, a évoqué l’Ebola comme

de l’épidémie, la France a décidé

l’une des grandes crises affectant

d’accroître significativement son

la planète. Cette épidémie frap-

engagement en se concentrant

pant le continent africain, où elle

sur la Guinée Conakry, pays

avait provoqué des ravages par

francophone. Le 22 octobre,

le passé, a déjà fait plus de 4500

le Président de la Répu-

victimes cette année. Elle touche

blique François Hollande a

désormais plusieurs autres conti-

annoncé un plan français

nents, dans des proportions qui

pour la lutte contre l’Ebola

restent certes sous contrôle.

dans ce pays, passant par

Suite aux appels à l’aide lancés à

la mobilisation de finance-

la communauté internationale, de

ments d’un montant supé-

nombreux pays se sont heureu-

rieur à 100M€, pour intervenir

sement mobilisés. L’Union euro-

dans trois domaines clés : la

péenne assume toute sa part du

formation des soignants (création

travail : les décisions prises par

de deux centres, l’un en France,

le Conseil européen le 24 octobre

l’autre en Guinée), leur prise en

confirment le rôle de premier

charge en cas de contamination

plan de l’Europe dans la réponse

(mise en place en Guinée d’une

globale à cette crise, par le vo-

structure hospitalière complé-

lume de l’aide (plus de 600M€),

mentaire du mécanisme euro-

le renforcement de l’action sur

péen d’évacuation sanitaire, à

le terrain au profit des soins aux

laquelle la France participe aussi),

populations, la mise en place

et la création de centres de traite-

d’un dispositif européen desti-

ment supplémentaires. La France

né à garantir aux personnels de

renforce par ailleurs la protec-

santé internationaux une prise en

tion civile guinéenne à travers

charge adaptée en cas de besoin,

des actions de formations, et est

le renforcement des mesures de

impliquée dans le renforcement

prévention, et la nomination d’un

des contrôles aéroportuaires à

coordonnateur européen pour as-

Conakry. Le Portugal est lui aussi

surer la bonne mise en œuvre de

très engagé, concentrant ses ef-

ces dispositifs.

forts en Guinée Bissau.

La France figure parmi les pays

Seule la mobilisation globale dans

les plus engagés dans cette lutte,

la lutte contre l’Ebola permettra

pour laquelle elle s’est très tôt

d’empêcher la propagation du

mobilisée, à la fois en déployant

virus, et conduira à son éradica-

des experts, en appuyant l’action

tion.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 33


LÍDERES

Despedida de Durão Barroso faz balanço positivo, apesar da crise

No discurso de despedida, efectuado em sessão plenária do Parlamento Europeu, a 21 de Outubro, José Manuel Durão Barroso revisitou uma década na Presidência da Comissão Europeia, passando em revista os principais acontecimentos que marcaram os seus mandatos

Com a devida vénia, reproduzimos na íntegra a sua

apenas da crise financeira e da dívida soberana - não

intervenção:

esqueçamos que no início do meu primeiro mandato,

«Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados

vivemos uma crise constitucional, quando dois Estados-

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o convite

-Membros fundadores da União Europeia recusaram,

que me fizeram para, pela última vez, me dirigir a esta

em referendo, o Tratado Constitucional. Atravessámos,

assembleia parlamentar. De facto, estamos a chegar ao

assim, uma crise constitucional, uma crise da dívida

termo do meu segundo mandato enquanto Presidente

soberana e uma crise financeira. E vivemos agora uma

da Comissão Europeia e é com muito agrado que aqui

grave crise geopolítica, em resultado do conflito entre a

estou, juntamente com os meus colegas, para vos apre-

Rússia e a Ucrânia.

sentar um balanço do que foram esses anos. Uma vez

A crise constitucional foi resolvida através do Tratado

que esta é a minha segunda Comissão, permitam-me

Constitucional de Lisboa. A verdade é que, então, mui-

que me reporte igualmente à última década.

tos afirmaram que seria impossível que a União Euro-

Quero aqui partilhar convosco os meus sentimentos, as

peia encontrasse um novo quadro institucional. Foram,

minhas emoções, os meus pensamentos sobre a forma

efetivamente, momentos de ambiguidade e dúvida. Mas,

como a União Europeia respondeu a estes tempos

no essencial, conseguimos manter a maioria do acervo

conturbados e o que considero serem os desafios mais

da União Europeia, incluindo a maior parte dos novos

importantes para o futuro.

elementos do Tratado Constitucional de Lisboa, que foi

Penso que concordam comigo quando afirmo que estes

ratificado por todos os Estados-Membros, mesmo aque-

têm sido anos excecionais e difíceis. Dez anos de crise

les que parecem hoje ter esquecido que o fizeram.

e de resposta da União Europeia a essa crise. Não falo

Mais recentemente - e porque aprendi a deixar para o

34 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


fim os problemas económicos, uma vez que estamos

ou mesmo de muitos dos países dentro ou fora da Eu-

ainda a vivê-los - colocou-se-nos este desafio mui-

ropa, sobre o que poderia acontecer: todos anteciparam

to sério, que constitui uma ameaça à estabilidade da

a saída da Grécia da zona do euro. E, é claro, a saída

Europa, resultante do comportamento inaceitável da

da Grécia da zona do euro teria, de imediato, um efeito

Rússia relativamente à Ucrânia. Assumimos então uma

arrastador noutros países, um efeito de dominó que,

postura de princípio. Propusemos à Ucrânia um acordo

efetivamente, já se fazia sentir em países como a Irlan-

de associação e um acordo de comércio livre e registo

da e Portugal. Mas não esqueçamos que a Espanha e

com agrado que, pese embora todas as dificuldades,

a Itália se encontravam também sob enorme pressão.

a Ucrânia assinou e ratificou o acordo de associação.

Estávamos à beira do abismo. Recordo-me bem das

Neste contexto, gostaria aqui de vos felicitar porque, no

discussões à margem da Cimeira do G20 em Cannes,

mesmo dia e à mesma hora que o parlamento ucraniano

em 2011. Lembro-me bem de os analistas previrem

ratificava aquele acordo, este parlamento ratificava o

quase unanimemente a saída da Grécia e de, pelo

acordo que demonstra à Ucrânia que pode contar com

menos, 50% deles anteciparem a implosão do euro. E o

o nosso apoio enquanto parte da família europeia de

que aconteceu? Não apenas nenhum país abandonou

nações.

o euro, como estamos prestes a acolher o 19.º membro

Neste momento em que vos falo, esta crise não está

da zona do euro, com a adesão da Lituânia em 1 de

ainda resolvida - sabemos que não. Mas, penso que

janeiro de 2015. Não apenas a Grécia não saiu da zona

nos podemos orgulhar de termos mantido uma posição

do euro, como esta se alargou. Tal como a União Eu-

de princípio, de termos condenado, inequivocamente,

ropeia se tem alargado. Este é um aspeto que tem sido

as ações da Rússia e de ter sido ratificado o acordo de

bastante subestimado nas nossas análises.

associação não apenas com a Ucrânia, mas também

Em 2004, ano em que tive o prazer e a honra de as-

com a Geórgia e a Moldávia. Porque acredito que temos

sumir a liderança da Comissão Europeia, éramos 15,

um dever para com aqueles países que olham para a

lembram-se? Hoje, somos 28. Quase duplicámos o

Europa na esperança de partilhar connosco um futuro

número de membros da União Europeia durante a crise.

comum, porque querem comungar dos nossos valores.

Haverá melhor prova da resistência e da capacidade de

Neste momento, a Comissão continua a desempenhar

adaptação da nossa União? Penso que o facto de nos

o papel de mediadora neste processo, nomeadamente

termos conseguido manter unidos e abertos durante a

na reunião que hoje se realiza com os governos russo e

crise confirma a resistência e a força extraordinárias da

ucraniano sobre questões de energia, para tornar possí-

União Europeia, facto que não deve ser subestimado.

vel uma solução política negociada. Um acordo político

Sei que, para alguns, estes feitos não significam muito.

serve o interesse de todas as partes, mas tem de ser

De certa forma, idealizam o passado e sonham prova-

um acordo político que respeite os princípios do direito

velmente com uma Europa fechada. Consideram que a

internacional, que respeite o direito de um país vizinho

Europa era melhor quando metade do continente se en-

decidir o seu próprio futuro e que respeite a soberania

contrava sob o jugo de regimes comunistas totalitários.

e a independência desse país. Como tal, devemo-nos

Eu não penso assim. Considero que a Europa é melhor

orgulhar do que temos feito no contexto desta crise

hoje do que quando metade se encontrava subjugada

geopolítica assaz difícil.

ao comunismo. O facto de a Europa ter sido capaz, du-

Por outro lado, vivemos a crise financeira e da dívida

rante toda a crise, de se abrir, consolidar e unir enquan-

soberana. A verdade é que a crise não nasceu na Eu-

to continente em torno de valores da paz, da liberdade

ropa, mas porque não estávamos preparados, porque

e da justiça é algo que devemos festejar e não algo que

a zona do euro não dispunha ainda dos instrumentos

nos envergonhe, como parece ser o caso de alguns.

adequados, sofremos bastante as suas consequências

Por isso, penso que este é também um motivo de

- não apenas em termos financeiros e económicos, mas

celebração. Muitos previram, como provavelmen-

também em termos sociais e políticos. Considero que

te se lembram todos os que então seguiram estas

esta crise foi provavelmente a mais profunda desde o

questões atentamente, que a Comissão Europeia

início do processo de integração europeia, na década

não seria capaz de funcionar com 25, 27 ou 28

de cinquenta do século passado. Coloquemos, pois, as

membros, que a União Europeia ficaria bloqueada. A

coisas em perspetiva.

verdade é que a União Europeia não ficou bloquea-

Senhoras e Senhores Deputados,

da pelo alargamento. A verdade que estou hoje em

Recordemos a opinião corrente da maioria dos analistas

condições de partilhar convosco é que, por vezes,

dos meios de comunicação económicos e financeiros,

juntar alguns dos países fundadores foi mais difícil

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 35


Durão Barroso faz balanço positivo

do que reunir os 28 Estados-Membros da UE.

alguns telefonemas de capitais a perguntar-me «Porque

Também disso nos devemos orgulhar coletivamente,

está a falar da união bancária? Essa questão não está

porque a União Europeia conseguiu manter-se unida

nos Tratados.» Ao que eu respondi, «É verdade que

e aberta durante a crise. E quando digo aberta, digo-

não está nos Tratados, mas precisamos dela se quiser-

-o em todos os sentidos da palavra. Com uma atitude

mos concretizar os objetivos dos Tratados, designada-

aberta para o mundo. Abertos ao mundo estivemos, por

mente o objetivo de estabilidade e crescimento.» E hoje

exemplo, quando promovemos uma agenda climática

temos uma união bancária.

proativa após o fracasso da Ronda de Doha para o De-

Senhoras e Senhores Deputados,

senvolvimento e das negociações comerciais de Doha.

Se olharmos para a situação em perspetiva e pensar-

E lideramos agora o caminho nesse sentido, porque

mos onde estávamos há dez anos e onde nos encon-

acredito que o comércio pode ser uma das formas mais

tramos hoje, podemos afirmar com rigor e em completa

eficazes de apoio ao crescimento a nível mundial e na

observância da verdade que a União Europeia, pelo

União Europeia. Abertos ao mundo estivemos também

menos na zona do euro, está agora mais integrada e

quando tomámos a iniciativa de abordar o anterior Pre-

dotada de competências reforçadas, dispondo, através

sidente dos Estados Unidos da América, convencendo-o

do método comunitário, de mais ferramentas para dar

da necessidade de organizar uma primeira reunião do

resposta à crise, nomeadamente na zona do euro. Não

G20 ao nível dos Chefes de Estado ou de Governo porque era uma forma de desenvolver uma abordagem de cooperação global e evitar o regresso à política nefasta de protecionismo. O protecionismo pode ser uma tentação em tempos de crise. Não só conseguimos manter a Europa unida, mas lográmos alargá-la e abri-la ao resto do mundo. Mas agora, estamos mais fortes ou mais fracos? Eu sei que a maioria dos críticos dirá que estamos mais fracos. Mas será mesmo verdade? De facto, quanto a crise eclodiu, quase não dispúnhamos de instrumentos

apenas no sistema de governação

"

PENSO QUE CONCORDAM COMIGO QUANDO AFIRMO QUE ESTES TÊM SIDO ANOS EXCECIONAIS E DIFÍCEIS. DEZ ANOS DE CRISE E DE RESPOSTA DA UNIÃO EUROPEIA A ESSA CRISE. NÃO FALO APENAS DA CRISE FINANCEIRA E DA DÍVIDA SOBERANA

para lhe dar resposta. Tal como foi

"

na união bancária, mas também na legislação em matéria de estabilidade orçamental, regulação financeira e supervisão financeira. Apresentámos cerca de 40 novos diplomas legislativos, todos eles aprovados pelo Parlamento Europeu. E, mais uma vez vos agradeço porque em quase todos esses debates, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia estiveram em sintonia e preconizaram mais e não menos ambição para a Europa. E, por isso, hoje posso afirmar que estamos mais fortes. Porque temos um sistema de governação mais integrado, porque temos legisla-

dito na altura, estávamos perante uma crise sem prece-

ção em vigor para sancionar os abusos nos mercados

dentes. Não tínhamos mecanismos, por exemplo, para

financeiros, porque temos um sistema de supervisão e

ajudar os países na iminência de incumprimento. Muito

regulação muito mais transparente. Penso que, se uma

foi feito. Coletivamente, a Comissão e os Estados-Mem-

crise como as que temos vivido vier a eclodir no futuro,

bros, sempre com o forte apoio do Parlamento, criá-

estaremos mais bem preparados para a enfrentar.

mos um novo sistema de governação. Temos hoje um

É óbvio que podem dizer que continuam a existir muitas

sistema de governação muito mais reforçado, nomeada-

dificuldades. É verdade, e voltarei a esta questão mais

mente com a atribuição de poderes sem precedentes às

adiante, no que respeita às perspetivas de crescimento,

instituições comunitárias, e tudo fizemos para manter o

mas não esqueçamos a situação em que nos encon-

método comunitário no centro da nossa integração. Por

trávamos. Estivemos muito perto de uma situação de

exemplo, a Comissão tem hoje mais poderes em termos

incumprimento ou, para usar uma palavra menos polida,

de governação da zona do euro do que antes da crise.

de falência de alguns dos nossos Estados-Membros.

O Banco Central Europeu tem hoje a possibilidade de

E vejam onde estamos hoje. Dos países que se viram

fazer a supervisão direta dos bancos na Europa, algo

obrigados a solicitar programas de ajustamento, Portu-

que antes teria sido considerado impossível, impensável

gal e a Irlanda saíram deles com êxito. A Irlanda é hoje

mesmo, antes da crise. Lembro-me, aquando do debate

um dos países com crescimento mais rápido na Europa.

sobre a união bancária, ter afirmado numa entrevista

E todos os outros que se viram confrontados com a

que precisávamos de uma união bancária. Recebi logo

ameaça iminente de rutura, têm agora uma situação

36 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


muito mais estável. A Espanha, que solicitou um pro-

de rigor para corrigir as suas finanças públicas. No

grama para os bancos, melhorou também substancial-

entanto, sempre afirmámos com a mesma veemência,

mente. Assim, apenas dois países desse grupo (e não

embora provavelmente alguns não tenham escutado, a

nos esqueçamos dos países da Europa Central e Orien-

necessidade de reformas estruturais e de competitivida-

tal que recorreram a programas de ajustamento embora

de. Porque a realidade é que, mesmo antes da crise, o

não fizessem ainda parte da zona do euro) estão ainda

nosso crescimento estava aquém das nossas potencia-

a concluir os respetivos programas de ajustamento.

lidades. E alguns países têm problemas graves de falta

Os défices na zona do euro rondam, em média, os

de competitividade, motivo pelo qual as reformas têm de

2,5%. Este valor é muito inferior ao dos Estados Unidos

ser mais ambiciosas.

ou do Japão. Por isso, em termos de estabilidade, es-

Por outro lado, defendemos a necessidade de mais

tamos muito melhor agora do que antes. Sem esquecer

investimento. Sempre disse que precisamos de mais

que a zona do euro regista um excedente comercial. De

investimento, público e privado. O investimento privado

um modo geral, a União Europeia estará agora numa si-

materializar-se-á quando demonstrarmos que dispo-

tuação excedentária no que se refere a produtos, serviços e, pela primeira vez em muitos anos, à agricultura. E refiro este aspeto porque, muitas vezes, a opinião de alguns setores políticos é a de que estamos a perder com a globalização. Ora tal não é o caso. É verdade que alguns países da União não estão a vencer essa batalha, mas, em média, podemos afirmar que a Europa está a tirar dividendos em termos de concorrência, designadamente no que respeita ao comércio e ao investimento. Mas, obviamente, o crescimento é ainda tímido. Penso que não podemos afirmar que a crise está completamente ultrapassada porque persistem ameaças, mas considero que ganhámos a batalha da estabilidade. Hoje, ninguém apostará honesta-

mos de economias competitivas, que

"

SE FORMOS HONESTOS NA ANÁ-

podemos atrair esse investimento. Registo hoje com agrado o facto de a

LISE, OS PAÍSES QUE MAIS SOFRERAM DURANTE A CRISE FINAN-

maioria dos nossos países, se bem que a ritmos diferentes, estar a proceder a reformas estruturais ambiciosas que teriam sido consideradas impossíveis

CEIRA FORAM PRECISAMENTE AQUELES QUE, ANTES DELA, PERDERAM EM TERMOS DE COMPETITIVIDADE DOS CUSTOS. POR EXEMPLO, AS

antes da crise.

REFORMAS QUE FORAM REALIZADAS EM ESPANHA, IRLANDA,

Espanha, Irlanda, Portugal e Grécia

PORTUGAL E GRÉCIA SÃO NOTÁVEIS

estruturais, sempre consideramos ser

mente no fim do euro. O euro mostrou que é uma moeda muito forte,

"

A verdade é que, se formos honestos na análise, os países que mais sofreram durante a crise financeira foram precisamente aqueles que, antes dela, perderam em termos de competitividade dos custos. Por exemplo, as reformas que foram realizadas em são notáveis. Por outro lado, para além da consolidação orçamental e das reformas necessário mais investimento. Não só investimento privado, mas também investimento público. Lembrar-se-ão

credível e estável. A verdade é que o nosso crescimento

do debate em torno do quadro financeiro plurianual.

é ainda modesto e está claramente aquém das expecta-

O Presidente Schultz lembra-se, certamente. Partici-

tivas.

pámos juntos em muitas reuniões em que solicitámos

Então o que podemos fazer pelo crescimento? Esta é a

aos Estados-Membros que fizessem mais em termos

questão importante. E aqui vejo-me obrigado a relem-

de investimento. E o instrumento de investimento mais

brar outra coisa. Estou bem consciente de que, muitas

importante de que dispomos a nível europeu é o quadro

vezes, a política da União Europeia e, designadamente

financeiro plurianual, que ronda um bilião de euros.

a política da Comissão Europeia, tem sido apresentada

Por conseguinte, se não houve investimento mais

como integralmente centrada na austeridade. Eu consi-

ambicioso não foi por falta de ambição desta Comis-

dero esta afirmação caricatural.

são ou deste Parlamento. Foi devido à oposição de

Sempre defendemos pelo menos três linhas de ação

algumas capitais. Esta é a realidade. Defendemos um

importantes, designadamente, a consolidação orçamen-

investimento sólido e orientado para o crescimento. E

tal, é claro, para os países que estão sob pressão dos

não apenas no âmbito do quadro financeiro plurianual.

mercados. Seria completamente irresponsável se não

Recordo, por exemplo, as propostas que aqui vos apre-

estivessem em condições de apresentar um programa

sentei nos discursos sobre o estado da União. O

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 37


Durão Barroso faz balanço positivo

aumento de capital do BEI, que foi finalmente acor-

tica à da segurança energética. E digo isto porque,

dado. As obrigações para financiamento de projetos

esta semana, terá lugar uma importante discussão em

que os Estados-Membros aceitaram, mas só enquanto

Bruxelas, ao nível dos Chefes de Estado e de Governo,

piloto. O instrumento que criámos para as PME, com

e espero que a União Europeia mantenha o seu papel

empréstimos do BEI e recursos dos Fundos Estruturais,

de liderança. Obviamente não sozinhos, mas com a

do nosso orçamento. Infelizmente, só dois países quise-

cooperação de outros porque todos temos uma respon-

ram seguir essa linha.

sabilidade para com o nosso planeta. E este foi, certa-

Ou, por exemplo, o programa destinado aos jovens,

mente, um dos grandes avanços destes anos. O facto

a Garantia para a Juventude, que propusemos e os

de a União Europeia ter sido capaz de dar os passos

Estados-Membros aceitaram. Mas, agora, com a Inicia-

mais importantes e corajosos na luta contra as altera-

tiva para o Emprego dos Jovens, só dois países aceita-

ções climáticas.

ram prever um programa dedicado especificamente ao

Outro motivo de orgulho é o facto de - apesar de todas

emprego juvenil.

as restrições decorrentes da nossa situação financeira -

Por isso, meus caros colegas, sejamos claros: defen-

ter sido possível afetar no QFP mais 30% de fundos ao

demos o investimento. Desejo à nova Comissão e ao

programa Horizonte 2020 para a investigação e a tecno-

meu amigo e colega Jean-Claude Juncker, que tenham

logia. Considero que esta é uma grande oportunidade

o apoio dos Estados-Membros para um programa de

de fazermos mais neste domínio, bem como na área da

investimento mais ambicioso para os próximos anos.

cultura, através do programa Europa Criativa.

Acredito que isso seja agora possível, que a sensibili-

A verdade é que em algumas áreas foi possível, apesar

zação para esta questão é hoje muito maior. Mas, uma

da crise económica e financeira, aumentar o investimen-

vez mais, este aspeto faz parte de uma estratégia global

to a nível europeu.

que conjuga consolidação orçamental com reformas

Orgulho-me também do facto de, não obstante as

estruturais e investimento e, é claro, com todas as

pressões a que estavam sujeitos os nossos orçamentos,

medidas que tomámos na área da união bancária e de

sempre termos marcado presença em termos de ajuda

regulação financeira em prol da estabilidade.

ao desenvolvimento e da política de vizinhança.

E afirmo isto com veemência porque considero que

Sempre que o mundo viveu uma grande tragédia, do

seria um erro, após tudo o que fizemos, desistir agora,

tsunami na Indonésia à recente crise do Ébola, da crise

vacilar na determinação e abandonar a via das reformas

de refugiados da Síria ao Darfur, estivemos lá, e sem-

estruturais. Penso que fizemos uma parte do trabalho.

pre entre os primeiros. E penso que nós, europeus, nos

De um modo geral, a estabilidade foi conseguida e o

devemos também orgulhar desse facto. Porque somos

crescimento existe, ainda que a um ritmo mais lento do

ainda, juntamente com os nossos Estados-Membros,

que desejaríamos. Necessitamos agora de determina-

o mais importante doador de ajuda ao desenvolvimen-

ção para completar as reformas, de modo a atingirmos

to no mundo. Esta é uma verdade que corresponde

um crescimento sustentável. Não um crescimento

perfeitamente aos nossos valores e estou satisfeito por,

alimentado pela dívida excessiva, pública ou privada,

apesar de todas as crises, não termos abandonado as

porque esse é um crescimento artificial e fictício e,

nossas obrigações em termos de cooperação para o

mais cedo ou mais tarde, pagaríamos o preço. Mas um

desenvolvimento.

crescimento sustentável, que acredito ser possível se

Já aqui mencionei o comércio. Penso que é muito im-

continuarmos o caminho corajoso das reformas e de

portante manter uma agenda comercial ambiciosa, uma

uma governação mais forte para a União Europeia.

Europa aberta ao comércio livre e justo. A Comissão

Não tenho agora tempo de passar em revista todas as

celebrou um número recorde de acordos, não apenas

outras políticas que desenvolvemos ao longo dos anos.

com a Coreia do Sul, Singapura e América Central - a

Mas permitam-me destacar uma ou duas, porque penso

primeira região a conseguir um acordo - mas também

que estão na fase decisiva do processo de decisão e

com o Peru, o Equador e, mais recentemente, com o

porque considero que são importantes.

Canadá, a África Ocidental, o Leste Africano e a África

Orgulho-me imensamente de ter sido a minha Comis-

do Sul. Poderia mencionar alguns outros que estão

são, no seu primeiro mandato em 2007, que apresentou

agora a avançar, como o Japão e os Estados Unidos e

o programa de proteção do clima mais ambicioso do

ainda um acordo de investimento com a China.

mundo. E continuamos a liderar esta agenda a nível

Somos, pois, o mais importante bloco comercial do

mundial.

mundo. Somos a maior economia do mundo.

De facto, fomos capazes de associar a agenda climá-

E digo-o porque sei que hoje está muito na moda o

38 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


pessimismo, o derrotismo sobre a Europa, o que eu

síveis a essa situação. Mas posso dizer-vos, em plena

chamo deglamour intelectual do pessimismo. Mas acre-

consciência, de que tudo fizemos ao nosso alcance,

dito que podemos mostrar bons resultados e que juntos,

com os instrumentos de que dispúnhamos, para evitar a

enquanto coletivo, somos muito mais fortes e podemos

fragmentação do euro ou a divisão da União Europeia.

defender melhor os nossos interesses e proteger os

E frequentemente tive de apelar aos meus colegas do

nossos valores.

Conselho, Chefes de Estado e de Governo, para que

Caros colegas - chamo-vos colegas porque, apesar das

fizessem jus à ética da responsabilidade europeia.

muitas discussões, temos sido colegas nesta grande

Mas uma das lições que retiro de tudo isto é que, mes-

empresa que é o projeto europeu - penso que, politica-

mo tendo sido possível chegar a decisões, é verdade

mente, temos algumas ilações a retirar.

que tal foi, por vezes, extremamente penoso e difícil.

Uma é que demos provas de grande resistência. Acho

Além de moroso. Afirmámos também, e penso que

que podemos afirmar que as forças de integração são

todos concordamos nesse ponto, que a democracia é

mais fortes do que as forças de desintegração. E acre-

mais lenta do que os mercados.

ditei nisso dia e noite, por vezes em momentos muito

A Comissão teria preferido, e estou certo que este

dramáticos, por vezes quando tive de dirigir apelos dra-

Parlamento também, que as decisões tivessem sido

máticos a algumas capitais: aos países mais ricos, para

mais corajosas, mais abrangentes, mais rápidas. Mas

que dessem prova de maior solidariedade; e aos mais

somos uma União de Estados democráticos, não somos

pobres, para que mostrassem maior responsabilidade.

um super Estado. E temos de respeitar sensibilidades

Por vezes, agimos com muita discrição, é certo. A

distintas.

Comissão Europeia é, provavelmente, mais discreta do

Uma das conclusões que retiro destes anos de ex-

que outros. Não quis que a Comissão fizesse parte da

periências é a necessidade de cooperação entre as

cacofonia de vozes diferentes durante os momentos

instituições. Sei que, por vezes, é mais fácil apresentar

mais agudos da crise. Os mercados eram muito sen-

ideias impossíveis e criticar os outros. Mas, acredito

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 39


Durão Barroso faz balanço positivo

firmemente que temos de interagir com as diferentes

advogar esta ideia de forte cooperação, de pôr o bem

instituições, que não é solução opor os países à União

europeu comum acima de tudo o resto, o meu colega

Europeia. Pelo contrário, mostrámos aos nossos países

e amigo Jean-Claude Juncker e a sua nova Comissão

que somos mais fortes se fizermos parte da União Eu-

serão bem sucedidos. Sucesso esse, é claro, assente

ropeia. Que não se trata de diluir a identidade nacional,

no apoio que, estou certo, todos vocês lhes darão.

mas, pelo contrário, de partilhar soberania para que

Porque a União Europeia é uma união de valores. Nes-

possamos proteger os seus interesses mais eficazmen-

tes últimos dias, vários jornalistas perguntaram-me ‘qual

te em todo o mundo. Esta é a minha convicção inaba-

foi para si o momento mais emotivo? Que momento pre-

lável.

feriu?’ E eu recordo-me de tantos, e de tantos outros tão

E digo-vos o seguinte, no momento de partir: o meu

difíceis, para ser sincero. Mas um dos momentos mais

único interesse é que aprendamos com estas lições para

emocionantes foi quando, em nome da União Europeia,

não repetir os mesmos erros no futuro. Ao mesmo tem-

juntamente com o Presidente Martin Schulz e o Pre-

po, penso que podemos afirmar que não é através da

sidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,

confrontação, mas sim da cooperação que somos capa-

recebemos o Prémio Nobel da Paz.

zes de atingir os nossos objetivos. No momento em que me preparo para passar este testemunho muito difícil e interessante ao meu amigo Jean-Claude Juncker, quero afirmar aqui, em meu nome e em nome de todos os meus colegas da Comissão, que desejamos as melhores felicidades à nova Comissão, que tem à sua espera enormes desafios, mas que poderá contar com o nosso apoio. E estou certo do apoio que este Parlamento lhe dará. Porque, Senhor Presidente, as relações nem sempre foram perfeitas. Mas estará de acordo comigo quando digo que fomos capazes de estabelecer uma relação frutuosa entre o Parlamento e a Comissão.

Considero que este foi um sinal podero-

"

NA MINHA COMISSÃO, NÃO HAVIA COLEGAS DO PPE, SOCIALISTAS, LIBERAIS.

HAVIA PESSOAS QUE TRABALHAVAM PARA A EUROPA. O MEU PARTIDO É O PPE, DE QUE MUITO ME ORGULHO, MAS ENQUANTO PRESIDENTE DA COMISSÃO, O MEU PARTIDO É A EUROPA E ESSA É UMA MENSAGEM QUE GOSTARIA DE PARTILHAR CONVOSCO

Estive neste Parlamento mais de 100 vezes. Nunca nenhuma

"

so que a comunidade internacional nos enviou de que a nossa ação conta neste mundo e que o que fazemos é muito importante. Que os valores que estiveram na base da criação da nossa União, designadamente o valor da paz, são ainda hoje a nossa essência. E temos de lutar por eles. Penso que esse foi o momento que quero partilhar com todos quanto nas diferentes instituições, incluindo este Parlamento, têm trabalhado por uma Europa unida, aberta e mais forte. E quando deixar este cargo, com todos os meus colegas da Comissão, posso dizer-vos que não conseguimos tudo o que podíamos, ou tudo o que gostaríamos de ter conseguido, mas trabalhámos com a consciência limpa, pondo os interesses globais da União Europeia acima dos interesses específicos. Acredito que estão

Comissão esteve tantas vezes representada no Parla-

agora criadas as condições para continuar a trabalhar

mento como as minhas duas Comissões. A cooperação

em prol de uma Europa unida, aberta e mais forte.

entre nós foi uma realidade e estou grato porque este

Muito obrigado pela vossa atenção.

Parlamento, que formulou, por vezes, exigências muito

Auf wiedersehen, goodbye, au revoir, adeus.

duras, sempre apoiou o método comunitário, sempre

Muito obrigado, thank you very much.»

apoiou as instituições comunitárias. E acredito que tal é

[Na sequência das declarações dos Deputados do

muito importante para o futuro da Europa.

Parlamento, o Presidente Barroso proferiu os seguintes

Meus caros colegas do projeto europeu,

comentários]

a forma de solucionar os problemas que nos assolam na

«Senhor Presidente,

Europa não passa por revoluções, e muito menos por

Gostaria de responder a algumas questões que foram

contrarrevoluções. Passa, sim, pelo compromisso, pelas

evocadas pelos oradores que me precederam. Em

reformas. Evolução e reformas. Temos de proceder a

primeiro lugar, penso que a prova que nós, e refiro-me à

reformas para nos adaptarmos aos novos desafios, mas

Comissão que tive a honra de presidir, estamos no bom

não com novos confrontos entre as instituições, nem

caminho é que as críticas chegam dos dois extremos da

com confrontos com os nosso países. E acredito que ao

sala, muitas vezes no mesmo tom. Quero isto dizer,

40 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


recusando de forma categórica as dificuldades e os

resultado da União Europeia revela falta de rigor inte-

desafios extraordinários que tivemos de enfrentar e não

lectual e desonestidade política. O que temos de fazer

apresentando qualquer resposta coerente.

enquanto europeus é precisamente mostrar que não foi

A verdade é que vivemos talvez a maior crise econó-

a Europa que criou a crise, nem tão pouco as dívidas

mica e financeira, pelo menos desde o início da nossa

públicas dos Estados-Membros. A Europa pouco pode

integração europeia. E é também verdade que não foi a

fazer quando um Estado-Membro falsifica as suas con-

União Europeia, não foi a Europa que provocou a crise.

tas, por exemplo. A Europa teve de fazer face a isso. A

É isso que alguns soberanistas, para usar a expressão

primeira iniciativa da minha segunda Comissão foi pedir

que utilizam, não compreendem ou não querem com-

aos Estados-Membros que nos dessem mais poderes

preender. Não foi a Europa que criou a dívida privada

de supervisão das estatísticas nacionais, porque na

excessiva, a falta de responsabilidade do domínio

primeira Comissão a que presidi tal havia sido recusa-

financeiro, muito pelo contrário. Tudo se passou sob a

do. E não foi recusado pela Grécia. Foi recusado pelos

supervisão ou falta dela a nível nacional. A Europa é

grandes Estados-Membros que não queriam dar mais

a resposta. Agora, dispomos de um dos sistemas de

responsabilidades à União Europeia. Logo, se quere-

regulação e de supervisão mais ambiciosos, se não o mais ambicioso, do mundo. Logo, afirmar que a Europa está pior devido à União Europeia é uma mentira. É uma completa falta de respeito e uma falta de rigor intelectual. Não foi a Europa que criou a crise financeira. A crise nasceu nos Estados Unidos. É certo que existiam vulnerabilidades na Europa, mas o que a União Europeia fez foi dar-lhes resposta. A União Europeia não é a causa e considero que é algo que todos que partilham o ideal europeu, de direita, esquerda ou do centro, devem ter a coragem de dizer. Porque, de outra forma, estaremos a reforçar precisamente os populismos da extrema esquerda ou da extrema

mos mesmo debater esta questão,

"

DESEJO À NOVA COMISSÃO E AO MEU

da honestidade intelectual e do rigor político.

AMIGO E COLEGA JEAN-CLAUDE JUN-

E é por isto, meus caros amigos, que há uma coisa que vos quero dizer

CKER, QUE TENHAM O APOIO DOS ESTADOS-MEMBROS PARA UM PROGRAMA DE INVESTIMENTO MAIS AMBICIOSO PARA OS PRÓXIMOS ANOS. ACREDITO QUE ISSO SEJA AGORA POSSÍVEL, QUE A SENSIBILIZAÇÃO PARA ESTA QUESTÃO É HOJE MUITO MAIOR

direita.

sejamos precisos e rigorosos no plano

"

com grande convicção. A equipa a que tive a honra de presidir trabalhou com grande dedicação, com grande rigor, colocando sempre em primeiro lugar o interesse europeu. Vou-vos dizer uma coisa, porque estamos aqui numa assembleia política com diferentes forças políticas, colocando sempre o interesse comum acima de tudo. Na minha Comissão, não havia colegas do PPE, socialistas, liberais. Havia pessoas que trabalhavam para a Europa. O meu partido é o PPE, de que muito me orgulho, mas enquanto Presidente da Comissão, o

Ouvi com atenção alguns deputados que afirmam que

meu partido é a Europa e essa é uma mensagem que

o populismo é agora mais forte e imputam a respon-

gostaria de partilhar convosco, designadamente para

sabilidade desse facto à União Europeia. Mas, caros

as grandes forças pró-europeias de centro esquerda

amigos, isso não é verdade. O populismo, a xenofobia,

e de centro direita. É claro que é preciso expressar as

existem muito claramente fora da União Europeia.

diferenças, mas há que ter cuidado para que essas di-

Vejam o que se passou na Suíça contra os imigrantes.

ferenças não enfraqueçam o campo dos pró-europeus.

Vejam o que se passou na Noruega, com o terrorista

Há que não dar mais prendas à extrema direita ou à ex-

que matou já não sei quantos jovens porque se opõe a

trema esquerda. É preciso que as forças pró‑europeias

uma Europa multicultural. Vejam o Tea Party nos Esta-

se unam. É preciso que tenham coragem de defender a

dos Unidos. O Tea Party nos Estados Unidos é culpa

Europa. É preciso que o façam também nas capitais e

da Europa?

não apenas aqui, em Estrasburgo. É preciso congregar

O que existe hoje no mundo é um populismo agressivo,

essa grande coligação pela Europa, porque acredito

umas vezes com argumentos de esquerda, outras com

que temos energia suficiente par vencer as batalhas do

argumentos de direita. Por vezes, é difícil saber onde

presente e as que nos esperam no futuro.

está a diferença e, como tal, dizer que esta situação é

Muito obrigado.»

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 41


LÍDERES

No rescaldo do mandato na UE

Barroso condecorado pelo Presidente da República

Após uma década a presidir a Comissão Europeia, Durão Barroso foi condecorado por Cavaco Silva com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços de “extraordinária relevância” para Portugal e União Europeia. Na ocasião, o Presidente da República acentuou o seu “papel decisivo para que a Europa ultrapassasse as crises por que passou na última década”

42 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


José Manuel Barroso foi condecorado pelo Presiden-

te da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços de “extraordinária relevância” para Portugal e União Europeia. Durão Barroso, que durante 10 anos exerceu o cargo de Presidente da Comissão Europeia, que cessou a 31 de Outubro de 2014, ocupou uma das funções internacionais mais elevadas, nunca exercida por um político português. O Presidente da República destacou o contributo de Durão Barroso, enquanto Presidente da Comissão, na economia e nos planos institucionais e financeiros da União Europeia e definiu-o como um político de grande relevo na arena internacional. “Acompanhei de perto o seu trabalho como Presidente da Comissão, e sei bem que desempenhou um papel decisivo para que a Europa ultrapassasse as crises por que passou na última década. Desde logo, a aprovação do Tratado de

"

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DESTACOU O

CONTRIBUTO DE DURÃO BARROSO, ENQUANTO PRESIDENTE DA COMISSÃO, NA ECONOMIA E NOS PLANOS INSTITUCIONAIS

E FINANCEIROS DA UNIÃO EUROPEIA E DEFINIU-O COMO UM POLÍTICO DE GRANDE RELEVO NA ARENA INTERNACIONAL

Lisboa, que ultrapassou o impasse político e institucional criado pelo voto negativo do Tratado Constitucional, na França e na Holanda”, disse o Chefe de estado

"

português, frisando que “foi da maior importância o con-

número que, em 2004, não ultrapassava os 15. Enfrentou

tributo dado pelo Dr. Durão Barroso para que a União

os desafios da rejeição, em 2005, do Tratado Constitucional

Europeia ultrapassasse a crise financeira e das dívidas

e as dificuldades da negociação do Tratado de Lisboa, em

soberanas, que pôs à beira da ruptura a Zona do Euro

2007. Atravessou a crise económica e financeira interna-

e pôs mesmo em causa o próprio projecto da integra-

cional, que mais tarde afectaria com especial intensidade

ção europeia”.

sobre a Europa, ameaçando mesmo a integridade da zona

Cavaco Silva acrescentou ainda que Barroso “foi um

Euro”, relembrou Passos Coelho, sublinhando que Barroso

grande impulsionador do novo modelo de governação

“lidou com desafios internacionais, como o agravamento do

económica da Zona do Euro, mais consistente com

terrorismo, a instabilidade na fronteira Leste da União e as

uma verdadeira União Económica e Monetária, tal

mudanças políticas no Norte de África e Médio Oriente”.

como foi o grande impulsionador da criação dos ins-

O Primeiro-Ministro sustentou, ainda, que “a profunda

trumentos de apoio aos países com graves problemas

convicção de que a herança, a coragem e o exemplo do

de desequilíbrios económicos e financeiros, como foi a

Dr. Durão Barroso em muito contribuirão para que os novos

criação do Mecanismo Europeu de Estabilidade.”

altos dignitários da União Europeia prossigam, com sucesso, este esforço permanente de construção de uma Europa

Passos também agradeceu

mais forte, mais igual e mais unida”.

O Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho,

Por ser uma distinção reservada a Chefes de Estado

também agradeceu a Durão Barroso pela “forma digna

estrangeiros, o Grande Colar da Ordem do Infante D.

e empenhada como liderou a União, numa década

Henrique é oferecido a personalidades portuguesas em

desafiadora e como honrou e prestigiou Portugal na

ocasiões especiais. José Manuel Barroso é o segundo

Europa e no mundo”. Tal como o Presidente da Re-

português a ser homenageado com a distinção, depois

pública, o Chefe do Governo português relembrou os

do ex-governador português em Macau, Vasco Rocha

principais acontecimentos europeus que ocorreram du-

Vieira, a quem a condecoração foi atribuída em 2001

rante os dois mandados do ex-presidente da Comissão

pelo antigo Presidente da República, Jorge Sampaio.

Europeia. E referiu-se a uma década da presidência

Desde que saiu do Governo para exercer o cargo de

de Durão Barroso como anos de “uma complexidade

Presidente da Comissão Europeia, em 2004, Durão

inesperada”.

Barroso recebeu várias distinções entre quais o “Gran-

“A União Europeia enfrentou crises consecutivas, de natu-

de Colar de Timor-Leste”, em 2010; e a “Grã-Cruz da

reza institucional, económica e geopolítica. Transformou-

Real y Distinguida Orden Española de Carlos III”, de

-se num clube de 28 Estados-membros, partindo de um

Espanha, em 2011.

Texto: Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

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Brasil a duas vozes

O “fenómeno” Dilma

Renascida das cinzas da contestação social e do jogo baixo dos seus adversários políticos, a “Presidenta”, dada por derrotada pelos principais órgãos de comunicação social, venceu nas urnas Aécio Neves que, num primeiro momento, ainda pensou ser “o senhor que se segue”. O eleitorado trocou as voltas aos analistas… ➤

44 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 45


Brasil a duas vozes O “fenómeno” Dilma

46 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


A ténue diferença que separou Dilma Rou-

mente, a candidata do PT conseguiu mobilizar

sseff de Aécio Neves, no segundo turno das

20.176.579 votos no Nordeste e 26.627.802

eleições brasileiras, colocou o país literal-

no Sul-Sudeste.

mente dividido ao meio. Esta constatação,

No lado oposto, os apoiantes do governo,

extrapolada até ao limite, constitui porém um

procuram dar a entender que a maioria dos

argumento bastante redutor. Historicamente

brasileiros teria apoiado a “Presidenta”, o que

as eleições presidenciais em qualquer país

não deixa também de constituir uma falácia.

traduzem a mesma realidade, embora no caso

Dos 142.822.046 eleitores registados, Dilma

brasileiro a literalidade seja mais consistente

conseguiu 38,16 por cento (%) - 54.501.118

por razão do voto obrigatório.

votos -, contra 35,74% de Aécio (51.041.155

No caso do Brasil, porém, essa divisão do

votos). 21,1% corresponde aos eleitores que

país traduzida nas urnas corresponde, de

se abstiveram (30.137.479 votos), anularam

igual modo, a um compartimento de nature-

o voto 5.219.787 eleitores (3,65%) e votaram

za social. Nos meses que antecederam as

em branco 1.921.819 (1,35%) brasileiros.

eleições, metade do país (não rigorosamente

Contas à parte, Dilma Roussef, tida como der-

a mesma metade que apoiou Aécio nas urnas) saiu à rua em protesto contra a corrupção, o aumento desenfreado dos transportes, o precário sistema de saúde e a realização da muito contestada Copa do Mundo de Futebol. Numa expressão que, em crescendo, pôs em

"

A VITÓRIA DA CANDIDATA DO PARTIDO DOS

vitória nas urnas da candidata do Partido So-

TRABALHADORES (PT) PODERÁ SER ENTENDIDA COMO UM FEITO EXTRAORDINÁRIO, PARA MAIS QUANDO A POUCAS SEMANAS DO PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES INSUSPEITOS OBSERVADORES VATICINAVAM A

cialista Brasileiro (PSB) – um ex-aliado do PT

DERROTA DE DILMA

causa as principais áreas da governação. Num tal contexto, a vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) poderá ser entendida como um feito extraordinário, para mais quando a poucas semanas do primeiro turno das eleições insuspeitos observadores vaticinavam a derrota de Dilma e a putativa

"

-, Marina Silva, que, ironicamente, não conseguiu chegar à segunda volta. A tangencial diferença entre Dilma Rousseff e Aécio Neves revela, pois, a divisão social e

rotada em grande parte das sondagens pré-

sociológica de uma nação, mas expõe tam-

-eleitorais, e que teve contra si os principais

bém uma outra realidade. Ao contrário dos

órgãos de comunicação social, alguns deles

apoiantes da “Presidenta” e da base política

não se inibindo mesmo de publicar mentiras

que lhe dá suporte no governo e na rua - ca-

a seu respeito, revela-se como um verdadei-

racterizada por uma grande unidade orgânica

ro “animal político” ao conseguir quebrar a

e funcional -, o “outro lado” expõe uma amál-

adversidade e manter as rédeas do poder em

gama de interesses contraditórios, desde logo

Brasília. No entanto, com o sobressalto Aécio

com uma expressão anterior nos protestos de

e as contestações de rua que antecederam

rua.

as eleições, Dilma terá de abrir-se ao diálogo com a sociedade e empreender reformas

Leituras enviesadas

estruturais, caso contrário verá a sua governa-

A suposta divisão do Brasil entre nordesti-

ção permanentemente fustigada à direita e à

nos e sulistas (alardeada pelos opositores

esquerda.

do governo pêtista) - os primeiros, apoiantes de Dilma; os segundos, de Aécio -, não só

O trajecto da “Presidenta”

não se confirmou como constituiu uma das

Nascida em Belo Horizonte a 14 de Dezembro

maiores falácias desta campanha. Efectiva-

de 1947, Dilma Vana Rousseff ocupou

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 47


Brasil a duas vozes O “fenómeno” Dilma

"

DILMA ROUSSEFF, TIDA COMO DERROTADA EM GRANDE PARTE DAS

SONDAGENS PRÉ-ELEITORAIS, E QUE TEVE CONTRA SI OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, ALGUNS DELES NÃO SE INIBINDO MESMO DE PUBLICAR MENTIRAS A SEU RESPEITO, REVELA-SE COMO UM VERDADEIRO “ANIMAL POLÍTICO”

já elevados cargos políticos antes de ter

e 1972, tendo sido torturada pelo temível

sido eleita Presidente pela primeira vez em

DOPS (Departamento de Ordem Política e

2010. Durante os governos de Luiz Inácio Lula

Social).

da Silva esteve à frente do Ministério de Minas

Após a restauração democrática, no início dos

e Energia, ocupando posteriormente a Chefia

anos 80, Dilma Rousseff foi viver para o Rio

da Casa Civil da Presidência.

Grande do Sul e empenhou-se activamente na

Nascida em “berço de ouro”, no seio de uma

fundação do Partido Democrático Trabalhista

família de classe média alta, Dilma aderiu

(PDT), liderado por Leonel Brizola. Em Por-

aos ideais socialistas na primeira metade

to Alegre, na década de 80 (1985-1988), foi

dos anos sessenta, em plena ditadura militar.

secretária municipal da Fazenda, e, de 1991 a

Determinada, militou no Comando de Liber-

1993, presidente da Fundação de Economia e

tação Nacional (COLINA) e na Vanguarda

Estatística. De 1999 a 2002 ocupou o cargo de

Armada Revolucionária Palmares (VAR-Pal-

secretária estadual de Minas e Energia e adere

mares), organizações de “esquerda radical”

ao PT de Lula da Silva, iniciando-se aí a sua

que defendiam a luta armada, o que lhe

fulgurante carreira política até à Presidência,

valeu quase três anos de prisão, entre 1970

sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.

António Pinho

48 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

"



VIAGENS DE ESTADO

Encontro com o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos, Xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan

Cavaco Silva visita Emirados Árabes Unidos com o propósito de promover o diálogo político e de reforçar as relações económicas entre os dois países

O Presidente da República Portu-

estratégico, de grande importân-

vez mais” e que “há cerca de 600

guesa realizou uma Visita Ofi-

cia nesta região. E um significado

empresas que mantêm negócios

cial, a primeira de um Chefe de

económico porque são um país

com os Emirados”. Frisou ainda

Estado português, aos Emirados

com um crescimento bastante

que “no primeiro semestre de

Árabes Unidos (EAU). A viagem

significativo que realizou pro-

2014 as exportações para esse

com passagem por Abu Dhabi e

gressos notáveis nas últimas

país árabe aumentaram 25%”,

Dubai além da vertente política

décadas”, disse o Presidente da

e que “Portugal não pode igno-

tem também uma forte verten-

República.

rar um mercado em tão grande

te económica e empresarial. A

Em declarações aos jornalistas,

expansão como este”, que tem

deslocação ao país do Golfo

Cavaco Silva lembrou que os

“muitos recursos financeiros dis-

Pérsico, de 26 a 27 de Novembro

“Emirados Árabes Unidos têm

poníveis”.

de 2014,“tem um significado po-

registado um crescimento anual

No início da sua visita, em que foi

lítico porque os Emirados Árabes

que ronda os 5%”, que “é o país

acompanhado por membros do

Unidos, desempenham um papel

para onde Portugal exporta cada

Governo e por uma comitiva

50 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


empresarial, o Chefe de Es-

tado da República Portuguesa encontrou-se, no Abu Dhabi, com o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos, o Xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan. Na reunião foram abordadas questões de natureza política, económica e comercial, e de cooperação bilateral entre os dois países. “Tivemos possibilidade de falar muito abertamente sobre a situação geoestratégica desta região, mas acima de tudo falar sobre a cooperação em múltiplas áreas que podemos desenvolver.” Afirmou Cavaco Silva e acrescentou

Visita à Mesquita Xeque Al Zayed

ter encarado o encontro como uma oportunidade para explicar a situação politica e económica de Portugal, “em particular na zona do euro, que suscita bastante interesse nesta parte do mundo”. As “potencialidades” de Portugal enquanto aposta aliciante para o investimento foram também acentuadas numa reunião com o Xeque Ahmed Bin Zayed Al Nahyan. Nesse encontro, em Abu Dhabi, com o Líder de um dos mais importantes fundos dos Emirados, o Fundo Soberano ADIA - Investimentos e ETHIAD Airways, dos EAU, Cavaco Silva destacou a posição de Portugal

Encontro com o Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum

na União Europeia e as suas “ligações privilegiadas” com África e América Latina. “Discutiram-se

no princípio de 2015 “irá uma

dos, Cavaco Silva encontrou-se

várias possibilidades de investi-

missão técnica visitar Portugal

com empresários e participantes

mento em Portugal”, sendo “os

para contactos a nível político,

na primeira Comissão Mista Por-

sectores financeiro, energético,

mas sobretudo contactos a nível

tugal-Emirados Árabes Unidos. A

do papel e da pasta de papel, do

empresarial”. Acrescentou ainda

data da Comissão Mista coincidiu

turismo e das indústrias farma-

que houve interesse por parte

com o dia da visita do Chefe de

cêuticas” as principais áreas de

dos Emirados Árabes Unidos

Estado aos Emirados e do lado

interesse dos empresários dos

em “conhecer melhor a situação

português foi presidida pelo Vice-

Emirados em Portugal, disse o

económica do país e enquadrá-la

-Primeiro Ministro, Paulo Portas,

Presidente Aníbal Cavaco Sil-

também no quadro da evolução

que também fez parte da comitiva

va. E afirmou que para estudar

económica da União Europeia”.

presidencial. Neste encontro, o

essas possibilidades de inves-

No final do primeiro dia da sua

Presidente da República caracte-

timento ficou acordado que já

presença na capital dos Emira-

rizou o mercado dos Emirados

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 51


Aníbal Cavaco Silva nos Emirados Árabes Unidos

As comitivas dos dois países no encontro entre o Presidente da República Portuguesa e o Príncipe Real e Presidente em Exercício dos Emirados Árabes Unidos

52 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


como competitivo.”Estamos

perante um mercado muito exigente. Competir aqui não é fácil, uma vez que há um número elevado de países que estão a fazer esforços para fortalecer e penetrar neste mercado,“ disse. E incentivou os empresários portugueses a prestarem uma atenção particular às “potencialidades de desenvolvimento de negócios com empresários do Golfo”, e promover uma “imagem positiva e dinâmica” da economia portuguesa. No último acto da sua presença oficial no Abu Dhabi, o Presidente da República encontrou-se com representantes de fundos soberanos, e grandes investidores e empresários locais. No encontro também participou a comitiva de empresários que o acompanharam na Visita Oficial e os que estiveram na reunião da Comissão Mista. Os empresários portugueses também participaram no encontro do Presidente com empresários e investidores do Dubai e responsáveis da EXPO 2020, que terá lugar neste Emirado. Apresentando Portugal como um dos países mais seguros, estáveis e pacíficos do mundo, o Chefe de Estado disse que “gostaria de contribuir para a intensificação das trocas comerciais e dos investimentos”, entre Portugal e os Emirados Árabes Unidos. “Como Presidente devo chamar a vossa atenção que Portugal é um dos mais seguros, estáveis, pacíficos e acolhedores países do mundo e apresenta um custo de vida muito competitivo,” frisou Aníbal Cavaco Silva na reunião de trabalho em Dubai.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 53


Aníbal Cavaco Silva nos Emirados Árabes Unidos

Encontro com o Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum

Transmitiu ainda a imagem de

Europa, com o alargamento do

Anwar Mohammed Gargash. A

um país com uma “economia de

Canal do Panamá.

propósito da assinatura da Car-

mercado avançada” assente em

No último dia da sua Visita Ofi-

ta, o Chefe de Estado proferiu

dois pilares principais: o turismo

cial, o Presidente da República

que “só se assina um acordo no

e as exportações, convidando

reuniu-se ainda com o Vice-

domínio da defesa quando existe

empresários e investidores dos

-Presidente, Primeiro-Ministro e

uma confiança mutua”. Também,

Emirados investirem em Portu-

Ministro da Defesa dos Emirados

no âmbito da sua Visita Oficial

gal. O Presidente Cavaco Silva

Árabes Unidos e Emir do Dubai,

aos Emirados, Cavaco Silva,

fez uma alusão ao investimento

Xeque Mohammed bin Rashid Al

foi convidado a visitar, no Du-

de multinacionais no território

Maktoum. No final do encontrou,

bai, a Torre Burj Khalifa, a mais

nacional, como a Nokia, a IBM

que decorreu no Palácio Zabill,

alta em todo o mundo, com 822

e a Cisco e às condições favo-

juntamente com o Emir do Du-

metros; e antes, em Abu Dhabi,

ráveis para o desenvolvimento

bai o Presidente Aníbal Cavaco

a Mesquita Xeque Al Zayed, a

de uma economia verde, es-

Silva testemunhou a assinatu-

maior já construída no mundo.

pecificamente em matéria de

ra de uma Carta de Intenções

A concluir a sua Visita Oficial

energias renováveis. Por outro

no domínio da Defesa entre os

aos Emirados Árabes Unidos,

lado, definiu Portugal como uma

dois países, protagonizada pelo

Cavaco Silva encontrou-se com a

“plataforma estratégica” para as

Ministro da Defesa Nacional, Dr.

diáspora portuguesa e referiu-se

rotas comerciais, e sublinhou a

José Pedro Aguiar-Branco, e o

aos seus representantes como

importância do porto de Sines,

Secretário de Estado dos Negó-

“Embaixadores de Portugal” no

como um dos melhores portos da

cios Estrangeiros dos Emirados,

mundo.

Texto: Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

54 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K


VISITAS DE ESTADO

Cavaco Silva ratifica acordo de livre comércio com Colômbia durante visita de trabalho do Presidente da Colômbia a Portugal. Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia, realizou

mento, na área da saúde, da cultura, da segurança e da

uma visita oficial de trabalho a Portugal. O Presidente da

defesa”.

República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, recebeu o

O Presidente da República, referiu o “apoio inequívoco”

seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, no dia

de Portugal ao processo de paz na Colômbia, aplaudindo

6 de Novembro, no Palácio de Belém, sendo as relações

a forma como o Presidente Colombiano se esforça para

bilaterais entre os dois países e o processo de paz em

“vencer as resistências”. “Portugal apoia de forma ine-

curso na Colômbia os principais pontos do encontro entre

quívoca os esforços do Presidente Santos para alcançar,

os dois Chefes de Estado.

através do diálogo, o fim de uma luta armada que trouxe

Durante a visita de Juan Manuel Santos a Portugal,

sofrimento a tantos colombianos”, disse Cavaco Silva.

Cavaco Silva ratificou o Acordo de Livre Comércio com

De igual modo, o Presidente de República Portuguesa

a Colômbia. “Hoje mesmo ratifiquei o acordo comercial

mostrou-se convencido de que todos os Estados de-

multipartes entre a União Europeia, a Colômbia e Peru,

mocráticos Europeus, sobretudo os da União Europeia

que tinha sido aprovado (…) pelo Parlamento Português.

apoiam as negociações da Colômbia em curso.

Este acordo muito beneficiará as relações económicas e

De acordo com uma nota publicada pela Presidência

comerciais entre os nossos dois países”, afirmou o Chefe

Portuguesa, a visita de Juan Manuel Santos a Portugal

de Estado português. E frisou que se verificou um alar-

insere-se num périplo por diversas capitais europeias que

gamento e uma consolidação das relações entre os dois

o Presidente colombiano iniciou no dia 3 de Novembro,

países nos “mais variados domínios, na área político-

capitais essas de países que a “Colômbia considera ami-

-diplomática, na área económica, comercial e de investi-

gos e parceiros estratégicos”.

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

56 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


VISITAS DE ESTADO

Cavaco Silva e Alberto II do Mónaco na 5ª Convenção de Negócios da BioMarine O Príncipe Alberto II do Mónaco esteve no dia 29

gia nacional dos oceanos” de Portugal, que procura

de Outubro, em Cascais, na abertura da quinta

explorar os seus recursos marinhos de forma mais

edição da Convenção de Negócios da BioMarine

“sustentável”. Neste sentido, definiu Portugal como

onde se encontrou com o Presidente da Republica

um “‘hot spot’ para a diversidade marinha”. “Temos

Portuguesa, Anibal Cavaco Silva, que por ocasião

vastos bio -recursos e cientistas marinhos altamente

desta data ofereceu uma recepção aos participantes

qualificados e estamos abertos a trabalhar em con-

da reunião internacional. No âmbito da Convenção

junto a fim de apoiar e promover o desenvolvimento

que nos dias seguintes reuniu mais de 300 CEO´s

de um solido sector biotecnológico azul”, sustentou.

e executivos de cerca de 30 países foi debatido o

O Presidente Cavaco Silva afirmou ainda que “a

futuro das indústrias dos bio-recursos marinhos. No

Biomarine Business Convention é acerca do nosso

discurso de boas-vindas Cavaco Silva considerou a

futuro, porque é sobre a criação de um mercado

cooperação entre países e entre empresas no sector

global para a biotecnologia marinha”. Por sua vez, o

da biotecnologia marinha como uma prioridade da

Príncipe Alberto II do Mónaco, a quem Cavaco Silva

União Europeia e também de Portugal. “Estamos

se referiu como “um forte líder na agenda interna-

conscientes que a biotecnologia marinha não é algo

cional dos assuntos dos oceanos”, sublinhou que o

que se possa desenvolver por si própria. Os seus

aproveitamento dos recursos biológicos marinhos

produtos são complexos e exigem tecnologia e co-

é “uma forma de responder aos desafios do pre-

nhecimento científico. É por esse motivo que preci-

sente e uma forma de encontrar respostas para os

samos de cooperar entre países e entre empresas”,

diversos problemas que o mundo enfrenta”. Entre

frisou. E acrescentou que a “biotecnologia marinha

as questões mais problemáticas referiu a alimenta-

é uma das cinco prioridades da agenda azul da

ção, que se tornou num dos maiores desafios deste

União Europeia” e uma das prioridades da “estraté-

século e a escassez dos recursos energéticos.

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 57


24-29_imobiliario:Construir 2011

20-10-2014

21:10

Página 25

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LIR

EPO

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GEM

VIDROS ENERGETICAMENTE EFICIENTES SGG CLIMALIT PLUS É de conhecimento geral que um dos aspectos mais importantes que hoje relacionamos com a sustentabilidade de nossos centros urbanos e com a redução de emissões de gases de efeito estufa é a reabilitação do nosso parque de edificação com critérios de eficiência energética.

U (coeficiente de transmissão térmica) entre 2,6 W/m²K e 1,4 W/m²K. Isto significa uma redução superior a 75% em relação ao vidro monolítico, básico, instalado durante muitos anos de maneira generalizada.

Se considerarmos que cerca de 40% do consumo de energia se deve ao sector da construção e que este se supõe que seja aproximadamente a quarta parte das emissões de gases com efeitos de estufa, estamos diante de uma inequívoca e potencial fonte de poupança em ambos os conceitos.

CONTROLO SOLAR: A instalação de vidros com controlo solar como SGG COOL-LITE incorporados em SGG CLIMALIT PLUS permite controlar os ganhos solares produzidos através de grandes superfícies envidraçadas que encontramos na fachada de alguns edifícios. Os envidraçados SGG CLIMALIT PLUS com controlo solar permitem reduzir estes ganhos sem que com ele se tenha de renunciar à paisagem da janela, nem à luz natural e nem recorrer a elementos de sombreamento externos que requerem maior manutenção.

Por outro lado não podem esquecer que os envidraçados são, com apreço, permeáveis à radiação solar e permitem ganhos energéticos que em época estival pode ocasionar um aquecimento indesejado no interior dos edifícios reduzindo o nível de conforto e aumentando o consumo energético da climatização. Com SGG CLIMALIT PLUS poderá realizar um controlo solar adequado que em equilíbrio com o isolamento térmico reforçado (ITR) proporciona o balanço energético anual, permitindo manter as condições de conforto optimizando os consumos energéticos. O impacto que o vidro duplo tem sobre o comportamento energético do edifico é mais elevado no sector terciário onde encontramos fachadas amplamente envidraçadas e edifícios de elevada inercia térmica. É nestes casos onde os envidraçados com controlo solar e elevada selectividade SGG CLIMALIT PLUS permitem minimizar os custos sem renunciar os benefícios da luz natural e de grandes envidraçados. Os envidraçados existentes hoje em dia, SGG CLIMALIT PLUS, que incorporam vidros com capas de ultima geração, melhoraram as capacidades de isolamento e controlo solar permitindo reduzir as perdas através destes, em muitos casos a níveis desconhecidos. ISOLAMENTO TERMICO: Os vidros de capa denominados de Isolamento térmico reforçado, incorporam uma capa quase imperceptível baixo emissiva sobre a face interna de um dos vidros que compõem o vidro duplo, proporcionando níveis de isolamento muito superiores a de um vidro duplo convencional. A incorporação de vidros de capas baixo emissivo em vidro duplo ITR SGG CLIMALIT PLUS, como os vidros SGG PLANITHERM ou SGG PLANISTAR ONE, reduzem as perdas energéticas de climatização pela diferença de temperatura entre o interior e exterior através do vidro em cerca de 50% de um vidro duplo básico, compreendendo valores de

As capas de óxidos e compostos metálicos depositados sobre os vidros no âmbito da nanotecnologia, interferem com as radiações solares modificando as suas propriedades de transmissão e reflexão tanto luminosa como energética, além da emissividade da sua superfície. Assim obtém-se diferentes estéticas e uma ampla gama de produtos com diferentes níveis de prestações das propriedades energéticas. Hoje em dia é possível encontrar SGG CLIMALIT PLUS, que oferece elevadas prestações de isolamento térmico e factor solar sem renunciar a grandes vãos envidraçados. Os envidraçados realizados hoje em dia na reabilitação de qualquer edifício não deveriam ser superiores a valores de transmitância de 1,5-1,4 W/m²K, considerando os produtos a instalar em função do factor solar desejado para alcançar uma protecção adequada na estação do Verão. Uma reabilitação energética deverá considerar o tratamento dos vãos envidraçados como elemento fundamental da envolvente e através do qual se coloca em jogo os balanços energéticos de ganhos e perdas nas diferentes épocas do ano mediante a instalação de envidraçados SGG CLIMALIT PLUS de isolamento térmico reforçado com o necessário controlo solar segundo as zonas e orientação. Visite o nosso site www.climalit.pt!

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DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Johana Ruth Tablada de la Torre,

por Maria de Bragança, fotos Orlando Sousa

Embaixadora de Cuba em Portugal Johana Ruth Tablada de la Torre, casada, mãe de dois filhos, é a atual Embaixadora de Cuba em Portugal. Com um encanto e alegria de assinalar, começou cedo a sua carreira ocupando um cargo de grande responsabilidade em Washigton, dedicado às relações com os Estados Unidos da América. Após passar por Belize, na América do Sul, a mais alta representante do seu país em Portugal defende a cultura e a justiça social como o caminho certo para a liberdade de um povo e sonha com o fim do boicote norte-americano a Cuba. ➤

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 59


Johana Ruth Tablada de la Torre Embaixadora de Cuba em Portugal

Comecemos pelas suas origens.

des e uma população universitária

categorias de americanos possam

Fale-nos um pouco de si e da sua

muito grande. Somos o país do Mun-

visitar Cuba com licença do governo

família.

do que tem a maior percentagem do

dos Estados Unidos. Porém, deseja-

Nasci em Havana, em Cuba, no

PIB dedicada à educação: cerca de

mos ter um relacionamento civiliza-

seio de uma família muito carinhosa.

9,6%. Toda a educação é gratuita.

do, conversando de igual para igual

Penso que fui muito afortunada por

Desde a creche à Universidade.

para restabelecer relações diplomá-

isso. Fomos sempre muito próximos

Como inicia a sua carreira?

ticas. Temos já alguns temas onde

e estivemos sempre muito presen-

Terminei o curso em 1992 e, no

cooperamos, com respeito mútuo e

tes. Tive muito daquilo que acho que

ano seguinte, entrei no Ministério

mediante procedimentos e acordos

é o mais importante na vida: carinho

das Relações Interiores. Em Cuba,

bilaterais, tais como: migratório, con-

e amor. A família é grande: somos 4

temos que fazer um ano de serviço

trabando de pessoas, cooperação

irmãos da parte da mãe e mais 2 da

social quando acabamos o curso.

judicial, luta contra o narcotráfico,

parte do pai. Temos uma grande di-

Somos colocados onde o país pre-

derrames de hidrocarbonetos no

ferença de idades: eles são bastante

cisa. As minhas primeiras funções

Golfo do México etc., mas queremos

novos, da idade dos meus filhos. O

no Ministério foram na pasta da

e poderemos fazer mais em benefí-

que é uma benção. É bom ter sem-

Europa, se bem que toda a minha

cio dos nossos povos.

pre crianças ao nosso lado.

vida foi depois dedicada aos Estados

Existe, da parte de Cuba, alguma

E em relação aos estudos?

Unidos. O meu primeiro posto, que

restrição às visitas de cidadãos

Estudei sempre em Havana. Desde

durou 5 anos foi nos EUA. Foi uma

americanos?

a primária até à pré-universitária.

experiência muito interessante. Na

São os EUA que impedem os seus

Chegando a esse momento não

altura estava no poder a Administra-

cidadãos de irem a Cuba. Por nós

sabia o que queria fazer da minha vida. Só sabia que não queria seguir as ciências duras. Entretanto abrem os concursos para Relações Internacionais. Fiz o curso no Instituto Superior de Relações Internacionais, também em Cuba onde sempre vivi. Foi lá que conheci o meu marido. Concorremos os 2 ao mesmo tempo e fizemos os 5 anos de faculdade juntos, mas só no último ano come-

são muito bem vindos. Há alguns

"

SOMOS O PAÍS DO MUNDO QUE TEM A MAIOR PERCENTAGEM DO PIB DEDICADA À EDUCAÇÃO: CERCA DE 9,6%. TODA A EDUCAÇÃO É GRATUITA. DESDE A CRECHE À UNIVERSIDADE

çamos a namorar.

"

que entram por terceiros países. O fim desta restrição seria muito bom para os dois países. Para Cuba seria bom recebermos mais turistas desse país. De momento temos 3 milhões de turistas por ano: 1 milhão vem do Canadá, cerca de 500 000 da Grã-Bretanha e os restantes de toda a Europa. De Portugal tivemos cerca de 9.400 em 2013 e em 2014 já são mais de 12.000, isto ainda sem voos

Como funciona, em Cuba, o siste-

ção Clinton e havia expectativas de

diretos entre os dois países.

ma de ingresso na Universidade?

que tudo iria melhorar.

Será, talvez, um choque de civili-

Agora mudou. Hoje, para se entrar

Foi um grande desafio certamen-

zações, como agora se costuma

na Universidade, todos têm que

te. De todos os países, os EUA

dizer?

fazer testes de admissão. Na altura

parece ser aquele com quem têm

Tudo tem a ver com uma escala de

em que fiz o curso, bastava ter boas

relações mais difíceis.

valores: o que é mais importante, as

classificações para se ter acesso.

Cuba tem relações diplomáticas com

coisas ou as pessoas? A Revolução

Mas, curiosamente, quando chegou

184 países. A política de isolamento

de Cuba pôs sempre as pessoas

o momento de ingressar disseram-

de Cuba foi um fracasso total. Porém

primeiro. Agora estamos a passar

-me que, por ter boas notas poderia

ainda permanece o bloqueio eco-

por um processo muito interessante

ir diretamente para qualquer curso,

nómico e financeiro dos EUA que

de modernização do nosso país e

menos relações internacionais em

continuam a sua política de isola-

de reinserção, após quase 20 anos,

que teria que fazer provas. Achei o

mento, sendo ainda um sistema de

no mercado internacional. Estamos

desafio interessante e por isso esco-

sanções muito longo e muito duro.

a fazer mudanças estruturais muito

lhi esse curso.

Porém algumas coisas mudaram:

grandes que têm a ver a atualização

É fácil o acesso aos estudos su-

O governo de Obama permitiu que

do modelo económico, procurando o

periores no seu país?

os cubanos residentes nos EUA

redimensionamento e descentraliza-

Cuba é um país com 68 universida-

possam visitar o seu país e que 13

ção do estado e abertura a

60 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 61


Johana Ruth Tablada de la Torre Embaixadora de Cuba em Portugal

formas não estatais de proprieda-

timento estrangeiro, estão a ser

há miséria nem crime organizado.

de, aceitando investimento estran-

feitas leis nesse sentido. Porém

Como foi feita essa mudança?

geiro e aumentando a produtividade.

queremos atrair o investimento

Deixamos de ser um país mono-

Mas mesmo com estas mudanças

estrangeiro e isso será feito atra-

-produtor e mono-exportador. Hoje,

continuamos, e continuaremos a

vés de regimes tributários e fiscais

na estrutura do comércio exterior de

manter os princípios da revolução de 59 e a colocar a tónica nas pessoas: o mais importante é o ser humano. E daí a importância da cultura e da educação. Só a cultura pode salvar um povo; separar a civilização da barbárie. Só um povo culto pode ser livre. Mas a par da cultura tem que haver economia sustentável, certo? Hoje estamos a apostar em cons-

"

TUDO TEM A VER COM UMA ESCALA DE VALORES: O QUE É MAIS IMPORTANTE, AS

são o turismo e os serviços. Nos serviços há que notar os serviços médicos, a exportação bio-tecnológica. Isto é o resultado de um país que aposta na investigação científica.

COISAS OU AS PESSOAS? A REVOLUÇÃO DE CUBA PÔS SEMPRE AS PESSOAS PRIMEIRO

truir um país que seja próspero e

Cuba as principais fontes de receita

"

Exportamos mais de 600 Milhões em produtos médicos. Internamente, temos a maior percentagem de médicos per capita do Mundo: 1 médico por cada 137 pessoas. Este grande número de profissionais da

sustentável, em que os recursos

atrativos e a oferta de um capital

saúde permite podermos oferecer

mais estratégicos devem manter-

humano muito bem preparado: um

esses serviços em outros países. De

-se controlados pelo próprio país,

país culto e com um nível de segu-

momento temos 50 000 médicos em

mesmo com a abertura ao inves-

rança social porque em Cuba não

66 países.

62 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


Em termos de trocas com Portu-

4 os projetos pré-aprovados com

exportações de Cuba. Como incenti-

gal, como está a balança?

Portugal para a zona especial de de-

vo para o investimento estrangeiro a

Existe um comércio de cerca de 90

senvolvimento do Mariel, um deles é

zona tem um sistema de janela única

Milhões, com Portugal, que está

o projeto da fábrica de moldes. Esta

e regime especial tributário muito

a crescer. Quanto à balança de

zona especial de desenvolvimento

atrativo. Existe uma altíssima com-

pagamentos nós ainda importamos

económico de Mariel tem um grande

plementaridade entre Cuba e Portu-

mais de Portugal do que exporta-

porto de águas profundas com um

gal. Os sectores que para nós são

mos: exportamos 34 milhões e de

terminal de contentores que já está

estratégicos e importantes para o

Portugal importamos 57 milhões. Exportamos para Portugal produtos tradicionais: charutos, 1 milhão de unidades por ano; açúcar, quase 20 milhões; carvão vegetal; rum; e madeira - que, curiosamente, também importamos de Portugal. Do vosso país importamos muita coisa. Portugal tem muitos produtos de boa qualidade. Importamos ferramentas, vidro, plástico, moldes, material de laboratório, material de construção e vinhos - que começamos agora a importar mas queremos aumentar

nosso crescimento, são sectores nos

"

HOJE ESTAMOS A APOSTAR EM

quais Portugal tem uma experiência confirmada como por exemplo as

CONSTRUIR UM PAÍS QUE SEJA PRÓSPERO E SUSTENTÁVEL, EM QUE

energias renováveis e Portugal foi

OS RECURSOS MAIS ESTRATÉGICOS DEVEM

estar a depender só das energias

MANTER-SE CONTROLADOS PELO PRÓPRIO PAÍS

"

um dos países que mais cedo desenvolveu esta área. Temos produção de petróleo, mas não queremos fósseis. Também temos grande interesse em ter parcerias nas áreas da agroindústria, farmacêutica, infraestrutura e construção. O que mais lhe atrai em Portugal? Tudo! Parece-me que existem várias

as quantidades. Temos um desejo

operacional e que é administrado

similitudes entre o povo cubano e o

de fortalecer as relações comerciais

pela empresa Singapura PSA que

povo português: o gosto pelo mar,

com Portugal ainda mais e este ano

também administra o Porto de Sines.

as tradições familiares, o orgulho no

criámos a Câmara de Comércio

A nossa zona especial do Mariel

património. A própria luz de Lisboa é

Portugal-Cuba presidida pelo Dr.

também procura fomentar no seu pe-

muito parecida com a de Cuba. Gos-

Américo Ferreira de Castro.

rímetro de mais de 400 quilômetros

to da vossa arquitetura, da vossa

Profissionalmente, como faz o

quadrados outras áreas especiais de

comida, das pessoas, do espírito de

balanço da sua atividade neste

inovação tecnológica e de concen-

trabalho do vosso povo. Em Portu-

último ano?

tração industrial, para incrementar as

gal, sinto-me em casa.

n

Estou muito contente com este meu ano de trabalho aqui. Desde 2009 que não ia um alto-funcionário de Portugal a Cuba. E, este ano, o Secretário de Estado, Campos Ferreira visitou o nosso país com uma comitiva muito importante. Estamos a fazer um processo de reforço dos nossos vínculos em todas as áreas. Por exemplo, inaugurámos uma belíssima estátua de Luís de Camões numa praça de Havana velha. Tivemos também, este ano, uma grande delegação empresarial da AICEP, com mais de 30 empresas portuguesas, encabeçada pelo Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas. Existem alguns projetos de relevo entre Cuba e Portugal? Em termos de investimentos já são A Embaixadora com os seus dois filhos

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 63


MALA DIPLOMÁTICA

Assinalando o 39º Aniversário Angola no caminho do progresso e desenvolvimento

sob o signo “Unidade e Reforço

1

dos Ideias de Liberdade e Justiça Social”, uma meta sempre presente nos horizontes dos responsáveis políticos de Luanda, traduzindo-se num bom momento, já que, segundo o diplomata, “em Angola sopram bons ventos; o país trilha inexoravelmente a senda do desenvolvimento e progresso, tendo a liberdade e a paz como os maiores bens que a nação preserva”, sendo que “as políticas e medidas de política tomadas em tempo de paz, nos planos político-constitucional, económico, financeiro, social e cultural, repercutem-se hoje no clima 2

de estabilidade política, social e macroeconómica que o país vive” “A par da busca permanente do aperfeiçoamento da sua organização e funcionamento para prestar melhor serviço público aos governados e da consolidação das instituições democráticas, o Governo orienta nestes últimos anos, esforços particulares ao ingente desafio do crescimento e desenvolvimento sustentado e duradoiro que se pretende conseguir por meio da construção, reabilitação e modernização de infraestruturas e equipamentos económicos e sociais, da promoção e realização do investimento

1. Embaixadores de Angola 2. Ricardo Costa e o Conselheiro Estevão Alberto com o Embaixador de Angola

público e privado, da formação, qualificação e gestão adequada dos

A grande meta das autoridades de Luanda passa pela infraestrutura-

recursos humanos, bem como da

ção do país e o combate à pobreza, um desígnio que tem vindo a ser

adopção de uma política laboral

alcançado, bem expresso em lisonjeiros relatórios internacionais,

e remuneratória objectiva”, referiu

conforme acentuou o Embaixador José Marcos Barrica

ainda José Marcos Barrica.

Assinalando o 39º aniversário da

governo, diplomatas e figuras de

Melhorar distribuição da riqueza

Independência Nacional de Angola,

relevo da política, da economia e da

Ainda segundo o Embaixador, no

o Embaixador José Marcos Barrica

cultura.

momento em que se comemoram

organizou uma recepção no Hotel

O Embaixador acreditado em

quase quatro décadas de indepen-

Ritz, em Lisboa, onde marcaram

Lisboa acentuou que a indepen-

dência, “estão em plena execução

presença deputados, membros do

dência do seu país se celebra

mais de uma dezena de projectos

64 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


Discurso proferido pelo Embaixador José Marcos Barrica Sob o signo da “Unidade e Reforço dos Ideias de Liberdade e Justiça Social”, a República de Angola celebra hoje os 39 anos de Independência Nacional. A vossa presença e participação nesta cerimónia comemorativa, confere dignidade especial ao acto e testemunha a amizade e solidariedade que Angola tem colhido dos vossos países e da comunidade internacional em geral, ao longo dos anos de implantação da nossa República. O Povo Angolano reconhece e agradece tão prestável colaboração que contribui para contornar os factores asfixiantes do desenvolvimento e para a afirmação de Angola no concerto das Nações. Em Angola sopram bons ventos; o País trilha inexoravelmente na senda do desenvolvimento e progresso, tendo a Liberdade e a Paz como os maiores bens que a

cular diferentes infra-estruturas e sistemas de transporte

Nação preserva.

em todo território, a instalação de um ambicioso sistema

Livres, soberanos e reconciliados, os angolanos cons-

de telecomunicações que inclui a generalização da fibra

troem dia após dia o seu percurso glorioso, honrando a

óptica ao sistema de cabos submarinos internacionais

memória dos Filhos tombados pela Independência da

até às telecomunicações por satélite com o programa

Pátria.

ANGOSAT (satélite angolano) em fase avançada de

As políticas e medidas de política tomadas em tempo

construção, a edificação e ampliação de mais barragens

de Paz, nos planos político-constitucional, económico,

e centrais eléctricas para aumentar a potência insta-

financeiro, social e cultural, repercutem-se hoje no clima

lada dos dois mil e 162 megawatts actuais para cerca

de estabilidade política, social e macroeconómica que o

de 5.000 megawatts até 2017. Amplia-se o número de

País vive.

salas de aula e centros de formação técnico-profissional

A par da busca permanente do aperfeiçoamento da

para dar resposta a uma necessidade cada vez mais

sua organização e funcionamento para prestar melhor

crescente neste domínio.

serviço público aos governados e da consolidação das

No mesmo período, estão igualmente orientados esfor-

instituições democráticas, o Governo orienta nestes úl-

ços ao apoio do desenvolvimento das zonas rurais, na

timos anos, esforços particulares ao ingente desafio do

perspectiva do combate firme e continuado à pobreza

crescimento e desenvolvimento sustentado e duradoiro

e às assimetrias entre o campo e os focos citadinos,

que se pretende conseguir por meio da construção,

melhorando assim as condições de vida das famílias

reabilitação e modernização de infra-estruturas e equi-

e comunidades. São disso prova, a implementação de

pamentos económicas e sociais, da promoção e reali-

importantes programas que privilegiam as populações

zação do investimento público e privado, da formação,

mais vulneráveis daquelas zonas tendo em vista au-

qualificação e gestão adequada dos recursos humanos,

mentar a renda das famílias e garantir o crescimento

bem como da adopção de uma política laboral e remu-

equilibrado do País.

neratória objectiva.

Com efeito, de acordo com estudos independentes,

No momento em que comemoramos este aniversário,

cerca de metade da população de Angola saiu do limiar

estão em plena execução mais de uma dezena de

da pobreza absoluta. Várias instituições internacionais

projectos estruturantes concebidos para sustentar as

enfatizam os progressos alcançados, revelando que a

condições de uma economia mais competitiva e que

percentagem de angolanos resgatados daquele limiar

possa, a partir do segundo semestre de 2016, produzir

passou de 92 por cento em 2000 para 54 por cento em

mais e melhor diversos bens e serviços e proporcio-

2014. No mesmo sentido, o Fundo das Nações Unidas

nar melhor distribuição da riqueza nacional. Só a título

para a Agricultura e Alimentação (FAO) destacou o

exemplificativo, resultará desses grandes projectos, a

facto de Angola ter reduzido a taxa de desnutrição, que

construção de mais portos e aeroportos, a construção

passou de 78 por cento em 1990 para 18 por cento este

de cerca de dois mil 411 quilómetros de rodovias entre

ano.

rede fundamental, secundária e terciária, a construção

Este ritmo de redução da pobreza, invulgar no continen-

da Rede de Plataforma Logística Nacional que vai arti-

te africano, anima as autoridades e as instituições

´ Africa +

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 65


Assinalando o 39º Aniversário Angola no caminho do progresso e desenvolvimento

nacionais a prosseguirem no sentido de alcançar

indiferente nenhum Governo dos países do mundo.

a total erradicação deste flagelo, com a promoção e

Por outro lado, Angola regista com grande apreensão a

incentivo do emprego em actividades preferencialmente

multiplicação, no corrente ano, de focos de tensão e de

produtivas exercidas por conta própria ou de outrem, no

ruptura em várias zonas do mundo, tendo surgido novos

sector privado ou público.

conflitos armados com forte impacto na Região onde ela

Os resultados das políticas sociais implementadas

se insere. O alastrar destes conflitos está a dar origem a

pelo Governo de Angola estão também expressos no

confrontos militares, com processos de diálogo e nego-

Relatório de 2014 sobre o Desenvolvimento Humano

ciação complicados.

elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o

A República de Angola que detém a presidência da

Desenvolvimento (PNUD), no qual enfatiza que depois

Comissão Internacional da Região dos Grandes Lagos

de 2002, Angola no conjunto de 187 países analisados,

se tem empenhado na procura de soluções, tanto no

é a terceira taxa mais elevada de crescimento anual do

quadro bilateral como multilateral, como ainda no âmbi-

Índice de Desenvolvimento Humano com 2 por cento,

to do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do

apenas sendo ultrapassado pelo Ruanda e a Etiópia.

Conselho de Paz e Segurança da União Africana e tem

Apesar de termos ainda um longo e árduo caminho pela

reafirmado a sua disponibilidade em participar nesses

frente, o País dispõe de condições para ascender den-

processos, apoiando e promovendo o diálogo e a paz,

tro de duas décadas ao grupo de países com Desenvol-

em particular na África Central e na Região dos Gran-

vimento Humano Elevado.

des Lagos. Inscreve-se no esforço de manutenção da

Os alicerces estão a ser erguidos nesse sentido, já que

paz a disponibilidade manifestada pelo Governo angola-

nos últimos 12 anos observam-se assinaláveis progres-

no para integrar as Forças da Paz das Nações Unidas,

sos tanto nas taxas de mortalidade infantil e de espe-

previstas no quadro da MINUSCA (Missão das Nações

rança de vida, como nos níveis educacional e sanitário

Unidas para a República Centro-Africana), satisfazendo

das populações.

assim a solicitação feita pela Presidente da República

As políticas com forte pendor de justiça social vão pros-

desse país.

seguir, agora com maior sustentação graças aos resul-

Esta postura de promoção da paz e da segurança tem

tados do Recenseamento Geral da População e Habi-

conduzido a um reconhecimento a nível internacional

tação realizado no passado mês de Maio – o primeiro

do papel de Angola como um parceiro estratégico para

depois da Independência Nacional. Tais resultados, há

a construção e preservação da paz e a estabilidade em

muito esperados, vão constituir uma base segura para

África.

formular a Política Nacional da População e a Política

Foi por essa forte razão que os países de todo Mundo

Nacional de Ordenamento e Desenvolvimento do Terri-

apoiaram sem reservas e votaram no passado mês

tório.

de Outubro, quase por unanimidade, a candidatura de

Não sendo apenas medidas de política interna, Angola

Angola para Membro Não Permanente do Conselho

muito cedo atendeu aos apelos da comunidade interna-

de Segurança da ONU para o biénio 2015-2016. Esta

cional, interpretando correctamente a imprescindibilida-

eleição que honra o empenho da diplomacia angolana

de da comparticipação de todos os países no combate

e a visão estratégica do Presidente da República o Eng.

à fome e irradicação da pobreza no mundo, particular-

José Eduardo dos Santos, deve também orgulhar todos

mente em África.

os países da CPLP em particular, pois ao assumirem

Angola orgulha-se do facto de, muito recentemente, ter

como sua foram arautos dessa candidatura, influencia-

sido reconhecida pela FAO, como um dos primeiros paí-

do positivamente os respectivos parceiros de coopera-

ses do continente africano a contribuir voluntariamente

ção bilateral e ou multilateral.

com um valor monetário equivalente a dez milhões de

Ao agradecer o apoio percebido dos vossos países,

dólares americanos para o Fundo Fiduciário Africano de

Angola reafirma os objectivos e os compromissos

Solidariedade, destinado a apoiar os países africanos

declarados no Manifesto desta Candidatura e assume

no combate à fome e à pobreza.

cumpri-los com o habitual zelo e responsabilidade, não

Num contexto mundial e regional de crescente instabili-

defraudando as expectativas e a confiança que lhe

dade, quer ao nível político-militar e de segurança, quer

foram depositadas pela Comunidade das Nações.

ao nível económico e de saúde pública, a República

Termino, felicitando a República portuguesa pela

de Angola mostra-se muito preocupada com o apa-

recente eleição deste país a Membro do Conselho dos

recimento e rápida propagação do vírus da Ébola que

Direitos Humanos da ONU cargo que, tal como noutras

tem causado milhares de mortos no nosso continente.

missões, Portugal saberá certamente cumprir com brio

A nível interno foram tomadas medidas adequadas de

e maturidade.

prevenção e controlo desta pandemia cujo combate

Viva Angola! Viva a Amizade e Solidariedade entre os

exigindo esforços conjugados de todos, não pode deixar

Povos!

66 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

n


Redução da pobreza

3

Os esforços das autoridades de Luanda começam a dar os seus frutos, como sublinhou o Embaixador: “de acordo com estudos independentes, cerca de metade da população de Angola saiu do limiar da pobreza absoluta. Várias instituições internacionais enfatizam os progressos alcançados, revelando que a percentagem de angolanos resgatados daquele limiar passou de 92 por cento em 2000 para 54 por cento em 2014. No mesmo sentido, o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) destacou o fac-

4

to de Angola ter reduzido a taxa de desnutrição, que passou de 78 por cento em 1990 para 18 por cento este ano”. Números que permitem olhar o futuro do país com esperança. “Este ritmo de redução da pobreza, invulgar no continente africano, anima as autoridades e as instituições nacionais a pros-

3. General Mendonça da Luz, Maria Madalena Coelho e

seguirem no sentido de alcançar

Tenente-General Luís Teixeira

a total erradicação deste flagelo,

4. Ministra da Justiça, Paula Teixeira com o Embaixador José Marcos Barrica

com a promoção e incentivo do emprego em actividades preferencialmente produtivas exercidas por conta própria ou de outrem,

estruturantes concebidos para

avançada de construção, a edifica-

no sector privado ou público”,

sustentar as condições de uma

ção e ampliação de mais barragens

disse ainda Marcos Barrica,

economia mais competitiva e que

e centrais eléctricas para aumentar

lembrando que “os resultados das

possa, a partir do segundo semes-

a potência instalada dos dois mil e

políticas sociais implementadas

tre de 2016, por produzir mais e

162 megawatts actuais para cerca de

pelo Governo de Angola estão

melhor diversos bens e serviços e

5.000 megawatts até 2017”, confor-

também expressos no Relatório

proporcionar melhor distribuição da

me sublinhou Marcos Barrica.

de 2014 sobre o Desenvolvimento

riqueza nacional”.

Mas a infraestruturação do país

Humano, elaborado pelo Progra-

Projectos que têm no horizonte a

traduz-se, ainda, no aumento das

ma das Nações Unidas para o

construção de mais portos, aeropor-

salas de aula e dos centros de for-

Desenvolvimento (PNUD), no qual

tos e 2411 quilómetros de rodovias,

mação profissional, bem assim no

se enfatiza que depois de 2002,

mas também “de um ambicioso sis-

“apoio ao desenvolvimento das zo-

Angola no conjunto de 187 países

tema de telecomunicações que inclui

nas rurais, na perspectiva do com-

analisados, é a terceira taxa mais

a generalização da fibra óptica ao

bate firme e continuado à pobreza e

elevada de crescimento anual do

sistema de cabos submarinos inter-

às assimetrias entre o campo e os

Índice de Desenvolvimento Hu-

nacionais até às telecomunicações

focos citadinos, melhorando assim

mano com 2 por cento, apenas

por satélite com o programa AN-

as condições de vida das famílias e

sendo ultrapassado pelo Ruanda

GOSAT (satélite angolano) em fase

comunidades”.

e a Etiópia”.

´ Africa +

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 67


OPINIÃO

As consequências da queda do BES nas relações económicase políticas Luso-Angolanas BES/BESA - Um caso de proveito e exemplo por António Palhinha Machado (*) Tudo começou, verdadeiramente, em 1997-98, quando o Euro despontava no horizonte e o mercado interbancário centro-europeu abriu de par em par as suas portas aos maiores Bancos portugueses. E estes, sôfregos, aproveitaram, vendo aí uma fonte inesgotável de financiamento barato e nada exigente. Endividaram-se despreocupadamente no exterior para competirem cá dentro por quota de mercado, dando origem a uma “bolha de dívida”

1. Ex-Colonizador e Ex-Colonizado são dois

de curto prazo; (v) sem Capitais Próprios

países separados por uma memória co-

à altura de todos estes desequilíbrios; e

mum: o que um celebra é o que o outro faz

(vi) vigiados por um Supervisor (o BdP)

por esquecer. E se o bom-senso e a diplo-

demasiado complacente. Se, de imediato,

macia não prevalecerem, novos episódios

não reforçassem substancialmente os seus

só vão avolumar o já muito que os separa.

Capitais Próprios, Portugal não escaparia a

O caso BES/BESA é, sob este ponto de

uma crise bancária severa.

vista, um episódio exemplar.

4. Em tal conjuntura, o BES fez valer a sua

2. Como numa tragédia grega, também

imagem de Banco de Retalho com acesso

nele o destino começou a ser traçado muito

fácil aos mercados de capitais internacio-

tempo antes - e os deuses foram cegan-

nais para rejeitar a entrada de dinheiros

do quem queriam desgraçar. Como numa

públicos no seu capital. Uma análise mais

tragédia grega, dois grupos de actores

atenta e uma informação financeira mais

estiveram em cena: de um lado, o BES e o

esclarecedora não deixariam de revelar,

BdP, com a Banca portuguesa ao fundo; do

porém, quanto ele dependia, já então, de

outro, o BESA e o BNA, rodeados da Banca

algumas grandes empresas portuguesas,

angolana. Atrás de uma cortina, a fazerem

do próprio GES e do BESA para construir

de coro, o BCE e a EBA, quais instrumen-

os seus resultados - e, até, para o seu

tos dos deuses, iam empurrando cada actor

financiamento corrente (como acontecera,

para a sorte que lhe estava destinada.

aliás, logo no final de 2008). O Programa

3. Tudo começou, verdadeiramente, em

de Ajustamento, sob os auspícios da troi-

1997-98, quando o Euro despontava no

ka, apenas acentuou num crescendo estas

horizonte e o mercado interbancário centro-

dependências. E depender do GES (onde,

-europeu abriu de par em par as suas

sabe-se hoje, a proporção de iniciativas

portas aos maiores Bancos portugueses.

bem sucedidas era notoriamente baixa),

E estes, sôfregos, aproveitaram, vendo aí

não deveria deixar ninguém descansado.

uma fonte inesgotável de financiamento

5. A aposta do BES (e do GES) em Angola

barato e nada exigente. Endividaram-se

tinha mais a ver com a vox populi do que

despreocupadamente no exterior para com-

com a realidade no terreno: Angola seria

petirem cá dentro por quota de mercado,

a terra do ganho fácil, rápido e generoso.

dando origem a uma “bolha de dívida” que

Não era (nem é). Acontecia, porém, que

fazia inchar o Sector dos Bens não Tran-

o GES era, apenas, um grupo de base

saccionáveis (construção, distribuição, etc.)

familiar - e o BES, ele próprio, tinha uma

e desequilibrava cada vez mais as contas

gestão superior tipicamente familiar. Nes-

externas. A crise financeira internacional

tas circunstâncias, dificil lhes era resistir

veio encontrá-los: (i) excessivamente en-

ao apelo de familiares e amigos que que-

dividados junto de uma dúzia, se tanto, de

riam colher, também eles, alguns desses

Bancos estrangeiros; (ii) muito expostos ao

sonhados ganhos angolanos - com dinhei-

risco de crédito; (iii) com estruturas exa-

ro emprestado (ora pelo BES, ora pelo

geradas; (iv) perigosamente dependentes

BESA), como é bem de ver. E assim se ia

da contínua renovação dos seus passivos

empilhando o crédito malparado nos

68 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


Balanços destes dois Bancos.

o supervisionava). Surpreende que, nem o

6. Não seria fácil ao BESA dizer não aos

accionista maioritário (o BES), nem o Su-

projectos que lhe chegavam por intermé-

pervisor (o BNA), tenham imposto, a tempo

dio do GES e/ou do BES. Em Angola, fora

e horas, mudanças profundas no estilo de

da Dívida Pública e dos Títulos do Banco

governação do BESA. Porque o problema

Central (que têm por finalidade enxugar o

era, antes de tudo o mais, de governação:

excesso de liquidez no sistema bancário

(i) falhas graves na gestão da liquidez,

angolano), as oportunidades de lucrativas

na avaliação do risco e, até, no registo

operações bancárias escasseavam - e

de simples operações; (ii) peso excessivo

grande parte das que iam surgindo apre-

dos projectos imobiliários residenciais na

sentava riscos manifestamente excessivos.

Carteira de Crédito (em que o risco recaía

A excepção estaria: (i) ou numas, poucas,

praticamente por inteiro no Banco finan-

grandes empresas locais (que tinham, elas

ciador); e, apurou-se mais recentemente,

próprias, outros Bancos na sua órbita); (ii)

(iii) processos de decisão insusceptíveis de

ou numas, poucas, empresas estrangeiras (que se apoiavam nos Bancos das respectivas Casas-mães);

"

(iii) ou no sector imobiliário residencial (que prometia

serem reconstituídos para

mais-valias substanciais); (iv) ou em ocasionais operações de, digamos, Private Banking. E foi por aqui que o BESA enveredou: (i) apoiar as actividades em Angola de empresas portuguesas (e as iniciativas de portugueses) clientes do BES; (ii) financiar projectos imobiliários (para onde, afinal, muitas

COMO NUMA TRAGÉDIA GREGA, DOIS GRUPOS DE ACTORES ESTIVERAM

EM CENA: DE UM LADO, O BES E O BDP, COM A BANCA PORTUGUESA AO FUNDO; DO OUTRO, O BESA E O BNA, RODEADOS DA BANCA ANGOLANA. ATRÁS DE UMA CORTINA, A FAZEREM DE CORO, O BCE E A EBA, QUAIS INSTRU-

não deveria ser motivo de

MENTOS DOS DEUSES, IAM EMPURRANDO CADA ACTOR PARA A SORTE QUE LHE ESTAVA

surpresa para ninguém (foi

DESTINADA

dessas empresas e dessas iniciativas se dirigiam); e (iii) gerir umas fortunas. 7. Se a fragilidade do BES

para o BdP, mas enfim…), não era segredo para

"

atribuição de responsabilidades. Saber porque colapsou o BESA é, por tudo isto, fácil. Agora, difícil é descobrir a razão que terá levado o BES a arriscar 50%, ou talvez mais, dos seus Capitais Próprios só em empréstimos à sua Filial em Angola? Mesmo depois do fiasco que foi a pseudo-venda da ESCOM (uma das “pérolas” do GES). 8. Foi o reconhecimento de que os empréstimos ao BESA estariam praticamente perdidos que tornou o BES insolvente por insuficiência de Capitais Próprios. E é aqui que entram a EBA e o BCE. A EBA, porque tinha acabado de gizar um Plano de Acção (a BRRD) que,

ninguém que as coisas, pelo BESA, não

supostamente, resolveria os problemas

iam nada bem: Não tinha ele falhado, em

causados por um Banco em crise grave

2012, o reembolso de fundos que tomara

sem recorrer ao bolso dos contribuintes - e

de empréstimo no mercado interbancário

queria experimentá-lo. O BCE porque, re-

angolano? Não eram motivo de conversa

cém investido como Supervisor dos Bancos

as dificuldades com que se deparava quem

europeus, não queria perder a oportunidade

quisesse mobilizar os seus depósitos em

de afirmar urbi et orbi a sua autoridade. E

moeda estrangeira? Certamente que tudo

a BRRD lá foi aplicada à letra, cindindo o

isto seria do conhecimento do BES (que

BES em “Banco Bom” e “Banco Mau” - com

assegurava a direcção superior do BESA e

total desrespeito pelo regime legal que

tinha gente sua no terreno) e do BNA (que

vigora em Portugal para

´ Africa +

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 69


As consequências da queda do BES

a cisão de sociedades comerciais. Mas

sem Capitais Próprios suficientes para

foi já da responsabilidade exclusiva do BdP

inspirar confiança, o BESA será um

a decisão de colocar: (i) no “Banco Mau”,

mais entre os vinte e tal Bancos que

as acções do BESA; e (ii) no “Banco Bom”,

tentam manter-se à tona no exíguo

os empréstimos que o BESA devia.

mercado financeiro de Angola. O mais

9. Aos olhos dos restantes accionistas do

provável é que vá sendo lentamente

BESA (e das próprias autoridades ango-

esvaziado das suas actividades rentá-

lanas), a solução que se desenhava em

veis, transformando-se num Banco

Lisboa só poderia significar que o BES/

zombie, espécie de armazém

credor queria o seu dinheiro de volta - mas

esquecido para uma enorme

que não se poderia contar com o BES/

pilha de créditos incobrá-

accionista maioritário para superar a crise.

veis. O que daí se aprovei-

Quando tudo (e, aqui, “tudo” abrange a

tará para o “Banco Bom”

vertente técnica e a vertente política) re-

não deve ser grande

comendava que o BES e o BESA fossem

coisa.

recuperados em bloco, o BdP, pensando

11. Ao cair do pano,

estar a cumprir as instruções da EBA e a

ouvir-se-á o coro (leia-se:

agradar ao BCE, destruiu todas as pontes

EBA e BCE) psalmodiando

- e, com elas, as vias que poderiam recon-

enquanto se afasta: “Louvo-

duzir o BES intacto ao equilíbrio financeiro.

res à BRRD que funciona na

A decisão do BdP até teria razão de ser se

perfeição! Se as coisas aqui

o objectivo fosse promover a liquidação do

não correram bem, se o con-

BESA na esperança de que a graduação

tribuinte português vai acabar

dos créditos hoje na posse do “Banco Bom”

por ter de desembolsar bom

garantisse um bom quinhão de activos na

dinheiro, é porque o BdP

massa falida. Mas não. O que se viu foi

meteu os pés pelas mãos no

uma das partes (o “Banco Bom”) a nego-

dossier BESA - o qual nem

ciar sem plano nem rumo, só interessada

sequer é um Banco da UE”.

em chegar ao fim depressa - e a outra (o

12. E agora? Agora, nada - ou

BNA) sabendo muito bem o que queria:

quase. O Ex-Colonizado con-

obter um substancial perdão de dívida que

seguiu, sem esforço, tudo o

diminuisse o esforço financeiro para reca-

que queria - foi dele o proveito.

pitalizar o BESA. E foi isto precisamente o

O Ex-Colonizador, esse, não

que aconteceu - o que permite uma curiosa

desperdiçou a oportunidade de

leitura: não, o contribuinte português nada

fazer mais uma triste figura em

vai pagar pela resolução do BES insolven-

África - um exemplo, sim, mas

te; vai pagar, sim, a parte maior da recupe-

a não imitar. Como nos sur-

ração do BESA.

preendermos por Portugal ser

10. Vedado que lhe está o acesso à vasta

um passado distante e nada

rede de Bancos Correspondentes no exte-

motivador para as novas

rior que o BES até há pouco lhe oferecia,

gerações de Angola?

n

Abreviaturas utilizadas: BCE - Banco Central Europeu; BdP - Banco de Portugal; BES - Banco Espírito Santo (Portugal); BESA Banco Espírito Santo de Angola; BNA - Banco Nacional de Angola; BRRD - Directiva sobre a Recuperação e Resolução de Bancos; EBA - Autoridade Bancária Europeia.

(*) António Palhina Machado tem tido um percurso profissional diversificado, que vai das Finanças Públicas (planeamento e controlo na vertente “macro” do Orçamento do Estado) à Indústria (modelos de optimização de complexos industriais; planeamento e controlo de projectos industriais de grande dimensão), passando pelo Turismo (planeamento de hotéis). Na Banca, dedicou-se ao Corporate Banking (que lançou em Portugal), ao Trade Banking (criando Instituições Financeiras especializadas no financiamento de commodities, incluindo cereais, gemas e metais preciosos, crude e produtos petroquímicos), à gestão integrada da liquidez e à medição e mitigação dos riscos financeiros. Nos últimos 15 anos tem-se dedicado, quase exclusivamente, à concepção, organização, montagem e arranque de mercados financeiros (e de Instituições Financeiras que neles operem) - designadamente, em África - que satisfaçam dois requisitos: eficiência e resistência ao risco.

70 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015



LÍDERES

"

FILIPE NYUSI, O CANDIDATO PRESI-

DENCIAL DA FRELIMO, CONSEGUIU ALCANÇAR 57,03 POR CENTO (%) DOS VOTOS, DERROTANDO O HISTÓRI-

CO LÍDER DA RENAMO, AFONSO DHLAKAMA, QUE OBTEVE 37%, UMA PERCENTAGEM BEM ACIMA DOS MODESTOS 16% OBTIDOS EM 2009 CONTRA O ANTIGO PRESIDENTE, ARMANDO GUEBUZA

"

Filipe Nyusi De ilustre desconhecido a Presidente de Moçambique

Tido como “benjamim” do Presidente cessante, Armando Guebuza, Nyusi só a partir de 2008 se dedica à política activa, ao integrar o governo com a pasta da Defesa. Engenheiro e gestor de formação, o Presidente eleito esteve à frente de empresas e foi professor universitário. E, com apenas 14 anos, corria o ano de 1973, integrou a guerrilha da FRELIMO na luta contra a ocupação portuguesa e pela independência do país

O resultado das eleições moçam-

da Renamo, Afonso Dhlakama,

mo assinalou uma surpreendente

bicanas de Outubro não constituiu

que obteve 37%, uma percenta-

subida, quer por razão do resulta-

surpresa para ninguém. Mais uma

gem bem acima dos modestos

do do seu candidato presidencial,

vez a FRELINO - o partido históri-

16% obtidos em 2009 contra o

quer pelo número de deputados

co da luta contra o colonialismo e a

antigo presidente, Armando Gue-

eleitos, um capital importante para

independência do país - sagrou-se

buza.

as negociações com o governo frelimista, que acusa de monopolizar

vencedora, tanto nas presidenciais como nas legislativas, benefician-

Oposição em alta

todo o poder e as riquezas do país.

do de folgada maioria absoluta que

A primeira reacção de Dhlakama –

Com 89 lugares no Parlamento, a

lhe permite governar como bem

uma posição já esperada, à ima-

Renamo reforça a sua posição ne-

entender.

gem do que tem ocorrido em todos

gocial e aumenta a sua importân-

Filipe Nyusi, o candidato presi-

os pleitos eleitorais – foi no sentido

cia relativa na vida política moçam-

dencial da FRELINO, conseguiu

de considerar os resultados frau-

bicana. Já a FRELINO, fragilizada

alcançar 57,03 por cento (%) dos

dulentos e garantir a impugnação

pela contestação externa e interna

votos, derrotando o histórico líder

das eleições. No entanto, a Rena-

ao presidente cessante, perdeu

72 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


47 assentos, ficando agora com

Na própria Comissão Nacional de

to de patriotismo e de moçambica-

144 deputados.

Eleições as vozes foram discor-

nidade que demonstraram desde

Assinalável (e previsível) é a cres-

dantes, quase a dividindo ao meio.

o recenseamento eleitoral. Que

cente influência do novel Movimen-

Sete dos 17 membros da CNE

continue esse espírito, porque vai

to Democrático de Moçambique

votaram contra a deliberação do

permitir desenvolver o nosso país”,

(MDM), que passou de oito para

resultado das eleições e apresen-

afirmou Nyusi.

dezassete deputados e registou

taram declarações de voto venci-

6,3% por cento dos votos no seu

do.

O “benjamim” de Guebuza

candidato presidencial (e líder),

Indiferente às polémicas sobre

O surgimento de Filipe Nyusi na

David Simango. O MDM é um par-

eventuais fraudes, Filipe Nyusi

cena política moçambicana cons-

tido do centro-direita, mas que tem

agradeceu a confiança manifes-

tituiu uma surpresa absoluta, já

conseguido mobilizar sectores des-

tada pelos eleitores. Segundo

que o seu nome era pouco conhe-

contentes à esquerda, e está liga-

o escolhido por Guebuza à sua

cido mesmo dentro da FRELINO.

do à Internacional dos Democratas

sucessão, “a paz e a estabilidade

No entanto, o que tem de ser tem

do Centro (IDC), a que pertence o

são condições principais para o

muita força e no preciso momen-

Partido Popular Europeu.

desenvolvimento de Moçambique,

to em que Armando Guebuza o

o grande objectivo do ciclo que

escolheu para o suceder na presi-

Acusações de fraude não provadas As acusações de irregularidades fizeram-se sentir um pouco por todo o país e o atraso no apuramento dos resultados eleitorais suscitou a apreensão de observadores da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos da América (EUA), considerando que a ausência de qualquer explicação pela Comissão Nacional de Eleições “deteriora o que tinha sido um início ordeiro da jornada eleitoral” e manifestando preocupação por “algumas irregularidades” ocorridas durante a votação. No entanto, as queixas levadas pelos partidos da oposição aos diversos tribunais do país foram na sua maioria indeferidas sob a alegação de “insuficiência de provas”. A impugnação das eleições, anunciada logo que se conheceram os resultados pelo mandatário da Renamo, André Majibire, vale o que vale. Tendo em conta o histórico

dência, após ter esgotado o limite de mandatos, o seu destino estava

"

INDIFERENTE ÀS POLÉMICAS SOBRE

traçado: em 1 de Março de 2014, o Comité Central da FRELINO esco-

EVENTUAIS FRAUDES, FILIPE NYUSI AGRADECEU A CONFIANÇA MANIFESTADA PELOS ELEITORES. SEGUNDO O ESCOLHIDO POR GUEBUZA À SUA SUCESSÃO, “A PAZ E A ESTABILIDADE SÃO CONDIÇÕES PRINCI-

lheu Nyusi como candidato presidencial do partido nas eleições de outubro. Antes, porém, o “benjamim” de Guebuza teve de se bater em eleições internas com candidatos bem mais conhecidos que ele, vencendo a primeira volta com os expressivos 46 por cento, muito à frente de Luísa Diogo, a segunda classificada e proeminente figura da oposição interna ao presidente

PAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE, O GRANDE

cessante. Na segunda volta Nyusi

OBJECTIVO DO CICLO QUE QUEREMOS LIDE-

Nascido em Namau, no distrito de

RAR É ATINGIR O BEM-ESTAR DO POVO MOÇAMBICANO”

do, Filipe Nyusi juntou-se com a

"

de anteriores eleições, não valerá

venceu sem dificuldades afirmando 68% por cento contra os modestos 31% da histórica adversária. Moeda, província de Cabo Delgaidade de 14 anos à guerrilha da FRELINO, corria o ano de 1973. Com a independência aplicou-se aos estudos, concluindo uma licen-

de nada. No entanto, a suspeição

queremos liderar é atingir o bem-

ciatura em Engenharia Mecânica

está instalada arrastando mesmo

-estar do povo moçambicano”. O

na University of Technology, na

desta vez observadores internacio-

presidente eleito não esqueceu os

ex-Chedoslováquia, a aque se jun-

nais que, não pondo em causa a

seus adversários, estendendo o

tou uma pós-graduação na Victoria

vitória da FRELINO, levantam sus-

“ramo de oliveira”: “Permitam-me

University, em Manchester, Ingla-

peitas sobre alguns procedimentos

do fundo do meu coração saudar

terra, tendo recebido ainda formação

das autoridades eleitorais.

os outros concorrentes pelo espíri-

em Gestão na Índia, África do Sul,

´ Africa +

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 73


Filipe Nyusi

"

O SURGIMENTO DE FILIPE NYUSI NA CENA POLÍTICA MOÇAMBICANA CONSTITUIU UMA SURPRESA ABSOLUTA, JÁ QUE O SEU NOME ERA POUCO CONHECIDO MESMO DENTRO DA FRELIMO. NO ENTANTO, O QUE TEM DE SER TEM MUITA FORÇA E NO PRECISO MOMENTO EM QUE ARMANDO GUEBUZA O ESCOLHEU PARA O SUCEDER NA PRESIDÊNCIA, APÓS TER ESGOTADO O LIMITE DE MANDATOS

Suazilândia e EUA.

"

integrando ainda a Iniciativa para

truiu 14 mil habitações. Nomeada

Acabados os estudos, Nyusi foi

a Liderança Africana e o Comité

pelo próprio governo de Guebu-

trabalhar para a Companhia de

Nacional dos Combatentes da Luta

za, a comissão de inquérito aos

Portos e Caminhos de Ferro de

de Libertação Nacional.

acontecimentos concluiu ter havido

Moçambique, onde exerceu as

Em 2008, o agora presidente eleito

negligência e a cabeça de Dai

funções de director-executivo

assume a pasta da Defesa, suce-

rolou, abrindo caminho à ascensão

e administrador, antes de vir a

dendo a Tobias Joaquim Dai, mui-

de Filipe Nyusi que, quatro anos

integrar o gabinete de Armando

to chamuscado pelo escândalo da

depois (2012), é eleito para o Co-

Guebuza.

explosão do arsenal de munições

mité Central no 10º Congresso da

Pelo meio, foi presidente do presti-

de Malhazine, em Maputo (ocorri-

FRELINO. Daí até à Presidência

giado Clube Ferroviário de Nampu-

da um ano antes), que provocou

da República decorreram apenas

la, professor na universidade local,

mais de 100 vítimas mortais e des-

dois anos.

74 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

A.P.


141121_CC Magazine - anuncio revista DIPLOMATICA_AF.pdf

1

11/21/14

4:48 PM


MALA DIPLOMÁTICA

No Dia Nacional do Brasil Embaixador sublinha relações de excelência com Portugal

1

2

3

4

5 Foram largas as centenas de convidados que passaram pela passadeira vermelha marcando presença por ocasião da comemoração da data nacional brasileira. Num ambiente marcado pelo bom gosto, e após terem ecoado os hinos nacionais dos dois países, o Embaixador Mário Vilalva dirigiu aos presentes o seu discurso alusivo ao Dia Nacional do Brasil, tendo destacado que a data simboliza o processo de construção

1. Embaixadores do Brasil 2. Maria da Luz de Bragança ladeada pelos Embai-

do país, a emancipação do seu

xadores do Brasil 3. Embaixador do Paraguaia e seu filho com o Embaixador

povo, a formação da identidade

do Brasil 4. Embaixadores do Brasil e Maria Barroso 5. Embaixadores do

nacional e a construção da

Brasil com Miguel Horta e Costa

76 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


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10 ➤

democracia em terras de Vera Cruz.

Mas a intervenção centrou-se nas realizações mais recentes deste país emergente no universo das grandes potências mundiais, nomeadamente, a realização da Copa do Mundo de Futebol, realizada este ano. A cantora portuguesa Wanda Stuart, os beirões “Tuna Sabores da Música” e os brasileiros “Democratas do Samba” foram responsáveis pela animação musical, mas os convi6. Vanda Stuart 7. Carmo Silvestre, Maria de Bragança com a Embaixadora

dados puderam também apreciar a

do Paquistão 8. O Embaixador a cantar num momento descontraido. Viver

curta-metragem sobre o brasil produ-

e não ter a vergonha de ser Feliz 9. Margarida Ruas e Maria da Luz de

zida pela Federação das Indústrias

Bragança 10. Embaixadores do Mexico, Japão e do Chile

do Estado de São Paulo.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 77


Brasil - Coração do Mundo

Discurso do Embaixador do

identidade nacional, a construção

moderna e pujante, mas também

Brasil:

de nossa democracia.

múltipla, democrática e direciona-

“Senhores membros do XIX (19º)

Mas também é circunstância pro-

da à inserção social e à redução

Governo Constitucional da Re-

pícia para que lancemos o olhar

das desigualdades. E creio que

pública Portuguesa, Senhores

sobre o futuro. O encontro perió-

conseguimos.

Parlamentares, membros da

dico que temos marcado com as

A percepção geral é a de que o

Assembleia da República, Se-

urnas em 3 de outubro, encoraja

Brasil organizou com esmero e

nhores Embaixadores e membros

exercício de avaliação do que já

profissionalismo um grande tor-

do Corpo Diplomático, Senhores

conseguimos e, sobretudo, do que

neio, uma festa esportiva emocio-

militares, portugueses e estran-

queremos para os próximos anos.

nante, que centralizou as aten-

geiros acreditados em Portugal,

O ano de 2014 será lembrado, no

ções do planeta em nosso país. E

Membros da comunidade brasilei-

Brasil, como um ano de grandes

tudo indica que fizemos bom uso

ra em Portugal, Senhores Côn-

expectativas e grandes realiza-

dessa atenção: o mundo hoje nos

sules Gerais do Brasil no Porto,

ções. Sediar a Copa do Mundo

conhece melhor.

em Lisboa e em Faro. Senhoras

de Futebol foi uma aventura que

Acolhemos com hospitalidade e

e senhores representantes do

envolveu o país inteiro, em um

grande afeto cerca de 1 milhão de

mundo acadêmico, cultural e

crescendo de entusiasmo e orgu-

turistas estrangeiros, provenientes

empresarial,Representantes da

lho patriótico, que nem mesmo o

de 202 países.

Imprensa, Queridos convidados e

resultado naquele fatídico dia no

Ademais, foram recebidos no País

amigos, Senhoras e Senhores.

Mineirão foi capaz de ofuscar.

Chefes de Estado e de Governo,

Como é do conhecimento de to-

Mais do que um megaevento

membros de Casas Reais, altos

dos, para nós, brasileiros, esta é a

esportivo, a Copa representou

representantes de 33 países.

ocasião mais importante de nosso

para o Brasil uma espécie de rito

Levantamento realizado pela

calendário cívico. É o momento

de passagem, em que a bem-

Fundação Instituto de Pesquisas

em que lembramos e reverencia-

-sucedida projeção de nossa

Econômicas (FIPE) revelou que

mos o longo processo de constru-

imagem para o mundo constituiria

83% dos visitantes consideraram

ção do nosso país, nossa eman-

o atestado fundamental de nos-

que a viagem ao Brasil durante a

cipação, a formação de nossa

sa maturidade como sociedade

Copa do Mundo “atendeu

78 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


plenamente ou superou as

mos longe dela.

Para encerrar, gostaria de con-

expectativas”. Cumprimos, por-

Tudo isso me faz pensar que o

vidá-los a desfrutar de três im-

tanto, com o nosso compromisso

nosso próximo “megaevento”

portantes show musicais. Hoje

e demos uma prova cabal de que

não é esportivo, ainda que todos

termos aqui, pelo segunda vez,

somos capazes de assumir res-

tenhamos bem presente o fato de

Wanda Stuart, uma das mais com-

ponsabilidades internacionais de

que as Olimpíadas estão logo ali,

petentes intérpretes da música

grande envergadura.

ao virar da esquina. Nosso próxi-

brasileira. Além de Wanda, vamos

Mas tenho convicção de que gran-

mo conclave é político: são nos-

ouvir um pouco de música da Bei-

de parcela desse entusiasmo é

sas eleições. Dentro de um mês,

ra, com o conjunto “Tuna Sabores

decorrente da constatação do tipo

os brasileiros teremos a oportuni-

da Música”, que nos visita direita-

de país, do tipo de sociedade, que

dade de investir nossa confiança

mente da Beira. Por fim, teremos

vamos construindo no Brasil.

em alguém, em algum projeto que

os “Democratas do Samba”, sob a

O visitante que chegou ao Brasil

consideremos em melhores con-

liderança do intérprete e composi-

em junho se deparou com um

dições de promover os próximos

tor, maestro Tércio Borges.

país plural, democrático, jovem e

passos de nosso desenvolvimen-

Mas antes disso, quero convidá-

vibrante. Um país que, em menos

to. O momento atual, de grande

-los a assistir um brevíssimo filme

de 30 anos de regimes democrá-

debate cívico, por vezes aguerrido

sobre o Brasil, produzido pela Fe-

ticos, logrou avançar em agendas

e dramático, é, em si, a concre-

deração das Indústrias do Estado

essenciais, como a da estabili-

tização de algo por que lutamos

de São Paulo, a mais importante

dade econômica; a redução da

durante anos. Celebremos, então,

agremiação empresarial brasileira.

pobreza; a inclusão social, a

este momento, e não desperdice-

Viva o Brasil, viva Portugal! Muito

promoção da igualdade racial e

mos a oportunidade.

obrigado.”

de gênero; da proteção do meio-

A nossos parceiros internacionais,

Depois deste discurso memorável

-ambiente; e a da inserção inter-

a começar pelos irmãos portugue-

fomos brindados com a voz da ci-

nacional pacífica e cooperativa,

ses, uma palavra de agradecimen-

tada artista Wanda Stuart que nos

com ênfase no multilateralismo e

to. O mundo, em 2014, acreditou

fez dançar ao som de Elis Regina,

nas iniciativas de integração.

no Brasil. Não prevaleceram as

Maria Rita, Alcione e sem esque-

O Brasil é hoje um país mais jus-

vozes pessimistas que duvidavam

cer a maravilhosa imortal Aquare-

to, com uma sociedade civil mais

da capacidade do país. Nesse

la do Brasil de Ary Barroso.

desenvolvida e mais forte. Nossa

ponto, temos que reconhecer a

Precisamente na mesma altura,

base produtiva é diversificada e

grande importância do apoio dos

no Brasil, saiu o filme “Data Limite

moderna. Vivemos em um Estado

portugueses, que em todos os

- Segundo Chico Xavier” (aquele

de Direito consolidado, com insti-

foros e contextos defendem o

que recentemente foi considerado

tuições vigorosas e ampla segu-

Brasil. E por uma razão simples:

pelo Brasil como “O Maior Brasi-

rança jurídica.

porque são os que melhor conhe-

leiro de Todos os Tempos” segun-

Essas credenciais nos projetam

cem nosso país. E nos conhecem

do um programa televisivo criado

no mundo e traçam os contornos

bem porque fizeram - e continua-

pela BBC e emitido pela SBT).

de nossa inserção internacional.

rão a fazer - parte de cada passo

Sobre o Brasil e seus governantes

Podemos almejar e lutar por um

de nossa história.

terá dito um dia sabiamente e sem

mundo mais livre, seguro e igua-

Não quero finalizar estas palavras

pretensões politicas, “Peçamos

litário porque fazemos isso inter-

sem estender um agradecimento

a Deus que inspire os homens

namente. Nossa voz é crescente-

muito especial a todas as empre-

públicos, atualmente no leme da

mente ouvida porque há respeito

sas que nos ajudaram a realizar a

Pátria do Cruzeiro, e que, nesta

pelos objetivos que nos propomos

festa de hoje.

hora amarga em que se verifica

e pelas conquistas já obtidas.

Por fim, um forte abraço de agra-

a inversão de quase todos os va-

É evidente, porém, que ainda há

decimento a todos os funcionários

lores morais, no seio das oficinas

muito por fazer. Nenhum país

da Embaixada que se dedicaram

humanas, saibam eles colocar

deveria se considerar como tendo

à organização desta comemora-

muito alto a magnitude dos seus

atingido a linha de chegada: a

ção. Eles são a alma de tudo isto.

precípuos deveres.” é caso para

autocrítica honesta conduz à

Sem eles, nada disto teria sido

lembrarmos que um caminho certo

constatação de que ainda esta-

possível.

nunca faz um homem voltar atrás.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 79


MALA DIPLOMÁTICA

Festa nacional do México

Embaixador Benito Andión, Embaixatriz Evelyn de Andión, Conselheiro José

Embaixador Benito Andión

Manuel Castañeda, Maria Eugenia Castañeda, Conselheiro José Manuel Cuevas, Monika Bittner e Abigail Calleja

O Embaixador do México em Por-

integram a relação bilateral.

tugal, Benito Andión e sua esposa

Conforme a tradição desta festa

receberam na residência oficial

nacional, o Embaixador do Mé-

numerosos representantes do

xico ofereceu um emotivo “Grito

corpo diplomático assim como dos

de Independência”, que recorda a

diversos âmbitos que integram as

ação levada a cabo pelos heróis

relações do México com Portugal.

que na noite do dia 15 de setembro

A receção oferecida pela repre-

de 1810, convidaram o povo a lutar

sentação diplomática mexicana

pela sua independência. Este ato

neste ano, teve um especial signi-

foi recebido com respeito e atenção

ficado por, em 2014, se comemo-

por parte de centenas de assisten-

rar o 150 aniversário do estabele-

tes, entre os quais se destacaram

cimento de relações entre os dois

os membros da comunidade mexi-

países.

cana.

Neste enquadramento, a Embaixa-

A celebração esteve acompanhada

da do México preparou para a sua

pelos hinos nacionais de Portugal

apresentação ao longo do ano, um

e México; posteriormente a repre-

amplo programa de atividades no

sentação diplomática ofereceu uma

âmbito das artes cénicas, música,

variedade de petiscos típicos da

cinematografia, artes plásticas,

gastronomia mexicana.

literatura, gastronomia e turismo,

Um agradável ambiente de cor e

cooperação internacional e pro-

harmonia acompanhou a noite de

moção económica; com o objetivo

mais um aniversário da mais impor-

de fortalecer todos os setores que

tante festa nacional do México.

80 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015



MALA DIPLOMÁTICA

No Dia Nacional da Alemanha Embaixador Ulrich Brandenburg destaca relações com Portugal 1

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Haydn esteve presente no Dia da Alemanha, através do Hino Nacional daquele país, com os convidados a serem amavelmente recebidos pelo Embaixador Ulrich Brandenburg, que discursou enfatizando o significado da unidade alemã restabelecida 24 anos atrás. Num ambiente de grande informalidade, figuras da sociedade, da política, da cultura e da economia degustaram saberes e sabores da gastronomia alemã no esplêndido jardim da residência oficial dos embaixadores, enquanto no salão,

1. Maria da Luz de Bragança com o Embaixador Ulrich Brandenburg 2. Con-

o exímio músico João Balula Cid

selheiro da Embaixada de Itália, Fábio Messineo com o Embaixador Renato

tocava o concerto nº 21 para piano

Varriale 3. Embaixador de França 4. João Balula Cid 5. Embaixador da Grécia

de Wolfgang Amadeus Mozart.

■➤

82 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


Discurso do Embaixador Ulrich

Posteriormente, os comerciantes das

ranking de destinos estrangeiros para

Brandenburg

cidades hanseáticas estabeleceram-

os portugueses. Esta rota rumo ao

“Uma série de eventos em 2014 procu-

-se aqui, por forma a transacionar

conhecimento mútuo é extremamen-

ram marcar na Europa a recordação

diretamente com o império português.

te positiva para ambas as culturas e

coletiva de acontecimentos históricos

A criação da CCILA em 1954 surge

países.

que moldaram o destino do continen-

assim numa longa tradição coope-

As boas relações entre a Alemanha e

te no passado século. Há 100 anos

rante entre os agentes económicos

Portugal não são, contudo, um motivo

eclodiu a I Guerra Mundial, a “catástro-

de ambos países. Em Junho de 2014

para complacência.

fe original” do século XX; há 75 anos

comemoraram-se os 60 anos desta

Um número crescente de estudantes

a Alemanha nazi invadiu a Polónia e

Câmara, na presença dos Presidentes

alemães inscreve-se em universidades

despoletou a II Guerra Mundial; e há

dos dois países. Em Portugal estão

portuguesas - e vice-versa – seja por

25 anos o Muro de Berlim caiu, permi-

representadas cerca de 300 empresas

semestre, através do programa Eras-

tindo a reaproximação entre os povos

alemãs. Muitas delas usufruem das

mus, seja para a totalidade do curso.

da Europa.

condições de instalação e desenvolvi-

Ambos os países proporcionam condi-

Estas memórias históricas também

mento que Portugal tem para oferecer.

ções atrativas. No ano letivo 2012/13,

têm um significado para as relações

Não é por acaso que entre o “Top 10”

mais de 900 estudantes alemães

entre a Alemanha e Portugal.

de maiores exportadores de Portugal

estudavam em universidades portu-

Os nossos dois países foram adversá-

se encontram três empresas alemãs.

guesas, e 1500 portugueses – 1000

rios na I Guerra Mundial. Soldados ale-

Empresários alemães enaltecem a

dos quais, já a viver na Alemanha - em

mães e portugueses confrontaram-se

qualificação e a fiabilidade dos cola-

universidades alemãs. Evidentemente

não só na frente ocidental de Flandres

boradores portugueses, contribuindo

que estes números ainda têm grande

e do norte de França, mas também em

para as vantagens de investir em

margem para crescer.

África. Ambos os lados sofreram per-

Portugal, que nos últimos anos tem

Urge, assim, aumentar a oferta de

das significativas. Nenhum dos países

melhorado consideravelmente a sua

ensino das respetivas línguas no país

ficou a ganhar com a guerra. Quer a

competitividade a nível internacional.

parceiro, especialmente no ensino es-

jovem república portuguesa, quer a

Mas existe outra data que poucas vezes

colar e universitário para capacitar os

Alemanha, sofreram abalos políticos e

é mencionada na comunicação social.

jovens com as ferramentas linguísticas

económicos decorrentes da I Guerra

Há precisamente 50 anos, o carpin-

que facilitem a sua integração. Infeliz-

Mundial, o que acabou por ditar o fim

teiro português de 38 anos, Armando

mente o ensino da língua alemã nas

das jovens democracias republica-

Rodrigues de Sá, iniciou o seu caminho

escolas portuguesas nem de longe

nas. Durante a II Guerra Mundial, um

de Vale de Madeiros para a Alemanha.

representa a intensidade das relações

Portugal neutro tornou-se um ponto de

À sua chegada à estação de Colónia-

bilaterais entre os dois países. Ao

passagem seguro para muitos perse-

-Deutz foi celebrado como o milionési-

contrário, o conhecimento da língua

guidos pelo regime nazi na Alemanha

mo trabalhador estrangeiro a chegar à

portuguesa na Alemanha estaria em

e nos países ocupados. Sublinho o

Alemanha. Muitos portugueses chega-

pior estado, se lá não existisse a co-

papel do Cônsul-geral de Portugal em

ram antes e depois dele. Parte desta

munidade portuguesa.

Bordéus, Aristides de Sousa Mendes,

comunidade regressou a Portugal, tal

Outra área em que deveríamos estrei-

que concedeu aproximadamente

como Armando Rodrigues de Sá.

tar os laços é a I&D, pois ambos os

30.000 vistos, salvando assim a vida

Muitos outros permaneceram e cria-

países têm criado um enquadramento

destes perseguidos, 10.000 dos quais

ram raízes na Alemanha, perfazendo

favorável à prossecução dos seus

cidadãos judeus.

hoje aproximadamente 120.000 resi-

objetivos, que também têm claras

O dia 9 de Novembro de 1989 foi um

dentes. São um exemplo de integra-

repercussões económicas. As ener-

dia de grande alegria, não apenas

ção bem-sucedida e um elo de ligação

gias renováveis encontram-se no topo

para nós na Alemanha.

importante e estável entre os nossos

da agenda, quer em Portugal, quer na

A alegria pela superação da divisão

dois países. Por outro lado, Portugal

Alemanha, por exemplo.

da Europa e pelo fim da Guerra Fria

suscita cada vez mais interesse dos

Alemanha ao centro da Europa, Portu-

foi partilhada por muitos portugueses,

cidadãos alemães, também pela maior

gal no Ocidente: eis um belo exemplo

que somente 15 anos antes tinham

facilidade em viajar hoje em dia. Che-

de aproximação e cooperação na

pacificamente lutado pela liberdade e

gam a Portugal para trabalhar, estudar

UE, onde representamos interesses

democracia no seu país.

ou após a reforma. Vários milhares

comuns. Cooperação e interdepen-

Contudo, a história coletiva de ambos

de alemães estão hoje em casa em

dências económicas, partilha de

países remonta a um período mui-

Portugal.

valores, mas também uma melhoria da

to anterior. A primeira instituição de

O número de turistas alemães em Por-

aprendizagem mútua, são as melhores

solidariedade social criada por ale-

tugal tem vindo a crescer e em 2013

garantias para evitar uma repetição

mães em Lisboa – a Associação de S.

quase 120.000 turistas portugueses

das amargas experiências do século

Bartolomeu dos Alemães em Lisboa –

visitaram a Alemanha. A Alemanha

XX.” finalizou o embaixador Branden-

foi fundada no séc. XIII e ainda existe.

representa, com 5%, o 6o lugar no

burg.

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DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 83


MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional da Áustria

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O Conselho Nacional da Áustria, aprovou a nova Constituição em Vie-

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na, no dia 26 de Outubro de 1955, na qual o país assumia neutralidade na comunidade internacional. Desde aí o 26 de Outubro passou a ser festejado como Dia Nacional. E a data foi de novo celebrada com uma agradável recepção, oferecida na sua residência oficial no Restelo, pelos Embaixadores da Áustria Thomas e Vanda Stelzer Como sempre estiveram presentes muitos dos embaixadores acreditados em Portugal, que aproveitaram a ocasião para trocar impressões, menos protocolares, com os seus colegas diplomatas, sobre o estado actual do mundo económico e politico… e até da sua estada em Portugal

1. Embaixadores de Austria, Thomas e Vanda Stelzer 2. Embaixadores da Belgica, Bernard e Karin Pierre 3. Embaixadora de Cuba

Lembrando Viena como uma das

4. Embaixadores do Bangladesh

cidades onde a musica, ao longo

5. Embaixadores de Cabo Verde

dos séculos, tem sido uma deliciosa constante, depois de tocados os hinos nacionais dos dois países o

84 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


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Embaixador austríaco apresentou

o quarteto “Donauwellenreiter” (que em Português quer dizer Surfistas do Danúbio) e que ocasionalmente estando em Portugal para realizar um Concerto no Centro Cultural da Figueira da Foz , não quiseram deixar de estar presentes em “solo pátrio “neste dia nacional do seu país Considerado “o romance alpinista da cena musical austríaca actual”, o grupo formado por Thomas Castañeda, ao piano, Jorg Mikula na percussão, Lukas Lauermann no violoncelo e Maria Graffonara no violino, tocaram para todos os presentes duas músicas invulgares Um

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som distinto de carisma altamente poético, verdadeira sinergia entre a musica de câmara, pop e jazz Agradecendo a presença de todos os colegas e amigos, ao lado de sua mulher a Embaixatriz Vanda Stelzer e de dois dos seus três filhos, lembrou que paralelamente com o seu trabalho no nosso país, o ter casado com uma portuguesa, tornou a sua ligação com Portugal uma mais-valia, muito agradável e até apaixonante. A recepção terminou no jardim, já passava da hora prescrita, pois a noite quente de um Outono radiante

6. Grupo Musical Austriaco - Donauwellenreiter 7. Teresa Pinto Coelho e Zé Mesquita 8. Jorge Fonseca ,Vera Caseiro e Nazir Madatali 9. Franziska Pfeiffer

apelava à conversa, bem temperada com vinho de boa cepa e acepipes austríacos.

A.D.

10. Embaixadoras de Cuba e do Peru com Paulo Neves

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 85


MALA DIPLOMÁTICA

Dia da Roménia

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1. Embaixadores da Bélgica ladeados pelo Embaixadores da Roménia 2. Sabine Blarel e Nicoleta Popovici 3. Alain Prigent, Violeta Ciurel com os Embaixadores de França 4. Maria Otilia Medina, Mihaela Craciun e Isabel Monteiro

"No dia 1 de Dezembro celebra-se

minorias étnicas que vivem em terri-

xa. O Senhor Iohannis é protestante.

a união de todos os romenos, em

tório nacional se sentem em casa.

Contudo, esta vitória não é um facto

1918, sob a coroa real romena con-

A Roménia acaba de eleger o seu

totalmente inabitual na Roménia

juntamente com a adesão da Tran-

presidente e esta eleição poderá ter

pois, para utilizar o mesmo exemplo,

silvânia ao Reino. Assumia a Ro-

um significado mais amplo, relacio-

o Senhor Iohannis foi eleito Presi-

ménia então respeitar os direitos de

nado – na minha opinião – com o

dente da Câmara Municipal de Sibiu,

todas as minorias do seu território,

próprio sentido da Grande União.

por vários mandatos, sempre com

e este compromisso se constituiu

Após a votação de 16 de Novembro

maiorias esmagadoras. Outro facto

numa garantia democrática obriga-

passado, os romenos elegeram um

significativo é que raramente existiu,

tória para a paz social interna como

presidente, o Senhor Klaus Iohannis,

nos últimos 15 anos, um governo

também para a paz na região. A

cidadão romeno de origem alemã, de

que não cooptasse automaticamente

União de todas as províncias rome-

Sibiu, cidade da Transilvânia, cidade

a minoria húngara na governação.

nas sob a alçada do mesmo Estado,

no coração da Roménia. O grupo ét-

Numa Europa onde se re-despertam

que celebramos no dia 1 de Dezem-

nico alemão representa uma minoria

os antigos demónios do nacionalismo

bro, representa um acto histórico

ínfima na Roménia. A grande maioria

e do antiliberalismo, demónios tenta-

plenamente consolidado quando as

da população romena é cristã-ortodo-

dos por modelos autoritários ou até

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5. Embaixador do Luxemburg 6. Aili Rundu com os Embaixadores da Roménia 7. Mirko Stefanovic, Embaixador da Servia com Embaixador da Roménia, Vasile Popovici 8. António Almeida Lima e Antonio Machado ladeados pelos Embaixadores 9. Gulbenkian, Consonando Trio

ditatoriais, afigura-se-me importan-

relevante que em 2014 as trocas

O ciclo de eventos consagra-

te realçar que o modelo da Roménia,

comerciais ultrapassam, pela pri-

dos ao Dia Nacional da Ro-

baseado na tolerância e integração

meira vez, meio bilião de euros. Por

ménia continuou na Casa da

de todos os grupos étnicos no acto

último, Portugal representa, por sua

Música do Porto e na Funda-

governamental, merece despertar o

vez, um modelo de integração para

ção Gulbenkian de Lisboa com

optimismo.

todas as comunidades residentes no

um concerto extraordinário do

Acrescentaria também uma men-

seu território. Quero expressar aqui

“Consonando Trio” composto

sagem encorajadora, desta vez no

os meus mais vivos agradecimentos

pelo violoncelista Razvan Suma,

que respeita à cooperação romeno-

pela maneira como a comunidade

violonista Stefan Horvath e

-portuguesa. Celebramos este ano

romena de Portugal, que representa

pianista Toma Popovici o qual,

quatro décadas desde o restabele-

cerca de 30.000 pessoas, foi aju-

perante uma sala cheia, inter-

cimento das relações diplomáticas

dada a integrar-se na sociedade

pretou obras de George Enescu

entre a Roménia e Portugal. Os dois

portuguesa. É um exemplo europeu

e Franz Schubert, sendo longa-

países marcaram devidamente este

digno de ser seguido."

mente ovacionado.

momento festivo, através de visitas bilaterais a alto nível. É também

Vasile POPOVICI Embaixador da Roménia

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MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional assinalado em festa Turquia – “Paz no País, Paz no Mundo” 1

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O país adquiriu nos últimos anos grande importância geoestratégica, sendo um dos principais aliados das potências ocidentais na região. A simpatia da Ebru Gokdenizler não deixou ninguém indiferente na recepção oferecida na sua residência.

Por ocasião do Dia Nacional da

doutrina neutralista que se funda-

Turquia, a Embaixadora Ebru

mentava na máxima “Paz no País,

1. Os Embaixadores da Turquia, Ebru Baratçu e Vakur Gokdenizler 2. Os Embaixadores da Austria, Thomas

Gokdenizler recebeu, nos jardins da

Paz no Mundo”.

sua residência, no Restelo, muitos

Esta doutrina libertou a Turquia de

diplomatas acreditados em Portugal

todo o comprometimento externo,

na e do Mexico Evelyne de Andion

e várias personalidades ligadas à

tendo uma relação com a herança

4. Os embaixadores da Suécia Caroline

política, à cultura e à economia.

otomana, situação que orientou

Fleetwood seu marido Hans Tson

A república, proclamada a 29 de

a política externa do país até à II

Soderstron e Pedro Passos Costa e

Outubro de 1923, por Mustafa

Guerra Mundial.

Kemal Atarürk, foi baseada numa

Só a partir de Setembro de 1980

88 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

e Vanda Stelzer 3. Embaixadoras do Perú, Patricia Medi-

sua Mulher ➤


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é que os laços se estreitaram de

Turquia) é uma região com uma

6. Conselheiro da Embaixada da Indónesia

Pof Yusuf Arifin e sua mulher, Sheva Yusuf 7. Ana Bela com o Embaixador da Moldavia, Valeriu Turea 8. Alline E Thomas Hall de Beauvink

novo com as potências ocidentais.

vasta história que remonta há mais

Mais tarde, depois dos aconteci-

de 5000 anos.

mentos internacionais mais recen-

Na atualidade a sua economia

9. Embaixadora de Cuba Johana Jablata

tes, em especial o desabar do impé-

constitui um misto entre a indústria

rio soviético, a guerra do Golfo e o

e o comércio modernos e a agricul-

desmembramento da ex-Jugoslávia,

tura tradicional. O seu PIB (Produto

reforçou-se de forma evidente a im-

Interno bruto) está no top 20 do

portância geopolítica da Turquia e

ranking mundial.

as potências ocidentais viram neste

A simpatia com que a Embaixadora

país um trunfo para a estabilidade

recebeu todos os seus convidados

regional.

não deixou ninguém indiferente

A Península da Anatólia (actual

nesta tarde de festa.

de la Torre 10. Embaixadora d e Marrocos -Karima Benyaich 11. Embaixadores da Colômbia, German e Nelly de Santamaria 12. Embaixadora da Turquia com Maria Barroso 13. Milton Moniz e Anne Taylor 14. Bahadir Yalcin e sua mulher, Nihal 15. Embaixadores da Sérvia Mirko e Liliana Stefanovic

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 89


MALA DIPLOMÁTICA

Celebração do Dia Nacional de Andorra

A Embaixada de Andorra em Portugal celebrou o Dia Nacional de Andorra no Palácio do Conde d’Óbidos (Palácio da Cruz Vermelha Portuguesa). Ofereceu uma recepção oficial aos seus convidados representantes do Governo português, do corpo diplomático e organismos internacionais acreditados em Portugal, e de outras instituições económicas, comerciais e culturais estabelecidas na capital lusa. Na recepção esteve também presente o Ministro do Turismo e Meio Ambiente de Andorra, Sr. Francesc Camp, que se deslocou a Lisboa para a assinatura de um Memorando de Entendimento entre Portugal e Andorra de colaboração em matéria de Turismo.

Embaixadora e o Ministro acompanhados do Conselheiro Adido de Comércio e Turismo da Embaixada de Andorra em Espanha, Jesús Ramírez

90 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015



MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional da Argélia festejado no Hotel Marriott

2

1

5

4 3

Mais uma vez o dia Nacional da

diplomatas estrangeiros, como

Argélia foi comemorado com uma

também muitos amigos portugue-

1. Embaixadores da Argélia, Abdelhak Semane e Fathia Selmane 2. Embaixador do Uruguai, Jose Ignacio

agradável recepção.

ses e vários argelinos residentes

A data escolhida para dia Nacio-

em Portugal. A Embaixadora Fa-

nal prende-se ao 1 de Novembro

tiha Selmane fez questão de re-

3. António Chainho e sua Mulher

de 1962, aquando do triunfo da

lembrar não só o dia histórico da

4. Sousa Cintra e sua Mulher

revolução pela independência da

sua pátria, como também mencio-

5. Presidente da Casa de Espanha Guil-

Argélia, frente à França. No seu

nou no seu discurso a agradável

discurso de boas vindas peran-

boa harmonia que existe entre

te vasta assistência, não só de

Portugal e o seu país e

92 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

Korzeniak, Adriana Drago e o Embaixador do Kuwait Sulaiman Al-Murjan

lermo de Liera e sua mulher, Maria de Jesus com o Embaixador do Uruguai


6

8

7

10

11

9

6. General Artur Pina Monteiro Chefe de

muito especialmente como tem

Estado Maior General das Forças Ar-

sido agradável para si e sua família

madas com a Embaixadora da Argélia

a estadia entre nós. Para gáudio

7. Noemia Tavares, Liliana Brito Barros e Carlota Mendes de Almeida 8. Embaixadores de Itália, Renato Varria9. Gi Milne e Carmo e Francisco Sequeira 10. Virgilio Seco, Gertrudes Evora e

mente da Argélia, não faltando para retemperar e adocicar o paladar do

Encarregado de Negócios da Argélia, 11. Nuncio Apostolico

foram servidas várias especialidades gastronómicas, vindas especial-

lee e da Belgica, Bernard Pierre

Djamel Khalfi

dos apreciadores da boa mesa,

agradável chá de menta, os doces com mel e as tâmaras.

A.D.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 93


MALA DIPLOMÁTICA

Arábia Saudita Glamour e simpatia marcam Dia Nacional

1

1. Embaixador da Arábia Saudita, Mansour Saleh AlSafi

Num ambiente de alegre simpatia, o Embaixador Mansour Bin Saleh al-Safi recebeu os convidados para uma recepção onde marcaram presença figuras destacadas da política, da sociedade e da economia

Por ocasião da celebração do

da zona de Lisboa.

84º Aniversário da Unificação

As declarações oficiais de início

do Reino da Arábia Saudita, dia

transcorreram num ambiente de

Nacional do país, o Embaixador

alegre convívio e simpatia en-

Mansour Bin Saleh al-Safi convi-

volvendo todos os presentes.

dou destacadas personalidades

Seguiu-se um fabuloso jantar que

dos mais diversos meios políticos,

deliciou os convidados, e onde o

sociais e económicos para uma

glamour marcou presença.

recepção num hotel de prestígio

A Arábia Saudita, é o maior país

94 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


2

3

5

4

2. Embaixador da Arábia Saudita, Mansour Saleh AlSafi; Conselheiro da Embaixada, Mohammed AlMadani e o Terceiro Secretario, Mansour Alotaibi 3. Nuncio Apostólico com o Embaixador da Arábia Saudita 4. Nuncio Apostólico; Embaixadora Ana Martinho, do MNE; Embaixador da Arábia Saudita e o Chefe de Protocolo António Lima 5. Embaixador da Arábia Saudita com o Embaixador do Kuwait, ao fundo o Embaixador do Iraque

árabe na Ásia Ocidental, ocu-

decendo aos preceitos do Alcorão.

pando 80 por cento da Península

O soberano do grande reino da

Arábica, e é o segundo maior do

Arábia Saudita é Abdallah bin

mundo árabe.

Abdul Aziz Al-Saud, um firme

É o reino onde fica localizada a

opositor ao terrorismo, que é res-

notável e grandiosa cidade de

ponsável pela “Cultura da Paz”, e

Meca, onde, cinco vezes ao dia,

considerado pelo seu povo o Rei

cerca de 1 bilhão de muçulmanos

“mais caridoso” da história con-

para ela se viram rezando e obe-

temporânea.

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 95


MALA DIPLOMÁTICA

Império Milenar China popular assinala aniversário

Segunda maior economia mundial, a República Popular da China é a segunda maior economia mundial e tem uma média de crescimento de 10 por cento ao ano, nos últimos 25 anos

Em 2014 celebra-se o 65º Aniver-

jantar onde se puderam apreciar

existia na Europa uma grande de-

sário da Fundação da Republica

vários pratos das cozinhas chine-

manda de produtos chineses, tais

Popular da China. Para assinalar

sa e portuguesa.

como o chá, a seda e a porcelana.

esse acontecimento, o Embaixa-

A China, é o terceiro maior país do

A 1 de Outubro de 1949, Mao

dor Huang Songfu organizou uma

mundo, ficando atrás da Rússia e

Tsé-Tung proclamava a criação

recepção, num hotel da capital, na

Canadá, e tem mais de 2900 ilhas

da República Popular da China,

qual estiveram presentes entre a

costeiras.

que ficou conhecida no ocidente

comunidade chinesa radicada em

A civilização chinesa possui carac-

como “China comunista” ou “China

Portugal, embaixadores, ministros,

terísticas bem distintas da oci-

Vermelha”.

empresários, gente da Cultura e

dental, principalmente na escrita,

Actualmente a China é a segunda

outras personalidades.

cultos, filosofia e nas artes.

maior economia mundial e a nação

Uma jovem chinesa, acompa-

A partir do século XIII, com a rota

com o maior crescimento econó-

nhada por guitarras portuguesas,

da seda integrada pelas conquis-

mico dos últimos 25 anos, com

deliciou todos os presentes ao

tas mongóis, os europeus entraram

uma média do crescimento do PIB

cantar na perfeição “Uma Casa

em contacto com este país, com

(Produto Interno Bruto) em torno

Portuguesa”, seguindo-se um

certa frequência e no século XIX já

de 10 por cento ao ano.

96 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


Discurso de S.E. o Sr. Emb. Huang Songfu

Em primeiro lugar, gostaria de expressar, em nome

cial da revitalização nacional, em que o povo chinês

da Embaixada da República Popular da China em

está a trabalhar com toda dedicação para realizar o

Portugal e em meu próprio nome, as calorosas

Sonho Chinês, sonho do desenvolvimento e da pros-

boas-vindas e os melhores cumprimentos a todos os

peridade. Para alcançar esta grande meta, sob a

presentes na recepção de hoje. Gostaria de aprovei-

liderança da nova geração dos dirigentes, formulou-

tar esta ocasião para apresentar os meus sinceros

-se um novo plano para aprofundar a reforma, que

agradecimentos a todos os amigos que têm sempre

engloba as áreas política, económica, cultural, social

acompanhado o desenvolvimento da China e se têm

e ambiental. O ponto chave desta reforma é simpli-

dedicado à promoção das relações Sino-Portugue-

ficar o processo de gestão governamental e delegar

sas.

o poder do governo nos assuntos fora da sua jurisdi-

No próximo dia 1 de Outubro, celebra-se o 65º ani-

ção para o mercado, a fim de energizar ainda mais o

versário da República Popular da China. Ao longo

mercado e incentivar a criatividade da sociedade. No

de 65 anos, a China tem embarcado num caminho

ano passado, apesar da crise global, o potencial do

de desenvolvimento que corresponde à sua situação

investimento privado na China foi libertado/incentiva-

nacional, e conseguido transformar um país pobre

do graças a esta política.

e atrasado na segunda maior economia mundial,

Outro ponto essencial é acelerar o ajuste estrutural

melhorando assim a vida de 1,3 mil milhões dos

da economia chinesa. Iremos cultivar o espírito da

seus habitantes. Ao mesmo tempo, sendo um país

inovação de toda a sociedade, a fim de acelerar a

carregado da responsabilidade, a China tem seguido

transformação do modelo de desenvolvimento, me-

o caminho do desenvolvimento pacífico e desempe-

nos dependente dos estímulos do estado, e man-

nhado um papel importante nos assuntos internacio-

ter a economia chinesa numa taxa do crescimento

nais, contribuindo assim para a manutenção da paz

média-alta a longo prazo. Em suma, o objetivo da

e a promoção do desenvolvimento em conjunto com

reforma é libertar/incentivar/promover a criatividade

o interesse comum do mundo.

e entusiasmo do povo chinês e fornecer-lhe uma pla-

Hoje em dia, a China encontra-se num momento cru-

taforma mais ampla para inspirações e iniciativas, ➤

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 97


Império Milenar China popular assinala aniversário

garantindo assim oportunidades para todos reali-

da amizade entre os dois povos.

zarem os seus sonhos.

As boas relações de cooperação bilateral são ba-

A nova ronda de reformas da China não só servem

seadas numa confiança política mútua e sólida. No

aos interesses do povo chinês como também aos

passado mês de Maio, o Presidente da República

interesses dos outros países do mundo. Porquê? O

Portuguesa, Sr. Prof. Cavaco Silva realizou com

que uma China cada vez mais próspera trará para

grande sucesso uma visita de estado à China. Logo

outros paises do mundo? Na minha opinião, sao

a seguir, em Julho, o Presidente da República Popu-

novas Oportunidades.

lar da China, Sr. Xi Jinping fez uma escala técnica

Vejamos que, no ano passado, o volume total da

na Ilha Terceira durante a sua viagem de volta à

importação e exportação da China atingiu a 624

China. As duas partes tiveram oportunidade para

mil milhões de dólares, com uma exportação que

aprofundar e trocar opiniões sobre temas do inte-

chegou ao primeiro lugar do mundo. Além disso, as

resse comum e concordaram em elevar ainda mais

empresas chinesas estão a tornar-se numa fonte

as nossas cooperações de benefícios mútuos a um

importante do investimento e financiamento interna-

novo patamar. Podemos afirmar, portanto, que a re-

cional. Apenas dentro de 2013, o investimento não

lação sino-portuguesa está no seu melhor momento

financeiro direto da China no exterior superou 90 mil

de sempre e encontra-se num novo ponto de partida.

milhões de dólares. Espera-se que nos próximos 5

No mundo atual, cada país está a enfrentar desafios

anos, a importação chinesa totalize 10 mil bilhões de

diferentes. O Governo e o povo Chinês apreciam os

dólares, o investimento chinês no exterior soma 500

esforços persistentes de toda a sociedade portugusa

mil milhões de dólares, e o mundo recebe 500 mi-

e os sacrifícios do seu povo em especial, no cami-

lhões de turistas chineses. Tenho toda a certeza que

nho da recuperação económica. Lembro-me que na

a nova ronda de reformas e abertura injetará uma

recepção do ano passado, aqui neste mesmo lugar,

enorme vitalidade na economia chinesa e no mundo,

depositei a confiança na economia portuguesa,

e estamos disponíveis para compartilhar estes be-

dizendo que Portugal iria voltar de novo ao cresci-

nefícios com todos os países, promovendo assim o

mento. Estou muito contente ao ver que Portugal

desenvolvimento e prosperidade comum do mundo.

conseguiu neste ano uma saída limpa da “Troika”,

A China atribui grande importância às relações

baseada numa economia recuperada. Hoje, o povo

amistosas com a Europa, nomeadamente, com

chinês está a dedicar-se a realizar o seu sonho de

Portugal. Dedicamo-nos a construir uma nova

revitalização nacional, enquanto o povo português

parceria sino-europeia: parceria da paz, do cres-

está a lutar pelo seu sonho de desenvolvimento

cimento, da reforma e parceria da civilização, em

na época “pós-troika”. Os nossos sonhos são tão

que as relações Sino-Portuguesas servem como um

próximos e coincidentes que abrem uma perspectiva

bom exemplo. Lembramo-nos que este ano marca

brilhante para novos avanços nas nossas relações.

o 35º aniversário do estabelecimento das relações

Neste sentido, todas as ajudas fazem a diferença.

diplomáticas entre a China e Portugal. Como Em-

Por isso, espero poder sempre contar com os apoios

baixador, é com muita satisfação que testemunho

preciosos dos amigos presentes, com os seus esfor-

os grandes avanços alcançados nas nossas coope-

ços incansáveis na exploração das potencialidades

rações ao longo destes anos. Em 2013, o volume

das nossas relações, para um maior desenvolvi-

total do comércio entre a China e Portugal atingiu 4

mento da cooperação, na área política, económica,

mil milhões de dólares. Os investimentos entre os

comercial, cultural, científica e militar, etc, em bene-

dois países não param de crescer, especialmente

fício dos dois países e dos dois povos na realização

o investimento da China em Portugal, que nos últi-

dos seus sonhos.

mos anos teve um aumento enorme, ultrapassando

Para finalizar, gostaria de propor um brinde, pela

7 mil milhões de dólares. No ano passado, a minha

prosperidade da China e do mundo, pela amiza-

Embaixada emitiu 10 mil vistos para portugueses e

de entre o povo chinês e o povo português, e pela

72 mil turistas chineses visitaram Portugal. A cada

saúde de todos os presentes. Permitam-me ainda os

dia que passa, mais chineses ou portugueses co-

amigos portugueses de saudar em chinês os meus

meçam a aprender a outra língua, apreciar a outra

compatriotas aqui presentes.

cultura, construindo uma ponte de comunicação e

Saúde!

98 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional assinalado em Lisboa Coreia – à Direita do Nascer do Sol 1

2

3

Após meio século de ligações diplomáticas, as relações entre Portugal e a Coreia do Sul estão cada vez mais sólidas, num crescendo clima de cooperação e amizade

Os Embaixadores da República

zade entre Portugal e a Coreia do

da Coreia (também conhecida por

Sul estão cada vez mais sólidas e as

Coreia do Sul) receberam os seus

duas nações contam com mais de

2. Embaixatriz da Coreia

convidados para celebrarem o Dia

meio século de ligações diplomáti-

3. Youngnam Roh, Presidente da LG

Nacional daquele país. A festa decor-

cas.

reu em Lisboa e estiveram presentes

Desde remotas eras, a história deste

inúmeras personalidades ligadas por

país tem sido muito conturbada com

laços afectivos, culturais, militares,

numerosas guerras e invasões.

empresariais, económicos e diplomá-

O regime político da República da

ticos.

Coreia do Sul é uma democracia de

O Embaixador Yoo Jung-Hee pro-

inspiração ocidental.

feriu algumas palavras e, seguida-

Há 7 anos, em Outubro, foi firmado

mente, foram oferecidas fotografias

um acordo intitulado “Declaração de

instantâneas a todos os convidados

Paz e Prosperidade” entre os presi-

que quiseram posar em frente de um

dentes da Coreia do Norte (comunis-

biombo coreano feito especialmente

ta) e da Coreia do Sul. Nesse acor-

para a comemoração deste dia.

do, ambos os países expressavam

A história da Coreia remonta a 2333

intenções de superar o clima de con-

a.C., sendo uma das civilizações

frontação, desde a Guerra da Coreia,

mais antigas da nossa orbe.

para finalmente estabelecerem um

As relações de cooperação e ami-

“Regime de Paz Permanente”.

1. Embaixador da Coreia, Yoo Jung-Hee com Maria de Bragança

Electronics Portugal

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 99


PREMIÈRE

Imamat do Príncipe Aga Khan celebrou-se em Lisboa

Vitalino Canas; Amirali Bhanji, Presidente do Conselho Nacional da Comunidade Ismaili e sua Mulher; Maître Laurent Chambaz; Conselheiro de Sua Alteza o Aga Khan, Comendador Nazim Ahmad e sua Mulher; Paul Dhalla, Departamento Diplomático de Sua Alteza o Aga Khan Por ocasião das comemorações do dia do Imamat do Príncipe Aga Khan, o seu braço direito, o presidente da “Rede Aga Khan para o Desenvolvimento”, Nazim Ahmad, organizou uma recepção no Centro Ismaili, na qual recebeu diversos representantes estatais e outras personalidades

Foi com os salões repletos de

ao I mamat I smaili.

as responsabilidades do Imam

convidados que o Comendador

O Ismaili Imamat é uma entidade

implicam a interpretação da men-

Nazim proferiu o seu discurso,

supranacional com mais de 1400

sagem divina, bem como a arti-

acentuando as boas relações que

anos, reconhecida pelo Estado

culação dessa mensagem com

a Rede Aga Khan para o Desen-

Português, que representa a

a atualidade. Implica também a

volvimento tem com as autorida-

sucessão de Imams-do-momento

liderança espiritual da Comuni-

des portuguesas:

desde o tempo do Profeta Mao-

dade Ismaili e a responsabilidade

«G o s t ar i a d e a g r a d e c e r a

mé (que a paz esteja com ele).

de desenvolver esforços para

t o d o s aqu i p r e s e n te s p o r s e

Em 1957, Sua Alteza o Aga Khan

a melhoria das condições das

j u n t ar em n e s t a r e c e ç ã o q u e

tornou-se o quadragésimo nono

sociedades em geral.

c el e b r a o a n i v e r s á r i o d a a c e s -

Imam.

O Ismaili Imamat sempre realçou

s ão d e S u a A l t e z a o A g a K h a n

Na tradição muçulmana Ismaili,

a importância de atividades que

100 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


refletem a consciência social

do Islão, i.e. que contribuem para o bem-estar da mais nobre criação de Deus (Allah) – a humanidade, assim como a responsabilidade que o Islão coloca nos mais fortes para apoiar os menos afortunados. Foi nesse sentido que Sua Alteza o Aga Khan fundou a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. É nos valores éticos e de consciência social do Islão que encontramos os princípios que regem a atividade da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Sublinho a promoção da dignidade humana, da compaixão, do pluralismo, da cooperação, da busca do conhecimento e da sustentabilidade. Nos dias de hoje, assistimos infelizmente a um aumento de conflitos e tensão em várias partes do mundo. Muitos desses conflitos têm raiz num choque de ignorâncias e sobretudo em falta de boa governança, educação e de uma sociedade civil forte. Torna-se portanto mais necessária a promoção de uma ética inclusiva e participativa. Em várias ocasiões Sua Alteza o Aga Khan tem defendido a construção de uma ética cosmopolita para um desenvolvimento harmonioso e sustentável. E tem desenvolvido projetos nesse sentido (como nos exemplos expostos nos painéis aqui presentes). A iniciativa conjunta de Sua Alteza o Aga Khan com o Governo do Canadá, o Global Centre Maître Laurent Chambaz, Comendador Nazim Ahmad, Representante e sua Mulher com: Embaixadora da Suécia, Caroline Fleetwood (1); Luis Amado(2) e Paulo Pisco(3)

for Pluralism, visa precisamente promover a investigação e a

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 101


Imamat do Príncipe Aga Khan

educação na área do pluralis-

mo, em colaboração com governos, académicos e a sociedade civil. Destaco também a recente inauguração do Museu Aga Khan em Toronto, o primeiro museu de Arte Islâmica na América do Norte, com uma variada exposição de arte e artefactos, que oferece aos visitantes uma amostra da diversidade cultural e artística das civilizações islâmicas. Em Portugal, é-me grato notar o trabalho que a AKDN desenvolve com a Igreja Católica e o Patriarcado de Lisboa, assim como a

Mario David, Comendador Nazim Ahmad com o Embaixador António Monteiro

convergência de valores no trabalho que fazemos em conjunto em Portugal. Destaco a luta contra a exclusão social no âmbito da nossa parceria no K’Cidade - Programa de Desenvolvimento Comunitário Urbano, que beneficia diretamente cerca de 40.000 pessoas, com o apoio das Camaras de Cascais, Amadora, Lisboa e Sintra. O programa de Desenvolvimento da Primeira Infância que oferece uma educação direta a cerca de 220 crianças e formação em 7 centros de educação infantil, abrangendo mais cerca de 1000

Embaixador Isaac Murade Murargy, Secretário-geral da CPLP com a Embaixadora da República de Moçambique, Fernanda Lichale

crianças, com o apoio do Instituto da Segurança Social. E a colaboração no ensino superior conforme refletido no Memorandum de Entendimento entre a Universidade Aga Khan e a Universidade Católica que prevê sinergias em áreas de investiga-

"

ção de interesse comum. Também em Portugal temos desenvolvido ainda iniciativas na área da cultura, com exposições, concertos, palestras e uma programação no âmbito da

102 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015

O ISMAILI IMAMAT SEMPRE REALÇOU

A IMPORTÂNCIA DE ATIVIDADES QUE REFLETEM A CONSCIÊNCIA SOCIAL DO ISLÃO, I.E. QUE CONTRIBUEM PARA O BEM-ESTAR DA MAIS NOBRE CRIAÇÃO DE

DEUS (ALLAH) – A HUMANIDADE, ASSIM COMO A RESPONSABILIDADE QUE O ISLÃO COLOCA NOS MAIS FORTES PARA APOIAR OS MENOS AFORTUNADOS

"


educativo irá promover membros

linha da cooperação diplomática

Prémio Aga Khan para a Arquitetu-

da sociedade com capacidade

ao nível internacional.

ra no ano passado, que teve lugar

crítica, curiosos, éticos e orienta-

Agradecer às instituições go-

em Lisboa. A cultura para a AKDN

dos para a comunidade, prepara-

vernamentais e municipais em

é tanto um catalisador de desen-

dos para enfrentar os desafios de

Portugal e aos seus atores pelo

volvimento como um facilitador de

um mundo cada vez mais com-

reconhecimento das nossas es-

diálogo e respeito pelo outro.

plexo e interdependente.

truturas e o acolhimento que lhes

Esta convergência de valores

O acesso a estas Academias

têm dado.

estende-se para além fronteiras,

depende do mérito dos alunos in-

Nomeadamente ao Presidente

com particular destaque para os

dependentemente da capacidade

da República, aos membros do

países de língua Portuguesa.

financeira das suas famílias.

Conselho de Ministros, à Presi-

A parceria desde 2001 entre a

A Academia em Moçambique já

dente da Assembleia da Repúbli-

cerimónia do último ciclo do

Fundação Aga Khan Portugal e

ca e membros dos vários grupos

o Camões, Instituto de Coope-

parlamentares da Assembleia da

ração e Língua, no âmbito do programa de desenvolvimento rural de Cabo Delgado, Moçambique, também tem tido um impacto substancial na melhoria da qualidade de vida de cerca de 200.000 moçambicanos. Estamos confiantes que continuaremos a estender o nosso apoio ao desenvolvimento a mais países da CPLP, via Portugal, no âmbito do acordo assinado com a CPLP. Um outro exemplo diz respeito às Academias Aga Khan. Nestas Academias promove-se a excelência académica, e procura-se educar para uma sociedade mais equilibrada, sustentável e cooperativa. Nesse sentido, ao currícu-

"

É NOS VALORES ÉTICOS E DE

República. Agradecer às instituições parcei-

CONSCIÊNCIA SOCIAL DO ISLÃO QUE ENCONTRAMOS OS PRIN-

CÍPIOS QUE REGEM A ATIVIDADE DA REDE AGA KHAN PARA O DESENVOLVIMENTO. SUBLINHO A PROMOÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, DA COMPAIXÃO, DO PLURALISMO, DA COOPERAÇÃO, DA BUSCA DO CONHECIMENTO E DA SUSTENTABILIDADE

"

lo do Internacional Baccalauréate

ras tanto da sociedade civil ou de outros quadrantes pelo respeito e estima que nos têm demonstrado e pelo diálogo e colaborações que temos desenvolvido. Como por exemplo a Fundação Calouste Gulbenkian, a Santa Casa da Misericórdia, a Associação Criança entre muitas outras. E, finalmente, agradecer o importante contributo dos voluntários da Comunidade Ismaili nas nossas atividades, e em particular pelo apoio na organização desta receção. A comunhão de princípios e valores entre o Imamat Ismaili e Portugal encoraja-nos a continuar as nossas atividades e projetos

seguido pelas Academias, acres-

abriu portas numa primeira fase

em prol do desenvolvimento de

centámos 5 áreas de estudo que

em 2013 e espero em breve dar

Portugal.

consideramos críticas: ética,

notícias sobre o progresso do

Obrigado a todos mais uma vez

pluralismo, economia para o de-

projeto da Academia Aga Khan

pela vossa presença, amizade e

senvolvimento, culturas e gover-

em Portugal, prevista para Cas-

atenção. Bem hajam.»

nança, e sociedade civil.

cais, que Sua Alteza deseja ver

De referir que a Rede Aga Khan

Dada a natureza destas áreas de

avançar a bom ritmo.

para o Desenvolvimento é um

estudo, elas não são disciplinas

Finalmente, gostaria de acabar

grupo de instituições privadas,

adicionais, mas são transversais

a minha intervenção com alguns

internacionais, que trabalham no

a todas as restantes disciplinas.

agradecimentos.

sentido de melhorar as condi-

Mas não só. Estão integradas no

Quero agradecer o excelente diá-

ções de vida e o acesso a novas

funcionamento da escola, nas

logo e trabalho institucional que

oportunidades de populações em

suas políticas e na sua vida diária.

mantemos com as várias Embai-

algumas das regiões mais pobres

Acreditamos que este modelo

xadas e Corpo Diplomático, na

do mundo em desenvolvimento.

n

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 103


Dossier ➤

Tratado de Lisboa

D

o icep, é um bom exemplo de como se podem valorizar expo-

importante papel de instrumen-

nencialmente e com minimiza-

to público são também eles que

ção de custos, conhecimentos e

devem investir em iniciativas

saberes indispensáveis à ca-

geradoras de emprego e de

pacitação dos interesses eco-

riqueza. mas temos que reco-

nómicos de portugal por esse

nhecer que fazê-lo nestas cir-

mundo fora.

cunstâncias é um desafio ainda

a ciep lançou este ano o

mais complexo".

portuguese business link –

o Governo e a aicep não se

pblink, que é uma rede social

têm poupado a esforços para

interactiva e tecnologicamente

promover a captação de in-

desenvolvida que pretende ser

Currículo do

vestimento directo estrangeiro

um instrumento fundamental

Presidente do CIEP

bem como o investimento portu-

de contactos de negócios e de

guês no mundo.

conhecimento de oportunidades

desde a génese da confede-

e de mercados, dos empresá-

ração internacional dos em-

rios e gestores portugueses

presários portugueses - ciep,

espalhados pelos vários conti-

´

iplomatica é licenciado em economia

da União Europeia como a dos EUA em Washington"

Angola acaba de realizar as suas eleições num clima de

Revista

Foto: irina Quintela

com o ministério da economia e

mais: "Sem prejuízo do muito

1948, miguel Horta e costa

anos haja uma capital federal

Embaixador de Malta

2000, pela ciep em parceria

meios aos empresários”.

Nascido a 28 de julho de

"É possível que daqui a muitos

Salv J. Stellini

a apresentação de soluções

que dêem esperança e novos

paz e concórdia e apresenta o mais forte crescimento

económico a nível mundial. Investir neste país que alia o progresso aos recursos naturais é o objectivo dos grandes grupos empresariais

em 1991, que esteve presente

nentes.

pela Universidade técnica de

o conceito de rede, para unir

mi g u e l H o r t a e co s t a r e f e r i u

lisboa, sendo também pós-

e tornar mais profíqua a divul-

no fim da sua intervenção:

-graduado em organização e

gação da importância do papel

" nã o p o s s o d e i x a r d e d i r i g i r

Gestão de empresas, con-

dos muitos milhares de em-

u ma s e n t i d a p a l a v r a d e a g r a -

cluídas nas universidades de

presários portugueses ou luso

d e c i me n t o a t o d o s o s p r e s e n -

birmingham e navarra.

descendentes, que por esse

tes que se dispuseram a vir

na sua experiência profis-

mundo fora têm criado empre-

d e p a r a g e n s ma i s o u me n o s

sional conta com passagens

sas de sucesso. e não tinha

l o n g í n q u a s a li s b o a , c o m s a -

então, como agora tem, signi-

crifício das suas actividades

ficado e reconhecimento; mas

p e s s o a i s e p r o f i s s i o n a i s , ma s

foi-se acentuando a importân-

c o m o h a b i t u a l e n t u s i a s mo e

cia do conceito de rede, com

v o l u n t a r i s mo , p a r a p a r t i c i p a -

a globalização e a interdepen-

rem nestes trabalhos e serem

dência, à medida que o mundo

actores neste projecto. de

se foi tornando mais pequeno.

t o d o s e s p e r a mo s q u e c o mp l e -

do conselho de administra-

desde 2 0 0 4 , a l t u r a e m q u e ,

me n t e m o e s f o r ç o a g o r a f e i t o ,

ção da companhia portugue-

por ini c i a t i v a d a c i e p e c o m

sendo arautos e colaborantes

sa rádio marconi, S.a., e do

a colab o r a ç ã o d a S e c r e t a r i a

na divulgação e sensibilização

por prestigiados cargos

empresariais, tais como, pela

a partilha da língua e a história

produtos farmacêuticos oferecem

comum são as vantagens competiti-

Para Salv J. Stellini, Embaixador de malta, “o objectivo de ter embaixadas em vários

igualmente um grande potencial de

angola e para as relações comerciais entre portugal e angola: o

direcção dos ctt – correios e telecomunicações de

vas mais evidentes para os empre-

investimento.

volume de negócios ultrapassou os

sários portugueses que estão a in-

a aposta de portugal em angola e

400 milhões de euros. portugal foi

vestir num dos mercados de maior

as vantagens das relações econó-

também o país com mais projectos

so. aliás, em relação a recursos humanos, ter diplomatas pressupõe bastante tempo em

crescimento em todo o mundo.

micas entre os dois países foram

de investimento apresentados e

formação e preparação, bem como um alto nível de educação. um pequeno país como

portugal está entre os cinco maio-

debatidas na conferência “investi-

aprovados. para este ano, a previ-

o nosso não dispõe assim de tantos recursos humanos adequados ao desempenho

res investidores do mercado an-

mento público e privado – parce-

são aponta que angola venha a ser

desta função; por isso, temos que racionalizar o número de embaixadas: só em catorze

golano, com especial ênfase nos

rias e Financiamento em angola”,

o primeiro país extracomunitário de

conselho de administração

de est a d o , s e r e u n i r a m p e l a

d o s o u t r o s e mp r e s á r i o s e g e s -

Estados-membros, como a Grã-Bretanha, Dinamarca, itália, alemanha, Grécia... neste

sectores da construção e imobili-

organizada pela câmara de co-

destino das nossas exportações. a

da SibS – Sociedade inter-

1ª vez e m c o n g r e s s o e m li s -

tores, em relação ao prosse-

bancária de Serviços, S.a.;

boa, fo i f e i t o o b a l a n ç o d a s u a

g u i me n t o d e t o d a s a s v e r t e n t e s

pelas administrações da pGa

actuaçã o e o d i a g n ó s t i c o d a s

d o n e t i n v e s t e . Qu e r o , p a r a

necessi d a d e s , s i n t e t i z a d o s

t e r mi n a r , r e i t e r a r a q u i p u b l i c a -

nas co n c l u s õ e s q u e a c i e p f o i

me n t e aAnt o o It a l d i s p o n i b i l i d a d e

manda t a d a p a r a a p r e s e n t a r e

d a c i e p p a200 ra ,8 c o m t o d a s a s 4

defend e r .

partes envolvidas, assegurar a

países da união Europeia tem a ver com proteger ou promover interesses nacionais. no nosso caso não temos embaixadas em todos os países, porque isso é muito dispendio-

momento, Bruxelas, embora não lhe chamemos capital federal, é onde se encontra a

Diploma´ tic a

portugal (director Geral dos

correios); pelas presidências

ário, turismo e banca. No entanto,

mércio e indústria portugal angola

qualidade dos produtos portugue-

outras áreas, como as telecomu-

(ccipa) e pelo banco de Fomento

ses é muito reconhecida, sendo o

nicações e os serviços, também já

angola.

factor diferenciador perante todos

– portugália airlaines, e beS

estão a ser exploradas. as activi-

o presidente da ccipa e repre-

os outros países que também estão

– banco espírito Santo; entre

dades industriais associadas ao

sentante da Galp energia – carlos

a apostar em angola. No entanto, o

dos Eua em Washington com o seu corpo diplomático específico. mas... isso só daqui a

agro-alimentar, à produção de bens

bayan Ferreira – referiu que “o ano

país também tem vontade de produ-

muitos anos!

de consumo, ao equipamento e aos

de 2007 foi muito importante para

zir e de poder vir a exportar para

maioria das instituições da união Europeia”. malta tem cinquenta diplomatas na embaixada em Bruxelas, a maior do ministério dos negócios Estrangeiros, dado que se trata do

centro da uE, onde se debatem assuntos de grande importância para o futuro do país no

seio da Europa. no entanto, para Salv J. Stellini é possível que daqui a muitos anos, se a Europa se transformar em “Estados unidos da Europa”, haja uma capital federal como a

n

outros postos relevantes; é

Vice-presidente executivo do

beS e presidente da ciep.

n

Diplo a1• Junho

Junho/Julho 2008 - Diplomática •

Dossier África/Angola

A Europa dos partidos e a Europa dos cidadãos

n

P

anés . de Esp anh a

Ânge

lo

Corr O Ho dezembro 2008/janeiro eia 2009 - diplomática • 45 mem das Ar ábia s

/Julho

Dossier

E

s u a mi s s ã o d e a p o i a r a i n t e r -

a internacionalização da eco-

Emb

mátic

setembro/outubro 2008 - Diplomática • 23

Junho • Nº1

IBERn a c i o n a l i z a ç ã o d a s e mp r e s a s ISM Enem nomia portuguesa, criada as." riquep o r t u g u e sO a rede de conselheiros para

Fran

ç

2008

a e T Emba urqu ixatriz es co ia nfessa m-se

2

1

Trata

Sul-africanos preparam-se para receber Mundial de 2010 e oferecer turismo de luxo

do d e Lis boa da

O futu ro

s em ba

ixad

as

Quanto à importância da Embaixada do chile em portugal, diz-nos Samuel ossa Dietsch: “as relações chileno-portuguesas alcançaram um nível de exce-

With

lência e entendimento que se destaca pela notável densidade do conjunto dos vínculos, com coincidên-

• Dip lom

cias estratégicas e critérios partilhados que criam

ática

Engli

- Jun ho/

Julho

uma comunidade de interesses, tanto no bilateral

2008

Foto: maria Branco

como no multilateral. o chile, num diálogo político permanente e fluído, está a trabalhar para criar uma

sh & Fren

3

rede de cooperação e aprendizagem recíproca com

4

ch T exts

5

países afins, “like minded countries”, como portugal, que em 20 anos conseguiram o desenvolvimento com o bem-estar para a sua população e alto pres-

Samuel Ossa Dietsch

tígio nos organismos multilaterais, e que hoje cons-

Encarregado de Negócios e 1º Secretário da Embaixada do Chile

tituem uma referência a observar". constata-se uma notória coincidência de posições frente à reforma das nações unidas e um sem-número de apoios em

S

egundo Samuel ossa Dietsch, Encarregado

diversas votações no âmbito multilateral.

de negócios e 1º Secretário da Embaixada

“a ausência de contenciosos e a afinidade existen-

do chile, “portugal tem com a américa latina

te entre ambos os países conduz a que a relação

um vínculo muito especial. não somente está a rela-

bilateral seja fluída e propícia a acordos numa

ção com o Brasil, mas também a relação com outros

ampla gama de assuntos. Destacam-se os esforços

países e especialmente com o meu. na Venezuela e

de ambos os governos por alcançar um alto grau

na argentina há uma numerosa colónia portuguesa

de empatia à volta dos interesses de maior relevo

residente. com respeito ao chile podemos constatar

da contraparte. uma série de importantes acordos

como, desde o regresso à democracia em 1990, os

confirmam a relevância da relação bilateral. Entre

vínculos estreitaram-se de tal maneira que todos

eles, o convénio sobre Segurança Social, que se

os presidentes portugueses efectuaram visitas ao

encontra em vigência desde 1999; o acordo sobre

chile, e os presidentes chilenos também visitaram

protecção Recíproca de investimentos, vigente

portugal. Esperamos que a presidente michelle Ba-

desde 1995; e o convénio para Evitar a Dupla tri-

chellet também o faça num futuro próximo. partilha-

butação internacional, que se encontra em proces-

mos ideais e objectivos. pertencemos à mesma co-

so de ratificação em ambos os países e que fôra

munidade ibero-americana. para nós, portugal tem

assinado por ocasião da visita de Estado do presi-

sido um interlocutor privilegiado na nossa relação

dente Jorge Sampaio ao chile, em Julho de 2005.

com a união Europeia. Esta relação tão estreita não

“nos aspectos comerciais, o facto mais relevante

se pode manobrar desde Bruxelas. São relações

nesta esfera foi a vigência plena do acordo de

bilaterais privilegiadas directas, sem intermediários

associação entre o chile e a união Europeia, que

e daí que esse contacto seja insubstituível e assim

co-ajuda ao esforço".

Arrancou a corrida para o cam-

áreas desportivas, turísticas e de

to da população e da expansão

peonato mundial de Futebol da

exposições. tudo isto com um or-

urbana. a segurança e emergên-

FiFa 2010. a fase de qualificação

çamento a rondar os cerca de 740

cia é outra questão preocupante

começou agora, mas na áfrica

milhões de euros. pela primeira

neste tipo de eventos, mas que o

do sul há muito que o mundial

vez na história da áfrica do sul,

estado assegurará com uma forte

está a ser preparado. Desde a

o país terá estádios especialmen-

cobertura de forças policiais e

escolha deste país africano para

te dedicados ao futebol, já que

paramédicas.

a organização do maior evento

antes, no governo do apartheid,

Não será apenas a diversão mo-

futebolístico do mundo e desde

os estádios eram criados sobre-

mentânea que o mundial prestará

que terminou a última edição

tudo para a prática de râguebi

à população sul-africana. este

desta competição, realizada na

e criquete. claro está que não

investimento do Governo na orga-

alemanha, que os sul- -africanos

poderão apenas ser construídos

nização do campeonato 2010 traz

estádios e complexos desportivos

outros benefícios aos cidadãos,

ros projectos para assegurarem

para a realização de tamanho

assegurando-lhes cerca de 150

a existência de infra-estruturas

evento. a construção de estradas,

mil empregos sustentáveis e uma

necessárias para albergarem o

de acomodamentos e de outras

melhor qualidade de vida.

maior acontecimento desportivo

infra-estruturas são, de igual

o maior evento futebolístico do

em 2010.

modo, importantes, estimando-se

planeta poderá ser também a

localizados em cidades-sede,

que o orçamento total gasto no

grande e a melhor ocasião para

cinco novos estádios estão a

mundial seja de 42 bilhões de eu-

unificar o país e todo o povo da

começaram a encetar os primei-

Assinaturas n

continuará a ser”.

ser construídos e outros tantos,

ros. está, ainda, a ser desenvolvi-

áfrica austral. o campeonato do

já existentes, estão a ser reno-

do um plano piloto para o melho-

mundo está a ser aguardado com

vados. as zonas contíguas aos

ramento da rede de transportes

enorme expectativa e entusiasti-

recintos desportivos estão, tam-

públicos que, simultaneamente,

camente pela comunidade sul-

bém, a ser reconstruídas, com

terá de responder a um aumen-

africana e, como o presidente

6

7

8

1. embaixador da Grécia Spyridon theocharopoulos e mulher 2. embaixatriz de moçambique Glória mkaima, embaixatriz da argélia Sabria boukadoum, paula roque, embaixatriz da tunísia, embaixatriz da Grécia e maria da luz de bragança 3. embaixa-

triz da turquia nurdan turkmen e embaixatriz da argélia Sabria boukadoum 4. embaixatriz do iraque, embaixadora do paquistão Fauzia m. Sana e nadeem malik 5. embaixatriz da china li Feyue 6. embaixatriz da roménia ilena Gafita 7. embaixador do chile Francisco perez-Walker 8. maria da luz de bragança e maria cavaco Silva

30 • Diplomática - setembro/outubro 2008

18 • Diplomática - Junho/Julho 2008

6 Números 35€

dezembro 2008/Janeiro 2009 - diplomática • 71

(ofertaentrevista 1 revista)

Dossier

opinião

12 Números 70€ A Europa dos partidos e a Europa dos cidadãos

(oferta 2 revistas)

Portugal sem Política Externa As consequências do Tratado de Lisboa

por antónio Vasconcelos Graça

envie nomes e moradas para:

Portugal inventou a política ex-

de cada país por si, reflectindo

financeiros ou o casamento de

terna tal como é entendida nos

a natureza e índole própria de

homossexuais, por exemplo?

tempos modernos e no sentido

cada estado. Gostaríamos que

toda a expansão portuguesa,

europeu. o primeiro grande tra-

acontecimentos do passado não

fora da europa, assentou no

balho sobre a matéria chama-se

tivessem ocorrido? sem dúvida.

estabelecimento de pontos de

“os lusíadas”. antes, em tor-

mas isso não é razão para com-

contacto que permitissem o

desilhas, assinámos o primeiro

plexo de culpa, até porque não

comércio e a troca de merca-

tratado de aplicação planetá-

há inocentes.

dorias. para assegurar o bom

ria. Vasco da Gama tinha um

em matéria de comportamen-

funcionamento desse sistema,

destino e estava incumbido de

tos vergonhosos no passado,

houve que conquistar pontos-

uma missão específica onde

é bom não esquecer que, para

-chave, fossem cidades do norte

a componente diplomática era

a mentalidade do tempo, não

de áfrica, o golfo pérsico, locais

primordial. Não foi um viajante

o eram. Que sabemos nós da

estratégicos na Índia ou no

errático como, por exemplo,

forma como vão ser julgados,

extremo oriente. para garantir a

marco polo.

no futuro, muitos dos nossos

segurança desse império a que

Num tempo em que certa “inte-

comportamentos actuais como

o prof. luís Filipe thomaz cha-

ligentzia” lusitana tem vergonha

a falta de valores, o império dos

ma, com lucidez, uma “rede de

de ser portuguesa e tudo faz

interesses materiais, a crise

ligações”. Não é exactamente o

para apagar qualquer vestígio

de autoridade, as calamidades

que se faz hoje? Houve cruelda-

"As 'embaixadas nacionais'

de portugalidade como coisa

desencadeadas pelos negócios

de e barbaridades? claro que

permanecerão e encontrarão

ou

Rua São Bernardo, nº 27 A 1200-823 LISBOA Telefones: 210 999 674 / 210 999 696 ➤

de maneira racional uma

Foto: maria Branco

nefasta, confundindo isso com

diplomatica@gabinete1.pt

“modernidade”, onde só merecem atenção os aspectos negativos do passado (escravatura, inquisição, crueldade, etc.), convém lembrar algumas realidades. porque portugal inven-

forma de cooperação com um serviço diplomático da UE"

Algimantas Rimkunas

tou o comércio global, apontado

Embaixador da Lituânia

hoje como a panaceia para todos os males. e, num planeta cada vez mais apertado para a

Vasco da Gama tinha um

população, o bom entendimento

destino e estava incumbido

entre as nações transforma-se

de uma missão específica

num factor de sobrevivência.

onde a componente

o que conta é o que nos une e

diplomática era primordial.

não o que nos separa. por isso, qualquer política externa tem de ser eficaz, sob o risco de se tornar inútil quer por fora de tempo, quer por inapropriada. por imposição do tratado de lisboa, os países membros da união europeia deixarão de ter

Segundo o Embaixador da lituânia, algimantas Rimkunas, o tratado de

Modo de pagamento: lisboa prevê a criação de uma Europa de Relações Externas, para ac-

ções concretas, que de acordo com o tratado “trabalhará em cooperação com os serviços diplomáticos dos Estados-membros”. pensamos que as “embaixadas nacionais” permanecerão e encontrarão de maneira racio-

• Cheque à ordem de Gabinete1 • Transferência bancária nal uma forma de cooperação com um serviço diplomático da uE.

a Embaixada da lituânia em portugal estabeleceu-se em lisboa há 10

anos – 1998. trata de todo o espectro de relações bilaterais entre os dois

Embaixador Fernando Neves

países: políticas económicas, culturais, etc. no trabalho da Embaixada

face a face com a Embaixatriz Nurdan Türkmen

todas as áreas são igualmente importantes. ambos, lituânia e portugal, são membros da união Europeia e da nato, e este facto prova a im-

É um homem “cool”, como se costuma dizer, “uma

imprescindível leitura unstoppable reading

política externa própria. É complicado, porque aquilo que a

diplomacia europeia foi traçan-

do ao longo dos tempos foi obra

portância do aspecto político do nosso trabalho. a elevada importância

força tranquila”. Muito observador e de espírito fino.

da área económica é evidente: o comércio e os investimentos bilaterais

Parece brincar (e brinca mesmo), estar sempre bem

enriquecem países e nações. por último mas não menos importantes são

disposto e em festa, mas, num traço quase imper-

as relações culturais, que tornam as pessoas da lituânia e portugal mais próximas.

ceptível, deixa escapar algo que diz “O que estarei

n

eu a perder algures, neste momento?”

16 • Diplomática - setembro/outubro 2008

10 • Diplomática - Junho/Julho 2008

10 • Diplomática - Dezembro 2008/Janeiro 2009

www.gabinete1.pt


English texts

Filipe Nyusi From an unknown illustrious to the President of Mozambique Filipe Nyusi, the presidential candidate of Frelimo, has achieved 57.03 percent of the vote, defeating the historical leader of Renamo, Afonso Dhlakama, who obtained 37%. Nyusi is an Engineer and training manager. Before being elected President of Mozambique, he was a university teacher and directed several companies. At the age of 14 Nyusi joined the guerrilla Frelimo in the fight against the Portuguese occupation and the independence of his country.

Giorgio Napolitano, o Presidente de Itália Giorgio Napolitano dá a conhecer as funções que os Presidentes italianos desempenham de acordo com a Constituição e recorda as experiencias que viveu durante os sete anos da presidência (20062013) quer ao nível interno, quer ao nível externo. Numa reflexão sobre o papel da Itália no mundo, Napolitano frisa ter realizado, durante o seu mandato presidencial, 112 encontros com funcionários de governos e embaixadas, e que realizou 75 visitas ao exterior, sendo algumas ao convite de organizações internacionais, como as Nações Unidas, da NATO e do Parlamento Europeu.

Jean-François Blarel, Ambassador of France Mobilization against Ebola The Ambassador of France, Jean-François Blarel, talks about the commitment of France and the European Union in the fight against Ebola. Blarel describes Ebola as an epidemic case that affects several continents. He reminds that only on the African Continent it made more than 4,500 victims.

The Phenomenon Dilma Dilma Rousseff won again the Brazilian Presidential elections. The victory of the candidate of the Workers Party can be understood as an extraordinary effect, when few weeks before the first round of the elections, unsuspected observers predicted the Dilma´s defeat.

After the UE mandates Barroso awarded by the President of Portugal After chairing a decade the European Commission, José Manuel Barroso was awarded by Cavaco Silva with the Grand Order of Infante D. Henrique for services of “extraordinary importance” for Portugal and the European Union.

Barroso makes a positive balance Despite the crisis In his farewell speech, made at the European Parliament plenary session on 21 October, José Manuel Barroso revisited a decade as a President of the European Commission, by reviewing the major events that marked his mandates.

Johana Tablada Ruth de la Torre Ambassador of Cuba in Portugal In an interview, the current Ambassador of Cuba in Portugal defends the culture and social justice as the right way for the freedom of a nation and also dreams of the end of the US boycott on Cuba.

Paul Schmit, Ambassador of Luxembourg Relations between Luxembourg and Portugal Paul Schmit, the Ambassador of Luxembourg in Portugal talks about the more than century-old relations

DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015 - DIPLOMÁTICA • 105


English texts

between the two countries and features the current diplomatic relations as relations of friendship and as

a good starting point to the strengthen trade and the logistics exchanges.

Karima Benyaich, Ambassador of the Kingdom of Morocco The security and the fight against terrorism, the choices of Morocco. The Ambassador of the Kingdom of Morocco in Portugal, Karima Benyaich explains the Moroccan experience in the fight against terrorism and presents the main areas developed by the Kingdom to ensure security, sustainable peace and stability.

Klára Breuer, Ambassador of Hungary Europe: our history and a common destiny Hungary's Ambassador in Portugal, Klára Breuer describe the importance of 2014 for her country. It is the year when the Hungary celebrates the 25th anniversary of the democratic changes and the 15th year of its accession to NATO and the EU.

Ulrich Brandenburg, Germany Ambassador 2014: Past and Present in the relations between Germany and Portugal The Ambassador of Germany in Portugal, Ulrich Brandenburg speaks of relations between the two countries that have been achieved over the centuries, referring to institutions like CCILA as one of many links between the economic operators of both countries.

Ambassador of Tunisia, Saloua Bahri The Ambassador of Tunisia, Saloua Bahri speaks about the path of her country towards a democracy. Tunisia had their free elections last year and is eager to solve their security uncertainties.

Bronislaw Misztal, Ambassador of Poland The bulldozer effects of the XXI Century The Ambassador of Poland in Portugal, Bronislaw Misztal points to the existence of powerful processes affecting the great part of the globe and contribute to the bulldozer effect. Processes such as the diminishing role of the administrative boundaries; the erosion of the regulatory role of international treaties; the insecurity; the violence against civilians with kidnappings and the unemployment. According to the Ambassador these processes are a result of the increasing inequality between nations and national economies.

Thalia Petrides, Ambassador of Cyprus Living in Portugal, a wonderful experience The Ambassador of Cyprus, Thalia Petrides gave her impressions about Portugal, its culture and citizens. Petrides spoke about her photographic project, exhibited at the Museum of the Presidency of the Republic, a project which was attended by ambassadors from thirteen countries (Angola, Bangladesh, Bulgaria, Cabo Verde, Cyprus, United Arab Emirates, France, Italy, Japan, Latvia, Luxembourg, Morocco and Serbia).

Cavaco Silva visits the United Arab Emirates The President of Portugal, Aníbal Cavaco Silva, visited the UAE in order to promote the political dialogue and to strengthen economic relations between the two countries. Due to the annual growth of the Emirates, which is around 5 per cent, the President believes that Portugal cannot ignore a market in such large expansion.

106 • DIPLOMÁTICA - DEZ. 2014 / FEVEREIRO 2015


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