Conexão Fachesf nº 5

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índice

Ponto de Vista | 6

Luiz Ricardo da Câmara Lima

Especial | 8

No meio do caminho havia uma crise

Artigo | 14

Rogério Cardoso

Teste | 15

Você sabe tudo sobre previdência? Parte II

Seu dinheiro | 17

Supermercado: fuja das tentações do consumo

Artigo | 21

Maria Elizabete Silva

No consultório | 22

O perigo pode morar dentro das farmácias

Pergunte ao doutor | 26

Previna-se contra o HPV

Educação Previdenciária | 27 Você sabe o que é atuária?

Fachesf-Saúde | 30

Missão: investigar gastos com a saúde

Foco no participante | 32

A arte e a ciência de tratar crianças

Gestão e Planejamento | 35 Pesquisa de Satisfação

Mundo Animal | 38

Livres para voar

Artigo | 42

Synara Rillo

Cultura e Lazer | 43

Cem anos sob os encantos de Rachel

Central de Relacionamento | 46

Martinha em: 24 horas no ar


[expediente]

edit Revista Conexão Fachesf Editada pela Assessoria de Comunicação Institucional [Editora Geral] Laura Jane Lima [Editora Executiva e Textos] Nathalia Duprat [Fotografia] Acervo Fachesf [Estagiária de Jornalismo] Gabriela Santana [Colaboraram nesta edição] Naide Nóbrega, com as matérias: Supermercado - fuja das tentações de consumo, O perigo pode morar dentro das farmácias e Você sabe o que é atuária? Maria Queiroga, produção, fotografia e textos. [Comissão de Pauta] Laura Lima, Nathalia Duprat, Valcenir Lisboa, Wanessa Cysneiros, Rômulo Siqueira.

[Tiragem] 11 mil exemplares [Redação] Rua do Paissandu, 58 – Boa Vista Recife – PE | CEP: 50070-210 Telefone: (81) 3412.7508 / 7509 [E-mail] conexao@fachesf.com.br Fundação Chesf de Assistência e Seguridade Social | Fachesf Clayton Ferraz de Paiva · Presidente Luiz Ricardo da Câmara Lima · Diretor de Adm. e Finanças Maria da Salete Cordeiro de Sousa · Diretora de Benefícios [Projeto Gráfico e Diagramação] Corisco Design [Diagramação] Fátima Finizola [Ilustrações] Damião Santana (p. 8, 9, 11, 30, 43), Leandro Lima (p. 15, 22, 27, 29, 43), Júlio Raphael Klenker (17, 19, 38, 41). [Impressão] Gráfica MXM

* Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Conexão Fachesf. ** O Participante Ativo que quiser receber sua revista em casa, deve solicitar através do e-mail conexao@fachesf.com.br.


torial

Nossos valores, sua satisfação No último mês de abril, em comemoração aos seus 38 anos de existência, a Fachesf lançou uma promoção para ouvir dos Participantes qual, entre os dez Valores da Fundação, eles consideravam o mais importante. Não foi com surpresa que recebemos o resultado: para 32% de todos aqueles que responderam a enquete, o Foco no Participante foi apontado como o principal Valor (em seguida, vieram Ética, Comprometimento, Competência, Responsabilidade Social, Transparência, Participação, Perenidade, Solidariedade e Integração).

Para nós, que fazemos a Conexão Fachesf, a notícia fortaleceu ainda mais nossa crença de que, assim como a Fundação deve priorizar os seus Participantes, um veículo de comunicação deve ser focado primeiramente nos interesses de seu público, buscando sempre proporcionar uma leitura de qualidade, capaz de oferecer informações atualizadas, novos conhecimentos e entretenimento. E é isso que nós buscamos trazer para vocês a cada edição desta revista.

Você também vai aprender diversas dicas de como se comportar no supermercado para fugir das armadilhas do consumo e evitar um susto na hora da compra, além de conhecer mais uma etapa importante do orçamento financeiro doméstico: o estabelecimento de metas. Nas editorias de saúde, trazemos um alerta sobre os perigos da automedicação e um guia para você entender o que é o HPV, uma doença que infecta 137 mil novas pessoas a cada ano no País. E dando continuidade à serie iniciada no número anterior, quando obteve um total de 74 respostas, a Conexão Fachesf convida seus leitores a participar de um novo teste sobre previdência. A iniciativa visa estimular a consciência previdenciária de todos e permite-nos acompanhar a evolução do conhecimento adquirido através das nossas matérias e reportagens. Para finalizar a edição, que conta ainda com diversos outros temas, vamos comemorar juntos o centenário da escritora cearense Rachel de Queiroz, e descobrir como é possível admirar a beleza do canto dos pássaros sem usar estratégias como cativeiro, gaiolas ou armadilhas. Esperamos que você aprecie a dica e tope viajar pela natureza, percebendo as aves com um novo olhar. E depois, claro, conte-nos como foi.

[Nasce uma ideia, cresce uma parceria] Neste número, por exemplo, vamos falar um pouco sobre algo muito comum no universo de pessoas que já passaram dos 40 anos: a chamada crise da meia-idade. Afinal, será que ela de fato existe? E como saber quando se está vivendo um período de tensão próprio dessa faixa etária? É possível atravessar a fronteira que separa a juventude da terceira idade sem sofrer? Essas são apenas algumas das perguntas que tentaremos responder.

Boa Leitura! Laura Jane Lima | Editora Geral

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“Uma Fachesf sólida” Entrevistado | Luiz Ricardo da Câmara Lima

Embalada pelos bons resultados alcançados no ano passado, a Fachesf caminha para um balanço positivo no primeiro semestre de 2010. Essa é a visão do diretor de administração e finanças da Fundação, Luiz Ricardo da Câmara Lima. Segundo ele, grande parte desse mérito é fruto de uma Política de Investimentos consistente, capaz de garantir não apenas a segurança do patrimônio da entidade, mas seu crescimento como um todo. Para falar sobre esse cenário financeiro e apontar quais as perspectivas para o futuro, a Conexão Fachesf conversou com o dirigente.

CF | A Fachesf divulgou recentemente que obteve, em 2009, uma rentabilidade nominal de 23,92% nos investimentos. Qual foi a estratégia para conseguir um resultado tão expressivo? CL | Nossa estratégia foi manter a paciência, característica essencial para quem trabalha com o mercado financeiro. No ano passado, depois do

desastre da bolsa em 2008, quando vivenciamos uma queda de 41,27% e todos achavam que o mundo financeiro estava acabando, esperamos o desenrolar do mercado e mantivemos nossa posição na renda variável. A escolha foi acertada e nos rendeu bons resultados, pois a bolsa se recuperou e obteve um crescimento anual de 82,66%.


CF | A rentabilidade real, por outro lado, foi de 18,95%. Ou seja, abaixo da nominal. O que esses índices representam e qual é a diferença entre os dois tipos de rentabilidade (nominal e real)? CL | A rentabilidade nominal equivale ao rendimento líquido de todos os investimentos, enquanto a rentabilidade real é a nominal menos a meta atuarial (o quanto precisamos ter em determinado ano para honrar o compromisso com nossos Participantes). Em 2009, nossa meta (IGP-M + 6% ao ano) ficou em 4,18%. Assim, quando descontamos 4,18% de 23,92% (rentabilidade nominal), temos 18,95% de rentabilidade real, um montante livre da nossa obrigação com os Participantes em 2009. CF | No ano de 2009, o patrimônio de investimento da Fachesf atingiu o montante de R$ 4,07 bilhões e o superávit foi da ordem de R$ 328 milhões. Na prática, o que isso significa?

Investimentos segue as recomendações dos estudos de alocação de recursos, elaborados por consultoria externa, e tem o objetivo de realizar o casamento do Ativo (patrimônio) com o Passivo (obrigações) da entidade. Ao longo dos últimos anos, as estratégias e diretrizes estabelecidas por nossa Política vêm demonstrando que estamos no caminho certo. Para que o Participante possa ter uma ideia, no final do ano de 2003, a Fachesf atingiu R$ um bilhão no seu patrimônio de investimentos; apenas seis anos depois, esse número já é superior a R$ 4 bilhões – um crescimento bastante significativo de mais de 300%.

“Ao longo dos últimos anos, as estratégias e diretrizes estabelecidas por nossa Política vêm demonstrando que estamos no caminho certo.”

CL | Isso significa que tudo que os Participantes investiram na Fachesf, somado ao rendimento que foi obtido dos investimentos realizados pela administração, resultou, em dezembro, em um patrimônio de R$ 4,07 bilhões. Podemos dizer que é como se fosse uma poupança dos Participantes. Desse dinheiro, se a Fachesf tivesse que pagar, em dezembro do ano passado, todos os seus compromissos de uma única vez, ainda sobraria o equivalente a R$ 328 milhões para distribuir com seus associados. CF | E a Política de Investimentos da Fundação, como está sendo conduzida? CL | A Fachesf, como todos os demais 369 fundos de pensão do Brasil, é obrigada pela legislação a estabelecer anualmente a sua Política de Investimentos para o atual exercício. O documento dá o norte do que vamos, podemos e devemos fazer para atingir o nosso maior objetivo, que é o de pagar a suplementação dos aposentados da Fundação. Nossa Política de

CF | Quais são as expectativas da Fachesf para os próximos anos? Será possível manter a mesma performance positiva?

CL | Em 2010, esperamos dar continuidade a esse ritmo, porém de modo um pouco mais moderado. Conforme sinaliza a voz do mercado financeiro, o momento é de cautela devido à possibilidade de crescimento na taxa de juros e ao ligeiro aumento do câmbio e da inflação. Além disso, estamos nos preparando para atuar numa economia real que, nos próximos anos, tenderá a oferecer muito maior rentabilidade do que simplesmente os juros dos Títulos Públicos. Precisamos estar atentos para aproveitar as oportunidades com prudência, dedicação e profissionalismo. E para isso, manteremos as estratégias que têm dado certo até agora: estudar o comportamento do mercado, interagir com nossos gestores externos, participar de eventos técnicos e buscar informações atualizadas sobre o movimento e as tendências do mercado global. O Participante pode ficar tranquilo quanto ao seu futuro de curto, médio e longo prazo, pois a Fundação é uma entidade sólida, administrada com muito profissionalismo, responsabilidade e cautela.

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No meio do caminho havia uma crise Se você já ultrapassou a casa dos 40, certamente já ouviu falar de mim. Não tenho dia ou hora exata para aparecer. Às vezes, chego de forma sorrateira, quase tímida; noutras, de modo intenso, tirando ideias e sentimentos do lugar. Não sigo nenhuma regra. A única certeza é de que tento atingir todo mundo. Às vezes, consigo. Outras, não. Depende da forma como cada um me encara. Você sabe quem sou? Muito prazer, sou a crise da meia-idade.


Atravessar a fronteira que divide a juventude da terceira idade não é um processo simples. Nessa faixa etária, que vai geralmente dos 40 aos 60 anos, é comum as pessoas se sentirem intranquilas com a própria vida, insatisfeitas com a carreira profissional e com medo do futuro. Afinal, a saúde já não é mais a mesma, o corpo aparenta sinais de cansaço e muitas das expectativas imaginadas na juventude ficaram para trás. Intitulada de crise da meia-idade, essa fase é caracterizada por apresentar sentimentos de estagnação, pessimismo e desânimo, frutos de uma tomada de consciência da finitude humana e do fato que o tempo não volta atrás. O aparecimento da menopausa (encerramento da menstruação) nas mulheres, e da andropausa (diminuição da função sexual) nos homens também contribui para a noção do próprio envelhecimento e para a sensação de que não será mais possível realizar o que ainda se deseja.

Ângela Leal

Foto | Divulgação

Segundo Ângela Leal, psicóloga e consultora em projetos de vida, os primeiros impactos dessa faixa etária surgem diante do espelho, quando a imagem de si mesmo já não é igual a de anos atrás. “As limitações físicas impostas pela idade começam a chamar atenção. Principalmente porque vivemos em uma sociedade que cultua a juventude. É como se o mundo inteiro fosse voltado para os mais novos”, explica.

“As limitações físicas impostas pela idade começam a chamar atenção. Principalmente porque vivemos em uma sociedade que cultua a juventude. É como se o mundo inteiro fosse voltado para os mais novos”.

Tamanho preconceito social, complementa a psicóloga, leva as pessoas a se sentirem desconfortáveis em assumir a própria idade, temendo ser vistas como ultrapassadas. As mulheres, nesse sentido, são as maiores vítimas, pois, ao longo dos anos, formou-se no inconsciente coletivo a ideia de que, nessa etapa da vida, os homens associam a manutenção de sua jovialidade e virilidade a uma companheira mais jovem.

Comportamento Esse pensamento, associado às pressões da mídia pelo culto à beleza, tem levado milhares de mulheres em todo o mundo a uma eterna busca por uma imagem perfeita, ignorando aspectos fundamentais da idade. Ansiosas por mudanças rápidas, elas apelam para aplicações de botox, remédios para emagrecer e intervenções estéticas que nem sempre acarretam resultados positivos e, em muitos casos, são responsáveis por um estado permanente de ansiedade e insatisfação pessoal. Prova disso é a segunda posição ocupada pelo Brasil no ranking mundial de cirurgias plásticas. Segundo dados da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (ABCP), o setor nacional movimentou, em 2008, cerca de R$ 2 bilhões. Estudos realizados pelo Instituto Data Folha revelaram que, no País, 73% desses procedimentos são de caráter estético, sendo apenas 27% do tipo reparador ou reconstrutor. No caso dos homens, a meia-idade normalmente se apresenta como uma inquietação mental diante da ideia de que a vida, enfim, chegou em sua metade e, por essa razão, resta pouco tempo disponível para realizar tudo o que ainda é considerado pendente. Esse sentimento muitas vezes é o estopim para uma mudança radical, cujo objetivo é tentar recuperar os hábitos do passado e parecer jovem novamente, seja relacionando-se com pessoas mais novas, mudando a maneira de se vestir ou adotando um comportamento juvenil. Tal transformação, porém, na maioria dos casos, ocorre de forma superficial, pois é encarada mais como uma tentativa imediata de resolver a situa-


ção do que fruto de uma profunda autorreflexão. Seu resultado, obviamente, não traz a situação almejada e pode ocasionar um efeito devastador na vida pessoal do indivíduo e de seus familiares, que acabam ficando para trás. Para homens e mulheres que, no entanto, atingem essa faixa etária tendo alcançado grandes conquistas profissionais e pessoais – família estável, filhos criados e profissão organizada –, a crise tende a se manifestar como uma sensação de vazio e incerteza do que vai acontecer dali por diante, uma vez que as etapas mais importantes da vida já teriam sido cumpridas. É o momento do “e agora, o que fazer?”. A questão financeira também ocupa um papel de destaque na meia-idade, pois as pessoas costumam acreditar que na sua fase pós-trabalho haverá, de alguma forma, dinheiro o suficiente para bancar uma vida confortável, deixando de lado qualquer preocupação com a formação de reservas. Diferentemente dos países mais desenvolvidos, onde a poupança com fins previdenciários é comum, no Brasil, somente agora a prática de fazer orçamentos pessoais e planejar a vida pós-aposentadoria começa a ganhar força.

Transformações Apesar dos sentimentos desanimadores que costumam despertar nessa faixa etária, a mudança no estilo de vida da sociedade nos dias atuais sugere que as coisas não precisam ser tão negativas assim. Com o aumento da expectativa de vida no País – 72,8 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, os brasileiros estão percebendo que é possível entrar nessa etapa com mais energia e consciência de si mesmos. Prova disso é a maior atenção dispensada aos cuidados com a própria saúde. Depois de gerações mergulhadas em má alimentação e sedentarismo, percebe-se uma preocupação crescente com hábitos saudáveis, exercícios físicos e prevenção de doenças, como diabetes e hipertensão, segundo aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE em convênio com o Ministério da Saúde (dados de 2008).

Outro forte indicador nesse sentido é a aposentadoria cada vez mais tardia, algo que não acontecia até a geração passada, quando um trabalhador de 45 anos já entrava na reta final para a saída da vida laboral por ser considerado ultrapassado para o mercado; hoje, nessa idade, muitos estão no auge da carreira. Para a psicóloga Ângela Leal, isso ocorre porque as empresas estão percebendo o valor dos mais velhos, cuja maturidade e experiência, quando aliada ao espírito inovador dos jovens, traz benefícios para o crescimento dos negócios. Os ventos, enfim, parecem soprar de modo favorável.

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Maria Geruza Bezerra A Participante Assistida Maria Geruza Bezerra de Freitas é um exemplo de quem passou pela meiaidade sem se deixar abater. Hoje, aos 62 anos, ela conta o que a faz encarar essa etapa da vida com naturalidade e alto astral. “Até hoje, só sinto que tenho 62 anos quando preciso dizer minha idade. Nunca me angustiei com o fato de que cedo ou tarde envelheceria e acho que foi essa aceitação que me possibilitou chegar aqui tão bem. Não entendo quem passa a vida buscando ideais de beleza ou felicidade. Meu lema sempre foi cuidar de mim, comer de forma saudável e manter o equilíbrio. Nunca fiz cirurgias plásticas ou quis aparentar a idade que não tinha. Costumo dizer às minhas filhas que todas as fases da nossa vida são maravilhosas, desde que saibamos entender e aproveitar cada uma delas. Há alguns anos, tive um sério problema nos pés e os médicos queriam me aposentar. Fiz 43 cirurgias e ouvi que nunca mais andaria novamente. Quando a tristeza ousou bater em minha porta, dei um puxão de orelhas em mim mesma e resolvi que lutaria até o fim. Com dedicação ao tratamento e muita perseverança, superei a doença. Eu me senti tão abençoada por Deus que, tempos depois, quis retribuir o bem que havia recebido: foi quando tive a oportunidade de ajudar um conhecido, doandolhe um rim. Meus familiares não aceitaram a decisão, mas nunca me arrependi. Acho que é a nossa cabeça quem manda em tudo, então o que não posso mudar tento aceitar e administrar da melhor forma. Em 1998, pedi minha aposentadoria da Chesf. Saí como havia programado, tranquila e satisfeita com minha nova condição. Foi o coroamento de uma vida inteira dedicada ao meu projeto pessoal. Hoje faço tudo o que quero: comecei um curso de pintura, que era meu grande sonho, e pretendo viajar bastante. Não tenho tempo para pensar em idade.”


Sobrevivendo à crise Não há regras ou receitas para atravessar a meia-idade sem crise. Mas ter consciência da própria maturidade e saber utilizar a experiência adquirida durante a juventude como fator positivo é um diferencial na hora de viver as situações próprias da faixa etária. Além disso, algumas pequenas mudanças de comportamento ajudam a passar pelo período de forma leve e sem sofrimento.

Encare a nova fase como um recomeço para o corpo e para a alma: planeje seus próximos projetos e siga adiante. Faça exames de rotina, invista em uma alimentação balanceada e pratique exercícios físicos regularmente. Procure entender o ritmo do seu corpo e não exija de si mesmo mais do que é capaz de fazer.

Descubra atividades que lhe deem prazer; não foque sua vida apenas no trabalho. Cuide com carinho de sua aparência, mas não faça disso uma escravidão: o mais importante é viver em harmonia. Durma bem, pois é nessa hora que o organismo recupera suas energias e garante descanso para o corpo e a mente. Faça amizades. Estar cercado de pessoas queridas é a melhor receita para manter o altoastral e a alegria. Mantenha o bom humor. Quem sabe rir de si mesmo encara a vida com mais leveza e menos seriedade. E, por fim, não tenha medo de envelhecer. Juventude não tem a ver somente com idade, mas com a forma como se percebe o mundo e as pessoas ao seu redor.

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E essa tal de desaposentação? Rogério Cardozo A Lei 8.213/91, em seu texto original, previa o pagamento de um pecúlio para aqueles segurados que continuassem trabalhando. O segurado receberia, pois, na forma de pagamento único, o total corrigido das contribuições vertidas à Previdência Social após sua aposentadoria. O texto ratifica os entendimentos anteriores da Lei 3.807/60 e do Decreto 83.080/79, nos seus artigos 91 e 95.

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O objetivo deste artigo é apresentar aos leitores da Conexão Fachesf um novo conceito que está causando muita polêmica no Sistema Previdenciário. Trata-se da desaposentação: o ato em que o segurado renuncia a uma aposentadoria já concedida, em troca de outra mais vantajosa, desde que tenha continuado a contribuir para a Previdência, mesmo depois de oficialmente aposentado. Como isso é possível? Vamos lá! Tomemos como exemplo um segurado que se aposentou proporcionalmente com 30 anos de tempo de contribuição e continuou a recolher por mais cinco anos. Se ele desejar, poderá renunciar à aposentadoria anterior e requerer a nova aposentadoria de 35 anos. O mesmo raciocínio vale para quem se aposentou com 35 anos de contribuição e 50 anos de idade. Em ambos os casos, quando solicitada, a chamada desaposentação evita que o Fator Previdenciário aplicado reduza muito o valor do benefício, sendo substituído por uma condição mais favorável para o segurado. Administrativamente, entretanto, o INSS nega pedidos dessa natureza, alegando que não existe amparo legal para concedê-los, uma vez que a aposentadoria é um ato irrenunciável. É aqui que entra o “X” da questão: se não há a concordância da lei, também não existe a proibição, o que, em tese, permitiria o processo.

Com o advento das Leis 8.870/94 e 9.129/95, o pecúlio foi revogado. Em seu lugar, foi determinada a cobrança da contribuição, anteriormente citada apenas de forma genérica na Lei 8.121/91 (Plano de Custeio da Previdência Social). Assim, de uma só vez, acabaram com um benefício e reforçaram a obrigatoriedade da contribuição sem qualquer contrapartida. Com o fato, a desaposentação começou a tomar corpo, chegando aos dias de hoje com mais de 20.000 ações abarrotando os diversos Tribunais Federais. O aspecto econômico é o maior problema a ser resolvido. Deverão ser devolvidos os valores percebidos através da primeira aposentadoria? Como se portaria o equilíbrio financeiro da Previdência Social? As decisões são as mais diferentes possíveis e a questão ainda não foi pacificada, embora haja uma tendência no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela não devolução dessas quantias. Do ponto de vista da legislação, foi aprovado, no final de 2008, um Projeto de Lei que regulamentava a desaposentação. O Presidente Lula, porém, vetou-o integralmente. Algumas outras tentativas parlamentares já estão sendo discutidas no Congresso, mas ainda não é possível prever uma decisão imediata. Enquanto o Executivo e o Legislativo não chegam a um acordo sobre a regulamentação de tal instituto, o judiciário o faz através da interpretação de leis e decretos – o que leva tempo para um acordo comum. Diante de tudo isso, o segurado que tiver interesse em promover uma ação desse tipo deve se preparar: provavelmente será uma longa disputa judicial que levará, no mínimo, dois anos e irá até a última estância de decisão do judiciário, o STJ.


Você sabe tudo sobre

previdência? PARTE II

Dando continuidade à série de testes sobre previdência iniciada na edição anterior, a Conexão Fachesf traz uma nova oportunidade para você medir seus conhecimentos sobre o assunto e ainda concorrer a brindes.

1. Qual é a área do Governo Federal responsável pela fiscalização das Entidades de Previdência Abertas (bancos e seguradoras) e Fechadas (fundos de pensão)? As Entidades Abertas são subordinadas à SUSEP/Ministério da Fazenda e as Fechadas, à PREVIC/Ministério da Previdência As duas entidades são subordinadas à SUSEP/Ministério da Fazenda As duas entidades são subordinadas à PREVIC/Ministério da Previdência Não sei responder 2. Quais os tipos de Planos de Previdência administrados pela Fachesf?

Responda às perguntas a seguir, destaque a página e encaminhe-a para a Assessoria de Comunicação Institucional da Fundação ou Agência mais próxima. Todos os Participantes que enviarem seus questionários concorrerão a prêmios, independentemente da quantidade de acertos, além de receberem em casa as respostas corretas.

Plano de Benefício Definido – BD (fechado para novas adesões); Plano Saldado de Benefícios – BS (fechado para novas adesões) e Plano de Contribuição Definida – CD Plano de Benefício Definido – BD (fechado para novas adesões); Plano Saldado de Benefícios – BS (fechado para novas adesões) e Plano de Contribuição Variável – CV Plano de Benefício Definido – BD (fechado para novas adesões) e Plano de Contribuição Definida – CD Não sei responder

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3. Quando o Plano de Benefício Definido – BD foi fechado para novas adesões?

6. Quais são os benefícios oferecidos pelo Plano CD?

O Plano BD foi fechado em junho de 2001 com a criação do Plano CD

Aposentadoria Normal, Aposentadoria Antecipada e Benefício por Incapacidade (auxílio doença e invalidez) Aposentadoria Normal, Aposentadoria Antecipada e Pensão por Morte Aposentadoria Normal, Aposentadoria Antecipada, Benefício por Incapacidade (auxílio doença e invalidez) e Pensão por Morte Não sei responder.

O Plano BD foi fechado em junho de 2003 com a criação do Plano CD O Plano BD foi fechado em setembro de 2001 com a criação do Plano CD Não sei responder

4. Qual o valor mínimo de contribuição básica mensal que pode ser feita pelos Participantes? A contribuição mínima é 2,5% do Salário de Participação A contribuição mínima é 2% do Salário de Participação A contribuição mínima é de 3% do Salário de Participação Não sei responder

7. O que é Portabilidade? É o instituto que permite que sejam feitas contribuições adicionais na conta do Participante É o instituto que permite ao Participante a transferência dos recursos acumulados de um plano de previdência para outro, desde que respeitados alguns requisitos regulamentares As duas alternativas acima estão corretas Não sei responder

5. Quando o Participante pode requerer o Autopatrocínio? Quando, ao romper o vínculo empregatício com a Chesf ou a Fachesf, o Participante optar por continuar no Plano CD. Nesse caso, ele passa a pagar sozinho as suas contribuições e as da Patrocinadora. Quando, ao romper o vínculo empregatício com a Chesf ou a Fachesf, o Participante optar por continuar no Plano CD. Nesse caso, ele passa a pagar sozinho apenas as suas contribuições. Quando, ao romper o vínculo empregatício com a Chesf ou a Fachesf, o Participante optar por continuar no Plano CD. Nesse caso, a Patrocinadora passa a pagar sozinha as contribuições para o Plano. Não sei responder

8. No ano de 2007, a Fachesf instituiu o Dia do Participante. A data foi criada com o objetivo de aproximar a Fundação de seus Participantes e resgatar a memória histórica da entidade. Em que data esse dia é comemorado? 10 de abril 10 de setembro 3 de setembro Não sei responder


Produtos bons, promoções imperdíveis, embalagens atraentes e aquele carrinho enorme e vazio na sua frente. Nos corredores das lojas, tudo converge para que o consumidor muitas vezes perca seus limites e acabe gastando mais do que deve. Mas não se engane: nada disso acontece por acaso.


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Isso acontece porque dentro da loja o consumidor é bombardeado de todos os lados por artifícios de marketing que o estimulam a comprar mais, sem perceber que está ultrapassando seus próprios limites. Incentivado pela grande variedade de produtos e propagandas, o indivíduo se deixa levar pelas tentações criadas para atrair sua atenção e age de modo impulsivo, levando mais itens do que havia programado. Prova disso é o fato de 85% das decisões de compra dos brasileiros serem realizadas no próprio ponto de venda. Para entender como isso funciona na prática, faça um teste na próxima vez em que for a um supermercado. Observe a disposição dos produtos, a sinalização das prateleiras, o cheiro delicioso de café oferecido por simpáticas promotoras. Fique atento também para a organização das gôndolas, os anúncios com artistas famosos da TV, as cores vibrantes de frutas e verduras e a incrível variedade de opções que parece saltar aos olhos em cada seção. Ao analisar todos esses itens, é possível refletir e começar a entender que cada um deles é utilizado com o único objetivo de despertar no público o desejo pelo consumo. E isso vale desde a entrada do estabelecimento até as ofertas disponíveis nos caixas: de pé na fila enquanto aguarda longos minutos até chegar a sua vez, o cliente é seduzido por DVDs, revistas, chocolates, lâminas de barbear e diversos outros produtos convenientemente dispostos ao alcance de suas mãos. Um exemplo clássico de estratégia de marketing nos supermercados é a colocação de bens de primeira necessidade (pão e carne, por exemplo) sempre no fundo das lojas. Isso induz as pessoas a percorrer diversos corredores e, inevitavelmente, colocar na cesta algo que não estava previsto.

João Cavalcanti

Qual sua rotina de compras no supermercado? Uma vez por semana ou uma vez por mês? Apenas o necessário ou os supérfluos também são incluídos? Preferência por marcas favoritas ou produtos em promoção? Sejam quais forem as respostas para essas perguntas, você certamente já sentiu a péssima sensação de tomar um susto ao saber do valor final das suas compras.

“Deve-se tomar cuidado para não exagerar em supérfluos como lanches, que tendem a aumentar o consumo mensal”. Para burlar tais interferências e não se deixar levar pelas tentações de consumo, é preciso tomar alguns cuidados básicos antes de ir ao supermercado. Segundo João Cavalcanti, professor de Economia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e analista econômico do SEBRAE/PE, a simples prática de fazer uma lista prévia, por exemplo, ajuda a escolher bem o que é colocado dentro do carrinho. Caso a decisão seja por compras semanais, devese estabelecer na relação uma quantidade suficiente de itens para esse período, analisando o que já há estocado na geladeira e armários. “Se as compras forem mês a mês, basta multiplicar os produtos por quatro, tomando cuidado para não exagerar em supérfluos como lanches, que tendem a aumentar o consumo mensal”, esclarece o analista. Uma outra dica importante é não ir ao supermercado com fome. Quando a barriga está vazia, todas as guloseimas parecem mais atraentes e aumentam a conta final. Diante desses produtos, crianças também se tornam um alvo fácil, pois são mais influenciadas por apelos visuais, principalmente de doces e salgadinhos, e induzem o comportamento dos pais. Sempre que possível, portanto, é desejável mantê-las longe de tantas tentações. Na hora de decidir o que levar, as promoções merecem uma atenção especial do consumidor. Apesar de serem excelentes oportunidade


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para economizar dinheiro e estocar produtos, devem ser vistas com cautela, pois em muitos casos levam as pessoas a comprar mais do que podem consumir. João Cavalcanti recomenda que apenas itens essenciais, de uso frequente e amplo prazo de validadar grandes quantidades de produtos perecíveis nos faz consumir mais do que o normal, como forma de evitar desperdícios. No fim das contas, não economizamos nada.”

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Rotina O engenheiro eletricista Daniel Porto Carreiro Paes de Lira, Participante Ativo da Fachesf, entende bem a importância de padrões de comportamento dessa natureza. Para ele, que mora sozinho e vive grande parte do seu tempo em viagens a serviço da Chesf, ter um planejamento é essencial para acertar no que traz do supermercado, evitando ao máximo os exageros que tanto pesam no bolso.

maior, pois é necessário aprender a se planejar e a suspender e reativar o funcionamento da casa de forma rápida e prática”. O Participante admite, no entanto, que nem sempre foi organizado assim. A aprendizagem veio somente com algum tempo e muito esforço. “Antigamente eu fazia a feira prevendo uma a duas semanas de consumo em casa, mas de repente era enviado para uma viagem, sem saber quando voltava. As comidas perecíveis logo acabavam no lixo; frios de consumo imediato, como queijo e presunto por exemplo, viravam colônias de fungos”, revela. Em sua primeira compra no supermercado, ele lembra que chegou em casa seis horas mais tarde, exausto, com dois carrinhos lotados e perguntando a si mesmo onde guardaria aquilo tudo. Seis meses depois, ainda restava muita coisa estocada nos armários, a maioria fora do prazo de validade. Resultado: diversos produtos jogados no lixo e um grande desperdício de dinheiro. Mas foi dessa experiência negativa que Daniel Lira aprendeu a não se deixar envolver pelos impulsos e a nunca mais sair de casa sem uma lista, o que evita não somente os excessos, mas o esquecimento de outros itens necessários.

Com bom humor, Daniel Lira diz tirar de letra essa tarefa, que deixa boa parte dos administradores domésticos, sobretudo pessoas solteiras, de olhos arregalados: “Haja jogo de cintura para me organizar! Morar só, trabalhar e estudar já requer muita ginástica financeira, mental e física. Mas para quem passa longos períodos fora, como eu, isso ganha uma dimensão ainda

Hoje o Participante é uma espécie de consultor para os amigos e sabe que fazer compras de forma consciente e objetiva é uma questão de prática: basta ter equilíbrio e um planejamento básico para não acumular coisas ou mesmo ficar sem elas. É como uma dança complicada, mas que pode ficar mais fácil a cada dia.


Consumo Faça uma lista de compras que deve funcionar como seu guia durante todo o trajeto dentro do supermercado. E não se esqueça de considerar a casa inteira em sua relação, pois materiais de limpeza, itens de manutenção e acessórios podem passar despercebidos. O pano de chão não nasceu cinza, a vassoura não sofre de calvície e a esponja de lavar pratos não é eterna, por isso devem ser repostos periodicamente. Fique sempre atento aos prazos de validade. No caso das pessoas que moram sozinhas e viajam bastante, quanto maior o prazo de validade, melhor. Cuidado com promoções. Principalmente dos produtos com validade curta e de consumo imediato. Todo mundo fala, mas quase ninguém segue: não faça compras com fome. Passear entre gôndolas com o estômago vazio pode desequilibrar a relação entre necessidade e desejo. No caso de viajantes frequentes, uma lei é obrigatória: produtos mais perecíveis não devem ser comprados em quantidade. Nesse caso, vale solicitar serviços de entrega ou fazer pequenas compras em mercearias próximas de casa (principalmente de frutas, legumes e verduras). A geladeira é sua amiga. Quando necessário, congele fatias de queijo e outros frios para consumi-los devagar. Isso evita muitas idas ao supermercado e contribui para a saúde do bolso. O forno de micro-ondas também é um aliado; com ele é possível transformar alimentos congelados em refeições decentes, de maneira rápida e em porções pequenas. Procure ir ao supermercado em horários menos lotados, pois passar muito tempo na fila do caixa, além de desgastar seus neurônios, células cardíacas e humor, estimula o consumo impulsivo dos produtos próximos aos caixas. Dicas do Participante Daniel Porto Carreiro


A importância de definir metas Maria Elizabete Silva É preciso ter em mente, portanto, que planejar bem as finanças tem que ser um hábito e exige a realização de um automapeamento que permita a cada um entender o próprio comportamento diante do consumo e analisar até que ponto esse ato aproxima-o ou afasta-o de uma boa relação com o dinheiro.

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tabilist Silva · Cceonira da Fachesf te e b za li E a ri Ma -finan onômico gerente

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Nesta edição, chegamos a um importante momento da série sobre orçamento familiar. A partir de agora, precisamos refletir a respeito do aspecto humano que faz parte desse tema e nivelar entendimentos que nos permitam responder às seguintes questões: qual o total das minhas despesas? Quanto vou receber? Para onde está indo o meu dinheiro? Qual o resultado entre minha renda e despesas? Como, enfim, poderei realizar sonhos pessoais e familiares? Lidar com planejamento e execução orçamentária requer disposição e atitudes em prol de uma saudável relação com o dinheiro. E nesse processo, cada indivíduo age de forma diferente diante de situações aparentemente iguais, pois, além das suas características pessoais, há a influência das experiências adquiridas ao longo de sua vida. Sendo assim, não importam as ferramentas que proporcionam controle financeiro somente do ponto de vista matemático, quando existe um problema de ordem emocional a ser resolvido. Tomemos como exemplo uma pessoa que costuma amenizar suas preocupações ou escapar de uma depressão fazendo compras e submetendo-se a todas as promoções que encontra pela frente. De nada adiantará, portanto, apresentar-lhe planilhas de cálculos, levá-la a palestras de finanças pessoais ou presenteá-la com um pacote de software para registro de suas rendas e despesas. Há algo maior por trás do seu comportamento que precisa ser resolvido.

Quando falamos em resultados, um outro ponto que deve ser bem definido é a meta desejada. Ter objetivos pré-determinados é essencial para dar sentido ao planejamento orçamentário e fazer que consigamos enxergar os efeitos das nossas atitudes diárias na utilização de recursos financeiros. É importante lembrar ainda que, na definição dessas metas, devem ser contemplados os aspectos financeiros e comportamentais. Para melhor ilustrar essa questão, apresento a seguir dois exemplos hipotéticos. 1) Resultado orçamentário negativo (despesas maiores que receitas) cujo maior problema são as ações realizadas por impulso. A melhor forma de reverter essa situação é elaborar um rol de necessidades reais antes do momento da compra de bens ou contratação de serviços. Além disso, devese comparar o gasto previsto com a capacidade de pagamento dessas despesas. Ou seja, planejar primeiro, executar depois. A meta a ser perseguida, nesse caso, será não ultrapassar os itens e valores constantes da lista. 2) Resultado orçamentário positivo (receitas maiores que despesas), decorrente de uma ação concreta para redução de gastos já incorporada à rotina familiar ou pessoal. Nessa situação, a primeira atitude a ser definida é a destinação específica da sobra dos recursos. A meta familiar, portanto, pode ser a utilização de um determinado valor ou percentual desse dinheiro para a realização de algum investimento ou sonho, tais como viagens, cursos, plano de seguros, etc. Definir bem as metas assegura uma eficiente elaboração dos próximos orçamentos e demonstra, na prática, o interesse pelo futuro e qualidade de vida individual e da família. Na próxima edição, abordaremos outras questões relacionadas ao planejamento financeiro, sempre com o objetivo de proporcionar uma reflexão sobre a nossa dedicação com as ações que podem ser adotadas hoje para vivermos melhor amanhã.

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PERIGO pode morar dentro das farmácias

Ao sentir dor de cabeça, enjoo e náuseas, qual é a sua primeira reação? a) Procurar um médico; ou b) tomar um remédio que alivie os sintomas rapidamente? Se respondeu a segunda opção, você faz parte do grupo de brasileiros que costuma seguir pelo caminho mais fácil, a automedicação, prática que pode trazer sérios danos à saúde e, inclusive, levar à morte.


Na opinião de Pedro Cavalcanti de Albuquerque, médico gastroenterologista e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, a principal causa para esse cenário é de ordem cultural e está diretamente ligada à facilidade de acesso aos remédios. Expostos nas farmácias como se fossem gôndolas de supermercados, os medicamentos acabam sendo comprados sem qualquer controle, levando milhares de pessoas todos os anos a sofrer algum tipo de consequência negativa. “O lógico e correto seria que fossem deixados ao alcance de todos apenas suplementos alimentares, vitaminas em doses que não provocam riscos de intoxicações e materiais de uso externo, como curativos, gazes, hidratantes e outros”, explica. A opinião do médico segue a linha adotada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, através da RDC 44 (resolução de 17 de agosto de 2009), determinou Boas Práticas Farmacêuticas que devem ser adotadas em todo o País de modo a garantir a qualidade e a segurança dos produtos vendidos. Dentre as novas regras, ficou estabelecido que somente podem ser expostos nas prateleiras produtos de perfumaria e fitoterápicos. Mesmo itens considerados mais simples, como analgésicos e antiácidos, devem ser mantidos atrás dos balcões de atendimento e solicitados diretamente aos farmacêuticos do estabelecimento. As empresas que descumprirem tais normas podem levar multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. Casos mais graves ocasionam ainda apreensão de mercadoria ou mesmo suspensão do alvará de funcionamento do local.

Pedro Cavalcanti

Quando se fala em automedicação, os números assustam. Pesquisas da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) demonstram que, a cada ano, cerca de 20 mil pessoas morrem no Brasil vítimas do uso incorreto de medicamentos. Já os dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que os remédios respondem por 27% das intoxicações no país, sendo 16% dos casos de morte por intoxicação decorrentes de medicamentos. Na lista dos principais vilões desse péssimo hábito estão os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios.

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“O lógico e correto seria que fossem deixados ao alcance de todos apenas suplementos alimentares, vitaminas em doses que não provocassem riscos de intoxicações e materiais de uso externo, como curativos, gazes, hidratantes e outros”. Mas apesar da punição, na prática, a nova lei não tem sido respeitada e muitas farmácias expõem medicamentos de forma indevida, contribuindo para o aumento do problema. Países com saúde pública de qualidade, a exemplo do Canadá, Inglaterra e Suécia, tentaram resolver os problemas gerados pela automedicação atingindo um dos aspectos que provoca maior peso na decisão dos cidadãos: o próprio bolso. Nessas localidades, remédios prescritos pelos médicos de bairro e especialistas recebem descontos significativos ou preços fixos simbólicos.

Consequências O médico e superintendente de Saúde da Fachesf, Geraldo von Sohsten, explica que remédios populares para dor de cabeça e cólica, por exemplo, podem até ser tomados sem trazer grandes danos à saúde, desde que somente em casos esporádicos. Porém, o uso frequente dessas drogas, teoricamente leves e inofensivas, quando não recomendado por um profissional especializado, pode mascarar doenças mais sérias e comprometer a saúde das pessoas. “Dores de cabeça, quando aparecem de forma isolada, podem ser apenas sinais de estresse ou cansaço. Mas se esse incômodo for intermitente, talvez a razão esteja em alguma outra patologia,


como deficiência na visão, ou mesmo complicações mais sérias, que precisam ser investigadas e tratadas da forma adequada”, explica Geraldo von Sohsten. Um exemplo desse tipo de consequência aconteceu recentemente com um Participante da Fachesf. Para se tratar de uma reclamação reincidente, o paciente decidiu tomar por um longo tempo um corticoide que tinha surtido efeito em um momento anterior. Como é uma droga de uso muito restrito e apresenta fortes efeitos colaterais, seu uso indevido ocasionou uma disfunção orgânica e gerou uma catarata em ambos os olhos, fazendo-o perder a visão. Quando praticada com frequência, a automedicação também pode criar no organismo uma espécie de resistência à droga, atrapalhando o correto tratamento da patologia. Somam-se a isso os riscos decorrentes da incompatibilidade com outros remédios já tomados pelo paciente. Pedro Cavalcanti alerta que é preciso ficar atento a tais perigos, que podem trazer graves efeitos colaterais. No caso dos antibióticos, essa questão adquire uma proporção ainda maior, pois é um tipo de droga que, quando ministrado de forma incorreta, favorece o desenvolvimento de microorganismos mais resistentes, constituindo-se, inclusive, num problema de saúde pública que pode afetar outras pessoas, mesmo que essas não abusem de medicamentos. Segundo o médico, já foram registrados efeitos nocivos sobre sistemas orgânicos, digestivos (como gastrites, úlceras e diarreias), cardiovasculares (hipotensão e taquicardia) e respiratórios (edema de faringe e sufocação). A ingestão de corticoides, por exemplo, pode mascarar doenças infecciosas e comprometer a imunidade do corpo.

Cuidado A Participante Assistida Maria Socorro de Arruda Ferraz reconhece o perigo e teme a automedicação. Para ela, usar um medicamento sem prescrição médica é uma tentativa de resolver um problema que pode se transformar em outro ainda pior. “Morro de medo de tomar remédio por conta própria, por isso, vigio até mesmo

minha filha. Se eu deixar, ela sempre toma um remedinho aqui, outro ali”, admite. O Participante Aposentado José Gilson de Lima também é do time daqueles que optam sempre por ouvir uma opinião profissional. Como foi fumante durante muitos anos, ele desenvolveu um enfisema e precisa tomar remédios diariamente, mas garante que segue a recomendação do seu médico e não utiliza sequer analgésicos por conta própria. Sua esposa, Isabel Lima, confirma o depoimento e diz que o máximo que o marido se permite é um inofensivo chazinho. Durante as entrevistas para esta matéria, no ambulatório da Fachesf (Paissandu), somente uma pessoa afirmou que costuma se automedicar com frequência. A Participante, que preferiu não ser identificada, confessou que sempre recorre à farmácia ao lado de sua casa quando sente alguma dor. “Sei que não é certo, mas prefiro isso a ter que marcar uma consulta. Tenho uma gastrite enorme e sou consciente de que sua principal causa é o consumo de medicamentos, mas não consigo agir diferente”, reconhece. A história dessa Participante não é um caso isolado. Apesar de entender que o hábito pode trazer consequências desastrosas, muitas pessoas ainda insistem no comportamento durante anos e colaboram para aumentar os índices que fazem do Brasil um campeão de automedicação. E isso, obviamente, não representa nenhum tipo de mérito.

José Gilson de Lima Aposentado Recife · PE

Como foi fumante durante muitos anos, o Participante José Gilson desenvolveu um enfisema e precisa tomar remédios diariamente, mas garante que segue a recomendação do seu médico e não utiliza sequer analgésicos por conta própria.


Um alerta sobre

medicação

15% da população brasileira consome mais de 48% da produção farmacêutica. 25% a 70% do gasto com saúde nos países em desenvolvimento correspondem a medicamentos. Nas regiões mais evoluídas, esse índice é inferior a 15%. 50% a 70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa. 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. 75% das prescrições com antibióticos são errôneas. Somente 50% dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos. Cresce constantemente a resistência da maioria dos micro-organismos causadores de enfermidades infecciosas prevalentes. Aos dois anos de idade, algumas crianças já receberam aproximadamente 20 aplicações medicamentosas injetáveis. A metade dos consumidores compra medicamentos para tratamento de um só dia. 53% de todas as prescrições de antibióticos nos Estados Unidos são feitas para crianças de 0 a 4 anos. Fonte: Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64. Dados repassados pelo professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (Universidade de Pernambuco), o gastroenterologista Pedro Cavalcanti de Albuquerque.


Previna-se contra o HPV Uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns em todo o mundo, o HPV é um grande risco para a saúde de homens e mulheres, pois se estima que metade da população mundial é portadora de pelo menos um dos mais de 100 tipos do vírus. O Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, já é um dos líderes em incidência da doença (são 137 mil novas pessoas infectadas a cada ano), que é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de colo de útero. Para esclarecer o que é o HPV e como ele pode ser evitado, a Conexão Fachesf conversou com a médica ginecologista Silvana Aires. 1. O que é HPV? HPV é a sigla do Papilomavirus Humano (em inglês, Human Papillomavirus), uma doença sexualmente transmissível que pode causar lesões na região genital (masculina e feminina) e é também conhecida como crista de galo, figueira ou cavalo de crista. 2. Como a doença é transmitida? Apesar de o vírus ser transmitido, na maioria dos casos, através do contato sexual (vaginal, oral e anal), existem relatos na literatura médica de contaminação não-sexual do HPV. 3. Qual a melhor forma de prevenção? Praticar sexo seguro é a melhor forma de se proteger contra o HPV. Por isso, o preservativo (camisinha) deve ser usado em qualquer relação sexual, mesmo em casais cujo relacionamento é estável. 4. Como é feito o diagnóstico da doença? Como o HPV nem sempre aparenta sintoma visíveis a olho nu (verrugas na vulva, pênis ou qualquer outra área da pele), para o correto diagnóstico é necessário realizar exames dermatológicos, urológicos, no caso dos homens, ou ginecológicos (citologia oncótica, colposcopia e biópsia). Existem ainda testes de HPV para pesquisar o DNA viral, usados em algumas situações. Em um casal, se a doença for confirmada em um dos parceiros, o outro deve obrigatoriamente investigar se também foi contaminado. 5. Qual a relação entre HPV e câncer de colo de útero? Existem cerca de 100 tipos de HPV, porém somente alguns desses têm maior potencial para causar lesões malignas. Mas é preciso ficar atento, afinal o HPV é responsável por 90% dos casos de câncer no colo do útero. O risco de uma mulher infectada pelo papilomavírus

HPV

contrair o tumor é variável, pois é necessário que a paciente tenha uma infecção persistente pelo HPV de alto risco, além de outros fatores como genética, deficiência no sistema imunológico, outras DSTs (Doença Sexualmente Transmissível), condição de fumante, número de parceiros, dieta e outros. 6. Quais os riscos da infecção por HPV em grávidas? O HPV pode aumentar rapidamente na gestação pelo fato de a mulher grávida ter a imunidade diminuída. Além disso, em casos incomuns, o vírus pode causar crescimentos verrucosos na garganta de recém-nascidos de mães com condiloma acuminado, condição conhecida como papiloma de laringe. 7. Qual o tratamento para a infecção pelo HPV? Ainda não existe uma medicação específica para o HPV, como os antibióticos para as doenças bacterianas. O profissional pode apenas tratar as lesões causadas pelo papilomavírus através de cauterização, remoção ou produtos autoaplicáveis. Os tratamentos mais comuns vão desde o simples acompanhamento até a retirada da lesão. 8. E quanto à vacina contra HPV, como funciona? Atualmente dispomos de duas vacinas seguras para infecções e doenças causadas pelo HPV, que possuem partículas semelhantes aos vírus e enganam o organismo, estimulando-o a desenvolver imunidade. A primeira vacina foi aprovada em 2006 (tipo quadrivalente – HPV 6, 11, 16 e 18) e oferece proteção para os condilomas acuminados bem como para as lesões intraepiteliais e o câncer de vulva, de vagina, de colo uterino e de ânus. No Brasil, está liberada para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade. Já a segunda vacina está aprovada desde 2008 e protege contra dois tipos da doença (HPV 16 e 18). Ambas são aplicadas em três doses.

Silvana Aires Silvana Aires é ginecologista, especialista em patologia cervical pela Sociedade Brasileira de Patologia Genital e Colposcopia e membro da Sociedade Ginecologia e Obstetrícia de Pernambuco.


Esta matéria foi uma sugestão do Participante Augusto Ferreira da Rocha.

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Todo participante de alguma Entidade Fechada de Previdência Complementar certamente já leu a expressão “segundo cálculos atuariais”. No caso da Fachesf, assuntos relacionados a questões atuariais são citadas principalmente quando se fala dos Planos CD, BD e BS, seguro de vida e Fachesf-Saúde. Mas você sabe o que isso de fato significa ou o que faz um profissional de atuária em um fundo de pensão?

Caso sua resposta tenha sido negativa, não se sinta um peixe fora d’água. Afinal, uma grande parcela da população, de forma geral, não faz a menor ideia das responsabilidades inerentes à tal profissão. No universo dos Participantes da Fachesf, com poucas exceções, esse cenário não é diferente: é difícil encontrar alguém que saiba exatamente a função de um atuário. Tendo em vista a importância da atuária, sobretudo para um Fundo de Pensão – onde sua atuação é uma exigência legal –, a Conexão Fachesf investigou o tema para tentar explicar a imensa responsabilidade da área e quais seus papeis dentro da Fundação.


Na prática A atuária é uma ciência que utiliza muita matemática, estatística e probabilidade para analisar e mensurar riscos e expectativas de uma instituição. Pensando de forma prática, basta imaginar alguém que resolve fazer um seguro de carro: o objetivo, obviamente, é proteger o patrimônio. O mesmo vale para um seguro residencial contratado por uma pessoa cuja intenção é estar financeiramente protegida, numa eventual avaria ou até perda total. Como realizar uma projeção desses bens, de forma segura, de modo que nem o segurado pague mais do que deve nas parcelas, nem deixe de receber o montante justo? É aí que entra a figura do atuário. Sua primeira tarefa é fazer um estudo estatístico, considerando todas as variáveis que envolvem possíveis riscos. No caso do seguro residencial citado acima, vai interferir na análise, por exemplo, a quantidade de moradores da casa e os perigos aos quais o imóvel está exposto, além de outras questões que possam refletir no resultado final. Já no seguro de carro, influencia quem dirige o automóvel diariamente, onde é guardado, etc. De posse dessas variáveis, o atuário avalia a situação e calcula quanto deve ser pago pelo segurado de modo que a empresa possa ressarci-lo de forma justa e exata em caso de fatalidades.

Cícero Dias

Já no segmento de planos de previdência, é o atuário que analisa – dentre outras tantas funções – quanto o participante deve contribuir mensalmente. Seus cálculos são baseados em estudos de

“Atualmente, os maiores vilões dos planos de saúde são os custos médicos cada vez maiores e as tecnologias mais caras.”

possibilidades e informações oficiais, a exemplo das tábuas de mortalidade produzidas por instituições e universidades. Para que o fundo de pensão possa pagar o benefício correto aos seus participantes, sem correr riscos, o atuário deve estudar os fatores mais importantes, como dados de mortalidade e valor do dinheiro no tempo, a partir de uma prospecção do período vitalício dos seus associados. “Tudo deve ser calculado: custos, compromissos, contribuições, projeções de sobrevivência e mortalidade. Também é preciso analisar as informações do plano de previdência, como seus participantes nos últimos cinco anos e principais eventos passados. Somente através de métodos estatísticos é possível fazer uma projeção segura do futuro”, afirma o atuário Cícero Dias, professor dos cursos de Ciências Atuariais e Ciências Contábeis da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), consultor atuarial e representante no Nordeste do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Na área de planos de saúde, o papel do atuário também é fundamental. Afinal, como saber quando um beneficiário vai adoecer ou quanto a seguradora gastará anualmente com as enfermidades de cada usuário? Apesar de serem perguntas sem respostas exatas, através da ciência atuarial é possível fazer estimativas, chegar bem próximo da realidade e traçar estratégias que preparem o plano para suportar os eventos probabilísticos e incertos que venham a ocorrer. Para isso, tudo o que, de alguma forma, esteja associado com o universo do plano de saúde deve ser estudado, sobretudo a sua frequência de utilização e custos relacionados. É dessa forma que são estabelecidas as mensalidades de um plano de saúde e seus percentuais de reajuste anual. “Nada se define arbitrariamente. Nossas pesquisas consideram sempre o cenário atual. Os maiores vilões dos planos de saúde hoje são os custos médicos cada vez maiores e as tecnologias mais caras. E todos esses aspectos influenciam”, esclarece Cícero Dias. É para administrar tantas variáveis que as empresas de setor de planos de previdência, saúde e seguro são obrigadas a fazer estudos atuariais todos os anos. E para isso, o profissional atuário deve ter profundos conhecimentos de estatística e matemática, ser ágil, observador e entender que sua missão é estudar para garantir a proteção de milhares de pessoas contra futuras incertezas.


Halley: um dos primeiros atuários da humanidade

UFPE oferece graduação em Ciências Atuariais Os primeiros cursos universitários na área da atuária foram instituídos nos idos dos anos 1940, no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Considerando a extensão territorial do País, ainda existem poucas universidades brasileiras que oferecem a graduação em Ciências Atuariais. No ano passado, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) entrou para esse grupo, formado por Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Ceará, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais. O professor Cícero Dias considera de grande importância a abertura do curso, pois abre as portas para novos profissionais. “Até então, os atuários tinham que vir de outras regiões, como foi o meu caso, que vim do Ceará. Hoje, acredito que, em mais alguns anos, teremos atuários muito bem preparados no mercado local”, prevê Cícero, formado pela Universidade Federal do Ceará (UFCE), que oferece o curso há cerca de 20 anos. Existe um vasto campo de atuação para o profissional de atuária, sobretudo em segmentos como: fundos de pensão, instituições financeiras, companhias de seguros, órgãos oficiais de previdência, entidades de previdência complementar aberta, consultoria atuarial, planos de saúde, entre outros.

Quando se fala em Edmund Halley (1655-1742), imediatamente vem à memória o cometa que ele previu, no ano de 1758, que cruzaria o sistema solar. Esse cidadão britânico, astrônomo e matemático não foi apenas o primeiro cientista a teorizar que os cometas seriam objetos periódicos ou um grande pesquisador do século XVI. Halley também foi o primeiro atuário da humanidade, tendo construído tabelas minuciosas de distribuição da população por idade e calculado a probabilidade de uma pessoa de qualquer idade morrer no ano seguinte. Visionário? Profeta? Que nada! Halley foi um grande matemático e, através da Breslau Table, a primeira tábua de mortalidade construída sob preceitos científicos, lançou as bases do cálculo atuarial. Naquela época, o governo vendia seus títulos associados à pensão, sem efetuar cálculos que lhe conferissem segurança. Com o passar dos anos, as pessoas foram morrendo, o governo pagando as pensões e, num dado momento, percebeu-se que não haveria mais dinheiro para pagar os benefícios, uma vez que não existia nenhum estudo seguro que previsse tal situação. Mediante o aperto, o governo sentiu a necessidade de realizar tais previsões, contratando Halley para a função. E assim nasceu uma ciência.

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Ao aderir a um plano de saúde, todo beneficiário deve ter em mente que, além dos seus direitos legais de associado, existem também algumas recomendações que, quando adotadas corretamente, ajudam não somente a manter o equilíbrio financeiro do plano como a evitar grandes reajustes futuros nas mensalidades.

No Fachesf-Saúde, uma das orientações que tem sido bastante divulgada diz respeito à importância de os usuários acompanharem de perto a gestão do Plano, principalmente em relação às ações de auditoria, que controlam o pagamento de tudo o que é utilizado pelos beneficiários, seja em consultas, exames ou cirurgias. “É essencial que todos conheçam um pouco das práticas realizadas por essa área para saber como agir em situações que venham a precisar de procedimentos médicos considerados de alto custo”, diz o Superintendente de Saúde da Fundação, Geraldo von Sohsten.

Missão:

investigar gastos com a saúde

Bastante conhecida entre os profissionais de saúde, porém ainda estranha à grande maioria da população, a sigla OPME, por exemplo, é um dos itens que representam anualmente um grande impacto nos custos das operadoras de planos de saúde de todo o Brasil. Mas o que o beneficiário deve saber sobre ela? OPME é a abreviação para Órteses, Próteses e Materiais Especiais. Cada um desses itens tem uma funcionalidade específica e é utilizado normalmente em casos mais complexos. Sua solicitação é sempre realizada pelos médicos responsáveis pelo paciente e submetida à equipe de auditoria da Fachesf, que regula a liberação de todos os pedidos (com exceção para as órteses, não incluídas na cobertura do Plano).


Órteses

| aparelhos ou dispositivos ortopédicos de uso provisório, destinados a alinhar, prevenir, corrigir deformidades ou melhorar funções debilitadas do corpo. Podem ser pré-fabricadas ou confeccionadas sob medida, como tornozeleiras, coletes, etc.

Próteses

| dispositivos destinados a substituir determinadas estruturas do corpo humano (ou parte delas) e realizar suas funções. Ou seja, são objetos que exercem, de modo temporário ou permanente, as funções de um membro, órgão ou tecido. Por exemplo: marca-passos e válvulas cardíacas.

Materiais Especiais

| equipamentos ou objetos que auxiliam nos procedimentos cirúrgicos ou de diagnóstico, como cânulas, grampeadores especiais, etc.

Como são, em sua grande maioria, dispositivos de alto custo (e que podem comprometer seriamente a margem financeira dos beneficiários), é fundamental que a solicitação de OPME seja realizada de forma consciente pela equipe médica e somente em situações em que seu uso seja, de fato, imprescindível. Já aos usuários, cabe o papel de buscar esclarecer todas as suas dúvidas sobre a utilização de algum desses itens até se sentirem seguros quanto à sua real necessidade. Principalmente em casos de cirurgia, o paciente deve conversar com seu médico sobre todas as possibilidades, analisando inclusive diferentes hospitais aptos para a realização do procedimento. Segundo Aníbal de Oliveira Valença, médico auditor e conselheiro da Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde), às

vezes, por conta da fragilidade ocasionada por um quadro clínico mais grave, o paciente e seus familiares não se sentem preparados para obter mais informações e terminam por aceitar qualquer indicação, ainda que não compreendam bem do que se trata. “Nesse momento, é essencial que o usuário procure a Fachesf e solicite esclarecimentos e diferentes alternativas para seu problema”, explica.

Alto Custo No Brasil, onde a assistência à saúde é bastante cara, os usuários costumam ter uma certa rejeição em relação aos dispositivos e materiais nacionais e tendem a optar pelos importados que, em alguns casos, podem custar mais que o dobro do preço. Para Aníbal Valença, essa questão apenas reflete o desconhecimento de muitos pacientes, uma vez que diversos produtos brasileiros de OPME são comercializados anualmente para o exterior e apresentam qualidade comprovada e preços bem mais acessíveis. “O preconceito vem da falta de informação. Mas quando existe confiança entre os beneficiários e os gestores do seu plano, é possível vencer essa barreira”, defende o médico. Uma das estratégias adotadas pela Fundação nos últimos anos foi a decisão de negociar a compra de OPME diretamente com os fornecedores. Antes os produtos eram adquiridos através de hospitais, que cobravam uma taxa de comercialização média de 25%, sobre o valor de cada compra. A medida representou uma redução da ordem 33% nos custos gerados para o Plano. O hábito de auditar despesas pessoais de saúde faz do usuário uma espécie de agente fiscalizador, capaz de identificar práticas abusivas e combater gastos desnecessários. É importante lembrar que, quando ajuda a evitar grandes danos ao patrimônio do Plano, o beneficiário também protege o próprio bolso, pois, no final, a conta é sempre dividida por todos.

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O sonho de ser um pediatra levou o Participante José Maurício C. Ferreira, ainda muito jovem, para bem longe de sua cidade de origem. Foi na nova terra que ele aprendeu a entender o mundo das crianças e tornouse o médico que sempre quis ser. Hoje aposentado pela Chesf, mas ainda em pleno exercício da profissão, ele conta à Conexão Fachesf como foi sua trajetória do Recife à Nova Guadalupe, Estado do Piauí.


Desde que iniciei meus estudos na Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, em 1966, desejava trabalhar com crianças. Naquela época, todos os meus esforços eram voltados para a ideia de conseguir entrar na residência em Pediatria assim que me formasse. Mas as coisas não seriam exatamente do jeito como eu pensava.

Hospital Pedrina Silveira, construído em madeira. Com sua desativação, foi fundada a Unidade Mista de Saúde de Guadalupe, formada por bloco cirúrgico e obstétrico, berçário, laboratórios e 25 leitos. Foi lá que aprendi muito do que sei e onde tive a oportunidade de viver uma real residência de vida.

O falecimento prematuro do meu pai – quando eu estava no quinto ano do curso de medicina –, entre outras coisas, impediram meus planos de tentar ingressar na residência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), para onde pensava ir. Com o tempo, porém, os caminhos foram retraçados, e Recife seria a cidade em que eu viveria minhas primeiras experiências como médico: já formado, passei a atuar em algumas clínicas, como o Pronto Socorro Infantil Nossa Senhora de Fátima, no bairro da Boa Vista, e o Pronto Socorro Infantil de Boa Viagem.

Durante muito tempo, minha rotina de trabalho era dividida em duas partes: pela manhã, na Unidade, atendendo a criançada dos empregados da Chesf; à tarde, era a vez de atuar como médico contratado da Secretaria de Saúde do Piauí, cuidando da saúde dos pequenos da cidade e de regiões vizinhas, como Landri Sales, Marcos Parente, Jerumenha e São João dos Patos (esta já no estado do Maranhão).

No início de 1973, soube, através de colegas, que a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) estava selecionando novos médicos, através de sua Superintendência de Saúde, então administrada pelo ex-professor e amigo Antônio Cesário Tartaruga. Após um processo seletivo, recebi a boa notícia: havia sido contratado para trabalhar na cidade de Nova Guadalupe, Estado do Piauí, onde estava sendo construída a Usina Presidente Castelo Branco, mais conhecida como Hidrelétrica de Boa Esperança – pertencente inicialmente à Cohebe (Companhia Hidroelétrica da Boa Esperança) e absorvida pela Chesf em fevereiro daquele ano. Essa seria a primeira grande mudança da minha vida. Próximo ao canteiro de obras da hidrelétrica, ficavam instalados os acampamentos dos trabalhadores, divididos em Vila Parnaíba, onde residiam os operários, e Vila Boa Esperança, onde moravam os técnicos e todos nós, demais funcionários da Chesf. Parte da construção já havia sido concluída e duas turbinas se encontravam em operação. As obras das eclusas, que permitiriam a navegação por todo o rio Parnaíba, entretanto, continuaram sendo tocadas. Mas, infelizmente, nunca foram finalizadas. Os serviços de saúde da região, naquela época, eram precários. Até alguns anos antes da minha chegada, o único centro médico existente era o

Da equipe em que trabalhei, faziam parte os médicos José Lopes Rocha, Francisco de Assis Ferreira e José Laurindo dos Santos; os dentistas Luiz Pires de Araújo Lima e Maria José Gayoso Carneiro, além das enfermeiras Valdeci Baia da Rocha e Ana Lúcia Gondim. Conosco atuavam ainda os médicos do Estado do Piauí, Leônidas Arraes Mousinho e João Luiz da Rocha, e a dentista Adalgisa Rocha. Vale destacar também a importante participação de José Alexandre da Silva, responsável pelos serviços de laboratório e Raio-X, e seu auxiliar José Barbosa. Esse foi um período de aprendizado constante, em que eu lidava diariamente com a arte e a ciência de tratar crianças, algo que nunca mais deixei de fazer.

O contato diário com as crianças da população acabou se tornando uma grande escola que me ensinou tudo o que eu sonhava aprender ainda nos tempos de estudante.

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Em novembro de 1979, fui designado pelo governador do Piauí para assumir a diretoria da Unidade Mista de Saúde de Guadalupe, função que cumpri até meados de 1981. Meus dois expedientes eram dedicados ao atendimento ambulatorial e hospitalar de rotina. Nas horas livres, permanecia em constante sobreaviso para comparecer em caso de eventuais urgências. No início, as dificuldades foram de diversas ordens, pois apesar da boa preparação que tivera na Faculdade de Medicina, faltava-me experiência prática: acho que eu era o que se pode chamar de muito verde para a profissão. Mas isso, somente o tempo resolveria. Tive que aprender a conviver com pessoas cujos hábitos eram totalmente diferentes de tudo o que eu conhecia até então. Cheia de mistérios e segredos, a cultura da região era permeada de crenças e expressões próprias, nem sempre compreensíveis para quem vinha de fora. De uma criança com diarréia e vômitos, dizia-se, por exemplo, que tinha andaço e baldeava; clavícula era cantareira e o útero, a mãe do corpo.

Realização O contato diário com as crianças da população acabou se tornando uma grande escola que me ensinou tudo o que eu sonhava aprender ainda nos tempos de estudante. Quando fui transferido, em 1985, de volta ao Serviço Médico de Recife, considerei encerrada o que seria a minha residência em pediatria. Dez anos depois, aposentei-me da Chesf. Em 2004, finalmente consegui, através de concurso, o Título de Especialista em Pediatria, concedido pela Sociedade Brasileira de Pediatria e certificado pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco. Nesse mesmo ano, fui selecionado para o quadro de Médicos da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, sendo lotado como pediatra no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, onde permaneço até hoje. Até quando for possível, pretendo continuar a minha atividade de pediatra e agradeço imensamente à população piauiense de Nova Guadalupe, com quem convivi por 12 anos e que muito me ajudou a ser o pediatra que sou.

Certa feita, durante um dos meus atendimentos como pediatra, no ambulatório da Unidade Mista de Saúde de Guadalupe, no Piauí, lá pelos anos 1970, deparei-me com a situação que passo a narrar. Entrou, praticamente invadindo o meu consultório, uma senhora, dessas bem acabocladas, tez acobreada e cabelos longos, arrumados em um cocó no alto da cabeça. Puxava pela mão um molecote por volta de seis a sete anos, magrinho, e ainda meio desnorteado com a situação, pois nunca tinha sido consultado por um dotô. Quase de supetão, ela me disse: “olhe, dotô, trouxe este menino, para que o senhor passe um remédio para ele crescer.” Naquela época, praticamente sem nenhum recurso para resolver a situação que se apresentava, visto que ainda não se aplicava na prática o hormônio de crescimento e outros tais, só me veio à cabeça dizer-lhe: “Dona, se eu conhecesse desse remédio, já tinha tomado uns dez vidros dele.” Com a cara meio contrafeita, ela olhoume de alto a baixo e, calada, retirou-se, arrastando seu moleque pelo braço.


Pesquisa de satisfação

87%

satisfeitos com a Fachesf

Mais de mil pessoas participaram da Pesquisa de Satisfação da Fachesf, lançada oficialmente no final de 2009 e conduzida por uma consultoria especializada. Com um intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 3%, o processo teve como objetivo medir a satisfação do Participante e conhecer sua opinião sobre os produtos e serviços oferecidos pela Fundação. A partir dos resultados encontrados, será possível aperfeiçoar as ações de melhoria e implantar novos projetos. Após a tabulação e análise dos dados, foi com muito entusiasmo que a entidade recebeu o Relatório Final da Pesquisa, apontando que 87% dos seus Ativos, Assistidos e Pensionistas estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a Fachesf de forma geral. Confira a seguir os principais índices observados na Pesquisa.


Como você avalia o Fachesf-Saúde?

Boa ou ótima é a opinião de 80% dos Ativos sobre a qualidade do Fachesf-Saúde. Já para os Assistidos, o índice cai para 55%. Quando considerado o público total de beneficiários, o Plano tem a aprovação geral de 67,5%. Objetivando elevar esse grau de satisfação, a Fundação deu início, em 2009, a uma série de ações para aperfeiçoar a gestão e diminuir os custos operacionais do Fachesf-Saúde.

A Central de Relacionamento oferece um atendimento de qualidade?

A Central de Relacionamento foi avaliada como boa ou ótima por 70% dos Ativos e Assistidos, enquanto somente 2% classificaram o atendimento como ruim. Para a Fundação, os índices demonstram que todas as inovações implantadas na área durante o ano de 2009 foram percebidas de forma positiva – o que fortalece ainda mais os esforços da entidade em manter um excelente relacionamento com os seus Participantes.


A Fachesf deixa o Participante bem informado?

Você costuma acessar o site da Fachesf? 36 · 37

Para investigar se os conteúdos que circulam através dos vários meios de comunicação utilizados pela Fachesf estão atingindo seus objetivos, a Pesquisa perguntou aos Participantes o quanto eles se consideram bem informados em relação à Fundação. Entre os Assistidos, 83,5% assinalou as alternativas sempre ou quase sempre. Quando considerado o universo geral de Participantes, um total de 77,2% de respondentes indicou o mesmo. Os números demonstram um bom avanço em relação à Pesquisa anterior, quando a satisfação geral com os processos de comunicação da Fachesf indicavam 72%.

Apesar de ser um canal que proporciona diversos recursos para os Ativos e Assistidos– notícias atualizadas sobre a Fachesf, simuladores de previdência e empréstimos, Guia de Credenciados e outros – o site da Fundação ainda é pouco utilizado pela maioria dos Participantes, principalmente os Aposentados e Pensionistas.. Apesar de o percentual geral ser elevado, cabe ressaltar que um terço dos ativos (33%) acessam o site da Fachesf, no mínimo, duas vezes por semana. Com o lançamento da nova página, previsto para o mês de junho, a Assessoria de Comunicação espera reverter esse quadro e despertar a atenção dos Participantes, que terão a sua disposição uma ferramenta ainda mais interativa e repleta de informações sobre os Planos de previdência e saúde.



Surgida em meados de 1740, a atividade de observação vem despertando o interesse de milhares de pessoas que são apaixonadas por pássaros e têm prazer no contato com a natureza. Seu intuito é colecionar registros visuais e auditivos de aves em seu habitat, tendo como único prérequisito disposição para acordar cedo e realizar atividades de campo. Conquistando cada vez mais adeptos, estima-se que existam atualmente 80 milhões de praticantes de birdwatching no mundo, concentrados principalmente em países como Estados Unidos, Inglaterra e Japão. Ainda sem uma regulamentação específica, o hobby se orienta na proposta filosófica de conscientização ambiental que defende o uso sustentável dos recursos. Dessa forma, todo observador pode ser considerado um legítimo ecoturista, pois não apenas compreende e interage com a natureza, como defende a importância da preservação das espécies e do seu local de origem. Além de permitir a integração entre o homem e seu meioambiente, a atividade beneficia a própria Ornitologia (ciência que estuda as aves), uma vez que as anotações, gravações e fotografias tiradas pelos observadores contribuem para que os pesquisadores descubram costumes e características desses animais. “Isso gera a chamada ciência cidadã, em que pessoas comuns atuam como coletores de dados que ajudam, por exemplo, a verificar o declínio de algumas

Gilmar Farias

Os pássaros, com seu canto e beleza, atraem a atenção e admiração de muitas pessoas. Mas, ao contrário do que pregam alguns criadores, não é necessário manter as aves em cativeiro para desfrutar dos seus encantos. Prova disso é o interesse mundial no birdwatching, prática que consiste em observar pássaros ao ar livre.

“A observação gera a chamada ciência cidadã, em que pessoas comuns atuam como coletores de dados que ajudam, por exemplo, a verificar o declínio de algumas populações de aves em determinadas regiões”.

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Fotos | Gilmar Farias

anos pelo ornitólogo inglês William Forbes, que apresentou uma lista com 108 espécies. Com o tempo e a atuação de outros cientistas, esse número cresceu e chegou ao total de 535 espécies atualmente registradas; muitas dessas foram descobertas e classificadas com a ajuda de praticantes de birdwatching liderados por guias e pesquisadores experientes.

populações de aves em determinadas regiões”, explica Gilmar Farias, biólogo da organização não governamental Observadores de Aves de Pernambuco (OAP) e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Segundo o pesquisador, existem observadores com objetivos específicos, como o de acompanhar a migração, reprodução ou comportamento de determinadas espécies, motivados por interesses científicos ou pela filosofia ambiental, e outros mais voltados ao poder recreativo da prática; estes atualizam sua lista de campo registrando espécies raras como se estivessem marcando pontos em um jogo.

Espécies

Com um total de 1.822 espécies cadastradas, o Brasil é o segundo país do mundo em número de diferentes aves, atrás apenas da Colômbia, de acordo com o Comitê Brasileiro para Registros Ornitológicos. Porém apesar do potencial favorável à prática – com diversas áreas naturais como a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica, o Cerrado, o Pantanal Mato-grossense e muitos outros parques, reservas ecológicas e praias – a observação nacional ainda é uma atividade pouco conhecida e praticada. Para Gilmar Farias, esse cenário é resultado da desvalorização das atividades ecoturísticas, que carecem de maior investimento do governo e participação da população local. Soma-se a isso, o difícil acesso à maioria das áreas, que são protegidas e têm entrada controlada. Em Pernambuco, o primeiro levantamento sistemático de aves foi realizado há cerca de 130

Um dos grupos que tem intensa atuação no Estado é o OAP (Observação de Aves de Pernambuco). A ONG foi criada em 1986 com o objetivo de estudar, conhecer e catalogar a avifauna do Nordeste, assim como incentivar e facilitar a observação das espécies pelos possíveis interessados. Para isso, a instituição disponibiliza informações importantes para os adeptos e organiza, em parceria com outras empresas, saídas de campo em grupos (www.oap.org.br).

Na prática

O horário ideal para iniciar a atividade é logo no começo da manhã, por volta das 5h30, quando as aves estão à procura de alimento; ou no início da noite, período em que é possível observar aves de hábitos noturnos. Geralmente, mais do que a simples admiração, a meta do observador é conseguir identificar os pássaros. Para facilitar a tarefa, é indispensável o uso de um caderno de campo onde deve ser anotado o maior número de dados sobre a ave: tamanho, forma, cor e plumagem, formato e cor do bico, olhos e patas são características básicas, fundamentais para a identificação das espécies.


Outras informações, como a descrição do local em que a ave foi vista e o seu comportamento (se saltitava, caminhava, mergulhava ou estava apenas pousada em uma árvore), também devem ser detalhadas. A melhor forma de obter todas essas nuances é através da utilização de instrumentos específicos (binóculo, máquina fotográfica e gravador). No campo, a roupa também faz diferença, por isso vale sempre apostar em cores discretas, que não se destaquem no ambiente e distraiam a atenção dos pássaros.

Tráfico 40 · 41

Alguns dos destinos possíveis para quem desejar iniciar a prática no Recife (PE), dispondo de infraestrutura, segurança e um número razoável de espécies, são: Parque da Jaqueira, Parque Treze de Maio e Parque Estadual de Dois Irmãos. Aqueles que têm pouco tempo disponível, mas que gostariam de se tornar adeptos do birdwatching bastam abrir as janelas de casa ou escritório e observar as aves pousados nos parapeitos, bebedouros, árvores e gramados. Gilmar Farias dá a dica: “Compre um binóculo e vá em busca de novos olhares”. Acredite, vale a pena.

O tráfico ilegal de animais silvestres movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. De cada 10 animais vendidos ilegalmente, estima-se que nove morrem antes de chegar ao seu destino final.

Joselito Pedrosa

Segundo lugar no mundo com maior quantidade de tipos de aves, o Brasil é também o segundo país com maior número de espécies com possibilidade de extinção. Apenas em Pernambuco, das 535 espécies, vinte e uma se encontram ameaçadas. De acordo com o IBAMA, as principais causas da diminuição da população de animais silvestres são: destruição do habitat, tráfico ilegal e degradação do meioambiente, seja pela crescente ocupação humana ou pela exploração de florestas, pântanos e cerrados.

Participante Ativo Recife · PE

“Considero-me um admirador de aves desde que eu era criança, quando morava em Aldeia (Camaragibe-PE) e gostava de observar os pássaros que voavam em busca de alimentos perto da minha casa. Devo minha paixão à influência dos diversos familiares que me ensinaram a contemplar esses animais, cujo canto e beleza me inspiram. Procuro estudar as espécies e, sempre que posso, pesquiso sobre assuntos relacionados à avifauna. Confesso que nunca tinha ouvido falar na prática de birdwatching, mas concordo que é muito mais prazeroso ver essas criaturas em seu habitat do que em gaiolas. Por isso, sonho em, um dia, ter um sítio, onde eu possa viver em harmonia com diversas aves livres”.

No Brasil, esse tipo de atividade ilícita, a exemplo do comércio ilegal de armas e de drogas, é feito, na maioria das vezes, por quadrilhas altamente organizadas e especializadas. Apesar dos avanços na legislação brasileira, conquistados em 1998 com a criação da Lei de Crimes Ambientais (que considera o aprisionamento, comércio e transporte de animais silvestres crimes inafiançáveis), a caça e a comercialização ilegal de aves ainda é uma realidade que causa graves danos à avifauna do País.

A ave, ou qualquer outro animal mantido em cativeiro, por não viver em seu ambiente de origem, perde capacidades natas e fundamentais para sua sobrevivência, como a de caçar seu alimento, defender-se dos predadores, acasalar-se e reproduzir a espécie. Criadores muitas vezes não levam em conta todo esse sofrimento e costumam afirmar que estão protegendo os bichos. Na verdade, isso é somente mais um incentivo à caça ilegal e cruel desses animais.


Ser livre é amar, cuidar de si, dos outros e dos animais Synara Rillo

passam a acreditar nesse ideal puramente sócioconceitual de liberdade. Já outras pessoas associam liberdade à estabilidade econômica que gera segurança e poder. São várias as formas que um ser humano usa para delinear seu plano de ideal libertário ou de vida leve. No entanto, poucos lembram a palavra harmonia para atingir a leveza de se viver. É o que a natureza nos mostra generosamente todos os dias. Cabe, a cada um, olhar e sentir a vida pulsante em nosso planeta. Mas, atenção: que esse olhar não carregue ironia, amargura ou ganância.

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nária

ica Veteri

· Méd Synara Rillo

É grande a missão de falar do movimento social que preserva os animais silvestres e, por tabela, combate o comércio ilegal que se estabeleceu. Não sei o quanto posso contribuir sobre o tema, já que meus olhos, na profissão, voltaram-se mais para a luta a favor dos cães e gatos, na qual sigo tentando mostrar que a liberdade constitui o bem maior de todos nós. Dos bichos aos seres humanos, somos todos merecedores de tal bem. Essa questão se torna complexa, porém, quando temos de falar da liberdade sob outro ponto de vista: retirando-a da área do ideal e levando-a para o campo da realidade. Não existe um ideal de liberdade para os seres biológicos irracionais; existe, sim, uma característica inata nesses seres vivos, através da qual a natureza se torna explícita e clara. Ou seja, ser um bicho livre é ser o que se é por essência sensorial. Os animais, como um todo – independentemente do grau de domesticação ou aproximação que estabelecem conosco –, nasceram tão somente para exercitar suas condições de espécies. Quando o homem exagera nessa aproximação, trazendo apegos afetivos ou valores monetários como base para a convivência com os bichos, acaba provocando sofrimento em si mesmo e nos animais. Algumas pessoas querem ser livres e soltas: sem compromissos sociais, sem regras, sem afazeres ou sem estresses impostos pela sociedade atual. Elas

Ver passarinho preso em gaiola doi no coração. E essa dor se expande ao ver os animais silvestres, como um todo, confinados, longe de suas vidas naturais, servindo apenas a diversos fins e objetivos dos homens, que adquirem falsos privilégios, como ouvir o canto de um sabiá cativo na varanda de sua casa ou observar animais em zoológicos - a lhes divertirem mais do que a instruir-lhes. Quem pensa que bicho veio ao mundo para nos fazer a corte do que é belo ou exótico, sendo mero escravo de uma mão desumana, nada sabe dos animais e nem de si mesmo; desconhece a própria habilidade de sentir, pensar e amar. Pois fomos dotados pela mãe natureza, como espécie, da capacidade de amar. Quem é capaz de respeitar, de cuidar, de admirar voos livres e altos, de ouvir o canto dos pássaros, de encher o peito de ar puro, de soltar-se em energia pacificadora, naturalmente se equilibra; e isso tudo retorna em benefício de todos, nessa harmonia que liberta. Portanto, tem que partir do ser humano amoroso a ação para a proteção dos bichos sejam quais forem as espécies e suas necessidades essenciais. O ser humano verdadeiramente livre é aquele que ama, cuida de si, dos outros e dos animais. E não prende passarinho em gaiola, nem para o canto, nem para o lucro. Synara Rillo é autora do livro Cães, donos e dores humanas, participa do programa de rádio O outro lado dos animais (radioras.com.br) e mantém um site (www.synararillo.com.br), destinado ao debate sobre animais de companhia.


cultura e lazer

Cem anos sob os encantos de 42 · 43

Apesar de se dizer contrária ao feminismo, Rachel de Queiroz foi uma das escritoras brasileiras que mais fortaleceu a imagem da mulher no País. Primeira literária a ingressar na sisuda Academia Brasileira de Letras, a cearense completaria seu centenário em 2010 – mesmo ano em que o Dia Internacional da Mulher comemora cem anos de existência. Uma agradável coincidência que une, enfim, dois importantes ícones da emancipação feminina.


cultura e lazer “Rachel dizia que não gostava de escrever. Fazia obrigada, para viver. Acho que havia muito de charme nisso.” Grande romancista, jornalista, cronista, professora e tradutora, Rachel de Queiroz dedicou toda sua vida às palavras. Escreveu como ninguém, emocionou muitos e encheu de orgulho sua terra, o Ceará. Nascida em Fortaleza, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, representantes de uma tradicional família cearense, trazia no sangue o DNA da literatura: sua bisavó materna era prima de José de Alencar, autor de O Guarani e Senhora. Além do talento nato para a escrita, Rachel recebeu uma educação muito incentivadora. Desde pequena, seus pais lhe deram ampla liberdade para o estudo e para leitura. Em entrevista concedida à Folha de São Paulo em 1998, ela falou de forma descontraída sobre o estímulo ao conhecimento que recebeu e suas influências: “Minha mãe era uma intelectual muito lida e foi formando meu gosto desde pequena. Ia me dando o Eça (de Queiroz), o menos pesado do Eça – sem dizer isso, claro, porque então eu ficaria curiosa pelo mais pesado. Gosto muito dos autores ingleses, mas fui criada nos franceses, nos portugueses. Dos brasileiros, Machado de Assis é meu ídolo, meu Deus literário”, contou a autora, na época, aos 88 anos. A carreira de Rachel de Queiroz começou cedo. Em 1927, tinha apenas 17 anos quando passou a colaborar com o jornal O Ceará, usando o codinome Rita de Queluz. Desde então, não parou mais. Exerceu o jornalismo durante muito tempo. No entanto, seu grande reconhecimento chegou mesmo como escritora. Ela produziu relativamente poucos romances: O Quinze (1930), João Miguel (1932), As Três Marias (1939), Dôra, Doralina (1975), O Galo de Ouro (1985) e Memorial de Maria Moura (1992). Mas todos alcançaram grande sucesso. Compilações de crônicas que fez para a imprensa e suas obras infantojuvenis também foram publicadas e tiveram grande importância para sua carreira. A primeira e mais importante obra de Rachel, O Quinze, reflete uma de suas características

mais marcantes: a preocupação com as causas sociais. O livro aborda de forma singular o drama vivido por suas personagens em meio ao problema da seca, tão comum na região onde cresceu, trazendo à luz uma perspectiva, acima de tudo, feminina. Apesar do estrondoso reconhecimento da obra – que rendeu à escritora o prêmio de melhor romance da Fundação Graça Aranha, em 1931, no Rio de Janeiro –, foi o livro Memorial de Maria Moura que se tornou seu trabalho mais conhecido. A história foi adaptada pela Rede Globo de Televisão e exibida em formato de minissérie no horário nobre, em 1994.

Personalidade Dona de uma personalidade forte, Rachel de Queiroz chegou a afirmar em algumas ocasiões que não gostava de escrever e somente o fazia por necessidade de pagar as contas. A declaração é confirmada por pessoas que conheceram de perto a literária, como Luzilá Gonçalves, também escritora, professora de Letras e pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Rachel dizia que não gostava de escrever. Fazia obrigada, para viver. Acho que havia muito de charme nisso. Mas, nos últimos anos, quando ela se trancava para escrever sua crônica semanal e a gente telefonava, alguém respondia: Raquel não pode atender; está escrevendo”, conta. Segundo a professora Luzilá, a culinária era um dos hábitos preferidos da amiga, que costumava preparar quitutes para familiares e amigos. “Ela adorava cozinhar; fazia uns bolinhos de queijo deliciosos. Aliás, o livro de receitas que ela fez junto com a irmã, Maria Luiza de Queiroz, é uma prova desse talento de Rachel”, lembra a pesquisadora, em referência à publicação Não me deixes só – suas histórias e sua cozinha, baseada na criativa culinária do sertão nordestino. A parceria com a irmã ainda renderia um novo trabalho, a autobiografia Tantos anos, lançada em 1998. Uma das características mais fortes da romancista sempre foi a firmeza em defender seus ideais políticos. Simpatizante do comunismo e


cultura e lazer

admiradora confessa de Trotski, Rachel chegou a entrar no Partido Comunista na década de 1930. O engajamento, porém, não durou muito. Na entrevista concedida à Folha de S. Paulo, ela conta que uma briga foi suficiente para afastá-la dos camaradas. Anos mais tarde, a escritora apoiou o Golpe Militar de 1964 e colocou-se a favor da deposição do presidente João Goulart, tendo, inclusive, integrado o Conselho Federal de Cultura entre 1967 e 1985, durante a ditadura. Pelo seu inegável talento e por desafiar os padrões da época, Rachel de Queiroz tornou-se um símbolo da emancipação feminina. Em novembro de 1977, foi a primeira literária a ingressar na Academia Brasileira de Letras, reafirmando sua representatividade de mulher à frente do seu tempo. Amiga íntima da escritora, Lourdinha Leite Barbosa, mestra em literatura e professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), conta que, mesmo não sendo simpatizante do movimento feminista, Rachel exerceu um papel essencial no fortalecimento da imagem da mulher. “A preocupação com essa questão domina toda sua obra. Acredito que ela não estava de acordo com o feminismo institucionalizado, mas se comovia com os problemas enfrentados pelas mulheres numa sociedade paternalista e preconceituosa. Então transformava isso tudo em literatura”, afirmou a professora, autora do livro Protagonistas de Rachel de Queiroz: caminhos e descaminhos. No dia 4 de novembro de 2003, aos 93 anos de idade, Rachel da Queiroz faleceu em casa, dormindo em sua rede, vítima de enfarto. Em 2010, quando completaria 100 anos, a vida e a obra da escritora cearense estão sendo lembradas em todo o Brasil. A 9°Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada em abril, homenageou a conterrânea, abrindo espaço para debates a análises sobre sua obra e estilo. Nada mais justo para alguém que deixou um legado memorável, atraiu (e continua atraindo) admiradores em todos os cantos do mundo e eternizou seu nome como a intelectual mais desbravadora da literatura brasileira.

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* A Fachesf recomenda, no entanto, que seja priorizado o 0800.281.7533, pois a chamada ĂŠ gratuita para o Participante.




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