Conexão Fachesf nº 2

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Revista da Fundação Chesf de Assistência e Seguridade Social

ano 1 · nº2

abril2009

FACHESF

co e o O recomeço depois dos

sessenta

teste

Você está preparado para a aposentadoria?

no consultório

Os benefícios de uma boa noite de sono

seu dinheiro

Use bem o seu dinheiro na hora das compras


Horário

Segunda a Sexta · 7h30 às 18h30

Canais de Atendimento Presencial Teleatendimento

HICON / Chesf

08002817533 621.7533

E-mail

faleconosco@fachesf.com.br

Vo c ê e a Fa c h e s f: u m a f o r t e l i g a ç ã o !


índice

Especial | 6 Poupa Tudo

Educação Previdenciária | 8

Depois dos sessenta, o recomeço

Artigo | 15

Rogério Cardoso

Teste | 16

Você está preparado para a aposentadoria?

No Consultório | 18

O peso de uma noite mal dormida

Pergunte ao doutor | 23

Você sabe o que é a Doença de Alzheimer?

Ponto de vista | 24

Luiz Vendramini

Planejamento e Gestão | 27

Investimentos e Responsabilidade

Seu dinheiro | 29

Hábitos que podem custar bem caro

Artigo | 32

Maria Elizabete Silva

Central de Relacionamento | 33

Portadores de doenças graves são isentos do IR

Foco no Participante | 35

Foi Assim...

Mundo Animal | 38

Um dono bom pra cachorro

Artigo | 42

Synara Rillo

Cultura e Lazer | 43

Patativa do Assaré

Crônica | 46


[expediente]

edit Revista Conexão Fachesf Editada pela Assessoria de Comunicação Institucional [Editora Geral] Laura Jane Lima [Edição Executiva e Textos] Nathalia Duprat [Fotografia] Acervo Fachesf | Damião Santana [Colaboraram nesta edição] Milena Santos, com as matérias: Poupa Tudo; O peso de uma noite mal dormida; Hábitos que podem custar bem caro; Um dono bom para cachorro; e Patativa do Assaré Rakel Azevedo, assistente de produção, fotografia e textos [Tiragem] 11 mil exemplares

[Redação] Rua do Paissandu, 58 – Boa Vista Recife – PE | CEP: 50070-210 Telefone: (81) 3412.7508 / 7509 [E-mail] conexao@fachesf.com.br Fundação Chesf de Assistência e Seguridade Social | Fachesf Clayton Ferraz de Paiva · Presidente Luiz Ricardo da Câmara Lima · Diretor de Adm. e Finanças Robstaine Alves Saraiva · Diretor de Benefícios [Projeto Gráfico e Diagramação] Corisco Design [Ilustrações] Eugênio Lima e Leandro Lima [Impressão] Gráfica Santa Marta

* Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Conexão Fachesf. ** O Participante Ativo que quiser receber sua revista em casa, deve solicitar através do e-mail conexao@fachesf.com.br.


orial Motivada por tão grande aceitação, a Fundação traz até você o segundo número da revista. Como nossa proposta é abordar, sobretudo, temáticas que estejam em total sintonia com os leitores, nesta edição, publicaremos três dos inúmeros assuntos sugeridos pelos Participantes, através da

Promoção Conexão Fachesf e você: nasce uma ideia, cresce uma parceria, lançada no site da Fundação, com o intuito de saber o que o nosso público gostaria de ler (ver quadro abaixo). Dessa forma, abordaremos a Doença de Alzheimer, os impactos da crise financeira nos investimentos da Fachesf e a importância de um planejamento financeiro para o orçamento familiar.

Além desses três assuntos, a matéria de capa mergulha em variadas questões da Educação Previdenciária e instiga o Participante a refletir sobre algumas questões relacionadas ao crescente envelhecimento da população brasileira. Será que estamos devidamente preparados para viver por mais tempo sem, no entanto, perdermos qualidade de vida? O leitor também poderá conferir a interessante entrevista com o atuário do Fachesf-Saúde, Luiz Vendramini, e, na seção No Consultório, descobrir como uma noite mal dormida pode acarretar em problemas de obesidade.

4·5

Esperamos que você aproveite esta nova edição do começo ao fim, enquanto nós já começaremos os preparativos para o terceiro número da Conexão Fachesf que, a partir de agora, passa a ser quadrimestral. Até agosto!

Boa leitura! Editora Geral

[Nasce uma ideia, cresce uma parceria] Em novembro 2008, a Assessoria de Comunicação Institucional (ACI) escolheu as melhores sugestões de pauta para a revista Conexão Fachesf, enviadas através da promoção Conexão Fachesf e você: nasce uma ideia, cresce uma parceria, realizada através do site da Fundação.

Leitores selecionados

Na ocasião, perguntamos aos leitores o que acharam do primeiro número da revista e quais os assuntos que gostariam de ler nas próximas edições. Ao total, foram quase 200 respostas recebidas, sendo selecionadas as sete sugestões que melhor atenderam aos objetivos e ao perfil da nossa linha editorial. Todas as demais ideias, no entanto, foram arquivadas e serão aproveitadas, na medida do possível.

Jorge Guilherme Torres de Oliveira – Paulo Afonso/BA

Alberto Lima – Recife/PE Fábio Duarte de Menezes – Recife/PE Ivanete Francisca das Chagas – Recife/PE

Luciano Arruda de Oliveira – Recife/PE Viviane Oliveira – Recife/PE Augusto Ferreira da Rocha – Recife/PE

[promoção]

O lançamento da Conexão Fachesf, em setembro do ano passado – um marco na forma de levar informação e conhecimento (educação previdenciária e financeira) aos nossos Participantes – trouxe consigo inúmeras manifestações positivas, enviadas por leitores de diversas cidades do País.


Bom para a Fundação, melhor para o meio ambiente Quando deu início às análises de cenários para formulação do Planejamento Estratégico 2008/2010, a Diretoria Executiva da Fachesf resolveu que era hora de lançar mais um desafio: aperfeiçoar o padrão de gestão e custos administrativos da Fundação. Entre os objetivos e medidas dessa ação estratégica, uma das propostas foi estimular os colaboradores a utilizar de forma cada vez mais consciente os recursos materiais e financeiros. Através dessa iniciativa, foi elaborado o Programa Interno para a Promoção da Cultura de Racionalização, voltado para a conscientização de toda a Fundação acerca da importância da racionalização no dia a dia. Para a implantação do projeto — previsto para ser lançado ainda neste primeiro semestre —, foi instituído um grupo de trabalho, responsável por coordenar e monitorar todas as suas ações. A equipe realizou recentemente uma pesquisa, junto a todos os funcionários, estagiários e prestadores de serviço da Fachesf, e detectou uma forte motivação para participar de um programa dessa natureza, focado no combate à chamada cultura do desperdício. Além de estimular a consciência para a redução de custos, por meio de diversas ações educativas

e informacionais, o Programa pretende alertar ainda para a importância do conceito de sustentabilidade, baseado no processo dos três erres: reduzir, reutilizar e reciclar — a exemplo da coleta seletiva de papel, realizada na Fundação ainda de forma experimental: caixas de papelão e papéis de escritório descartados são encaminhados à reciclagem e sua venda é revertida para o Comitê de Cidadania dos Empregados da Fachesf, que ajuda pessoas e comunidades carentes.

Poupa Tudo!

No sentido de sensibilizar os colaboradores e envolvê-los no Programa, foi criada a campanha de comunicação Poupa Tudo!, que aposta na mudança de hábitos como ponto de partida na construção de uma cultura voltada à racionalização de recursos. Serão distribuídos cartazes e panfletos explicativos, além de e-mails com dicas semanais sobre gerenciamento eficiente de contratos e compras, consumo adequado de água, telefone, energia e material de escritório, dentre outros. A ideia é que cada pessoa sinta-se um agente de mudanças, adotando o consumo responsável não apenas no ambiente de trabalho, mas, sobretudo, fora dele.


A história das coisas Você sabia que já desapareceram 80% das florestas originais do planeta? E que, na Amazônia, perdemos duas mil árvores por minuto, o que equivale a um campo de futebol a cada 60 segundos? Surpreso? Pois esses e outros dados alarmantes são demonstrados no vídeo The Story of Stuff, produzido em 2007 pela Tides Foundation & Funders Workgroup for Sustainable, e traduzido no Brasil pela Comunidade Permacultura sob o título A história das coisas. Em pouco mais de vinte minutos, o filme faz um alerta sobre a extração desenfreada de recursos naturais para sustentar o nosso modo de vida, passando pela produção de bens de consumo e desembocando na distribuição e descarte. De acordo com o documentário, cerca de 99% das coisas que cultivamos, processamos e transformamos tornam-se lixo em menos de seis meses, o que demonstra um nível de rendimento dos produtos de apenas 1%. É com essa crítica velada a nossa sociedade de consumo que o filme defende, com vistas a mudar essa realidade, a união de forças entre comunidades, governantes, empresários, acadêmicos e organizações não-governamentais em prol do desenvolvimento sustentável do planeta. O documentário encontra-se disponível na internet, no site lixo.com.br, espaço democrático de divulgação e discussão das práticas sustentáveis na construção de uma gestão social dos resíduos sólidos das cidades.

você sabia?


Depois dos sessenta, o recom

Saiba por que ĂŠ preciso se programar para a apose


meço

entadoria

8·9

Considerado historicamente uma nação de população jovem, o Brasil vivencia hoje uma grande transição demográfica: formado por cerca de 17,6 milhões de idosos, o País assiste a um franco processo de envelhecimento que deve culminar, em 2050, com a marca de 64 milhões de pessoas acima de 60 anos — o equivalente a quase 30% da população total. Estaremos preparados para essa nova realidade? Esta matéria foi sugerida pelo Participante Augusto Ferreira da Rocha (Recife-PE), durante a última promoção realizada no site da Fachesf. Mande também sua sugestão ou crítica para conexao@fachesf.com.br.


ções impostas aos indivíduos com o avanço da idade, além de vias públicas, logradouros e meios de transporte que não dificultem o direito de ir e vir da pessoa idosa”, enfatizou Albuquerque.

Nascer no Brasil, durante a década de 1910, era sinônimo de vida curta. Naquela época, com pouco acesso a políticas públicas eficientes e baixo nível educacional, a população tinha uma expectativa média de vida que chegava a pouco mais de 30 anos. Esse contexto, no entanto, ficou no passado: pesquisa realizada em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a expectativa média no País hoje é de 72,57 anos e deve atingir 81 anos até 2050. Segundo o estatístico Fernando Albuquerque, gerente do projeto Componentes da Dinâmica Geográfica, desenvolvido pelo IBGE, esse cenário começou a ser traçado na década de 1940, quando os avanços da medicina — em particular, os antibióticos recém-descobertos e importados no pós-guerra — foram incorporados às políticas de saúde pública do País, reduzindo as altas taxas de mortalidade vigentes até então. Ao longo dos anos, somou-se a esse índice a diminuição também das taxas de natalidade, levando o Brasil a experimentar um rápido processo de envelhecimento populacional. E essa acelerada mutação demográfica, não deve estacionar tão cedo. Assim como outras grandes transformações ocorridas na sociedade moderna (como a introdução da pílula anticoncepcional e a participação da mulher no mercado de trabalho, entre outros) nas últimas décadas, o aumento da longevidade implicará em uma ampla reestruturação social. Para atender as carências da grande massa de idosos que, em breve, vai se formar, será fundamental que os governantes promovam um profundo trabalho de inclusão que permita a participação dos mais velhos em todos os segmentos sociais. “Será necessário, de imediato, proporcionar moradias e edificações públicas e privadas compatíveis com as limita-

As mudanças, entretanto, estão muito além da questão estrutural e urbana. Um dos maiores impactos desse fenômeno, por exemplo, acontecerá na Previdência Social, pois haverá um aumento na duração dos benefícios pagos (uma vez que as pessoas estão vivendo mais após a aposentadoria) e uma significativa redução no número de futuros contribuintes formais, sobrecarregando o já complicado sistema previdenciário nacional. De acordo com Helmut Schwarzer, secretário de Políticas de Previdência Social, além da responsabilidade do Governo — de estudar e implantar um modelo de previdência condizente com a nova realidade nacional — é de suma importância que a passagem pela chamada “janela demográfica” também seja encarada pelos trabalhadores brasileiros como uma oportunidade para aprender a valorizar a consciência previdenciária. Afinal não basta apenas viver mais tempo; é preciso, acima de tudo, viver bem. É sob tais aspectos que merece ser destacado o papel da previdência complementar. Como o próprio nome diz, esse tipo de poupança ajuda a completar a renda familiar, após a aposentadoria, independente do que é recebido pelo INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). E numa fase da vida em que há uma tendência natural de aumento nas despesas — principalmente em relação aos gastos com saúde —, esse rendimento extra torna-se essencial para evitar perdas significativas no padrão da qualidade de vida. Mas as vantagens de contribuir para uma entidade de previdência complementar, entretanto, estão longe de ser apenas financeiras. Pois ao participar de um plano de previdência, o cidadão também é educado para se tornar mais consciente da importância de um projeto de vida bem planejado, que o ajude a realizar seus sonhos e viver a velhice de forma tranquila e confortável. Em outras palavras, ele é levado a entender que ser previdente significa, acima de tudo, mudar a própria ideia de longevidade e preparar-se, desde a juventude, para um futuro independente.


Manter-se em atividade é fundamental Segundo Eduza Pereira, diretora executiva do Ipeti – Instituto de Pesquisa e Estudos da Terceira Idade, sediado em Recife/ PE (leia mais na página 14), durante muito tempo prevaleceu o pensamento de que a velhice era algo a ser escondido; por lembrar doença, solidão e dependência, as pessoas preferiam não pensar no assunto: “Hoje, no entanto, talvez inspirada em grandes personalidades que, mesmo depois de idosas, continuam em plena atividade, há uma nova geração de jovens preocupados com sua qualidade de vida e comprometidos com projetos a longo prazo. Mas essa mudança definitiva de pensamento ainda tem um longo caminho a percorrer”.

“Hoje, no entanto, talvez inspirada em grandes personalidades que, mesmo depois de idosas, continuam em plena atividade, há uma nova geração de jovens preocupados com sua qualidade de vida e comprometidos com projetos a longo prazo. Mas essa mudança definitiva de pensamento ainda tem um longo caminho a percorrer.” O mais importante, na hora de planejar a vida após os 60 anos, é ter em mente a necessidade de se manter em atividade. “Como as pessoas, em geral, aposentam-se ainda em plenas condições de exercer algum tipo de função, não vejo razão para ficarem em casa, improdutivas”, defendeu Eduza Pereira. Além dos trabalhos

voluntários, ela acredita que permanecer economicamente ativo garante ainda uma melhor qualidade de vida, seja em relação aos aspectos financeiros, culturais ou de saúde. E manter-se trabalhando não significa necessariamente exercer a mesma função por mais tempo: reciclar as próprias habilidades e assumir novos papéis é parte integrante desse processo. Sua opinião é ratificada pelo cientista norteamericano Robert Butler, vencedor do Prêmio Pulitzer de 1976, autor de Why survive? Being old in America (tradução livre: Por que sobrevivemos? Envelhecendo na América) e diretor do Instituto Internacional de Longevidade. Butler defende a ideia de que ter um emprego (e uma fonte de renda própria) por um período mais longo de tempo favorece a realização pessoal e profissional e, consequentemente, contribui para a continuidade de um projeto de vida. Pesquisa coordenada pelo cientista na Europa revelou que de um universo formado por quase 17 mil pessoas, entre homens e mulheres, aqueles que se aposentaram mais cedo apresentaram uma taxa de mortalidade 51% maior do que aqueles que se mantiveram em atividade. A tese pode ser comprovada também pelos inúmeros casos de pessoas que, por falta de um planejamento do que fazer após a aposentadoria, desenvolvem quadros de angústia e depressão. “Em casa, inativa, a pessoa tende a pensar mais em doenças e problemas. Já foi comprovado que sentir-se produtivo e útil reduz em até 50% o uso de medicamentos por idosos”, reforçou a diretora do Ipeti. Mas investir em previdência e trabalhar por mais tempo, no entanto, não bastam para quem deseja programar sua velhice e viver bem. O primordial, antes de qualquer outra iniciativa, é estar atento à própria saúde física e psíquica. É esse cuidado — que deve começar ainda na infância — que permite que, aos 60 anos, as pessoas vivam hoje como se tivessem uma década a menos: uma realidade que parecia inatingível para uma população que, há apenas um século, não imaginava cruzar a faixa dos 40 anos.

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Sessentões com corpo [e mente] de quarenta Alimentação balanceada, exercícios físicos e restrição do álcool e cigarro: as medidas básicas para quem deseja viver bem após os 60 anos não são nenhum segredo. Segundo Alzirton Freire, clínico geral e reumatologista que atua no Ambulatório da Fachesf (Paissandu), com um mínimo de cuidados, iniciados desde a juventude, é possível envelhecer de forma saudável, sem mudar radicalmente o próprio estilo de vida ou recorrer a suplementos e remédios. Mas atenção: se você é da turma que apenas tardiamente atentou para a necessidade de desenvolver hábitos saudáveis, tenha em mente que, após os 40 anos, é fundamental procurar um acompanhamento médico e fazer check-ups anuais. Confira ao lado algumas dicas de saúde que podem lhe ajudar a manter o bem-estar físico, social e mental.

[ Atividades físicas ] Realizar exercícios pelo menos três vezes por semana fortalece coração, massa óssea, articulações, músculos e pulmões. Uma dica simples e acessível é fazer caminhadas. Antes de iniciar a prática, no entanto, devese buscar um acompanhamento médico. [ Controle da obesidade ] Uma alimentação sau-

dável deve ser pobre em gorduras e rica em fibras (estas encontradas principalmente em frutas, verduras e cereais). A obesidade é um mal que afeta todo o organismo e compromete as funções do coração, ossos e pulmão, podendo causar diabetes e até mesmo a morte.

[ Adeus à nicotina ] Uma pessoa que fuma pro-

vavelmente chegará aos 70 anos com enfisema pulmonar, problemas de circulação e uma maior tendência ao infarto e câncer de pulmão. Abandonar o cigarro é uma das poucas atitudes radicais nesse processo de cuidados com a saúde, mas essencial para uma vida longa e saudável.

[ Restrição do álcool ] O excesso de bebidas alcoólicas prejudica fígado, estômago, coração e nervos e, em seu grau extremo, leva à morte.

[ Vitamina D ] Apenas 15 minutos diários de sol

pela manhã (das 6h às 10h) são suficientes para estimular a produção de vitamina D, que fortalece os ossos e previne a osteoporose. A doença, comum em pessoas idosas, pode causar fraturas em qualquer parte do corpo.

[ Sono tranquilo ] Dormir no mínimo oito horas por dia, além de ajudar na recuperação da energia, contribui para um bom funcionamento cerebral. Uma noite tranquila de sono é fundamental ainda para aliviar o estresse e manter equilibrado o metabolismo do corpo (leia mais sobre o sono na página 18). [ Exercício mental] Ler diariamente livros, jornais

e revistas e fazer palavras cruzadas ou sudoku mantém a mente ativa e estimula o raciocínio. Disputar com amigos partidas de jogos como damas, xadrez e dominó também são importantes para o bem estar da mente.

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Inclusão social e lazer na terceira idade Dividido em sete núcleos de diferentes áreas de atuação, o Ipeti, através de parcerias com a iniciativa privada, desenvolve estudos e pesquisas na área do envelhecimento, realiza conferências e oferece assistência psicológica e jurídica a idosos. Além disso, o Instituto promove cursos de educação continuada para capacitação em geração de renda, no intuito de formar agentes multiplicadores que ajudem a população idosa mais carente a manter-se economicamente produtiva.

Alunos participam de cursos de trabalhos manuais.

Fundado em 1991 por professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Instituto de Pesquisa e Estudos da Terceira Idade (Ipeti) é uma sociedade civil sem fins lucrativos que reúne educadores, técnicos e especialistas na área do envelhecimento humano. Seu objetivo é atuar no resgate do exercício da cidadania das pessoas idosas, sensibilizando a sociedade e democratizando o acesso da população da terceira idade na vida sociopolítica e econômica do País.

Promover lazer e turismo também faz parte dos objetivos do Ipeti. Segundo Eduza Pereira, o Instituto coordena atualmente um grupo de mais de sete mil idosos em todo o Estado, que participam de viagens pelos municípios pernambucanos, praticam esportes e assistem a palestras sobre qualidade de vida e cuidados com saúde. “A integração entre essas pessoas acaba sendo também um importante instrumento para se manter ativo não apenas no mercado de trabalho, mas na própria sociedade”, explicou a diretora. Para fazer parte das atividades do Ipeti, basta entrar em contato com a entidade na (Rua Amauri de Medeiros, 206, Memorial de Medicina, Derby – Recife/PE – Fone: 81 3221.8452) e descobrir onde se reúne o grupo mais próximo de sua casa.

Equipe do IPETI aposta na sensibilização social como caminho para inclusão da terceira idade.


Aposentadoria em 30 minutos: não é bem assim Rogério Cardoso

dados confiáveis do trabalhador brasileiro e da sua vida laboral, tais como: informações oriundas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do CAGED (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados) e da GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social).

ente

civil e ger

heiro oso · Engen chesf Rogério Card de Benefícios da Fa ssão

de Conce

No início de 2009, o Ministério da Previdência Social anunciou em grande estilo e a imprensa alardeou para os quatro cantos do País: a aposentadoria será concedida em 30 minutos. Para a burocracia brasileira seria uma grande derrota, talvez a maior delas. Para o cidadão comum, obrigado a frequentar imensas filas, apresentar infinitos documentos e atender tantas outras exigências, seria uma enorme vitória. Para dar início ao novo processo, o Ministério escolheu inicialmente o benefício de Aposentadoria por Idade. Por ter uma menor complexidade nos requisitos de elegibilidade — é necessário apenas ter idade e cumprir a carência exigida —, apresentava-se como o ideal para servir de teste. Em seguida, vieram, ainda em janeiro, os benefícios de Aposentadoria por Tempo de Contribuição e Salário-Maternidade. Parecia que, afinal, a Previdência Social brasileira estava se aperfeiçoando e revertendo a imagem de ineficiência e desorganização que sempre a acompanhou. Isso estava sendo possível porque o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) recentemente atualizou e modernizou o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), que contém os

Passado o primeiro mês, entretanto, constatouse que a história não era bem assim. As dificuldades começaram a aparecer. A primeira delas foi o agendamento. Não era possível marcar atendimento em um dos postos do INSS para menos de 30 dias. Além disso, a inconsistência no cadastro mostrou-se uma realidade para muitos, pois diversos períodos trabalhados ainda não estavam no sistema. Quem tem mais de um número do PIS também ficou impossibilitado de utilizar a concessão rápida, pois essa foi uma das exceções não previstas pelo cadastro. Sem falar das inúmeras empresas que ainda não migraram para o sistema do INSS. Um outro fato importante também merece a atenção do empregado da Chesf: o tempo trabalhado em regime especial. A natureza do negócio da Companhia enseja que muitos de seus funcionários estejam expostos a agentes nocivos. O direito a esses tempos deve ser comprovado por meio do formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário), que é preenchido pela empresa com base em um LTCAT (Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho). A análise desses períodos tem que obrigatoriamente ir para a perícia do INSS que, via de regra, está sendo mais exigente, ultrapassando em muito o prazo divulgado. Por fim, e diante de todas as questões abordadas acima, o Participante da Fachesf deve ficar ciente de que a impossibilidade de concessão do benefício nas condições divulgadas é de total responsabilidade do INSS e este ainda tem um longo caminho a percorrer antes de transformar a aposentadoria em 30 minutos em realidade para todos os brasileiros.

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Você está preparado para a

aposentadoria?

Responda o teste a seguir e descubra se você está preparado para essa nova fase da sua vida.

1. Você realiza atividades ou hobbies no seu tempo livre?

4. Você consegue equilibrar o tempo que é dedicado entre sua vida profissional e pessoal?

Sim, procuro sempre me exercitar, praticar esportes e/ou fazer cursos de idiomas, viagens, atividades sociais, etc. B Às vezes, mas apenas quando sobra tempo depois do trabalho. C Muito pouco, pois geralmente levo trabalho também para casa ou já estou muito cansado. D Não, o trabalho e outras responsabilidades ocupam todo o meu tempo.

Muito. Venho dedicando cada vez mais tempo a minha vida pessoal, priorizando o convívio com familiares e amigos. B Sim, administro meu tempo para que o trabalho não interfira na minha vida pessoal, e vice-versa. C Nem sempre, algumas vezes acabo levando trabalho para casa. D Não, dedico muito mais tempo a minha vida profissional.

2. Quando pensa na aposentadoria, como você se sente?

5. Você costuma guardar um valor fixo por mês para usufruir quando se aposentar?

Tranquilo. Já tenho planos para realizar nesta nova fase. B Um pouco confuso, pois tenho dúvidas se realmente vou me adaptar. C Preocupado, já que não imagino ficar sem trabalhar. D Nunca parei para pensar sobre o assunto.

Sim, faço investimentos permanentes e diversificados, de forma planejada. B Invisto habitualmente em caderneta de poupança. C De vez em quando, guardo algum dinheiro, mas sem muito planejamento. D Não costumo fazer reserva financeira.

3. Você realiza check-ups periódicos de saúde? Sim, pois é importante para uma boa qualidade de vida hoje e no futuro. B Sim, mas somente porque sou obrigado pelo meu trabalho. C Raramente; apenas quando tenho algum problema de saúde que precise ser investigado. D Não, acho desnecessário.

6. Considerando sua situação financeira atual, você consegue planejar sua aposentadoria? Sim, pois é algo que considero essencial. B Ainda não, mas já estou começando a me organizar. C Não e nem faço idéia de quando conseguirei planejá-la. D Até consigo, mas isso não faz parte dos meus planos.


16 · 17 7. Para você, o ato de poupar para aposentadoria é... Algo indispensável, devido a todas as incertezas da Previdência Oficial. B Uma preocupação eventual, possível apenas quando há folga no orçamento. C Uma bobagem, pois o que conta é viver o presente. D Desnecessária, pois confio na Previdência Oficial. 8. Sobrou dinheiro na sua conta. O que você faz? Sigo minha estratégia e canalizo o dinheiro para alguma aplicação que eu já tenha.

B Como não tenho um planejamento estruturado, invisto no que considerar melhor no momento.

Parabéns! Você realmente está se preparando para ter uma aposentadoria tranquila financeiramente e com uma boa qualidade de vida. Você busca aproveitar ao máximo as oportunidades do presente, mas tem sempre em mente a importância de construir um futuro melhor, para você e sua família.

Você está indo bem. Apesar de não se sentir ainda muito confortável com a ideia de aposentadoria, tem feito algumas economias para esse período. Talvez esteja na hora de levar o assunto um pouco mais a sério e começar a planejar um orçamento. Além disso, cuide de verdade da sua saúde.

C Deixo o dinheiro parado no banco, pois, não costumo fazer investimentos.

D Gasto, é claro; não consigo economizar. 9. Para você, o que significa economizar? Considero algo sério, que persigo continuamente, como forma de assegurar meu futuro.

B Acho importante, mas não costumo pra-

ticar; só economizo quando sobra algum dinheiro.

C Algo que preciso aprender a fazer, pois sempre gasto tudo o que tenho.

D Considero uma preocupação desnecessária.

Fique Atento. Pelo visto, para você, o mais importante é viver o presente. Porém, ainda dá tempo de mudar de ideia: busque informações sobre como administrar melhor suas finanças e dedique mais tempo a você e a sua vida pessoal, priorizando um pouco menos o trabalho.

Muito cuidado! Você não se preocupa com o seu futuro e corre um grande risco de não conseguir manter seu atual padrão de vida. Tente pensar que, daqui a alguns anos, você irá querer tranquilidade e isso só acontecerá se começar a planejar-se desde hoje. Mude seus hábitos e invista a longo prazo.


O peso de uma noite m


mal dormida 18 · 19

Não é raro escutar, no senso comum, que dormir mal ou apenas poucas horas por dia, causa irritabilidade, sensação de cansaço e dificuldade de concentração. Mas o que poucas pessoas conhecem é que um sono irregular também pode levar à obesidade.


Apesar de as pesquisas não estabelecerem um fator causal para a relação sono x obesidade, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luiz Ataíde Junior, doutor em Neurologia e especialista em Medicina do Sono, afirma que a obesidade está ligada a um distúrbio conhecido como Síndrome da Apneia do Sono.

Dr. Luiz Ataíde

Definida como um problema respiratório que acontece durante o sono, a síndrome é caracterizada por interrupções breves e repetidas da respiração. “Ocorre quando há uma flacidez da musculatura das vias aéreas superiores. Na inspiração, as paredes da faringe colam, obstruindo a passagem de ar. Com isso, o cérebro deixa de enviar ordem aos músculos do tórax responsáveis pela respiração e descarrega adrenalina no organismo. E é justamente a adrenalina que aumenta a glicose no corpo humano e, consequentemente, leva algumas pessoas a desenvolver diabetes e aumento de peso”, explicou. Um indivíduo com Apneia do Sono chega a acordar mais de cinco vezes por hora de sono e cada despertar dura, pelo menos, 10 segundos.

“A obesidade está ligada a um distúrbio conhecido como Síndrome da Apneia do Sono”.

Dr. Pedro Nóbrega

Pelo menos é o que aponta uma pesquisa da Universidade de Bristol, no Reino Unido, feita em 30 mulheres gregas saudáveis, com idades entre 30 e 60 anos. Os especialistas observaram que, para cada hora de sono perdida, houve um aumento médio de 2,8% na gordura corporal. E tem mais. Estudos da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, chegaram à conclusão de que crianças do sexo masculino com menor duração de sono apresentam um risco 92% maior de ter sobrepeso ou serem obesas em relação as que dormem por mais tempo.

“A obesidade se tornou um problema de saúde pública em muitos países, inclusive no Brasil”. Para o médico endocrinologista da Fachesf, Pedro Nóbrega, a obesidade tem causa multifatorial, entre elas uma tendência genética e fatores ambientais, como erro alimentar (excesso de ingestão de alimentos calóricos) e diminuição do gasto desse excesso de energia (sedentarismo): “a obesidade se tornou um problema de saúde pública em muitos países, inclusive no Brasil. Isso se dá pelo fato de as pessoas da sociedade moderna estarem comendo mais e errado, e realizando cada vez menos atividades físicas”. Completando esse cenário, a sobrecarga de atividades laborativas está fazendo com que as pessoas passem mais tempo acordadas e alimentem-se em demasia. Dessa forma, fica mais fácil compreender porque poucas horas de sono podem aumentar a gordura e o índice de massa corpórea (peso em relação à altura), conforme sugeriu a pesquisa da Universidade de Bristol. Dormir, indiscutivelmente, é algo de extrema importância para o bem estar do ser humano. A duração do sono em indivíduos com idade entre 19 e 50 anos varia de cinco a seis horas por dia. Porém, no mundo atual, onde as cobranças e as preocupações estão maiores, seja do ponto de vista profissional, pessoal e até social, a qualidade do sono não é mais a mesma. De acordo com Pedro Nóbrega, cerca de 20% dos pacientes atendidos no ambulatório da Fachesf, no Paissandu (Recife-PE), queixam-se de distúrbios do sono, alegando que dormem pouco e, uma vez


o sono interrompido, não conseguem mais voltar a dormir. Integrante desse grupo, o Participante João Carlos Alves, 58, contou que demora muito a adormecer e raramente sente que teve uma boa noite de sono. A culpa, confessa, pode ser dele mesmo: “Talvez, se minha rotina fosse mais organizada, eu conseguisse relaxar e dormir tranquilo. Mas a agitação do meu dia-a-dia acaba tendo reflexo à noite. Há 10 anos, quando minha vida era mais calma, eu não tinha problemas para dormir”.

João Carlos Alves

58 Anos Aposentado | Recife

“A agitação do meu dia-a-dia acaba tendo reflexo à noite. Há 10 anos, quando minha vida era mais calma, eu não tinha problemas para dormir”. É nessa hora que um exame do sono, chamado de Polissonografia, deve ser recomendado. Realizado em consultórios especializados, o teste funciona como um raio-x do sono e serve para detectar possíveis distúrbios como apneia, insônia, sonambulismo, bruxismo (ranger dos dentes), síndrome das pernas inquietas (irresistível movimento de membros inferiores acompanhado de sensações de arrastamento das pernas), dentre outros. Antes de solicitar a prescrição da Polissonografia, entretanto, os médicos recomendam uma espécie de higiene do sono, pois, para uma noite bem dormida, o corpo humano precisa de temperatura agradável e de um ambiente silencioso e com o mínimo de iluminação, uma vez que a melatonina (hormônio que induz o adormecimento) só é secretada pelo organismo no escuro. Também é importante lembrar que não se deve dormir com fome, nem tampouco comer demais antes de dormir. “O processo digestivo dificulta o sono. O ideal é alimentar-se no máximo duas horas antes de ir para a cama”, disse Pedro Nóbrega. Também não é recomendado tomar, no período noturno, café, chá preto e bebidas do tipo cola ou guaraná, pois são estimulantes da atividade cere-

bral. Fumar? Nem pensar! “A nicotina tem efeito excitante”, alertou. Deixar de levar problemas para a cama, manter a tranquilidade do quarto (evitando utilizá-lo para outras atividades, como estudar, assistir televisão, jogar vídeo-game, etc.) e não praticar exercícios físicos extenuantes antes de dormir são outras dicas para um repouso revigorante. Em caso de desejar ler algum livro ou ver um filme, recomenda-se não optar por aqueles que possuem conteúdo estimulante, como os de suspense ou de terror. Vale lembrar ainda que o consumo de bebidas alcoólicas à noite deve ser evitado, pois embora pareçam induzir o sono, a qualidade do mesmo não é satisfatória. Além disso, deve-se dormir apenas o tempo suficiente para se sentir bem; ficar na cama mais do que o necessário prejudica a noite seguinte. Mas se o problema for o sono que resiste em chegar, ouvir uma música suave pode ser relaxante. E atenção: é essencial ter horários regulares para deitar e levantar, ajudando o corpo a manter uma regularidade em seu ritmo biológico. Seguindo esses mandamentos, é possível garantir uma ótima noite de sono e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida. Porém, se ainda assim, as noites em claro continuarem a acontecer com frequencia, faz-se necessário procurar a ajuda de especialistas. Nunca, em hipótese alguma, deve-se ingerir remédios indutores de sono sem orientação médica. As consequências podem ser bem mais desastrosas que algumas gorduras a mais.

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Eles sabem dormir bem Eli Queiroz Souto

64 Anos Assistido | Recife

“Não tenho dificuldades para dormir e procuro sempre deitar no mesmo horário, pois sei que o corpo necessita de descanso. Mas acredito que o importante mesmo é termos paz de espírito e tranquilidade para superar as dificuldades. Isso também contribui para que consigamos dormir bem.”

Teresinha C. Ramos 71 Anos Pensionista | Recife

Cochilo faz bem ao coração Quem nunca ouviu falar no velho costume latino de tirar um cochilo depois do almoço? O hábito, conhecido como sesta, é comum entre adultos ocidentais e ocorre normalmente entre 12h30 e 13h, quando aparecem os primeiros sinais de sono: a temperatura cardíaca diminui e a musculatura relaxa, acenando que o organismo espera repouso. Segundo especialistas, essa breve soneca no meio do dia pode reduzir o risco de morte por doenças cardíacas, especialmente entre homens jovens e saudáveis. Pesquisa realizada na Europa constatou que as pessoas que tiram 30 minutos de sesta, pelo menos três vezes por semana, têm um risco 37% menor de morrer de problemas cardíacos. Cada cochilo, no entanto, deve durar de 20 a 40 minutos, no máximo, pois além desse tempo, corre-se o risco de sofrer insônia e comprometer o sono noturno.

“Busco não me estressar muito com os problemas. Acredito que por essa razão, meu sono, em geral, é sempre ótimo: acordo tranquila e com disposição para enfrentar um novo dia. Só não durmo bem quando estou preocupada.”

Rinaldo Moreira Cavalcanti

41 Anos Participante | Recife “Durmo bem até demais. Pelo menos, oito horas por dia. Tenho uma vida tranquila e meus horários são organizados. Mesmo quando estou preocupado, nada afeta o meu sono. Só mudo o horário de descansar quando tenho que ir a uma festa.”


Você sabe o que é a Doença de Alzheimer? Em promoção realizada no site da Fachesf, o Participante Raimundo Nonato (Teresina-PI), registrou que gostaria de saber mais sobre a Doença de Alzheimer, patologia que, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo. A coluna Pergunte ao Doutor entrevistou a médica geriátrica Carla Núbia que explica o que é esse mal e como proceder em caso de suspeita da doença. 1. O que é a Doença de Alzheimer? É uma doença cerebral degenerativa e irreversível, que causa uma deterioração das funções mentais, comportamento e funcionalidade, manifestadas através de alterações progressivas na memória, capacidade de julgamento e raciocínio intelectual, levando o paciente a perder sua independência e autonomia. O Alzheimer pode acometer tanto homens quanto mulheres de todas as raças e classes sociais, porém é mais comumente diagnosticado em pessoas acima de 60 anos. 2. Quais os primeiros sintomas da doença? O primeiro e mais importante sintoma é a perda de memória. No paciente acometido pela doença, há conservação da memória retrógrada (lembranças do passado), mas a memória recente é seriamente afetada. O paciente esquece, por exemplo, coisas que aconteceram há poucos minutos (se tomou café da manhã, a festa do dia anterior, um telefonema) e passa a ter dificuldade de reter novos conhecimentos. Podem ocorrer ainda episódios de desorientação no tempo e no espaço (a pessoa se perde na rua, confunde épocas do ano, datas, etc.), instabilidade do humor, dificuldade de manter atividades intelectuais, alterações na linguagem e no comportamento. 3. No passado, não se ouvia falar em Alzheimer. Tratase de uma doença nova? Não. Muitas das pessoas que, no passado, foram denominados esclerosados provavelmente deviam ter a Doença de Alzheimer, que naquela época era pouco diagnosticada. Com o rápido e progressivo envelhecimento no Brasil e no mundo, entretanto, o aumento do número de idosos vem revelando índices maiores de pessoas acometidas pela doença. Atualmente existem cerca de 18 milhões de pessoas com a demência no mundo inteiro, com estimativa de aumento para 34 milhões nos próximos 25 anos. 4. Quanto à perda de memória, como distinguir o que é natural do patológico? Muitos sintomas do Alzheimer são confundidos como

próprios da terceira idade, assim, a família e até mesmo profissionais da saúde podem não perceber o início da doença. O importante é observar todos os aspectos e identificar se há algum outro sintoma e se os fatos estão se tornando repetitivos e progressivos — o que diferencia a patologia de uma ocorrência normal do envelhecimento. 5. Como a família deve lidar com alguém que começa a apresentar os sintomas? Antes de tudo, é importante a percepção de alterações na memória e comportamento. Se houver uma suspeita, a família deve procurar uma avaliação médica para confirmar o diagnóstico, pois a falta de informações acerca de atitudes como manias, repetições, agitação, sentimentos de medo e de perseguição podem não ser compreendidos como sintomas da doença e causar conflitos familiares. 6. Quantos anos, em média, leva para que o processo degenerativo da doença instale-se completamente? É comum, quando o paciente é levado para uma avaliação, já portar os sintomas há pelo menos dois anos e ninguém ter percebido. Uma vez a doença iniciada, seu avanço é progressivo, em três estágios: leve, moderado e grave. Cada um dura em média de três a quatro anos, tempo que pode variar de paciente a paciente e depende das co-morbidades, ou seja, presença de outras doenças associadas.

Carla Núbia Nunes Borges é formada em Medicina pela Universidade de Pernambuco, pós-graduada em Saúde Pública e atua em clínica médica e geriatria. Atualmente é presidente da Interiorização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e presidente da Regional Pernambuco da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz-PE). Mais informações sobre o tema: http://www.icones.com.br/abrazpe

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Por dentro do Fachesf-Saúde Entrevistado | Luiz Vendramini

Diante dos inúmeros questionamentos recebidos de Participantes sobre os últimos índices de reajuste no Fachesf-Saúde (divulgados em uma publicação especial, no mês passado), a Diretoria Executiva da Fundação convidou Luiz Vendramini, consultor externo responsável pelos estudos atuariais dos Planos Básico, Padrão e Especial, para explicar à Conexão Fachesf como são realizados os cálculos que permitem à Fundação um equilíbrio financeiro entre despesas e receitas. Com formação em Estatística e Ciências Atuariais, pós-graduação em Sistema de Informação e Mestrado em Administração e Gestão Financeira, Vendramini detalhou todo o processo de avaliação atuarial realizada anualmente e alertou para um importante fator que vem prejudicando o mercado de Planos de Saúde, sejam públicos, abertos ou de autogestão: o custo cada vez mais elevado de procedimentos e materiais médicos.


CF. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) obriga que os planos de saúde de autogestão realizem anualmente uma avaliação atuarial. O que isso significa? LV. Antes de tudo, é importante conceituar duas palavras fundamentais nessa questão: a atuária é uma ciência que se ocupa dos problemas relacionados com a teoria e o cálculo de seguros numa coletividade, buscando proteções financeiras para os sinistros que possam vir a ocorrer à vida, ao patrimônio ou a ambos; já atuário é o profissional habilitado e responsável pelo dimensionamento dos riscos assumidos pelas instituições e realização dos cálculos que compõem o relatório de avaliação atuarial. No caso do Fachesf-Saúde, isso significa que anualmente é feita uma reavaliação no Plano (recálculo da tabela de mensalidades), considerando os seguintes fatores: perfil demográfico dos seus beneficiários (idade e sexo, principalmente); efeito do envelhecimento; entradas, saídas e migrações de usuários no Plano; nível de utilização e custos dos serviços médicos e hospitalares; tendência de crescimento desses custos; principais fatores de aumento de custos; formação de fundos (reservas) para dar garantias financeiras aos Planos e, consequentemente, aos seus usuários e prestadores de serviço.

gastos com assistência à saúde. Também há necessidade de manter um nível mínimo de reservas técnicas estabelecidas pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Se, por algum infortúnio, em um determinado ano, parte desse fundo tiver que ser utilizado, no próximo reajuste na tabela de mensalidades, será acrescido um percentual para a recomposição dessas reservas. CF. Qual a explicação para o desempenho que o Fachesf-Saúde vem apresentando nos últimos anos? LV. O que temos verificado, ao longo do tempo, não apenas com o Fachesf-Saúde mas em todo o setor de planos de saúde no Brasil, é um crescimento constante nos custos. Esse crescimento está relacionado a diversos aspectos, como: introdução de novas tecnologias (área médica, hospitalar, exames complementares, medicação, materiais), aumento no rol de procedimentos cobertos, envelhecimento da população, alteração no perfil epidemiológico, ofertas de serviços, alterações de protocolos clínicos, reajustes de contratos e valores de tabelas dos prestadores de serviço. O custo de um plano está diretamente relacionado ao preço do serviço e a quantidade realizada. Por conta disso, o crescimento das despesas é superior aos índices inflacionários.

“O que temos verificado, ao longo do tempo, não apenas com o Fachesf-Saúde mas em todo o setor de planos de saúde no Brasil, é um crescimento constante nos custos.”

CF. Como uma avaliação atuarial calcula os índices de reajustes anuais? LV. Esse índice é obtido em função da comparação entre as receitas e despesas calculadas. O fato de um Plano precisar de reajuste anual não quer dizer, obrigatoriamente, que esteja em déficit, mas sim que há a necessidade de aumento da receita para evitar que fique deficitário. Num Plano de Autogestão, como o Fachesf-Saúde, que não tem despesas com publicidade e vendas e nem tão pouco visa lucros, quase a totalidade das contribuições mensais (excetuando-se uma pequena parcela para custear as despesas administrativas) são destinadas à cobertura dos

CF. No ano passado, o Plano também se encontrava deficitário. De lá para cá, alguma coisa mudou? LV. Como disse, todos os anos é feita uma avaliação atuarial dos Planos para cálculo do percentual de reajuste necessário a ser aplicado nas mensalidades. É rara, em função do exposto, a situação em que não seja necessário esse aumento. E o valor do reajuste depende diretamente do nível de utilização do Plano. Comparativamente ao ano de 2007, verificamos que, em 2008, houve um crescimento significativo na quantidade de serviços e procedimentos re-

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alizados, bem como um aumento na ocorrência de procedimentos de alto custo. Isso fez com que o percentual de reajuste calculado ficasse maior do que o aplicado no ano anterior. Uma das características predominantes do FachesfSaúde (e demais planos) é o mutualismo, pois geralmente você não sabe quando ficará doente e necessitará de um montante expressivo de recursos para custear seu tratamento. Para 2009, também foram realizadas algumas adaptações à legislação vigente, como a alteração dos limites das faixas etárias. CF. O índice sugerido após sua avaliação atuarial é posteriormente analisado pela Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo. Quais as implicações para o Fachesf-Saúde caso suas orientações não sejam acatadas? LV. As orientações, sugestões e recomendações que formulamos constam do relatório anual de Avaliação Atuarial dos Planos, no qual também relacionamos os riscos e implicações caso não seja acatadas totalmente ou parcialmente. Na grande maioria dos casos, as implicações são de ordem financeira, acarretando um reajuste futuro de mensalidade maior para equilibrar as receitas às despesas e recomposição dos fundos.

e taxas, por exemplo) e dividimos pelo número de usuários. Essa conta nos dá uma despesa média que precisa ser paga pelos beneficiários e é distribuída em função do risco por plano (Básico, Padrão, Especial), categoria e faixa etária. O percentual de aumento na mensalidade sai da comparação entre essas despesas e o nível atual de receita. Neste ano, o principal fator que pesou no índice de reajuste foi o crescimento nas taxas de utilização. CF. O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento do País vêm, ao longo dos anos, comprometendo o já complicado sistema de saúde nacional, seja ele público ou privado. Que alternativas o senhor apontaria para a gestão do Fachesf-Saúde, diante desse cenário? LV. O investimento em ações de medicina preventiva, gestão e auditoria é de suma importância e se justificam. Mas só isso não é suficiente. É preciso usar de forma consciente os recursos dos planos, bem como mudar alguns padrões de vida, adquirindo hábitos mais saudáveis. Outro fator importante, dada a grande concentração de usuários com 49 anos ou mais de idade, é a formação de reservas financeiras no Plano (uma ideia de poupança coletiva), adicionais ao valor mínimo estabelecido pela ANS, para dar garantia e tranquilidade aos beneficiários. E isso exigirá, sem dúvida, esforços de todos.

“É preciso usar de forma consciente os recursos dos planos, bem como mudar alguns padrões de vida, adquirindo hábitos mais saudáveis.”

CF. Como o senhor chegou aos percentuais de reajuste aplicados neste mês de março? Por que os índices foram tão elevados? LV. O percentual médio de reajuste é calculado pela divisão das despesas sobre as receitas. De maneira bem simplificada, poderia comparar um plano de saúde a um condomínio ou a um clube, onde todos têm o direito de uso (embora nem todos os façam) e as despesas são rateadas. A cada 12 meses, somamos os custos verificados no período, adicionamos as necessidades futuras de despesas (como os reajustes já acordados de honorários médicos, consultas, diárias

CF. Como o beneficiário do Fachesf-Saúde pode ajudar para que o Plano venha a funcionar de forma mais equilibrada? LV. Com um uso racional e consciente do Plano, campanhas informativas, adoção de hábitos mais saudáveis de vida e programas de promoção à saúde e prevenção de doenças, o crescimento anual dos custos médicos e hospitalares pode ser reduzido, refletindo-se nos percentuais de reajustes futuros.


Investimentos & responsabilidade Entenda a Política de Investimentos da Fachesf Esta matéria foi sugerida pelos Participantes Wellington Araújo Souza (Irecê-BA) e Alberto Lima (Recife-PE), durante a última promoção realizada no site da Fachesf. Mande também sua sugestão ou crítica para conexao@fachesf.com.br.

Renda fixa ou renda variável? Investimentos de risco ou aplicações mais seguras? Imóveis ou empréstimos? Como são escolhidos esses papéis? Quem decide quando é hora de comprar ou vender ações? Quais os riscos aceitáveis? A Fachesf pode garantir que receberei meu benefício de forma correta?


Desde que a crise financeira ganhou as páginas de jornais do mundo inteiro, muitas perguntas chegaram à Fachesf, vindas de Participantes preocupados com suas reservas de previdência. A ansiedade tem justificativa, afinal trata-se da garantia de uma aposentadoria tranquila, formada durante anos de contribuição previdenciária. Mas é preciso não se deixar levar pelo pessimismo: hoje os fundos de pensão são regulados por rigorosas leis e geridos por profissionais que acompanham diariamente o mercado de investimentos, de forma a aproveitar as melhores oportunidades sem ultrapassar uma margem segura de riscos. Luiz Ricardo da Câmara Lima, diretor de Administração e Finanças da Fundação, explicou que, para definir como serão distribuídos os investimentos a cada ano, parte-se inicialmente do compromisso de suplementação assumido com todos os Participantes; ou seja, quanto a Fachesf precisará dispor para atingir sua chamada meta atuarial e quando esse montante deve estar disponível.

te mais conservadores do que no ano anterior, quando ainda se estava sob os bons ventos que sopraram na Bolsa em 2007. Via de regra, a maior parcela dos Ativos da Fachesf é sempre destinada aos fundos de Renda Fixa. Desses, a grande maioria é aplicada em Títulos Público do Governo, considerados as opções que representam maior segurança, seguidos por empréstimos aos Participantes, imóveis, fundos de crédito privado, CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e debêntures de empresas. Equilibrando o mix de investimentos da Fundação, os Ativos destinados às aplicações em Renda Variável são divididos principalmente entre ações na Bolsa de Valores e fundos de participação em empresas emergentes. Por serem mais arriscados e terem maior oscilação — bem como elevadas possibilidades de retorno financeiro —, a movimentação desses produtos é acompanhada de forma rigorosa pela equipe de investimentos da Fachesf e por consultores externos, para garantir que sejam efetuados sempre os melhores negócios.

A partir dessa definição, a Gerência de Investimentos da Fachesf (FGI), em parceria com uma consultoria externa, realiza um estudo de cenário, através de uma ferramenta denominada Asset-liability Management (ALM). O objetivo desse processo é analisar os Ativos e Passivos da Fundação, e definir, de acordo com cada Plano de Previdência, quais os parâmetros ideais para a alocação do montante de recursos. Em outras palavras, o ALM avalia quanto a Fachesf tem e de que forma precisará investir seu patrimônio, de modo a garantir os benefícios dos Participantes de forma segura e com os menores riscos. Tal avaliação é feita sempre no final de cada ano e suas conclusões (a chamada Política de Investimento) são válidas para todas as ações a ser realizadas durante o ano posterior. Por ser um processo dinâmico, as análises estão sempre em sincronia com os cenários político-econômicos de forma global e consideram, sobretudo, o próprio momento atual da Fundação. Em 2008 , por exemplo, quando a crise estourou de forma incisiva pelos quatro cantos do mundo, a distribuição dos investimentos da Fundação seguiu os seguintes critérios para aplicação em 2009 (com aprovação prévia do Conselho Deliberativo): 76,7% em Renda Fixa, 15,10% em Renda Variável, 1,15% em imóveis e 6,08% em empréstimos para os Participantes — índices ligeiramen-

Luiz Ricardo da Câmara Lima Diretor de Administração e Finanças da Fachesf

É por essa razão que, ressalta Câmara Lima, os Participantes podem ficar tranquilos em relação ao atual momento da Fundação, apesar da turbulência que atinge o cenário internacional. “Além de trabalhar com períodos de longo prazo (o que garante tempo suficiente para recuperação das perdas obtidas com as quedas da Bolsa), a Fachesf não se desfez de suas Ações e, como tem feito ao longo de toda a sua existência, mantém uma Política de Investimento responsável, dinâmica e comprometida com o acordo firmado com todos os seus associados”, finalizou.


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Hábitos que podem custar bem caro Racionalidade, planejamento e cautela. Em plena crise financeira que já atinge o mundo inteiro desde o final de 2008, essas três palavras passaram a ter um significado muito maior do que se imagina para o bolso dos brasileiros

Elas podem garantir um orçamento equilibrado no futuro e menos dor de cabeça no presente. Para os consumistas de plantão, a hora é de se esforçar para não sucumbir aos apelos da mídia, cujas estratégias de marketing são elaboradas com o objetivo de conquistar até os econômicos mais atentos. A atenção, no entanto, não deve ficar restrita aos períodos mais críticos. De acordo com André Magalhães, consultor do Instituto Datamétrica, com ou sem crise, é preciso pensar antes de gastar, pois o prazer do consumo é imediato e somente deixa algo de bom quando acontece com responsabilidade e sem maiores preocupa-


ções. Fora dessas condições, alertou, não vale a pena: afinal importa mais a paz de espírito e um orçamento equilibrado do que um prazer momentâneo com péssimas consequências. Para quem ainda tem dificuldades em resistir aos ímpetos da compra, a dica é fazer um planejamento familiar (leia artigo na página 32); eleger prioridades e elencar quais são os itens de maior necessidade ajuda a identificar o que é supérfluo e, inclusive, o que pode ser descartado. “A publicidade acaba fazendo com que os consumidores adquiram produtos fora dessa hierarquia ou, o que é pior, com o dinheiro que não têm, trazendo como resultado um endividamento pessoal e o estrangulamento orçamentário”, afirmou o professor de Economia e coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Thales Castro. Em relação aos aspectos psicológicos envolvidos nos atuais hábitos de consumo, a mestra em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Aparecida Craveiro Costa, aponta para o que considera uma inversão dos valores da sociedade e seu reflexo no “As pessoas têm, muitas atual cenário econômivezes, deixado de investir co mundial. Segundo ela, há uma tendência no essencial e se voltado hoje a valorizar mais para os bens considerados o que o outro ostenta supérfluos porque são esses do que quem ele de fato é. “As pessoas têm, que conferem status.” muitas vezes, deixado de investir no essencial e se voltado para os bens considerados supérfluos porque são esses que conferem status”, explicou. Mesmo não sendo um comportamento novo, tal transferência de valores vem aumentando consideravelmente em todo o mundo e inspira uma grande reflexão por parte da sociedade, pois o ato de comprar, assim como qualquer outro costume, vira facilmente uma compulsão. Nesse estágio, é comum a perda de controle dos gastos em troca de uma aceitação social e uma satisfação instantânea. “A crise pode potencializar essa situação, pois tem gerado uma angústia nos consumistas insaciáveis, que necessitarão, mais do que nunca, exercitar a capacidade de fazer escolhas e de lidar com limites”, alertou Maria Aparecida.

Apesar da enorme quantidade de opiniões discordantes sobre o fato, é evidente que a crise já chegou com força ao Brasil. Para o economista André Magalhães, a instabilidade está maior forte no Sudeste, onde a economia é mais dinâmica, mas já atinge todas as regiões. No caso do Brasil, o principal efeito foi a redução do ritmo de crescimento. Porém, os elementos mais visíveis são a redução na produção em vários setores e o aumento do desemprego. Diante dessa realidade de incertezas, fica a dúvida: como usar bem o dinheiro na hora de fazer compras? Para os que têm emprego estável (funcionários públicos, por exemplo), a crise pode trazer muitas oportunidades. Os preços dos carros e das casas tendem a cair, o que pode ser bom para quem é organizado e tem recursos para gastar. Já para quem não tem um emprego estável, o melhor é ir devagar. Deve-se evitar compromissos de prazos muito longos, como comprar um carro em 36 ou 48 meses, e tentar gastar apenas o necessário. Outro artifício é tentar barganhar juros menores ou, até mesmo, apelar para a pechincha nas compras parceladas em até 12 vezes. Guardar o dinheiro na tradicional caderneta de poupança também pode ser um bom negócio; o quanto será poupado depende de cada perfil familiar. Um bom número seria algo entre 10% e 30% da renda mensal. Ao longo dos anos, isso pode garantir um bom fundo de reserva para o futuro. Mas não há formulas prontas para investir. Pesquisar as melhores oportunidades e formas de investimento é fundamental. Para quem gosta de correr riscos, por exemplo, e pode investir com a perspectiva de resgate a longo prazo, uma boa opção é apostar na Bolsa de Valores. Mas atenção: em tempos de crise, mais do que em qualquer outra época, deve-se ter em mente que tentar ganhar dinheiro com as oscilações da Bolsa é bastante arriscado, principalmente para quem não entende bem do mercado financeiro. Quem amargou um grande prejuízo por conta de inexperiência foi o Participante Sebastião Bezerra (Recife/PE). Assim como milhares de outros brasileiros, ele resolveu investir em ações da Bolsa, no início do ano passado, animado com os excelentes índices de 2007, quando a Bovespa chegou a atingir a casa dos 73 mil pontos. Apesar dos rumores de uma possível crise, Sebastião resolveu


que não venderia suas ações e, na tentativa de ganhar mais dinheiro, comprou outros papéis. “Quando de fato estourou a crise, tive uma perda grande. Mas isso acabou servindo para que eu refletisse mais sobre tudo e me incentivou a entender melhor o funcionamento do mercado de investimentos. Apesar de ter aprendido perdendo, adquiri experiência e hoje já não me deixo influenciar pela mídia ou gerentes de banco, por exemplo”, revelou. Além disso, segundo ele, a lição serviu para aumentar a cautela da família dentro de casa, que agora pensa duas vezes antes de comprar bens de consumo mais supérfluos.

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Ilda de Souza

Participante São Paulo/SP

“Sempre fui bastante controlada com minhas finanças e tinha dinheiro aplicado no banco.” Quem não se sente confortável para suportar tais oscilações e prefere algo mais seguro, o melhor é optar pelos investimentos tradicionais, como imóveis e renda fixa. Esse é o caso de Ilda de Souza Carvalho, Participante da Fachesf (São Paulo / SP). Desde que começou a ouvir falar em crise, em setembro do ano passado, ela buscou mais informações sobre como deveria agir. “Sempre fui bastante controlada com minhas finanças e tinha dinheiro aplicado no banco. Como meus investimentos estavam rendendo pouco, após conseguir me aposentar pelo INSS, comprei um imóvel, algo que já estava nos meus planos para 2009. Não quis arriscar minhas economias. Acho que fiz a escolha certa, pois ninguém sabe o dia de amanhã e o quanto essa crise poderá nos afetar”, desabafou.

os acordos podem dar uma folga no orçamento para uma reorganização das contas.

Para os que estão cheios de dívidas para saldar em plena crise financeira, André Magalhães orienta a começar a pagar o que for possível, dando prioridade àquelas que geram maiores taxas de juros, como cheque-especial e cartão de crédito. Além disso, ele recomenda que se tente renegociar os valores, pois apesar de serem desgastantes,

O essencial de tudo, porém, é ter disciplina e não voltar a gastar mais do que se tem. Portanto, cautela: nada de fazer empréstimos, atrasar pagamentos, pagar o mínimo das faturas dos cartões de crédito e, acima de tudo, cair na tentação do prazer do consumo a qualquer preço; isso pode custar bem mais caro do que se pensa.


O controle orçamentário começa com uma boa conversa Maria Elizabete Silva

serviços domésticos, moradia, lazer, despesas eventuais (oficina mecânica, presentes, remédios, etc.), cuidados pessoais e outros. Nessa etapa, é importante que toda a família esteja envolvida e ajude a listar as despesas. Assim, todos os membros terão noção de como devem registrar seus gastos e repassá-los ao condutor do orçamento.

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2) Discrimine as receitas familiares, considerando salários e rendimentos extras. 3) Reduza as despesas das receitas e conheça a situação financeira líquida da sua família. ae

st Contabili f bete Silva · da Faches

Maria Elieczaonômico-financeira gerente

Dando continuidade à nossa conversa sobre a aplicabilidade de um melhor planejamento familiar das finanças, ressaltamos, nesta edição, a importância de dar o primeiro passo através de uma conversa franca com todos os membros da casa. Entendo que esse é um momento crucial no sentido de obter o consenso de todos sobre a necessidade de conhecer e controlar os rendimentos e gastos familiares. Vale ressaltar ainda que manter um orçamento contribui de forma efetiva para que os planos futuros do grupo ou de um membro sejam previstos e realizados sem transtornos. Do ponto de vista psicológico, o fato de a família ter clareza sobre as fontes de recursos que custeiam seus gastos também é um importante meio de evitar desperdícios. Para as pessoas que, ainda assim, relutam em realizar um acompanhamento orçamentário familiar, relacionamos alguns reflexos da falta de um planejamento financeiro: constante sensação de que o dinheiro desaparece sem que se lembre como foi gasto; certeza de que, no final do mês, o dinheiro vai sobrar, mas nem as contas básicas acabam sendo pagas corretamente; completa falta de noção do total da fatura dos cartões de crédito a cada mês. Para acabar com tantas surpresas e sentimentos desagradáveis, basta seguir um simples roteiro, desenvolvido para controle do orçamento familiar. Acompanhe o passo-a-passo a seguir: 1) Relacione todos os gastos do mês, divididos em categorias, tais como: alimentação, saúde, educação,

4) De posse dessas informações, o executor do orçamento deve reunir-se com todos para apresentar os resultados do primeiro mês de controle orçamentário. Em uma conversa tranquila (pode até mesmo ter um lanche), com participação inclusive das crianças (que devem saber o real motivo do encontro), o executor deve distribuir uma cópia do levantamento (Receitas – Despesas = Situação atual) e explicar para onde os recursos financeiros da família estão sendo destinados. 5) A partir do conhecimento da destinação dos recursos familiares, todos deverão, juntos, traçar as próximas metas: caso esse diagnóstico indique claramente que é preciso economizar para equilibrar as finanças da casa, deve-se eleger quais as despesas iniciais que precisarão ser reduzidas, e quem será o responsável pela ação; se, por outro lado, a situação mostrar que há disponibilidade para algum investimento, escolhese alguém para avaliar onde e quanto será investido o dinheiro a cada mês. 6) Tal operação deve ser repetida no mês seguinte para o acompanhamento das ações acordadas e consolidação, cada vez mais, da prática de conhecer e gerir o orçamento doméstico. Ao final de alguns meses, será possível ter um excelente controle da situação financeira da casa, sem sofrimento para qualquer membro da família. Sabemos o quanto é difícil mudar hábitos da noite para o dia. Por isso, salientamos que a conversa é essencial nesse processo de aprendizado, alcance das metas e equilíbrio nas finanças. Na próxima edição, consolidaremos a sistemática do orçamento familiar para que ele seja uma peça natural para a família e traremos algumas sugestões para mudanças de atitude, de modo que os gastos sejam efetuados de forma que não acarretem prejuízo ou desperdícios às finanças.


Portadores de doenças graves são isentos do Imposto de Renda 32 · 33

Na sua busca permanente por melhoria, a Fachesf tem buscado ampliar o leque de serviços oferecidos aos Participantes, nas suas diversas frentes de atuação. Na área de Previdência, por exemplo, além de processos relativos ao INSS, como contagem de tempo para aposentadoria, auxílio-doença (para os empregados lotados em Recife), revisão e entrada de aposentadoria e pensão, a Fachesf facilita um atendimento que talvez poucos ainda conheçam: o requerimento de isenção do Imposto de Renda (IR) sobre os proventos de Aposentadoria e Pensão dos portadores de moléstias graves. O serviço, realizado através de convênio com o INSS, para os titulares dos benefícios vinculados ao Posto-Prima Fachesf, é acompanhado pela gerência de Concessão de Benefícios da Fundação (BGC), que posiciona a Central de Relacionamento, onde os requerentes podem acompanhar o andamento dos seus processos. O direito foi determinado pela Receita Federal e isenta do desconto do IR os Assistidos que comprovem ser portadores de doença grave (ver lista na página 34), mediante laudo emitido por médico da rede oficial da União, dos Estados, dos municípios ou do Distrito Federal. Para ter acesso ao benefício, o Participante que apresente tais condições deve entrar em contato com a Central de Relacionamento ou com uma das Agências da Fachesf. Confira quadro ao lado:

Documentos necessários Laudo médico da rede oficial, contendo nome completo do Participante, carimbo e assinatura do especialista na doença atestada, CID, data do atendimento e data em que a doença foi comprovada (Ex.: A doença vem se agravando desde abril/2006). Cópia autenticada do RG e CPF, e os originais de todos os exames médicos já realizados pelo requerente. Caso o Participante não tenha condições de exercer suas atividades da vida cível, o formulário do INSS com a solicitação da isenção poderá ser assinado pelo curador, com a apresentação do termo de curatela. O prazo para análise da perícia médica do INSS para concessão da isenção varia de 30 a 60 dias. Sendo aprovada, não há limites de valor; todo o rendimento é isento.


São considerados portadores de doenças graves e isentos do Imposto de Renda os trabalhadores que se enquadrem cumulativamente nas seguintes situações: Seus rendimentos sejam relativos exclusivamente à aposentadoria, pensão ou reforma, incluindo a complementação recebida de previdência complementar e pensão alimentícia; Sejam portadores de uma das doenças abaixo: AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) Alienação mental Cardiopatia grave Cegueira Contaminação por radiação Doença de Paget em estados avançados (Osteíte deformante) Doença de Parkinson Esclerose múltipla Espondiloartrose anquilosante Fibrose cística (Mucoviscidose) Hanseníase Nefropatia grave Hepatopatia grave* Neoplasia maligna Paralisia irreversível e incapacitante Tuberculose ativa * Nos casos de Hepatopatia Grave somente serão isentos os rendimentos auferidos a partir de 01/01/2005.

Não gozam de isenção os rendimentos decorrentes de atividade; isto é, se o contribuinte for portador de uma moléstia, mas ainda não se aposentou; Não gozam de isenção os rendimentos decorrentes de atividade empregatícia ou de atividade autônoma, recebidos concomitantemente com os de aposentadoria, reforma ou pensão; A isenção também não alcança rendimentos de outra natureza como, por exemplo, aluguéis recebidos concomitantemente com os de aposentadoria, reforma ou pensão.


Foi assim...

As agruras e desafios na construção da usina Paulo Afonso I Logo que entrou na Chesf, em 1949, o Participante Bret Iolas de Cerqueira Lima soube que iria participar de perto da construção da primeira usina da Companhia, em Paulo Afonso (BA). Hoje, aos 90 anos de idade e mais de 30 anos de aposentadoria, ele relembra um pouco da história que representa o início da Chesf e um grande marco em sua própria vida.

Puxa vida! Parece que foi ontem, mas já se passaram mais de cinquenta anos desde a inauguração da primeira usina da Companhia Hidroelétrica do São Francisco, nos idos de 1955. Tudo começou há sessenta anos, quando se ouvia falar que a Cachoeira de Paulo Afonso (BA) já estava rouca de tanto chamar pelos engenheiros do Brasil. Era essa a lenda que se comentava em Angiquinho, onde o empresário Delmiro Gouveia já havia fundado, em 1913, sua primeira usina e a hidroelétrica pioneira do Nordeste, aproveitando a potência do Rio São Francisco. Passados alguns anos, porém, chegaram em Paulo Afonso os engenheiros Alves de Souza, Marcondes Ferraz, Adozindo Magalhães e Carlos Berenhauser, para comandar uma turma de eficientes operários e dar início às obras que representavam o anseio de várias gerações: a primeira usina da Chesf! O ano era 1949. E a luta não foi fácil. Não fosse o empenho dos funcionários e a dedicação dos engenheiros que não escolhiam hora ou mediam esforços para trabalhar dia e noite, o Nordeste ainda estaria sem as melhorias que conquistou com a chegada da energia elétrica. Já no começo da construção, constatou-se que vários serviços prévios seriam

fundamentais, como a edificação de uma barragem em concreto, medindo 4.207m de comprimento, e mais quatro conjuntos de comportas — a que ficava no braço principal do rio acabou se revelando como a mais trabalhosa e inspirou, na época, o conhecido monumento do touro e da cobra, simbolizando a astúcia da engenharia (a cobra) que dominava a força do rio (o touro). Além disso, foi necessário ainda escavar na rocha, a 83m de profundidade, a usina onde seriam instaladas as turbinas e os geradores. Nesse trabalho, foram retirados 70mil m3 de rocha granítica com o uso de 30 toneladas de dinamite. Para desenvolver esses serviços, entretanto, os servidores precisavam de algumas condições básicas, que a Chesf proporcionou: forneceu residências, armazéns, restaurantes, igreja, hospital e escola para as crianças. Os empregados também tinham acesso a atividades de lazer como cinema, festas, clubes sociais e passeios nos arredores do acampamento que era a nossa cidade. O transporte dos geradores, transformadores e outros equipamentos era feito em forma de comboio, composto de três pranchas rebaixadas, um pau-de-arara (que levava os operários), um veículo exclusivo para carregar o material de trabalho (macacos, cepos e vigas de madeira,

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“Para se ter uma ideia, a viagem de Salvador atĂŠ Paulo Afonso durava quatro dias. Banho? Tomava-se um antes de viajar e outro apenas na volta para casa.â€?


cordas, cabos de aço, alavancas, pás e enxadas) e mais um carro que levava a comida e os utensílios de cozinha, e onde dormiam o engenheiro e o encarregado da obra. Para se ter uma ideia, a viagem de Salvador (BA) até Paulo Afonso durava quatro dias, iniciados às 4h da madrugada e encerrados apenas às 23h. Banho? Tomava-se um antes de viajar e outro apenas na volta para casa. Na passagem por Camaçari, também na Bahia, havia cinco pontes que não suportavam as dimensões das cargas, sendo preciso diminuir algumas. Usava-se então um carro do tipo buggy (que os operários chamavam de buguia). Ali gastávamos mais quatro horas para conseguir, enfim, passar as três pranchas. Para construir as comportas, o Rio São Francisco deveria ser desviado – o que exigia ainda a abertura de um canal, por onde ele escoaria, e uma barragem que orientasse o curso das águas para o seu local temporário. Na época, porém, chegou-se à conclusão que essa alternativa seria dispendiosa demais, implicando no desmonte de mais de 30 mil m3 de rocha e outras obras. A solução foi optar por um processo de ensecadeira, formada por células construídas com estacas pranchas de aço, processo então utilizado uma só vez no mundo. Durante a execução do projeto, entretanto, a força da correnteza impedia que as estacas fossem colocadas. Era necessário conter as águas, provocando um remanso que facilitasse o trabalho. A solução foi dada pelo engenheiro Marcondes Ferraz, que idealizou uma espécie de caixão metálico flutuável que, na gíria técnica, ganhou o nome de navio. Esse – com 18m de comprimento, 10m de altura, 6m de largura e 125 toneladas – foi construído na França, chegou em partes ao Brasil e precisou ser montado no local da obra, em uma carreira na margem esquerda do Rio. Cheio de água para submergir apenas o necessário, o navio foi amarrado por cabos de aço a duas bases afixadas na terra e, com o alongamento e encurtamento dos cabos, alcançou seu local adequado, provocando o remanso que tornava possível o andamento do projeto inicial. Resolvido esse problema, passamos para a segunda etapa, que se revelou ainda mais complicada, devido à impossibilidade de uso do navio, pois a

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correnteza estava mais intensa depois que o navio havia sido estrangulado anteriormente. A solução novamente veio do engenheiro Marcondes Ferraz, que deu a ideia de criar um enrocamento de pedras contidas por uma estrutura semiflexível que logo ganhou o nome de gaiola. Funcionaria da seguinte forma: as pedras eram jogadas a montante da estrutura e, levadas pela correnteza, acumulavam-se dentro da gaiola, formando uma barragem sem rejuntamento. A água passava assim em baixa velocidade, provocando o remanso desejado e permitindo a criação das três células da segunda etapa. Mas um novo problema surgiu. O consultor do banco americano que emprestaria dinheiro para a obra não concordou com o processo utilizado, por acreditar que não seria eficiente ao longo do tempo, e sugeriu a construção de um obelisco em concreto armado com 44m de altura, 10m de largura e 14m de comprimento. O obelisco seria erguido na margem direita do São Francisco e, por efeito de detonação com carga explosiva, cairia dentro do Rio. Marcondes Ferraz e Alves de Sousa, no entanto, não aceitaram a solução e decidiram provar: criaram, em Paulo Afonso, um modelo reduzido do projeto e realizaram uma simulação da detonação. O resultado comprovou a opinião dos engenheiros da Chesf, pois a forte vibração produzida pela explosão destruiria a célula do lado oposto. O banco aceitou enfim a solução que já havia sido realizada anteriormente e os trabalhos na usina puderam ser continuados. Este é o meu relato sobre o começo do aproveitamento da força da Cachoeira de Paulo Afonso e foi com prazer que me transportei mais uma vez àquela época de tão grandes conquistas.


Certo dia, ao passar na frente de um petshop ou até mesmo por uma calçada na rua, você se depara com uma criatura fofinha, afetuosa e irresistível. Num impulso, leva o animal para casa, acreditando que é o início de uma história de amor e companheirismo entre dois seres. E de fato pode ser. Mas um final feliz para esse enredo só depende de você.

Para que a vida a dois seja coroada de bons momentos, é fundamental que todo dono de animal de estimação tenha noção do que é uma posse responsável. Aliás, guarda responsável. A correção no termo é da presidente da Associação Amigos Defensores dos Animais e do Meio Ambiente (AADAMA), Maria Padilha, que considera a expressão equivocada. Para ela, a palavra posse transmite a ideia de propriedade de um ser sem vida, como uma casa ou um carro, por exemplo; diferente dos animais, que são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir emoção. A guarda responsável, adotando o termo sugerido por Maria Padilha, pressupõe uma série de cuidados que devem ser observados no mo-


ções dão conta de que, devido à crise financeira internacional e o consequente corte de gastos, muitos norteamericanos e britânicos estão abandonando seus bichos de estimação nas ruas — é o problema de saúde pública. Apesar de, no Recife, não haver casos de raiva animal desde 2004, e de raiva humana desde 1998, o desamparo de animais pode vir a propiciar o surgimento de outras zoonoses.

mento de adquirir um bichano. É preciso ter em mente, acima de tudo, que a vida do animal dura em média entre 13 e 17 anos, período em que a pessoa desfrutará de sua companhia e presenciará todo o processo evolutivo do animal: da fase de filhote ao envelhecimento, passando por todos os problemas de saúde que o avanço da idade acarreta, como cegueira, surdez, dores nas articulações e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Nesse período, o animal de estimação necessita, mais do que nunca, do apoio emocional e da dedicação do seu dono, que precisa estar consciente do compromisso de jamais abandoná-lo na primeira dificuldade. Todos os dias, cerca de cem animais domésticos, entre cães e gatos abandonados, são retirados das ruas do Recife (PE). O serviço é feito pelo Centro de Vigilância Animal (CVA) da Prefeitura da Cidade, com o apoio dos agentes de Saúde Ambiental. Antes de realizarem o recolhimento, os agentes procuram saber nas comunidades se o bichinho tem dono. Em caso positivo, é feito um trabalho de conscientização chamando os proprietários à responsabilidade. Caso não apareça ninguém, o animal é levado para o CVA, onde ficará por três dias. “Se durante esse período não for resgatado ou despertar o interesse de adoção por um novo dono, o bichinho é eutanasiado (sacrificado). Mas 60% deles são resgatados”, relatou a diretora de Vigilância à Saúde da Secretaria de Saúde do Recife, Adeilza Ferraz. Um outro fator que repercute devido ao abandono, encarado erradamente por uns como um problema a menos para a família — informa-

A superpopulação também é uma conseqüência que merece ser levada mais a sério. O Brasil é o segundo país do mundo em população de animal doméstico, atrás apenas dos Estados Unidos. Levando em consideração que a população canina representa 10% da população humana, estima-se que, apenas na cidade do Recife, cujo número de habitantes é cerca de 1,5 milhão, existam 150 mil cães, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). E tem mais: uma cadela sem raça definida gera entre 10 e 12 filhotes por gestação. Numa progressão geométrica, isso significa dizer que essa mesma cadela e seus filhotes gerarão, ao final de seis anos, entre 60 e 64 mil crias! A presidente da AADAMA afirmou que sacrificar os animais, domésticos ou abandonados, não é a saída para combater a superpopulação. “Hoje em dia, existem várias técnicas de esterilização, tanto para a fêmea quanto para o macho”, sugeriu. O procedimento pode ser feito na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e impede que os bichos procriem.

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Plínio e seus xodós: Daiana, Stefany, Ane e Juca.

Um outro aspecto importante na guarda responsável é a contenção. Em outras palavras, ao levar o animal para um passeio, ele jamais deve sair sem uma pessoa responsável para guiá-lo ou tampouco ser deixado sozinho, pois ele pode acabar sendo atropelado, maltratado ou levado pela carrocinha. O uso de coleira e guia, além de focinheira para os cães de raça agressiva, também é fundamental.

nejamento familiar, considerando alimentação, banhos, consultas veterinárias, vacinas e tratamentos para verminoses, realizados pelo menos duas vezes ao ano. Somam-se a essa conta itens como produtos de higiene específicos e coleiras protetoras contra pulgas, carrapatos e mosquitos-palha (Phlebotomus pappatasi), transmissores da Leishmaniose, doença que pode ser fatal para os bichanos.

O Participante Assistido Plínio Roberto Oliveira (Recife/PE) é um exemplo de bom guardião dos seus animais. Com a experiência e dedicação de quem, há anos, cria cachorros, ele conta a história de seus xodós: Daiana, Stefany, Ane e Juca, quatro cadelas e um cão, todos da raça Yorkshire. “Costumo brincar dizendo que são as princesas e o plebeu. Daiana, a mais velhinha de todos, por exemplo, já tem 15 anos e não enxerga mais, em consequência dos AVCs (Acidente Vascular Cerebral) que sofreu. Para evitar que ela tenha convulsões, administramos remédio controlado a cada 12 horas. Sempre que viajo, fico apreensivo, com medo que ela tenha alguma crise, e acabo levando-a junto quando posso; mas ela nunca fica sozinha”, revelou.

Com tantas obrigações a assumir, muitos acreditam que cuidar de um animal de estimação é algo que acaba trazendo sempre mais dores de cabeça do que prazer. Estudo científicos, no entanto, apontam exatamente o contrário. Psicólogos e médicos, por exemplo, costumam recomendar aos pais de crianças com dificuldade de comportamento (como a hiperatividade), o contato com animais domésticos. Já foi comprovado também que ter um bichinho de estimação em casa diminui o estresse e aumenta a autoestima das pessoas idosas. Em São Paulo (SP), alguns hospitais já apostam na chamada pet-terapia como uma forma de auxilio no tratamento de crianças com câncer. Nenhum desses benefícios, no entanto, é maior do que a companhia que os bichinhos proporcionam às famílias que os adotam, sejam das vitrines dos shoppings ou de uma calçada no meio da rua.

É preciso ter em mente ainda que criar um animal de estimação implica custos e obrigações. Por isso, as despesas devem fazer parte do pla-


Os dez mandamentos da guarda responsável de cães e gatos Antes de adquirir um animal, considere seu tempo médio de vida. Pergunte à família se todos estão de acordo e se há recursos necessários para mantê-lo. Verifique quem cuidará dele nas férias ou nos feriados prolongados. Adote animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprálos por impulso. Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida (tamanho, peculiaridades, comportamento, etc.). No momento em que for adquirir um cão, o futuro dono precisa usar o bom senso para escolher a raça que melhor se adaptará ao espaço da sua residência.

Abandono e maus tratos de animais de estimação são crimes previstos por lei. A World Society for the Protection os Animals (WSPA), ONG norteamericana da qual a AADAMA é afiliada, elaborou cinco itens, denominados As Cinco Liberdades, determinando como os animais têm o direito de viver: livres de fome e sede, livres de desconforto, livres de dor, ferimentos e doenças, livres de medo e angústia e livres para expressar seu comportamento natural. Qualquer violação a uma dessas liberdades configura crime e o responsável pelos maus tratos ou abandono pode pegar de três meses a um ano de detenção, além de multa. A pena é aumentada de um sexto a um terço, em caso de morte do animal (Art.32 da Lei nº 9.605/1998). Para quem deseja ajudar bichos vítimas de desamparo dos seus donos, uma boa ação é adotar um animal em um dos muitos abrigos públicos e privados do Pais. Neles os futuros guardiões recebem os bichanos vacinados, vermifugados e castrados, mediante a assinatura de um termo de compromisso e da promessa de cuidar bem dos futuros companheiros.

Mantenha o animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães, passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo. Cuide da saúde física do animal: forneça-lhe abrigo, alimento, vacinas e leve-o regularmente ao veterinário. Dê banho, escove e exercite-o regularmente. Zele pela saúde psicológica do seu animal: atenção, carinho e um ambiente adequado é fundamental. Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas respeite suas características. Recolha e jogue os dejetos do animal em local apropriado. Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses ou similar, informando-se sobre a legislação do local. Também é recomendável uma identificação permanente (microchip ou tatuagem). Evite as crias indesejadas de cães e gatos. Castre os machos e as fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações.

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Homens e animais: posse responsável exige respeito Synara Rillo

nária

ica Veteri

· Méd Synara Rillo

Quando precisamos abordar esse tema, as primeiras perguntas ou questionamentos que devemos fazer a nós mesmos é: quero ter e cuidar de um animal de estimação? Qual o motivo que me leva a querer ter um animal ao meu lado? Tenho condições emocionais para compreender que um animal é diferente de mim? Tenho condições financeiras para arcar com algumas despesas extras que tal animal possa vir a necessitar? Estou ciente de que o tempo de vida desse ser vivo é menor do que o meu como ser humano? Depois desses questionamentos, devemos ter a consciência de que, ao assumirmos um cão ou gato para partilhar um ambiente em comum, um grande compromisso em nossas vidas se estabelece. Em primeiro lugar, esse compromisso advém do fato de que essas espécies são seres sencientes, ou seja, sentem dor sensorial e manifestam reações emocionais instintivas e, como tal, devem ser respeitados.

Quando me refiro a emoções instintivas, falo da ausência de sentimentos nesses seres: suas consciências são extremamente limitadas, portanto, possuem uma discreta percepção de si mesmos — o contrário dos seres humanos, cujos níveis de consciência e inconsciência (para a comunidade cientifica, o inconsciente é o lugar onde estão armazenados os desejos reprimidos e, para quem crê na espiritualidade, o lugar onde estão registradas as vidas passadas) atuam em todas as nossas reações emocionais e sentimentais. E é por meio desses dois níveis emocionais que vamos externar nossos sentimentos, tais como: amor, ódio, raiva, paciência, ressentimentos, paixão, perdão, compaixão, culpa, apego, desapego, etc. Temos, como seres evoluídos em espécie, toda essa plasticidade sentimental. Os animais, não. Eles vivem tão somente por suas vias instintivas, de onde surgem suas reações junto ao dono e ao seu meio ambiente. É através dessa forma de inteligência animal — que se chama de instinto — que poderão surgir os comportamentos de ansiedade e os inúmeros condicionamentos errados que os donos empregam a seus cães e gatos. São esses condicionamentos ambientais equivocados e de personalidade do dono que oportuniza, direta ou indiretamente, os maus-tratos aos animais de companhia. Os animais, aos dias de hoje, estão adoecendo orgânica e emocionalmente pela mão do homem do século XXI. Posse responsável, a meu ver, é respeitá-los em suas verdadeiras características animais. Synara Rillo é autora do livro Cães, donos e dores humanas, participa do programa de rádio O outro lado dos animais (radioras.com.br) e mantém um site (www.synararillo.com.br), destinado ao debate sobre animais de companhia.


Patativa do Assaré

O canto do poeta faz cem anos

Há 45 anos, um poeta narrava a saga de retirantes nordestinos em sua luta pela sobrevivência à seca, fome e miséria que assolava o sertão do País. Tempos depois, em um mundo globalizado e permeado pela tecnologia, a antiga canção, entretanto, permanece viva: representa a realidade de milhares de famílias para quem o futuro parece nunca chegar. Consagrada nacionalmente em 1964, na voz do eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, os versos de A Triste Partida foram compostos por um dos retratistas mais fiéis da paisagem e do povo nordestinos: Antônio Gonçalves Dias, ou, como ficou popularmente conhecido, Patativa do Assaré, apelido que o jovem trovador ganhou aos 20 anos, do escritor José Carvalho de Brito, que viu, na espontaneidade do menino nascido no município cearense de Assaré, a cadência do canto de uma patativa, pássaro da caatinga brasileira. Nascido no dia 5 de março de 1909, Patativa não teve uma infância diferente da maioria das crianças de sua condição: órfão de pai quando ainda era um menino, aprendeu desde cedo a dura vida de trabalhador na roça; frequentou a escola por poucos meses e, com apenas quatro anos de idade, perdeu a visão do olho direito em decorrência de uma doença. Essas adversidades, no entanto, não representaram obstáculos para o garoto que, aos 12 anos, passou a dividir a agricultura com os encantos recém-descobertos da poesia e começou a escrever poemas despretensiosamente. De acordo com o jornalista Assis Ângelo, amigo do poeta e autor do livro O poeta do povo: vida e obra de Patativa do Assaré, o principal método que o artista usava para compor era a memorização. “Ele guardava tudo na memória, não se esquecia de nada. Conseguia declamar por horas a fio tanto as suas poesias, quanto as de outros poetas”, revelou.

Meu Deus, meu Deus Setembro passou Outubro e Novembro Já tamo em Dezembro Meu Deus, que é de nós Meu Deus, meu Deus Assim fala o pobre Do seco Nordeste Com medo da peste Da fome feroz (A Triste Partida)

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Inspiração Nordestina, primeiro livro de Patativa do Assaré, foi publicado em 1956, com apoio do conterrâneo Miguel Arraes. Em 1978, o poeta lançou Cante lá que eu canto de cá e, um ano depois, iniciou a gravação de uma série de discos, nos quais compunha e cantava canções marcadas por uma espécie de visão de mundo cabocla, em que estavam sempre presentes as lembranças sofridas do sertão e o sonho dos camponeses do interior do Ceará. Com o dom nato de escrever poesias, versejando-as ao som de uma viola, Patativa do Assaré retratou sua arte em discos, livros e cordéis. Sua poesia tinha como característica propagar, através da linguagem simples da cultura popular, a perseverança e a coragem do sertanejo em meio às condições climáticas e políticas desfavoráveis. Aliás, talvez seja por isso, segundo o poeta Luiz

Patativa do Assaré teve 14 filhos, fruto do casamento com Dona Belarmina Gonçalves Cidrão, no ano de 1936. De sua família, é a neta Isabel Cristina da Silva, filha de Lúcia Gonçalves da Silva, caçula do escritor, quem administra a Fundação Memorial Patativa do Assaré. Situado na Rua Coronel Francisco Gomes, nº 82, a uma distância de, aproximadamente, 490 Km da capital cearense, no município de Assaré, o espaço foi criado em 1999, através de iniciativa do Governo do Estado do Ceará. O Memorial — um casarão do século XIX – tem dois andares e cerca de oito cômodos onde está retratada toda a trajetória de Patativa, incluindo sua inseparável viola. Lá os visitantes têm acesso aos discos gravados, medalhas, troféus, títulos recebidos e entrevistas, além de fotografias, pesquisas e exposições sobre o artista. O local é aberto ao público de segunda a domingo. A entrada é gratuita.

Edmundo Alves, que Patativa ainda hoje influencie artistas. “O grupo pernambucano da nova geração Cordel do Fogo Encantado, por exemplo, bebe na fonte do poeta para compor suas letras”, comentou. Quando faleceu, aos 93 anos, em decorrência de uma pneumonia, Patativa do Assaré era considerado um dos mais importantes poetas populares do Brasil. Dono de uma infinidade de títulos (recebeu cinco indicações de doutor Honoris Causa), sua obra foi tema de trabalhos acadêmicos e seu nome, reverenciado por presidentes brasileiros, pela contribuição à cultura nacional. Cantores como Luiz Gonzaga, Fagner e Renato Teixeira foram apenas alguns dos muitos artistas que levaram o canto da Patativa pelo mundo afora, revelando a realidade de um nordeste que tantos ainda desconheciam.


Entrevista Em homenagem ao centenário do nascimento deste ilustre poeta, a Conexão Fachesf entrevistou com exclusividade o estudioso da cultura popular brasileira, Assis Ângelo, autor do livro O Poeta do Povo, Vida e Obra de Patativa do Assaré.

Conexão Fachesf | O que mais impressiona na obra de Patativa do Assaré? Assis Ângelo | O fato de Patativa ter frequentado uma escola por apenas quatro meses em toda a vida. Por que ele deixou os estudos? “O professor não sabia de nada”, é o que ele costumava dizer. O pouco tempo que Patativa esteve frente a frente, e diariamente, com um professor, no entanto, foi suficiente para que desenvolvesse uma caligrafia muito bonita. Ele compunha em quadras, sextilhas, septilhas e martelos e era também um grande versejador de sonetos. Se cometia erros gramaticais na sua poesia clássica, isto é, na sua poesia popular, cordelística, cotidiana, erro nenhum gramatical cometia em seus sonetos. Ele tinha domínio total sobre a poética que criava e conseguia distinguir muito bem a poesia popular da erudita, declamando seus versos com a mesma naturalidade como declamava os versos de Camões ou Castro Alves. CF. Em sua opinião, qual a poesia/música que marcou a trajetória de Patativa do Assaré? AA. Sem nenhuma dúvida, A Triste Partida e depois Vaca Estrela e Boi Fubá. Ambas marcaram não por serem melhores ou mais bonitas que outras centenas do poeta, mas por terem sido melhor divulgadas, tanto por Luiz Gonzaga, quanto por Fagner, Rolando Boldrin, Sérgio Reis, Pena Branca & Xavantinho e dezenas de outros artistas. Mas A Triste Partida é uma espécie de Hino do Nordestino. Conta uma saga. CF. Qual o maior legado deixado por ele para a cultura popular brasileira? AA. O legado de Patativa é toda a sua poesia, evidentemente. Sua obra é absolutamente autêntica e retrata com fidelidade a paisagem e a gente sertaneja do Nordeste brasileiro. Não foi à toa que o estudioso francês Raymond Cantel, nos anos 1970, trocou a tese que faria sobre o sebastianismo na Bahia pela poética de Patativa, levando-a a estudos na Cadeira Universal de Cultura Popular da Sorbonne, da qual era titular. Aliás, Patativa é o único poeta da América do Sul a ter a obra estudada na Sorbonne. Não é pouca coisa para um ser brotado da aridez do solo nordestino que começou como trabalhador na roça já na infância.

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205,0 mm

[ Ana T. ]

Ver a vida de outros ângulos, em diferentes cores e com alguma poesia. Isso é o que tem nos ensinado os livros de autoajuda escritos em diversas línguas, os programas de TV, os comerciais de cartão de crédito e até a vizinha da esquina, que decidiu pesquisar uma forma de reinventar a própria alegria, há muito, um artigo de luxo do passado. Não importa como, nossa única obrigação agora, dizem-nos, é sermos felizes. Já não se permite mais espaço para tristeza, ansiedade ou uma pequena fraqueza que seja. O mundo espera de nós uma prova de que, aconteça o que acontecer, permaneceremos firmes, com o sorriso estampado e as janelas abertas para mais uma demonstração de como a vida é boa e a alegria, a única indizível emoção. Como se a felicidade fosse quase uma ordem e a partir de agora sentir-se triste estivesse determinantemente proibido. Tiraram-nos (ou fomos nós que abrimos mão?) o direito da incerteza, a liberdade de vivermos nossos próprios sentimentos, a capacidade, enfim, de não desejarmos a perfeição a qualquer preço. Quem disse que devemos ser bem-sucedidos, bons amantes, membros de uma família perfeita e donos do próprio nariz, custe o que custar? Quem inventou que não é mais aceitável cometer uma única falha, dar-se o benefício da dúvida, o poder de optar por esse ou aquele caminho? Quando foi que sentir-se sozinho virou doença diagnosticada em consultório? O que ninguém nos disse, no entanto, é que nessa busca desesperada pela felicidade completa, esquecemos que somos capazes de ir além daquilo o que nossos olhos vêem. Já não sabemos mais enxergar o que não é visível, o que não é óbvio; o detalhe escondido que se revela somente para quem se permite contemplar; para quem perde (ou ganha)

tempo, com algo que não parece tão importante na trilha bem marcada do sucesso sem medidas. Mas não temos mais tempo para nada. Ou para o mínimo. Estamos sempre correndo, contando minutos, calculando quanto falta para terminar uma ou outra tarefa, enquanto culpamos o mundo inteiro por nossa falta de sossego. Estresse virou a palavra mais citada dos últimos tempos e passar algumas horas vendo um filme na TV, quase um hábito de rei. Precisamos de três pós-graduações, duas línguas faladas com fluência e domínio absoluto nas relações pessoais. Nessa corrida pela organização de títulos, contas, prazos e fluxos, não percebemos que bagunçamos o resto inteiro. Esquecemos o valor do silêncio, do tempo com o outro, da importância de, às vezes, optar por não fazer nada. Simples assim. Planejamos a troca do carro, o apartamento novo, a viagem no final de ano; mas tiramos de qualquer programação o mero direito de passarmos algum tempo sozinhos, sem que isso seja sinônimo de solidão (mesmo que solidão não signifique absolutamente ser solitário). Deixamos de lado o instante tão necessário de sofrer o que é preciso. Não temos mais tempo sequer para o luto, pois parecer felizes aos olhos do outro nos ocupa por inteiro É preciso inverter o caminho dessa estrada; retornar ao ponto em que ver a vida de outros ângulos, em diferentes cores e com alguma poesia, mais do que obrigação, era um prazer pessoal; era sonho, não um plano estratégico. O ato de entregar a vida inteira por uma causa deve ter ao fundo um quê de fantasia, não imposição de livros da prateleira. Ou a felicidade pode acabar virando somente mais um sinônimo para a prisão.



Grandes investidores apostam apenas em grandes eventos

[PATROCINADORES]

[ORGANIZAÇÃO]

Encontro de Profissionais de Investimento

Participe do maior encontro de profissionais de investimento do Norte/Nordeste. Durante dois dias, patrocinadores de renome nacional estarão reunidos, em Porto de Galinhas (PE), discutindo com profissionais de Fundo de Pensão o atual cenário do mercado de investimentos.

14 e 15 DE MAIO 2009


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