Conexão Fachesf nº 17

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ano 7

Nº17 2015

As incertezas e polêmicas da desaposentação

// EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Planejar o futuro é fundamental

// SEU DINHEIRO

// FACHESF-SAÚDE

Mulheres de futuro

A decisão do nascimento


SAÚDE & PREVIDÊNCIA A Ouvidoria da Fachesf foi ampliada e agora, além das questões específicas de saúde, atende demandas de previdência (planos de benefícios), empréstimo e seguro de vida. FALE COM A OUVIDORIA DA FACHESF: Presencialmente • Sede da Fachesf (Paissandu/Recife-PE) Segunda a sexta-feira 8h às 12h | 13h30 às 17h30 Por telefone • 81 3412 7502 | 0800 281 7502 Hicom 629 7502 Segunda a sexta-feira 8h às 12h | 13h30 às 17h30 Por e-mail • Para questões sobre Planos de Saúde: ouvidoriasaude@fachesf.com.br • Para assuntos de Previdência ou benefícios de empréstimo/seguro: ouvidoriaprev@fachesf.com.br

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// EDITORIAL

// Tempos de reflexão Não é segredo que 2015 está sendo um ano difícil para o País. Nada disso, porém, pode ser gatilho para o desânimo. Mais do que nunca, é preciso manter o foco e adequar os planos para os dias que virão. E isso vale tanto para as finanças pessoais como para a busca dos sonhos, que não podem ficar para trás. É isso que fazem os velejadores quando o mar anuncia tempestades: redesenham rotas, alinham as velas e seguem em frente. Nesta edição da Conexão Fachesf, trazemos uma série de artigos e matérias que refletem sobre o cenário atual e proporcionam conhecimento, dicas e sugestões inspiradoras para quem quer passar por essas turbulências de maneira mais tranquila. Afinal, estar bem informado é a melhor alternativa para se preparar para novos desafios. Na editoria de saúde, provocamos nossos leitores a olhar para dentro de si mesmos e da realidade que os rodeia e responder à seguinte questão: é normal ser completamente normal? Deixar-se levar pelos acontecimentos da vida significa passividade em excesso que pode, inclusive, levar à depressão e outras enfermidades mentais? Quando essas coisas de fato se comprovam, o indivíduo, sem saber, pode estar sofrendo de uma doença chamada normose, ainda pouco conhecida da maioria da população, mas que pouco a pouco tem despertado a atenção de especialistas do mundo inteiro. Já no bloco de editorias voltadas à educação previdenciária, trazemos uma série de

matérias que envolvem diretamente o universo do Participante da Fachesf. Para iniciar, fazemos um alerta sobre a importância da previdência privada em tempos de mudanças nas regras no Regime Geral de Previdência Social – com foco na atuação dos Fundos de Pensão. Na matéria de capa, explicamos o que é o processo de desaposentação e a polêmica que tem levado muitos trabalhadores aos tribunais. Para trazer mais leveza e cultura às nossas páginas, ouvimos o rico depoimento do Participante Edvaldo Arlégo. Ele descobriu na literatura um novo jeito de enxergar o mundo: autor de mais de 150 livros, da linha infanto-juvenil às tradições e personagens de Pernambuco, é um belo exemplo de que palavras podem transformar o universo de crianças e adultos. Na editoria Mundo Animal, os relatos emocionados dos Participantes Ana Lúcia Pereira e Yuri Limeira mostram o que aprenderam em suas experiências de convivência com seus cães idosos. Para finalizar, convidamos nossos leitores a mergulhar na história do Recife sob a perspectiva das águas do Rio Capibaribe e a redescobrir os encantos da cidade entrecortada por diversas pontes, estruturas que nos ligam a diferentes lugares, pessoas e experiências. Haveria uma simbologia mais adequada em tempos de crise, para nos apontar novas conexões para nossos planos e projetos de futuro? Boa leitura! Laura Jane Lima · Editora Geral

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// Conexão Fachesf

Educação Previdenciária

Especial

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18 Seu Dinheiro

Foco no Participante

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31 No Consultório

// Um passo à frente: planejar o futuro é fundamental

24 // Mulheres de Futuro

// As incertezas e polêmicas da desaposentação

// O homem que inventa histórias

// Quando ser normal extrapola a normalidade

Revista Conexão Fachesf Editada pela Assessoria de Comunicação Institucional [Editora Geral] Laura Jane de Lima [Editora Executiva e Textos] Nathalia Duprat [Redação] Naide Nóbrega [Estagiário de Jornalismo] Daniel Lacerda

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[Colaboraram nesta edição] René Ruschel, na editoria Especial; Patrícia Monteiro, nas editorias Educação Previdenciária, No Consultório e Mundo Animal; Aline Matheus, na editoria Cultura e Lazer. Produção e fotos: Dayse Brito [Comissão de Pauta] Laura Lima, Nathalia Duprat, Jeane Oliveira, Wanessa Cysneiros Anita Telles e Isabel Tavares.

[Tiragem] 11 mil exemplares [Impressão] Gráfica Santa Marta [Redação] Rua do Paissandu, 58 Boa Vista, Recife – PE CEP: 50070-210 Telefone: (81) 3412.7508 / 7509 [E-mail] conexao@fachesf.com.br [Projeto Gráfico] Corisco Design [Diagramação] Fátima Finizola


Quiz Fachesf

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51 Mundo Animal

//A decisão do nascimento

Cultura e Lazer

45 // Nona Edição

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// ÍNDICE

Fachesf-Saúde

Passatempos

53 // Velhos amigos que merecem todo respeito

// O Recife pela perspectiva das águas

[Ilustrações] Leandro Lima (p. 6-9, 24-29), Aurora Creative (p.12-16), Silvino (capa, p.18-22, 35-38), Larissa Constantino (p.31-34, 45-50), Damião Santana (p.40-44). Fundação Chesf de Assistência e Seguridade Social | Fachesf Clayton Ferraz de Paiva · Presidente José Roque Fagundes da Silva Diretor de Adm. e Finanças Raimundo Jorge de Sousa Santos Diretor de Benefícios

// Caça-Palavras // Martinha

// EXPEDIENTE * Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Conexão Fachesf. ** O Participante Ativo que quiser receber sua revista em casa, deve solicitar através do e-mail conexao@fachesf.com.br Edição 17 · julho de 2015

www.fachesf.com.br www.facebook.com/fachesf

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// Educação Previdenciária

Um passo à frente: planejar o futuro é fundamental

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// Educação Previdenciária

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e antes ter uma alternativa para complementar a aposentadoria recebida do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) era algo destinado a poucos trabalhadores, cada vez mais cidadãos de diferentes esferas sociais têm encontrado na previdência privada um rumo possível em direção a um futuro mais seguro e sustentável. Para quem opta por esse caminho, duas vertentes são possíveis: os planos de previdência privada aberta, comercializados por bancos e seguradoras, e disponíveis a qualquer pessoa física ou jurídica; e os planos do tipo fechado, patrocinados por entidades de previdência complementar sem fins lucrativos (conhecidas como Fundos de Pensão), e exclusivos para os empregados de uma empresa e servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ou para os associados a entidades de classe e setoriais. No mercado aberto, são oferecidas duas modalidades de planos: PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador Benefício Livre). O primeiro permite abater da base de cálculo do Imposto de Renda (IR) os aportes realizados anualmente ao plano, até um limite máximo de 12% da renda bruta tributável do investidor. Já o segundo não permite esse tipo de abatimento e é indicado para quem usa a declaração simplificada, é isento ou já investe em um PGBL, mas quer aplicar mais de 12% de sua renda bruta em previdência privada. Do outro lado, os planos de benefícios administrados pelos Fundos de Pensão também podem ser abatidos no IR até um limite de 12%. Mas ao contrário do PGBL

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e VGBL, que permitem o saque da totalidade dos recursos acumulados de uma única vez e a qualquer instante, os planos fechados só podem ser resgatados em casos de desligamento do participante de sua patrocinadora.

Foco previdenciário Segundo o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), José Ribeiro Pena, essa é uma das principais características que diferenciam os dois segmentos de previdência privada, pois demonstra uma maior preocupação de caráter previdenciário dos planos fechados em detrimento dos abertos. “Prova disso é o fato de o tempo de duração das carteiras PGBL e VGBL ser de, em média, apenas um ano. No caso dos fundos de pensão, dura décadas”, explica. Dados de setembro de 2014, divulgados pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), órgão ligado ao Ministério da Previdência Social, registram a existência de 317 Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) no Brasil. Essas fundações administram um total de 1.099 planos de aposentadoria, sendo 327 de Benefício Definido (BD), 413 de Contribuição Definida (CD) e e 359 de Contribuição Variável (CV). Para José Ribeiro, as EFPCs são uma benéfica e eficaz realidade nacional, pois têm como premissa fundamental o compromisso previdenciário de longo prazo. Segundo ele, esse tipo de regime registra atualmente, no País, cerca


de 2,6 milhões de trabalhadores que contribuem mensalmente para sua aposentadoria, enquanto 700 mil são assistidos que já recebem seus benefícios de suplementação. O professor Josenildo dos Santos, pós-doutorado em Ciências Atuariais e fundador do curso de Direitos Atuariais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aponta outras vantagens para os planos fechados: “Tanto no sistema aberto quanto no fechado, é possível aplicar os ativos e isso é um grande benefício em relação à previdência pública. No entanto, se considerarmos fatores como taxas atuariais e de investimentos, os Fundos de Pensão são bem mais atrativos para o beneficiário”, explica. Além disso, por não visar lucros, as fundações miram rentabilidade de longo prazo, de forma que seu histórico de rentabilidade é significativamente melhor que o das entidades abertas que, pela necessidade de liquidez, investem predominantemente no curto prazo e são mais sensíveis às oscilações do mercado financeiro.

Planejamento é palavra de ordem Considerando que os Fundos de Pensão se colocam como uma interessante alternativa para a composição de uma reserva de caráter previdenciário, a questão que o trabalhador deve ter em mente é: quanto irei precisar de renda mensal para manter o meu padrão de vida após a aposentadoria?

As respostas para essa pergunta têm uma relação direta com o fator tempo. Afinal, quanto mais cedo o trabalhador começar a traçar um plano de aposentadoria e iniciar a formação de uma reserva, melhores serão suas possibilidades e resultados. Para fazer valer essa premissa, porém, é preciso vencer uma barreira cultural muito forte no perfil do cidadão brasileiro: o imediatismo. Ou seja, vencer o costume de não pensar a longo prazo e aprender a monitorar um planejamento previdenciário periodicamente.

"Tanto no sistema aberto ou fechado, é possível aplicar os ativos e isso é um grande benefício em relação à previdência pública." // Josenildo dos Santos

Segundo o presidente da Abrapp, atualmente chega a 61% da população o contingente dos trabalhadores sem qualquer tipo de poupança que garanta seu futuro. As pesquisas mostram também que apenas 1% das pessoas que se aposentam conseguem se financiar nessa nova fase de suas vidas. “O jovem não acha que vai ficar velho e não acredita em instituições que prometem um benefício que está muito distante na visão dele. Outro aspecto que dificulta é o consumismo, tão enraizado em nossa cultura e cada vez mais exacerbado com as facilidades de crédito e medidas de incentivo ao consumo que ocorreram recentemente em nosso País”, esclareceJosé Ribeiro. Para aqueles que conseguem enxergar o futuro como uma construção diária que se inicia no presente, além desses entraves culturais, há algumas variáveis de difícil previsão que precisam ser consideradas: como será sua evolução salarial ao longo da vida laboral? Terá emprego permanentemente? Qual será a sua capacidade de poupança mensal e sua tolerância ao risco? Além disso, é importante também ter em mente que existem outras duas 9


Foto: Abrapp

// Educação Previdenciária

os brasileiros

"O jovem não acha que vai ficar velho e não acredita em instituições que prometem um benefício que está muito distante na visão dele." // José Ribeiro Pena

questões cruciais que influenciarão diretamente na renda futura pretendida: quanto renderá sua poupança previdenciária ao longo desse período e de quanto tempo será sua expectativa de vida. Apesar de serem fatores imponderáveis, isso não quer dizer, no entanto, que não se possa fazer algum tipo de projeção. Hoje é possível simular benefícios futuros, aumentar o percentual de contribuição, fazer contribuições extraordinárias, combinar investimentos, acompanhar de perto o desempenho dos planos e estar atento às informações divulgadas periodicamente. Mesmo com toda a complexidade que envolve a questão, aqueles que conseguirem pensar em sua aposentadoria como fruto de um plano de vida certamente não serão pegos de surpresa quando o futuro, enfim, chegar. 10

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O ajuste fiscal e os planos da Fachesf O recente pacote de ajuste fiscal, enviado pelo Governo Federal por meio da Medida Provisória MP 664/2014, e transformado em lei pelo Congresso Nacional, impacta diretamente os Planos Previdenciários da Fachesf, especialmente no que diz respeito aos benefícios de Pensão por Morte e Auxílio-Doença, ambos administrados pela Previdência Social. São três os aspectos, do ponto de vista dos regulamentos dos Planos, que poderão sofrer alterações, sobre os quais comentaremos a seguir. Primeiramente, vamos falar sobre a elegibilidade da Pensão por Morte. Nossos Regulamentos, no caso de falecimento do Participante, acompanham o INSS no reconhecimento dos seus beneficiários, dentre aqueles elencados no referido normativo. A partir da nova Lei 13.315/2015, foram criadas restrições para a concessão desse benefício, como a exigência do tempo mínimo de dois anos de casamento ou união estável, e pagamento de 18 contribuições pelo segurado. Assim, por consequência, tais restrições também serão estendidas aos nossos Planos.

artigo

// Educação Previdenciária

Anteriormente a esse novo dispositivo legal, o benefício de pensão por morte só tinha sua concessão cancelada com o falecimento do cônjuge, ou dos beneficiários, ou motivada por fraudes. A partir da nova regra, foram criados critérios para esse tempo de pagamento, que passou a ser em função da idade do cônjuge ou companheiro sobrevivente. Isso significa que os pagamentos das pensões terão variação entre 3 e 20 anos, para idades inferiores a 21 anos até 44 anos, e a partir daí a pensão torna-se vitalícia. Tais medidas vão contra o compromisso da Fachesf de dar aos seus Planos o caráter previdenciário, do qual se orgulha em seus 43 anos de existência. Por essa razão, a Fundação está trabalhando para adequar os regulamentos dos seus Planos Previdenciários à nova realidade, como forma de oferecer o melhor serviço para o seu Participante.

A redução do valor do auxílio-doença impactará no cálculo do benefício de incapacidade do Plano CD, uma vez que o seu valor é utilizado para a definição daquele benefício complementar, o que ocasionará o aumento da taxa especial, cuja finalidade é exatamente fornecer os recursos para a cobertura desse benefício. O Participante, ou seus beneficiários, não terão reduzidas as respectivas rendas, nem custo adicional, uma vez que o pagamento da taxa especial é de reponsabilidade das Patrocinadoras. Por fim, o terceiro - e talvez mais preocupante impacto se refere à vitaliciedade do pagamento. De acordo com os regulamentos dos Planos da Fachesf, o pagamento do benefício de Pensão deve ser realizado até que a Previdência Social o faça - o que lhes dá a característica de ser vitalícios. Ou seja, cessado o pagamento pelo INSS, a Fundação, por sua vez, também o cessará.

Rogério Cardozo é gerente de Concessão de Benefícios da Fachesf

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// Seu Dinheiro

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Mulheres de Futuro Como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher, a Fachesf promoveu, no Facebook, a campanha Mulheres de Futuro. Durante uma semana (de 9 a 15/3), a fanpage Realize (www.facebook.com/ fachesf) publicou diariamente um conteúdo exclusivo sobre a relação delas com o dinheiro, seu papel na educação financeira da família, hábitos de consumo e a importância do planejamento para as finanças pessoais e reserva previdenciária.

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ação fez parte da 2ª Semana Nacional de Educação Financeira (promovida pela Enef - Estratégia Nacional de Educação Financeira) e obteve um excelente índice de visibilidade e engajamento nas redes sociais: em

apenas sete dias, alcançou cerca de 660 mil visualizações, quase 10 mil curtidas e mais de 1.200 compartilhamentos, números considerados de grande sucesso segundo as métricas de monitoramento nas redes sociais.

Para democratizar o acesso à campanha, a Conexão Fachesf traz para você todo o conteúdo publicado. Confira a seguir algumas dicas e sugestões que valem não somente para as mulheres de futuro, mas para todos que se preocupam em planejar o hoje e o amanhã.

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// Seu Dinheiro

Mulheres investem mais no futuro

Vou ser mãe. Como me planejar financeiramente?

Sabe aquela história de que toda mulher é consumista e torra o cartão de crédito com roupas e sapatos? Esqueça. A presença das mulheres no mundo dos investimentos deixou de ser novidade há muito tempo. Mais conservadoras do que eles, elas buscam estabilidade e visão de longo prazo. Além disso, por viverem em média sete anos a mais que os homens, já descobriram a importância de começar, desde cedo, a pensar no futuro e passaram a se preocupar mais com previdência e aposentadoria. Ponto para elas.

Mesmo que de forma inesperada, a chegada de um filho deve contemplar não somente a preparação emocional da mulher, mas também um planejamento financeiro. É recomendável que, ao descobrir que está grávida (ou antes de um processo de adoção), a futura mãe estabeleça algumas metas de poupança para arcar com as despesas iniciais (enxoval, quarto, fraldas, itens de higiene) e, principalmente, com os custos que serão adicionados ao orçamento em longo prazo, como alimentação, vestuário, medicamentos, plano de saúde e educação. Confira algumas dicas: 1. Faça pesquisas: antes da chegada da criança, analise cotações de planos de saúde no mercado e escolha a opção de melhor relação custo x benefício. 2. Analise as melhores opções: se a mãe trabalha fora, quem cuidará do bebê? As alternativas mais frequentes são contratar um empregado ou matricular a criança

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numa creche/berçário em período integral. É preciso avaliar o que melhor se adapta ao bolso e à rotina da família. 3. Defina prioridades: antes de focar no dinheiro para a faculdade do filho, por exemplo, é preciso conquistar o equilíbrio financeiro que lhe dê uma boa base de educação no presente. Além disso, o futuro jovem vai definir seus próprios objetivos de vida na hora certa. 4. Aposte num seguro de vida: no caso da falta dos pais, deixar uma segurança financeira para os filhos menores lhes asseguram condições para manutenção de sua alimentação, vestuário, saúde e educação até que estejam aptos para viver com seus próprios recursos.


Mulheres empreendem cada vez mais Muito se tem falado como o empreendedorismo pode mudar o mundo. As mulheres já descobriram esse filão e seu papel como canal dessa mudança. Recente pesquisa realizada pela Serasa Experian mostrou que o Brasil já conta com mais de cinco milhões de mulheres empreendedoras e cerca de 43% dos donos de negócios do Brasil são do sexo feminino. Entretanto, para dar certo nesse ramo, algumas atitudes são fundamentais: 1. Encontrar a melhor oportunidade: é comum acreditarmos que podemos empreender naquilo que gostamos. Porém, nem sempre nossos gostos pessoais são sinônimos de bons resultados. É preciso analisar o mercado, seus riscos e desafios. 2. Superar a vontade de dominar: mulheres costumam querer ter o

Que tal investir no que te faz feliz? controle de tudo o que acontece à sua volta. Saber delegar, nesses casos, pode ser a diferença entre um negócio de fracasso ou sucesso. 3. Dialogar com outros empreendedores: pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) aponta que a mulher brasileira é a que menos faz networking. Participar de encontros com outras pessoas do meio pode ser um diferencial para buscar inspiração, criar novos produtos e serviços e estabelecer parcerias. Ouvir histórias de sucesso e fracasso também é fundamental para quem está começando.

Especialistas em finanças defendem que é preciso manter um equilíbrio entre saber poupar e saber gastar. De nada serve passar a vida inteira juntando recursos sem usufruir dos prazeres que eles podem proporcionar. Mas antes de sair abrindo a carteira com itens de consumo, vale se perguntar: do que realmente preciso para ser feliz? Nossa dica é: experimente comprar menos e vivenciar mais experiências; adquira novos conhecimentos e poupe para realizar viagens inesquecíveis e passar mais tempo com quem você ama. Afinal, é isso o que levamos da vida.

4. Dividir o tempo: antes de começar um novo empreendimento, cabe à mulher sentar com a família e ter uma conversa franca. Todo início implica em muito trabalho e pouco tempo livre. Depois que a empresa engrenar, o esforço será recompensado com dias mais tranquilos e a satisfação de ser dona do próprio negócio. 15


// Seu Dinheiro

Sete dicas para fugir das tentações da moda Mulheres e vaidade são duas palavras que costumam andar juntas. Com tantas ofertas disponíveis nas vitrines, muitas vezes é difícil não cair nas tentações da moda. Mas com um pouco de cautela e senso crítico, é possível aproveitar boas oportunidades sem prejudicar o orçamento. Algumas dicas que valem a pena ter em mente: 1. Saiba selecionar: quantidade não é qualidade. Antes de ir ao caixa, faça uma triagem dos itens que valem o quanto custam e analise se tudo o que está nas sacolas é indispensável, mesmo que os preços sejam baixos. 2. Visualize seu guarda-roupas: será que você já não tem peças muito parecidas com aquelas que parecem ser ofertas imperdíveis? Tente imaginar as combinações possíveis com o que você já possui e evite o arrependimento do dia seguinte.

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Case com alguém que ame o futuro como você 3. Tenha paciência: ao se deparar com algo lindo que você deseja ter já, lembre-se que essa peça pode custar metade do preço muito em breve. Fique atento às épocas de promoções, liquidações e bazares que costumam ocorrer entre as trocas de estação. 4. Otimize as compras: consultoras em moda defendem que é mais inteligente investir em peças atemporais e clássicas de maior qualidade do que nas que estão em alta no momento. Caso contrário, essas aquisições correm o risco de logo acabar esquecidas no armário. 5. Faça as contas: antes de se jogar nas araras com desconto, avalie se as promoções de fato valem a pena. Em muitas situações, o consumidor é enganado e acaba pagando quase o mesmo preço de mercado. 6. Verifique as condições de pagamento: diversos bazares e outlets só dividem as compras a partir de uma quantia determinada, o que pode lhe levar a gastar além do planejado. Analise esses fatores antes de se dirigir ao caixa.

Se você é do tipo que consegue viver a plenitude do presente, mas sabe a importância de construir uma estabilidade financeira para o amanhã, certamente terá dificuldades de conviver com alguém que só pensa no hoje (e vice-versa). Fator primordial para uma vida confortável, o dinheiro pode ser também um grande vilão para casais de perfis previdenciários muito distintos. Assim como compartilhar gostos pessoais e dividir os mesmos sonhos, trilhar um planejamento de aposentadoria em conjunto faz toda a diferença para o equilíbrio da relação. Porque bom mesmo é estar com alguém com quem combinamos quanto aos valores que de fato importam para a vida a dois.

Conheça os segredos de algumas Mulheres de Futuro. Baixe o aplicativo da Conexão Fachesf (IOS/Android).


// Seu Dinheiro

Seja maior ou menor do que imaginávamos, a crise econômica brasileira se instalou causando receio quanto ao futuro do País e também às finanças pessoais, que são formadas basicamente por renda salarial. O momento, portanto, é de cautela e de buscar atitudes em prol de uma maior proteção que suporte as turbulências de juros e preços altos. Quem fez a tarefa de casa nos últimos meses – manteve as finanças em ordem e conseguiu formar uma reserva –, além de estar mais tranquilo, poderá usufruir da crise de modo positivo, pois, com a alta dos juros, alguns investimentos ficam mais atrativos e oferecem melhores rendimentos. Outra oportunidade para ficar de olho é a oferta (venda por valores abaixo do mercado) de casas de praias ou campo, que tende a aumentar em cenários como esse. Para as famílias que ainda não adotam instrumentos e rotinas voltadas ao equilíbrio das finanças, serão necessárias ações mais emergenciais. Em bom português: é hora de apertar o cinto. A situação requer medidas que resultem em efeitos mais rápidos, uma vez que várias contas já sofreram reajustes significativos (combustível, gás, energia e derivados). Como fazer isso? Confira algumas dicas simples que podem ser aplicadas imediatamente no seu dia a dia:

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O que podemos aprender em tempos de crise • Mantenha-se informado sobre a situação econômica do país e compartilhe as notícias com sua família. Esse conhecimento é essencial para adequação dos planos financeiros. • Tome decisões que ajustem o padrão de vida à capacidade de renda da família. Viver além das condições possíveis é sinal de endividamento.

• Converse com representantes da instituição em que seus familiares estudam e com a administração do seu condomínio; procure saber que ações estão sendo tomadas para evitar gastos extras, como economia de luz, água, materiais etc.

• Divirta-se com a família em ambientes de lazer que não custem muito. Há várias opções gratuitas, agradáveis e saudáveis. Em tempos de crise econômica, é bem verdade que o lema é prevenção, restrição e reserva financeira. Porém, muitas coisas positivas podem ser assimiladas, como a tomada de consciência por um uso mais eficiente dos recursos e os valores de uma vida mais racional e simples. Cabe a cada um, individualmente, adotar as melhores ações possíveis para atravessar essa fase de forma tranquila e racional. Até a próxima edição e uma vida próspera para todos.

• Determine limites para uso de ar condicionado, chuveiro elétrico, ferro elétrico, iluminação, micro-ondas e outros vilões de energia utilizados em casa. • Refaça suas programações e planos para este ano, e considere cancelar eventos que não são fundamentais para a família, como uma viagem de férias. • Negocie suas dívidas diretamente com o credor, pois em tempos de juros altos, o risco de inadimplência também cresce, fazendo com que o credor fique mais sensível às propostas dos devedores. Evite empréstimos para quitação de dívidas. • Elabore uma lista antes da realização dos gastos e esqueça de vez desculpas como “vou me presentear, pois mereço”; “não posso perder esta promoção”; ou “já estava programado e, por isso, vou ter de comprar”.

Elizabete Silva é Gerente Econômico-financeira da Fachesf.

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// Especial

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As incertezas e polêmicas da desaposentação Por René Ruschel

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aposentadoria é um direito de todo cidadão brasileiro que contribui para a Previdência Social. No entanto, para alguns, essa tão esperada etapa da vida nem sempre é possível, pois a renda mensal da nova condição não é suficiente para manter o padrão da família. A saída então é retornar ao mercado de trabalho e adiar os projetos pessoais.

Nessa continuidade, aqueles que conseguem uma recolocação com salários melhores do que os recebidos anteriormente passam a contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com parcelas maiores. É nesse momento que buscam cancelar a aposentadoria antiga para conseguir outra que leve em conta suas novas contribuições e, caso seja conveniente, incluir alguma regra mais recente. Esse processo, denominado de desaposentação, tem gerado certa polêmica no país. Afinal, a prática tem respaldo legal?

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m síntese, a desaposentação pode ser entendida como a concessão de um benefício mais vantajoso ao aposentado, em virtude de novas contribuições ao Regime Geral de Previdência Social, tendo em vista a continuidade ou retorno ao mercado de trabalho. Ou seja, é a renúncia da aposentadoria antiga a fim de requerer uma nova com valor superior. No entanto, trata-se de um processo diferente da revisão do valor do benefício por erro de cálculo por parte do INSS ou pelo surgimento de alguma lei ou decisão judicial. A maioria dos que procuram a desaposentação é composta por contribuintes que se aposentaram proporcionalmente por tempo de contribuição e, com isso, sofreram uma grande redução no momento do cálculo do benefício. Após alguns anos de trabalho contínuo e mais tempo de contribuição total, essas pessoas se veem menos prejudicadas no novo cálculo do benefício pelas regras da Previdência, em especial o Fator Previdenciário. Caso passe a contribuir com quantias maiores, o valor do segundo benefício poderá ser superior ao anterior. O INSS, no entanto, não tem cedido às solicitações, sob a alegação de que o pedido não está previsto na lei. O trabalhador que deseja obter essa condição precisa entrar com uma ação na Justiça. Para o consultor Antonio Fernando Gazzoni, diretor presidente da Gama Consultores Associados, de Brasília (DF), a desaposentação visa à conquista de um benefício maior, uma vez que, considerando o atual sistema, quanto maior o tempo de contribuição, maior será o valor percebido na aposentadoria. “Aqueles que opta-

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ram por se aposentar na primeira oportunidade, mas continuam a trabalhar, percebem que podem alcançar um Fator Previdenciário maior, uma vez que, em atividade, vertem contribuição ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS)” afirmou. Essa medida pode trazer algumas implicações. A maior delas está relacionada ao fato de o trabalhador ter ou não de devolver os valores já recebidos, questão ainda em debate pelo Supremo Tribunal Federal (STF), basta ver o pedido de vista da Ministra Rosa Weber. Aliás, esse mecanismo tem sido alvo de intenso debate no âmbito do judiciário brasileiro, estando no momento, nas mãos do STF, a análise de sua legalidade. Sob esse aspecto, o INSS sustenta que, em caso de cessação do benefício para posterior recebimento, os valores recebidos na primeira aposentadoria devem ser abatidos no que ainda será pago, uma vez que o sistema tem caráter solidário e de repartição simples, e não de capitalização. Por outro lado, os aposentados alegam que os benefícios já recebidos foram atingidos pelo direito adquirido, e, portanto, não são passíveis de devolução. Sendo assim, a desaposentação seria uma troca de direitos adquiridos, pois se renuncia a um direito anterior para passar a gozar de um novo. Na avaliação do advogado Sérgio de Aragon Ferreira, na esfera judicial, o primeiro debate em relação à viabilidade da desaposentação diz respeito à renúncia da aposentadoria original. Para o INSS, o artigo 181-B do Decreto nº 3.048/1999 prevê a irrenunciabilidade e irreversibilidade das aposentadorias por idade, tem-


// Especial Foto: Divulgação

"Na esfera judicial, o primeiro debate em relação à viabilidade da desaposentação diz respeito à renúncia da aposentadoria original." // Sérgio de Aragon

po de contribuição e especial. No entanto, por se tratar de norma regulamentadora da Lei de Benefícios da Previdência Social, não poderia esse Decreto extrapolar os limites a que está sujeito. Assim, como ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei, essa tese não está sendo aceita pela maioria dos Tribunais. Não obstante, o parágrafo 2º do artigo 18 da Lei 8.213/91 determina que o aposentado que permanecer em atividade ou a ela

retornar, não fará jus à prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade. Nesse particular, o Judiciário tem entendido que se trata de uma nova aposentadoria em substituição à anterior que foi objeto de renúncia. Portanto, seria inaplicável aquele dispositivo legal. Vale dizer ainda que a obtenção de uma aposentadoria mais vantajosa decorre da renúncia da aposentadoria anterior, ou melhor, inexistindo esta, não se aplica a restrição do parágrafo 2º do artigo 18 da Lei dos Benefícios da Previdência Social.

Regime Geral de Previdência Social Outro obstáculo legal à desaposentação diz respeito ao parágrafo 3º do artigo 11 da Lei 8.213, segundo o qual o aposentado que 21


// Especial

Para o cálculo do valor do benefício de aposentadoria, são considerados idade, expectativa de sobrevida e tempo de contribuição do segurado

exercer atividade abrangida pelo Regime da Previdência Social é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às contribuições para fins de custeio da Seguridade Social. Deve-se observar que, nesse caso, a lei fala em custeio da Seguridade Social e não da Previdência Social, aludida no artigo 201 do mesmo diploma legal. A seguridade Social compreende ações governamentais destinadas a garantir os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social. Em suma, as prestações pagas em decorrência da atividade do segurado aposentado não são destinadas à Previdência Social e, desse modo, não entrariam no cálculo da nova aposentadoria. Mas além da natureza jurídica das contribuições pagas pelo aposentado em atividade, ou filiado ao RGPS, há uma questão relevante que pode inviabilizar o pedido de desaposentação: o equilíbrio financeiro da Previdência. Afinal, para o cálculo do valor do benefício de aposentadoria, são considerados idade, expectativa de sobrevida e tempo de contribuição do segurado.

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Cabe aqui, portanto, a seguinte indagação: se o segurado vier a receber benefícios do INSS por um lapso de tempo, a título de aposentadoria, tais valores trariam ou não mudança no equilíbrio financeiro da Previdência, considerando que esse lapso entra no novo cálculo? É aqui que entra a discussão quanto à devolução dos valores recebidos em decorrência da aposentadoria que já havia sido concedida. Para muitos, a não devolução implica em desequilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social, estabelecido no artigo 201 da Constituição Federal, e a tese da desaposentação para sua validade exigiria a devolução dos valores em questão. Assim, o pedido judicial de desaposentação pode vir a encontrar obstáculos no Judiciário. A melhor solução seria uma regulamentação da lei permitindo que aqueles que se aposentassem e continuassem contribuindo para o sistema, pudessem requerer a revisão do seu benefício por meio de um novo cálculo, observando-se as normas atuariais. Resta aguardar que essas regras, um dia, tornem-se reais.

Sérgio de Aragon explica com detalhes o processo de desaposentação. Baixe o aplicativo da Conexão Fachesf (IOS/Android).


Os investimentos da Fachesf: o desafio de comunicar Sempre que encontro algum Participante da Fachesf, costumo escutar a pergunta “como vai a Fundação?”. Entendo que, por trás dessa questão, há outra implícita, que quer dizer: “meu benefício está garantido?”; ou ainda, “posso ficar tranquilo?”. Dúvidas como essas também têm chegado frequentemente ao canal Fale Conosco, disponível no site da Fachesf, enviadas sobretudo por Participantes do Plano CD nos meses em que os resultados não são favoráveis. Comunicar, ou seja, falar e ser compreendido, é um grande desafio. Quando se trata de assuntos não corriqueiros, como os que envolvem investimentos e finanças (e tendo como ouvintes um público tão heterogêneo em termos de conhecimento, como os Participantes da Fachesf), esse desafio se torna ainda maior. E isso não tem a ver, deixo claro, com o grau de formação de cada um – afinal, uma pessoa com menos instrução muitas vezes tem bastante familiaridade com finanças e investimentos, e consegue entender melhor o mercado do que um especialista em outras áreas.

artigo

// Seu Investimento

deria ser reformulada para “como estão os Planos da Fachesf?” ou, mais especificamente, “como vai o meu Plano?”.

A Fachesf é uma administradora sem fins lucrativos, diferentemente da Chesf ou outra empresa mercantil, que tem seu(s) controlador(es), visa lucro e paga dividendos aos acionistas. O patrimônio consolidado de todos os planos administrados pela Fundação, em maio de 2015, totalizava cerca de R$ 5,6 bilhões. A maior parcela desse montante é do Plano BD, com cerca de 41%, seguido pelo CD (34%) e BS (21%). O Fachesf-Saúde Mais e o Fachesf-Saúde têm, respectivamente, participação de 2,51% e 0,67%, enquanto o PGA tem 0,70%. Nas próximas edições, trataremos da diversificação da aplicação desses recursos entre os segmentos de renda fixa, renda variável, investimentos estruturados, investimentos no exterior, imóveis e operações com Participantes. Esperamos que você goste desta nova editoria e mande suas sugestões para luizdapenha@fachesf.com.br.

Como forma de divulgar de modo ainda mais didático os conceitos, resultados e composição dos investimentos da Fundação, a partir desta edição, a Conexão Fachesf passa a contar com esta editoria Seu Investimento, na qual abordaremos questões relevantes sobre a aplicação dos recursos dos Planos que administramos na entidade. Para iniciar, esclareceremos aqui um importante conceito. É comum ouvirmos referências aos chamados investimentos da Fundação. Na verdade, os recursos ou investimentos são dos Planos e não da Fachesf. Como bem sabemos, os Planos administrados pela entidade são de previdência (BD, BS e CD), de saúde (Fachesf-Saúde e Fachesf-Saúde Mais) e o Plano de Gestão Administrativa (PGA). Todos funcionam de forma segregada e têm seus respectivos passivos/obrigações e ativos/direitos identificados por Plano. Na prática, são como condomínios regidos por regulamentos próprios. Sendo assim, aquela questão “como vai a Fachesf?” po-

Luiz da Penha é Gerente de Investimentos da Fachesf.

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// No Consultรณrio

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Quando ser normal extrapola a normalidade “Eu juro que é melhor não ser o normal.” Em 1972, os Mutantes cantavam A Balada do Louco. Sem saber, faziam clara referência a um tema que estaria cada vez mais presente na vida das pessoas cerca de 40 anos depois e que seria discutido de forma científica, analítica e clínica por especialistas de várias partes do mundo. Afinal, em uma sociedade cada vez mais competitiva,

estudiosos têm levantado algumas perguntas: até que ponto é normal ser “normal”? Por que é tão difícil fugir das armadilhas do cotidiano e de uma vida que não traz satisfação, mantida sob um padrão convencional e infeliz em nome de uma certa normalidade? O que isso pode trazer de nocivo para a saúde? A normose pode ser a resposta para todas essas perguntas.

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// No Consultório

Normose: quando não é normal ser tão “normal” Acordar cedo, tomar café da manhã, levar as crianças na escola e dirigir até o trabalho, onde se passa a maior parte do dia (muitas vezes na frente de um computador), fazendo tarefas rotineiras de forma automática. Alguém mais experimentou a sensação de que alguma coisa parece errada nesse ciclo diário? De que, principalmente, no último item listado, algo corriqueiro na vida de muitas pessoas pode representar uma imensa sensação de cansaço, tédio e, pior, vazio? Mas por que, então, mesmo estando infelizes com a forma que se leva a vida, é tão difícil mudar? É possível pensar nas mais variadas razões para essa questão, como medo da instabilidade financeira, da pressão social, do fracasso. Além desses fatores mais óbvios, entretanto, é necessário compreender os mecanismos psicológicos, emocionais e sistêmicos que envolvem qualquer mudança. Atualmente, a ciência traz respostas cada vez mais consistentes sobre o que leva a essa estagnação. Os caminhos apontam para uma explicação: uma doença chamada normose. O conceito foi criado na década de 1980 como resultado de uma parceria entre o psicólogo, antropólogo e mestre em Ciências Humanas e Sociais brasileiro Roberto Crema, o filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup e o psicólogo francês Pierre Weil. A normose se refere a um conjunto de hábitos considerados normais pelo 26

consenso social, mas que na realidade são patogênicos em graus distintos e levam à infelicidade e à perda de sentido na vida. Autor do livro Normose, a patologia da normalidade, Roberto Crema afirma que a normose é uma doença da civilização, que surge quando o meio social no qual o indivíduo se encontra está desequilibrado e corrompido, com predomínio de violência, competição, egocentrismo, depredação ambiental, falta de respeito e de ética. Uma pessoa adaptada a esse sistema acaba também doente. “Na verdade, ela não apenas está enferma, como também se torna instrumento de manutenção do status quo. Do lado contrário, quem permanece saudável nesse ambiente é aquele que aparenta ser desajustado e consegue transmitir uma angústia lúcida e uma indignação consciente”, explica.

Normose x normalidade Identificar alguém com normose, entretanto, não é algo simples. Para Roberto Crema, o diagnóstico é situacional e requer sensibilidade, razão crítica e uma atenção focada no fenômeno e não em qualquer pressuposição ou visão preconcebida. “É necessário ter uma percepção aberta e critérios de discernimento que possam sustentar a denúncia de contradições óbvias, comuns, patogênicas, embora dotadas de certo consenso social”, afirma. O problema pode se apresentar de forma mais geral ou específica. Um exemplo da primeira, mais comum e individual, é quando a


pessoa se sente desconectada do tecido social, ambiental e da totalidade, manifestando sinais de possessividade e estresse, o que pode acarretar doenças físicas. Já as normoses específicas podem acontecer em indivíduos inseridos em situações de consumismo compulsivo, guerras, terrorismos, fanatismos ideológicos, alcoolismo e outros vícios sociais, como o cientificismo, o desenvolvimentismo predador, a corrupção política, entre outras. A doença é uma consequência desses fatores e manifesta-se como um tipo de condição depressiva, na qual o indivíduo se vê inerte, sem conseguir seguir para novos caminhos, ainda que os atuais não o agradem. É preciso, entretanto, distinguir normose e normalidades. A normose é uma anomalia da normalidade, ou seja, é o que leva alguém à tendência de agir como a maioria, tomando para si e sua rotina. As características dessa doença coletiva consistem em viver dentro do normal, mesmo que de modo caótico. “É o caso, por exemplo, de uma pessoa que se corrompe e justifica essa degeneração porque ‘todo mundo faz o mesmo’. Isso é qualitativamente diferente de uma normalidade saudável, como parar diante de um semáforo vermelho ou tomar café todas as manhãs”, diferencia Roberto Crema. Quando a normalidade transforma-se em um quadro nocivo de normose, o indivíduo pode desencadear o início de uma depressão, caracterizada pela falta de um sentido maior de existir, de uma rotina automática, carente de desafios que lhe movam de uma maneira responsável e autêntica.

“É o que denominamos de depressão iniciática, que denuncia a estagnação do fluxo do desenvolvimento natural rumo ao que realmente somos”, explica Crema. É preciso deixar claro, porém, que a depressão é um distúrbio afetivo complexo, multicausal e, às vezes, com diversos componentes somáticos envolvidos.

A " normose é uma doença da civilização, que surge quando o meio social no qual o indivíduo se encontra está desequilibrado e corrompido." // Roberto Crema

Abraçar a mudança Como fugir, então, do estresse, de uma rotina normótica destrutiva, e das armadilhas do cotidiano que sufocam essa manifestação da individualidade? Segundo Roberto Crema, o problema está no fato de a pessoa fazer seja lá o que for, sem consciência, entregue aos automatismos que levam a uma existência sonolenta e previsível: “Essa é, talvez, uma das gêneses da esclerose que, conforme minha observação clínica, tem início no plano mais sutil e invisível. Começamos a ficar esclerosados quando adquirimos rotinas de pensamentos, de sentimentos, de comportamentos, de relacionamentos. Até que um dia nos vemos entrevados numa cadeira de rodas”. Sobre essa rotina de pensamentos e sentimentos, o psicólogo israelense Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002, traz uma abordagem interessante em seu livro Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Ele afirma que o cérebro humano confunde o que é familiar com o que é correto: ao despertar alguma memória, o cérebro define o “familiar” como “correto”, da mesma forma que o novo é entendido como passível de des27


// No Consultório evidenciados por pesquisas rigorosas em laboratórios.“Meditar é ser capaz de habitar o instante, de fazer âncora no agora. Você pode estar numa fila de banco de forma meditativa, prestando atenção na sua respiração, por exemplo. Isso transmutará sua experiência e você não só vai superar a chatice como também estará nutrindo de saúde sua consciência, sua alma e seu corpo”, ensina Crema.

"O problema está no fato de a pessoa fazer seja lá o que for, sem consciência, entregue aos automatismos que levam a uma existência sonolenta e previsível." // Roberto Crema

Foto: Divulgação

Saindo do lugar de sempre

confiança, porque coloca em risco a chamada “zona de conforto”. Para fugir desse ciclo, é preciso, portanto, desenganar o cérebro. De acordo com Roberto Crema, o apego ao conhecido pode representar uma cilada de hábitos previsíveis e contraproducentes. Mais uma vez, a questão é o autoconhecimento. “Quando nos encontramos no vendaval de um processo intensificado de mudanças, é nossa intuição, uma inteligência transracional da totalidade, que pode nos conduzir melhor no hemisfério do ainda não conhecido, impulsionando-nos à ousadia saudável da renovação”, explica. Mas como fortalecer ainda mais a intuição? Práticas meditativas, por exemplo, trazem benefícios

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Para os indivíduos imersos na normose, é preciso ir além da consciência da necessidade de lutar para solucionar a questão. Afinal, lutar com que objetivo, olhar para que direção ou como descobrir o rumo da própria existência? De que mecanismos se pode dispor? Essas são as perguntas que muitos devem se fazer no momento de ter coragem de empreender as mudanças necessárias. O mais importante é que as pessoas descubram o que realmente amam, o que lhes traz deslumbramentos e prazer, pois assim estarão mais próximas do seu real desejo, de seu sonho e autorrealização. “Na dinâmica do meu consultório, durante décadas, constatei que há um propósito inerente à existência humana, que denomino de vocação. Trata-se do desejo mais profundo e permanente que nos trouxe à vida, um propósito intransferível, uma obra que poderá ser muito simples, mas que compete a cada ser humano realizar. Quando uma pessoa se extravia dessa trilha do coração, atrai sintomas para si e para os próximos”, finaliza o especialista.


// No Consultório

Roberto Crema , um dos estudiosos que ajudou a formar o conceito de normose, conversou com a Conexão Fachesf sobre como é possível fugir da normalidade e encontrar a felicidade. Esse é um bom exemplo de uma transgressão lúcida da normose terrível do nazismo, que nos conduziu ao pesadelo da Segunda Guerra Mundial. Claro que há um preço a pagar para quem ousa uma atitude consciente e responsável quando a hipnose coletiva predomina. As pessoas visionárias e capazes de um maior discernimento são as que se destacam por inventarem seus caminhos de forma criativa, assumindo a autoria da própria existência. No entanto, tal possibilidade se encontra ao alcance de todo ser humano que aceita o desafio de se diferenciar do rebanho, singularizando-se a partir da sua própria individualidade.

1. O conceito de normose surgiu do seu encontro com o filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup e com o psicólogo francês Pierre Weil, na década de 1980. Como chegaram a essa definição? No Brasil, o conceito brotou de minhas pesquisas já em meados da década de 1970. À época, Jean-Yves Leloup irradiava o mesmo conceito na França. Quando o psicólogo francês Pierre Weil constatou essa sincronicidade, ficou impressionado e tocado. Anos depois, em 2002, resolvemos fazer um simpósio sobre o tema. Do evento, surgiu o nosso livro, Normose, a Patologia da Normalidade, que já se encontra na sétima edição. 2. Recentemente, uma foto famosa que circulou pela internet, tirada em 1936, em plena Alemanha Nazista, mostra um operário alemão de braços cruzados no meio de dezenas de pessoas que saudavam o Terceiro Reich. Mais tarde, aquele trabalhador foi expulso do Partido Nazista e preso por desonrar a raça ariana. É necessário ser um visionário ou ter intelecto superior para enxergar além da dita normalidade do seu tempo, ou todo indivíduo pode se libertar do coletivismo nocivo?

3. A cura da normose é um processo individual. Há, porém, esforços sociais que podem ajudar? Qual seria o papel da escola e das instituições de ensino nesse sentido?

entrevista

“Tudo que é inteiro é feliz”

Considero que uma nova educação transdisciplinar e holística é fundamental para facilitar a emergência de uma inteligência integral, que alia o objetivo ao subjetivo, a ciência contemporânea com as tradições sapienciais, a efetividade com a afetividade, a inteligência analítica com a sintética; enfim, da ciência com a consciência. Se desejamos um mundo mais habitável e uma humanidade mais pacífica, saudável e íntegra, devemos investir, sobretudo, em um mutirão em prol de uma renovação educacional. 4. Para finalizar, qual seria seu conceito de felicidade e que mensagem deixaria aos leitores? A felicidade é uma consequência de um viver mais íntegro, veraz e total. A ênfase precisa ser focada não na felicidade em si, mas na consciência da inteireza. Pois tudo que é inteiro é feliz, é pacífico, é belo, é saudável e é sagrado.

Essa matéria foi sugerida pela Participante Cristina Ribeiro. Se você tiver algum outro tema que gostaria de ler aqui, envie sua ideia para conexao@fachesf.com.br. 29


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// No Consultório

? pergunte ao doutor

Você sabe o que é fibromialgia? Pouco conhecida de grande parte da população brasileira, a fibromialgia (FM) é uma síndrome que atinge cerca de oito em cada dez mulheres que vão a um consultório de Reumatologia. Em entrevista à Conexão Fachesf, a reumatologista Aline Ranzolin esclarece mais sobre a patologia, quais as suas causas e sintomas.

1. O que é a fibromialgia (FM)? É uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. A doença é bastante comum, observada em pelo menos 5% dos pacientes que vão a um clínico médico, e entre 10 e 15% dos que buscam um reumatologista. De cada 10 pacientes com FM, de sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão disso. A idade de aparecimento é geralmente entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos de crianças, adolescentes e idosos acometidos pela patologia. 2. Quais são os principais sintomas? O mais importante é a dor difusa pelo corpo. O incômodo, sempre mais forte ao fim do dia, é sentido nos ossos, na carne ou ao redor das articulações. Outro sinal da doença é uma hipersensibilidade ao toque; muitos pacientes não suportam ser agarrados ou mesmo abraçados. Alterações no sono, fadiga, baixa tolerância a exercícios físicos, depressão, falhas na memória e na atenção, síndrome do intestino irritável, sensações de amortecimento nas mãos e pés, dores de cabeça frequentes e maior sensibilidade a estímulos ambientais (como cheiros e barulhos fortes) também são sintomas comuns. 3. Como é feito o diagnóstico da doença? Não há exames que comprovem o diagnóstico. Uma boa entrevista clínica associada e uma análise física completa são suficientes para diagnosticar a doença. Alguns exames de laboratório ou imagem podem ser solicitados para descartar outras patologias, mas isso deve ser feito conforme a avaliação do médico. Os critérios para indicação da fibromialgia são: dor no corpo inteiro por mais de três meses e presença de determinados pontos dolorosos na musculatura.

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4. O que causa a síndrome? Não existe ainda uma causa única conhecida, porém estudos recentes mostram que os pacientes com FM apresentam uma sensibilidade maior à dor. Na prática, seria como se o cérebro do paciente estivesse com um “botão de volume” desregulado, que ativasse todo o sistema nervoso para fazer a pessoa sentir mais dor. A doença também pode aparecer depois de eventos graves como um trauma físico, psicológico ou mesmo uma infecção grave. 5. Existe predisposição genética à fibromialgia? Não há comprovação de predisposição genética para a FM. No entanto, sabemos que familiares de pacientes acometidos têm maior chance de desenvolver a doença. Estudos mais aprofundados ainda são necessários para esclarecer esse ponto. 6. Existe cura? Como a maioria das doenças reumáticas, não existe cura para a fibromialgia. No entanto, o controle dos sintomas é possível, possibilitando melhora significativa da qualidade de vida dos pacientes. 7. Como é feito esse controle? Medicamentos são prescritos para combater a dor, a fadiga, a depressão e a alteração do sono. Mas, a principal abordagem deve ser a educação do paciente a respeito da sua doença, capacidades e limites. Além disso, exercícios físicos são fundamentais, com ênfase para a atividade aeróbica de baixo impacto (caminhar, pedalar e realizar atividades na água). Acupuntura e terapia cognitivo comportamental também são boas alternativas.

Aline Ranzolin é reumatologista e coordenadora do Ambulatório de Fibromialgia do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.

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// Foco no Participante

O homem que inventa histórias

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o pai, um músico autodidata, poeta e afinador de piano, ele herdou o talento de colocar sinfonia nas palavras; da mãe costureira, veio o dom de alinhavar os causos que escuta e construir universos inventados. Esse é Edvaldo Arlégo Marques da Silva, ou somente Arlégo, como é mais conhecido na Chesf. Depois de 28 anos de atuação na Companhia, ele passou a se dedicar integralmente à literatura. Historiador de formação, já tem mais de 150 livros escritos nos segmentos infanto-juvenil, autoajuda e histórias regionais de Pernambuco. Conheça um pouco da vida do Participante que abraçou as letras, viveu um grande amor, criou uma família de sete filhos legítimos e oito adotivos, e permanece em constante estado de processo criativo.

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// Foco no Participante

C

resci numa família de apenas dois irmãos. Fui o primeiro filho nascido vivo, depois de três tentativas dos meus pais – o último desses, minha mãe perdeu após um susto que passou na Revolução de 1930. Nas lembranças da minha infância e juventude, não cabem rádio ou televisão. A maior ostentação da sala de nossa casa era uma biblioteca, lugar que me rendeu o gosto pelos livros e o prazer pela escrita. A paixão pela literatura teve data marcada: 9 de agosto de 1946. Eu tinha apenas sete anos de idade. Nesse dia, ganhei de presente da minha professora de literatura, Dona Maria do Carmo Macedo, o livro O urso com música na barriga, de Érico Veríssimo. O velho exemplar permanece até hoje na minha mesa de cabeceira e, vez por outra, pego-me folheando-o mais uma vez para mergulhar naqueles tempos de criança. Foi com ele que aprendi que o livro é o melhor amigo do homem; é o que nos faz crescer em todas as esferas do conhecimento.

"O livro é o melhor amigo do homem; é o que nos faz crescer em todas as esferas do conhecimento." // Edvaldo Arlégo

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Paradoxalmente, por ter começado a trabalhar muito cedo – aos dez anos, eu vendia frutas e fabricava confetes para comercializar no carnaval –, não pude me dedicar aos estudos enquanto era jovem. Com 17 anos, já dava aulas de datilografia, técnica em que me tornei muito ágil, e era bastante valorizada numa época em que os computadores ainda não dominavam todos os espaços. Aos 20, dei um passo em direção ao homem que sou hoje: casei com aquela que ocuparia para sempre o título de meu grande amor. Marileide tinha somente 14 anos. Até seu último dia de vida (ela faleceu em 2013), esteve ao meu

lado. Foram mais de 50 anos de uma convivência plena e companheira. Vivemos para nos fazer felizes. Com ela, construí uma família de 15 filhos incríveis, sendo oito deles adotivos. Por incentivo dela, voltei a estudar e dei novos rumos à minha carreira. Sem ela, muitas coisas perderam o sentido.

A entrada na Chesf Recém-casado e em vias de me tornar pai, precisava garantir o sustento do nosso lar, que logo se tornaria uma grandiosa família. A experiência que tinha como datilógrafo me rendeu um contrato para trabalhar em uma empresa americana, que estava construindo as linhas de transmissão da novíssima Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Eu jamais sonharia que aquele primeiro contato com a Chesf teria um desdobramento que permearia toda minha trajetória profissional. Com as obras da Chesf se aproximando do fim, resolvi montar uma escola de datilografia para que Marilene tomasse conta. O empreendimento deu certo e logo tínhamos uma rede de seis unidades, sendo uma delas no Rio de Janeiro (RJ). Porém, quando o serviço prestado pela empresa em que eu atuava foi concluído, veio o inesperado: o então engenheiro-chefe da divisão de Linhas de Transmissão, Múcio Lacerda, convidou-me para auxiliá-lo como datilógrafo. Daquele dia em diante, acumulei 28 anos de trabalho na Chesf, de onde saí certo do cumprimento do meu dever como empregado.


// Edvaldo Arlégo

Guinada na vida Em março de 1962, depois de um grave acidente com um helicóptero da Chesf – do qual escapei por sorte do destino – decidi mudar algumas coisas na minha vida. Uma delas, por incentivo de Marilene, foi voltar a estudar. Assim terminei o ginásio, cursei Contabilidade e, por fim, passei no vestibular para o curso de História. Em paralelo ao meu trabalho na Companhia, comecei a dar aulas. Cumpria oito horas diárias na empresa, estudava à noite e, em três dias na semana, lecionava em escolas (e mais tarde, também em faculdades do Recife). Como nunca gostei de ficar ocioso, levava a rotina com tranquilidade. Até o dia em que peguei um de meus alunos filando na prova. Ele, um homem feito; eu, um professor que se sentia desmoralizado diante da atitude.

Foi o suficiente para que eu abandonasse as salas. Nesse tempo, eu já contribuía para o jornal da Chesf. No informativo, publiquei minha primeira crônica, intitulada A história de Paulinho, na qual narrava a relação entre um filho e seu pai adotivo. Ao ler o que eu havia escrito, um colega me disse que ali havia um livro pronto. Agarrei-me na ideia e nunca mais parei de escrever.

"Como historiador, dediquei-me a contar as histórias de Pernambuco e seu passado, as cidades mais importantes, os personagens inesquecíveis e lendas populares." // Edvaldo Arlégo

Como historiador, dediquei-me a contar as histórias de Pernambuco e seu passado, as cidades mais importantes, os personagens inesquecíveis e lendas populares. Sobre o Recife, revisitei causos, bairros, engenhos, praças e museus. Fiz renascer poetas, assombrações, cantigas, revoltas e batalhas. Como ficcionista, criei sobre tudo aquilo em que vi potencial para conquistar um leitor.

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// Foco no Participante

Para as crianças, em especial, inventei parábolas para falar de amizade, respeito, tolerância, lealdade, magia, sonhos e tudo o quanto quisesse o coração. Assim nasceram livros como O boneco de vento no frevo, Viva a borboleta, Natal azul, A valsa das bonecas, Bolas de fantasia, O palhacinho cor-de-rosa e tantos outros. No total, tenho mais de 150 títulos publicados, todos por meio da Edições Edificantes, editora que abri em 1980 e que já chegou a distribuir livros paradidáticos para mais de 300 escolas do Recife.

A descoberta da escrita A dedicação à atividade literária, entretanto, nunca prejudicou meu desempenho na Chesf ou a atenção que reservei à minha família. Sou um trabalhador compulsivo, porém que sabe dividir o tempo entre tudo o que de fato importa. Em casa, meus fins de semana eram para Marilene e nossos filhos; na empresa, além das minhas obrigações formais, ocupava a jornada diária com atividades extras que me ajudaram a crescer e ganhar espaço.

Saiba mais sobre a história de Edvaldo Arlégo. Baixe o aplicativo da Conexão Fachesf (IOS/Android).

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Por ser rápido à máquina de escrever e logo terminar meus afazeres, passei a colar nos engenheiros para aprender tudo o que pudessem me ensinar sobre as teorias da engenharia civil. À medida que assimilava as informações, ia registrando o conhecimento. No total, escrevi 45 apostilas sobre manutenção de linhas. Em paralelo, pegava os exemplares da revista Mundo Elétrico e separava verbetes explicativos sobre transformadores, disjuntores etc. Assim nasceu uma espécie

de enciclopédia da engenharia, que logo circulou na Chesf. O enxerimento deu frutos. Por conta desses materiais, comecei a promover cursos para inspetores de linhas e técnicos. Logo fui convidado a levar as aulas também para outras empresas do setor elétrico no Nordeste. Foi assim que entrei na Companhia como um jovem datilógrafo e de lá saí como técnico de ensino superior.

Novos recomeços Em 1991, meu então chefe na Chesf perguntou se eu queria me aposentar. Senti que meu ciclo estava cumprido e me despedi da Companhia. Mas a saída não mudou muito meu cotidiano. Costumo dizer que sou fiel a tudo na vida: minha conta bancária permanece no banco de sempre, sigo a mesma religião da época em que me batizei e continuo indo à Chesf quase todos os dias. Acordo às 4h da manhã para fazer exercícios físicos e passo o dia cumprindo minhas atividades, seja escrevendo ou visitando as escolas atendidas pela Editora, nas quais desmistifico a figura do autor. Sinto-me feliz em saber que esse amor pela literatura, deixarei para meus filhos – alguns deles também escritores. Só não tenho mais biblioteca em casa, pois com o tempo, aprendi que os livros precisam circular. Leio muito e escrevo sempre. Gosto de brincar dizendo que a inspiração não tem rabo, mas chifre; se você não pegar de frente, ela passa e você tem que correr atrás. Então sigo entre palavras, pesquisas e composições, dando voz ao que desperta minha atenção e preenche a alma. E não pretendo parar tão cedo.


// Fachesf-Saúde

A decisão do nascimento Resolução da ANS quer reduzir cesarianas no Brasil Pense nas mulheres que você conhece que tiveram filho nos últimos dez anos. Quantas fizeram parto normal? É bem provável que a grande maioria tenha enfrentado sala de cirurgia, anestesia e os demais passos de uma cesariana, mesmo sem qualquer problema de saúde durante a gestação. Com isso, essas mães entraram para uma estatística que têm chamado a atenção do mundo: segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), cerca de 84% dos partos realizados na rede privada do Brasil são cesarianas, índice que não ocorre em nenhum outro país do planeta.

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// Fachesf-Saúde

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a Holanda e Finlândia, por exemplo, as taxas de cesáreas atingem em média 17%. Mesmo em países com realidades socioeconômicas mais próximas à brasileira, como México e Argentina, os índices não passam dos 30% no primeiro e 50% no segundo. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), esses não são apenas números; representam um preocupante estado de epidemia de cesarianas, sendo a maior parte desnecessária. A gerente de Assistência à Saúde da ANS, Karla Coelho, alerta para os perigos desse quadro: “A cesariana é uma técnica muito importante, criada para salvar vidas, mas que não pode ser usada indiscriminadamente. Quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Em torno de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados à prematuridade”. Desde 2005, a ANS tem implantado medidas na tentativa de reverter esse quadro. No entanto, com o crescimento avançado no número de procedimentos cirúrgicos, o órgão identificou que precisava investir na mudança do modelo de assistência ao parto. Em janeiro deste ano, instituiu a Resolução Normativa Nº368, em vigor desde 06/07/2015, estabelecendo novas regras no que tange, sobretudo, o acesso à informação.

Cartão da Gestante e Partograma Pela nova lei, as operadoras de saúde devem fornecer às pacientes grávidas o Cartão da Gestante, 36

de acordo com padrão definido pelo Ministério da Saúde, no qual constará o registro de todo seu pré-natal. Além disso, a paciente deve receber ainda a Carta de Informação à Gestante, com orientações suficientes que lhe auxiliem a tomar decisões e vivenciar a gestação de forma tranquila. Cabe ainda às operadoras a orientação para que os obstetras utilizem o Partograma, documento no qual deverá estar registrado todo o trabalho de parto. Nos casos em que houver justificativa clínica para sua não utilização, deverá ser apresentado um relatório médico detalhado. Se a operadora não fornecer essas informações à beneficiária, será multada em R$ 25 mil. Karla Coelho acredita que um dos pontos positivos da Resolução é garantir à mulher o direito de saber quais as taxas de cesáreas praticadas pelas operadoras. Apesar de já estarem disponíveis no site da ANS, esses dados passam a poder ser solicitados aos médicos e maternidades. “O Cartão da Gestante é uma ferramenta essencial, pois com ele, qualquer profissional de saúde pode ter conhecimento de como se deu a gestação, facilitando o atendimento à mulher quando ela entrar em trabalho de parto. Antes, essas informações ficavam no consultório médico e se a paciente mudasse de profissional perdia os registros”, esclarece a gerente. Outra exigência da Lei, o Partograma é considerado um instrumento consagrado pela OMS, pois contém o histórico de tudo o que acontece durante o parto. A intenção da ANS é possibilitar à mulher obter informações qualificadas para que ela saiba o que significam os distintos tipos de parto e esteja plenamente


consciente sobre a escolha mais adequada do ponto de vista de sua saúde e do bebê.

"O direito à informação é algo básico, que liberta as pessoas."

A Fachesf disponibiliza o Cartão Gestante na Central de Relacionamento e Agências, em cada regional, bem como relatórios com a quantidade de partos cesáreos e normais, os quais poderão ser solicitados pela gestante a qualquer momento, pelo telefone 0800 281 7533 ou presencialmente. A Fundação já encaminhou correspondência a todos os ginecologistas/obstetras credenciados para informar sobre a disponibilização do Partograma no site da Fachesf (área restrita aos credenciados) e lembrar que é fundamental a sua apresentação para o pagamento das despesas médicas nos partos naturais.

Polêmicas dividem classe médica Na classe médica, a Resolução Nº 368 gerou polêmicas, pois nem todos os profissionais acreditam que as medidas surtirão o efeito desejado pelo Governo. “O direito à informação é algo básico, que liberta as pessoas. Sendo assim, entendo que a medida não invade a privacidade profissional. Acho uma atitude benéfica, embora, nesse quesito das taxas, especificamente, não creio que dê resultados concretos. O paciente escolhe um médico por indicação, por confiança, então não acho que vá deixá-lo porque ele tem uma estatística de 90% de cesarianas”, opina o ginecologista e obstetra Elias Melo, chefe da Unidade de Saúde da Mulher da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

// Elias Melo

tos. Se a operadora interpretar que o Partograma está errado, incompleto ou foi mentiroso, poderá glosar o procedimento, o que, a meu ver, trará uma dupla repercussão: se por um lado diminuirá a quantidade de cesáreas; do outro, porém, reduzirá a quantidade de obstetras na rede credenciada, pois após sucessivas glosas, acredito que haverá um maior número de desligamentos dos planos”, desabafa Elias Melo. O médico lembra, ainda, que nem sempre os números refletirão a realidade. Obstetras que atendem, sobretudo, gestações de alto risco, por exemplo, terão altos índices de cesariana pelas próprias circunstâncias. Já os que fazem parto normal de forma particular também não entrarão para as estatísticas, uma vez que só serão computados os casos remunerados pelas operadoras de saúde. Com relação à obrigatoriedade da apresentação do Partograma, Elias Melo acredita que a medida surtirá um efeito direto na redução do número de cesarianas, mas por uma razão controversa. “Não é fácil fazer um Partograma corretamente. Até alguns anos, as universidades não ensinavam os estudantes de Medicina a preenchê-lo. O método foi regulado pelo Conselho Federal de Medicina há 12 anos, mas somente agora será exigido como documento formal, como condição para a cobertura dos procedimen-

Segundo ele, o maior problema que envolve a questão é a falta de conhecimento de muitos profissionais em detrimento das exigências legais. “O instrumento é relativamente novo. Alguns colegas farão o Partograma de forma errada por não conhecerem de fato a técnica. Isso levará as operadoras a suspenderem pagamentos de trabalhos realizados de forma legítima. Prevejo muitos processos judiciais, o que não é bom para ninguém.”

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Baixe o Cartão Gestante através do link: https://bit.ly/2EG7ZNY

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// Fachesf-Saúde

Entrevista

Repercussões da Resolução Normativa 368 Qual a expectativa da ANS sobre mudança de cenário, considerando tempo e resultados?

Numa entrevista exclusiva, a gerente de Assistência à Saúde da ANS, Karla Coelho, explica outros detalhes da Resolução Normativa Nº368.

Sabemos que não será uma tarefa fácil e tampouco rápida. Mas, pela primeira vez, temos um contexto favorável: hoje, o tema está em debate como nunca esteve e a sociedade tem se mobilizado para discutir o assunto. Queremos implantar um modelo de assistência ao parto que seja sustentável, em que a mulher participe e ajude a transformar em cultura da família. Quando começarmos a reverter esse cenário, terá início a mudança desse pensamento.

Segundo a ANS, qual será a maior dificuldade para implantação da Resolução Normativa? Entre os fatores que certamente dificultam a tarefa estão as questões culturais e tecnológicas. Para enfrentá-las, temos de agir em várias frentes, envolvendo todos os atores que participam do tema, direta e indiretamente: a gestante, o médico, o hospital, a operadora de planos de saúde e a sociedade de maneira geral. Em qualquer caso, a informação é essencial. A grávida, desde o primeiro dia de pré-natal, precisa ser sensibilizada sobre a importância do parto normal e conhecer as indicações para a cesariana. O parto tem que ser discutido com a mulher e, mais que isso, tem de ser desmistificado. As gestantes precisam saber que a imagem de sofrimento muitas vezes disseminada em filmes e novelas não é real. Hoje há alternativas não farmacológicas para alívio da dor. No serviço privado, toda organização é feita de forma que o procedimento

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cirúrgico é favorecido. Os hospitais, por exemplo, têm mais leitos cirúrgicos, os médicos são melhor treinados para realizar partos cesáreos, não há equipes de plantão ou outros profissionais, como enfermeira obstetra. Essas situações favorecem a cesárea em detrimento do parto normal. Vamos então redesenhar o modelo assistencial, algo difícil de fazer, mas que é a única coisa que vai, de verdade, resolver a questão.

Quais serão os reflexos imediatos da nova lei? As medidas vão ajudar as mulheres que querem ter parto normal, mas que têm encontrado dificuldade de acesso a uma assistência segura e de qualidade. Além disso, a opção pelo parto natural contribui para a não ocupação de leitos cirúrgicos e de alta complexidade, deixando esses espaços para pacientes que realmente precisam dessas vagas. Outra vantagem diz respeito à redução de custos relacionados ao nascimento, que acabam onerando não apenas o consumidor, mas todo o sistema de saúde.

Que recado a ANS deixa às gestantes de todo o Brasil? A mensagem principal que queremos deixar é: o parto é uma questão de saúde da mãe e do bebê. A gravidez é um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher e sua família. Ao receber informações qualificadas sobre os riscos de um procedimento cirúrgico desnecessário, a gestante estará mais segura para decidir pelo que é melhor para sua saúde e a do seu filho. Se houver descumprimento das normas, a ANS deve ser acionada através dos canais de atendimento: pelo telefone 0800 7019656 ou pelo portal www.ans.gov.br.


// Fachesf-Saúde

Observe, questione e seja crítico

Basta ler algumas revistas renomadas, assistir a programas jornalísticos e acessar sites de notícias para constatar a imensa quantidade de pauta negativa relativa à área de saúde: fraudes médicas, condutas inadequadas no tratamento dos pacientes, valores exorbitantes sendo cobrados por órteses e próteses, solicitações de materiais desnecessários ao ato cirúrgico, planos de saúde que negam realização de procedimentos indiscriminadamente, entre tantas outras. Em uma conjuntura como essa, o que nos cabe, enquanto usuários do sistema? Na minha opinião, a resposta está em adotar um comportamento questionador e crítico. Ao procurar um médico com alguma queixa, devemos relatá-la minuciosamente, observar se o profissional está atento ao nosso relato e interrogar-lhe, em pormenores, quanto à conduta a ser adotada – mesmo os leigos em Medicina são capazes de compreender o que acontece com o próprio organismo e fornecer informações pertinentes para o fechamento de um diagnóstico. Em caso de indicação para ato cirúrgico, por exemplo, é essencial discutir com o médico sobre todos os detalhes envolvidos, como os benefícios da operação, os riscos e, sobretudo, a real necessidade do procedimento. Cabe ainda questionar se a técnica a ser utilizada é experimental (pacientes não podem ser utilizados como cobaias) e se está dentro dos padrões regulamentares da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Se mesmo após essa conversa, as dúvidas persistirem, o beneficiário pode procurar a Fachesf, que tem profissionais especializados à disposição para esclarecer essas e outras questões, como: há necessidade de utilização de órteses ou próteses? Os materiais indicados têm comprovação de eficácia no tratamento da patologia? Quais as vantagens da realização do procedimento por meio de uma determinada técnica em detrimento de outra? As respostas para essas perguntas ajudam o paciente a entender melhor seu caso e, inclusive, a tomar decisões de forma mais consciente.

Está em um atendimento na urgência? Não se contente em aceitar o que lhe será administrado, seja via oral ou venosa, sem antes perguntar o porquê. Enfim, questione, questione e questione mais uma vez. Nunca saia do consultório médico com dúvidas sobre medicamentos, tratamentos, cirurgias etc, uma vez que esses fatores influenciam diretamente na sua saúde, o bem mais precioso que se pode ter na vida.

artigo

No Brasil, algo que me parece a cada dia mais evidente é o fato de o mercantilismo ter tomado conta do segmento de saúde. É notório perceber como o setor, fundamental para a qualidade de vida da população, tem sido visto como um negócio no qual os resultados financeiros se sobrepõem ao bem-estar das pessoas.

É dever de todo profissional da área de saúde compreender as angústias e anseios dos pacientes e buscar, da melhor forma possível, uma solução para esses problemas. Para isso, uma característica primordial de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e demais especialistas deve ser a capacidade de praticar a empatia; isto é, de colocar-se no lugar do paciente – e até mesmo dos seus familiares –, entender suas fragilidades e conduzi-los a uma condição de bem-estar. O beneficiário do Fachesf-Saúde tem a grande vantagem de ter um plano administrado pela Fundação, para a qual ele não é somente um número na carteira de identificação, e tem livre acesso, desde o atendente aos gestores, podendo esclarecer qualquer dúvida, seja relacionada a trâmites burocráticos ou à própria Medicina. Se você é um dos nossos beneficiários, use e abuse dessa facilidade. Aqui você será sempre bem-vindo.

Wanessa Cysneiros é Gerente de Regulação da Fachesf.

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// Cultura e Lazer

O Recife pela perspectiva das águas Conhecer os principais pontos turísticos do Recife a partir de outro ângulo: o Rio Capibaribe. Essa é a proposta dos passeios de catamarã, que a cada dia atraem um número maior de adeptos, sejam recifenses ou turistas. Além de mergulhar na beleza da capital pernambucana pela perspectiva das águas, a opção de lazer oferece uma incrível oportunidade de redescobrir a história da cidade maurícia.

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// Cultura e Lazer

S

ão várias as empresas que oferecem o passeio de catamarã. As saídas ocorrem duas vezes por dia durante a semana, e cinco nos fins de semana e feriados, a partir do Cais das Cinco Pontas, no bairro de São José. O circuito mais conhecido é o Tour Rio Capibaribe e suas Pontes. O trajeto é feito com orientação de guias, que trazem informações sobre a geografia dos arredores e fatos do passado. O ponto de partida das viagens é a Ilha de Santo Antônio. A região não está localizada especificamente no rio Capibaribe, mas na Bacia do Rio Pina, que recebe as águas dos afluentes Jordão, Tejipió e Jiquiá. Segundo Juliana Britto, diretora de uma das operadoras que oferecem o serviço, o público que procura o lazer é bem variado. “Durante a semana, nem sempre as embarcações (que têm de 100 a 120 lugares) saem lotadas. Mas na alta estação, é importante fazer reserva sob o risco de não conseguir vaga, tamanha é a procura”, explica.

Aplausos para as pontes No início do passeio, o Parque das Esculturas (e sua famosa Torre de Cristal), projetado pelo artista plástico recifense Francisco Brennand, é o primeiro monumento a ser contemplado. Em seguida, o catamarã segue para o Centro de Artesanato e o Marco Zero. A origem árabe da palavra Recife e a história da antiga Casa de Banhos – que no século XIX servia de hospedagem para pessoas que recebiam a recomendação médica de tomar banhos salgados – também fazem parte do roteiro.

É a partir desse ponto que o programa propriamente dito começa. Antes de passar pela Ponte Giratória, a guia avisa: “Diz a tradição que, ao passar por baixo de cada ponte, o turista deve fazer um pedido. Ele, porém, só se tornará real se as pontes forem aplaudidas”. Nesse instante, o público entra no clima e explode em euforia. Realizado o primeiro desejo, os passageiros avistam o antigo Grande Hotel, que hoje abriga o Fórum Tomás de Aquino. Em seguida, a estátua do poeta pernambucano Ascenso Ferreira, situada às margens do rio, saúda os viajantes. A escultura fica em frente ao Paço Alfandega, importante centro de compras da cidade, onde funcionou por quase cem anos o Convento dos Padres da Ordem de São Felipe Néri, mais conhecido como Convento dos Oratorianos. Na construção, inaugurada em 1732, período do domínio holandês no Estado, também já funcionaram a antiga Alfândega de Pernambuco e um armazém.

O voo das garças Chega então a hora de fazer o segundo pedido, dessa vez, sob a Ponte Maurício de Nassau, em cujas margens, a estátua do poeta Joaquim Cardozo observa o Recife. Os passageiros, que novamente se entregam aos aplausos, são saudados de volta pelos populares que acompanham o passeio à distância. A Ponte Maurício de Nassau foi a primeira a ser erguida nas Américas, em 1643. Dizem os historiadores que a construção logo ganhou fama por conta de um episódio conhecido como “boi voador”: o governante holandês empalhou um animal e deslizou-o sobre cordas 41


Fotos: Prefeitura da Cidade do Recife · Secretaria de Turismo e Lazer

// Cultura e Lazer

// Casario da Rua da Aurora

"Diz a tradição que, ao passar por baixo de cada ponte, o turista deve fazer um pedido; ele, porém, só se tornará real se as pontes forem aplaudidas." // Juliana Britto

pelo rio, provando que "podia fazer um boi voar". O motivo do espetáculo era arrecadar fundos para que Nassau pudesse pagar as dívidas contraídas para as obras recém-terminadas. O terceiro desejo dos turistas a bordo do catamarã é feito sob a Ponte Buarque de Macedo. É nesse momento do passeio que a guia aponta para o fim da Ilha de Santo Antônio, no terreno do Palácio do Campo das Princesas. Da embarcação não é possível contemplar em detalhes a arquitetura do prédio histórico. Mas é possível admirar seu belo jardim, famoso pela variedade da flora, e o voo das garças, que pincelam de branco o verde das plantas e se exibem em bandos para os passageiros. Nesse instante, cliques de máquinas fotográficas são disparados à exaustão.

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Cenário de cartão postal A próxima ponte da viagem é a única com nome de mulher: Princesa Isabel. A construção liga as sedes do Palácio do Governo, Tribunal de Justiça de Pernambuco e Assembleia Legislativa do Es- tado. A partir desse ponto, a paisagem ganha o colorido do casario da Rua da Aurora. O antigo Ginásio Pernambucano, o caranguejo-símbolo do movimento cultural Mangue Beat, a estátua do poeta João Cabral de Melo Neto e o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), com seu acervo de 1.200 obras, compõem o cenário do cartão postal. Da Rua da Aurora, o catamarã segue em direção à Ponte Duarte Coelho, talvez a mais famosa do


Recife. É lá que, durante os festejos de Momo, pousa o imponente Galo da Madrugada, um dos principais ícones do carnaval nacional. Nos arredores, a escultura do músico Capiba contempla a Avenida Guararapes e o secular Cinema São Luiz. A alguns metros de distância, avista-se a Ponte da Boa Vista, também conhecida como Ponte de Ferro. O que poucos sabem é que sua composição inicial era de madeira e, somente há pouco mais de 100 anos, foi substituída pela estrutura de ferro, trazida da Inglaterra. É nesse ponto que o catamarã dá início ao retorno da viagem. No caminho de volta, é possível ver a Ponte do Limoeiro e o local de encontro do Capibaribe com o Be-

beribe, de onde os famosos rios da Veneza brasileira seguem em direção ao Oceano Atlântico. É lá também que se pode observar a divisa entre as cidades-irmãs Recife e Olinda, ambas fundadas há mais de quatro séculos.

Uma experiência para guardar na memória e encher o peito de esperança de que todos os pedidos serão atendidos.

Chega, enfim, a hora dos passageiros aproveitarem os últimos instantes para contemplar a beleza dos prédios que contam a história da capital pernambucana sob a perspectiva das águas. Quem opta por fazer o roteiro à noite, ganha de brinde a oportunidade de admirar a iluminação que envolve as antigas construções. Certamente, uma experiência para guardar na memória e encher o peito de esperança de que, sim, todos os pedidos feitos durante a viagem serão atendidos.

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// Cultura e Lazer

Um mergulho na história do Recife

// Bráulio Moura · Secretaria de Turismo e Lazer do Recife

// André Durão · Coordenação do Curso de Turismo UFPE

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O passeio de catamarã dura uma hora e já faz parte do roteiro turístico de Pernambuco. Não é à toa que, há um ano, a Prefeitura o incluiu no projeto Olha! Recife – que estimula a redescoberta da cidade – e passou a disponibilizar uma embarcação, todos os sábados pela manhã, para realizar o serviço gratuitamente (as opções pagas custam a partir de R$ 40). "Queremos aproximar o recifense de suas raízes, pois acreditamos que o ser humano tende a cuidar melhor daquilo que conhece e gosta. Ver o mangue e o encontro dos rios desse novo ângulo possibilita a criação de laços de identificação e desperta a importância de se preservar o patrimônio histórico", explicou Bráulio Moura, gestor de Projetos Turísticos da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife. O tour também é obrigatório para os alunos do primeiro período de Turismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "O passeio se tornou um dos principais atrativos da cidade. Já fiz o roteiro várias vezes com meus alunos. Analisamos o produto turístico e sua influência positiva na percepção do turista em relação à nossa cidade", afirmou o coordenador do curso de Turismo da UFPE, André Durão. Para ele, a atração tem se profissionalizado bastante nos últimos anos, principalmente devido ao investimento na estrutura das embarcações, que antes era alvo de constantes reclamações.Sua única crítica diz respeito ao acesso: "Chegar ao catamarã é difícil. Não há sinalização. Sozinho, o turista não chega lá", ponderou.


// Mundo Animal

Velhos amigos que merecem todo respeito

I

magine cenas de uma história que começa nos primeiros anos de vida de dois seres: um dividindo descobertas e seus primeiros passos com o outro, que experimenta cheiros, sabores e o som dos seus latidos iniciais. Dias e meses se passam. Brincadeiras, cuidado, carinho, aventuras, atenção e companheirismo fazem parte e são comuns ao universo de ambos. No entanto,

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os efeitos do tempo chegam de formas distintas para cada um. O filhote canino em poucos anos começa a envelhecer, passando a apresentar rapidamente sinais de desgaste físico; enquanto o ser humano, nesse meio tempo, ingressa lentamente na vida adulta. Como se dará o desfecho dessa história de amizade e companheirismo? Será possível garantir um final feliz? 45


// Mundo Animal

E

m muitos casos, o fim dessa história passa pelo cão já idoso junto de seus amorosos tutores, que continuam presentes em todas as fases da sua vida. Na maioria, porém, o final é desolador, cruel e angustiante. É quando os cães perdem a proteção de quem os acolheu ainda jovens, cheios de saúde e vitalidade, e passam a ser considerados estorvos para a família porque ficaram velhos e debilitados. O que parece um enredo de ficção de algum filme triste, infelizmente é o retrato fiel do que ocorre com milhares de cães idosos no Brasil. Segundo informações do portal da Agência de Notícias do Direito dos Animais (ANDA), a Organização Mundial da Saúde estima que existem no País mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Somente no Recife (PE), censo realizado em 2010 pelo Centro de Vigilância Ambiental registrou mais de 231 mil animais abandonados (cães e gatos) no município. Como não há um controle efetivo dessa população, não se sabe ao certo o quantitativo de cães filhotes, adultos e idosos. O que se sabe, porém, é que principalmente para os bichos mais velhos, as condições de vida nas ruas são quase sempre sinônimo de mortes por atropelamento, fome, sede e toda natureza de doenças oportunas.

A idade e o envelhecimento dos cães Antes de entrar no cruel universo do abandono, é preciso entender o que se considera velhice em um 46

cão e a partir de quando ele pode ser denominado idoso. O mais comum é atribuir sete anos humanos para cada um ano de idade do cão. Mas isso não é inteiramente verdade. Segundo a médica veterinária Taciana Cássia Silva, mestranda em Ciência Animal Tropical pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o cão doméstico é uma das espécies de mamífero que possuem maior diversidade do planeta; na idade adulta, pode apresentar peso entre 3 kg e 90 kg, o que significa haver grandes variações de expectativa de vida entre as raças e o porte do animal. Assim como cada ser humano, os cães têm seu próprio tempo de envelhecimento. Uma estimativa mais precisa seria: portes pequeno (até 10kg) e médio (entre 11kg e 20kg) envelhecem aproximadamente cinco anos para cada ano humano; para os de grande porte (entre 21kg e 40kg), equivale seis anos; enquanto os gigantes (acima de 41kg), representam sete anos do homem. Outro ponto que deve ser levado em consideração para quantificar a idade real de um cão é o seguinte: o envelhecimento é mais acentuado nos seus dois primeiros anos de vida mas, curiosamente, cachorros pequenos tendem a viver mais do que os grandes. A juventude dos menores em comparação aos demais é curta, entretanto sua vida adulta é mais longa. O processo de envelhecimento tem a ver também com a raça; as pequenas e “micros”, por exemplo, não ficam idosas até mais ou menos 10 anos. É o caso dos Poodle Toys, York Shires, Lhasa Apsos e Chihuahuas. As de tamanho mé-


dio (Cocker Spaniel, Beagle, Poodle e Dachshund) estão no meio do caminho em termos de amadurecimento e longevidade. Já raças gigantes, como o Bullmastiff, Dogue de Bordeaux e Grande Dinamarquês, são consideradas idosas a partir dos cinco anos. “Vira-latas em geral também costumam viver bastante tempo”, informa Taciana Silva

"O cão doméstico é uma das espécies de mamífero que possuem maior diversidade do planeta." // Taciana Cássia Silva

Seja qual for a raça e o porte, de forma geral, a terceira idade dá-se a partir dos 75% da expectativa de vida do cão. Alguns sinais podem indicar a entrada nessa nova fase. Os pelos, por exemplo, passam por transformações na sua estrutura e, além de brancos, tornam-se mais ásperos. Segundo Roseana Diniz, pós-doutorada em comportamento animal e professora de Clínica Médica de caninos e felinos da UFRPE, há ainda a redução na capacidade de visão, paladar, audição e faro (olfato). “Também pode haver mudanças de rotina, como urinar e defecar em lugares e horários não comuns; atitudes antissociais, a exemplo de esconder-se diante de visitas, rosnar, morder, dormir demais, dentre outras”, afirma. Cães idosos em geral se tornam mais preguiçosos e é comum que fiquem lentos e menos dispostos a longos passeios e brincadeiras. Comumente, têm os olhos mais acinzentados ou nublados e demoram a responder ao chamado do dono. Esses podem ser sinais de catarata ou surdez. O apetite tende a diminuir, o que se relaciona

Foto: Arquivo Pessoal

Mudança de comportamento

a uma desaceleração do ritmo de vida. É possível observar, ainda, um aumento na sensibilidade às mudanças de temperatura, de forma que eles sofrem mais com o frio e o calor excessivo. Os sinais de velhice também se manifestam frequentemente sob a forma de doenças. E, quando elas chegam, é um momento crucial para toda a família. “Nessa fase, o cão sente mais necessidade de companhia, não para brincar, mas para ser acolhido”, salienta a veterinária Taciana Silva. De acordo com ela, o processo de envelhecimento do animal está relacionado à degradação gradual das delicadas inter-relações entre os sistemas corporais, além da diminuição da atividade do seu sistema imunológico, o que predispõe uma condição de saúde mais frágil. “Raramente há incidência de uma única doença. As enfermidades costumam vir de uma combinação particular de múltiplas desordens orgânicas em diferentes níveis de disfunção”, explica. 47


// Mundo Animal

A " nimais idosos devem ter atenção redobrada em relação às vacinas ." // Taciana Cássia

Enfermidades da velhice canina Na velhice canina, as patologias mais frequentes são de natureza osseoarticular (hérnia, artrite, artrose, displasia), urogenital (cistites recidivantes, insuficiência renal de origem cardiogênica ou por microorganismos de ação crônica, como bactérias e vírus), endócrina (diabete melito, hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo, insuficiência pancreática exócrina), cardiocirculatória (cardiomegalia dilatata, hipertensão). São comuns também doenças de pele e bucais (periodontite, cálculo dentário, reabsorção óssea), obesidade, insuficiências renais e cardíacas, catarata, tumores, cálculos dentários, hiperplasia prostática e piometra (infecção uterina grave). Visando ao bem-estar e uma melhor qualidade de vida em um estágio avançado da vida, os cuidados com a rotina dos animais são essenciais, incluindo-se a preocupação com a alimentação, que deve ser adaptada às especificidades nutricionais e ter mais fibras e menos gordura. Como os cães têm, geralmente, sua atividade física diminuída com a idade, consequentemente as necessidades energéticas também são menores em cerca de 10% a 20%. A não adequação da dieta do animal pode ocasionar obesidade e deficiência de nutrientes. No mercado, existem rações específicas para cães idosos. A veterinária Taciana Cássia alerta ainda para o fato de que animais idosos devem ter atenção redobrada em relação às vacinas, pois com a diminuição do ritmo do sistema imunológico, há maior susceptibilidade a infecções, que tendem a ser mais graves devido à idade.

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Quanto à castração, a profissional é enfática: “Fêmeas não castradas têm muito mais chances de desenvolver tumores mamários, uterinos e ovarianos. Quando feita na idade correta, a cirurgia diminui para quase zero a chance de as cadelas virem a desenvolver tais problemas, além de prevenir a ocorrência de piometra. Já nos machos, as castrações, previnem os tumores testiculares e reduzem o risco de doenças na próstata.”

Meio ambiente, estresse e abandono Além dos desgastes típicos da idade e das raças, o fator ambiental pode contribuir para o agravo das doenças dos animais da terceira idade, sendo o estresse, a janela para as doenças e distúrbios comportamentais dos cães. São causadores de estresse, as dores físicas e psíquicas, o medo, a insegurança, a ociosidade, a solidão e, principalmente, o abandono dos tutores, uma realidade cruel para milhares de animais no Brasil e no mundo. “Em Pernambuco, por exemplo, os abrigos, defensores e protetores de animais estão superlotados em virtude de o poder público não cumprir a Lei Estadual 14.139/2010”. É o que afirma o presidente da Brazucas Associação para Lutar pelos Animais (Brala), Luiz Leoni. De acordo com a norma, o Estado é obrigado a promover a adoção de medidas sanitárias e de proteção para controle reprodutivo de cães e gatos, como identificação e registro dos animais, esterilização cirúrgica e realização de campanhas educacionais.


O Congresso Nacional possui, há anos, projetos que poderiam ajudar a conter o abandono de animais nas ruas, mas que ainda esperam para ser votados. Recentemente, integrantes da ONG Crueldade Nunca Mais deram início a uma campanha que consiste na elaboração de uma petição para o aumento das penas para crimes contra animais, e inclui regulamentação para programas de castração, vacinação e criação de hospitais veterinários públicos. Tais medidas ajudariam a reduzir também os índices de animais rejeitados. Nelma Lobo, presidente da ONG, considera o abandono um crime passível de punição. “O cão deu alegrias, fidelidade todo tempo e na hora em que ele mais precisa é descartado? É preciso haver punição pela covardia, descaso e frieza dos humanos. Ninguém é obrigado a criar um animal, mas os que optam por isso devem praticar uma posse responsável. Nossa luta é por um país mais sério, que respeite seus bichos. E isso não é um favor do Estado, mas uma obrigação”, desabafa.

Foto: Arquivo Pessoal

A realidade, no entanto, está longe do que dita a Lei. Nas ruas, animais são abandonados e submetidos a provações e abusos, e ficam desesperados à procura do tutor. Nessa busca, muitos morrem, pois não sabem como conseguir seu próprio alimento e têm medo de tudo e de todos. “Os bichos ficam no local do abandono à espera que o dono volte para buscá-los e, ali, deprimem-se e morrem sedentos e famintos ou vítimas de atropelamento. Isso tudo considerando que estejam saudáveis. Se estiverem doentes, entregam-se à morte e sequer aceitam ajuda alheia, negando-se a viver”, explica Roseana Diniz.

"É preciso haver punição pela covardia, descaso e frieza dos humanos. Ninguém é obrigado a criar um animal, mas os que optam por isso devem praticar uma posse responsável," // Nelma Lobo

Afinal, se o bebê que aprendeu seus primeiros passos teve cada um deles direcionado ao seu destino inevitável, a velhice, também o filhote canino chega à fase idosa da vida. E não importa muito se este ser caminha com dois pés ou quatro patas; para ambos, a idade avançada traz as mesmas necessidades: cuidado, atenção, carinho, respeito e amor. Apesar da diversidade das espécies, os cães (a exemplo de outros animais) são seres sencientes (têm a capacidade de sentir dor, medo, prazer, alegria e estresse – além de ter memória e até saudade) e não máquinas destinadas a nos servir. 49


// Mundo Animal

Depoimentos “Minha labradora Cindy nasceu em Brasília (DF). Fui até lá buscá-la para ser meu cão-guia. Passamos por um intenso treinamento e, desde então, nunca mais nos separamos. Muito mais do que uma mascote, ela era minha companheira no dia a dia, cuidando de mim, ajudando-me a desviar de obstáculos e perigos. Sua disciplina sempre foi militar. Todos os anos, profissionais do canil avaliavam Cindy para testar suas habilidades, de modo que eu não sofresse qualquer risco de acidente. Nesses exames periódicos, ela sempre passava com louvor. A partir dos nove anos de idade, porém, seus sentidos começaram a mudar: audição, olfato e visão já não eram mais os mesmos. Aos 11 anos, entendi que era hora de liberar Cindy de suas funções. Naquele momento, precisei tomar uma importante decisão: devolvê-la ao canil e adotar outro cão-guia, ou permanecer com ela, mas abrir mão de um novo animal que me protegesse nas ruas – afinal, criar dois labradores em um apartamento não era algo que pudesse ser cogitado. Mas não tive dúvidas. Apostei na autonomia que conquistei ao longo de todo nosso convívio e escolhi ficar ao lado da minha grande amiga. Hoje Cindy está aposentada. Apesar de ser uma senhora idosa de quase 13 anos, tem saúde de ferro e só quer passear na praia e viver de sombra e água fresca. Depois de tudo o que fez por mim, merece isso e muito mais. Ela não é somente o cãozinho da nossa família. É minha parceira de vida.” Yuri Limeira Participante da Fachesf

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“Duque tinha somente dois meses quando chegou a nossa casa. Aquela bolinha de pelo, pequena e frágil, logo se apegou a mim. Apesar de ter sido um presente para meu filho, era eu quem o alimentava, dava banho, levava ao veterinário. Quando viajávamos, ele sempre ia conosco; fazia parte da nossa família e era amado por todos. Aos seis anos, chegou Lilica, filha de Duque. Os dois eram muito unidos e estavam sempre juntos. Um dia, durante uma brincadeira, Lilica bateu a cabeça na mesa e teve sérias lesões neurológicas. Ficou sem andar e precisou de cadeira de rodas canina. Começamos um calvário em busca de exames, consultas e sessões de acupuntura. O tratamento deu certo e ela recuperou os movimentos. Enquanto isso, Duque envelhecia lentamente. Apesar de mais paradão, adorava brincar. Aos 15 anos de idade, ele já ouvia pouco e mal enxergava. Também desenvolveu artrose e dificuldades de locomoção. Mas continuava sendo o mesmo companheiro de sempre. Foi um idosinho que não me deu trabalho. Tudo o que ele queria era estar por perto. Quando Duque morreu, eu estava viajando. Por uma fatalidade do destino, Lilica se foi no mesmo dia. Meus filhos choraram muito. Foram 16 anos de uma convivência de amor e amizade. Às vezes, pela lembrança da dor, digo que não quero mais outro cão. Mas fui criada numa casa sempre repleta de animais e sei que mudarei de ideia. Amanhã, quem sabe.” Ana Lúcia Pereira Participante da Fachesf


Acesse o QUIZ através do link: http://www.fachesf.com.br/conexao/c17/quiz/

Para testar seus conhecimentos e saber cada vez mais sobre a Fundação e seus Planos de Previdência, leia com atenção as matérias publicadas nesta edição da revista Conexão Fachesf (nº17) e responda às questões a seguir.

1. Segundo dados da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), quantas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) existem no Brasil?

Quem responder até o dia 10 de agosto de 2015 e acertar todas as respostas ganhará um prêmio especial. Boa sorte!

A 421 B 208 C 317

2. Em síntese, o que é a desaposentação?

A A concessão de um benefício menos vantajoso ao

aposentado, caso ele queira continuar ou retornar ao mercado de trabalho.

B A concessão de um benefício mais vantajoso ao aposentado, em virtude de novas contribuições ao Regime Geral de Previdência Social, tendo em vista a continuidade ou retorno ao mercado de trabalho.

C O corte da concessão do benefício do aposentado, tendo em vista a continuidade ou retorno ao mercado de trabalho.

Deposite este formulário na urna localizada na Central de Relacionamento, na Sede da Fundação, ou entregue-o na Agência Fachesf mais próxima. Se preferir, o Quiz também pode ser respondido online, no site www.fachesf.com.br.

3. Segundo a gerente econômico-financeira da Fachesf, Elizabete Silva, qual deve ser o lema do brasileiro em tempos de crise econômica?

A Planejamento, investimentos e muitas compras. B Prevenção, restrição e reserva financeira. C Viagens e uso de cartões de crédito.

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4. Qual a maior parcela do patrimônio consolidado de todos os planos administrados pela Fachesf?

A Plano BD (cerca de 41%)

C Uma doença dos novos tempos, proveniente do

cotidiano sem rotina, com muitas atividades e momentos lúdicos

B Plano CD (64%) C Plano BS (cerca de 51%)

8. No mundo canino, quem tende a viver mais?

A Cães de grande porte 5. Segundo o presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena...

A “O jovem atual pensa no futuro, é previdente e

B Cães pequenos C O porte do animal não interfere na longevidade

acredita nas instituições que prometem um benefício no futuro”

B “O jovem não acha que vai ficar velho e não acre-

dita em instituições que prometem um benefício que está muito distante na visão dele”

9. Com relação aos passeios de catamarã no Rio Capibaribe, o coordenador do curso de Turismo da UFPE, André Durão, só tem uma crítica. Qual é?

C “O jovem atual só quer viver o hoje, mas acredi-

A O tamanho dos barcos, que não comporta a de-

ta nas instituições que prometem um benefício que está muito distante, na visão dele”

manda

B Os roteiros dos passeios, que precisam ser renovados

6. Quem mais procura a desaposentação?

C A sinalização para que o turista possa chegar até a saída dos barcos

A Contribuintes que não se aposentaram por tempo de contribuição e, com isso, não sofreram redução no momento do cálculo do benefício

B Contribuintes que ainda não se aposentaram

10. Nessa 17º edição da revista Conexão Fachesf, qual a matéria que você mais gostou?

C Contribuintes que se aposentaram proporcio-

nalmente por tempo de contribuição e, com isso, sofreram uma grande redução no momento do cálculo do benefício

11. O que você achou desta edição da revista?

A Ótima B Boa D Ruim

A Uma doença da civilização, que surge quando o

Por quê?

B Um quadro de estabilidade emocional, que surge

12. Quais os temas você gostaria de indicar para a próxima edição da Conexão Fachesf?

meio social no qual o indivíduo se encontra está desequilibrado e corrompido, com predomínio de violência, competição, egocentrismo, depredação ambiental, falta de respeito e de ética. quando o meio social no qual o indivíduo circula é agradável, equilibrado e proporciona dias felizes, considerados normais para os parâmetros mundiais

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C Regular

7. Segundo o psicólogo Roberto Crema, o que é normose?


*& kd i asq // Caça-palavras

Acesse o caça-palavras através do link: http://corisco.net/clientes/fachesf/c17/cpalavras/

Simule. [Re]pense seu futuro.

A Fachesf disponibiliza aos seus Participantes (por meio do site www. fachesf.com.br) alguns simuladores, dentre eles um específico para estudar possibilidades do valor de contribuição e da estimativa de benefício do Plano CD.

Usando o sistema, o Participante pode escolher entre simular o seu benefício futuro, indicando a contribuição que deseja fazer mensalmente, ou, numa segunda opção, determinar o valor do benefício que quer receber ao se aposentar, para saber quanto precisará contribuir ao mês. Nos dois casos, são consideradas variáveis como: idade, tempo de contribuição, salário e reserva acumulada. É muito importante que todo Participante reveja constantemente o seu percentual contributivo, para deixá-lo condizente com seus projetos de futuro.

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