O Fator Humano

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O FATOR HUMANO Por FABRICIO CANTANHEDE

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EXT. BECO DOS CACHORROS - DIA A CÂMERA SE APROXIMA LENTAMENTE de um grupo de cachorros que disputam algo, possivelmente uma comida. O terreno em volta está enlameado. Caracteres sob a imagem dos cachorros: “Há mais ou menos 3,5 bilhões de anos uma combinação de ações resultou em algo drástico: o nascimento da vida na terra". "O Triops cancriformis é uma espécie que parou de evoluir há 200 milhões anos e, portanto, é hoje o habitante mais antigo desse “lar” chamado Terra". "Há 200 mil anos, o ser humano atingiu sua evolução atual. E de lá para cá, esforça-se em destruir o que lhe foi concedido para compartilhar com as outras espécies”. “A ação desmedidas dos humanos no meio em que vivem sempre trouxe consequências drásticas para os próprios”. “Em 1984 uma hidrelética se instalou numa região do interior de Rondônia, Brasil, prometendo trazer “evolução” para a região”. "Dias atuais".

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EXT. CAMPINHO DE FUTEBOL - DIA Em um terreno enlameado, castigado pelas chuvas, algumas crianças de 7 a 12 anos jogam futebol em uma goleira improvisada de taquara. A bola está rasgada, sem câmara por dentro e tem dificuldade de rolar. Eles gritam, correm e pouco se importam com a lama que os cercam. Ao lado, LULINHA, 9 anos, menino pouco mais arrumado e limpo, sentado, olha fixamente para baixo. Um pássaro preto sobrevoa o céu.

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EXT. CEMITÉRIO - DIA Um pássaro preto sobrevoa o céu. GUINHO, 38 anos, coveiro, aparentando uma idade mais nova, está sentado em um jazigo de pedra. Ele usa um relógio novo, veste roupas limpas e novas por baixo de uma capa de chuva amarela e botas de borracha. "GRUNIDO" DE PÁSSARO. Guinho olha abruptamente para o céu.


2. Guinho, olhando para o céu, caminha rápido entre as cruzes e lápides sujas de barro. O PADRE, 36 anos, se abaixa, pega algumas pedras pequenas no chão, olha para Guinho correndo e tenta acertá-lo. Não consegue. CLARA, 28 anos, de expressão desgastada e o Padre observam Guinho. PADRE Guinho! Guinho! CLARA Maldito inverno. PADRE Guinho venha já pra cá! CLARA Maldita chuva que matou meu marido. Logo agora que a gente tinha guardado um dinheirinho. A gente tava com quase todo o dinheiro pra ir embora daqui. E, agora, mais essa desgraça! Eles olham para Guinho correndo e olhando para o céu. O padre tenta acertá-lo novamente com outra pequena pedra. PADRE Maldito, dona Clara, é o homem que provocou pra ter essa desgraça. Com Deus, não se brinca. CLARA Mas o que fez meu marido?! Ele era um bom cristão. O que ele fez pra merecer sofrer até depois da morte? Guinho se abaixa e pega alguma coisa. PADRE Nisso eu não vou conseguir ajudá-la, pois não posso mais ouvir a confissão de seu marido. 4

EXT. CAMPINHO DE FUTEBOL - DIA As crianças jogam futebol enquanto Lulinha segue cabisbaixo na lateral do campo. ESPINA, um dos meninos que jogam, este um pouco maior que os outros, tenta chutar a bola que prende em seu pé. HERMITO, WESLEY, CANDINHO e as outras crianças riem do acontecimento, o que irrita Espina.


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ESPINA Qual é? Vocês tão rindo do quê? WESLEY Do "pé-de-bola"! As crianças zombam de Espina. CANDINHO "Pé-de-bola"! ESPINA (para Candinho) Qual é pirralho?! Tá a fim de levar uma surra? Moleque! Espina chuta a bola neles. ESPINA (para Candinho) Não sabe nem joga bola, pirralho! CANDINHO Assim com essa bola não dá mesmo. ESPINA Essa bola tá mais que boa pra ti, "bola murcha". As crianças provocam Candinho. CRIANÇAS (em coro) Bola murcha! Bola murcha! CANDINHO A culpa não é minha. E eu jogo bem melhor que todos vocês! HERMITO Se "ela" tivesse aparecido hoje, a bola tava boa. ESPINA É, mas "ela" não apareceu. WESLEY A culpa é do Lulinha! Vamos pegar ele! É tudo culpa dele. Lulinha continua sentado, olha para baixo sem prestar atenção nos outros.


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ESPINA (para todos) Esperem aí, esperem aí. A culpa não é dele. (para Candinho) Mas se tu é bom mesmo de bola, Candinho, te dou vinte cinco pra acertar aquela árvore ao lado do Lulinha. As crianças provocam Candinho a apostar. CANDINHO É claro que eu consigo. Quantas tentativas? ESPINA Uma. 5

EXT. RUA EM FRENTE A CASA DE NARA - DIA PEDRO, 45 anos, gordo e suado, fecha o porta-malas do carro. Ele está sem camisa e usa um colete da prefeitura. Ao fundo, a casa de Nara que é muito simples e rústica. NARA (O.S) (gritando) Bolacha! Bolacha! Aparece Bolacha! Pedro seca o suor da testa no colete. PEDRO Nara, entra no carro que já tá na hora da sua aula. NARA (O.S) E a bolacha? Pedro caminha até entrar no carro. NARA, 9 anos, está em volta do carro. PEDRO Você tem que ir pra escola. Daqui a pouco o cachorro vai aparecer. NARA Mas e se aqueles outros cachorros... aqueles que ficam na praça, pegarem ela?


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FUNCIONÁRIO (O.S) (PELO RÁDIO) Companheiro? Solicito sua presença na praça. Urgente! PEDRO Porra. FUNCIONÁRIO (O.S) (PELO RÁDIO) Pedro? Apareceu a "dito-cuja". Pedro abre a porta do carro e pega o rádio para falar. PEDRO (PELO RÁDIO) Já estou a caminho, desligo. Pedro desliga o rádio. NARA (O.S) Bolacha?! PEDRO Nara, pega a sua mochila que você vai a pé pra escola hoje. NARA Por que? Aconteceu aquelas coisas na praça de novo? PEDRO (surpreso) Que coisa? Nara olha para ele. PEDRO Minha filha, eu não sei o que você sabe sobre essas coisas... mas... bom... Nara, escuta o que eu vou falar! Eu não quero que você chegue perto da praça. Ouviu? NARA Sim... PEDRO (pressionando) Entendeu mesmo, Nara? NARA Sim, pai. Pedro pega a mochila de Nara e entrega para ela.


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NARA Será que é o pai do Lulinha que apareceu na praça? 6

EXT - CEMITÉRIO - DIA Guinho traz um pássaro preto morto nas mãos. GUINHO Achei padrinho... Achei! Eu sabia que ia encontrar. Ele apareceu atrasado, mas apareceu. Eu nunca erro, padrinho. É um dom. Guinho entrega o pássaro para o Padre. PADRE (para Guinho) Vá fazer suas coisas. Já lhe mandei não falar essas bobagens! GUINHO Mas padrinho... PADRE Vá logo! Padre e Clara caminham na direção contrária à Guinho. O Padre carrega o pássaro morto em uma das mãos. CLARA O que é esse pássaro, padre? PADRE É isso que você está vendo: um pássaro. Mas esse... coveiro acredita que é mais do que isso. O Padre olha para o pássaro. PADRE "A nossa alma escapou, como um pássaro do laço dos passarinheiros; o laço quebrou-se, e nós escapamos" LIVRO DOS SALMOS 124. Às vezes pensamos em duvidar de coisas que não devemos questionar, mas é nessas horas que percebemos o grande ensinamento que a bíblia nos deu.


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CLARA No que ele acredita? PADRE O quê? CLARA O coveiro? O que ele acha que é esse bicho? PADRE Ah... Ele teve uma vida muito degenerada. Diz ter aceitado o cargo de coveiro por uma missão divina. Bebia demais a ponto de confundir a mulher com um burro. Hoje em dia não bebe, mas diz ver coisas que só ele pode ver. CLARA E o que ele vê nesse pássaro? PADRE Ele acha... Bem, ele acha que sempre que vê um pássaro preto voando sozinho no céu ou morto no chão, em dia de enterro, é um aviso que a pessoa que faleceu não irá alcançar a paz. Clara para de caminhar. CLARA Ontem... ele viu algum pássaro? O Padre se volta para ela. PADRE Isso é bobagem, dona Clara. É apenas uma coincidência. CLARA Ele viu?! PADRE Não. Nem sempre ele acerta. CLARA Mas ele disse que esse pássaro chegou atrasado.


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PADRE É, disse. Eles voltam a caminhar. CLARA Se o pássaro apareceu hoje quer dizer que o meu marido não irá conseguir descansar em paz de novo. O padre caminha em silêncio. CLARA Padre, alguém mais vai ser enterrado hoje, além do meu marido? PADRE Por enquanto não. 7

EXT. BECO DOS CACHORROS - DIA Os cachorros disputam alguma coisa. Em volta, apenas lama e casas muito simples. NARA (O.S) Bolacha? Bolacha?! Nara aparece na esquina e olha para os cachorros. Ela se assusta. NARA (distante e com medo) Bolacha, sai daí! Bolacha! Saí! Sai de perto desses cachorros! Vem cá Bolacha! Os cachorros continuam disputando algo sem responder aos chamados de Nara. Ela toca uma pedra. Alguns cachorros se afastam. Nara se assusta e sai correndo.

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EXT. CAMPINHO - DIA Candinho ajeita a bola e toma distância para chutar. Espina se aproxima dele e coloca uma nota de um real em seu bolso. ESPINA (cochichando) Um conto pra você acertar o Lulinha.


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Candinho confere a nota no bolso, chuta e acerta Lulinha que cai no chão. As crianças dão risadas do acontecimento e correm em direção a Lulinha. ESPINA Viu! É por causa do seu pai que a gente não tem como jogar. Assustado, Lulinha tenta limpar o rosto coberto de lama. LULINHA Não tenho nada a ver com isso. Eu não fiz nada. ESPINA Claro que fez. Nasceu. Se não fosse pelo seu pai a gente teria uma bola decente pra jogar. Lulinha levanta e peita Espina. LULINHA (raivoso) O meu pai não! Não fala do meu pai! ESPINA Só por que ele tinha dinheiro. Agora que ele morreu eu quero ver. Espina empurra Lulinha. CANDINHO Deixa ele, Espina! O pai dele foi enterrado ontem. ESPINA Por isso mesmo. E "ela" não apareceu por quê? HERMITO (para Lulinha) Eu sei que ele foi enterrado na pedra! As crianças ficam revoltadas com Lulinha ao ouvirem o que Hermito disse. ESPINA Pirralho! Exibido! Todo mundo aqui já perdeu mãe ou pai, e ninguém teve dinheiro pra enterrar na pedra.


10. LULINHA Mas ele não foi. Minha mãe não tinha dinheiro. WESLEY Riquinho, exibido! Lambido! Agora vai apanhar. As crianças partem para cima de Lulinha, que recua assustado chorando. LULINHA Parem! Eu juro que ele foi enterrado em cova normal! Lulinha apanha das crianças. NARA (O.S) Parem com isso! Nara, assustada, chega e chama a atenção de todos. NARA Parem! Deixem ele em paz! ESPINA (batendo em Lulinha) Sai daqui, pirralha! NARA Eu sei onde tem uma cabeça! Todos param de bater em Lulinha. ESPINA Como você sabe? NARA Meu pai foi pegar uma. ESPINA Onde? Fala pirralha! NARA Na... (hesita) Na praça. Agora deixem ele em paz! ESPINA (para todos) Vamo pra praça! As crianças saem correndo.


11. HERMITO Vamo rápido! WESLEY Pega a bola! Nara corre até Lulinha, caído no chão, e o ajuda a levantar. NARA Lulinha?! Você tá bem? Nara tenta ajudar Lulinha. Ele não aceita a ajuda e tenta se limpar um pouco. NARA Calma! O meu pai já deve ter pegado. Esses moleques não vão conseguir chegar antes. LULINHA (cabisbaixo) Se eles não pegarem eu não poder jogar mais com eles. NARA Vamos, sua mãe deve estar atrás de você! Lulinha cede e os dois saem correndo na direção das outras crianças. 9

INT. CARRO DA PREFEITURA - DIA Pedro usa óculos de sol e uma camisa como máscara, com o qual tenta evitar o mau cheiro. Ele dirige enquanto fala no rádio. Ouve-se um barulho de ISOPOR. PEDRO (PELO RÁDIO) Companheiro, estou indo pro cemitério com o resto do falecido. Ok? FUNCIONÁRIO (V.O) (PELO RÁDIO) Ok. Câmbio desligo. Pedro desliga o rádio. PEDRO (resmungando pra si) Essa gente pensa que eu sou agente funerário, porra.


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Pedro dirige e se espanta com alguma coisa que vê no caminho. PEDRO (para si) Que merda é essa? As crianças que estavam no campinho de futebol correm e passam pelo carro. PEDRO (para si) Bando de pivete... (espanta-se) Nara!! Pedro para o carro. PEDRO Nara! Nara e Lulinha se aproximam do carro. Pedro tira a camisa do rosto para falar. PEDRO Você não foi pra escola?! NARA Eu tava indo, mas encontrei o Lulinha e aqueles meninos... Pedro olha para Lulinha sujo de lama. PEDRO O que aconteceu com você filho? Sua mãe sabe que você tá aqui? Lulinha, cabisbaixo, faz sinal de negativo. PEDRO Vamo... entrem logo! Sua mãe deve estar esperando você! Nara entra no carro. Ela sente o cheiro ruim. NARA Que cheiro horrível! Lulinha fica um pouco ressabiado de sentar. PEDRO Entra filho!


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Pedro pega uma flanela e um pano e entrega para Nara e Lulinha. PEDRO Peguem isso e coloquem em frente ao nariz. Pedro acelera o carro. 10

EXT. CEMITÉRIO - DIA Lulinha tenta desabotoar uma manga da camisa. Depois tenta outra. Ele recebe um tapa de Clara. CLARA Fica quieto menino! Já não bastou ficar por aí... todo sujo. PADRE Guinho, avise quando tudo estiver pronto. Guinho arruma as cordas para baixar o caixão na cova. GUINHO Aqui já tá tudo pronto, padrinho. (olha para Pedro) É só o dotô aí pegar a corda desse lado. Pedro olha, surpreso, para Nara ao seu lado, e depois para o Padre com a bíblia na mão. Pedro se abaixa para pegar as cordas. PADRE Iniciaremos agora um breve sermão... Pedro olha para o relógio de Guinho. PEDRO (para Guinho) Você parece tá ganhando bem para quem precisa de ajuda. PADRE ...pois devido a acontecimentos inesperados... GUINHO (inocentemente) (MAIS...)


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GUINHO (...cont.) Mil e duzentos mais vale alimentação. E de carteira assinada. PEDRO Mil e duzentos! PADRE Por favor! Vocês podem ter um mínimo de respeito com a viúva? Pedro, contrariado, olha para Guinho e o ajuda abaixar o caixão suspenso por cordas. Clara, de cabeça baixa, segura a mão de Lulinha, impaciente, ao lado de Nara. PADRE Bom... Padre limpa a garganta. PADRE Iniciaremos agora um breve sermão, pois devido a acontecimentos inesperados, tivemos que voltar ao leito de morte de AGNALDO CHAVES DE CASTRO DA SILVA, ente querido por todos dessa comunidade... Guinho joga terra com uma pá. PADRE ...Deus criou a vida! Deus criou o ser humano para viver e ter prazer em viver! Criou o primeiro casal, deu-lhes um jardim, e disse: cuidado! Satanás quer iludir vocês... Guinho joga a terra que neste momento quase cobre o caixão. Uma bolha de água se forma de baixo do caixão. Guinho joga terra em cima para disfarçar. Clara e Lulinha escutam o sermão. Nara pega na mão de Lulinha. Guinho joga mais terra. PADRE ...durante os anos da história dessa terra eu vou sofrer, mas quando todos tiverem a oportunidade de me escolherem, eu vou voltar para acabar com a morte, acabar com as doenças...


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Pedro percebe a água que brota de baixo do caixão. Guinho joga terra para disfarçar. PEDRO (baixo para Guinho) Aqui já não se morre apenas duas vezes, alguns são mais pertinentes. O Padre percebe a agitação da água que brota. Ele olha para Clara que também percebe a água. Imediatamente, Guinho joga mais terra. O Padre tenta continuar o sermão. PADRE ...saibam que todos que me escolheram e o meu governo, minhas leis, terão vida eterna, e ainda que morram, ressuscitarão para viverem para sempre. E cada vez que um servo... A água brota em grande quantidade, fazendo o caixão boiar na superfície interrompendo o sermão. Todos se assustam. CLARA Ai Deus meu... (para Guinho) Faça alguma coisa desgraçado! GUINHO A culpa não é minha! Ele deu azar de morrer nesse inverno maldito. PEDRO Mas o problema é a água que vem de baixo e não de cima! Nara olha para Pedro. PEDRO Deixa que eu dou um jeito nisso. Pedro sobe em cima do caixão e pula enquanto Guinho joga terra. A água brota cada vez mais intensamente. PADRE Dona Clara... você sabe... bem... Tenha paciência. Você sabe que essa água que agora a prejudica é a mesma que trouxe sua família até aqui. A mesma que abasteceu, iluminou nossas casas, ruas e igrejas, além de trazer emprego e desenvolvimento para a região. Mas (MAIS...)


16. PADRE (...cont.) agora, essa usina, essa desgraça dessa usina, nem se quer faz gerar energia para meia dúzia de televisões, e ainda nos deixou as covas a céu aberto. GUINHO É isso mesmo padrinho, se o sujeito estiver vivo no caixão, ele morre afogado... Pedro pula e quebra a tampa do caixão. Clara se desespera, chora e tenta impedir Lulinha de ver, mas ele tira-lhe a mão do rosto. PADRE Isso é um absurdo. Façam alguma coisa! PEDRO (para Guinho) Faça você! Você ganha muito bem pra isso! GUINHO (gaguejando) Não tenho culpa. Fui o único a aceitar o trabalho. CLARA (desesperada) Meu marido era um bom cristão... Por que isso? PADRE Agora! GUINHO (tímido) Não há o que fazer, padrinho. Vai ter que enterrar na pedra. O Padre aproxima-se de Clara para confortá-la. PADRE Dona Clara, se acalma. Vamos providenciar um enterro decente ao seu marido. CLARA Eu não tenho dinheiro. Eu quero minhas economias para sair desse lugar!


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PADRE A senhora deve pensar primeiro em encontrar a paz para o corpo de seu marido. Depois... Clara chora abaixada, abraçada em Lulinha. CLARA Faça qualquer coisa! O que for melhor pra ele, por favor. 11

EXT. CEMITÉRIO - DIA Guinho constrói um jazigo de concreto quando começa a CHOVER. O Padre ajuda Clara e Lulinha a sair da chuva. Pedro abraça Nara e a leva em direção ao carro. Guinho põe o capuz da capa de chuva. Todos correm para fugir da chuva deixando Guinho sozinho. Alguns cachorros chegam ao cemitério.

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INT. CARRO DA PREFEITURA - ENTARDECER Pedro dirige e Clara está ao seu lado. No banco de trás estão Lulinha, Nara e o Padre. O silêncio toma conta enquanto a CHUVA cai do lado de fora. Pedro para o carro. PEDRO Até a próxima, seu padre. Cuida pra não embarrar o saiote. Pedro ri. O Padre olha com reprovação para Pedro. Nara olha para Lulinha, cabisbaixo, e, depois, olha para a chuva caindo. PADRE Dona Clara, fique tranquila que agora tudo vai ficar tranquilo. Nara olha para o Padre abrindo a porta do carro. Nara puxa Lulinha para fora do carro. NARA Vem comigo! Lulinha vê Nara já saindo do carro e sai correndo atrás. CLARA Lulinha?!


18. PEDRO Nara! Nara e Lulinha saem correndo entre as casa. 13

EXT. RUAS ENLAMEADAS - ENTARDECER A CHUVA cai deixando a lama mais pesada. Nara e Lulinha correm. LULINHA Nara?! O que foi? Nara para de correr. Lulinha também. NARA Os moleques no campinho não queriam pegar... pegar "ela" pra fazer de bola? LULINHA Sim. NARA Então! Eu sei onde tem outra! Vem! Nara puxa Lulinha. Eles correm.

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EXT. BECO DOS CACHORROS - ENTARDECER Os cachorros disputam alguma coisa. Nara e Lulinha chegam correndo. Eles olham para os cachorros. e, depois, se olham. NARA Toca uma pedra! LULINHA Mas a Bolacha tá lá! NARA Não tem mais volta! Joga! Lulinha, sem reação, olha para Nara. Nara se abaixa, pega uma pedra, e a joga nos cachorros. Alguns cachorros se afastam. Lulinha pega mais pedras e joga. Os cachorros se afastam aos poucos. Lulinha e Nara se aproximam conforme os cachorros se afastam.


19.

LULINHA (valente) Sai! Sai! Nara e Lulinha se aproximam. O último cachorro sai e eles olham curiosos e, institivamente, se assustam com o que vêem. 15

EXT. CAMPO DE FUTEBOL - DIA Um pássaro preto sobrevoa o campo de futebol. As mesmas crianças da primeira cena, agora com Lulinha entre eles, jogam futebol com uma bola que rola normalmente. FIM


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