Bonja Viva - Retrato da Bonja

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RETRATO DA BONJA

Nossas boas-vindas a esta publicação sobre o Bonja Viva - Plano de Território. Vamos explorar a importância desse conceito para construir um futuro melhor na comunidade.

Sabemos que cada pessoa possui sonhos, aspirações e necessidades diferentes, mas podemos compartilhar o desejo por um lugar onde as pessoas possam viver ainda com mais dignidade, mais oportunidades e mais qualidade de vida. Nossos agradecimentos à todas as pessoas que participaram e/ou possibilitaram a realização dos encontros comunitários ao longo da execução desta iniciativa:

Adriana Santos

Alba Bica

Alex Pantera

Alexsander Barbosa

Amanda Ely

Amauri Fraga

Ana Clara da Silva

Ana Maria Borges

Ana Paula Dutra

Ana Paula Medeiros

Ana Paula Souza

André Pereira

Andréia Avila

Andressa Soares

Andrielli de Souza

Bruna Lopes

Bruno Xavier

Clair Lima

Carlos Vieira

Cassandra Dias

Cassiel Kauan

Cenira Vargas

Ceniriani Vargas

Cindielly Vargas

Cris Medeiros

Danielle Boeira

Daphini Nogueira

Elemara Isabel

Eliane Dutra

Elizabeth Masera

Fabiola Paim

Fábio Moraes

Franciane Brasil

Gabriela Alves

Gabrielly Fiuza

Guacira Martins

Igor Nicolini

Israel Kauan

Julio Cesar da Silva

Laila Cunha

Lara Nacor

Lauryane Souza

Letícia Boanova

Lizandra Paim

Luana Olave

Luciana Santos

Luciana Soares

Luciano Amaral

Luiz Henrique de Lima

Luís Miguel de Souza

Jandira Rabelini

Jéssica Pauli

Julio Saldanha

Lorecinda Abrão

Maicon Nunes

Mara Masera

Margareth Borges

Maria Encarnacion

Ortega

Maria Inês Nunes

Barcelos

Maria Inês Flores

Marina Schmitt

Marlene Arruda

Nalam Fernandes

Nathally Ponce

Nilene Nalin

Nilo Pires

Norma Tobias

Paloma Silva

Pâmela Ramires

Patrícia Cesar

Patrícia da Silva

Patrícia Cruz

Paulo Gadea

Rayssa de Almeida

Regina Felipe

Regina Lima

Renata Fialho

Renata Quinteiro

Rousse Lucena

Rosane Silva

Sabrina Arruda

Sandra Vargas

Sìlvia Souza

Taiane Beduschi

Tamires Schumacher

Tatiana Souza

Tauany Amaral

Thalia Freitas

Vera Teresinha

Vilma dos Santos

Vitória Silva

Weslley Amarante

Como pilar social da Lojas

Renner S.A., uma das frentes de atuação do Instituto Lojas

Renner é o fortalecimento das comunidades em que estamos inseridos. Desde a chegada da Companhia na atual sede administrativa, na zona leste de Porto Alegre, buscamos contribuir para o desenvolvimento territorial da Bom Jesus a partir do fortalecimento dos diversos atores locais, lideranças sociais e organizações da sociedade civil.

Reconhecemos e valorizamos o papel da comunidade, da sua população e dos seus ativos na promoção de ações voltadas para a transformação social, a defesa de direitos e para o bemestar coletivo. Nosso investimento e atuação ao longo desses anos é “com” a Bonja e não “para” ela, sempre em parceria, mediante suas necessidades e potencialidades.

O Plano de Território consolida neste documento uma visão de futuro compartilhada entre quem vive e trabalha na Bonja, construída de forma conjunta e com objetivo de promover a participação social no planejamento do seu próprio território. Sabemos que a comunidade possui saberes locais, uma história de lutas e conquistas, sempre buscando soluções para os seus problemas. Para

alavancar tudo isso, aportamos recursos financeiros e estratégicos ao processo, somados à metodologia e parceria do Instituto Elos.

Desejamos que o Plano de Território

Bonja Viva seja uma ferramenta de mobilização de diferentes setores rumo à garantia de direitos fundamentais, que possa instrumentalizar e nortear os atores sociais e suas lutas e que, sobretudo, evidencie a força do fazer coletivo da Bonja - que é uma comunidade marcada pela sua resistência e potência da qual temos o orgulho de caminhar lado a lado.

Saiba mais:

www.institutolojasrenner.org.br e @institutolojasrenner

O Instituto Elos é uma organização de educação social brasileira com 23 anos de experiência em formação de lideranças e mobilização comunitária para o desenvolvimento local. É uma organização especialista no desenvolvimento de metodologias de impacto social com soluções que dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em especial os ODS 1, 4, 5, 10, 11, 12, 16 e contribuem para tornar as cidades socialmente justas, inclusivas, pluri diversas; economicamente solidárias e dinâmicas, assim como ambientalmente sustentáveis.

As ações do Instituto Elos promovem pertencimento, potencial, independência, fortalecimento dos vínculos de afetividade, das relações e reconhecimento dos direitos, através de reunião com grupo de famílias e oficinas. A atuação é focada em: qualificar as lideranças comunitárias; formar adolescentes e jovens em agentes de transformação; potencializar empreendedoras sociais; qualificar diálogos entre atores intersetoriais; desenvolver comunidades e territórios.

Sendo uma organização da Assistência

Social de assessoramento técnico, com utilidade pública municipal, estadual e federal - possui certificação CEBAS e de Direitos Humanos, é atuante no

CMAS, CMDCA e CMDU dos municípios de Santos e Cubatão. Com 23 anos de atuação, teve sua metodologia disseminada em mais de 51 países, formou mais de 3 mil lideranças e impactou mais de 500 mil pessoas diretamente em 1.000 comunidades no mundo. É especialista na realidade social brasileira por meio da atuação em mais de 300 comunidades de 21 estados.

As formações unem teoria e prática por meio de cursos, jogos sociais e vivências.

A organização atua para conectar e articular governos, empresas e lideranças comunitárias em torno de objetivos comuns de desenvolvimento social.

Uma parte da estratégia do Elos está focada em colocar seus 25 anos de expertise a serviço de institutos como o Instituto Lojas Renner, e desta forma contribuir para que o investimento no território possa ser feito de forma assertiva, que as comunidades possam ser escutadas e apoiadas financeira e tecnicamente para gerar os resultados esperados e experienciar sensível mudança na qualidade de vida e redução das vulnerabilidades. Pela construção de uma sociedade mais justa e sustentável, somos elos. Paulo Farine, Liderança da Célula de Soluções

Instituto Elos

O Estatuto da Cidade, lei máxima da política urbana brasileira, tem como uma de suas diretrizes a garantia da gestão democrática e da participação da população na formulação, acompanhamento e execução de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

No bairro Bom Jesus, em Porto Alegre/RS, a demanda por um plano popular surgiu a partir de processos de mobilização e empoderamento comunitários fomentados pela parceria do Instituto Lojas Renner com o Instituto Elos. Nosso trabalho, de assessoria técnica em urbanismo, buscou criar um ambiente qualificado para a expressão dos desejos da comunidade através de um plano para o bairro Bom Jesus. Nesse sentido, procuramos realizar um esforço de síntese dos olhares técnicos e comunitários, reforçando a importância de pensar os territórios a partir da perspectiva local e de utilizar a técnica de forma vinculada ao conhecimento de quem vivencia diariamente o lugar em estudo.

O Plano de Território Bonja Viva teve como objetivos identificar, espacializar e definir a priorização das demandas locais e a sua articulação com a escala de cidade, bem como fortalecer a mobilização comunitária, de modo a efetivar o direito à cidade. Partindo da

premissa da construção coletiva, sua metodologia foi composta por: Etapa de Diagnóstico (Leitura Técnica e Comunitária); Etapa de Futuro e Etapa de Construção do Plano, na qual o processo foi consolidado em um documento final. Esta experiência contou também com um olhar atento para questões de raça, gênero e juventude.

Como equipe técnica, ao longo do processo pudemos acompanhar as dinâmicas sociais desse bairro diverso, onde convivem e dialogam múltiplas iniciativas comunitárias. Nesse sentido, mais que um plano produzido com a participação da população local, o Plano de Território da Bonja é um plano popular desenvolvido pelos moradores, no qual a comunidade protagonizou todas as etapas, principalmente a tomada de decisão. Além de um documento de formato técnico, entendemos que o Plano de Território Bonja Viva é, também, uma ferramenta de fortalecimento da articulação comunitária e de luta pela concretização dos direitos sociais previstos no Estatuto da Cidade e na Constituição Federal de 1988.

Arq. Dra. Clarice Misoczky de Oliveira

Arq. Esp. Ana Aguirre

Arq. Elisa Escosteguy Utzig

Acad. Arq. Sophie Giasson

Equipe Técnica Plano de Território

PLANO DE TERRITÓRIO

DIRETO Á CIDADE

BONJA VIVA: PLANO DE TERRITÓRIO

→ Apresentação, Objetivos e Metas.

CONCLUSÃO

RETRATO DA BONJA

ÍNDICE

A BONJA

→ História da Bonja

→ Linha do tempo comunitária da Bonja

→ Até onde vai a Bonja?

ANÁLISE DE DADOS

→ Apresentação dos dados secundários levantados sobre a Bonja e sua região, incluindo dados estaduais, municipais e locais.

→ Análise dos dados secundários e sua relação com a realidade da Bonja.

→ Apresentação de dados primários da Bonja

→ Análise urbana

→ Leituras temáticas

→ Análise dos eixos temáticos

→ Equipamentos de educação

→ Equipamentos de saúde

→ Equipamentos de cultura e lazer

→ Mobilidade e transporte

→ Habitação + meio ambiente + infraestrutura de saneamento

→ Segurança

DIREITO À CIDADE

O Direito à Cidade é o princípio fundamental que assegura a todas as pessoas o acesso igualitário aos benefícios e oportunidades que a cidade oferece. Ele abrange não apenas o direito a um lar, mas também o acesso a transporte de qualidade, serviços públicos, espaços de lazer, cultura, educação e a participação ativa na construção das políticas que impactam as vidas.

O BONJA VIVA - Plano de Território não é apenas um documento técnico, mas uma expressão do compromisso coletivo em construir uma comunidade forte, inclusiva e sustentável. Ele reflete a vontade de promover mudanças reais nas vidas e na forma como as pessoas interagem com a Bonja.

Neste processo, queremos ouvir cada voz, cada história e cada perspectiva, por meio de oficinas temáticas, diálogos abertos e levantamento de dados. Dessa forma, vamos identificar os desafios, necessidades e potenciais existentes, para estabelecer metas rumo a uma comunidade mais equitativa e resiliente.

Ao longo desta publicação, vocês encontrarão informações valiosas sobre os temas que serão abordados no plano. Desde saúde e assistência social até cultura, lazer, educação, mobilidade, habitação, meio ambiente, gênero, etnia e juventudes, cada um desses aspectos desempenha um papel fundamental na construção de uma cidade mais justa e inclusiva.

Lembrem-se de que este plano é uma construção coletiva, e que cada pessoa tem um papel fundamental a desempenhar. Esta é uma oportunidade de construir uma Bonja mais inclusiva, equitativa e sustentável. Ao exercermos nosso direito à cidade, estamos moldando o futuro que desejamos para nós e para as gerações futuras.

Acreditamos no poder das pessoas e na capacidade de criar mudanças significativas. Vamos trabalhar em conjunto, unindo nossos esforços e ideias, para tornar o nosso bairro um exemplo de cidadania, solidariedade e respeito.

Nossas boas-vindas ao Plano Bonja. O futuro começa agora.

BONJA VIVA: PLANO DE TERRITÓRIO

PLANO BONJA: CONSTRUINDO UM FUTURO HOJE

“O Plano Participativo é uma ferramenta poderosa para o empoderamento dos cidadãos e para a construção de comunidades mais engajadas e responsáveis.”

Carlos Matus (1996)1

O Bonja Viva - Plano de Território é uma iniciativa fundamental para o desenvolvimento e aprimoramento da comunidade. Por meio da participação ativa das pessoas moradoras, trabalhadoras e demais interessadas, busca-se criar um ambiente inclusivo que atenda às necessidades e aspirações de todo mundo.

1.Matus, C. (1996). Planificación, gobierno y gestión de gobierno: cómo usar mejor el presente para construir el futuro. II Seminario Iberoamericano sobre Estrategias de Gobernabilidad, Caracas.

CONTRIBUIÇÕES DESTE PLANO

Um plano urbano participativo exerce influência sobre as políticas públicas de diversas formas:

Identificação de demandas e necessidades:

o processo participativo permite que as pessoas expressem suas demandas de forma direta, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos desafios enfrentados no bairro e direcionando as políticas públicas de maneira mais efetiva.

Coleta

de dados e informações:

durante o processo participativo, são coletados dados relevantes sobre o território, a população e as condições socioeconômicas, fornecendo informações precisas para embasar políticas públicas e orientar a tomada de decisões.

Participação da comunidade:

o envolvimento ativo da comunidade fortalece o sentimento de pertencimento e empoderamento, aumentando a adesão e o apoio às políticas públicas.

Integração e coordenação de ações:

o Plano Bonja promove a integração e coordenação de ações entre diferentes setores e órgãos governamentais, alinhando as políticas públicas de saúde, educação, transporte, cultura, habitação, entre outras, para abordar os desafios de forma integrada.

CONCLUSÃO

“A participação ativa da comunidade no processo de planejamento é crucial para a implementação de políticas públicas eficazes e para o desenvolvimento sustentável dos territórios.”

Arnstein, Sherry R. (1969)2

2. Arnstein, S. R. (1969). A ladder of citizen participation. Journal of the American Institute of Planners, 35(4), 216-224.

Sherry R. Arnstein destaca a importância da participação da comunidade no processo de planejamento como um elemento essencial para a implementação eficaz de políticas públicas. A participação ativa e significativa das pessoas cidadãs no planejamento permite que suas necessidades e preocupações sejam levadas em consideração, resultando em políticas mais eficazes e direcionadas às demandas reais da comunidade. Além disso, a participação cidadã contribui para o desenvolvimento sustentável dos territórios, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais de forma integrada.

Com base nos dados levantados e nas análises realizadas, é possível perceber que a elaboração do Bonja Viva - Plano de Território é uma oportunidade única para que a comunidade possa contribuir ativamente para o desenvolvimento do próprio bairro. Para isso, o próximo passo é a realização de oficinas temáticas, em que a população possa discutir e aprofundar as questões levantadas no processo de levantamento de dados.

Este é um momento para que a população possa contribuir com mais base para a discussão do plano, trazendo suas vivências e visões sobre o bairro. Além disso, será uma oportunidade para que as pessoas possam se comprometer com a formulação de metas a serem cumpridas e acordadas por toda a comunidade.

Assim, concluímos que a elaboração deste plano é um processo contínuo e participativo, que envolve toda a comunidade local. As oficinas temáticas são um importante passo para que a população possa contribuir ativamente para a construção de um bairro mais justo, sustentável e inclusivo.

RETRATO DA BONJA

Levantar e analisar dados desempenham um papel fundamental para o BONJA VIVA - Plano de Território. Desta forma, foram levadas em conta a linha do tempo contada pela comunidade, levantamento e análise de dados primários e secundários, uma análise sobre as condições e desafios de eixos temáticos, como equipamentos comunitários, mobilidade e transporte, habitação, meio ambiente, saneamento e segurança.

Esse conjunto de informações provenientes de conversas, pesquisas e oficinas, são fundamentais para entender a dinâmica local, garantindo que o plano seja verdadeiramente reflexo das demandas da população.

Ao combinar dados que vão desde elementos da história oral, com os dados primários e secundários, combinados com as leituras técnicas e comunitárias sobre dos eixos temáticos, o processo de planejamento torna-se mais abrangente, possibilitando uma compreensão profunda das necessidades específicas pela própria comunidade. Este processo educativo e participativo, traz reflexão e conhecimento sobre fatos que as pessoas enfrentam no seu cotidiano.

A HISTÓRIA DA BONJA

“Compreender o passado é fundamental para entender o presente e planejar o futuro de um lugar. A história de um bairro, suas transformações e permanências, suas lutas e conquistas, suas memórias e identidades, são elementos que contribuem para a construção de uma visão mais ampla e integrada do território.

Conhecer a história de um lugar é essencial para que o planejamento urbano seja participativo, democrático e inclusivo, considerando as demandas e necessidades da comunidade e valorizando a diversidade cultural e social do bairro.” (SANTOS, 2018)3

Olhar para a história da Bonja4 é fundamental para compreender a trajetória do território e suas transformações, para assim poder planejar o futuro de forma participativa e inclusiva. Localizada em Porto Alegre, a Bom Jesus, carinhosamente chamada de Bonja pelas pessoas que vivem ali, é uma região localizada na Zona Leste de Porto Alegre e que abriga a Vila Grande Mato Sampaio, uma das vilas mais antigas, que teve origem em ocupações irregulares nas décadas de 1950 e 1960 do século XX.

A Vila Mato Sampaio surgiu em 13 de outubro de 1953, quando o Departamento Municipal da Casa Popular realocou cerca de cento e cinquenta famílias oriundas das Vilas Ilhota e Doca das Frutas para essa região rural.

Inicialmente, a instalação da Vila Mato Sampaio trouxe grandes desafios, como falta de infraestrutura adequada, ausência de serviços básicos como água encanada e energia elétrica, além de segurança precária. No entanto, ao longo do tempo, a comunidade lutou por melhorias e conquistou avanços, como a chegada de energia elétrica, do calçamento, da rede de esgoto e a construção de equipamentos públicos, como escolas e

unidades de saúde. Ao longo dos anos, outras vilas foram se formando na vizinhança, como a Vila Pinto e a Divinéia, dando origem ao bairro que é delimitado atualmente como Bom Jesus.

Hoje, a região passa por um processo de transformação devido à escassez de terras urbanas em outras regiões da cidade e a especulação imobiliária. Isso tem levado à implantação de conjuntos habitacionais de classe média em áreas que antes pertenciam à Bonja, e atualmente fazem parte dos limites do Jardim Salso.

3 SANTOS, A. M. dos. A importância da história para o planejamento urbano participativo. In: SANTOS, A. M. dos; CARVALHO, M. B. de (org.). História, Cultura e Participação: Diálogos Interdisciplinares. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. p. 17-28.

4 Este texto foi extraído e adaptado do material de pesquisa ‘A História da Vila Grande Mato Sampaio na Perspectiva de seus moradores’, desenvolvido pelo DEMHAB / POA em 2013.

A LINHA DO TEMPO COMUNITÁRIA

A Linha Comunitária da Bonja é uma iniciativa que valoriza a história e a memória das vilas da região, promovendo a participação ativa da comunidade. Por meio de oficinas de linha do tempo, as pessoas são convidadas a compartilhar suas histórias e memórias sobre o bairro, desde sua fundação até os dias atuais.

Ao permitir que as pessoas moradoras da Bonja tenham voz ativa na construção da história e identidade do bairro, contribui-se para a coesão social, valorização da diversidade cultural e histórica da região.

1970

→ A chegada da água encanada e da eletricidade.

→ Linha de ônibus.

→ O incêndio da caixa d’água.

→ A falta de recursos e infraestrutura.

1990

→ A conquista da sede do Conselho Tutelar através de greve

→ A construção do Colégio Leia Rosa,

→ A abertura da Escola Mariano Beck,

→ O asfaltamento das ruas da Vila Pinto

→ A inauguração do posto de saúde 24h

1950

→ A construção da Escola Fátima e da creche.

1980

→ A construção da Paróquia Perpétuo Socorro.

→ A chegada do asfalto, saneamento básico, posto de saúde, reforma geral da Escola

→ O início do Orçamento

Participativo e a união de vilas da região leste

2000

→ A criação do Bloco da Bonja

→ Semana da Bom Jesus

→ A inauguração do CEA

→ Criação da Praça da Juventude.

→ A guerra das facções e o ataque dentro da escola foram momentos de grande violência e insegurança na comunidade.

2020

→ Congresso Popular de Educação e Cidadania

→ A atividade de Cartografia

Social

→ A Festa das Crianças

→ Desafios: a violência e a falta de infraestrutura em algumas áreas da região.

ANÁLISE DA LINHA

DO TEMPO

A partir dos dados apresentados na Linha do Tempo comunitária da Bonja, é possível identificar diversos aspectos da história da comunidade que ainda são percebidos até hoje. Algumas das principais características que se destacam são:

1. Espírito de luta pela sobrevivência: a história da Bonja é marcada por uma forte luta pela sobrevivência, o que evidencia a resiliência e a capacidade de superação das pessoas que ali moram. Esse espírito de luta é uma marca da comunidade.

2. Protagonismo das mulheres na luta pelos direitos e infraestrutura do território: outro aspecto importante da história da Bonja é o protagonismo das mulheres na luta pelos direitos e infraestrutura do território. Esse protagonismo se estende também para a construção e desenvolvimento de organizações que atuam em diferentes áreas do lugar.

3. Forte envolvimento e atuação política das pessoas que moram na Bonja: a história do lugar é marcada pelo forte envolvimento e atuação política da comunidade, tendo destaque o envolvimento no Orçamento Participativo de Porto Alegre. Esse engajamento político é uma das marcas da Vila.

4. Senso de comunidade e apoio mútuo: outro aspecto que se destaca na história da Bonja é o senso de comunidade e apoio mútuo entre as pessoas. Essa solidariedade e união são características marcantes da comunidade até hoje.

5. Forte expressão cultural de diferentes expressões artísticas: a linha do tempo é marcada por uma forte expressão cultural de diferentes expressões artísticas, como CTG, escola de samba, grupos musicais de diferentes estilos, grupo teatral, poetas/ poetisas, entre outros.

6. Alto número de equipamentos públicos: como escolas, Unidades de Saúde e outros, frutos das reivindicações populares e evidenciam a importância do envolvimento da comunidade na construção de políticas públicas.

Polígono 10

ATÉ ONDE VAI A BONJA?

Polígono 11

Polígono 12

A Bonja apresenta fronteiras que sofreram alterações ao longo dos anos, e isso tem levado as pessoas a terem diferentes percepções sobre seus limites. Essas percepções variam conforme a experiência pessoal e o tempo de residência de cada indivíduo no bairro.

Polígono 13

Com o intuito de compreender melhor como as pessoas enxergam as fronteiras do bairro, foram realizadas duas oficinas de Mapa

Afetivo. Durante essas atividades, a turma foi convidada a desenhar em um mapa impresso do bairro a localização que eles consideram ser as fronteiras da região.

Polígono 1

É importante salientar que essa representação não é precisa, uma vez que algumas pessoas tiveram dificuldade em visualizar o bairro no mapa. No entanto, mesmo com essas limitações, foi possível identificar os principais limites comuns do bairro, que foram destacados no mapa por meio de números representando a quantidade de pessoas que desenharam cada referência principal.

Polígono 2

Durante as oficinas, observou-se que a maioria dos lugares demarcados pelas pessoas está localizada na região central do bairro, onde se encontram as vilas. Essa tendência ocorre devido à concentração da moradia e do trabalho nessa parte específica do território.

Outro ponto de destaque sobre os limites da Bonja é a separação entre as áreas ocupadas irregularmente e a parte regularizada da região.

Essas informações são relevantes para compreender como as pessoas percebem o bairro e quais são suas necessidades e demandas. Esses dados serão utilizados na elaboração do Plano Bonja, que visa promover um desenvolvimento justo e inclusivo do bairro.

Linha 3

Polígono 4

Polígono

“Como eu vejo hoje a Bonja hoje?

Pra mim teve diferença, porque a gente fez aqueles mapas, então eu me localizei melhor em muitos lugares que eu não conhecia da Bonja, e olha que eu conheço bastante. Ali eu comecei a conhecer melhor: os comércios, o posto de saúde... eu conhecia um, mas abrangeu mais com aquele mapa. Então pra mim a Bonja já mudou, porque antes ela era menor, eu não tinha ideia da extensão dela e agora tenho uma perspectiva maior do que só onde eu vivia”. Margareth Rodrigues, 65

ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo sobre o Bonja Viva - Plano de Território, vamos apresentar a análise de diferentes tipos de dados, que colaboram para a compreensão e construção dos espaços urbanos.

Os dados secundários e primários funcionam como guias que apoiam as decisões sobre determinado lugar. Os dados secundários, vindos de fontes consolidadas, contam a história passada, enquanto os primários, coletados diretamente com as pessoas locais, oferecem uma visão realista da vida nos espaços hoje.

No centro dessa análise, as leituras técnicas e comunitárias sobre o estado atual dos diversos equipamentos urbanos presentes na Bonja, permitindo um estudo mais preciso e informado para a elaboração das propostas.

DADOS SECUNDÁRIOS

A análise de dados secundários é uma etapa fundamental para a elaboração do Plano Bonja de modo eficiente e adequado às necessidades da região. Neste capítulo, serão apresentados os resultados da análise das regiões do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e Zona Leste, com destaque para a área do plano, conhecida pelas pessoas locais como Bonja.

No caso específico da Bonja, a análise de dados secundários é especialmente relevante, uma vez que se trata de uma região com diversas vulnerabilidades socioeconômicas e ambientais. A compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais que afetam a região é fundamental para o e para a elaboração de estratégias eficazes de intervenção e transformação da realidade local.

DADOS SECUNDÁRIOS

ESTADUAIS

O Rio Grande do Sul é um estado com um desenvolvimento humano considerado alto, com uma população relativamente grande e uma renda per capita média alta. No entanto, o estado apresenta resultados abaixo da meta do governo federal para o IDEB, sugerindo um desafio na melhoria da qualidade da educação. Além disso, apresenta um índice médio de desenvolvimento socioeconômico e uma área urbanizada relativamente pequena em comparação com sua área territorial total.

DADOS SECUNDÁRIOS MUNICIPAIS

Os dados secundários de Porto Alegre são importantes para o Plano Bonja porque fornecem informações e indicadores sobre a cidade como um todo, que podem ser úteis para entender o contexto em que a área está inserida. Esses dados podem fornecer informações importantes sobre a dinâmica socioeconômica, cultural e ambiental da cidade, bem como sobre as políticas e programas governamentais que afetam a região.

A cidade possui um IDHM alto, boa qualidade de vida, baixas taxas de mortalidade e uma boa infraestrutura de saúde. No entanto, a cidade apresenta uma alta densidade demográfica e uma taxa crescente de envelhecimento, além de desigualdades sociais e de renda que afetam diferentes grupos populacionais, como pessoas negras e mulheres.

IDHM: O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

0,805 IDHM 2010

É importante notar que o IDHM apresenta diferenças significativas entre homens e mulheres, bem como entre negros e brancos, com os últimos apresentando um índice mais alto.

POPULAÇÃO 2022 1.332.570

10,47% TAXA DE ENVELHECIMENTO 2010

7,96 % TAXA DE MORTALIDADE 2017

76,42 anos ESPERANÇA DE VIDA 2010

34 HOSPITAIS 2022

Área territorial

496,70 km²

11,60 por mil nascidos TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 2010

989,61 hab/km² DENSIDADE DEMOGRÁFICA 2017

DADOS SECUNDÁRIOS

LOCAIS

Os dados da microrregião da Zona Leste são essenciais para o da região, já que permitem uma análise mais precisa e detalhada das condições socioeconômicas, ambientais e culturais que afetam a população local mais diretamente.

Em geral, os dados indicam que a Zona Leste de Porto Alegre é uma região densamente populosa, e que apesar da maioria branca, a Bonja é o bairro de Porto Alegre com maior percentual de pessoas pretas, uma taxa relativamente baixa de mortalidade infantil. No entanto, a região apresenta desafios como a piora do rendimento médio das pessoas responsáveis por domicílio, aumento na população residente em favelas e na taxa de homicídios femininos.

Apesar de ser uma região com um grande número de empresas e indústrias, a Zona Leste de Porto Alegre também apresenta uma grande desigualdade social e econômica, com uma parcela significativa da população vivendo em condições precárias. Essa situação é agravada pela desigualdade racial, que afeta especialmente as pessoas moradoras de áreas periféricas como a Bom Jesus.

Área territorial ZONA LESTE do município. 15,41 km² 3,24%

A BONJA está localizada na Microrregião 3 (Zona Leste), composta pelas áreas de: Bom Jesus, Chácara das Pedras, Jardim Carvalho, Jardim do Salso, Jardim Itu Sabará, Morro Santana, Três Figueiras e Vila Jardim.

POPULAÇÃO

ZONA LESTE/2010 114.309 hab

77,42 anos ESPERANÇA DE VIDA 2010

IDHM: O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

7,28 por mil nascidos TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 2012 Houve uma melhora de 8,98% entre 2000 e 2010. 0,777 IDHM ZONA LESTE 2010

23,67% 26.982 pessoas

RESIDENTES EM FAVELAS 2010

Piora de 10,25% desde 2000.

0,97% das mortes de mulheres ocorreram por homicídio 2010 Piora de 223,01% desde 2001.

4,76 salários mínImos RENDIMENTO MÉDIO 2010

Piora de 43,80% desde 2000.

DADOS SECUNDÁRIOS DA BONJA

A Bonja apresenta desafios significativos em relação à infraestrutura sanitária e ambiental, com uma parcela significativa de moradias sem destinação adequada de esgoto e problemas de degradação ou aterramento das fontes de água.

Além disso, a pavimentação e a indicação do logradouro são relativamente baixas, o que pode dificultar o acesso e a mobilidade da população local. Em relação à educação, o bairro apresenta desafios em relação à qualidade da educação, especialmente nos Anos Finais do Ensino Fundamental, com um IDEB de 2,8 em 2015. No entanto, a taxa de abandono escolar é relativamente baixa em comparação com outras regiões. 14.226,73 hab/km²

7,92% TAXA DE BAIXO PESO AO NASCER 2010 Melhora de

Infraestrutura das moradias

2,22%

Ensino Médio

0,41%

Ensino Fundamental

TAXA DE ABANDONO ESCOLAR 2010

ANÁLISE DOS DADOS SECUNDÁRIOS

Com base nos dados apresentados até o momento, podemos fazer algumas análises sobre a realidade da Bonja e as principais questões que devem ser abordadas pelo plano participativo. Aqui estão algumas observações relevantes:

1. Vulnerabilidade socioeconômica:

a Bonja é uma comunidade que enfrenta desafios significativos em termos de desenvolvimento social e econômico. Dados como a alta densidade demográfica, a renda média dos responsáveis por domicílio e o aumento da taxa de homicídio feminino indicam a existência de desigualdades e vulnerabilidades socioeconômicas no bairro.

2. Educação:

Os índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) apontam para a necessidade de investimentos na qualidade da educação, tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do Ensino Fundamental. Essa é uma área crucial para garantir oportunidades igualitárias e promover o desenvolvimento das crianças e jovens do Bonja.

3. População e diversidade:

A população da Bonja é diversa em termos étnico-raciais, com uma proporção significativa de pessoas negras. É fundamental considerar a inclusão e a valorização dessa diversidade em todas as ações e políticas desenvolvidas no âmbito do Plano de Bairro.

O Bonja Viva - Plano de Território pode incluir a promoção de políticas públicas que garantam o acesso à educação, saúde, moradia, transporte e emprego de qualidade. Além do estímulo à criação e fortalecimento de políticas públicas , é fundamental garantir que as empresas e indústrias presentes na região adotem práticas sustentáveis e responsáveis socialmente, e que contribuam para o desenvolvimento econômico e social da comunidade local, incluindo a população da Bonja.

DADOS PRIMÁRIOS DA BONJA

Os dados primários são informações coletadas diretamente da fonte, por meio de pesquisas, conversas, questionários, entre outros métodos. Esses dados são importantes, pois permitem conhecer as necessidades, demandas e anseios diretamente a partir das pessoas que moram na Bonja, possibilitando a construção de estratégias de ação que atendam às expectativas e à realidade da comunidade. Nesse sentido, foram entrevistadas 384 pessoas maiores de idade, entre fevereiro de 2022 a março de 2023.

Os dados primários podem se relacionar com os dados secundários do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre e da Zona Leste de Porto Alegre, uma vez que essas informações fornecem um panorama mais amplo do contexto socioeconômico, cultural e ambiental em que se insere a Bonja.

A partir da análise conjunta dos dados primários e secundários, é possível identificar as principais demandas, desafios e oportunidades para a Bonja, bem como as estratégias de ação que podem ser adotadas para atender às necessidades da comunidade. Essas estratégias devem ser construídas em conjunto com as pessoas moradoras, levando em consideração suas opiniões, sugestões e expectativas.

Entre as questões mais urgentes a serem tratadas na Bonja, de acordo com os resultados dos dados levantados, destacam-se a segurança, a educação, a saúde, o transporte público, as opções de lazer, alimentação e compras, a coleta de lixo e a infraestrutura urbana. Além disso, a qualificação profissional e a geração de empregos também se apresentam como desafios importantes a serem enfrentados.

A QUESTÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR

A insegurança alimentar não se resume apenas à disponibilidade de opções de alimentação no local, mas também à capacidade das pessoas de acessar alimentos adequados e de qualidade devido a restrições financeiras. Essa situação pode levar a uma dieta desequilibrada e impactar negativamente a saúde da população.

Para enfrentar a insegurança alimentar, é importante considerar medidas que vão além da oferta de alimentos, como programas de apoio social e assistência financeira para as famílias em situação de vulnerabilidade. Iniciativas como bancos de alimentos, programas de distribuição de refeições e parcerias com organizações locais podem ser implementadas para garantir que todos tenham acesso a uma alimentação saudável e adequada.

A insegurança alimentar é uma questão complexa e multidimensional, que deve ser abordada de forma abrangente no Plano BONJA, envolvendo parcerias com diferentes setores e a participação ativa da comunidade para buscar soluções efetivas e promover a segurança alimentar.

OUTRAS DEMANDAS

Além dessas demandas principais, outros aspectos mencionados pelo grupo entrevistado incluíram a necessidade de melhorias na infraestrutura, como asfalto de qualidade e solução para o entupimento de esgotos em dias de chuva. Também foram mencionadas a falta de academias, supermercados e praças para crianças.

Essas informações fornecem uma base sólida para o , permitindo que os responsáveis pelo Plano BONJA priorizem e direcionem os recursos de acordo com as necessidades e desejos da comunidade.

ANÁLISE URBANA

O Bonja Viva - Plano de Território, como já visto, é uma abordagem que coloca a comunidade como protagonista na construção de políticas públicas e no desenvolvimento sustentável de suas áreas. É um processo colaborativo, no qual diferentes atores, incluindo moradoras e moradores, instituições parceiras e autoridades públicas, contribuem para identificar as demandas e potenciais da região.

A etapa de análise urbana representou a oportunidade de desenvolver um trabalho conjunto para apoiar na elaboração deste plano, ao lado da equipe técnica5 liderada pela Profa. Clarice Misoczky de Oliveira, com sua experiência como coordenadora do projeto de assistência técnica em planejamento urbano “Planos Populares de Ação Regional em Porto Alegre”, elaborado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento Rio Grande do Sul (IAB - RS), em parceria com o Cidade em Projeto - Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão (CPLAB – UFRGS), e com o patrocínio do Conselho de Arquitetos e Urbanistas do Rio Grande do Sul (CAU-RS).

Esta parte do estudo estruturou-se a partir do desenvolvimento de uma Leitura Técnica e de uma Leitura Comunitária da Bonja. Enquanto as análises anteriores fornecem dados gerais sobre a região, estas leituras aprofundam a compreensão sobre a situação do lugar hoje a partir dos diferentes aspectos envolvidos, permitindo uma análise mais precisa e informada para a elaboração das propostas.

A leitura técnica é composta por informações pesquisadas pela equipe técnica e envolveu o levantamento de dados secundários de diversas fontes e a realização de levantamentos através do Google Street View.

Por sua vez, as leituras comunitárias são compostas pelas informações fornecidas pelas pessoas que moram na Bonja por meio de diálogos, consultas públicas e encontros participativos. Nestas atividades, elas puderam expressar suas percepções e experiências pessoais em relação aos equipamentos e serviços disponíveis em sua região. As leituras trazem uma dimensão subjetiva e vivencial que é complementar às análises levantadas pela equipe técnica.

Após as coletas de informações, os dados reunidos em ambas as leituras foram sistematizados, analisados e sintetizados, formando os resultados da etapa, apresentados a partir dos eixos temáticos: Equipamentos comunitários (de educação, saúde, assistência social, lazer e cultura); Mobilidade e transporte; Habitação + meio ambiente + saneamento; segurança.

5 A Equipe Técnica é formada pela Arq. A Dra. Clarice Misoczky de Oliveira, Arq. Esp. Ana Aguirre, Arq. Elisa Escosteguy Utzig, Acad. Arq. Sophie Giasson, tendo como Equipe de Apoio: Arq. Luiza Weber dos Santos e Arq. Sherlen Borges. Pela Equipe do Instituto Elos temos: Arq. Caio Vinicius Sales Fiuza, Felipe da Silva Denz, Rafaela Souza Camerini.

ANÁLISE DOS EIXOS TEMÁTICOS

EQUIPAMENTOS DE EDUCAÇÃO

Em grande parte da Bonja as instituições de ensino ficam distantes: na porção noroeste, nordeste e no sul, no meio das Vilas (a região noroeste, porém, está próxima de 2 instituições de ensino particulares não conveniadas).

Conforme a leitura comunitária, nas vilas, os equipamentos de educação não são suficientes. Faltam instituições de ensino médio, principalmente no miolo das Vilas. A maioria das instituições de ensino não suprem a demanda ou têm uma infraestrutura boa, mas um ensino considerado precário

As áreas distantes de instituições de ensino diferem um pouco nas leituras técnica e comunitária, mas a densidade populacional e a área de mais baixa renda e com maioria de mulheres chefes de família pode explicar a motivação da leitura comunitária. No noroeste do bairro, a leitura técnica indicou carência de equipamentos de ensino, porém a leitura comunitária pontuou que a região tem maior renda e tende a acessar escolas particulares não conveniadas.

A divergência entre as leituras técnica e comunitária em relação aos equipamentos de educação no noroeste do bairro pode ser explicada por diferentes fatores socioeconômicos e demográficos que influenciam a percepção da comunidade.

A leitura técnica identifica a carência de equipamentos de ensino nessa região, o que sugere a falta de escolas ou a insuficiência das existentes para atender à demanda educacional.

Essa análise é baseada em critérios objetivos, como a disponibilidade de instituições de ensino formais e a capacidade de atendimento da população. Por outro lado, a leitura comunitária destaca que a região do noroeste do bairro possui uma maior renda e tende a acessar escolas particulares não conveniadas.

Isso indica que, apesar da carência de equipamentos de ensino identificados na leitura técnica, uma pequena parcela da comunidade tem recursos financeiros para buscar alternativas educacionais fora do sistema público de ensino.

Essa diferença pode ser explicada pela densidade populacional e pela área de mais baixa renda e com maioria de mulheres chefes de família presentes em outras partes do bairro.

Esses fatores podem influenciar a escolha da comunidade em buscar escolas particulares não conveniadas, que podem ser percebidas como oferecendo uma melhor qualidade de ensino ou atendendo às necessidades específicas da população.

Portanto, a divergência entre as leituras técnica e comunitária em relação aos equipamentos de educação no noroeste do bairro pode ser atribuída a diferentes perspectivas e realidades socioeconômicas da comunidade.

Enquanto a leitura técnica se baseia em critérios objetivos de disponibilidade e capacidade de atendimento, a leitura comunitária leva em consideração as escolhas e recursos da população local. Ambas as perspectivas são importantes para uma análise abrangente e informada das necessidades educacionais da região.

No que diz respeito à educação, foi identificado a necessidade de melhorias nas infraestruturas educacionais e no acesso a programas de capacitação profissional, visando proporcionar oportunidades de desenvolvimento para as pessoas moradoras na Bonja.

EQUIPAMENTOS DE SAÚDE

No que diz respeito aos equipamentos de saúde, a leitura comunitária revelou que eles não suprem a demanda, enquanto que a leitura técnica revela que grande parte do bairro está a uma distância de até 800 metros de uma unidade de saúde, exceto próximo da R. Prof. Cristiano Fischer, a noroeste.

Além disso, a mudança de local do CRAS dificultou o acesso da população das Vilas aos serviços de assistência social Essas informações ressaltam a necessidade de investimentos para fortalecer a rede de atendimento, com a ampliação e qualificação dos serviços de saúde e a implantação de ações preventivas que promovam o bem-estar da comunidade.

EQUIPAMENTOS DE CULTURA E LAZER

As porções noroeste e nordeste também ficam distantes de praças, e todo o bairro fica distante de parques. As Vilas têm maior densidade populacional, necessitando de mais equipamentos públicos.

Na Vila Pinto se concentra uma maior proporção de mulheres chefes de família de domicílios de baixa renda, em uma região que também tem alta densidade populacional e onde o acesso aos equipamentos públicos é mais difícil, pelas vias íngremes e mais precárias (de baixa acessibilidade).

Foi constatado, que as iniciativas de cultura e lazer estão concentradas em alguns locais do bairro. As regiões do bairro distantes de praças e parques coincidem parcialmente entre leituras: a leitura comunitária delimitou áreas maiores, o que sugere que algumas praças existentes são insuficientes.

Em relação aos espaços de cultura e lazer, ambas as leituras apontam para a necessidade de mais locais que fomentem a cultura e o lazer nas Vilas. Além disso, foi identificado que algumas praças e campos de futebol estão sem manutenção e

Síntese Eixo Equipamentos de Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura e Lazer.

MOBILIDADE E TRANSPORTE

Foi identificado que as vias íngremes e com infraestrutura precária na região das Vilas, onde também se concentra uma maior proporção de mulheres chefes de família, o que é considerado um recorte populacional que se movimenta de forma diferente no território devido à economia do cuidado 6

As leituras comunitária e técnica convergem na identificação de maior precariedade de mobilidade na área das Vilas. Tanto pela presença de vias mais íngremes e com infraestrutura viária mais precária, quanto pelo acesso mais dificultado ao transporte coletivo, que fica mais distante do miolo das vilas.

A maior oferta de linhas de ônibus se localiza próxima aos limites do bairro, nas Av. Protásio Alves e Av. Ipiranga e poucas linhas adentram a Bonja. A área do miolo das Vilas é também a mais deficitária em transporte coletivo, com distâncias superiores a 300 metros para acessar uma parada de ônibus.

As quadras longas também dificultam a mobilidade de pedestres, principalmente na região das vilas e na proximidade da Av. Protásio Alves. A leitura comunitária também identificou locais que precisam de sinalização viária e melhoramento de infraestrutura em locais específicos.

A leitura comunitária também identificou locais que precisam de sinalização viária e melhoramento de infraestrutura em locais específicos.

6. A “economia do cuidado” referese a um conceito que reconhece e valoriza o trabalho e os recursos dedicados ao cuidado de pessoas, famílias e comunidades. Ela abrange atividades que visam atender às necessidades físicas, emocionais e sociais das pessoas, como cuidados com crianças, idosos, doentes, pessoas com deficiência, tarefas domésticas e serviços de apoio.

Síntese Eixo de Mobilidade

HABITAÇÃO

No bairro Bom Jesus, existem 4 áreas delimitadas como AEIS I7, indicadas pela Prefeitura como assentamentos autoproduzidos por população de baixa renda, correspondendo à porção sul do bairro, vilas Pinto, Mato Sampaio e Divinéia.

A análise técnica revela que as demarcações de Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) coincidem com a concentração de menores lotes do bairro, localizados nas vilas. Essas áreas apresentam falta de infraestrutura de drenagem e esgotamento sanitário, principalmente em vias de baixa acessibilidade e próximas aos cursos d’água. Além disso, as vilas estão situadas em áreas mais baixas do bairro, com exceção da parte leste da Vila Pinto.

7 As Áreas Especiais de Interesse Social são aquelas destinadas à produção e à manutenção de Habitação de Interesse Social (HIS), com destinação específica e normas próprias de uso e ocupação do solo.

MEIO AMBIENTE

As nascentes dos cursos d’água estão geralmente em trechos do terreno com maior declividade. Entretanto, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens dos cursos d’água estão majoritariamente ocupadas, inclusive nas áreas de risco. Destaca-se que a ocorrência mais comum registrada pela Defesa Civil no bairro são os desabamentos, com uma concentração significativa no norte da Vila Mato Sampaio.

SANEAMENTO

A leitura comunitária identificou os cursos d’água como locais de acúmulo de lixo, esgoto a céu aberto e risco de deslizamento. A porção sudoeste das vilas foi indicada como área de alagamento.

Além disso, foram marcados pontos de alagamento ao longo dos cursos d’água, com destaque para o ponto de encontro de um dos cursos d’água com a Rua Santa Isabel e outro com a Rua Pio X. Foi observado que existem vias estreitas que não permitem o acesso do caminhão de lixo, locais onde a coleta de lixo é ineficiente e pontos de reciclagem que contribuem para a limpeza urbana.

Essas informações revelam a situação atual do eixo Habitação, Meio Ambiente e Saneamento no território da comunidade, na qual são identificados desafios como a falta de infraestrutura adequada nas vilas, ocupação indevida das APPs, ocorrência de desabamentos, acúmulo de lixo e dificuldades na coleta.

Com base nessas análises, será possível propor ações e intervenções para melhorar a qualidade de vida dos moradores, garantindo moradias adequadas, preservação ambiental e acesso aos serviços básicos de saneamento.

Síntese Eixo Equipamentos de Habitação, Meio Ambiente e Saneamento

SEGURANÇA

Na Leitura Técnica, foram observadas algumas informações relevantes. No Censo de 2010, constatou-se que cerca de 20,2% da população de Porto Alegre se autodeclara negra. No entanto, nas vilas do Bairro em questão, esse número ultrapassa os 40%, chegando a atingir de 60% a 80% da população em certas partes das vilas Divinéia e Mato Sampaio. É importante mencionar que a população negra é considerada mais vulnerável à violência policial no Brasil, sendo que 8 em cada 10 pessoas mortas pela polícia são negras.

As condições de segurança estão relacionadas a diversos fatores, incluindo o ambiente físico, como a forma como as ruas são organizadas e a presença de equipamentos públicos. No entanto, é importante ressaltar que em um bairro com características diferentes da cidade tradicional, essas análises podem ser questionadas.

Também foram identificadas quadras mais longas, onde há menos movimento de pessoas e, consequentemente, menos controle social em determinadas áreas. Além disso, foi observado que as áreas com maior concentração de população negra estão mais vulneráveis à violência policial.

Na leitura comunitária, as pessoas participantes da oficina apontaram locais e vias consideradas inseguras, principalmente nas saídas do bairro. Também foi destacada a falta de iluminação pública ou a presença de uma iluminação precária em algumas vias, o que afeta a segurança dos pedestres. Os participantes relataram frequentemente situações de violência policial, especialmente na região marcada em laranja.

Em resumo, a segurança na Bonja não depende apenas das condições físicas, mas também das condições sociais e da percepção da população. A presença de vias inseguras próximas às saídas das Vilas e os relatos de violência policial nas áreas com maior concentração de população negra destacam a necessidade de abordar essas questões. No entanto, é importante ressaltar que a percepção de segurança pode variar de acordo com as experiências e vivências de cada indivíduo no lugar.

Síntese Eixo de Segurança

Antes eu tinha medo de caminhar. Agora eu passei a caminhar a noite, a conhecer mais as pessoas que moram aqui. Daí agora eu vou até pelos becos, eu jamais iria sozinha antes.

Porque antes eu pensava ‘as pessoas não me vêem, não me conhecem’ e agora eu acho que todo mundo me conhece, eu fico mais tranquila.

Hoje eu vejo a Bonja diferente, porque eu percebi que não conhecia nada, né? Pra mim tá tudo novo.”

Rosane Silva, 50

Referências bibliográficas:

1. Silva, J. M. et al. Participação social e planejamento urbano: reflexões sobre experiências de planos participativos. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 19, n. 2, 2017.

2. Instituto Pólis. Plano Participativo: uma experiência de planejamento e gestão participativa. São Paulo, 2015.

Exemplos de Planos Participativos

1. Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) - Brasil: O PLHIS é um instrumento de planejamento participativo voltado para a habitação de interesse social, que visa promover o acesso à moradia digna para todos. É implementado em diversas cidades brasileiras, envolvendo a participação da comunidade na definição de diretrizes e metas para a política habitacional.

2. Plano Participativo de Medellín - Colômbia: Medellín, na Colômbia, é reconhecida internacionalmente por suas políticas urbanas inovadoras e participativas. O Plano Bonja de Medellín busca promover a inclusão social, melhorar a qualidade de vida e fortalecer a participação da comunidade no planejamento urbano.

3. Plano Participativo de Copenhague - Dinamarca: Copenhague, capital da Dinamarca, é conhecida por sua abordagem participativa no planejamento urbano.

O Plano Participativo de Copenhague envolve a participação ativa das pessoas moradoras na definição de prioridades e ações para melhorar a qualidade de vida nos bairros da cidade.

Autores sobre o assunto:

1. Fainstein, S. Planning and the Just City: Principles and Practice. University of Chicago Press, 2010.

2. Rolnik, R. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. Boitempo Editorial, 2015.

3. Innes, J. E. Planning with Complexity: An Introduction to Collaborative Rationality for Public Policy. Routledge, 2013.

4. Dichter, T. et al. Urbanismo colaborativo: ideias e práticas para cidades mais inclusivas. Editora Letramento, 2021.

Edição de Conteúdo

Ricardo Oliveros

Projeto gráfico

Elina Tasca

Antonio Silveira

Diagramação e capa

Elina Tasca

Fotos

Lufe Torres

Hans Georg

Marlon Laurencio

Aplicação da pesquisa com moradores

Danielle Boeira

EQUIPE ELOS

Facilitação

Caio Fiuza

Felipe Denz

Rafaela Camerini

Gestão Soluções

Paulo Farine

EQUIPE URBANISTAS

Coordenação

Clarice Oliveira

Equipe Técnica

Ana Aguirre

Elisa Utzig

Sophie Giasson

Colaboração

Luiza Weber

Sherlen Borges

Equipe Instituto Lojas Renner

Paula Martins

Raisa Martins

Organizações da Bonja que contribuíram neste plano: AFASO, Agência Compromisso, Arte Mãe, ALAN, AMBOJES, ASMOBRAS, CEA, CECBJ / CRJ, Conselho Tutelar, Coopearte, DnÁfrica, Escola Mariano Beck, Força das Comunidades, Grupo 3ª Idade N. S. de Fátima, MIM, Protagonismo Juvenil - EMEF Mariano Beck, Quilombonja, SESOMATR, Subprefeitura Leste, US Vila Jardim, US Mato Sampaio. planodabonja.poa.br

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