Versátil Magazine - Outubro

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Versátil é atual, leve e traz tudo o que você gosta de ler. E leva a sua marca a 20.000 leitores do Butantã, Morumbi e GranjaViana. Nada como ser Versátil! O melhor conteúdo, para os melhores leitores. Versátil (latimversatilis, -e) adj. 2 gén. Que tem várias qualidades ou utilidades ou que pode fazer ou aprender várias coisas. = polivalente.



editorial Caros leitores,

Sempre fui muito apaixonada por música, cinema, teatro. Talvez por influência do meu pai, com quem passava madrugadas assistindo a filmes antigos em preto e branco, escondida da minha mãe, que me colocava cedo para dormir. Ela nunca entendia minha dificuldade de levantar cedo pra escola (rs!). Hoje, a inspiração é algo como “eu faço samba e amor até mais tarde, e tenho muito sono de manhã.” Aqui na redação, muitas coisas dão um trabalho danado para implantar. Misturar ideias, estilos de vida, gostos musicais, literários e temas que são para nós inspiradores - e, portanto, vitais - causa certo transtorno na montagem de cada edição. Porque parece não ser suficiente uma só revista para a quantidade de material que recebemos. Sempre fico com a sensação de ainda ter muito que fazer. Ainda bem! A Versátil é apenas uma parte do que gostaria de divulgar. Falta muito, mas hei de viver bastante para ter tempo de melhorar, de pesquisar, de aprender sempre mais e dividir com vocês cada conquista. Tenho intensa felicidade por trazer na capa um dos grandes deuses da música brasileira, na minha modesta opinião: Eduardo Gudin. Confesso que na década de 1980 eu ouvia mesmo era o IRA!, Barão Vermelho, Titãs. Ouvia o som que uma adolescente “normal” ouviria: o rock nacional, que vinha com tudo e com muita qualidade. Era mesmo fã do Nasi, que já entrevistei aqui na Versátil há 4 anos. Paralelamente, tinha gente fazendo coisas incríveis que naquele momento passaram despercebidas para mim. Não lamento, mas recupero o tempo, hoje, ouvindo incessantemente os sambas compostos por pessoas como o Gudin, com letras incríveis e melodias dignas de grandes mestres. De quem sabe mesmo a que veio. Suas composições têm um refinamento que se adequa a vozes de cantoras como Vânia Bastos, com perfeição; Inah, com força; Leila Pinheiro, com delicadeza, e de tantas outras grandes intérpretes. E também de Paulinho da Viola, do querido Mauricio Santana e tantos outros que é impossível listar todos aqui. Tem mesmo é que ouvir pra entender o que o Gudin faz. Com sustentabilidade nas Páginas Verdes e dicas culturais de primeira em Cultura Versátil, chega a vocês uma edição que deu samba!

Publisher Claudia Liba claudia.liba@revistaversatil.com.br Conselho Editorial Alexandre Lourenço Antonio Gomes Claudia Ramos Lessa Gabriel Leicand Gabriel L. Schleiniger

Foto de Capa Joana Gudin

Redação

Valéria Diniz redacao@revistaversatil.com.br

Repórter Especial de Meio Ambiente Juliana Ferrari

Edição de Texto e Revisão

Valéria Diniz valeria@revistaversatil.com.br

Projeto Gráfico e Diagramação

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Assistente de Arte

Andre Hiro andre.hiro88@gmail.com

Analistas de Redes Sociais

Caio Gasparetto Diniz da Silva Gabriel L. Schleiniger Juliana Ferrari

Colaboradores

Alexandre Lourenço – Diversatilidade Antonio Gomes – Cotidiano | Música mané-mané – Bem-Estar Paulo Ferres – Negócios Rubens Borges – Páginas Verdes

Versátil Online

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Pré-impressão, impressão e acabamento W Gráfica

Distribuição Butantã, Parque dos Príncipes, Vila São Francisco, Jd. Guedala, Jd. Previdência, Vila Sonia, Jd. Bonfiglioli, Jardim Esther.

Um abraço a todos e até novembro! Claudia Liba claudia.liba@revistaversatil.com.br www.revistaversatil.com.br twitter @versatilmagazin

PARA ANUNCIAR TELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135 ou envie uma mensagem para comercial@revistaversatil.com.br Versátil Magazine é uma publicação mensal, distribuída gratuitamente e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes, e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.


6 Viagem Orlando Azevedo: Expedições à Natureza Brasileira

10 Negócios 6

Maturidade Proficcional

13 Cotidiano Decantando – Aos Mestres Cancionistas

14 Páginas Verdes Você Sabe Onde Mora?

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16 Capa Eduardo Gudin: Elegância à Antiga

22 Bem-Estar A Revolução dos Pés

14 24 Cultura Versátil

30 Diversatilidade Uma Nutricionista em Minha Vida

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ORLANDO AZEVEDO: EXPEDIÇÕES À NATUREZA BRASILEIRA fotógrafo Orlando Azevedo partiu para uma aventura chamada Expedição Coração do Brasil – Paranaguá, Lagamar. Açoriano, Orlando vive no Paraná há quase meio século e vem registrando cenas da cultura caiçara. O trabalho fotográfico resultou em uma bela documentação da região litorânea entre Guaraqueçaba, no Paraná, e Iguape, litoral sul de São Paulo. Para a viagem levou seu filho e assistente, Rafael Slomp de Azevedo. A Versátil traz para seus leitores um pouco da beleza da obra de Orlando Azevedo. Boa viagem! 6


O cara quer ser fotógrafo para ser artista e ter fama. Não é porque o cara fotografa que é fotógrafo, muito menos artista. Os curadores oficiais não conhecem fotografia, e o ato fotográfico é outro.

Versátil Magazine: O que pensa sobre o ato de fotografar? Orlando Azevedo: O ato de fotografar se reveste e despe de todos os conceitos possíveis. Para mim fotografar é além do meu modo de vida, meu modo de ser e estar. A fotografia é minha escrita, meu grito e minha luz. Portas e janelas que se abrem para caminhos novos e não revelados. Cada foto no fundo é um autorretrato do que se é e pensa. É um atestado de sua formação e verdade. Cabe ao fotógrafo definir sua escolha, sua interpretação e regência. No fundo o fotógrafo é apenas um poeta e um músico que percorrem partituras e palavras. A fotografia é meu grito, minha busca de me encontrar e decifrar.

VM: Fotografar é uma arte? OA: Nunca me preocupei se fotografia é arte ou se sou artista, embora minhas imagens integrem alguns dos principais acervos do país e alguns do exterior. Fotografo por uma necessidade visceral, íntima, interna. Sempre busco um novo horizonte e uma eterna ponte com a busca do mistério e o divino. Estamos de passagem e é tudo muito rápido. Apenas o tempo e a história irão definir quem é artista e quem produz uma obra onde luz e trevas serão o pólen e a perturbação. Mas a verdade é uma só, a fotografia entrou pela porta dos fundos no mercado de arte. Vale mais ‘foto conceito’ do que fotografia de verdade, o que é uma piada e um delírio. O cara quer ser fotógrafo para ser artista 7


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e ter fama. Não é porque o cara fotografa que é fotógrafo, muito menos artista. Os curadores oficiais não conhecem fotografia, e o ato fotográfico é outro. Assim, vivemos uma Babilônia Disneylândia. Fotografia transgressora, sim. Estou longe dessa fotografia transviada e dessa farsa que os acadêmicos criaram para se justificar e poder existir na sobrevivência de seus empregos e salários. VM: De que forma a natureza, as pessoas e as cenas cotidianas seduzem ou inspiram para fotografar? OA: Quando você sai para fotografar, a imagem se oferece e se dá numa constante entrega. Essa é a grande magia da fotografia. Sua generosidade e sintonia. Ela se oferece a seu altar e palco de emoções. E é neste ritual sagrado que o profano atinge sua plenitude. Homem e natureza são uma constante em meu trabalho, em minha obra. Meus retratos são de extrema cumplicidade e fraternidade. O olhar do outro é sempre meu espelho e meu próprio olhar. Os oráculos da criação me emocionam pela grandeza e beleza. Perante eles a reflexão da saga humana tem o gosto de adaga. O homem é ainda um animal selvagem que faz da destruição o carvão de suas cinzas. Rosebud. Até quando? Não mais podemos aceitar e consentir a barbárie política e os bastidores dessa falta de civismo e amor ao próximo. É preciso dar um basta nessa casta, na desigualdade e na impunidade. Respeito sem precisar dessa mão no peito cantando o Hino Nacional com levianas e sacanas lágrimas. O cenário de meu ideário e relicário é uma cicatriz e uma tatuagem que rasga o desejo de ir além da linha do horizonte na busca de uma paisagem que não sei. Minha melhor foto será sempre a que não fiz e guardo na alma e no olhar.

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VM: Como nasceu a ideia de fotografar o litoral paranaense? OA: Quando iniciei meu maior projeto, “Expedição Coração do Brasil”, sabia muito bem que estava mergulhando numa interminável viagem, num projeto sempre inacabado, tantas são as artérias, veias e veios a percorrer. Hoje é um projeto de vida e uma missão. Não posso calar a vocação por mais complexa e árdua. Nunca acreditei em inspiração, mas em conspiração e transpiração. A fotografia já me levou a lugares e pessoas inesquecíveis. Sou grato à vida e ao Brasil por tudo. No caso deste novo empreendimento, “Paranaguá, Lagamar”, vários aspectos se tornaram decisivos: sou um ilhéu e o estuário do Lagamar tem forte influência açoriana, mas, acima de tudo, é um complexo biológico invulgar, onde o caiçara se integra ao grande berçário de vida e de seus ritos. Está sendo uma surpreendente revelação, que só vem reafirmar minha devoção. Grandes relicários e verdadeiras maravilhas integram o Paraná e sua multiplicidade. O Lagamar, os Campos Gerais Prudentópolis, Iguaçu, entre outros e muitos. Já havia percorrido boa parte de todo este complexo em diversas matérias profissionais, mas agora meu olhar é muito mais amplo e definido no que busco e quero. Foram três anos até obter os apoios e patrocínios, através da Lei Rouanet, e poder iniciar o projeto. Há que ter muita fé e disciplina. VM: Você fez um projeto fotográfico considerado o maior no Brasil em relação à fotografia da natureza, percorrendo 70 mil km. Como foi possível realizar tão grande expedição? OA: Somente a fé e muita determinação podem te dar força e coragem para conseguir empreender um sonho e realizá-lo. Penso que realmente tenha sido


até agora o maior projeto fotográfico realizado em território nacional. Todos os meus projetos apresentam resultados e feedback em seus produtos finais. É um empreendimento e um negócio. Não existe essa pista dupla de se fazer caridade. O patrocinador, além de deduzir imposto devido, tem de volta seu investimento e escreve sua história no fazer do país. Mesmo assim, vendi dois carros para poder terminar o projeto. Hoje a coleção de livros que foi editada, Homem, Terra e Mito, está esgotada e é objeto de colecionador. Infelizmente o papel e a impressão de livros no Brasil é algo muito caro. Mas o que importa é conseguir finalizar e realizar. Foram mais de cem propostas enviadas, muitas delas sequer eram respondidas. Cada negativa que recebia, mais força interna adquiria. Era a certeza de que realizaria. Os números do projeto e seus resultados obtidos são realmente transcendentais. Entrega de corpo e alma. Paixão e fé.

silêncio que nasce o grito. Gostaria de despertar com um mundo mais justo, mais fraterno e verdadeiro. Um mundo em que cada um dê o melhor e se entregue. Desta passagem nada levamos, mas é pelo sonho que realizamos. Sonhar é viver. Viver é querer e realizar. Esta é a luta e poder. Ser.

Minha melhor foto será sempre a que não fiz e guardo na alma e no olhar.

VM: Quais foram os momentos mais emocionantes do relato durante a Expedição Coração do Brasil? OA: Impossível enumerar o elenco de emoções, sensações e vivências. Cada novo dia era uma nova luz e experiência. Mas, certamente, o que mais me impressiona são a generosidade e fraternidade dos que têm menos. Dividem o que têm sorrindo. Muitas lágrimas salgadas deixei pelos sulcos e cicatrizes por onde andei. Cada montanha, ao chegar em seu topo, era uma emoção e uma canção. No fundo mesmo é uma oração de convicção. O olhar do outro em meu olhar. Impossível sair ileso. Hoje sou cada um dos que entregaram seu olhar a meu olhar. Sou muitos e tantos. Pátria de cantos e cosmo. Canto e meu encanto é para com a dignidade e verdade que me espreita e me é estreita, jamais estranha. VM: O que pretende despertar nas pessoas com seu trabalho? OA: Realizo meu trabalho para me conhecer. É um ato de entrega e de amor. O trabalho de um fotógrafo é sempre extremamente solitário e solidário. Se minhas imagens emocionarem e estabelecerem cumplicidade, me sinto gratificado e feliz. É do

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MATURIDADE PROFISSIONAL Até que ponto o cuidado e a proteção exercidos pelos mais experientes beneficiam a trajetória dos jovens profissionais da atual geração?

uitas espécies do reino animal, instintivamente, mantêm uma clara fronteira na condução de seus filhotes até a vida adulta (ou logo após a infância). A natureza é sabiamente generosa: oferece tudo que é necessário para o desenvolvimento das espécies, na proporção ideal de recursos, em níveis seguros para a preservação das mesmas. Apesar de o homem ser o único animal que consegue sobreviver em qualquer lugar do planeta, tem muito que aprender com a Mãe Natureza e o reino animal. A maturidade dos jovens ao assumirem sozinhos suas vidas não se baseia apenas nas competências técnicas (saber fazer), mas, principalmente, nas competências comportamentais (saber ser, agir, decidir). Boa parte desta atitude madura é constituída no convívio familiar, uma vez que nosso modelo educacional pouco favorece o desenvolvimento de competências comportamentais (liderança, criatividade, decisão). Assim, convido o leitor a fazer uma reflexão: até que ponto o cuidado e a proteção exercidos pelos mais experientes beneficiam a trajetória dos jovens profissionais da atual geração? Diversos são os artigos e debates sobre a convivência entre as gerações nas empresas. São elas: os Babys Boomers (após 1945), a Geração X (nascidos no início dos anos 1960 até o final dos anos 1970), a Geração Y (geração do milênio ou ge-

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ração da Internet, nascidos após 1980, filhos da Geração X e netos dos Babys Boomers) e, agora, a Geração Z (nascidos a partir de 1995 até os dias atuais). Todas estas gerações convivem, às vezes, em uma mesma empresa, o que torna o ambiente de trabalho mais desafiador para o desenvolvimento corporativo atual. Apesar da influência de cada geração na formação dos jovens, pode-se identificar que o modelo de educação e formação profissional praticado nas últimas décadas contribui para aumentar uma grande massa de profissionais limitados a executar tarefas simples e repetitivas, como as exercidas pelos profissionais no início do século passado, lembrando o clássico “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin. É fato preocupante a carência de profissionais qualificados e capacitados para gerenciar projetos, que invariavelmente envolvem riscos, conflitos, flexibilidade, disciplina, capacidade de planejamento e outros desafios. A atitude dos jovens profissionais é tipicamente imediatista, revelando pouco envolvimento com o que acontece à sua volta e que afeta, direta ou indiretamente, a trajetória profissional e de vida. Acredita-se que estas características ganham ênfase sob as consequências do modelo baseado num Estado protecionista, formado na Era Vargas (1930-1945), caracterizado pela intervenção estatal na economia (nacionalismo econômico),


o que provocou um forte impulso à industrialização. Apenas para ilustrar, foram criados nesse período o Ministério da Aeronáutica e o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), dando origem, mais tarde, à Petrobras (1953). Surgiram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco e a Fábrica Nacional de Motores (FNM), inicialmente destinada a produzir motores para aviões. Na mesma época foram decretados o Código Penal, o Código de Processo Penal Brasileiro e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), todos até hoje em vigor. Getúlio Vargas criou ainda a carteira de trabalho, a Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a estabilidade do emprego depois de dez anos de serviço – revogada em 1966 e substituída pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – e o descanso semanal remunerado. O mesmo Presidente regulamentou o trabalho dos menores de idade, da mulher e o trabalho noturno, fixando a jornada de trabalho em 8h diárias de serviço. E o direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos foi ampliado. Após a II Guerra Mundial, com o apoio do governo dos EUA, instalou-se no Brasil o Estado de bem-estar social (Welfare State), uma forma de organização política e econômica que coloca o Estado como agente promotor, protetor, defensor, social e organizador da economia. Assim, o Estado tornou-se o agente regulamentador da vida e da saúde social, política e econômica da nação, em parceria com sindicatos e empresas privadas, com o propósito de garantir serviços públicos e proteção à população. A Constituição Federal do Brasil prevê, no artigo 149, contribuições pela União que deram origem ao Sistema S (Senar, Senac, SESC, Sescoop, SENAI, SESI, SEST SENAT, Sebrae). São inegáveis os benefícios que estas medidas trouxeram. Entretanto, continuam a alimentar uma postura profissional reativa, em virtude das características protecionistas desse sistema. O desenvolvimento de uma postura proativa e protagonista fica limitado a uma pequena parcela da população,

forjada por circunstâncias e valores familiares. Faço parte da Geração X e tenho como modelo meu Pai e tios, que fizeram suas carreiras em uma mesma organização – trinta anos de lealdade e dedicação com direito a uma aposentaria reconhecida e admirada por todos. Como modelo a ser seguido, acreditava trilhar a mesma trajetória, entretanto, após quinze meses em meu primeiro emprego (com apenas 14 anos de idade), por falta de oportunidades, resolvi trocar de empresa. Recordo-me que fui repreendido por meu Pai, “como você pode sujar sua carteira de trabalho dessa forma?”. Atualmente, para uma parcela de profissionais os valores parecem estar invertidos: quanto mais ficamos em um mesmo setor, projeto ou empresa, mais forte é a demonstração de comodismo ou dificuldade para gerenciar mudanças. E isto, atualmente, não é bem visto pelos headhunters (caçatalentos, pessoas ou empresas especializadas na procura de profissionais talentosos) ou profissionais de recrutamento e seleção. A crença de que a empresa era responsável em oferecer oportunidades e treinamentos para o desenvolvimento profissional baseava-se no modelo de desenvolvimento onde a relação empregador-empregado (regida pela CLT) embutia um contrato psicológico. Este contrato se resumia no compromisso mútuo em que a organização oferecia segurança e o funcionário oferecia lealdade. Esta relação, típica da Geração Baby Boomers, era marcada por valores como o senso de pertencer a uma empresa, a segurança financeira (não importava a crise econômica, o compromisso da empresa era garantido), demissões somente em casos de falta grave. Enfim, esta relação marcava sua imagem: “eu sou o Paulo da...”. Ainda é comum encontrar ex-colegas que não se lembram do meu nome, mas se lembram da empresa e do setor nos quais trabalhei. Era comum admirar um trabalhador que conseguia entrar numa grande organização. Tipicamente reconhecida pelo seu patrimônio, pela quantidade de funcionários, pelo volume de frota, pela quantidade de filiais e cidades-sede (ou países), enfim, por ativos tangíveis. Porém, quando a

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crise econômica deflagrada na década de 1970 mudou a história do capitalismo, esse contrato psicológico também se rompeu. As organizações sofreram com as ondas de demissão, algumas subsidiadas por PDV – Programas de Desligamento Voluntário. Sofreram também com os Downsizing, Reengenharia e outras metodologias que pudessem manter a trajetória de prosperidade capitalista vivenciada até então. Pouco adiantou, o efeito causado foi devastador para aquelas gerações. O desemprego significava a perda súbita da identidade (“não sou mais o Paulo da...”), a insegurança era marcada pela incerteza, havia o sentimento de traição (afinal, eram tantos anos de dedicação). Não se sabia mais o que era pior: aqueles que faziam parte da lista de demitidos do mês, ou aqueles que continuavam na empresa – arcando com as funções e atribuições dos colegas demitidos – sem garantias futuras. Para melhor ilustrar estas mudanças de atitudes e valores, observe o quadro na página anterior, que resume algumas das ideias de meu grande amigo Marcelo Cardoso, ex-Presidente da DBM Brasil e atualmente executivo em Desenvolvimento Organizacional da Natura Cosméticos. Fica evidente que competências que levaram ao sucesso no passado não sejam as mesmas requeridas para enfrentar os desafios do presente. Somos avaliados pela nossa capacidade de realização, e os projetos dos quais participamos formam aquilo de mais valioso que podemos colocar no currículo (portfólio de competências). Por outro lado, as organizações não são mais reconhecidas e admiradas apenas pelo seu patrimônio e pelo grande volume de funcionários, mas sim pela capacidade de realização e conhecimento. Observem exemplos como Google, Amazon, o setor de Serviços e Varejo em geral, o setor Financeiro (pequenos grupos que movimentam um grande volume de capital). A nova relação empregador-empregado está baseada no alinhamento dos valores e interesses em comum. Quanto maior esta sintonia, maior o sentimento de envolvimento e participação. Este envolvimento se fortalece na medida em que nos sentimos integrantes e integrados em um projeto, em uma causa. Isto representa a força motivadora principal, capaz de conquistar resultados exponenciais. Resumindo, você trabalha no melhor emprego que poderia existir e a empresa que o contratou tem o melhor profissional disponível no mercado.

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Vale destacar: – Descubra seu propósito profissional e pessoal (quando perdemos a noção do tempo, significa que aquilo que estamos fazendo é o que mais nos realiza); – Defina claramente seus objetivos, metas e recursos; – Não desperdice energia em gerir o tempo. Procure administrar sua vida no tempo; – Verifique em cada tarefa o quanto ela é importante e urgente; evite viver no caos cotidiano e dedique-se às necessidades autênticas; – Procure compreender suas crenças limitantes para buscar a mudança adequada no momento oportuno; e mude; – Entenda sua vida como um todo: você não vive apenas um personagem e é possível viver em harmonia pessoal e profissional; – Avalie periodicamente seu planejamento e eleja as atitudes necessárias para cumprir suas metas (evite a autodestruição); – Evite expressões que possam sabotar seus objetivos, como: “estou ocupado agora”, “ninguém fez isso antes”, “isto é muito difícil”, “estou exausto”; – Procure distância das pessoas negativas e observe aquelas que estão em sintonia com seus propósitos; aumente e preserve seu networking; – Cuide de sua saúde física, emocional, intelectual e espiritual; – Planeje o futuro como se fosse viver 100 anos, mas execute-o como se fosse seu último mês de vida; – Seja protagonista da sua trajetória; não espere do externo (dos outros) para realizar aquilo que você tem condições de conquistar; saia da zona de conforto!; – Seus pais ofereceram a você o que de melhor podiam; provavelmente você se encontra em melhores condições que seus pais estavam quando você nasceu; Então, mexa-se! Se estiver difícil assimilar estes valores, questione-se: o que realmente é importante? Saúde e sucesso a todos!

Paulo Ferres é Administrador, Especialista em Administração Estratégica, Mestre em Ciências Sociais, consultor l associado d d da T Tecgem C Consultoria l E Empresariall e prof rofess fess es or uniiver versit sitári si sit á o. ár ári o


cotidiano saúde

Aos mestres cancionistas!

Passou o dia ouvindo canções. Adiara a decisão. Quem sabe descobrisse no último momento... Mas já não havia tempo, não podia passar daquela noite. Ninguém chora, não há tristeza... Na alvorada, nem no morro se sente dissabor. Pois era assim mesmo: o início das coisas; início do dia; de uma vida. Como uma criança brincando soava a alvorada. No começo, tudo pode servir, pode ser bom, gostoso... Mas ainda era? Ah, esse relacionamento... Cismou de inventar o que seria um amor assim - Amor de alvorada que chega ililum umin inan ando do...... Pe Pens nsou ou até qua uant ntos os des esse se ter eria ia viv ivid ido: o: amo more ress de ver erda dade de,, ma mass que não resistiam a pequenas mudanças no tempo. Frágeis, exigiam sol a pino, mal se sustentando num abraço após o sexo. Estacionara o carro perto da casa. Como podiam ser tão confusos seus sentimentos? Um fim de semana inteiro pensando! Na verdade, meses entre trocas de olhares cheios de dúvida já deviam ter servido de advertência. Era claro que pedia mais... Não queria machucar ninguém, nem se ferir... Sentiu medo. Tinha lhe pedido que não fumasse. Encostou-se à porta do automóvel; sem coragem de dar o primeiro passo, acendeu mais um como em pecado - seria aquele um amor maior, de resistir a vários tombos, de descobrir tempo pra refazer o que se desfez? Porque as coisas se desfazem, isto é certo... Essa canção, sim, lembrava um amor diferente, desses difíceis de achar ou mesmo de acreditar que achou. Algo capaz de ressurgir das cinzas, buscando as le lemb mbra ranç nças as dos bei eijo joss, dos caf afun unés és, da dass co conv nver ersa sass, da mú músi sica ca pre refe feri rida da, tudo: amor que recolhe todo sentimento e bota no corpo outra vez... Ainda sem clareza, caminhou lentamente. Deu risada, percebendo que, diante de saia tão justa, ainda arrumava tempo para brincadeiras. Pensou: se aquele era o amor de alvorada, esse do Chico seria O Amor do Ocaso: algo com sabor de fruta mordida, de conversa na varanda, de cuidar do outro quando a vida doer. Porque a vida dói, mesmo quando bem acompanhados. A diferença é que, na solidão, sobra tempo para apreciar as dissonâncias... - Quanta bobagem! No fundo, sonhava com um amor assim, de reencontro no tempo da delicadeza, onde não se diz nada, nada aconteceu... Mas respirou... Respirou bem fundo... Subiu o último lance da escada... tomando coragem, tocou a campainha... e esperou... esperou... até que um sorriso lhe abriu a porta. - Oi! Antonio Gomes é músico, compositor e escritor. Contato: (11) 2537 3120 / 6356 1766 antonigomes@gmail.com

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páginas verdes

ão Paulo é uma cidade com proporções gigantescas, em que as informações tratam de milhares ou milhões. São milhares de quilômetros de vias, milhões de habitantes, milhões de veículos. Isto provoca em seus habitantes a sensação de que algumas coisas ficam muito distantes ou inacessíveis, por exemplo, quando pensamos que para ir ao cinema, ao teatro ou a um parque de diversão, precisamos enfrentar filas intermináveis, trânsito congestionado, falta de estacionamento... Mas algumas coisas que estão muito próximas de nós - perfeitamente acessíveis - podem passar despercebidas. A pressa do dia a dia muitas vezes nos faz passar por alguns lugares sem que reparemos o que há em volta e, às vezes, deixamos de conhecer até nosso próprio bairro. Por ser uma cidade muito grande e com características muito próprias, alguns lugares são privilegiados em sua história e cultura, proporcionando a seus habitantes uma qualidade de vida muito melhor do que em outros locais. Regiões ricas, pobres, montanhosas ou planas, altamente adensadas e urbanizadas - ou preservadas em seu aspecto ambiental - tornam os contrastes de São Paulo muito visíveis, e, talvez, sejam estas diferenças que fazem de São Paulo uma cidade tão atraente. Hoje, vamos falar um pouco do bairro do Butantã. Assim como quase tudo na cidade de São Paulo, o distrito do Butantã possui grandes dimensões.

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Connttan Cont Co ando do com do om uma ma pop o ul ulaç açção de ma ação mais is de 3550 mil mil mi h bita ha biitaant ntes ess, o Bu B taant ntãã é m maaio ior do d que muuiita tass ci c da dade d s de do int nter erio er iorr do o paí aís, s, tan antto to na qu q an anti tiid daade de de ha h bi bita tant ta nttes e co omo m em su sua ua eexxteennssão ã ter erri riito ori r all. A ad dmi m ni n st stra tra r çãão di diss sso o tu tudo imp tudo mplilica ca a nec eces e si es sida dade de dade da gran gr ande an dess in de i ve v st stim im mennto toss em em inffra raes e tr es trut utur ut u a e eq ur equi uipa ui pame pa menm me n to os púúbl blic icos ic o , al os além ém de árrdu duaa at ativ ivid iv idad id adee de ad de man anut nutenção u ut para pa r pro ra r po porc r io rc iona naar ao os mo m raado d rrees um um d dos o melhores os luuga luga gare ress pa re para raa morrar na ci cid dade dad da de. D taado de va Do vari riado riad ad do co om méérc rcio rcio io,, trran aansporte público, estaação çãão de met e rô rô,, un univ iver iv errsiidade ades, s, facilidade de acesso a rodo ro dovi do vias ass, o Bu B taant n ã te tem m como co vizinhos os bairros do M ru Mo rumb mbi,i,, Lap apaa e Pi P nh heiros h e ei - e conta ainda com muita área ár eaa ver erde de,, of de ofer erreeccen eendo nd ótima qualidade de vida e uma vo oca caçã ção çã o iinndi disc scut sc uutível ut í para o crescimento. Além disto, ív poss po s uii imp ss m or ortante orta t riqueza histórica, uma vez que faz part pa rtte da cconstituição o da cidade de São Paulo. Porr vo Po volt olta lt de 1898, o combate à epidemia de peste bubônica que surgiu em Santos levou à inaugub bu rração de um instituto para a produção de um ssoro contra a peste. O Instituto Butantan foi oficialmente inaugurado em 1901. Para a o produção do soro foi escolhida uma área p ffora do perímetro urbano da cidade. Assim, instalou-se um laboratório A jjunto ao Instituto Bacteriológico, nna fazenda Butantan. A partir daí, a rregião emplacou um desenvolvimentto exponencial, que resultou no que cconhecemos hoje. Documentos históricos registram que o Butantã foi ponto de passagem de bandeirantes e jesuítas que se dirigiam ao interior do país com a finalidade de explorar novas terras. Esses caminhos ficaram conhecidos como Peabiru, que significa Caminho Gramado Amassado em tupi-guarani. Importante ressaltar que ao longo do Peabiru, mais especificamente na região conhecida como Morro do Querosene, existe uma fonte localizada em meio a uma significativa área verde, que há muito tempo vem sendo pleiteada pela população para que se transforme em um parque municipal - em função de sua beleza e da importância histórica que representa para a região, além de ser uma das nascentes do rio Pirajussara, importante córrego da região. Pensando na riqueza histórica do lugar, a comunidade

d Morrro do Qu do Quer ero er osenne se mob os obilililiz izou iz ou no seent ntid ido id o de d busc bu sccar em um ma pe pesq sq quiisa s mai aiss ap apro ro ofu fund ndad nd adaa re ad regi giist stro stro ross q e soli qu so olilidi idi difi f qu fi quem em m a reg egiã ião co ião c mo m um ma marc rco rc o hi h st stór óric ór icco na co ons n ti t tu tuição uiiççãão od da cidade id de de de Sã São o Paaul ulo. o o. O projeto p “Peabiru, o Caminho ho S Suuavve”” é maiis um ess forço da comunidade do Morro do do Qu Quer uer eros ossen enee pa para ra preservar a área verde onde se localiz liz i a a fo font nte. nt e Est e. stee projeto, que conta com o apoio da Pref efei ef eitu ei tuura de Sãão Paulo através do Fundo Especial do Meio o Am mbi bien ente te e Desenvolvimento Sustentável – FEMA, co omp mpre reen ende en de várias ações em prol da preservação amb bienta bien bi ntaal da da região. Entre elas, o projeto prevê a pesquisa em re regi gisgi s-tros históricos, a realização de eventos culturaais e um simpósio com a presença de importantes nom mes das áreas ambiental, jornalística e histórica para reffor orça çaar, r, em acaloradas discussões, a importância da prre rese serr rvação do local. Uma vitória do movimento foi a declaração de utilidade pública, através de um deccre reto to municipal publicado em agosto de 2011 para a criaaç ação ação do Parque da Fonte. Você pode encontrar ainda outras atrações no bairrr rro, como o Museu de Arte Contemporânea - MAC e a Casa do Sertanista - importante marco cultural quue ue, segundo o site da prefeitura de São Paulo, pertenceu e eu ao Padre Belquior de Pontes, que teria sido o primeiiro morador da região de que se tem notícia. Sabe-sse se, entretanto, que, no final do século XIX, pertenceuu à família Beu, sendo posteriormente transferida à fam amí mí-mí lia Penteado, que acabou por vendê-la à Cia. Cityy dee Melhoramentos. Esta, por sua vez, em 1958, doo oouu o oo imóvel à municipalidade, que passou a recuperá-l -llo em m 1966. Em 1970, concluídas as obras de restauura raçã ção, o, foi instalado o Museu do Sertanista, voltado ess sssen e ci cial aal mente para a cultura indígena. Temos que ter em mente que a preservação ãão o do me meio io ambiente não se restringe apenas à questão ão o da naatu t re reza, mas implica também os ambientes cco cons ons n trruí uído doss e do urbanizados - afinal, vivemos neles, e os as aspe pect pe ctos oss cul ulturais e históricos neles se inserem. Po Port rtan anto an to o, é noss no osso ssso dever conhecê-los e preservá-los. Pense nisto. Pare por um mome men ento tto o e pro rocu c re ver cu e o que o seu bairro pode ter de in int nter erreesssaant nte. e Con e. onh heça he ç -o e proteja-o. Assim, estaremo moss fa mo fazzeend do a no noss s ap ss paart rte. e.

Rubens Borges é Administrador,, Espe specia pecia i lis lista ta em em Edu ucaç ação ão o Amb Ambien ienta ien tal ta a e Secretário Ex Execu ec tiv ecu tivo o do Fund Fund undo o E Espe s cia c l do Meio eio Ambiente tee e Dese Dese e nvo nvv lvi lvimen m to me men o Sus Susten tentáv te tável el (FE (FEMA MA) MA A). A

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Joana Gudin


entrevista

Será lançado em novembro o DVD do show gravado ao vivo, Elegância Antiga, com a participação de Ilana Volcov, Karina Ninni, Mauricio Santana e dos percussionistas Cebion, Osvaldo Reis, Rafael Moreira, Everton de Almeida.

uem conhece Eduardo Gudin, de personalidade reservada e certa timidez, talvez fique surpreso ao saber como se deu o início de sua carreira: o jovem, apenas dezesseis anos, corajosamente se ofereceu para apresentar-se como solista no famoso programa “O Fino da Bossa”, da TV Record: “Fui ao Hotel Normandie, onde se encontravam Elis Regina, Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, e simplesmente pedi a eles que me escutassem. Toquei no hotel mesmo e fui aprovado.” Foi assim que o compositor deu os primeiros passos rumo à carreira que o colocou no cenário musical como herdeiro da linhagem mais significativa da cultura popular, a MPB. Ainda menino, classificou-se no Festival da Canção de 1968 com a canção “Choro do Amor Vivido”. Sobre ela, fala com entusiasmo: “Sabe daquelas coisas que você sente ter acertado, tem certeza de ter bem feito? Essa canção, que fiz aos dezesseis, é uma além de ‘Verde’, ‘Mordaça’, ‘Velho Ateu’, ‘Ainda Mais’ e ‘Paulista’. Sinto, de fato, muito prazer ao lembrá-las, e a convicção da importância que tiveram na minha carreira.”

“Estudei engenharia por dois anos, mas em 1970/71, já tinha participado de festivais e já estava envolvido com o mundo musical. Fazia FAAP, mas tinha a Odeon pertinho, uma tentação. Lá a gente podia encontrar o Adoniran, Nelson Cavaquinho, Dick Farney, gravando algum disco. Na verdade, penso, quanto aos estudos, que teria sido mais útil ter feito letras, porque escrever passou a ser fundamental no meu trabalho.” Apesar da vocação para compositor e cancionista, tornou-se expressivo também na área da produção musical e em projetos relacionados à cultura. Sobre isto, diz: “Fazíamos um show eu, Márcia, Roberto Riberti e Milton Banana, no Teatro Pixinguinha, quando o diretor da TV Cultura, na época o Orlando Duarte, me chamou. Disse pra eu aparecer por lá. Fui com a ideia do FIC (Festival Internacional da Canção) e dirigi o Primeiro Festival Universitário de 1979, quando apareceu Arrigo, Premeditando o Breque...” Gudin comenta que os festivais universitários dos anos 1960 e 1970 apresentavam trabalhos de grande qualidade profissional: nomes como

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entrevista

Aldir Blanc e Gonzaguinha participaram deles. Decepcionado, ele fala: “Em 1985, fui chamado pra fazer o segundo festival universitário da música brasileira, mas faltava material, não havia qualidade.” Eduardo Gudin teve participação ativa na idealização e criação da ULM (Universidade Livre de Música de São Paulo) - a única iniciativa pública seriamente voltada ao ensino de música popular - e da Orquestra Jazz Sinfônica, da qual foi diretor artístico: “Em 1989, Arrigo atuava como assessor do Secretário de Estado da Cultura, Fernando Moraes. Surgiu por esse período a ideia de montar uma orquestra de qualidade voltada à interpretação da música popular. Acontece que Arrigo foi para a Alemanha e me indicou para assumir seu lugar. Fernando me dava muita autonomia e assim pude ajudar a colocar em prática a ULM e a Jazz Sinfônica. A Jazz se consolidou como referência de qualidade aprovada pelo público, por isso sobrevive até hoje. No entanto, a ULM, iniciativa pioneira em nosso país, sucumbiu aos interesses corporativos de um segmento... A música popular sempre entrou pela porta da cozinha das políticas públicas, mais voltadas à produção erudita, ao investimento, por exemplo, na OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e em projetos propostos pelo ciclo de pessoas envolvidas nessa área. Quando Moraes tornou viável a Jazz Sinfônica e a ULM, é claro que a mudança de foco não foi bem recebida pelos eruditos.” Quanto ao atual destino dado à ULM e sua ligação com uma orquestra sinfônica particular, afirma: “Acabaram com a ideia da ULM de uma maneira absurda. O processo foi muito estranho. De repente muda o governo e uma entidade particular assume a

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administração! Isso é muito esquisito! Por que não se fez um conselho de notáveis para participar da escolha? Justo quando a ULM evoluía e se tornava uma coisa muito legal, os caras aparecem e põem um ponto final?” Como todo grande músico e compositor, ele não demorou a mudar de assunto. A poesia, o gosto por Tom Jobim, pela escolha da nota certa, pela criatividade e pelo violão excepcional do amigo e parceiro Guinga, isto, sim, interessava ao artista, que tem como parceiros e intérpretes músicos como Paulo Vanzolini, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Mônica Salmaso. Bastaria estes para colocá-lo entre os grandes e como figura fundamental na história da MPB. Mas seus olhos ainda brilham quando lembra:


Joana Gudin

“Um dos momentos dos quais mais me orgulho, foi ter tido o prazer de compartilhar com o maior violonista brasileiro, Baden Powell, que incluiu em seus shows minha canção em parceria com o Pinheiro, “E lá se vão meus anéis!”

A arte vai por outro caminho; a indústria de comunicação de massa e globalização é que comandam o mundo. 19


Abraçar quem se ama, no sentido amplo do significado amar, é algo revigorante. 20

João Caldas

extremamente


entrevista

O interesse por instrumentistas requintados como Baden e Hermeto Pascoal já aponta o caminho que o cancionista escolheu para sua obra e o que mais costuma ouvir. É o gosto por trabalhos refinados que implica na interseção entre o popular e o erudito: “Eu ouvia com prazer a “Ária para Quarta Corda”, de Bach, quando criança; ouvi aos oito anos “Chega de Saudade”, com João Gilberto, inúmeras vezes. Eu acho que a música popular brasileira, junto com um setor da produção americana - o jazz, o blues - apresenta um requinte que não se encontra em nenhum outro país. Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Cartola, assim como Cole Porter, entre os americanos, são exemplos.” Sem crítica, mas constatando a mudança dos tempos, finaliza: “Tornei-me músico tendo como exemplos Ari Barroso, Adoniran Barbosa, Tom Jobim, Cartola, Noel Rosa. Foi esse tipo de música, que exige uma relação integrada onde as coisas funcionem com a mesma importância: melodia, harmonia e ritmo. Isso foi o que me atraiu e me atrai. Sem juízo de valor, isso tudo me levou a ser músico. Eu não seria músico sem essas referências.” Como foi bom poder entrevistar Eduardo Gudin diante dos exemplos atuais de produção musical, diante de uma sociedade como a nossa, com meios de comunicação em que um “casamento real” ocupa por semanas os melhores jornais e revistas - e até a atenção de jornalistas que admiro, mas que precisam apresentar e brincar de contos de fada em eventos desse tipo, sem exercer qualquer senso crítico.

Teminamos o papo comentando sobre o novo trabalho do músico, o DVD Elegância Antiga, gravado ao vivo: “Estou muito contente com o resultado, feliz por ter conseguido juntar no mesmo palco Ilana Volcov, Karina Ninni, Mauricio Santana, Cebion, Osvaldo Reis, Rafael Moreira, Everton de Almeida. Tem uma música inédita com melodia minha e de Toquinho.”. Aos apreciadores da legítima MPB, no que depender da dedicação e seriedade deste cancionista que trafega com tranquilidade entre o requintado e o popular, Elegância Antiga, a ser lançado em novembro, é garantia de música popular brasileira da melhor qualidade. Na despedida, ele ainda nos aconselhou: “Olha, lançaram um CD do Baden de 1969. Vá até à Fnac e adquira. É imperdível...”.

Quanto à questão de sentir orgulho: primeiro eu me interessei pelas músicas dos outros. Justamente por admirar os grandes e as grandes obras, veio a vontade de participar. E, lógico, ser reconhecido como competente dentro dessa arte...

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bem-estar

A Revolução dos Pés irró jjáá diz iziaa: “É “É prreecciiiso sso o ter os pé pés be bem pllanntado dos no dos no chã hão ão pa paraa pod oder er alç lçar ar-s ar -sse ao alt lto” to o””. Es Esttaamo Est mos vi vivend vive ndo do no o ar, r, iso ola laa-do d os da da eneerggiaa tel elúr lúr úricca daa Ter e raa, ussan ando do tod odo ti tip ipo po dee cal d alça ç do ça dos cco dos om so sola las de de bor o ra racch ha, a, acu c m muula lannd do el eleeetric tr iccid daad de eesstá stá táti tica pel elo si simp mp ple les es fa fato de nã não ffaazeerm não mo oss o te terra, rrra, a, drena rennaand re ndo p paara o chã hão ão o exxce cesso d ces dee ene nerggia ia quue ca q capt apt ptam amos m s da atmo osf sfera. era. Nós, Nó Nós s, urb rba banoi oide dess da cid dad de gr gran gran a de de, puxaam mo os to od daa a nno ossssa eenner ergi giaa pr praa cima ma, le leva lev vand ndooap paara ra a cab abeç eça, a, os om o mbr bros, oss, o pe p sccoç oço e os braç raaços, ços,, teennsi sio onnaanndo o do tud udo do, incl in clu lus usiv ivee oss ten endõ dõess da mã mão, des eseennvo nvo volvven endo o tenndi dinniite tes es e ou outrro oss mal ale leess de quem m viivve o te tempo mpo to mp tod do o de ccaara ra com m a tel ela d ela do o co om mpuuttaado orr,, baannh haad ad do os p po or ra raios io os cató ca ódiicco os apar ap par areen ente t me ment nte in nt inof nof ofeennsi sivvo os. Som mo os ttrrogglo lodita lodi taas te tecn cnnollóggic ico oss dis ista tan anc ncia iado dos d daa mããe Te m Terr rra ra, a, lig igad ados os em cu curt curt rtotoo-cciirrccuito uito ui to na at atm mo ossfera fe ra, seem ja jamaiss enc ncos osta tarr nu numa ma árvor r vor rv o e para parraa des pa esccaarrreg egar gaarr ou to toma mar ar um um ban anho o de ch huv uva, uva a, cach ho oeeiirraa ouu sal gro o ross sso (a sso (aco connsseellho con o essp peecciaalm pe meenntee o sal al ros osa dos Hima do Him Hi maala laiiaas), s), sseeem s) m ja jama mais is toc ocarr rea ealm meennt nte co om m os pés os és a mar a aavvililh lhos hosa sup uper e ffíície da da Ter errraa. Ao innvvéss de rreeal Ao alizzar armo os o q quue se serriia ma mais mai is sáb ábio io em tto odos nó ós – re resp spiirraarr com om a bar arri rigga ga sol olta ta, a, ttiip po o respi eesspira piira raççããão o aab bdo dom miina nal al de nenê, enê, en ê, com o ceenntr tro de de graavviid daad ad dee do cor do orpo rp po o lá em mb baaix ixo –, –, preend ndeem mos toda oda a en od enerrggiia no ter no erço ço superrio ior do cor orpo po o, su sufoca suf foca fo cand nd ndo do nno oss ssa sseexuxuualid al idad id ad de sa sauud dáávveell, an anes ane estes este teesi sian and do d o o nosso osso biccho os ho naturall ( ão esq (n squue ueça çam mo os o faato os to de q quue sso omo mos aannim mai ais, s, dit itos tos os raaci cion ionai ais) s , enntto s) orp rpec ecen endo do os no nos oss sso oss sen entti tidos p tido peelo ello os péés, pel p elo ta tato to, p peello o olh har a , peelo os ouuvi vid do os, os s, pel elass pal alaa vvrras as, s, de desc scon onec ectta tado dos da dos das co das coiissas sas as mai ais si ais simp mple les. s. E no oss con onsid nsider id der e amos am mos civ ivililiz lizzad ados o!

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Deeesse D sennvvol olvveemo olv mos ca calç llççado ad dos os paarra cco orr rrer rre er, anda andar, an dar,r, com da om ou sseem am amor amo ortece teece ced do ores, res, po re orrém rém ém, es esq quuec ecem cem emo oss o priincip ncip nc ipal pal al: al: com co mo o des e ca carreg rreg rr egar ar o exxcceessso o de el elet let etri rici cida dade de esttát átic áti ica quue ca cap pttam mos o no ar ar pel elaa re resp sp piraç iraaççãão ir o, eesssa sa mis istu turraa d águ de gua e eelle gua let etri etr ricida dade ade de que, qu q ando do d o rep prreesada daa em nnó ós, s, cauusaa mal ales e com omo o ob obes e idad es de, diaabeete tess,, falta alltaa de equ quilíb íbri bri r o. o. O res esul esu ulta t do do é o segui eguint in e: mui uittaa ggeent n e teens nsaa e go ord da, a, com m o tôn ô us corrpo porral ral ra to odo do fro oux u o, o, poi o s a eellettriici cida d dee est da stáát áticca en engo gorr-da, p da prrovvo occan ando do d o ret e en ençã ç o de çã de líq quiido do em todo to odo os oss sis iste tem tem maas, inncclu lusiv sive si ve nas as junnta tas as, s, traava v ndo nd do os os caami minh n oss das as pes esso soas oas a . O Dr Dr. Al Am meeid eid da Pr Prad do, o, gra r nd nde de ho home meop opat ata,, já rreecco om meennd dava o us uso od do o saap pat pat ato co com m so ola de co couro para faci pa acilittar e aum ac umen enta tar ar a sa saúd úde das das pe da pess ssoa ssoa oas. s. Eu d diigo que, qu e, com o a sol olaa de couro ouro o, cad cada ca da um m meelh elh horra a p po ossttuuraa tot otall dia iannt nte d daa vida,, com m maaiis is o ottim mis ismo sm mo o, m maais is segguura ranç nçaa, a, mais aiis b baase se. Be Bem in inssttal alaad dos em no dos noss sso c rpo co rpo, recuper rp ec erram mos os nosso oss eiixxo, o, nos ossa conex on xão ão com a m co mããe Te T rra, a, fazzem emos os o GRO ROU UN NDI DING NG, ou sej ou eja, o ateerr rramen e to na re real allidad ali idad id de q quue a vi vida daa d mo m odern deerrnna ro ouub bou da ma maio ori ria do dos indi inndi divvíídu íduuos os suu postam po amen menntee civilililiz iliz izad dos o . Ouutro trro m méédi dico o mui uitto to que ueri rido do o eraa o Dr. r. Bac acal alá, á da Gastr Gast Ga stroen ente tteerro olog lo ogia gia do o HC C,, que ue ins nsiisstiia eem nsi m afi f rrm mar quue to odo dos nó dos ós tteemo mos tr mos três corraççõe três ões: s: o coraç or ção o pro oprriaame p m nt nttee di dito to e maaiis is as dua uas so olaas d do os pé p s. s Diz izia i ele qu el que, e quand uannd ua do aallguuém ém cam a innha ha, os os pés és bom om o mb beeia iam o saangu nguuee de re ng reto torn orn rno no attra ravéés do o arcco do os p péés, s, pre resres ssion onnan o ando d -o o sob obre ree o so ollo, o, promo ro omovveennd do um imp mpul ullso paara ra ajuudar a em empu purr urrrra rar o san angu angu g e pr p a ci cima ma atéé a bat atat ataa d perrna da na, o onnde de uma m peq que uena na vál álvu álvu vula la dá ma maiss umaa forçça pa forç fo para raa que ue o sanngu gue suba gue ssuuba ba de vo olt lta, lta, a, contr ontrra a le lei da d gravvidad gr iid dad de, oxxiige g na nand ando ndo o ssiist nd stem tem ma to od do o. Plaanntaar be Pl bem m os os pééss no ch hão o, ac aceiita tar tr tran anqu q ila ililaament me men nte te a ffo orça rrçça d daa gra ravviida dad dee, co omo mo faz azem em to od do oss aq queele les quue pr les pratic attic icam am cap apo poe oeir ira, a,, aikkid idô, ô jud ô, udô, dô, ô é um ma attittud ude de int intteelilig in liggeente nntte a seer aad dot otad otad ada da por por q po quueem m reeco onhe nhec nh ece o q quue há há de ve verd rdaad de nneeest stte teext xto e nesstte co ne contteexxtto o, e ne nest ste su subte bteexxto bt to.

A reevolu voluuçã vo ção co começa meça na base baassee, b e, co ome meççaa nos os pés és de queem qu quem m teem m cab abeç eça trran annq quilla e bo qu bom co cora ora raçã raçã ção. o. Fom omos mos expu ex puuls lso oss do para araaís íso pe pela la sola olla dee bo orrra rach chaa! ch a! O Bicchohoho home ho mem ennge mem gess ssou ou-s -se cco om diivveerrssas arm rmad adur ad duurras as: ro rouup roup paass, saap sap paatto os, s cap apa pac acet ace etes es,, teernos rnos, s, co conc nccei ncei e to toss. Rei eich ch falav alavva na nas co cou our uraç ura açaass musscula culaare r s lo locali caaliliza z da das pr princ prin inci in cip paalm men ente nass ente articu ar ticcuula lações çõ ões – gar arga gant ga nta, nt aa,, omb bro ros, pél élvi vviis, jo oeellh hos os, co otoveelo to os e to ornoz rnno ozzel zel elo los os. É neess sses ess ponnto tos qu q e a eellet etri ricid ci daad dee est stát táttic iccaa see acuumu mula la,, ca causa usan us ando des escco onforto fo fort rto oss em tto od do os os nív os ívei eis. s s. Ellvis P Prres esle leey ((E Elvvis Elv is Pélviis) s) co om meççou ou uma ma rev evoluç ollução ão o n s E no Essttaado dos os U Unnid dos qua uand ua nd do ou ouso ous sou solttarr os quuad q adri ris do ris os cco owb wbo oyys, enrrij ijec eccid idos os pel elo pe elo p sso o daass ccaart rtuc ucheeir uc iras as. s Ro Rola lannd do To Toro ro, o in i veento ntor da BioBioo dançça, fo da oii a pes esso sso soa qu que me que me ennssino inou in ou a and ndar ar – e co om is isso so me lliiivvrou ou de um ma dep depres preesssã ssã s o. See o “b S biich choo-ho -ho home mem” essttivveessse rea ealm lmen men entee em cco o onnt ntat ato o com com a su co sua an anim imal im alid al id dad ade bás bássiicaa, tteerriia bá ia cco ompo mporta mp taame mennttos ment os mai a s naatura tuura raiis is e, p po ort rtannto rtan to, ma mais saud sa u áv ávei e s. Se o “bic ich ich ho o-h homem em” é uum m ani nim ni im maal racionnaall fei ra eito to à ima magge gem e se seme melh lha han ança nça ça de De Deus us, resstttaare a-nno o oss cco onc nclu luir ir que, uee, se se Deu eus ex exis isttee... é uum m bich bic bi cho ttaamb mbém bém m, na nattura ralm ralm meennte te. E vo volttar ar a pissaarr na Terr Te rra ra ssiiggnnif ific fic ica ca fa fazzer as a pazes es com m o nos ossso o bic ich ho o, com o ““b co bic biccho ho-D Deu eus” eus” s”, e rein inst nst s au aura rar em m cad ada um ada m de nós o seu nó seu pr própri óp priio pa parraaísso pe perd perd dido ido. id Po P ode de ser er quuee voc occêê ac ache he quee est ste teext xto nã não tteem em pé pé neem ca cabe beçaa. M Maas é só só o quuee tem em, d daa cabeç ab beeçça ça ao aos p péés! s! Olhe bem Ol m par ara ba baaiiixxo o,, faç aça aass pazzeess com m seu eus p péés, s, rreeno nove sua ua innttim midad id dad de co com as as baasses es. Pl Plan ante te fiirrm meemeentte oss péss no ch m hão ão e.....

PORR P PO ORR RR A A,, BIC ICHO HO SE EJJA A FEL ELIIZ ELIZ Z!! !!! ((m maan néé--m maané né)

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cultura versátil

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A BRANCA VOZ DA SOLIDÃO.(1) Emily Dickinson. Trad.: José Lira. Emily Dickinson teve uma vida reclusa em que cuidava da mãe, cozinhava e cultivava flores exóticas. Seus poemas foram encontrados apenas após sua morte. A autora é considerada uma das maiores expressões da literatura mundial. Editora Iluminuras.

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um campo de concentração nazista e ainda surpreendeu e escandalizou o mundo com seu ativismo político e seus muitos romances. Editora Record.

ALVO NOTURNO. (4) Ricardo Piglia. No romance, o jornalista Renzi, conhecido de outros livros do autor, investiga um assassinato misterioso, retratando as contradições da A CÂMARA CLARA. (2) Roland Barthes. Com texto que vida rural argentina dos anos 1970. Ricardo Piglia, argentino, mescla linguagem acadêmica e literária, o autor mostra que é considerado um dos maiores escritores contemporâneos. a fotografia se limitaria a um simples registro documental Companhia das Letras. não fosse a intervenção subjetiva do observador. Um ensaio clássico de um dos pensadores mais estudados do mundo. ANTES DAS PRIMEIRAS ESTÓRIAS. (5) João Guimarães Rosa. Quatro contos inéditos publicados nos periódicos Editora Nova Fronteira. O Cruzeiro e O Jornal apresentam o escritor aos 21 anos A PRINCESA VERMELHA. (3) Sofka Zinovieff. A autora já com grande domínio da escrita e da construção de conta a história de sua avó, Sophy DolgorOuky, aristocrata personagens. A obra mostra um gênio em busca de russa que aderiu ao comunismo, sobreviveu aos horrores de sua voz. Prefácio de Mia Couto. Editora Nova Fronteira. 24


CARMELA VAI À ESCOLA. (6) Adélia Prado. Com linguagem poética bela e forte, o livro reafirma o talento da escritora para a prosa mirim. Ela leva pequenos e grandes leitores por uma viagem às memórias da meninice. A personagem Carmela é apaixonada por livros. Ilustrações: Elisabeth Teixeira. Editora Record.

biografia sobre um jesuíta brasileiro. Passagens picantes, questões sociais e histórias de amor estão no enredo principal. Prêmio Médicis 2008. Editora Record.

O LIVRO NEGRO DA CONDIÇÃO DAS MULHERES. (10) Org.: Christine Ockrent. Trad.: Nícia Bonatti. Diz-se que hoje a condição da mulher não é tão ruim quanto cosESSE INFERNO VAI ACABAR. Humberto Werneck. tumava ser e que apenas pequenas mudanças são necessárias. Nas crônicas do autor, uma galeria de tipos difíceis de Para a autora isto é um equívoco e sua obra mostra as inesquecer, como Solange, que adora falar difícil, Dona justiças aflitivas de hoje. Editora Difel. Alzira e seu escudo de eucatex para se defender de um tarado munido de raio laser, e Samuel, de novo di- O SELVAGEM DA ÓPERA. Rubem Fonseca. O autor zendo que o mundo vai acabar. Arquipélago Editorial. narra a ida de Antonio Carlos Gomes de Campinas ao Rio de Janeiro e à Itália, onde encontraria a glória e o EU NÃO VIM FAZER UM DISCURSO. (7) Gabriel fracasso. A narrativa reconstrói o ambiente artístico García Marquez. Discursos de García Marquez desde os do século XIX e é um estudo para o roteiro de um 17 anos, no colégio, até o aniversário de 80 anos. Nos filme sobre o compositor. Editora Nova Fronteira. textos, a paixão pela literatura, o amor pelo jornalismo, as propostas para simplificar a gramática e lembranças de POR QUE NÃO SOU CRISTÃO. Bertrand Russell. Trad.: Ana Ban. A obra é considerada um dos mais blasamigos como Júlio Cortázar. Editora Record. femos documentos filosóficos. Russell, Prêmio Nobel FRONTEIRAS DA INTELIGÊNCIA: A SABEDORIA em 1950, dissipa o conforto trazido pela religião e coloca DA ESPIRITUALIDADE. Nilton Bonder. Histórias e alternativas mais perturbadoras: responsabilidade, autoparábolas exemplificam o conhecimento do “reino dos nomia e consciência do que fazemos. L&PM. céus”. O rabino esclarece que a inteligência espiritual não tem a ver com religião: é uma capacidade humana de lidar RUPTURA. (11) Simon Lelic. O romance de estreia da autora conta a história necessária sobre uma das questões melhor com paradoxos e contradições. Editora Rocco. mais polêmicas da atualidade: o bullying. O tema, que HISTÓRIAS PARALELAS - 50 ANOS DE MÚSICA desafia pais e educadores, é apresentado por meio de BRASILEIRA. (8) Hugo Sukman. Com a indústria cultural uma trama intensa que promove aos leitores entretenimento se consolidando e heranças comuns, estilos paralelos fizeram e reflexão. Editora Nova Fronteira. da música brasileira um grande fenômeno cultural. Sobre samba, tropicalismo, MPB, brega, regionalismos e música SÍSIFO DESCE A MONTANHA. (12) Affonso Romano de Sant’Anna. A obra marca a volta do autor à poesia e reinstrumental. Editora Casa da Palavra. toma o mito grego de Sísifo, condenado ao exaustivo e inútil KIND OF BLUE: MILES DAVIS E O ÁLBUM QUE trabalho de rolar uma grande pedra de mármore ao topo de REINVENTOU A MÚSICA MODERNA. Richard uma montanha. Uma delicada reflexão sobre a passagem do Williams. O álbum “Kind of Blue” (1959) mudou o tempo e a finitude. Editora Rocco. jazz de forma dramática e a música popular para sempre. O autor acompanha o nascimento e os ecos da SOLO. (13) Considerado um dos mais completos músicos criação de Miles Davis até os dias atuais sem perder o brasileiros, Cesar Camargo Mariano relembra histórias marcantes dos 50 anos de carreira, dificuldades e conquistas de fôlego. Editora Casa da Palavra. sua trajetória musical. Histórias divertidas e dramáticas LÁ ONDE OS TIGRES SE SENTEM EM CASA. (9) de quem viveu intensamente cada momento da música Jean-Marie Blas de Roblès. O escritor conta a história brasileira. Editora Leya Brasil. de um jornalista francês, no Maranhão, preparando a 25


cultura versátil

TEATRO

por Claudia Liba e Valéria Diniz

Luciana Bortoletto

AS CEGAS. Uma psiquiatra, uma cega e a morte discutem fármacos, consumo e alienação. A peça traz dança, vídeo e pesquisa sonora. Texto e direção de Cláudia Maria de Vasconcellos. Com Gil Grossi, Neca Zarvos, Vera Bonilha. Viga Espaço Cênico. Rua Capote Valente, 1.323, Pinheiros, (11) 38011843. Até 17 de novembro. O CASAMENTO SUSPEITOSO. Baseada na obra de Ariano Suassuna. Uma jovem quer se casar com o filho de uma família rica. A peça retrata a cultura nordestina. Direção: Sérgio Ferrara. Com: Marco Antônio Pâmio, Suzana Alves, Rogério Brito. Teatro do SESI. Avenida Paulista, 1.313, Bela Vista, (11) 3146 7405. Até 04 de dezembro.

Jairo Goldflus

O LIBERTINO. Texto: Eric-Emmanuel Schmitt. O filósofo francês Denis Diderot interrompe as férias para escrever com urgência um verbete sobre moral. Direção e adaptação: Jô Soares. Com Cassio Scapin, Luciana Carnieli, Luiza Lemmertz, Erica Montanheiro, Tânia Casttello e Daniel Warren. Teatro Cultura Artística Itaim. Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1.830, Itaim, (11) 3258 3344. Até 27 de novembro.

PÍRAMO E TISBE. Inspirada na obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Voltada ao público adolescente, a peça retrata os sonhos e as frustrações juvenis. Texto e direção: Vladimir Cappella. Com 28 jovens atores e músicos. Grátis. Teatro do SESI. Avenida Paulista, 1.313, Bela Vista, (11) 3146 7405. Até 04 de dezembro.

COPACABANA. Babou viveu ignorando convenções sociais, levando uma vida nômade ao lado da filha pequena. Quando adulta, ela se envergonha da mãe, que decide mudar e é contratada para vender apartamentos no litoral em pleno inverno. Direção: Marc Fitoussi. Com: Isabelle Huppert, Jurgen Delnaet, Chantal Banlier.

Luciano Piva

por Claudia Liba e Valéria Diniz

Divulgação

CINEMA

Renata Duarte

PEIXE VIVO. Baseada em A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa e Esperando Godot, de Beckett. Pescadores contam estórias musicais e encontram um peixe dourado. Texto e direção: José Geraldo Rocha. Com o Grupo Pasárgada. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000, Vergueiro, (11) 3397 4000. Até 06 de novembro.

FAMÍLIA VENDE TUDO. Uma família de desempregados viaja ao Paraguai para trazer contrabando para São Paulo. O plano dá errado e surge a ideia de juntar a filha com um cantor de sucesso, com o velho golpe da barriga. Direção: Alain Fresnot. Com Caco Ciocler, Lima Duarte, Vera Holtz, Marisa Orth, Rosi Campos, Lília Cabral. O FILME DOS ESPÍRITOS. Baseado na obra de Allan Kardec. Bruno perde a esposa, o emprego e, deprimido, pensa em suicídio. Ao ler O Livro dos Espíritos, vê uma nova realidade e busca ser feliz através da compreensão dos mistérios. Direção: André Marouço e Michel Du Bret. Com Nelson Xavier, Sandra Corveloni, Ana Rosa. O GAROTO DE BICICLETA. Um garoto é abandonado em um orfanato pelo pai e faz de tudo para reencontrá-lo. Depois de ser novamente rejeitado, é acolhido por uma cabeleireira que tenta ajudá-lo. Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne. Com Cécile De France, Egon Di Mateo, Thomas Doret, Jeremie Rein. Estreia: 04 de novembro.

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EXPOSIÇÃO

por Valéria Diniz

EXTREMOS: FOTOGRAFIAS DA COLEÇÃO DA MAISON EUROPÉENE DE LA PHOTOGRAPHIE – PARIS. Em parceria com a MEP-Paris, o Instituto Moreira Salles sedia a mostra com 100 imagens feitas por fotógrafos renomados sobre situações extremas dos indivíduos, da história, das sociedades e dos costumes nos últimos 65 anos. Grátis. IMS. Rua Piauí, 844, Higienópolis, (11) 3825 2560. Até 27/11.

Rua Leste, 1996 Bruce Davidson

MÚSICA

Comunhão I, 2006 Rodrigo Braga

Comunhão III, 2006 Rodrigo Braga

por Antonio Gomes

Segundo o crítico Antonio Cândido, a música popular tornou-se no séc. XX o “pão nosso cotidiano da cultura nacional”. O fenômeno que, a partir dos Festivais da década de 1960 viria a ser resumido e reconhecido como MPB, tem influência de vários gêneros: modinha, lundu, choro. O samba destaca-se como o primeiro produto cultural popular, urbano e de massa! De Chico Buarque a Marisa Monte, e até “roqueiros” como Cazuza, beberam das águas cristalinas de Sinhô, Noel, Cartola.

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PARA LER (1) Almanaque do Samba, de Andre Diniz (Editora Zahar). PARA OUVIR Maria Bethânia Canta Noel Rosa (1966) (2) Batuque na Cozinha, de Martinho da Vila (1972)(3) Martinho Da Vila – Origens (Pelo Telefone) (1973) (4) Acústico MTV Zeca Pagodinho (2003) (5) Foi um Rio Que Passou em Minha Vida, de Paulinho da Viola (1970) (6)

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diversatilidade

diei o quanto pude. Todos me diziam: “Você precisa consultar uma nutricionista; come mal e muito.” Nunca neguei nenhuma das duas coisas. Tinha consciência sincera de como flagelava este pobre corpo flácido e cansado; mas a alegria do meu espírito diante de uma boa pizza clássica, uma macarronada fumegante à putanesca ou uma perna de cabrito assada era o canto da sereia: irresistível. Um dia a balança me disse: Castanho, você é um obeso. O tal índice de massa corporal, esse termômetro diabólico, me expulsou do reino dos homens livres. Não poderia mais comer em paz. Por fim, decidi ir a uma nutricionista. Na sala de espera, havia uma mulher magérrima. O que aquele esqueleto fazia ali? Ela devia pesar 40 kg, menos da metade do meu peso! Talvez aquilo fosse justamente o resultado de uma dieta. Gelei... Quando nossos olhares se cruzaram, ousei trocar uma palavra de conforto. — Paciente habitual? — Não, é minha primeira vez. E você? Numa rápida conversa, descobri que ela estava ali porque precisava de um regime para engordar. ENGORDAR! Quase disse a ela: “Minha filha, não precisa pagar consulta. Eu te prescrevo uma dieta de engorda deliciosa.” A minha dieta, lógico. Quem me dera estar naquele corpo esquálido e cheio de ângulos agudos! Eu era prisioneiro de um corpo disforme, como se um bando de elipses, hipérboles e círculos estivessem de mãos dadas. Quando entrei no consultório, a nutricionista exibiu um sorriso doce e acolhedor. Senti que era uma maquiavélica preparação para o momento do sacrifício. — Seu Castanho, tudo bem? Trocamos algumas amenidades inofensivas e ela logo começou uma discurseira longa sobre a importância de uma alimentação saudável. De repente, calou-se; creio que leu o terror nos meus olhos. — Seu Castanho, o senhor não vai deixar de comer o que gosta! Não se preocupe. Isso me animou, embora desconfiasse estar sendo arrastado para o vale da fome. — Verdade? Por exemplo... — disse eu, curioso. — Por exemplo... o senhor sai para comer pizza com os amigos. Ao invés de beber vários chopes, peça apenas UM. Tome-o devagarinho, sorvendo cada gole e sentindo o sabor em profundidade. Parecia coisa de Marchand. Ela se esqueceu de dizer que, no final, ele estaria tão morno que lembraria um chá de boldo. — Quando for pedir a pizza — continuou ela — no lugar de uma calórica, tipo 4 queijos, peça uma de abobrinha, berinjela ou rúcula. Apesar do futuro sombrio, no íntimo, tinha a intenção sincera de tentar seguir esse martírio. — E, ao invés de comer 7 pedaços, coma apenas UM. Pronto! No lugar de uma honesta e cruenta proibição, a velha conversa mole de que você pode comer de tudo, desde que porções ridículas que somente se prestam a abrir o apetite! Não aguentei.

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— Ah, não! Doutora, assim não dá! Isso é o pior dos mundos! Comer um único pedaço de pizza diante daquele cheiro penetrando em minhas narinas, escalando meu nervo olfativo e apertando meu encéfalo? Não! Prefiro então radicalizar. Nem saio de casa. Fico lá, cogitabundo, devorando uma salada sem tempero e vou dormir para esquecer a fome. Ela tentou me acalmar. Disse que eu poderia fazer alguns excessos UMA vez por semana. Isso pareceu liberdade condicional de presidiário. Comecei a suar frio. — Tudo bem, seu Castanho? — Sim, sim... Sim uma pinoia! Meu coração era arrombado por uma angústia pontiaguda. Mas eu não havia superado tantas barreiras para perecer ali, antes de sequer tentar. Respirei fundo, engoli um trago de saliva grosso e continuei a ouvir as suas recomendações. — Esses alimentos o senhor deve evitar... Mostrou-me uma lista enorme. Lendo-a, enxerguei a própria razão da minha existência: macarronadas, vinhos, compotas, doce de leite, pães, bolos. Mas o pior estava no fim da lista. — Mas... por que eu não posso comer queijos gordos? — Esses queijos são altamente calóricos. Além disso, são ricos em gordura animal saturada e sal. Lembrei um velho ditado: não está morto quem peleja. — Desculpe, mas isso é inegociável. Adoro queijos. — O senhor pode fazer uso de ricota... — A senhora deve estar brincando de chamar isso de queijo! — retruquei, exaltado — Eu como queijo todo dia. Meu grande prazer é quando, no final do mês, ao sobrar um dinheirinho, vou ao mercado e compro um monte de queijos diferentes e fico saboreando-os com vinho – outro item proibido, aliás. Não, não dá. Não vou seguir isso. — Seu Castanho, calma... Levantei da cadeira decidido a ir embora. — Nada pessoal, doutora, mas não posso. Queijos, não abro mão. Desculpe tomar o seu tempo. Então, subitamente, dois assistentes entraram na sala e rapidamente me agarraram pelos braços, imobilizando-me. — Seu Castanho, por favor, coopere — disse ela. Um deles enfiou a mão no bolso da minha calça. — Doutora, veja o que ele estava portando! Uma pedra de parmesão! Olhares incriminadores me fulminaram. — Vai ficar tudo bem, seu Castanho. Podem levá-lo... Depois que ela disse isso, uma mão pousou em meu ombro e eu tive um sobressalto. — Seu Castanho, sua vez. Era a atendente. Percebi que permanecera sentado o tempo todo na sala de espera. Eu havia passado por uma espécie de surto alucinatório aterrorizante. Respirei fundo, me recompus e me encaminhei, finalmente, para a consulta. Súbito, disse para a atendente: — Posso usar o banheiro antes? — Lógico. É ali... Entrei no cubículo branco e tranquei a porta. Meti a mão no bolso da calça e peguei minha pedra de parmesão. Devorei-a ali mesmo, em dois minutos. Alexandre Lourenço é Veterinário, microbiologista, professor, bípede, mamífero e, agora, escritor. Não necessariamente nesta ordem. duralex@uol.com.br - www.microbiologia.vet.br




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