Versátil magazine

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editorial Caros leitores, Mais uma vez preparamos para vocês uma edição que traz conteúdo cultural selecionado com muito cuidado. Em nossa capa, uma das mulheres mais impactantes do cenário artístico atual, a atriz Tania Bondezan. Entrevistamos também outra grande mulher deste mesmo cenário: a jornalista e escritora Célia Forte, autora da peça protagonizada por Tania. Em cartaz no teatro Eva Hertz, a peça Ciranda teve uma estreia aplaudidíssima por grandes atores e diretores de teatro, grandes representantes da classe artística brasileira. Sem dúvida o espetáculo é ótimo. Leva ao palco emoções vivenciadas por todos e trata o tema “amor” com um refinamento digno de ser visto por vocês. Ainda nesta edição, um assunto muito importante na coluna Educação: Vestibular! Reunimos quatro grandes nomes para conversar sobre o tema: três professores e um psicólogo. Leiam o que os profissionais pensam sobre o assunto e atentem para a importância do papel que tem o professor na vida dos adolescentes neste momento. Dando continuidade à coluna Páginas Verdes, o texto “Pegada Ecológica”, de Rubens Borges, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, mostra o quanto impactamos o planeta. Vale a pena conhecer mais sobre o tema e refletir. Assim, conseguiremos mudar para melhor o mundo em que vivemos. E ainda tem Arte na fotografia de Angela Di Sessa, que mostra um trabalho primoroso realizado em suas viagens para Puglia. Ela capta imagens e cenas maravilhosas e enriquece nossa edição. Em Literatura, a entrevista com o escritor Sergio Napp, autor do livro Menino Com Pássaro Ao Ombro, inicia, na Versátil,

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uma coluna dedicada às crianças. Aguardem grandes surpresas na próxima edição. Claudia Liba claudia.liba@revistaversatil.com.br www.revistaversatil.com.br twitter @versatilmagazin

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6 Educação Para Quem Vai Prestar o Vestibular O Que Você Vai Ser Quando Crescer?

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Uma Paisagem, Uma Fotografia, O Olhar Da Fotógrafa Angela Di Sessa

16 Páginas verdes Pegada Ecológica

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18 Capa Entravista com Tania Bondezan & Célia Forte

22 Gastronomia O Medo do Novo

18 24 Literatura Menino com Pássaro ao Ombro

26 Cultura Versátil

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30 Diversatilidade


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PARA QUEM VAI PRESTAR O VESTIBULAR Escolher uma profissão é escolher a maneira pela qual você vai se exercer na vida, é escolher a forma através da qual você melhor expressará suas características. Não é apenas uma forma de ganhar dinheiro, de conquistar o sustento para si e para os seus.

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Pois bem, agora que você vai prestar vestibular, é preciso lembrar as razões pelas quais você está saindo. Apesar das separações, apesar da tristeza, das perdas que essa etapa da vida dispõe no seu caminho, não se esqueça: Você está saindo para ser! Para ser si mesmo! Para ser si mesmo instrumentado pela profissão que você escolheu, pelo conhecimento que ela lhe oferece!

ou psicoterapeuta. E, hoje em dia, a palavra que mais tenho ouvido no consultório é desamparo. Ninguém fala, mas é como se dissessem: “Ninguém por mim”. E fico me lembrando do que os antigos diziam: “Nascemos sozinhos, morremos sozinhos e ninguém substitui a ninguém na tarefa de viver”. De fato, essa expressão descreve o desamparo a que estamos lançados desde que nascemos. Ninguém poderá pensar nossos pensamentos, sentir nossos sentimentos e sensações, ninguém jamais lembrará a nossa história como se fosse a sua. Estamos sós na tarefa de viver. Para essa palavra dos nossos dias é difícil encontrarmos um antônimo. A esse desamparo que é condição da nossa existência pessoal, a palavra amparo não faz um bom contraponto. Porque por mais que estejamos amparados na vida, ainda assim ninguém irá nos substituir em nossa individualidade. Talvez a palavra que mais se assemelha ao oposto de desamparo seja a palavra pertencimento. Pertencemos a grupos sociais: família, amigos, colegas de trabalho, bairro, cidade, país, cultura. E esse pertencimento nos dá uma identidade social. “Diz-me com quem andas que te direi quem és” expressa bem a noção de que boa parte da nossa identidade deriva do pertencimento. E quando crianças, esse pertencimento é fundamental. Se perguntarmos a uma criança de três ou quatro anos quem ela é, a resposta envolverá sua família: “Sou filho de...”. Esse pertencimento familiar dá conta do significado da existência de uma criança, a tal ponto que ela vive esquecida de si, ignorando a existência de sua individualidade. Vive na inocência (palavra que em latim significa: no não conhecimento).

Nesse momento em que você vai prestar vestibular, buscando entrar numa faculdade e aprender uma profissão, também estará saindo de um colégio, de uma escola que nos últimos anos deu a você um cotidiano, a organização das suas horas diárias, um grupo de amigos e o papel social de estudante. Tudo isso, bem ou mal, em maior ou menor grau, você vai perder. Vai perder um pertencimento, vai deixar hábitos, familiaridades, regras assimiladas, caminhos para a escola, mochila, cantina, todo um entorno que dava sentido aos seus dias. Vai partir. Por que deixar os lugares de pertencimento se eles são assim tão significativos? Por que aventurar-se numa tentativa, muitas vezes mal sucedida, de prestar o exame vestibular? Por que partir e deixar as pessoas que ama e às quais você já se habituou há tanto tempo? Não seria mais fácil deixar de lado as provas do último bimestre e repetir de ano? Você e toda sua turma? E, se formos mais longe, por que você saiu da barriga da sua mãe? Não teria sido melhor estancar o crescimento e ficar no escurinho do ventre materno, sem cobranças, sem necessidades? Permanecer no Paraíso, onde não era preciso fazer coisa alguma para garantir sua sobrevivência? E por falar nisso, por que Adão e Eva tiveram de sair do Jardim do Éden, onde eram imortais e não eram obrigados a nada para garantir sua subsistência? Por que inventaram de comer os frutos da Árvore da Sabedoria do Bem e do Mal se o pertencimento ao espaço eterno, se o estar no Paraíso garantia suas vidas? A sedução da serpente estava na tentação de que se comessem a maçã seriam como Deus. E comeram. E ao comerem mostraram quatro novidades: quiseram;

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quiseram ser; quiseram ser como Deus; quiseram ser como Deus através da sabedoria. No Paraíso, não havia necessidade de querer, não havia hiato entre desejo e prazer, não havia tempo. Todo querer é filho da falta. Não há falta no Paraíso. E eles quiseram. No Paraíso, não havia necessidade de ser, bastava estar, bastava pertencer ao Jardim do Éden. E eles quiseram ser. E pior: quiseram ser como Deus, ou seja, além de criaturas quiseram ser criadores. E mais: quiseram ser criadores através da incorporação do conhecimento, da sabedoria, representada pela maçã. Tudo o que se passou em seguida foi coerente com esse desejo. Deus expulsa o primeiro casal do Paraíso. Lógico: lá é lugar de estar, de pertencer, não é lugar de ser. E diz: “Comerás o pão feito com o suor do teu rosto”. Lógico: agora, para estar, para garantir sua sobrevivência, é preciso ser. E ser o quê? Ser si mesmo, construído por si mesmo, através do conhecimento. Pois bem, agora que você vai prestar vestibular, é preciso lembrar as razões pelas quais você está saindo. Apesar das separações, apesar da tristeza, das perdas que essa etapa da vida dispõe no seu caminho, não se esqueça: Você está saindo para ser! Para ser si mesmo! Para ser si mesmo instrumentado pela profissão que você escolheu, pelo conhecimento que ela lhe oferece! Escolher uma profissão é escolher a maneira pela qual você vai se exercer na vida, é escolher a forma através da qual você melhor expressará suas características. Não é apenas uma forma de ganhar dinheiro, de conquistar o sustento para si e para os seus. É errôneo imaginar que existe uma profissão à qual você melhor se adapta. O ser humano pode exercer qualquer profissão. Mas existem poucas que habilitam você a exercer o seu melhor, as suas melhores características pessoais. Escolha bem, prepare-se com seriedade para realizar seu projeto de ser. E boa sorte na vida! Miguel Perosa é professor da Faculdade de Psicologia da PUC-SP e psicoterapeuta de adolescentes e adultos.

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por

Claudia Liba

A palavra causa ainda um pouco de desconforto. No dicionário, a etimologia vem do Latim vestis, que significa roupa, veste. Vestibulum é um diminutivo que representa, na entrada da casa ou hall, local onde as pessoas acomodam roupas de rua, como sobretudo e capa de chuva, bengalas, guarda-chuva. Também indica, em anatomia, dilatações no início de um canal. Da noção de “entrada”, passou a indicar também a “aprovação” no ensino superior. Infelizmente, os adolescentes que vivenciam descobertas incríveis, como ter autonomia de sair sozinho, dirigir um automóvel (em vez do videogame), de começar a experimentar a sexualidade, precisam também decidir qual profissão exercer! Eis um grande passo a ser dado, um grande momento, que vem rodeado por ansiedade e dúvidas. Nós conversamos com os profissionais que estão, também, cuidando do seu filho neste período. Eles fazem muito mais que ensinar a matéria do vestibular. São também aqueles que dão as mãos para esses “caras” desengonçados e ansiosos, levando segurança, olhando para eles confiantes e dizendo, diariamente, “acredito em você”. E que contam pra gente, entusiasmados, quantos alunos foram aprovados nos vestibulares. A figura do professor nesta etapa da vida é muito importante. Conversei com uma equipe afinadíssima, os professores do Colégio COC Vila Yara: Marcelo Vilela Resende, professor de Química, coordenador do Cursinho e assistente de coordenação do Ensino Médio; Claudio Fernando Izidoro Pinheiro, coordenador do Ensino Médio, e Márcia Celestini Vaz, coordenadora da Área de Linguagens e Códigos, que assessora, organiza e orienta, junto aos professores de Língua Portuguesa, o trabalho de produção de textos de todos os segmentos do colégio. Cada um contribui com o que pode e vão muito além de passar conteúdos do vestibular. Na conversa, muita empolgação para contar as atividades que realizam na escola e que, muitas vezes, permanecem nos bastidores. Quero contar um pouco do que pude perceber do compromentimento deles com os alunos. Presenciei sentimentos de orgulho e satisfação ao contarem sobre o trabalho e os resultados com os alunos. Só quem já foi professor tem a dimensão da felicidade da sensação de missão cumprida. Começamos nossa conversa com o Resende, professor de Química. Ele ministra aula para todos os anos do Ensino Médio, coordena o cursinho COC e ainda é assistente da coordenação do médio. Ele me recebeu em sua sala, a que vários alunos têm acesso livre, seja para ler os jornais que espalham na mesa, seja para pegar várias apostilas de exercícios ou para tirar dúvidas.



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Sem dúvida, o Resende deve ser uma pessoa mais que requisitada na escola. Tivemos de mudar de sala para conseguir um pouquinho do tempo desta celebridade! Durante nossa conversa, ele contou que, para o vestibular, desenvolve um trabalho diferenciado com a disciplina de Química: “No COC, tem muito exercício, uma rotina pesada mesmo! Os alunos ficam de manhã aqui. No primeiro ano, permanecem dois dias da semana em período integral. No segundo ano, ficam um pouco mais, até que, no terceiro ano, são 40 horas de aula por semana.” Ele conta ainda que apesar da origem do ensino COC ser muito voltada para o vestibular, a escola investe em uma formação ampla: “Fazemos um trabalho bem diferenciado, porque, apesar de os pais escolherem a escola por apresentar um ensino forte, o aluno do primeiro ano do médio chega para nós ainda sem essa preocupação com o vestibular.” O professor ainda detalha: “Quinzenalmente tem avaliações moldadas nos exames Enem e nos vestibulares. O aluno não faz a prova na sua sala, nós misturamos, como no dia da prova. Há testes e questões dissertativas com temáticas de vestibular. Fazemos também simulados tipo Enem para o terceiro ano.” Já para a coordenadora Márcia, que trabalha de forma inovadora com os alunos a produção de textos e leitura, “há a necessidade de atuação em várias frentes e diversos níveis de leitura para este período de formação da vida deles, que se inicia com o ensino fundamental, para que se construa o comportamento leitor.” Para ela “é importante construir um comportamento leitor para que o aluno se torne apto a ler e, consequentemente escrever, considerando as diversas situações reais de comunicação e interação, desmitificando a ideia do ler porque a escola obriga e a escrever para a professora.” Por isso, ela enfatiza a importância de mostrar ao aluno que há um interlocutor. Daí a necessidade de estar em sintonia com a nova perspectiva de abordagem para a produção de textos, os gêneros textuais. Márcia explica: “A escola, como instituição responsável pela formação educacional das pessoas, tem um histórico de trabalho com a tipologia (a descrição, a narração, a dissertação, a argumentação). A abordagem pelos gêneros faz com que o aluno conheça e compreenda melhor os textos que existem e circulam socialmente, como artigos de divulgação científica, crônicas, romances, contos.” Sem dúvida, há mais liberdade na proposta dos gêneros da qual a professora Márcia lança mão. Mas ela coloca que “transpor esse universo real de leitura e escrita para a escola é um desafio, por isso a importância do planejamento e da elaboração de estratégias que visam a contextualização dessas práticas.” Quando peço detalhes sobre tal liberdade de produção dos textos, ela comenta que há um “enquadramento”. Não no sentido pejorativo, mas há, na proposta da atividade, 10

um direcionamento. Cria-se uma situação para que o aluno desenvolva a sua produção: “Para os primeiros anos, foi organizado um curso que atenda à expectativa do ano: a formação do leitor. Daí o investimento em gêneros do narrar, como crônicas, contos, autos, com, progressivamente, a introdução de gêneros do expor, uma notícia, a reportagem. Os segundos anos trabalham textos que exijam já um certo posicionamento crítico, uma crônica argumentativa, um artigo de opinião. Só que, quando você escreve um artigo de opinião, há de pensar para quem está escrevendo. Aí está a necessidade do ‘enquadramento’, de propor uma situação.” Márcia exemplifica: “O aluno deverá escrever como jornalista iniciante na carreira, que lê um artigo de um jornalista experiente do jornal X, e tem de se posicionar frente ao texto. Ele tem um interlocutor. Naquela posição, então, como é que ele traz argumentos pertinentes? Não pode escrever sem considerar a situação estabelecida, mas seguir o contexto proposto: ser o jornalista iniciante, com um público-leitor específico e que possui como texto-base a matéria feita por um outro jornalista.” Por sua vez, esse texto circula pela escola, é leitura, por exemplo, das turmas dos terceiros anos, focadas em gêneros que exijam a argumentação, como a carta do leitor. Desse modo, há sempre um trabalho integrado entre as turmas. Um tema recente é o que envolve a polêmica sobre o uso do celular na escola. Será que os alunos deveriam ou não trazer o celular para a escola? Houve artigos de opinião escritos pelos segundos anos, enquanto os terceiros, com base nesse gênero, produziram a carta do leitor. Os alunos do terceiro ano leram o artigo e responderam por meio de uma carta de leitor, considerando que deveriam representar um profissional da equipe gestora da escola (o coordenador, a diretora, a orientadora educacional), que tomasse um posicionamento. Depois, toda a experiência foi postada no site da escola, para divulgação às comunidades interna e externa. Além disso, a escola instituiu um mural de exposição das produções dos alunos. Conversando com os professores sobre a situação emocional do aluno que fica 40 horas dentro da escola, quem deu o tom da segurança da equipe quanto à administração do estresse foi o professor Pinheiro. Tranquilamente, explica: “São 40 horas de atividades disponíveis aos alunos. Há listas de exercícios para vestibular, período para esclarecer dúvidas com os professores, os simulados nos finais de semana. Os alunos podem também fazer os simulados do cursinho como convidados. Tem também plantões online, inclusive aos sábados. Então, eles têm à disposição muitas coisas. Um dado que considero importante são os trabalhos voltados aos projetos de vida.” Quis saber mais, e ele contou que é trabalhado com o aluno o que ele deseja para a sua vida. Muitos querem passar no curso de Medicina da USP. Então, a escola


proporciona tudo o que é necessário para este vestibular. Mas há aqueles que desejam um intercâmbio, uma viagem para outro país. Também há essa discussão e a devida orientação no que se refere a esse projeto de vida específico. São oportunidades diversas que visam atender o interesse e a necessidade do aluno. O professor Resende acrescenta que “não conhecer gera ansiedade”. Para amenizar a situação, houve também uma visita à Feira de Profissões da USP, para a qual o colégio levou os alunos a fim de apresentar as diversas possibilidades profissionais. Segundo o professor, “o retorno foi muito positivo, segundo observamos nas redes sociais. Além disso, há pessoas aqui na escola que orientam os alunos e os direcionam em relação a seus desejos, ouvindo os alunos. Claudio Fernando Izidoro Pinheiro é Coordenador Pedagógico do Ensino Médio do Colégio COC Vila Yara, Licenciado em Física pela IFUSP, Pósgraduado em Coordenação Pedagógica pela PUC-COGEAE e MBA em Gestão Educacional pela Escola de Negócios Trevisan.

Há um gerenciamento de estresse de forma bem cuidadosa. Uma das atividades é o OLICOC, que acontece num sítio com piscinas, quadras, com atividades entre alunos e professores. Pinheiro conta: “Este é o dia em que bandas se apresentam, e a gente descobre habilidades. Uma aluna apresentou-se tocando flauta transversal, outro aluno, violão, e há várias apresentações que surpreendem.” A professora Márcia conta ainda uma experiência cultural, de ida ao teatro, que proporciona a possibilidade de integrar assuntos de Literatura, História e Sociologia na mesma atividade. E finaliza: “O trabalho com a leitura e a produção de textos integrado às diversas disciplinas e eventos culturais desenvolve a percepção para os alunos de que têm à disposição um imenso Marcelo Vilela Resende é Professor de Química para o Ensino Médio, Assistente da Coordenação do Ensino Médio e do Cursinho do Colégio COC Vila Yara e Bacharel em Química pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo.

‘banco de dados’, oferecido pela própria escola por meio de suas aulas, atividades diversificadas, estudos do meio. Orientamos os alunos a saber interagir com tanta informação, promovendo a transformação dela em conhecimento”. Talvez um professor seja um pouco pai e mãe dessa geração que cresceu sacrificada pela vida corrida, que exige dos pais mais de 40 horas de trabalho semanal. Tudo para garantir uma boa formação aos filhos. Talvez muitos ainda não saibam o quanto um mestre representa. Pense nisto. Valorize o professor!

Márcia Celestini Vaz é Coordenadora da Área de Linguagens e Códigos Códigos Cód Códig Có ód ó digos gos do Colégio COC Vila Yara, Bacharel e Licen Licenciada icenc ennnccci em Letras-LP (PUC-SP), Especialista em Li Literat Literatura iteratu it eratu atu (PUCUCSP), Mestre em Comunicação e Semiótica ótiiiccaa (PUC-SP) ót óti P) e Doutora em Linguagem e Educação (USP).


stritamente uma ficção. Qualquer semelhança om a realidade é mera coincidên-

UMA PAISAGEM, UMA FOTOGRAFIA, O OLHAR DA FOTÓGRAFA ANGELA DI SESSA viagem

Não há dominação ou captura de uma foto, ao contrário, sou fisgada e levada a um lugar onde há potência expressiva, do qual retorno através de um trabalho de elaboração estética com a imagem fotográfica 12

e arte, conceitualmente, implica na capacidade de uma obra suscitar emoções, sentimentos e mudanças no estado de espírito das pessoas, então, fotografar é uma arte. São lugares, pessoas, objetos que inspiram o fotógrafo e que incitam o desejo de expressar, com o seu olhar, situações únicas, momentos captados pela câmera e que serão vistos por outros olhos. Ou lentes que captarão, dos retratos, a sua própria interpretação. Não há que falar mais nada. As imagens da fotógrafa Angela Di Sessa são suficientes. Temos enorme felicidade em apresentar um pouco de seu trabalho a vocês.


Versátil Magazine: Quando você se percebeu como fotógrafa? Angela Di Sessa: Ganhei minha primeira câmera Kodak Rio 400 quando tinha oito anos de idade, no Natal, e depois de acionar o primeiro clique nunca mais deixei de fazê-lo. A câmera tornou-se uma extensão natural de meu olhar e das minhas mãos, uma forma de grifar no dia a dia pequenos encantamentos e, assim sendo, de tentar provocá-los também. É uma linguagem que se constituiu como traço de minha identidade e senso de contato humano. O processo de formação estruturou a minha experiência com o mundo das artes dentro do Curso Técnico de Comunicação Visual no IADÊ, Instituto de Arte e Decoração. A efervescência deste processo educacional foi decisiva na criação de imagens e na compreensão

de procedimentos didáticos para a área de artes visuais. A intensidade da experiência com o mundo das artes e a descoberta do desenho de observação determinaram que minha escolha de curso superior na FAAP recaísse sobre o único curso, a meu ver, na época, capaz de satisfazer meu anseio em aprofundar-me no setor. Ainda como estudante fui estagiária no CONDEPHAAT, onde exercia a função de fotógrafa de patrimônio e bens culturais. A vivência com arquitetos como Rui Ohtake, Nelson Leirner, Julio Abe, Carlos Lemos, entre outros, garantiu uma experiência sólida e um mergulho na produção da imagem fotográfica. Neste momento aparece, migrando da latência para a visibilidade (assim como no processamento químico fotográfico), a minha identidade profissional de fotógrafa.

VM: O que pensa sobre o ato de fotografar? AS: O ato de fotografar, em meu trabalho, tem como origem o ato de organizar um processo de observação de mundo que sonda a dimensão formal e estética de tudo o que se coloca à minha frente. Da mínima distância entre o sentido de alguma coisa e de sua forma é que se sustenta minha prática de observação e registro. Então, as formas, os brilhos, as luzes, as texturas, as relações fundo/figura são a sua matéria, ainda que tenha a tarefa de documentar algo. Portanto, o ato de fotografar gera um processo de consciência formal e ressignificação de referências para autor e fruidor, fato que gera também uma dimensão didática. A referência subjetiva em minha prática é que cria o repertório que vai ser usado na atuação

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profissional, seja ela enquanto fotógrafa consciente. Me dei conta de que cutucar o solo seja ela enquanto docente. de uma cidade de imigrantes, como São Paulo, faz emergir outros lugares e que a construção VM: Angela, fotografia é arte? de pontes culturais efetivas é uma necessidade AS: Esta pergunta persegue a fotografia para a constituição de construção de identidade desde seu nascimento e acredito que pode social. Um percurso de mais de dezessete anos ser respondida através de outras perguntas: de trabalho – mostras de fotografia e atividades escrever é arte? dançar é arte? culturais – aconteceu entre Brasil e Itália antes da criação do projeto que nomeei “Santu Paulu”. O VM: De que forma os lugares, as pessoas e as acesso à produção fotográfica realizada em Poligcenas cotidianas seduzem ou inspiram você para nano a Mare, através de exposições, disparou uma fotografar? interação pública que provocou o meu desejo em AS: Na busca da imagem em campo, eu coloco ouvir as histórias que as imagens desencadeavam, meu olhar para ser “fisgado” por algo. De maneira assim como acessar as imagens de acervos fageral, é como a luz molda as formas ou pela mo- miliares que me eram mostradas por outros desbilização subjetiva que algo me provoca que sou cendentes. O projeto “Santu Paulu” nasce, capturada. Na hora que percebo uma fresta numa então, como uma forma de sistematização e dimensão não-verbal das coisas, as apreendo de construção de acervo digital audiovisual que outra forma e crio a imagem. Podem ser paisagens é rearticulado para fruição pública na forma íntimas que se moldam em referências externas de exposições, concertos, workshops e publifeito um espelhamento, um detalhe de algo que cações que aproximam o descendente desta cairia no esquecimento que meu olhar resgata, o região, no sudeste da Itália, chamada Puglia. sincronismo de estar no lugar certo na hora certa Hoje o projeto possui uma coleção com mais para acionar o disparador. O encantamento é es- de noventa horas de história oral registrada, sencial: descobrir, através do visor, uma dimensão seiscentas imagens de família, quatro mostras desconhecida do cotidiano que provoque prazer produzidas, apresentação de concertos musiestético. Portanto, não há dominação ou captura cais e publicação de livro de culinária. de uma foto, ao contrário, sou fisgada e levada a um lugar onde há potência expressiva, do qual re- VM: Em que momento nasceu a ideia de letorno através de um trabalho de elaboração esté- var as pessoas aos mesmos locais da Itália? tica com a imagem fotográfica. O olhar lapidado Qual é o seu objetivo? pela prática do desenho funciona como árbitro AS: A mobilização que o projeto “Santu Paulu” para a escolha de territórios plásticos de trabalho. criou levou à ação efetiva de partilhar não só as imagens, mas a experiência concreta de VM: Como nasceu a ideia de fotografar apresentar aos descendentes puglieses suas uma região específica da Itália no Projeto cidades de origem. A Puglia provoca, no Santu Paulu? entanto, um interesse especial, não só diAS: O ritmo da cidade de São Paulo já havia me rigido a seus descendentes. incitado a sondá-lo. A exposição urbana diária Destaca-se hoje pela atenção com o meio ambifez com que inúmeras vezes o vidro dianteiro ente, pela importância dada por seu governador do carro se transformasse em visor, assim como Nichi Vendola à produção cultural, preservação tantas outras janelas reais ou imaginárias. Porém, patrimonial e pela prática de turismo sustentável. um dia, caminhando no meio da cidade, decido Vendola apostou na vocação local. fotografá-la. Com o olho amalgamado ao visor, A região é chamada hoje, pelos próprios italianos, faço caber em mim o que, de fora, também me de “Nuova Toscana”, e se coloca como um despertence. Nesse momento, foram os detalhes, os tino de viagem que é expressão de um comportaprimeiros planos. Eles pareciam delimitar ape- mento contemporâneo que reconhece sofisticanas o início de uma fronteira de outro lugar ção na simplicidade. longínquo que cutucava para ser visto. Um dos berços da dieta mediterrânea, a Puglia No ensaio fotográfico resultante, imagens em possui ao menos quatro cidades certificadas primeiro plano pareciam pequenos documen- pelo movimento slowfood, e outras quatro tos de uma arqueologia pessoal e me indicavam cidades tombadas como Patrimônio Mundial a cartografia da cidade dos meus avós paternos: pela UNESCO. Diante da Croácia, Albânia e Polignano a Mare. Entendo que este vilarejo Grécia, a Puglia também se tornou conhecida habitava uma dimensão de minha memória e pela qualidade de acolhimento de sua popularesolvi conhecê-lo. A intensidade da experiên- ção. A luminosidade local e a sua paisagem atemcia do contato com o lugar de origem de meus poral tornam Puglia um setting cine-matográfiascendentes foi intensa e permitiu o acesso a co a céu aberto. Pasolini, Lina Wertmuller, uma herança cultural que carregava de forma in- Mel Gibson, entre outros, já dirigiram suas

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lentes a este lugar. Esta viagem também provoca o participante a explorar o universo da imagem fotográfica. Campos cultivados há séculos, com mais de oito milhões de pés de oliveiras, inspiram a produção de imagens ímpares. Portanto, para além da construção de pontes identitárias com a cidade de São Paulo, a viagem pode ser a imersão em uma experiência sensorial, enogastronômica e expressiva muito gratificante. Desta forma posso partilhar minhas experiências de forma integral – como descendente, fotógrafa e docente. VM: Você considera que o ensino das técnicas de fotografia possa despertar a vocação artística de seus alunos? AS: A técnica fotográfica pode ser uma ferramenta muito eficaz para dar suporte à expressão pessoal dos estudantes, porém, deve-se pretender ir além de seu domínio ao ensiná-la. A confusão entre domínio técnico e qualidade expressiva deve ser evitada. A aquisição de linguagem é um processo mais complexo e delicado. Porém, é inquestionável que o prazer e envolvimento que a prática desta linguagem provoca permitem a articulação e maturação da expressão visual dos estudantes. VM: Como você vê o panorama artístico atual, com tantas novas ferramentas possíveis em relação à fotografia? AS: As fronteiras expressivas foram muito expandidas com o uso de novas tecnologias de produção de imagens. A quantidade de meios de captação (como o uso de celulares), de suportes disponíveis para a imagem fotográfica e dos meios de acesso a esta produção ampliaram muito o campo para experimentação e fruição destas imagens. O hibridismo das câmeras que permitem a fotocinematografia ou a aproximação com o universo da criação gráfica via novos sistemas de impressão dilataram muito o exercício desta linguagem. O domínio técnico na produção de impressos com tinta de pigmento mineral, por exemplo, expandiu a produção fine arts e a consequente formação de um segmento maior de colecionadores de fotografia. VM: O que pretende despertar nas pessoas com suas fotografias? AS: Fotografar é um ato que me constitui. Portanto, é uma das formas que tenho para me relacionar com o mundo. Se puder de alguma forma tocar uma dimensão mais sensível daquele que vê meu trabalho e gerar um pouco de consciência estética, fico feliz.


A viagem para Puglia integra as ações culturais do Projeto Santu Paulu, criado e coordenado por Angela Di Sessa desde 2003. A expedição cultural e gastronômica para a Itália leva os visitantes a paisagens cinematográficas. São grupos pequenos, por isso não perca tempo! Informações: (11) 2601 8318 / 9102 8437 Além da viagem, o Projeto Santu Paulu realiza outras ações culturais, entre elas a realização de um guia turístico da região, que já está na fase de captação de recursos. Aos interessados, visitem o site do projeto www.santupaulu.com.br. Todas as imagens desta publicação estão à venda. Angela é fotógrafa exclusiva da Galeria de Foto Fineart Lume Photos blogdalumephotos.com


páginas verdes

PEGADA ECOLÓGICA

egadas são aqueles rastros que deixamos ao longo do caminho. Quem nunca deixou suas pegadas na areia da praia ou na lama da beira de um rio durante um belo passeio no final de tarde? Pois bem, essas pegadas são as marcas de nossa passagem. Fazendo uma alusão ao nosso estilo de vida, podemos dizer que nossos hábitos também deixam marcas por onde passamos. É isto: tudo o que fazemos deixa um rastro que denuncia que, em algum momento, passamos em um determinado local. O mesmo acontece com o nosso planeta. A passagem do ser humano tem deixado marcas, e algumas muito profundas, de que estamos passando por aqui. Até pouco tempo atrás, as pessoas não faziam ideia de que seus hábitos poderiam influenciar tanto a vida das outras pessoas e do planeta de forma geral, pois não se tinha a consciência de que uma pequena atitude isolada podia refletir no planeta como um todo. É isto mesmo. Aquele papelzinho jogado na rua, o gotejamento de uma torneira vazando e o simples fato de escovar os dentes com a torneira aberta podem refletir em mudanças ambientais significativas. A tendência das pessoas é pensar que um único papelzinho não fará diferença em um planeta tão grande. Mas, se multiplicarmos esse papelzinho pelos milhões de pessoas que vivem em sua cidade, teremos milhões de paA pegada ecológica peizinhos e milhões de toneladas de lixo. A pegada ecológica nos mostra até que ponto nos mostra até nossa forma de viver é compatível com a capacidade que o planeta tem de nos fornecer recursos que ponto nossa naturais e de absorver os nossos resíduos. Pode forma de viver é não parecer, mas pequenas ações podem refletir em consequências que nem podemos imaginar. compatível Tanto positivas quanto negativas. Na verdade, a pegada é um cálculo estimativo, que com a capacidade pode ser avaliado tanto individualmente como em relação a uma cidade, a um estado ou país. Para isto que o planeta tem é preciso conhecer qual o tipo de vida praticado de nos fornecer em cada local, ou seja, há diferenças na pegada ecológica de áreas rurais, litorâneas ou das grandes recursos naturais cidades, pois esse cálculo tem a ver diretamente com o estilo de vida de cada um. e de absorver os Portanto, para a redução da pegada ecológica, é nossos resíduos. necessário adotar medidas adequadas ao seu meio. A densidade demográfica, o grau de industrialização ou o uso dos espaços definem o tamanho da pegada de cada cidade ou país. E nós? O que podemos fazer para a redução da pegada ecológica? Bem, primeiro é necessário analisar com detalhes a sua forma de viver. Quanto de recursos naturais você consome? De onde vêm esses recursos? Alguns sites especializados ou de Organizações Não-Governamentais reconhecidas podem ajudar nesse cálculo. Neles você encontrará testes que podem avaliar o tamanho da sua pegada.

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Após ter consciência do quanto você impacta no meio ambiente, algumas medidas poderão ser tomadas para reduzi-lo. É comprovado que essas atitudes, ainda que individuais no início, podem contagiar os outros e provocar uma mudança de comportamento em uma sociedade. O exemplo é o hábito de jogar lixo pela janela do carro. Há alguns anos, era mais comum ver esse tipo de comportamento; no entanto, hoje, raramente vemos tal cena e, quando vemos, criticamos severamente. Mas vamos à prática. Qual é o tamanho da sua pegada? A simples ação de ir ao supermercado pode despertar o início desse estudo. Ao fazer compras em um supermercado, o alimento que você consome é de origem animal ou O objetivo da pegada vegetal? Você transporta os produtos em ecológica não é sacolas plásticas ou retorná-lo vegetariano ou tornáveis? Você vai de carro ou usa um transfazer com que você viva porte mais sustentável? E por aí vai. em uma aldeia longe da Na sua casa, você usa lâmpadas tradicionais ou civilização, mas, sim, lâmpadas econômicas? sensibilizar as Que tipo de eletrodoméstico você usa? Você pessoas de que todos deixa eletrodomésticos ligados quando não está são responsáveis pelo usando? O que você faz que ocorre no planeta, com os resíduos produzidos na sua casa? Estes e que é esse planeta que são alguns exemplos do que pode se considerar nossos filhos e netos quando efetuamos o cálculo da nossa pegada. vão habitar. Além disso, você pode avaliar o impacto do tipo de transporte utilizado, tipo de alimentação, consumo de água, energia. O objetivo da pegada ecológica não é torná-lo vegetariano ou fazer com que você viva em uma aldeia longe da civilização, mas, sim, sensibilizar as pessoas de que todos são responsáveis pelo que ocorre no planeta, e que é esse planeta que nossos filhos e netos vão habitar. Alguns leitores podem dizer: isso tudo é muito bonito, mas na prática tem um resultado muito pequeno para o ambi-

ente e repercussões muito significativas para a economia e a sociedade. É verdade. No início pode parecer que mudanças de hábitos individuais pouco vão significar coletivamente, mas ao longo do tempo essas atitudes podem se multiplicar e, assim como se proliferaram para um consumo desenfreado dos recursos naturais, podem perfeitamente tomar o rumo inverso. Além disto, podem, sim, representar profundas mudanças para a sociedade e para a economia – mas, neste momento, vamos abordar apenas a questão ambiental. Entendo que as outras questões merecem um artigo à parte. O que fazer para reduzir a sua pegada ecológica? De imediato, podemos dar algumas dicas práticas para melhorar a qualidade do ambiente. Reduzir o tempo do banho, fechar as torneiras enquanto não está utilizando a água, desligar as luzes dos ambientes ao sair, utilizar lâmpadas econômicas e separar o lixo reciclável podem ser as medidas mais fáceis. Outras, um pouco mais complicadas, são: deixar de usar sacolas plásticas, deixar de usar seu carro pelo menos um dia na semana ou usar mais o transporte público, reduzir o consumo de alimentos de origem animal e, ao fazer compras, escolher produtos naturais, orgânicos ou certificados. Agora, tem aquelas medidas que para alguns são quase impossíveis, pelo hábito ou pelo custo. São elas: não usar o carro com frequência, utilizar energia alternativa (energia solar, eólica etc.), utilizar água de chuva para lavar quintais e calçadas e só andar a pé ou de bicicleta. Ufa! Estas últimas são difíceis mesmo! Mas é claro que algumas destas sugestões você pode seguir e convencer seus pares a fazê-lo. Tente. Mude a sua vida e a dos outros também. E garanta aos seus filhos uma vida um pouco melhor.

Rubens Borges é Administrador, Especialista em Educação Ambiental e Secretário Executivo do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA).


João Caldas

A experiência ajuda, sim, mas ela sozinha não é segurança de acerto, de sucesso. Cada personagem é novo e traz novos

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João Caldas

desafios.


entrevista A magia do espetáculo Ciranda, escrito por Célia Forte e protagonizado pela atriz Tania Bondezan, começa já na abertura das cortinas. O cenário primoroso de Fábio Namatame, também figurinista da peça, tem tons vermelhos e leva o espectador imediatamente aos anos 1960/70, numa verdadeira tradução para o termo “psicodélico”. O local é a casa de Lena, personagem vivido por Tania Bondezan, uma mulher que parece ter chegado de Woodstock a pé, mãe de uma mulher refinada, executiva, casada, com uma filha pequena. Boina (nome odiado pela moça), a filha de Lena, é interpretada também pela atriz Daniela Galli. Na peça, mãe e filha vivem em constante conflito. Parecem universais os argumentos utilizados na obra, como conflito entre gerações, rivalidade feminina, valores capitalistas entre outros. Mas a condução do espetáculo e a direção (ótima!) de José Possi Neto levam a plateia à identificação com as histórias, vivências e, acima de tudo, a rever suas “verdades”. No mais, a peça é uma emocionante ode ao amor. Saí de lá “disfarçando” e me deparando com pessoas no mesmo estado. Levem uma caixinha de lenço... Versátil Magazine: Quando você leu o texto pela primeira vez, Tania, com qual personagem se identificou primeiro e por quê? Tania Bondezan: Essa é uma ótima pergunta, que me faz refletir sobre as personalidades das três mulheres retratadas na peça. A princípio me identifiquei mais com a Lena, não tanto por sua irreverência, mas por sua generosidade e alegria. VM: Qual momento da peça você considera ser o auge em relação à capacidade de amar? TB: A Lena não perde a lucidez e tem sempre uma opinião crítica em relação às atitudes da filha, mas o amor está sempre presente, como pano de fundo entre as duas. Acho que a maior prova de amor que existe entre elas é a aceitação mútua, o perdão.

há o desencontro. A rivalidade entre elas fica mais no plano das ideias, no modo de encarar a vida. A oportunidade de fazer as duas personagens traz a redenção e é, ao mesmo tempo, um exercício delicioso para o ator, porque você tem que defender o que antes criticava. VM: Quais foram as suas grandes alegrias com o texto Ciranda? TB: Sem dúvida, o encontro com as pessoas que fizeram esse projeto acontecer. Nada substitui esse grande amor que une as pessoas em torno de um sonho.

VM: O texto coloca muito bem a questão da sabedoria que vem com a maturidade. Você se sente madura profissionalmente? TB: Sem dúvida, o tempo ajuda, diminui a ansiedade, traz noVM: Tania, a relação de mãe e filha, embora traga invaria- vas reflexões. A experiência ajuda, sim, mas ela sozinha não é velmente amor e conflito, é uma relação imprescindível? É segurança de acerto, de sucesso. Cada personagem é novo e possível substituir esse tipo de amor? traz novos desafios. TB: Não há dúvida de que o amor entre as mães e seus filhos é absoluto, porque as mães aceitam, protegem, cuidam, mimam, VM: O que você gostaria de despertar no público feminino com estragam, educam e são nossos portos seguros nas agruras da sua interpretação em Ciranda? vida. Esse tipo de amor é imprescindível, mas não insubstituível, TB: A necessidade do perdão. Perdoar não só quem te magoou, porque se não, quem não tem sua mãe ao lado não conseguiria mas principalmente perdoar a si mesmo, porque eu acredito ser crescer como um ser humano saudável e feliz. E a gente sabe que essa uma das causas que mais nos adoecem. é possível, sim, se houver cuidados e amor. VM: Qual é o seu grande sonho como atriz? VM: Mãe e filha eternamente se encontram, inclusive na rivali- TB: Continuar trabalhando sempre, com pessoas que eu admiro, dade. Como você vê esta questão depois de interpretar a Boina? como agora. É pedir muito? Como diz D. Quixote, “quando se Acha que a mãe costuma ter razão quando diz proteger a filha? sonha sozinho é apenas um sonho, quando sonhamos juntos é o TB: Acho que a mãe, do seu jeito torto, está sempre tentando começo da realidade”. proteger a filha, sim. Mas tudo nelas é tão diferente, que sempre 19


Abraçar quem se ama, no sentido amplo do significado amar, é algo revigorante. 20

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extremamente


entrevista

Versátil Magazine: O teatro apareceu para você como paixão ou consequência de seu trabalho como jornalista? Célia Forte: Antes de ser profissional da área já era espectadora. Teatro sempre fez parte da minha vida, ou ao contrário (rs)... Quando a Selma Morente e eu resolvemos nos dedicar, tanto como assessoras assim como produtoras, apenas para as artes cênicas, foi a plenitude!

VM: O que gostaria de despertar no público feminino com a peça Ciranda? CF: Vontade de abraçar quem se ama. Seja feminino ou masculino. Abraçar quem se ama, no sentido amplo do significado amar, é algo extremamente revigorante. VM: O que lhe faz sonhar? CF: “Vixe...”

VM: Célia, em qual momento você se percebeu como escritora? CF: Ainda não me percebi... VM: Conte um pouco sobre a arte de escrever. Como você inicia um texto? Há aquele usual entrave no início ou não? CF: É uma inspiração absoluta, não sei de onde vem e sou grata por isso, pela inspiração. A história, quando surge, já tem começo, um pouco do meio e o final.

Quando a Selma Morente

VM: Em quem você se inspira quando pensa em literatura? CF: Na verdade, leio literatura muito menos do que gostaria. Leio dramaturgia, os clássicos e contemporâneos.

assim como produtoras,

e eu resolvemos nos dedicar, tanto como assessoras

apenas para as artes cênicas, foi a plenitude!

VM: E no teatro, quais as suas grandes referências? CF: Ah, Paulo Autran e só citarei ele como símbolo pra mim. VM: Você se sente realizada profissionalmente? CF: A palavra “realizada” é muito ampla e, consequentemente, difícil de mensurar. VM: Pretende continuar escrevendo textos para teatro? CF: Já estou escrevendo e escrevendo e escrevendo... VM: Como é receber tantos elogios da crítica? Isto traz motivação ou você sente ainda mais o peso, o compromisso de trazer qualidade a cada trabalho novo? CF: A crítica sempre será a opinião de uma única pessoa. Sempre. Mas quando calha de ser a mesma opinião que a do público, aí é o Éden... Isso dá prazer e medo imediatos.

CIRANDA. Texto: Célia Regina Forte. Duas gerações de mãe e filha da mesma família com visões e conduta completamente diferentes entre si norteiam a história. Com muita tinta e lente de aumento, os relacionamentos são retratados com humor ácido e ironia, levando às últimas consequências as diferenças entre elas. Direção: José Possi Neto. Com Tania Bondezan e Daniela Galli. Teatro Eva Herz. Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2.073, Bela Vista, (11) 3170 4059. Até 29 de setembro. 21


O MEDO DO NOVO

gastronomia

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tão normal termos medo do novo? Apontar algo inovador e criticar antes mesmo de conhecer? E, quando menos percebemos, esse novo já se tornou uma tendência enraizada. Isto acontece desde sempre em nossa sociedade, com novas roupas, músicas e até mesmo comidas. A valsa, por exemplo, não foi bem aceita na conservadora Inglaterra no início do século XIX:

haviam ouvido falar dessa nova cozinha. E se falava por aí “eu não pago 300 euros para comer espuma”. Certamente Adriá contribuiu com muito mais do que espumas que, por sinal, ele já não servia no cardápio há dez anos. E continuávamos a ler comentários preconceituosos como “não aguento mais espuma”. Alguém veio comendo muita espuma nos últimos meses? Improvável.

“É com pesar que comentamos que a indecente dança estrangeira chamada Valsa foi introduzida (acreditamos que pela primeira vez) na Corte Inglesa na última sexta-feira... Basta baixar os olhos no encaixe voluptuoso dos braços, e no contato próximo dos corpos em sua dança, para perceber que esta dança está muito longe da reserva modesta que se espera de distintas mulheres inglesas. Na época em que este obsceno espetáculo estava confinado a prostitutas e adúlteras, nós não o julgávamos digno de nota; mas agora que há a tentativa de forçá-lo para as classes respeitáveis da sociedade, pelo exemplo maligno de seus superiores, nós nos sentimos no dever de alertar cada pai contra a exposição de suas filhas a tão fatal contágio.” The Times of London, 16 de julho de 1816*

Independentemente das críticas e dos elogios, Ferran se aposentou parcialmente fechando seu principal restaurante, mas deixou um grande legado para cozinheiros que trabalharam com ele no El Buli, como René Redzepi, chef do Noma (considerado o melhor do mundo pela revista The Restaurant) e outros, como os brasileiros Helena Rizzo e Alex Atala, que beberam muito em sua fonte e sabem transportar inteligentemente o princípio de suas técnicas com ingredientes locais, criando algo sempre novo.

O mesmo ocorreu com a gastronomia tecnoemocional, ou de vanguarda (que um dia talvez seja chamada de clássica ou antiga), difundida por Ferran Adrià, que no início foi muito contestada. E o pior, talvez, é que, além das críticas iniciais, passou a ser excessivamente comentada por muitos que apenas

Há também os imitadores do modelo do restaurante catalão ao redor do mundo, que copiam sua técnica, mas não criam nada novo. Isso deve durar um tempo, enquanto for novidade, até todas as pessoas terem acesso à gastronomia de vanguarda. O falecido Santi Santamaria – o maior crítico e opositor da gastronomia tecnoemocional – dizia que tudo isso era apenas moda, que sua cozinha, a tradicional, iria perdurar para sempre. Que me desculpe (e que esteja bem do outro lado), genial é, agora, a apropriação dos ingredientes e das técnicas da gastronomia de


DICAS DE LEITURA

vanguarda em pratos corriqueiros. Um caso gozadíssimo é a pizza de alho negro (ingrediente coreano redescoberto por Adrià), a nova moda paulistana. Ou os drinks moleculares das boates, como caviar de tequila sunrise, azeitona de mojito ou macarrão de caipirinha. Não parece, mas deixam bêbados. É como a Nouvelle Cuisine – movimento encabeçado por Paul Bocuse, Alain Chapel, Pierre Troigros (sim, o pai do que está agora no Brasil), Roger Vergé e outros – que propôs a utilização de ingredientes mais frescos, cozer menos os alimentos para valorizá-los mais, diminuir a quantidade de gordura dos pratos, colocar menos molhos e servir porções menores. Hoje, não é possível pensar a comida sem esse movimento. Tudo o que comemos, em qualquer restaurante do mundo ocidental, foi baseado nesse movimento revolucionário do final da década de 1960. Inclusive a comida de Santi Santamaria. Aconteceu a mesma coisa com a Semana de Arte Moderna de 1922. Criticaram os modernistas, que não foram bem compreendidos. Passado um tempo, não podemos mais pensar a cultura sem aquela ruptura tão bem absorvida. Como foi a valsa para os britânicos do século XIX. Foi assustador no começo. Depois se tornou usual. A mesma coisa acontecerá com a gastronomia tecnoemocional. Será conservadora como dançar o “Danúbio Azul” em casamentos.

CHOCOLATE AMARGO. O chef Gordon Ramsay, do

programa “Hell’s Kitchen”, abre o jogo e narra com detalhes sua vida. Da infância pobre, na Escócia, ao topo da gastronomia londrina. Um ótimo livro para os fãs do chef e uma grande história de superação e sucesso para aqueles que ainda não o conhecem. Editora Best Seller.

AMEI, PERDI, FIZ ESPAGUETE.

Giulia Melucci. A autora é uma garota italiana do Brooklyn que adora cozinhar para seus pretendentes. Na busca pelo homem perfeito, encontra relacionamentos fracassados. Ela narra a própria história, incluindo deliciosas receitas que afastaram vários homens de um compromisso amoroso. Editora Record.

Gabriel Leicand leicand@mange-toi.com Twitter: @leicand

*Livre tradução do autor

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literatura

érgio Napp lançou recentemente o livro Menino Com Pássaro ao Ombro, que tem ilustrações de Walther Moreira Santos, pela editora Artes e Ofícios, de Porto Alegre (RS). O autor é gaúcho da cidade de Giruá e tem várias

publicações em jornais de Porto

Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Como compositor, tem um trabalho especial, premiado em diversos festivais. A obra conta a história de um garoto que carrega no ombro um pássaro capaz de observar os fenômenos do cotidiano com muita sensibilidade. A poesia que acompanha o menino faz com que suas aventuras sejam únicas e cheias de beleza. Belas, e também poéticas, são as ilustrações do livro. 24

Duas dezenas de títulos e, agora, Menino com Pássaro ao Ombro: o que ele representa na sua trajetória de ficcionista? Sérgio Napp: Um livro a mais com gostinho de sonhos realizados. Menino nasceu há muitos anos dentro de um projeto amplo (pelo qual nenhuma editora se interessou). Seriam três livros infantis (um para cada irmão), três livros infanto-juvenis com os personagens adolescentes e, por último, um sétimo livro, adulto, com os personagens de volta à fazenda de onde saíram. Os infantis foram escritos: Menino Com Pássaro ao Ombro (Artes e Ofícios) e A Pedra do Conhecimento (Paulinas). O terceiro aguarda por uma boa alma (editora). Selecionei muito as editoras, pois queria os livros com a melhor qualidade possível. E não é que consegui? Outro sonho é a publicação pela Artes e Ofícios, há muito acalentada. Os meninos, hoje, têm o pássaro azul do twitter pousado em seu ombro? Há lugar para o pássaro da poesia e do sentimento nesta realidade de agora? SN: Há. Sempre haverá. Toda a parafernália eletrônica existente não será capaz de vencer o encantamento. E é ele que faz brotar a poesia e o sentimento. Por incrível que possa parecer, as pessoas ainda sonham


Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher o que deve ler. hoje em dia. Ainda têm expectativas, esperanças. A eletrônica é uma das formas de canalizar sentimentos. Não é sem razão que as pessoas se ligam, através do twitter e do facebook, a dezenas de outras pessoas na ânsia de se comunicar, de tratar de seus problemas. Cada um deseja alguém que o ouça e, ao mesmo tempo, se propõe a ouvir.

qualquer ilustração seria bem-vinda. Hoje, um livro infantil sem uma ilustração cuidadosa, parece faltar um pedaço. Hoje o livro viaja, e sei que posso encontrar o Menino Brasil afora. A internet, neste sentido, é uma ferramenta de alta qualidade.

A imaginação da garotada viaja para onde hoje? SN: É difícil responder. Mas, se levar em conta meus contatos com a garotada em salas de aula, a imaginação delas continua ativa. Com grandes diferenças, é claro. Quando crianças, ouvíamos rádio e íamos, vez ou outra, ao cinema. Nestas viagens, nossa imaginação brotava levando tudo por diante. Penso que foi aí o meu caminho como escritor. Hoje, a imaginação se faz de forma diferente, mas ainda se faz. Isto é perceptível por onde ando. Não fora assim, de onde os escritores tirariam tantas histórias?

Na sua infância, conforme enfatiza em seu depoimento no livro, não havia quem lhe contasse histórias, mas a força da fantasia suplantou esta realidade. O que falta, afinal, para que o Brasil tenha mais gente lendo e também escrevendo para ser lido? SN: Escritores há de sobra. Para cada um que publique, três ou quatro tentam uma chance. Ninguém deixará de ler por falta de livros. A distribuição é um dos problemas. Há mais editoras que livrarias neste país. Na leitura há algo de mágico: é preciso que alguém se disponha a contar uma história para que esta história seja repetida e recontada, e, muitas vezes, se torne outra história. Não há uma palavra mágica que faça com que mais gente leia (se houvesse, o mundo seria muito chato). É preciso um trabalho cotidiano, dedicado, cheio de boa vontade para transformar alguém em leitor. Fundamental: não se deve tornar a leitura obrigatória. Cada pessoa é uma pessoa, e ela tem o direito de escolher o que deve ler. Se não houver disposição, prazer, alegria, encantamento, não haverá leitores.

“Ninguém pode com um menino que leva um pássaro ao ombro”, afirma o livro. A leitura, o prazer de escrever, a descoberta das tramas da escrita: como incutir nos jovens a busca por uma “vida apetitosa” de que também fala a história? SN: Não há fórmula. É um processo. Vim de uma família que não lia, e eu acabei me tornando um leitor ávido. Ao mesmo tempo, conheço famílias em que os pais são leitores/escritores e os filhos não leem. Ninguém é obrigado a ler, como ninguém é obrigado a gostar de alguém. É um tanto quanto aleatório. Importante é despertar a curiosidade e regá-la com carinho, para que a planta não morra. Os legionários do Harry Potter não me deixam mentir.

As fantasias que povoam os quartos de meninos e meninas nestes tempos de virtualidade são tão fortes quanto as da época da sua meninice? SN: Talvez mais, vai saber. Talvez os sonhos sejam mais intensos, os desejos mais fortes do que os que acudiam meninos do interior em épocas pré-eletrônicas. Nosso mundo, proporcionalmente, era maior. Não havia muros, grades. Não éramos levados à escola, íamos sozinhos ou em grupos. Nossas brincadeiras eram ao ar livre e coletivas. Talvez, tivéssemos mais liberdade, não sei. Não sou passadista (“no meu tempo era melhor”), mas as diferenças são enormes. Gosto de lembrar esta liberdade e estas brincadeiras em meus textos, não para traçar paralelos, mas para que a garotada de hoje saiba que brincávamos, e muito, com o pouco que tínhamos. Talvez as brincadeiras de hoje sejam mais emocionantes. As nossas eram mais simples, com certeza, mas nem por isto menos agradáveis.

O que mudou, desde que se mobilizou para contar histórias em verso e prosa, no mundo da literatura? SN: Muita coisa. A qualidade, o carinho, o trabalho com o livro. Um livro como este, há alguns anos, seria impensável. Antigamente,

Entrevista concedida à Editora Artes e Ofícios.

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cultura versátil

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Ela e Tropa de Elite2. Os psicanalistas debatem as relações entre cinema e psicanálise tendo como pressuposto que as manifestações artísticas captam as metamorfoses da subjetividade. Editora AS COISAS DA VIDA. (1) António Lobo Antunes. O es- Artes & Ofícios. critor é um dos mais importantes autores de Língua Portuguesa e conquistou tal patamar através de romances. Nesta DEFESA DO MARXISMO. José Carlos Mariátegui. Trad.: obra, uma faceta menos conhecida: a de cronista. São 60 Carlos Coutinho. Marxista para quem teoria e militância são textos publicados no jornal Público e na revista Visão, de inseparáveis, o autor peruano é um expoente da filosofia conPortugal. Editora Alfaguara. temporânea. Discute temas históricos, políticos e culturais da América Latina em ensaios que priorizam a comunicação com BYRON APAIXONADO. (2) Edna O’brien. Trad.: Mauro as massas. Boitempo Editorial. Gama. Segundo a autora, o escritor inglês sempre foi rebelde e adorava propagar notícias escandalosas. Neste livro, Edna aponta É RINDO QUE SE APRENDE. (4) Marcelo Tas. O livro tem que esse comportamento foi, talvez, a razão de seu estilo, e traça como base uma entrevista de Marcelo Tas a Gilberto Dimenstein, um retrato do poeta e de suas paixões. Editora Bertrand Brasil. na qual conta experiências e revela como o prazer de aprender orientou sua vida, mencionando personagens que o influenCASADOS COM PARIS. Paula McLain. Trad.: Celina ciaram. Com o DVD Marcelo Tas - Um Comunicador EducaPortocarrero. A obra revela uma face desconhecida do es- dor. Editora Papirus. critor Ernest Hemingway durante a conturbada história de amor com Hadley Richardson. Na Paris da década de 1920, FILOSOFIA POP - PODER E BIOPODER. Marcia Tiburi. nos chamados Anos Loucos, a narrativa se dá sob o ponto A Filosofia Pop, para a autora, é um modo de relacionar a de vista da esposa. Editora Nova Fronteira. pesquisa cuidadosa, o ensaio corajoso e o pensamento consequente sobre conteúdos desprezados pelos sistemas intelecCINEMA: O DIVÃ E A TELA. (3) Enéas de Souza e Robson tuais moralizantes, que julgam, sem critérios, o que merece de Freitas Pereira. Os textos focalizam filmes como Fale com ou não ser estudado. Editora Bregantini. 26


GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA AMÉRICA LATINA. (5) Leandro Narloch e Duda Teixeira. Para os autores, a história da América Latina pode ser diferente do que aprendemos na escola. Eles afirmam, entre outras ideias polêmicas, que Fidel Castro foi capitalista e que os Incas aprovaram a dominação espanhola. Editora LeYa.

O local representa matizes, pontos de tensão e glórias de um povo numa obra que mergulha na identidade brasileira. Editora Alfaguara.

O INOCENTE. (10) Scott Turow. Trad.: Domingos Demasi. Na sequência de Acima de Qualquer Suspeita, Rusty, um respeitado juiz-presidente, é acusado de assassinar a esJORNALISTAS INTELECTUAIS NO BRASIL.(6) Fábio posa. Com insights sobre o lado sombrio da psique humana Pereira. Entrevistando nomes da imprensa brasileira, o autor e do sistema judiciário, Turow prova novamente sua genial mostra como conciliam artes, universidade, militância política. capacidade de criar suspenses. Editora Record. Uma das questões é até que ponto a mudança na identidade e nas práticas do jornalista afastaram valores da intelectualidade. O VERSO DO CARTÃO DE EMBARQUE. (11) Felipe Pena. O autor visitou os pacientes psiquiátricos da Colônia Editora Summus. Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, para construir a obra. LUGAR E MÍDIA. (7) Angelo Serpa. Angelo Serpa mostra como “É um livro sobre a irracionalidade dos rótulos, sobre os os lugares de ocorrência de iniciativas populares encontram rebati- estereótipos, sobre a avareza cognitiva com que julgamos e mento na ação e no discurso dos grupos protagonistas das cidades somos julgados”, diz o autor. Editora Record. pesquisadas e como as rádios comunitárias e o universo virtual da OCTAEDRO. Julio Cortázar. O mestre do conto curto e internet veiculam o cotidiano. Editora Contexto. da prosa poética no auge da criatividade. Oito contos se MEU TIO LOBISOMEM. (8) Manu Maltez. Músico e ligam através da unidade da linguagem, mas trazem relatos desenhista, Manu tem uma feliz estreia literária. O conto traz a distintos. Em todos o real é interpretado como inseparável memória infantil de conviver com o tio no interior de São Paulo. do imaginário, supondo a existência de uma ordem que Traços em preto e branco dialogam com outras linguagens. Na desconhecemos. Edições BestBolso. versão impressa, ilustrações do autor; no e-book, trilha sonora e OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA. (12) animações. Editora Peirópolis. Fernando Morais. A aventura dos espiões cubanos em território MONSIEUR PAIN. (9) Roberto Bolaño. A obra é repleta de americano mostra os tentáculos de uma rede terrorista com sede temas caros à literatura de gênero, como o ocultismo, a busca na Flórida e ramificações na América Central. Segundo o autor, a detetivesca e a confusão entre sonho e realidade. Na Paris do rede tem o apoio dos EUA com certa complacência do Executivo entreguerras, Pain é contratado por madame Reynaud para ajudar e do Judiciário. Companhia das Letras. o sul-americano Vallejo. Logo o protagonista se encontra envolvido em uma conspiração muito maior do que imaginava. UM TRABALHO SUJO. (13) Christopher Moore. Charlie Asher, depois de anos de uma vida tranquila, torna-se um Companhia das Letras. funcionário da Morte, função bem estranha. Após falar da O FEITIÇO DA ILHA DO PAVÃO. João Ubaldo Ribeiro. juventude desregrada de Jesus em O Cordeiro, o cultuado Uma epopeia ágil e bem-humorada sobre os habitantes de uma autor agora ataca a morte. Uma história hilária, com personagens ilha imaginária na costa da Bahia, na época do Brasil colonial. divertidos. Editora Bertrand Brasil.

SACI NOVO NO PEDAÇO Chegou às livrarias mais uma aprontação do Saci, com suas brincadeiras travessas. É o livro de contos Saci, da Editora Mundo Mirim, lançado na Livraria da Vila (Vila Madalena). São sete histórias, cada uma de um saciólogo. E são sete ilustradores diferentes, que fizeram um belíssimo livro. Na vida do Saci, o número sete aparece sempre, em quase tudo. Os sacis nascem em grupos de sete, saindo de um taquaruçu (um bambu de gomos grandões) em noites de tempestade. Sete em cada taquaruçu, mas às vezes vários bambus desses se abrem de uma vez, e em cada um deles há sete sacizinhos dentro, como você pode ver na história Saci na fazenda, contada por Marcia Camargos. Ele se adapta facilmente a muitas situações, e assume certas formas muito estranhas, como conta Robson Moreira com seu Saci miçanga. E às vezes nem é um negrinho. Por exemplo: no bairro da Liberdade, em São Paulo, onde moram muitos japoneses, ele tem até sotaque japonês. Quem conhece japoneses pode comprovar, na língua deles não existe a letra L, eles pronunciam R, conforme nos conta Dilair Aguiar. Na história contada por Flávio Paiva, ele – defensor do meio ambiente – aparece em brincadeiras infantis, cantando e rimando. Luís Manetti tentou pegar um Saci quando era criança e Paulo Pele viu de perto as aprontações dele na roça. Rudá K. Andrade teve contato com um Saci aprontador no norte de Minas, o Sacy Fubá (com y mesmo). Por falar em fubá, quem não tem curiosidade sobre o que o Saci come? Pois no final tem o cardápio do Saci, segundo o pessoal da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), que por sinal receberá os direitos autorais do livro. 27


cultura versátil

TEATRO

por Claudia Liba

CINEMA

Divulgação

CONVERSANDO COM MAMÃE. Texto: Santiago Carlos Oves. A trama conta a história de um homem bem sucedido, casado, dois filhos, que perde o emprego. Para amenizar o problema, decide vender o apartamento onde mora sua mãe. Direção: Susana Garcia. Com Beatriz Segall e Herson Capri. Teatro Folha. Avenida Higienópolis, 618, Higienópolis, (11) 3104 4885. Até 11 de novembro.

por Claudia Liba

ELVIS & MADONA. A história de amor entre Elvis, uma entregadora de pizzas, e Madona, travesti que sonha em produzir um espetáculo de teatro de revista. Na trajetória, humor, drama e uma dose de suspense. Direção: Marcelo Laffitte. Com Simone Spoladore, Maitê Proença, José Wilker. Estreia: 23 de setembro.

Divulgação

Paula Kossatz

CataDores. Texto: Cláudia Maria de Vasconcellos. Inspirado em Esperando Godot, de Samuel Beckett. Dois clows em crise existencial investigam mistérios e dores da alma humana. Direção: Jairo Mattos. Com Paulo Gorgulho e Jairo Mattos. Participação especial: Maestro Marcello Amalfi. Teatro Eva Herz. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073, Bela Vista, (11) 3170 4059. Até 09 de outubro.

Dalton Valerio

A HISTÓRIA DE NÓS 2. Texto: Lícia Manzo. A comédia conta as aventuras e os desencontros de um casal separado que revê a própria história na noite em que o marido vai buscar seus pertences no apartamento. Direção: Ernesto Piccolo. Com Alexandra Richter e Marcelo Valle. Teatro Gazeta. Avenida Paulista, 900, Bela Vista, (11) 3253 4102.

EU QUERIA TER A SUA VIDA. Mitch e Dave eram grandes amigos, mas o passar do tempo tornou-os distantes. Dave é advogado, casado, com filhos; Mitch, solteiro, sem responsabilidades. Após uma noitada de bebedeira, um assume o corpo do outro. Direção: David Dobkin. Com Ryan Reynolds, Jason Bateman. Estreia: 23 de setembro. MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL. Um homem e uma mulher são vizinhos de apartamento, mas só se relacionam via internet. Melhor Longa-Metragem Estrangeiro, prêmio do Júri Popular e Melhor Diretor no Festival de Cinema de Gramado 2011. Direção: Gustavo Taretto. Com Javier Drolas e Pilar López de Ayala. PRONTA PARA AMAR. Uma mulher descobre que está morrendo de câncer quando conhece aquele que pode ser o homem da sua vida. A possibilidade de estar se apaixonando assusta mais do que a própria morte Direção: Nicole Kassell. Com Kate Hudson, Whoopi Goldberg, Gael García Bernal. Estreia: 16 de setembro.

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CONSELHO DE MELHOR AMIGA eonor, ainda estou passada com a triste notícia e torço para que não se deixe abater; homens são todos iguais mesmo. Onde já se viu, só por causa daquele sotaque, é verdade, um tanto sedutor, seu venezuelano esperava que aceitasse ser apenas mais uma? Ah, minha querida, pode ter certeza, entendo sua posição, aliás, devo dizer, muitas noites imaginei cada uma delas com aquele homem – que sem vergonha! De fato, concordo: como você poderia esperar que um doutor em física, de físico avantajado, compleição de um deus grego – quase tombado patrimônio histórico e cultural das mulheres –, um tal que você teve o privilégio de conhecer num simples simpósio internacional de gente endinheirada viesse a ter outra “Amélia” em terra natal? Nunca esqueço o dia em que me contou dos talentos culinários do imprestável. E não é que além de tudo ele cozinhava bem?! Quando você chegava em casa, o jantar já estava posto, vinho à mesa, e o “Adão” ao seu pé de ouvido dizendo: “usted no deberia trabajar tan duro, mi amor”. Leonor, isso lá é coisa que se divulga entre verdadeiras amigas?! Sua danadinha. Mas, de fato, você nem pode imaginar o sentimento que me toma ao saber do seu desenlace. Todo sábado, dia em que finalmente me coloco em ordem nas artes do amor com meu marido – quando o infeliz não me aparece indisposto por conta do futebol regado a churrasco – vem à lembrança a forma sutil com que você me deixava bem informada de que com

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vocês era todo dia. O venezuelano não negava fogo! Que dó, você vivia mesmo cansada, talvez por isto não tivesse mais tempo para as amigas! Devo dizer que essa sua carta me pegou de surpresa, enfim, foi um ano inteiro sem que nos falássemos! Lógico que compreendo: um ano de hibernação idílica e amorosa pode ocupar uma vida inteira. Mas, Leonor, querida, não se larga um homem daqueles na calçada – você nem mesmo deixou-o entrar para alguma explicação, mentirosa ou não, que rendesse uma despedida? Só uma louca para deixar um artigo daqueles no meio-fio. Homens são todos iguais, mas esse seu estrangeiro não podia ser relegado a um assento sanitário, merecia uma boa reciclagem. Sinto realmente por vocês, mas espero que não se importe, afinal, você faz questão de ser a exclusiva, no que concordo plenamente, mas Manuel Hernandes, esse Venezuelano – e que castelhano – ligou para mim naquela noite, e fazia tanto frio, muito mesmo. Resta-me, se me permite, um conselho: querida, para de reclamar de barriga cheia! E... seja mais compreensiva com o mundo.

Obs.: O jantar estava maravilhoso. Antonio Gomes é músico, compositor e escritor. Contato: (11) 2537 3120 / 6356 1766 antonigomes@gmail.com



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