Versátil Magazine Edição 25

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editorial “If I can make it there I’ll make it anywhere It’s up to you New York, New York” (Fred Ebb / John Kander) Interpretação de Frank Sinatra. A letra imortalizada por Frank Sinatra já dizia tudo: depende de você! Acredito que se as coisas dependem da gente, fica mais fácil encará-las! As dificuldades que encontramos pelo caminho são momentos para reorganizar ideias, para reformular e continuar. Assim foi com Simone Gutierrez, nossa entrevistada especial. Ela nos contou um pouco de sua carreira, do sonho de cantar, dançar, interpretar. Ser uma atriz, como é hoje. O que me chamou a atenção durante a conversa foi a forma como ela conduziu sua carreira. Para fazer um papel que queria, engordou. Engordou muito. E, por ser mestre em fazer do limão uma limonada, de tanto distribuir alegria pras pessoas, um dia a vida retribuiu: para o musical New York, New York, dirigido por José Possi Neto, não apenas foi convidada, mas lhe ofereceram mais: para ela foi criado um personagem que não existe originalmente. No filme estrelado por Liza Minelli, há outro protagonista, seu amado. No musical vai ter mais uma mulher, vivida por Simone, que vai brilhar. Como ela, claro! Acredito mesmo na força que vem do sonho, do desejo. É aí que vive e se manifesta a realização de tudo o que temos direito. Assim, trouxemos para você, leitor, um pouco da alegria e da persistência da atriz. Bons sonhos! Claudia Liba

cá entre nós

Publisher Claudia Liba Jornalistas Thayla Anjos Rodolfo Poppi Edição de textos / Revisão Valéria Diniz Redação Valéria Diniz valeria@revistaversatil.com.br Thayla Anjos Rodolfo Poppi Pré-impressão, impressão e acabamento W Gráfica Fotógrafo Daniel Sodré daniel_sodre@hotmail.com Foto de capa Marcos Mesquita Colaboradores Alexandre Lourenço – Diversatilidade Caio Gasparetto Diniz Da Silva – Games Carolina Carvalho De Rose – Cotidiano Claudia Maria Ramos Lessa – Reverência Gabriel Leicand – Gastronomia Octavio Pella Legramandi – Saúde Ricardo Leão Ajzenberg – Negócios Rubens Borges – Meio Ambiente Distribuição Butantã, Jardim Guedala, Jardim Rolinópolis, Jardim Previdência, Vila Sônia, Vila Indiana, Cidade Universitária, Jardim Bonfiglioli, Parque dos Príncipes, Vila São Francisco, Jardim Esther e Granja Vianna. Imagens Shutterstock PARA ANUNCIAR TELEFONE PARA NÓS (11) 8851 7082 / 3798 8135 ou envie uma mensagem para comercial@revistaversatil.com.br Versátil Magazine é uma publicação mensal, distribuída gratuitamente e não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação fornecida, bem como pelas opiniões emitidas nesta edição. Todos os preços e informações apresentados em anúncios publicitários são de total responsabilidade de seus respectivos anunciantes, e estão sujeitos a alterações sem prévio aviso. É proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens publicados sem prévia autorização.

Olá Li a entrevista com a Marília Coutinho... Ufa! Que vida! Tomo 5 remédios por dia para conter a minha depressão-ansiedade, estou na fase zumbi da vida. Quem sabe um dia eu encontre algo que me estabilize como o levantamento de peso fez com ela. Abraços! Vanderli Custódio.

Olá, colegas Parabenizo a edição da Marília Coutinho. Li a entrevista e gostei muito da maneira que a redação colocou a força feminina em evidência. Grande abraço, Rita Ferreiro de Castro.

Caros amigos da Versátil Tenho acompanhado as edições da Versátil e aprecio muito a leitura agradável que proporciona para toda a família. No entanto, gostaria de manifestar minha insatisfação com a indicação da receita de ceviche publicada recentemente. Sou peruano e em nosso país utilizamos apenas o peixe curtido no limão com sal, cebola roxa, alho, pimenta e coentro. A receita apresentava outros temperos que não fazem parte da culinária peruana. Grato, Jorge Miguel Romero.

Olá Parabéns a equipe. Gosto muito das indicações dos livros e das músicas. Sempre apresentam ótimas obras! Carolina da Silva Bezerra


sumário

8 Educação O Futuro das Escolas ou a Escola do Futuro?

10 Saúde Psicossomática

12 Cotidiano 8

Rir é o Melhor Remédio

14 Meio Ambiente Neutralização de Carbono: Que Bicho é Esse?

16 Arte Deixa o Menino Fazer Arte!

20 Capa Entrevista com Simone Gutierrez

26 Gastronomia 16

Baião do Biu

28 Nosso Bairro Cultura Popular Brasileira “Pega Fogo” no Morro do Querosene

30 Games Diga Olá para a Realidade

31 Negócios 20

O Mapa da Mina

32 Irreverência Exemplo aos meus Alunos

34 Reverência Ética

36 Mix Cultural 28

42 Diversatilidade


Rodolfo Poppi

educação

O FUTURO DAS ESCOLAS OU A ESCOLA DO FUTURO? por Rodolfo Poppi á escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”, é com essa afirmação de Rubem Alves (autor do livro A Escola Com Que Sempre Sonhei Sem Imaginar Que Pudesse Existir) que a Escola Desembargador Amorim Lima apresenta seus princípios educativos, inovando e criando um novo método de educar os seus alunos. Na escola o aluno se torna um pesquisador, criando seu próprio conhecimento. A partir do seu roteiro de trabalho do dia, ele pode optar por diversas maneiras de ser o protagonista da sua aprendizagem, podendo contar com o apoio dos colegas de grupo de estudo, com o professor, ou por pesquisas nos computadores. A criança tem autonomia para criar a própria estratégia de aprendizado. Há 43 anos, a então “Escola Agrupada Municipal da Vila Indiana” passou a ser conhecida como “Escola de Primeiro Grau Desembargador Lima. Nessa época a escola possuía grades nas janelas, era cercada por alambrados e arames farpados. No ano de 1996 a escola obteve seu regimento próprio, tornando-se a “Escola Municipal de Ensino Fundamental – EMEF - Desembargador Amorim Lima”, localizada no bairro do Butantã em São Paulo. Transformar o “jeito tradicional” de ensino em algo inovador e estimulante é o principal atrativo da escola. O projeto teve início em 2004 e hoje conta com 780 alunos. A nova maneira de ensino já surpreende quando nos deparamos com a ausência de paredes entre as salas de aula. Agora os alunos se encontram em um grande salão, separados em grupos de cinco crianças. 8

Eles formam grupos de estudo onde um colega ajuda o outro. Eles variam e se misturam em alunos que na “maneira tradicional” estariam no ensino fundamental, da quinta a oitava série. A ideia é tornar o salão em um grande centro de pesquisa denominado Tutoria. Se alguma dúvida surgir durante o estudo coletivo e os colegas de estudo não conseguirem sanar, o professor, aqui também denominado como tutor, os auxilia e esclarece as dúvidas. Nesse local de estudos, os alunos recebem os livros didáticos adodatos pela rede pública do país. “Todas as escolas têm o mesmo conteúdo, que é definido pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), mas a forma como trabalhamos o conteúdo é diferente”, explica Ana Elisa Siqueira, diretora da escola há 16 anos. No começo do ano letivo os alunos definem um roteiro de estudo, um projeto de pesquisa. Os alunos têm autonomia para decidirem suas tarefas dentro da escola. O aluno da 8ª série Matheus Bianco, 14 anos, estuda na escola desde a 1ª série. Ele conta que agora que chegou à última etapa da escola, está tendo que se esforçar um pouco mais. “Nós, os alunos do ciclo 2, que abrange a 7ª e 8ª série, temos uma espécie de treinamento de adaptação para que assim que concluirmos os estudos do ensino fundamental, possamos chegar ao ensino médio, em um outro colégio, no mesmo nível dos alunos de outras escolas. Para isso a escola disponibiliza aulas de reforço no período noturno e temos que realizar um trabalho de conclusão de curso, TCC,


no final do ano. Eu escolhi fazer uma pesquisa sobre o Hitler”, revela o aluno que guiou o passeio de apresentação da escola. A escola trabalha com o princípio da “Progressão Continuada”, um sistema de ciclos que acaba com as provas e reprovações. A sequência do trabalho do aluno na escola não é determinada pelo ano, é determinada pelo projeto de pesquisa que ele cumpriu. A escola busca respeitar o ritmo de cada aluno, oferecendo um acompanhamento pessoal. A avaliação do aprendizado é feita pelo trabalho processual do aluno. No final de cada roteiro é feito um portfólio, conhecido como a ficha de finalização, com a síntese do que ele aprendeu sobre o tema desenvolvido em sua pesquisa. Na escola existe a preocupação de que todos se envolvam com o desenvolvimento do processo educativo, gerando a troca de experiências e pesquisas. O objetivo é que todos os alunos se aproximem de todas as fases do desenvolvimento escolar. Os “Grupos de Responsabilidade”, criados e formados pelos alunos, têm a função de vigiar e fiscalizar as tarefas dentro da escola. Os alunos cuidam da escola. Essa fiscalização entre eles gera solidariedade, ensina sobre convivência democrática e cria responsabilidade. Tudo isso acompanhado de perto pelos familiares, que ajudam a formar o conselho da escola. Eles discutem diversas propostas nas reuniões do conselho e apresentam as melhores ideias à direção. Toda primeira quarta-feira do mês ocorre a assembleia. Essa forma diferente e inovadora de ensinar acabou atraindo os

olhares curiosos de novas empresas parceiras e de novos voluntários, que resolveram investir na escola. Num local vago, cheio de terra, foi construída uma biblioteca com um grande acervo de livros. São oito mil livros que ficam disponíveis para todos os estudantes da escola, mediante um cadastro. Um laboratório educacional de informática foi implementado gratuitamente, também por um investimento de empresas, dando aos alunos acesso às novas tecnologias. O laboratório de ciências foi recentemente instalado. A valorização da cultura brasileira é um dos cuidados que a escola tem em passar para os alunos. No interior da escola foi construída uma oca por dois índios guaranis, tudo sob o olhar curioso e um jeito de conhecer e interagir diretamente com a cultura do país. Todas as inovações apresentadas pela escola foram inspiradas no projeto criado pela Escola da Ponte, em Portugal. Após assistirem a um documentário onde um aluno da escola portuguesa apresentava as novas formas de aprendizado, os coordenadores e diretores do Desembargador Amorim Lima resolveram aderir também à ideia de criar uma escola do futuro, ou o futuro das escolas. “O importante é lembrar que a escola que a gente tinha, não era a escola que a gente queria ter. A gente queria uma escola do jeito que esta hoje”, revela a diretora Ana.


saúde

PSICOSSOMÁTICA or um breve instante, aguce sua criatividade e imagine uma casa simples, da cor que lhe for mais conveniente, com as formas que lhe aprouverem, mas com um detalhe técnico: deve haver, nessa casa, lareira e chaminé. Findado este exercício mental, imagine agora que a chaminé entupiu; não obstante, as chamas da lareira (obviamente não tendo conhecimento da situação acima) continuam a crepitar per se, suavemente, sobre a lenha recém-depositada. Continuam a emanar golfadas de fumaça que, por sua vez, não encontram vias de sair pela tubulação. Conclusão: hão de se espalhar pela sala toda até que encontrem uma janela aberta, menor que seja, permitindo sua fuga para a liberdade da atmosfera. Não que a fumaça prefira sair por ali, afinal, como as chamas, não está ciente dos pormenores de sua disseminação: só sabe que precisa sair, e simplesmente sai por onde for possível. Estando a chaminé bloqueada, que fazer além de fugir pelo vitrô da copa? É a partir desta analogia, de simples compreensão, que usualmente se conceitua a psicossomática, palavra cuja etimologia já é bastante esclarecedora: relação entre psiquismo e soma, entre mente e corpo, entre emoções e sintomas físicos. Muitos, incluindo profissionais de saúde, crêem na dualidade humana físico versus mental, visão hoje considerada errônea por diversos autores. Atualmente, prefere-se observar cada pessoa como única, uma singular mistura de órgãos e sistemas, emoções e experiências, genes e jeitos que não permitem dissociação entre aspectos de saúde mental e saúde física puros. Sumário: as pessoas não são afetadas apenas por doenças físicas e doenças mentais, mas sim por uma mescla de tudo em si. Exemplificando: um homem chega ao pronto atendimento próximo à sua casa queixando-se de dores no estômago. Dois plantonistas estão disponíveis para atendê-lo imediatamente (ora, é apenas um exemplo surreal). O doutor X pergunta características da dor, alimentação pregressa, possíveis traumas, medicamentos em uso, decúbito preferencial, e por fim conclui: dispepsia, tome um antiácido que isso logo se resolve. O médico Y vai além: quantos anos, o senhor trabalha com quê, carga horária, como vão as coisas em casa. Descobre que o pobre homem era taxista, mas agora está desempregado, teve 10


de vender o carro para pagar dívidas da esposa, constantemente bêbada e chegada nuns joguinhos de carteado, sabes? Seus filhos em posição desconfortável no colégio, alvos de chacota dos coleguinhas. Mãe falecida, pai com insuficiência cardíaca de difícil controle. Agora repentina essa dor na barriga dos infernos. Doutor Y nota que o paciente relata tudo sério, sem se deixar abater: admira a ausência de lágrimas à face do homem. Conclui diferente: úlceras gástricas por estresse, manifestações físicas do intenso sofrimento emocional, já que este é contido. É a angústia represada traduzida em sintoma. É a fumaça escapulindo pela janela. Nos últimos anos, particularmente na última década, o ritmo de vida se acelerou vertiginosamente, criando uma espécie de aceleração social que culmina na adoção de um modus vivendi repleto de estresse prejudicial à saúde emocional e, por contiguidade, à saúde física. São vários os sistemas afetados, destacando-se o coração e os vasos sanguíneos, os pulmões, o tubo digestório e a pele, mas uma miscelânea de sintomas não é rara. Independentemente do local afetado (da abertura por onde sai a fumaça), mais importante é identificar e solucionar o núcleo de tensão, ou seja, a causa emocional para o problema (a obstrução da chaminé), para que tudo flua naturalmente e se obtenha completo bem-estar do indivíduo, esse admirável novo conceito de Saúde. Neste sentido, o autoconhecimento é fundamental. Seja por meio de esportes, seja por meditação, atividades de lazer ou até pela psicoterapia; o meio é o menos importante. Maior que isso é o propósito de canalizar as emoções e reagir de forma controlada, absolutamente consciente, aos fatores externos de estresse. Trata-se de manter sempre limpa a chaminé, para que a fumaceira da decepção, da raiva, da tristeza, da frustração, tenha por onde fugir de forma segura. Portanto, mãos à obra: qualquer hora é hora de sacudir a poeira, manipular os instrumentos de limpeza e começar a remover a fuligem da tubulação. E, sem dúvida, um profissional qualificado pode se tornar a mão amiga para ajudar nessa árdua tarefa; basta começar. Como disse famoso pensador, uma longa caminhada começa com um pequeno primeiro passo.

Octávio Pella Legramandi é estudante de Medicina da FMB/Unesp, sonhador, escritor de meia tigela e, quando sobra um tempinho, gente.

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cotidiano

RIR É O MELHOR REMÉDIO sorriso é indispensável para ter uma vida saudável e feliz. energia positiva contagiante nos ajuda a viver muito mais”, ensina Segundo o Dr. Eduardo Lambert, autor de A Terapia do Riso o Dr. Lambert. - a Cura Pela Alegria, o riso e sua onda vibratória trans- No trabalho, o riso estimula a produtividade. As pessoas que mitem energia e uma química que se espalha por todo o cor- gostam do que fazem e do ambiente em que trabalham propo, provocando o relaxamento muscular de todos os órgãos. duzem mais e melhor. “Quem ri é mais produtivo, mais criativo, “Mesmo o simples esboçar de um sorriso ou uma gargalhada, mais comunicativo, toma as decisões mais rápido, fica menos doente estimulam o cérebro a produzir endorfinas, substâncias químicas e até comete menos acidentes, já que ama a vida e não quer perdêcom poder analgésico, que proporcionam uma enorme sensa- la”. O Dr. Juan Hitzig, autor do livro O Alfabeto Emocional, tem uma ção de bem-estar.” Além disso, as endorfinas estimulam o sistema teoria muito boa sobre os efeitos do bom humor: “Cada penimunológico contra reações alérgicas, bactérias e vírus; pro- samento gera uma emoção e cada emoção mobiliza um circuito tegem o aparelho circulatório contra hormonal que terá impacto nos trilhões infartos e derrames; ajudam a melhorar de células que formam nosso organismo. No trabalho, o riso estimula a a pressão arterial; ampliam a capacidade As condutas “S”: serenidade, silêncio, respiratória e promovem uma ação anti- produtividade. As pessoas que gostam sabedoria, sabor, sexo, sono, sorriso proenvelhecimento. movem secreção de serotonina, enquanto do que fazem e do ambiente em que Durante uma risada, acontece um que as condutas “R”: ressentimento, raiva, trabalham produzem aumento de absorção de oxigênio rancor, repressão, resistência facilitam mais e melhor. pelos pulmões e os movimentos de ina secreção de cortisol, um hormônio spiração e expiração ficam mais profuncorrosivo para as células, que acelera o dos. O riso também massageia o sistema gastrointestinal, já envelhecimento. As condutas “S” geram ATITUDES “A”: ânimo, que o músculo mais exercitado durante a risada é o diafragma. amor, apreço, amizade, aproximação, entretanto, as condutas Por fim, quem ri também fortalece o sistema imunológico, “R” geram ATITUDES “D”: depressão, desânimo, desespero, pois a risada promove uma baixa no nível de cortisol e adrenalina, desolação. Aprendendo este alfabeto emocional, lograremos hormônios associados ao estresse. viver mais tempo e melhor, porque o sangue “ruim” (muito De acordo com Leila Navarro, especialista comportamen- cortisol e pouca serotonina) deteriora a saúde fisica e mental e tal, autora do livro Talento Para Ser Feliz, 80% do que acontece acelera o envelhecimento.” durante todo o dia está ligado aos primeiros 10 minutos da Então, adote uma postura otimista perante a vida. manhã. Sendo assim, ter bons pensamentos ao acordar pode tornar Viva com mais consciência. o seu dia mais feliz. Logo pela manhã, você pode adotar um “ritual Não seja um escravo da rotina, nem do tempo. de felicidade”, seja respirando profundamente, se espreguiçando, Não espere que a vida passe por você. rezando e até meditando. Ela ensina a escrever em um local que Passe por ela de olhos bem abertos, desfrutando cada momento você visualize assim que acordar, a seguinte frase: “Hoje tomei como se fosse único, porque realmente ele é. uma decisão: vou ser feliz assim mesmo”. Repita a frase todos Dê sempre valor à família e aos amigos. os dias em voz alta. Se você pode ser condicionado a coisas Ame muito, com intensidade e sem medo. boas, por que pensar no que é ruim? Perceba mais a natureza, ela é parte de você. Sintonize-se! O mau-humor e a infelicidade nos tornam tristes e deprimidos. E não esqueça: Sorria muito, sorria alto e sorria sempre! Pensamentos prejudiciais, sentimentos inferiores e emoções negativas geram um campo energético nocivo, que pode ser Carolina Carvalho De Rose absorvido pelo organismo, provocando doenças que afetam o é Professora de Yoga e Yogaterapia. (11) 3812 7371 estado físico. “A alegria e o otimismo geram simpatia e esta carolina-carvalho.blogspot.com

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meio ambiente

NEUTRALIZAÇÃO DE CARBONO: QUE BICHO É ESSE?

gás carbônico (CO2) é um dos principais gases de efeito estufa (GEE). Como já citamos em artigos anteriores, esses gases são importantes para a sobrevivência dos seres que habitam o planeta. No entanto, a geração em excesso dos mesmos está provocando o chamado “aquecimento global”. Quando saímos com nosso carro, quando ligamos um eletrodoméstico ou quando vamos a um show de rock, estamos colaborando com o aumento do CO2. Enfim, todas as atividades realizadas durante o dia geram gás carbônico, que é lançado As empresas não na atmosfera e provoca o aumento do efeito estufa. podem utilizar este Se considerarmos o CO2 gerado por um único habitante do mecanismo como planeta, veremos que se trata de uma pequena quantidade, único instrumento que, se calculada isoladamente, não traz grandes efeitos sobre de redução de GEE o clima. Mas se pensarmos em bilhões de habitantes propara justificar a duzindo carbono em grandes quantidades, simultaneamente, falta de outras perceberemos que a quantidade produzida é maior do que ações de produção a quantidade de gás carbônico que o planeta pode processar. mais limpa. Isto é um grande problema quando pensamos que somos parte de uma sociedade altamente consumista e que o consumo desenfreado gera estes gases em quantidades absurdas. Os movimentos para redução dos gases de efeito estufa têm sido enfáticos na utilização de mecanismos que diminuam a emissão de gases, colaborando, assim, com o clima do planeta. Mas, o que posso fazer para colaborar? Você sabia que, quando adquirimos um produto, levamos para casa em média 7 (sete) embalagens, e que para a produção de cada uma delas há todo um processo produtivo que consome energia e gera CO2? Por exemplo: um perfume vem do fabricante em um vidro, que vem acondicionado em uma caixa de papelão, envolto em um papel plástico e colocado em outra caixa com várias unidades. 14


Quando compramos o perfume, o lojista embrulha o produto em um papel de presente ou seda e coloca dentro de uma pequena sacola de papel. E assim ocorre com outros produtos que consumimos. Em alguns casos, as embalagens têm especificações técnicas necessárias à conservação dos produtos; em outros, são perfeitamente dispensáveis. O impacto pode ser reduzido se você for um consumidor consciente, separando resíduos e colaborando com a coleta seletiva em seu bairro. Caso ela não ocorra, é melhor levar o produto com o menor número de embalagens possível, deixandoas no próprio fornecedor. Como fazer? É fácil. Ao comprar um sapato, é possível deixar na própria loja a caixa que o embala, a haste plástica que mantém seu formato e o papel de seda que o envolve, levando somente o sapato em uma sacola. Este é apenas um exemplo do que podemos fazer individualmente para ajudar na solução do problema. Outra ação bastante eficiente tem sido a Neutralização do Carbono emitido pelas nossas atividades. Ela é a tentativa de compensar a emissão de gás carbônico com o plantio de árvores, que, através da fotossíntese, transformam gás carbônico em oxigênio. Esta compensação parte do princípio de que se deve calcular a quantidade de CO2 emitida pelas atividades diárias e verificar a quantidade de árvores que devem ser plantadas para neutralizar este valor. Para auxiliar nesse cálculo, existem alguns sites especializados onde você insere suas atividades e uma “calculadora ambiental” efetua o cálculo da quantidade de árvores equivalente. Então, você poderá procurar uma instituição, em geral uma ONG, a quem você possa efetuar uma doação de mudas de árvores. Algumas empresas têm adotado programas de neutralização de carbono em parceria com ONGs ambientais. Ao venderem seus produtos, calcula-se o carbono emitido durante todo o processo de produção, revertendo-o em doação, tanto por parte da empresa como, em alguns casos, pelo comprador, que também efetua uma doação. Isto tem ocorrido com concessionárias de veículos, instituições bancárias e o comércio em geral. No entanto, as empresas não podem utilizar este mecanismo como único instrumento de redução de GEE para justificar a falta de outras ações de produção mais limpa, principalmente se considerarmos que, mesmo plantando uma muda de árvore, levará pelo menos 20 anos para que se torne adulta. E até lá? Podemos continuar poluindo? Outras ações devem ser adotadas pelas empresas, pelos governos e pela população para combater um problema que é de todos. O esforço tem que ser de todos.

O impacto pode ser reduzido se você for um consumidor consciente, separando resíduos e colaborando com a coleta seletiva em seu bairro. Caso ela não ocorra, é melhor levar o produto com o menor número de embalagens posível, deixando-as no próprio fornecedor.

Rubens Borges é Administrador, Especialista em Educação Ambiental e Secretário Executivo do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA).

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arte educação

DEIXA O MENINO FAZER ARTE! por Claudia Liba

Criação tem que estar associada a prazer (...). A frustração é necessária e faz parte da criação.

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Versátil Magazine traz para seus leitores uma conversa com a professora, artista e sócia do espaço OficinaZ, Nadejda Ramirez Starikoff. Ela tem o dom de despertar nas pessoas a possibilidade de enxergar diferente. A visão da arte, da beleza que acalma, que acolhe. E a sua delicadeza se reflete nas pequenas grandes conquistas observadas nas crianças que passam pelo OficinaZ. Conheçam o trabalho dessa artista, que mais parece um anjo.


Versátil Magazine: Sua ascendência russa influenciou seu modo de ver a vida? Nadejda: Sim, sempre vi minha mãe, tias e avó fazendo tudo em casa, tudo manual, artesanal e colorido. Dificilmente se descartam os objetos e se reaproveita tudo. Na Rússia, para sobreviver às condições ambientais e à vida dura, elas aprenderam a fazer de tudo um pouco. Acho que esta forma de viver caracteriza meu dia a dia. Estas atitudes garantiram a sua sobrevivência e determinaram uma forma de encarar a vida longe de esbanjamentos. Hoje sabemos que, se o homem não adotar determinadas atitudes, quem irá sofrer são as gerações futuras, estamos à beira de um colapso global em relação aos recursos naturais. VM: O que é “belo” para você? N: Gosto do que é fora do convencional, inusitado, da miscigenação das cores e das assimetrias. A beleza são emoções. Um evento, uma frase de conversa, uma paisagem no meio da cidade, a música, o silêncio, uma pessoa. O belo é o que faz brotar boas emoções em mim.

VM:Algum artista em especial influenciou o seu trabalho? N: Todos que já conheci, famosos ou não. Mas desde pequena sentia uma admiração sem explicação ao ver “Rosa e Azul”, de Renoir. Sempre admirei os impressionistas, as cores e as pinceladas. Também gosto muito das cores de Frida Kahlo e de sua história. VM:Lembrando a história da sua mãe, pode-se dizer que foi ela quem lhe ensinou a fazer arte? N: Com certeza, minha mãe me ensinou a aproveitar tudo. Ela olha retalhos de tecidos e, quando menos esperava, viravam roupas bonitas. Às vezes não gostava e não valorizava, mas hoje entendo os valores que ela procurava me passar. Ela sabe a “arte” de aproveitar e de transformar tudo! Isso despertou meu interesse na costura, assim como nos mosaicos. Quem me ensinou a pintar foi minha tia materna. Com as tintas aprendi a expressar as emoções. A minha infância foi um pouco aqui em São Paulo e um pouco em Santiago do Chile. É cheia de lembranças boas entre os familiares e de brincadeiras que foram garantidas pelos meus pais. Convivi com a família dividida entre os dois países. As idas e vindas me ajudaram a respeitar e ampliar o repertório cultural.

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arte educação

“Nenhum pai ou mãe precisa ser um artista ou saber desenhar bem! Há necessidade de simplesmente curtir com seu filho e oferecer oportunidades para explorar materiais diferentes.” VM: Pode contar pra gente como se deu a sua trajetória profissional? N: Se por um lado tive influência da minha mãe para explorar todo este lado artístico, também tenho o meu pai, professor e pesquisador na área da Bionanoengenharia, que colaborou para a minha formação profissional. Paralelamente ao lado artístico, me formei em Ciências Biológicas e tive muita vontade de me tornar uma cientista. Neste percurso acabei experimentando a “arte” de dar aulas e, há 15 anos encantada com esta área, venho me especializando. Sou professora de Ciências da Natureza e de Biologia para crianças e adolescentes. Não pude parar de estudar, continuei estudando e me tornei Mestre em Psicopedagogia, o que enriqueceu a minha atuação em sala de aula. Hoje tenho um ateliê, aonde venho me aperfeiçoando como terapeuta e busco na arte um canal para ajudar o outro a se expressar. VM: E como é a atividade como terapeuta? N: Percebi que, em muitos momentos, não queremos ou não podemos expressar sentimentos e pensamentos. Ao pintar, desenhar, modelar, enfim, durante o processo artístico expressamos aquilo que sentimos. A arteterapia surgiu aos poucos no meu ateliê, quase sem querer. Em algumas atividades espontâneas propostas aos meus alunos, percebi que poderia ajudar sem necessidade de fazer a análise. A escolha dos materiais, a escolha das cores e o processo de criação são acompanhados de muito significado inconsciente que em muitos momentos “falam” de uma forma que entendemos melhor o indivíduo. Com minha irmã, Karina, professora de yoga, elaboramos atividades com yoga, meditação, contação de histórias e produções artísticas que 18

proporcionam o desenvolvimento da criatividade de forma prazerosa. A yoga ajuda na concentração. O movimentar do corpo proporciona um conhecimento de suas limitações. A contação de histórias desperta e aguça o imaginário, parte vital para o processo de criação. A produção artística, além de oferecer conhecimento para adquirir técnicas, aprimora a motricidade e canaliza a criatividade. Em geral, as crianças não verbalizam seus sentimentos e pensamentos. Elas expressam o que sentem através da criação. Explorar estas habilidades proporciona um resgate da autoconsciência e melhora a autoestima. Me sinto realizada e feliz com os resultados das transformações nas crianças. Este trabalho por muitas vezes tem sido minha terapia, pois me transforma a cada encontro! Poucas escolas se preocupam em trabalhar o processo de criação que garanta de fato a transformação do indivíduo. Não por culpa dos professores, pois a carga horária muitas vezes é pequena e as turmas são numerosas. A criação acaba sendo atropelada pelo tempo escasso, sem levar em conta que cada um tem um ritmo diferente para o processo de produção. É muito importante que os pais ofereçam estes momentos em casa. Nenhum pai ou mãe precisa ser um artista ou saber desenhar bem! Há necessidade de simplesmente curtir com seu filho e oferecer oportunidades para explorar materiais diferentes, para produzir com todos eles: colagem, pintura, desenho, modelagem, música, dança, enfim, e há necessidade de paciência para limpar tudo depois. O mais importante é acompanhar a produção, que proporciona prazer.


Criação tem que estar associada a prazer. Às vezes, a frustração pode acompanhar a produção por não conseguir chegar próximo a uma expectativa. Estar ao lado e observar estes comportamentos facilitam a intervenção positiva para ajudar o desenvolvimento emocional do filho. A frustração é necessária e faz parte da criação. Aconselho os pais a buscar um cantinho especial que se torne uma galeria de arte “do pequeno grande artista da casa” para expor os trabalhos valorizando a criação. Acompanhei o processo de um menino que chegou ao ateliê e achava feio tudo o que produzia. Não queria mais desenhar! Fechouse para qualquer atividade que estivesse relacionada ao desenho. Convidei-o para que inventássemos coisas, e ele, aos poucos, foi soltando a imaginação. Ele não se dava conta de que estava pintando ou desenhando comigo ao inventar as “coisas”. A motricidade melhorou, já não reclamava tanto quando convidado a desenhar. O dia em que desenhou e pintou seu autorretrato foi a aula que mais nos emocionou. Ficamos tocados olhando aquele menino se deliciando ao pintar seu rosto e corpo com prazer durante a criação. Ainda tem muito chão pela frente, mas, com certeza, está mais seguro e autoconfiante. É isso aí!

A beleza são emoções. Um evento, uma frase de conversa, uma paisagem no meio da cidade, a música, o silêncio, uma pessoa. O belo é o que faz brotar boas emoções em mim.

Nadejda Starikoff é graduada em Ciências Biológicas pelo Mackenzie, Mestre em Psicopedagogia pela Unifeo, Professora de Ciências e Biologia nos Colégios Sidarta e Stella Maris, Arteterapeuta no Espaço Oficinaz. www.oficinaz.com

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Entrevista com

SIMONE GUTIERREZ por Claudia Liba e Rodolfo Poppi


entrevista educação

imone Gutierrez, atriz, cantora e bailarina profissional, 34 anos, saiu do interior paulista, Ribeirão Preto, chegou em São Paulo à procura de oportunidades como dançarina nas companhias de dança, mas acabou caindo de paraquedas no mundo da música. Não demorou muito até que seu multi-talento fosse revelado, e assim ganhou os holofotes ao interpretar a gordinha Tracy no musical “Hairspray”. Na TV, Simone caiu nas graças do público ao dar vida à personagem Lurdinha na novela “Passione”. E agora se consagra tendo um papel de destaque, feito especialmente para ela, no musical “New York, New York”. Ela é o mais novo talento que desponta no mundo dos musicais no Brasil. A Versátil Magazine foi bater um papo com essa simpatia revelada pelo ator e diretor Miguel Falabella. Com vocês, Simone Gutierrez.

Versátil Magazine: Vamos resgatar sua história desde o começo. Você começou a carreira artística como dançarina de balé clássico, formada, correto? Simone Gutierrez: Sim, eu sou de Ribeirão Preto. Comecei o balé com três anos de idade e sou bailarina clássica formada. VM: Como começou sua paixão pela dança? Quem te incentivou? SG: O maior incentivador foi meu avô e, claro, meu pai e minha mãe. Desde pequenininha eu ficava dançando pela casa, andando na pontinha do pé. Eles resolveram me matricular numa escola de dança. Daí, nunca mais saí. VM: Quando foi a primeira vez que você pisou nos palcos? SG: Eu tinha 5 anos, foi numa apresentação da escola de balé. VM: E foi nesse momento que você percebeu que ali era o seu lugar? SG: Eu acho que a gente já nasce sabendo. Eu nunca pensei em fazer uma faculdade, nunca pensei em nenhum curso. Sempre tive uma ligação muito forte com a arte. Sempre quis dançar. VM: E quando você descobriu que também tinha talento para o canto? SG: O canto... Foi uma das coisas mais inusitadas da minha vida. Eu vim para São Paulo com a dança e não tinha muito campo. Para ganhar dinheiro dançando, ou você entra para uma grande companhia, ou você faz eventos e festas. E eu não conhecia ninguém, vim para fazer teste para a companhia da Fernanda Chamma, mas nada que fosse ter remuneração. Um certo dia um amigo me jogou a ideia de fazer backing vocal numa banda de um amigo dele, só bastava fazer ‘tchu ru ru ru’ e ‘tcha ra ra ra’. E eu nunca tinha cantado na vida. Ele me conhecia porque eu sapateava no karaokê dele e de vez em quando eu cantava,

e ele me achava afinada. E, aí, ele falou: “Você não tá precisando de grana? Então vai lá!”. E eu realmente tava precisando e fui. Minha primeira experiência como cantora foi fazendo o ‘tchu ru ru’, ‘tcha ra ra’. VM: Depois dessa experiência, você estudou canto? SG: Não! Pra não dizer que nunca fiz aula na minha vida, fiz, no máximo, três, quatro aulas de canto. Nunca tive grana. Comecei a estudar e fazer aulas esporádicas quando eu já tinha minha grana e tava fazendo “Les Misérables”. O maestro Marcelo Araujo, responsável pela parte musical da peça, passava alguns exercícios de aquecimento, algumas apostilas. Eu pegava o que ele nos ensinava e estudava sozinha. Sempre fui muito autodidata. Ficava no carro fazendo os exercícios e aquecimentos. Tiro tudo de ouvido, não sei ler partituras. Ando com o gravador nos ensaios e vou praticando. VM: E como foi a experiência de cantar com mais gente? SG: Foi legal ter começado a cantar em coro nos musicais. Ali que está a verdadeira escola. Você aprende a ouvir, a timbrar. Tudo acontece no seu tempo. Se eu não tivesse começado lá de baixo, se eu tivesse feito tudo que eu fiz, sem ter passado pelo coro, acho talvez que não faria, modéstia à parte, tão bem como faço hoje. De poder ter mais consciência, mais técnica, mas sempre tudo estudando sozinha, pois não tinha grana. Uma aula de canto era cara pra caramba na época. VM: Existe alguma cantora que te serviu de inspiração? SG: Eu comecei cantando, na verdade, imitando. Eu adorava ouvir Aretha Franklin, Mariah Carey. A minha praia era a dança, nunca fui muito ligada a intérpretes. Mas hoje eu amo escutar as “negonas”. Falou que é negona já tá lá tocando no meu carro. Eu gosto muito de uma cantora chamada Rachelle Ferrell, uma voz que “quando eu crescer eu quero 21


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Marcos Mesquita

O maior incentivador foi meu avô.

ser ela”. Do Brasil, eu adoro a Elis Regina, Maria Bethânia. VM: Para montar o espetáculo “Aípod”, você usou estas referências de repertório? SG: Quando a gente pensou no repertório, nós decidimos que a gente ia cantar o que a gente quisesse. O musical se passa numa rádio, e na rádio toca a música que quiser. O lema da nossa rádio é: “Manda quem pode, obedece quem tem ouvido”. E aí a gente toca o que a gente quiser. Eu selecionei músicas mais viscerais, como as de Whitney Houston. Não queria nada simplesinho e sim músicas que exigem o desafio. VM: Você é uma pessoa muito intensa? SG: Muito! Acho que se eu não fosse pra comédia me suicidava em três dias. Se eu fizesse drama, estaria morta em três dias. Eu sou muito intensa, vivo muito intensamente. Me jogo e me dedico e sou muito focada e determinada. Sou leonina, teimosa pra caramba. VM: Você estava com viagem marcada para Nova York para estudar e de repente começaram as audições do “Hairspray” aqui no Brasil. Como foi isso? SG: Na verdade, quando eu cheguei em Nova York, eu não sabia que estava sendo montado o musical. A gente ouviu dizer que alguém tinha comprado os direitos e que a peça seria montada no ano seguinte, isso era comentado em 2008

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quando eu estava lá fora, mas nenhuma informação era confirmada. O diretor Jorge Takla, que produzia “A Bela e a Fera”, tinha ido à Broadway e visto o musical lá. Falou que na peça tinha uma personagem que era a minha cara, gordinha, e que se realmente viesse pro Brasil eu tinha que fazer. Quando eu estava lá, de tanto ele falar que a personagem se parecia comigo, fui assistir e me apaixonei. Na época eu tava magérrima. VM: Ao assistir à peça, você já ficou se imaginando na pele da personagem? SG: Na verdade eu pensei: “Se eu não conseguir essa personagem, qual que eu vou conseguir?”. Porque aqui no Brasil são poucas as atrizes que fazem os papéis principais. E já existem nomes consagrados como Kiara Sasso e Sara Sarres, nomes que são feras no teatro musical. E são papéis totalmente fora do meu perfil. Eu era gordinha e sempre lutava pra ficar magra pra fazer um musical. Na época eu tava magra, mas já que na peça o papel principal era da gorda, engordei 20 kg. Eu vou engordar porque eu quero passar. VM: Como foi o processo de engordar pra essa personagem? SG: Eu engordei para fazer os testes pro papel. Eles queriam uma personagem que fosse gorda e fizesse tudo aquilo que ela fazia no palco. Mas não podia ter enchimento, tinha que ser gorda. Muitas vezes eu chegava a perder bastante peso, de tanto exercício que a personagem fazia em cena. E eles me mandavam voltar a engordar, porque a personagem tinha que ser gorda. E pra mim engordar é muito fácil. Eu penso “Humm... doce”, já engordei. Se eu olhar e falar “Ai, que delícia”, já engordei. VM: Depois da peça, ficou uma imagem em cima de você, estereotipada, da “gordinha”? Se sim, te incomoda? SG: Olha, não sei! Mas não me incomoda nem um pouco. Eu nunca serei uma pessoa extremamente magra, eu tenho uma estrutura grande, larga. Meus pais são baixinhos e gordinhos, então eu nunca vou ser uma Gisele Bündchen e nem magérrima. Serei sempre a gordinha “gordelícia”. Então, não incomoda. Mas acho que quando você é artista, atriz e você tem um personagem, você tem que se doar de corpo e alma para aquilo. Então, se tiver que engordar, eu engordaria tudo de novo, e se tiver que ficar magra também.

Pra mim, engordar é muito fácil. Eu penso: Hum, doce, já engordei. Se eu olhar e falar: ‘Ai, que delícia’, já engordei.


Tudo acontece no seu tempo. Se eu não tivesse começado lá de baixo, se eu tivesse feito tudo que eu fiz, sem ter passado pelo coro, acho talvez que não faria, modéstia à parte, tão bem como faço hoje.

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entrevista educação

VM: “Hairspray” foi dirigido pelo Miguel Falabella. Como foi trabalhar com ele? SG: Todo mundo que trabalha com o Miguel se enlouquece por ele. Ele é uma delícia. A gente carrega essa amizade até hoje. A gente se liga e fala “Vamos sair pra jantar e dar risada”. VM: Qual a importância do Miguel no cenário dos musicais? SG: Ele é o que melhor escreve comédia, em minha opinião. Ele sabe a linguagem do que as pessoas gostam. Dramaturgicamente, ele é o cara. É muito difícil fazer uma tradução, levar pro popular, adaptar as piadas. Ele é o cara pra fazer isso. VM: Qual a diferença do “Hairspray” pro seu último trabalho, o “Aípod”? SG: O “Aípod” é um show meu com o Eduardo Berton, que também dirige. É meu primeiro filho, a primeira coisa que eu produzi. Pensamos nas músicas, criamos novos arranjos. O “Hairspray” é uma peça prontinha, você chega e faz o que tem que fazer. Com o “Aípod” teve todo o processo de criação. Mas a entrega aos personagens é a mesma. VM: E como é juntar a comédia com a música? SG: É uma delícia, eu falo pros meus pais que acho que vim pro mundo pra divertir mesmo. Eu adoro fazer as pessoas rirem, sou uma palhaça no dia a dia. Acho que a gente precisa disso. Não digo que eu não faria drama, faria sim. Mas eu amo comédia. VM: A peça ficou em cartaz até o final de fevereiro no teatro Nair Bello. Tem planos de voltar? SG: Sim, provavelmente voltamos em abril, nas quartas-feiras, aqui em São Paulo. Estamos ainda negociando o lugar.

VM: Ficará em cartaz com as duas peças? SG: Sim, eu sou meio workaholic. Como diz o Miguel, “Quanto mais eu faço, mais quero fazer”. É o nosso trabalho, e o bom dele é que ele é uma grande diversão. VM: Existe algum ritual na coxia antes de entrar nos palcos? SG: Não! Às vezes chego 20 minutos antes, só dá tempo de maquiar e já tem que entrar. O que eu gosto é de sempre pisar primeiro com o pé direito. Sempre! VM: Conte-nos sobre seu novo trabalho no musical “New York, New York”. Um personagem foi criado especialmente para você, como se sente? SG: Sim, ter esse prestígio, é um luxo, né?! Fui convidada para fazer o teste e ficou aquele impasse dos diretores, que queriam que eu participasse mas já tinham a Alê (Alessandra Maestrini), que é a protagonista. Como a peça gira em torno de um casal, eles não sabiam o que fazer comigo. No filme (“New York, New York”, 1977), que serviu de inspiração, é muito dramático e muito pesado, então, nessa adaptação eu acabo entrando pra dar o lado da comédia, da leveza pra peça. Serei uma secretária que vai infernizar a vida do personagem do Juan Alba. E, no fim, essa paixão platônica dela não dá em nada, porque na história o casal principal é uma espécie de “alma gêmea”. VM: Qual será o grande desafio neste espetáculo? SG: O grande desafio vai ser me superar. Apesar de ser um papel pequeno, eu quero que as pessoas gostem dela, que ela seja tão carismática e querida como a Tracy do “Hairspray”.

NEW YORK NEW YORK, O MUSICAL: A MONTAGEM TEATRAL ACONTECE 34 ANOS APÓS A REALIZAÇÃO DA VERSÃO CINEMATOGRÁFICA DO DIRETOR MARTIN SCORSESE, COM OS ATORES LIZA MINNELLI E ROBERT DE NIRO. COM DIREÇÃO DO CONSAGRADO E PREMIADO DIRETOR JOSÉ POSSI NETO, O ESPETÁCULO SERÁ PROTAGONIZADO PELOS ATORES ALESSANDRA MAESTRINI E JUAN ALBA, COM PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS DA CANTORA JULIANNE DAUD E DA NOSSA ENTREVISTADA, SIMONE GUTIERREZ. NO ELENCO, 13 BAILARINOS, 16 ATORES/CANTORES, ALÉM DE 25 MÚSICOS QUE IRÃO FORMAR UMA LEGÍTIMA BIG BAND SOBRE O PALCO, ACOMPANHANDO TODAS AS CANÇÕES DO ESPETÁCULO E SE MISTURANDO, EM ALGUNS MOMENTOS, COM A CENOGRAFIA DO MUSICAL, TRAZENDO O MELHOR DO ESTILO BROADWAY A SÃO PAULO. (veja mais em Teatro) 24


VM: Minutos antes de entrar no palco, você fica com medo de errar a marcação, ou desafinar, errar texto? SG: Não, quando eu piso no palco e as cortinas se abrem, eu só penso em me divertir. Você passa tanto tempo no ensaio, que praticando você já vai se policiando pra não cometer erros. E quando é pra valer, é só diversão. É hora de aproveitar o momento. VM: Existe algum personagem da Broadway que você gostaria de interpretar? SG: Gostaria muito de fazer a bruxa verde Elphaba, do musical “Wicked”. Acho ela demais! VM: Poderia revelar alguma saia justa que aconteceu durante os espetáculos? SG: Eu já mudei letras várias vezes. Também já troquei palavras. Nada muito terrível e que tenha alterado o sentido. Já cai dançando e sai rolando no Hairspray. Foi tão engraçado, todo mundo se perguntou por que eu tava fazendo um contemporâneo improvisado no meio do show. As pessoas acharam que fazia parte da coreografia. VM: Qual a sua visão do futuro dos musicais no Brasil? SG: Só tende a melhorar. Estão surgindo novas escolas, novos cursos. Não adianta chegar lá e achar que é só sair cantando. Tem gente que canta muito, mas falta atuação ou vice-versa. Mas as portas estão se abrindo, estão surgindo novos nomes de destaque nos musicais. A tendência é crescer e eu fico muito feliz.

Quando eu piso no palco e as cortinas se abrem, eu só penso em me divertir. 25


BAIÃO DO BIU

gastronomia

lmocei com três amigos de infância recentemente, grandes amigos! Daqueles que o tempo e as circunstâncias afastam, o que é uma pena. Fazia anos que não nos víamos. Mas o reencontro foi um banho de nostalgia. Rimos e lembramos histórias de escola, de colégio, por horas. Foi como um reencontro de Athos, Porthos, Aramis e D’artagnan, contando as peripécias feitas no passado. A prosa foi acompanhada do melhor baião de dois que provei em muito tempo. Um baião de dois molhadinho, bem temperado, cheio de carne seca em cima. Acompanhando uma salada, farofa de mandioca, que não pode faltar, e a pièce de resistence: uma manteguinha de garrafa. A cereja do bolo foi um suco de cacau, acerola e cajá, uma coisa muito especial. Enquanto descrevo a refeição, que lembro com muito carinho, além de voltar a salivar e lamber os beiços, revejo na memória o bar que serviu o tal baião, o Bar do Biu, repleto de boas cachaças na parede, mas com uma decoração de boteco, simples e sem o menor luxo, fico imaginando o quanto uma boa experiência e uma boa companhia podem ajudar uma comida a ser maravilhosa. Admito que isso possa ter dado um sabor a mais à refeição. Sempre que comemos com tempo, com pessoas queridas, com uma boa conversa, a comida fica melhor. Ou fica como deveria ser. Talvez o errado seja analisar a comida quando estamos em má companhia, de mau-humor, ou sem tempo. Esta nunca é saborosa como deveria. E um vinho, por exemplo, o melhor que lembramos já ter provado, normalmente, é um não tão especial. Mas nos recordamos do momento, da pessoa que estava conosco. Isto fez dele algo especial. E o contrário é mais verdadeiro ainda. Podemos arruinar um Chatêau Margaux, aquela garrafa que bebíamos na briga que causou um divórcio, ou quando recebíamos uma notícia ruim. Agora, no Baião do Bar do Biu, foi diferente. Esse eu garanto que é muito bom. Sempre me preocupo bastante com o estado de espírito para comentar um prato. E já ouvi referências do lugar que, em um concurso do Boteco Bohêmia, levou terceiro lugar no quesito atendimento. A cozinha maravilhosa se deve à Dona Edi, esposa do proprietário, o Biu. Portanto, para quem gosta de restaurantes com autêntica aparência de boteco, autêntica mesmo, tem que ir nesse cantinho.

Gabriel Leicand leicand@mange-toi.com Twitter: @leicand

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nosso bairro

CULTURA POPULAR BRASILEIRA “PEGA FOGO” NO MORRO DO QUEROSENE Por Thaila Rizzi dos Anjos

GRUPO CUPUAÇU COMPLETA 25 ANOS E COMEÇA A FESTEJAR COM A FESTA DO BUMBA MEU BOI.

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inguém imagina que a apenas 30 minutos da majestosa Avenida Paulista, o coração de São Paulo, bate um coração ainda mais forte, o da responsabilidade de manter viva, em meio às interferências internacionais e à alta tecnologia da cidade cosmopolita, a raiz do Brasil. Localizado no bairro do Butantã, o Morro do Querosene é lar de artistas plásticos, músicos, poetas, dançarinos, atores e cineastas que desfrutam a bênção de viver entre papagaios, maritacas, abacateiros, jambeiros e outra infinidade de aves e árvores frutíferas que fazem do local uma verdadeira fonte de inspiração. Foi com essa mistura de talento e natureza que nasceu o Grupo Cupuaçu, responsável pela maior manifestação da cultura maranhense em São Paulo. O Grupo foi formado em 1985, por Tião Carvalho, reconhecido pela multifuncionalidade artística, perpetuado


Thaila Rizzi dos Anjos

nas vozes de Cássia Eller e Ná Ozzetti com a composição de beleza ímpar, “Nós”, e idolatrado pelo CD “Quando Dorme Alcântara”, que foi produzido pelo amigo, parceiro e membro da direção do Grupo, Zé Marcos Pires. Através de manifestações culturais como o canto, a dança e a interpretação, o Grupo mantém presente e atual a cultura popular brasileira. “É importante mostrar aos jovens o que se tem de melhor em qualidade musical. A nossa intenção é propagar a beleza da arte do nosso país cantando artistas como Tom Jobim, Jackson do Pandeiro e o próprio Tião Carvalho, que será consagrado, em breve, um dos ícones da nossa cultura”, acredita Zé Marcos. O Grupo Cupuaçu completa 25 anos em 2011 e prepara uma série de comemorações já tradicionais para os próximos meses. No dia 23 de abril será celebrado o renascimento do Boi que, segundo a lenda maranhense, foi morto pelo escravo Pai Francisco, marido de Mãe Catirina, uma grávida que desejava comer a língua do animal. Reza a história que o dono do Boi ficou furioso e ordenou que o escravo Pai Francisco devolvesse a vida ao animal, que acabou renascendo milagrosamente diante da insistência de pajés e curandeiros, tornando-se símbolo de vida, festejo e alegria. “Esse ano é muito especial para o Morro do Querosene. Estamos nos preparando para trazer atrações como o Grupo Cachuera!, Abaçaí, Ilú Obá De Min e Teatro Ventoforte”, continua Zé Marcos. Contando apenas com o apoio da CET, PM, subprefeitura e dos bombeiros, a festa acontece por comprometimento e apoio dos integrantes do Grupo e da própria comunidade do Morro do Querosene. “Fomos contemplados em 2010 no Edital ProAC nº 13, relativo ao apoio “À Promoção da Continuidade das Culturas Tradicionais no Estado de São Paulo”, da unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, com nosso projeto “Grupo Cupuaçu 25 anos - Jubileu de Prata”, para apoio à infraestrutura de som, mas não contamos com nenhum suporte de órgãos governamentais além dos ligados à segurança”, diz o produtor cultural Zé Marcos. O que garante o envolvimento dos moradores da região do Morro do Querosene é a familiaridade ressaltada nos cumprimentos entre vizinhos, nas rodas de samba e no ar típico de uma cidade de interior, quase transcendental. Dinho Nascimento, cantor e compositor, mestre da percussão,

mestre do berimbau e produtor cultural, é baiano e reside no Morro do Querosene há mais de 15 anos. A alegria de Dinho é a de quem não se preocupa com as construções de grandes edifícios, com o trânsito, a poeira e o estresse. O Morro do Querosene tem mesmo um toque boêmio que não se parece nada com a rotina caótica do paulistano. É um refúgio que ainda preserva fonte de águas puras e Mata Atlântica, como se ficasse a 500 quilômetros da capital. O produtor parece encher a boca de orgulho ao falar do pequeno paraíso coletivo. “No Morro ainda mantemos o senso de comunidade. Os vizinhos não reclamam quando ficamos até mais tarde festejando uma data especial. As manifestações artísticas são variadas: festa do Bumbameu-boi, samba de roda, tambor de crioula, capoeira, até mesmo carnaval informal com um grupo que se encontra na Pracinha e improvisa o samba. Quando a gente percebe, os moradores e amigos aparecem, aumentando o bloco que sai em cortejo pelas ruas”, comenta. O Morro do Querosene caiu na boca do povo. Jovens paulistanos frequentam o local, como o estudante de ciências sociais Ícaro Coutinho, 24 anos, morador da Vila Guilhermina, na Zona Leste, que não se importa com a distância desde que possa presenciar o renascimento da arte nas nascentes da Chácara Fonte. “Fui à festa do Boi duas vezes e fiquei impressionado com a celebração e a beleza do bairro. Aprecio bastante a cultura popular em geral. O Brasil tem muito dessas manifestações que surgem de lendas e são passadas de geração para geração. O Morro do Querosene busca essa cultura do passado e agrega o contemporâneo, como a Festa do Boi e os grafites coloridos espalhados pelas ruas, exemplificando o velho e o novo”, diz o estudante. O Morro do Querosene vive o ontem e o hoje em um dia só. Quem passeia pela confluência das ruas Padre Camilo, Capitão Frederico Pradel, Capitão Paulo Carrilho e Dr. Cícero de Alencar, onde está situada a Praça da Árvore, que abriga a maior parte das manifestações culturais que acontecem na comunidade, se encanta com a diversidade musical, artística e social. Pernambucanos, maranhenses, baianos e paulistanos dividem suas experiências e fazem o coração do Butantã bater em frequência perfeita com o resto do país. Como se o Brasil todo estivesse ali, diante dos batuques ecoados de todos os lares do Morro do Querosene.

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games

DIGA OLÁ PARA A REALIDADE s jogos de tiro em primeira pessoa dominam atualmente o mercado de games mundial. Franquias como Call of Duty e Battlefield duelam a cada lançamento para ver quem ocupa mais espaço nas prateleiras. No momento, Call of Duty: Black Ops é o jogo mais vendido, porém Battlefield 3 chega para acabar com essa história. O jogo vem com uma boa melhoria nos gráficos e novos mapas chamam toda a atenção para seu lançamento. A principal atração é o modo campanha, onde você passa por batalhas no Oriente Médio, Estados Unidos e Europa. Outras novidades são a adição de novos veículos e a possibilidade de controlar caças de vários exércitos. A versão do jogo para o computador terá gráficos melhores que a versão para consoles, mas existe um temido problema, o upgrade no sistema operacional. Quem usa o bom e velho Windows XP terá de migrar para o Windows vista ou o Windows 7. Além disto, o jogo exige uma boa placa de vídeo e um processador Quadcore. Para quem não possuir um computador tão bom, se quiser jogar, terá de desembolsar um bom dinheiro. A data de lançamento ainda não foi divulgada, mas vale a pena esperar por esse grande jogo, que estará disponível para Computador, Playstation 3 e Xbox 360.

Caio Gasparetto Diniz da Silva caio_gasparetto@hotmail.com Twitter: @CaioGasparetto

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negócios

O MAPA DA MINA onheço um músico dos bons, empreendedor, proprietário de uma pequena e bem sucedida escola de música, das que ensinam a tocar violão, baixo, guitarra e teclado. Ele tinha uma dúvida: queria saber como compensar o tempão que gastava dando aulas, preparando apostilas e cuidando das atividades gerais de sua escola. Queria saber se podia aumentar seu “pró-labore” para compensar a trabalheira toda. Ele ainda comentou que rotineiramente recorria a empréstimos para pagar algumas contas, e que depois os cobria, conforme seus alunos pagavam as aulas. Indaguei se ele tinha algum registro de entradas e saídas de dinheiro na sua escola. Estudioso - como deve ser um empreendedor -, ele estava preparando uma planilha que chamou de “mapa do movimento mensal” do dinheiro na escola. Em pouco tempo, teve grandes progressos com o tal “mapa”. Descobriu que, nos primeiros dias do mês, tinha uma falta de dinheiro. Era quando recorria aos empréstimos. Depois, vinham alguns dias de vacas gordas, com a entrada dos pagamentos das mensalidades dos alunos. Falou que, quase todos os dias, tinha algum pagamento a fazer, alguma compra a realizar, algum gasto extra - reforçou dizendo que havia acabado de chamar o eletricista para consertar algumas luminárias defeituosas das salas de aula... A questão-chave, para meu amigo músico, empreendedor e empresário, era que os recursos financeiros para cobrir essas despesas não vinham todos os dias. Vinham em datas certas. Perguntei a ele se não dava para pagar tudo na data dos recebimentos. Respondeu que não. Perguntei se, então, não dava para receber tudo nas datas dos pagamentos. Também não. “Então, meu amigo”, eu disse, “essa ‘falta de dinheiro’ - também conhecida por ‘necessidade de capital de giro’ - precisa ser gerenciada”. E não é que ele mergulhou de cabeça no seu “mapa” financeiro? Fez cálculos, estudou o movimento de caixa e bancos da sua pequena escola, remanejou compras adiáveis, cobrou os alunos que costumeiramente atrasavam. E um dia me ligou para dizer que, agora, com o tal “mapa”, descobriu que sobrava dinheiro. Podia investir, comprar novos instrumentos musicais, cuidar do futuro de sua filha. A moral da história é que, usando de planejamento e controle, o empreendedor pode achar seu “mapa da mina”. E você, o que faz para aumentar seu ganho?

Usando de planejamento e controle, o empreendedor pode achar seu ‘mapa da mina’.

Ricardo Leão Ajzenberg é Especialista em projetos de investimento. azb@coreconsp.org.br

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irreverência

INTOLERÂNCIA por Claudia Liba

Muito se tem discutido sobre a cidadania e o papel da sociedade em proteger seus membros, principalmente em situação de fragilidade. As áreas de educação e saúde, nas quais atuo na formação de profisionais, são consideradas o carro-chefe na transformação da sociedade. Na saúde, temos um dos assuntos mais eloquentes, pois ninguém escolhe por adoecer e algumas doenças comprometem o corpo e a alma humana, destinando o paciente a um estado de sofrimento – apesar da evolução nas teorias e no entendimento. Eis uma cena de 20 de março de 2011, passado bem presente. Em manhã ensolarada, eu e minha família saímos em visita a minha avó. Seguíamos tranquilos e nos deparamos com uma cena insólita – nossos olhos viram e nossa mente registrou sem acreditar. Um homem com uniforme azul marinho empurrava bruscamente uma cadeira de rodas hospitalar, onde estava um idoso e, em ato de premeditada violência, arremessou-o na rua. Perplexas, paramos o carro e vimos o corpo estirado na avenida (Gastão Vidigal), sob risco de ser atropelado por um ônibus que se aproximava. Para nossa surpresa, o deficiente, Sr. Odair, 57 anos, era paciente do Posto de Saúde e fora assim tratado por um funcionário do próprio posto de atendimento público. Em clima de indignação, nós e outras testemunhas perguntamos ao funcionário (do posto de saúde ou uniformizado) o porquê da atitude e, mais uma vez, fomos surpreendidos com a resposta “Este homem é um vagabundo, fica mexendo com

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as mulheres dentro do posto.”. Percebendo o total despreparo deste profissional, buscamos o responsável pela segurança do posto, que se identificou como apenas “José”, e insinuou que estávamos interferindo na rotina do seu trabalho, pois só quem trabalha lá é que sabe das dificuldades. Portanto, estava confirmando a prática da intolerância e violência para com o ser humano. Testemunhas deste fato de desrespeito humano, insistimos em buscar explicações com a Administração do Posto Público. E tomamos um tradicional “chá de cadeira”, que fez com que uma das testemunhas, Sr. Carlos, desistisse: “ Como sempre isso não vai dar em nada”. Ficamos lá e minha irmã advogada tomou a frente para falar com a responsável pelo atendimento. A Assistente Social, profissional de saúde, responsável pelo atendimento do Posto Público de Saúde, com voz pausada e doce tentou nos convencer de que o tratamento dado pelo segurança foi natural, pois o Sr. Odair, paciente do posto, é alcoólatra e causa desconforto pelo seu comportamento. Justificou, ainda, com um jargão amadoristíco para a posição técnica que exerce, que “a própria família excluiu o Sr. Odair”. Esta frase nos permite entender que, se a família o rejeita, o poder público também pode destratá-lo e agir com a violência que presenciamos. Percebemos que muito pouco teríamos a discutir com pessoas tão insensíveis e despreparadas para o trabalho. Formalizamos a queixa na ouvidoria e aguardamos uma resposta. E, quem sabe, uma intervenção.


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reverência

Como arte, a vida tem por pressuposto expressar-se com liberdade, criatividade, originalidade, harmonia e beleza, enquanto o viver é permeado pela complexidade, coisas que jamais caberiam em um regulamento fechado denominado ‘código’. 10 34


A política e a ética são temas que deveriam interagir. A transparência na gestão do bem público deveria ser a prática natural do administrador ético. Consciente do seu papel como gestor público, deveria apressar-se a prestar contas à população que o elegeu.

ÉTICA CÓDIGO DE ÉTICA NÃO EXISTE. O leitor pode ficar surpreso com tal afirmação, mas, de fato, ética não tem código, se considerarmos como verdadeiro o estudo dos grandes filósofos que cunharam o termo e muito dissertaram sobre o assunto. Ética seria a forma suprema do exercício da liberdade do ser humano na busca do bem, diferente da moral, que nos enquadra em seus regulamentos e nos impõe uma forma de conduta independente de nossa vontade. A filosofia, desde a Antiguidade, se empenha em estudar e responder racionalmente as questões que afligem o homem e sua existência. A ética é um dos temas recorrentes, pois trata da “arte de viver”, segundo os estudiosos do assunto. Como arte, a vida tem por pressuposto expressar-se com liberdade, criatividade, originalidade, harmonia e beleza, enquanto o viver é permeado pela complexidade, coisas que jamais caberiam em um regulamento fechado denominado “código”. Os escritos de Aristóteles, Maquiavel, Spinoza, Nietzsche e de filósofos e intelectuais contemporâneos, como Deleuze, Guatari, Edgar Morin, entre outros, trazem polêmicas sobre a ética e sua prática nas diferentes culturas da sociedade. Mas não há qualquer discordância do contexto de aplicação da ética: livre de códigos, ela permite ao homem escolher entre os vícios e as virtudes (bem e mal), sendo essa uma escolha individual onde cada pessoa deve responder socialmente pelas consequências de seus atos. Já com relação à moral, a sociedade define suas normas e regras de convivência para limitar os homens, considerando-os incapazes de fazerem escolhas responsáveis que assegurem o bem comum. A política e a ética são temas que deveriam interagir. A transparência na gestão do bem público deveria ser a prática natural do administrador ético. Consciente do seu papel como gestor público, deveria apressar-se a prestar contas à população que o elegeu. A “ficha limpa” seria um pré-requisito indispensável a quem desejasse concorrer a qualquer cargo público e, diante da dúvida sobre a integridade, o cidadão deveria tornar-se automaticamente inelegível. No meio empresarial e profissional, o equívoco entre moral e ética se faz presente nos chamados “códigos de ética”, erroneamente

adotados por algumas empresas. Muitos destes códigos são explicitamente antiéticos, pois a título de preservar a imagem e a confidencialidade, omitem erros e faltas que podem trazer prejuízos para a saúde humana, para o meio ambiente e para o próprio mundo dos negócios, haja vista os grandes escândalos do mundo econômico ocorridos recentemente. Digo recentemente, pois, no passado, apesar de comuns, eram poucos os recursos para prever, controlar ou punir os responsáveis por tais desastres econômico-financeiros. Para a regulamentação de profissões, seriam dispensáveis os códigos, pois a legislação deveria dar a transparência necessária para que cada cidadão conhecesse seus direitos e deveres tanto para exercer a profissão como para corresponder às exigências e à segurança dos consumidores e usuários dos seus produtos e serviços. Caberia à sociedade, através de seus representantes e instituições, assegurar a qualidade da formação e a certificação dos profissionais para o exercício lícito da profissão. Nas organizações empresariais, as normas de governança corporativa, os procedimentos e regimentos internos devem estabelecer a lisura dos processos para garantir a qualidade dos bens e produtos a serem comercializados e a conduta esperada de acionistas e corpo profissional, protegendo o ambiente público e privado no âmbito do negócio. Segundo os esotéricos, a ética virá permear as atitudes humanas na era de Aquário. A era tão esperada começará somente na metade do século XXI e será consumada no próximo século. Desta forma, deixaremos para trás o processo de civilização, assumindo nossa maior missão na busca de humanizar o planeta e as relações entre os homens. Caso seja verdadeira a previsão, no século XXII os humanos serão absolutamente éticos em suas atitudes, ou seja, viverão em regime de confiança, onde todos poderão livremente escolher o que lhes convém e dá alegria, pois, segundo Oswald de Andrade, “a alegria é a prova dos 9.”. Claudia Ramos Lessa é Professora de Ética e Diretora da Soares & Lessa Consultoria Empresarial.

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mix cultural

LIVROS

por Valéria Diniz

10 BONS CONSELHOS DE MEU PAI. João Ubaldo Ribeiro. Infanto-Juvenil. Um dos escritores mais importantes do país, autor de livros indispensáveis na literatura contemporânea, Ubaldo traduz em sentenças curtas o resumo dos conselhos do pai. Não seja burro, não seja amargo e nunca seja medroso são alguns. Objetiva. A ENTREVISTA. No início dos anos 80, a L&PM Editores editou uma revista cultural em formato de livro, a Oitenta. Aqui, a entrevista dada por Millôr em sete horas de conversa, que reuniu o pensamento, as ideias e quase a intimidade de Millôr Fernandes, um dos mais importantes intelectuais brasileiros. L&PM. A NINFA INCONSTANTE. Guillermo Cabrera Infante. Romance. Estela ainda não tem 16 anos nem entende o palavrório do crítico de cinema apaixonado por ela. A obra não é mais uma história de amor em que um intelectual se deslumbra com a beleza de uma garota ingênua: Estela é tudo, menos inocente. Companhia das Letras. A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS. Rebeca Skloot. Biografia. A bilionária indústria de medicamentos e as altas cifras da pesquisa em genética devem-se à comercialização das células de Henrietta, retiradas sem seu consentimento. Negra, descendente de escravos, ela morreu de câncer em 1951 nos EUA. Companhia das Letras. AFORISMOS. Karl Kraus. Org. e tradução: Renato Zwick. Filosofia.Personagem singular do debate intelectual europeu do começo do século XX, Kraus encontrou na brevidade dos aforismos a forma ideal de “espetar” figuras prestigiadas do meio cultural vienense, desestabilizando certezas cotidianas. Arquipélago Editorial. AS MELHORES ENTREVISTAS DO RASCUNHO – VOL. 1. Org.: Luís Henrique Pellanda. Jornalismo. Entrevistas reveladoras com 153 escritores, de jovens promessas a nomes consagrados, publicadas no jornal literário Rascunho. Entre eles, João Ubaldo Ribeiro, Milton Hatoum e João Gilberto Noll. Ilustrações: Ramon Muniz. Arquipélago Editorial. CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA. José Roberto Torero. Crônica. Irreverentemente, Torero conta histórias sobre futebol, a fila e os bate-papos

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do Juízo Final, os bastidores do Grito do Ipiranga, o que Adão escreveria num diário e como seria a América se Colombo e Cabral tivessem naufragado. Editora Objetiva. DIÁRIO DA QUEDA. Michel Laub. Romance. Numa prosa que oscila entre violência, lirismo, ironia e neutralidade, a obra é um viagem pela memória de um homem quando precisa fazer a escolha que mudará sua vida. Tudo começa com as memórias de um “acidente” na infância, que talvez não o tenha sido de fato. Companhia das Letras. DIÁRIO DE UM MAGRO - 15 ANOS NUM SPA. Mário Prata. Após 15 anos da primeira publicação, o livro marca o relançamento da obra do escritor. Nesses anos, ele descobriu que perdeu vícios como o cigarro, mas ganhou o “vício em SPA”. Ilustrações inéditas de Paulo Caruso (um dos companheiros de spa). Planeta. ÉTICA JURÍDICA. José Manuel de Sacadura Rocha. Direito. O autor rompe com a ideia objetivista de que o direito per se pode fazer justiça. Ou quem pratica o direito é digno e se pauta por escolhas existenciais impolutas, ou o direito não poderá fazer justiça. Elsevier/ Campus Jurídico. FERNANDO PESSOA: UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA. José Paulo Cavalcanti Filho. Ensaio. Exemplar obra de referência das personas do poeta, fruto de mais de 15 anos de pesquisa. Os heterônimos são revelados com grande riqueza de detalhes. O autor traduz e explica cada expressão portuguesa utilizada. Record. FOUCAULT E A REVOLUÇÃO IRANIANA. Janet Afary e Kevin B. Anderson. Filosofia. Artigos de Foucault sobre a revolução iraniana, escritos quando correspondente do Corriere della Sera e do Nouvel Observateur (1978). Para compreender a história e refletir o futuro do relacionamento entre o Ocidente e o Irã. É Realizações. LITUMA NOS ANDES. Mario Vargas Llosa. Romance. O cabo Lituma está num vilarejo nos Andes para investigar desaparecimentos ligados ao Sendero Luminoso, exibindo táticas e motivações do grupo terrorista. O autor situa a violência no contexto de mitologias e rituais andinos. Prêmio Planeta 1993. Alfaguara. MIL-FOLHAS - HISTÓRIA ILUSTRADA DOS DOCES. Lucrecia Zappi. Culinária. O livro é um passeio geográfico, histórico e literário pela história dos doces, recheado de


cartazes de época e imagens informativas que recuperam como a apreciação e feitura dos mesmos traduzem um comportamento cultural. Cosac Naify. MUSEU DO ROMANCE DA ETERNA. Macedonio Fernández.Trad.: Gênese Andrade. Romance. Inédito no Brasil, o livro parte de prólogos que precedem uma história que parece nunca chegar – a de um homem que, após a morte da esposa, deixa a cidade para refugiar-se em uma estância chamada “O Romance”. Cosac Naify. ROUSSEFF. Jamil Chade e Momchil Indjov. Jornalismo. O repórter búlgaro Indjovo entrevistou Dilma Rousseff e seu meio-irmão Luben Russev. Ele sofreu as consequências do regime comunista autoritário búlgaro, enquanto ela virava militante da mesma ideologia no Brasil e lidava com as consequências. Livros de Safra.

Brasil, história contada em Abacaxi. Primeiro título do Selo Má Companhia. Companhia das Letras. TODO TERRORISTA É SENTIMENTAL. Márcio Menezes. Romance. Nos anos 1990, jovens cansados da corrupção iniciam um movimento terrorista no Rio de Janeiro. Três Raskolnikovs cariocas, embalados por Cazuza, Miles Davis, Renato Russo e Chico Science, descobrem que três pessoas podem fazer uma revolução. Record. UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO – BIOGRAFIA DE UM POEMA. Carlos Drummond de Andrade. Org.: Eucanaã Ferraz. Ensaio. Em 1967, para marcar os 40 anos do poema “No meio do caminho”, Drummond publicou este livro, reunindo uma seleção com o que foi dito sobre os versos. A nova edição traz seções inéditas, com charges e ilustrações. IMS.

SEM FRONTEIRA. Nayan Chanda. Ensaio. Um dos mais importantes estudos sobre o tema globalização ilumina seus degraus mostrando que, apesar de percalços, é o destino natural da humanidade. A história começa na África há 50 mil anos, com os primeiros aventureiros domando locais inóspitos em busca de lucro. Record e IEA. TANTO FAZ & ABACAXI. Reinaldo Moraes. Romance. Os livros revelaram, na década de 80, um de nossos maiores narradores e ganham edição definitiva. O herói é um garotão que deixa o emprego para morar em Paris com uma bolsa de estudos. Mas quer mesmo ser escritor. Depois da esbórnia, volta ao

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por Valéria Diniz

NEW YORK, NEW YORK. Adaptação do livro homônimo de Earl Mac Rauch. O amor entre a cantora Francine Evans e o saxofonista Johnny Boyle na América do pós-guerra.O espetáculo traz sucessos musicais das décadas de 30, 40 e 50, celebrando a era de glória das Big Bands. Direção: José Possi Neto e Fábio Gomes de Oliveira. Com Alessandra Maestrini e Juan Alba. Participação especial: Simone Gutierrez e Julianne Daud. Teatro Bradesco. Bourbon Shopping, Rua Turiassu, 2.100, Pompeia. (11)4003-1212. Até 03/07.

Alessandra Maestrini

Rodrigo Meneguello

TEATRO

Robert Schwenck

mix cultural

ROBERTO ZUCCO. De Bernard-Marie Koltès. Escrita no final dos anos 80, baseada em fatos reais, a peça é considerada uma das maiores obras do teatro contemporâneo e mostra a vida de um serial killer. Adaptação e direção: Rodolfo García Vázquez. Com Robson Catalunha, Cléo De Páris. Espaço Satyros 1. Praça Franklin Roosevelt, 214, Consolação, Centro. (11) 3258 6345. Até 30/07.

MÚSICA

Robson Catalunha e Maria Casadevall por Claudia Liba e Valéria Diniz

CINE PRIVÊ. Domenico Lancellotti. Primeiro trabalho solo do cantor, que integrou o grupo Mulheres Q Dizem Sim, o projeto +2 e a Orquestra Imperial. Há influências de Marcos Valle e do maestro Rogério Duprat. Letras poéticas com sonoridades envolventes fazem do CD um trabalho que deve ser conhecido e reconhecido pelo público. JUST A LOSER. Robert Cray. O músico americano é considerado um grande expoente do blues. Abraçou o gênero após trabalhos com grande influência dos Beatles no início de sua carreira. Ao lado de Albert Collins e Johnny Copeland, fez sucesso com o álbum Showdown! E tem músicas gravadas por Eric Clapton e Albert Collins.

“Cine Privê”, de Domenico Lancellotti

COSMO BAMBA. Edu Luke. O CD do instrumentista e arranjador chega com participações ilustres: Luiz Melodia em “Lá e Cá”, de Lenine; Sergio Natureza e Luis Vagner na releitura de “Vendedor de Bananas”, de Jorge Benjor. Músicos da nova geração (Cuca Teixeira, Edu Martins e outros) inlfuenciam o trabalho do artista. TODO BUENOS AIRES. Fernando Tarrés / Sexteto & Noneto. Uma releitura criativa da obra de Astor Piazzolla, resultado da apresentação no Festival de Buenos Aires (2009). No formato de sexteto, o guitarrista toca com Rodrigo Domínguez (sax-tenor), Juan Pablo Arredondo (guitara), Jerónimo Carmona (contrabaixo), Carto Brandán (bateria) e Damián Bolotin. No noneto, entram Serdar Geldymuradov (violino), Felix Perona (viola) e Nicolás Rossi (cello).

Capa do álbum “Different Gear, Still Speeding”, da banda Beady Eye

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DIFFERENT GEAR, STILL SPEEDING. Beady Eye. A banda, agora com o ex-Oasis Liam Gallagher, gravou 13 canções inéditas em Londres. No CD, lançado independentemente pela gravadora Beady Eye Records, todas as letras são do grupo. Destaque para “Bring The Light”, com 350 mil downloads nas primeiras 24 horas do lançamento.


SHOWS

por Claudia Liba

BMW JAZZ FESTIVAL. Aos decepcionados com o cancelamento do Bridgestone Music Festival, a boa notícia: será realizado em junho. Com mostra de filmes históricos, shows ao ar livre e workshops, o evento tem formato semelhante ao do Free Jazz Festival (anos 80/90). Com Wayne Shorter, Billy Harper, Marcus Miller, Sharon Jones. Auditório Ibirapuera. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, Portão 2, (11) 3629 1075. De 10 a 12/06.

CONCERTO

por Valéria Diniz

Sylvia Masini

BRINCANDO COM MÚSICA. A nova série de espetáculos didáticos da Orquestra Experimental de Repertório (OER) passa conceitos musicais de forma leve, divertida, buscando analogias com o cotidiano. O ator cômico Fernando Paz realiza performances que enriquecem os espetáculos de forma lúdica. Organização, regência e apresentação: Maestros Jamil Maluf e Juliano Suzuki. Grátis. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso, (11) 3397 4036. Agendamento para grupos: visitasccsp@prefeitura. sp.gov.br Ingressos disponíveis às 13h. Todas as quintas-feiras de 2011, das 14 às 15h.

CINEMA AS MÃES DE CHICO XAVIER. Ruth tem um filho com problemas com drogas, Elisa tenta superar a perda do filho e Lara vive o dilema da gravidez não planejada. Elas recebem o conforto do médium Chico Xavier. Direção: Glauber Filho e Halder Gomes. Com Nelson Xavier, Caio Blat, Vanessa Gerbelli, Tain Muller.

PÂNICO 4. A protagonista Sidney Prescott retorna à trama como autora de um livro de autoajuda, casada com o xerife Dewey e Gale. Seu retorno à Woodsboro também traz o assassino Ghostface, colocando todos em perigo. Direção: Wes Craven. Com Neve Campbell, David Arquette e Roger Labon (a voz de Ghostface).

A GAROTA DA CAPA VERMELHA. Versão de Chapeuzinho Vermelho, dos irmãos Grimm. Valerie ama Peter, mas foi prometida a Henry. O casal quer fugir, mas teme o ataque de um lobisomem. Ao perceber sua ligação com o monstro, Valerie torna-se suspeita e isca. Direção: Catherine Hardwicke. Com Amanda Seyfried. Estreia: 21/04.

por Rodolfo Poppi

FÚRIA SOBRE RODAS. Um criminoso sai da prisão para acabar com o culto de magia negra liderado pelo assassino de sua filha. Ele tem três dias para detê-lo, antes que sacrifique sua neta em uma noite de lua cheia. Nicolas Cage, Amber Heard, William Fichtner e Billy Burke estão no filme de Patrick Lussier.

THOR. O guerreiro desperta uma guerra antiga e, como castigo, é condenado a viver entre os mortais para aprender a ser um verdadeiro herói. Ele luta contra as forças de Asgard, defendendo o planeta. Direção de Kenneth Branagh. Com o ator australiano Chris Hemsworth no papel principal. Também em 3D. Estreia: 29/04.

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diversatilidade

OS LITERALISTAS ESTÃO CHEGANDO xiste uma piada literalisticamente incorreta que diz que, uma vez, dois seres literalisticamente corretos estavam conversando quando uma pessoa irrompeu de dentro do banheiro e desabafou para si mesma: — Nossa... estou morrendo de fome! Ambos agarraram o pobre sujeito e o levaram à força a um prontosocorro, supostamente para que ele fosse alimentado antes que viesse a óbito. Não há muita graça nessa piada, mas isso também faz parte do efeito dela: nem quando estão em piadas os literalisticamente corretos conseguem preservar o humor do ambiente. E isso é muito sério. Mas talvez a piada seja apenas um sintoma de mudanças sociais profundas que vivemos. Vejam este relato impressionante. Dona Alvarinho Chavez, uma senhora de 68 anos, estava fazendo compras numa grande loja quando foi mal atendida por uma funcionária. Irritada com a desconsideração, passou uma descompostura na atendente. Dias depois, recebeu uma notificação judicial de que estava sendo processada por agir “de forma preconceituosa com pessoas que portam vestidos roxos”. O juiz que julgou o caso era um literalista ferrenho, e deu ganho de causa à moça do vestido roxo. Dona Alvarinho só conseguiu reverter a sentença quando usou do mesmo expediente, alegando que a mulher do vestido roxo “agira de forma preconceituosa contra uma idosa com nome no diminutivo”. Mais tarde, ela desabafaria: — Essa atendente me destratou ao não responder quando eu lhe perguntava e ainda por cima ficou murmurando que eu era uma velha idiota. Isso, para mim, já bastaria para um processo, mas eu apenas lhe dei um sermão e me retirei. Para minha surpresa, sou acusada de ser preconceituosa contra mulheres de vestidos roxos, uma afirmação totalmente sem pé nem cabeça. Mas o juiz julgou que o fato de ela estar de vestido roxo era prova suficiente do meu preconceito, quando eu nem sequer havia reparado na roupa que ela vestia. Minha argumentação do ridículo desse processo não deu em nada. A única saída foi usar os mesmos argumentos enviesados que eles: propor uma alegação totalmente despropositada e cheia de firula retórica, torcendo para que o processo caísse na mão de um juiz literalista. E foi o que aconteceu. Dona Alvarinho se disse muito triste, apesar de ter ganhado a ação em última instância: — Eu ganhei a ação, mas jogando segundo regras que tornam a sociedade hipócrita, dissimulada e, principalmente, idiotizada. Não queria esse mundo para meus netos. Segundo um relatório da Case Report and Flattering Abuse, os literalistas já são 15% da sociedade brasileira, e estão ocupando postos chave, o que os estaria ajudando a doutrinar o restante da população. Um caso ilustrativo disso seriam as provas aplicadas em algumas escolas, com questões grosseiramente construídas para induzir um pensamento literalista nas crianças. Vejam este exemplo:

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Questão 23. Um professor afirmou, durante um sermão no meio da aula, que, se as pessoas se dedicassem e estudassem a matéria regularmente, não teriam dificuldades em serem aprovadas. Uma aluna que foi reprovada com média 0,3 (zero vírgula três) abriu um processo contra esse professor, alegando que ele mentiu, pois ela se dedicou e estudou a matéria, mas não passou, sendo uma das poucas reprovadas. Nesse contexto, podemos concluir corretamente que: A) A aluna está certa e merece ser aprovada, pois o professor fez uma promessa e não a cumpriu. Além disso, o fato de ter sido uma das poucas reprovadas atesta que ele a perseguiu. B) A aluna está equivocada, pois o professor não estabeleceu um elo de aprovação automática — o que ele quis dizer é que a disciplina é justa e premiará quem acompanhar com regularidade a matéria, frequentando aulas, estudando em casa, compreendendo o conteúdo e refletindo esse conhecimento em um processo de avaliação. Ao tirar 0,3 (menos de um vigésimo da nota mínima para aprovação), a aluna mostra claramente que seu conhecimento é insuficiente e sua presunção de domínio da matéria, uma alucinação. RESPOSTA CORRETA: A Curiosamente, todas as crianças que indicaram a letra “B”, supostamente errada, foram reprovadas, independente do restante da prova. Um pai de uma aluna reprovada resolveu usar o mesmo argumento da escola, e alegou que a filha estava sendo perseguida por literalistas empedernidos. O conselho de escola julgou improcedente a queixa desse pai e a engavetou. Alguns educadores consideraram isso uma aberração da lógica. A escola se defendeu dizendo-se perseguida.

Post Scriptum Um leitor com poderes pretensamente mediúnicos me escreveu, antes da publicação desta crônica, acusando-me de usar os literalistas como fachada para ironizar o grupo dos politicamente corretos. Segundo ele, os literalistas simbolizariam o comportamento tacanho dos politicamente corretos, que frequentemente esterilizam o senso de humor, tornam as pessoas mais cínicas e infantilizam brutalmente os indivíduos. É claro que essa acusação não procede. Alexandre Lourenço é Veterinário, microbiologista, professor, bípede, mamífero e, agora, escritor. Não necessariamente nesta ordem. duralex@uol.com.br www.microbiologia.vet.br




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