Testes Respiratórios em Gastrenterologia – Hidrogênio, Metano e Helicobacter pylori

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Vera Lúcia Ângelo Andrade

Saiba mais sobre estes e outros títulos em nosso site: www.rubio.com.br

VERA LÚCIA ÂNGELO ANDRADE

Gastrenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

Residência em Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubitschek, MG.

Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, SP. Membro da Comissão Jovem Gastro da FBG – Gestão 2023-2024.

Membro Efetivo Internacional da American Gastroenterological Association (AGA).

Membro da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMDN).

Responsável Técnica pela Clínica NU.V.E.M – Belo Horizonte, MG. Mestre e Doutora em Patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Pós-graduação em Nutrologia pela Faculdade Unimed, MG. Docente convidada da Pós-graduação em Doenças Funcionais e Manometria do Hospital Israelita Albert Einstein, SP.

Testes Respiratórios em Gastrenterologia: Hidrogênio, Metano e Helicobacter pylori

Copyright © 2026 Editora Rubio Ltda.

ISBN 978-65-88340-97-4

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução desta obra, no todo ou em parte, sem autorização por escrito da Editora.

Produção

Equipe Rubio

Diagramação

Paulo Teixeira

Capa e imagem de capa

Bruno Sales

A571t

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Andrade, Vera Lúcia Ângelo

Testes respiratórios em gastrenterologia: hidrogênio, metano e helicobacter pylori/ Vera Lúcia Ângelo Andrade. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Rubio, 2025. 96 p.; 24 cm.

Inclui bibliografia e índice

ISBN 978-65-88340-97-4

1. Gastroenterologia. 2. Aparelho digestivo. 3. Testes de função respiratória. I. Título.

25-100099.0

CDD: 616.33

CDU: 616.33

Carla Rosa Martins Gonçalves – Bibliotecária – CRB-7/4782

Editora Rubio Ltda.

Av. Franklin Roosevelt, 194 s/l. 204 – Castelo 20021-120 – Rio de Janeiro – RJ

Tel: 55(21) 2262-3779

E-mail: rubio@rubio.com.br www.rubio.com.br

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

Dedicatória

Aos pacientes, cuja busca pela saúde e com sintomas muitas vezes “invisíveis” foram o ponto de partida para a construção deste trabalho.

Aos profissionais da saúde, que enfrentam os desafios diagnósticos do dia a dia com ciência, ética e sensibilidade clínica.

Aos mestres, que me ensinaram a importância da dúvida; e aos colegas, que compartilham o desejo contínuo de compreender melhor o trato gastrintestinal.

Agradecimentos

Agradeço à equipe da NU.V.E.M, que se dedica com cuidado humanizado e técnico na realização dos testes respiratórios de hidrogênio, metano e Helicobacter pylori

Agradeço à Editora Rubio o convite para organizar esta obra e pelo compromisso contínuo com a formação científica e com a publicação de obras que contribuem para a prática clínica de excelência.

Apresentação

Testes Respiratórios em Gastrenterologia: Hidrogênio, Metano e Helicobacter pylori reúne, de forma inédita e didática, os fundamentos técnicos de execução dos exames, suas aplicações clínicas e os avanços nos métodos diagnósticos em testes respiratórios de hidrogênio, metano e Helicobacter pylori.

O livro visa oferecer ao profissional de saúde uma visão aprofundada, crítica e atualizada dos testes respiratórios como ferramentas diagnósticas não invasivas, seguras e reprodutíveis no diagnóstico de condições muitas vezes subestimadas, mas altamente prevalentes na prática clínica, como: Intolerâncias alimentares (lactose, frutose, frutano e sacarose, entre outros).

Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO).

Supercrescimento metanogênico intestinal (IMO).

Pesquisa de H. pylori.

São abordados mecanismos fisiopatológicos, protocolos técnicos detalhados e interpretação de gráficos. Discussão sobre sensibilidade, especificidade, falsos-positivos e negativos dos testes respiratórios também são apresentados. Ressalta-se ainda a importância da interpretação crítica dos testes respiratórios, evitando superdiagnósticos, o que poderia levar a más condutas terapêuticas.

A obra está embasada em diretrizes nacionais e internacionais e em estudos clínicos recentes que posicionam os testes respiratórios como ferramentas modernas e indispensáveis para o diagnóstico das intolerâncias alimentares a carboidratos, SIBO, IMO e H. pylori.

Prefácio

A Gastrenterologia vive uma era de avanços significativos no diagnóstico não invasivo, e os testes respiratórios emergiram como ferramentas essenciais na prática clínica. Eles permitem a avaliação funcional do trato gastrointestinal de forma segura, rápida e precisa, revolucionando a identificação de condições como supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO), supercrescimento metanogênico do intestino (IMO), intolerâncias a carboidratos e infecção por Helicobacter pylori

Este livro foi concebido para fornecer uma visão abrangente e atualizada sobre os testes respiratórios, abordando desde os fundamentos científicos até suas aplicações práticas. Dividido em nove capítulos, a obra guia o leitor por temas como: Capítulo 1 – A microbiota Intestinal e seu Papel na Saúde e na Doença; Capítulo 2 – A Fisiopatologia e a Técnica dos Testes de Hidrogênio e Metano; Capítulos 3 e 4 – O diagnóstico de SIBO e IMO; Capítulos 5 e 6 – As Intolerâncias a Carboidratos; Capítulos 7 a 9 – A Relevância do Helicobacter pylori e os Métodos Diagnósticos, com Ênfase nos Testes Respiratórios.

Cada capítulo foi estruturado para integrar evidências científicas recentes com a experiência clínica, tornando-o útil tanto para médicos, nutricionistas e pesquisadores quanto para es-

tudantes que desejam aprofundar seus conhecimentos em Gastrenterologia Funcional.

A escolha por focar nos testes respiratórios reflete sua crescente importância no cenário médico atual. Além de serem não invasivos, eles oferecem alta sensibilidade e especificidade, reduzindo a necessidade de procedimentos mais complexos. Este livro não apenas detalha a execução desses testes, mas também discute suas limitações, interpretações e casos clínicos exemplificativos, proporcionando uma abordagem prática e crítica.

Por fim, agradeço aos colaboradores e especialistas que contribuíram para esta obra, assim como aos leitores, cujo interesse em métodos diagnósticos inovadores fortalece a busca por uma medicina mais precisa e acessível. Que este livro sirva como um guia confiável e incentive novas pesquisas nessa área fascinante.

Tomás Navarro Rodriguez

Professor Livre Docente em Gastrenterologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Mestre e Doutor em Gastrenterologia Clínica pela FMUSP.

Pós-doutorado na Universidade do Arizona – Southern Arizona Veterans Affairs Health Care System (SAVAHCS).

Breve Revisão sobre Microbiota 1

Introdução

Nas últimas décadas, os testes respiratórios tornaram-se a ferramenta não invasiva mais amplamente utilizada para diagnosticar várias condições patológicas gastrintestinais, tais como:

Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO).

Supercrescimento metanogênico intestinal (IMO).

Intolerância aos carboidratos.1

Detectar a presença do Helicobacter pylori (HP).

O conceito-chave do teste respiratório está relacionado à medição de gases produzidos por bactérias ou arqueias intestinais, que, então, se difundem para o sangue, sendo excretados pela respiração, na qual podem ser medidos, com o auxílio de equipamentos específicos. O hidrogênio (H2) foi o primeiro gás monitorizado na prática clínica, cujos relatos remontam aos anos 1980.2 Posteriormente, o gás metano (CH4) foi incorporado no teste respiratório para a detecção de IMO, em vários países, inclusive o Brasil. Mais recentemente, o sulfeto de H2 (H2S), para a detecção de SIBO H2S, tem sido pesquisado, embora não esteja disponível em nosso meio. Esses três gases foram escolhidos para os testes, por não serem produzidos por células humanas e apenas pela microbiota intestinal. O teste respiratório é considerado seguro, não invasivo e tem custo acessível, sendo o único teste capaz de diagnosticar IMO.

Gases no trato gastrintestinal

No trato gastrintestinal (TGI), são detectados cinco tipos de gases não odoríferos:

1. H2

2. CH4.

3. Nitrogênio (N).

4. Oxigênio (O2).

5. Dióxido de carbono (CO2).

Já os odoríferos são compostos de enxofre, que respondem por <1% dos flatos. O gás intestinal deriva de três fontes:3,4

1. Ar deglutido.

2. Produção intraluminal (reações químicas e metabolismo bacteriano).

3. Difusão de gás para o lúmen a partir da corrente sanguínea.

O trânsito e a eliminação anal de gases intestinais são modulados por mecanismos reflexos, de modo que indivíduos saudáveis toleram maior quantidade de gases intraluminais, sem apresentar sintomas. Por outro lado, pacientes com distensão e inchaço abdominal, que apresentam trânsito intestinal lento, podem ter retenção de gás e, consequentemente, apresentar mais sintomas.5 A remoção de gás do trato intestinal ocorre por eructação, absorção, consumo bacteriano e flato/evacuação anal. Sintomas como eructação, dor abdominal, flatulência, distensão, constipação, diarreia e ruídos intestinais são frequentemente associados a um excesso de gás,

Em pacientes com SII, houve aumento na abundância em algumas famílias Collinsella (Veillonella, Streptococci e Ruminococcus spp.) Proteobacteria (Enterobacteriaceae spp.). Observa-se diminuição da riqueza microbiana, que pode estar envolvida na síntese de aminoácidos, na integridade das junções celulares e na resposta inflamatória. Isso sugere fragilidade das funções de barreira epitelial e explica parcialmente os sintomas da SII.9,18-20

Já se sabe que a microbiota intestinal desempenha papel importante na manutenção da homeostase de várias subpopulações de células T:

Células T reguladoras (Tregs).

Células T auxiliares 1 (Th1).

Células T auxiliares 17 (Th17).16

A inflamação de baixo grau no intestino em pacientes, por exemplo, na SII está associada à ativação de linfócitos T e mastócitos, ao aumento da expressão de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina (IL)-6 e IL-8, e a níveis elevados de

IL-1beta, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e IL-8 em células mononucleares do sangue periférico.17

Comensais podem formar uma barreira natural para bactérias patogênicas. Qualquer alteração qualitativa ou quantitativa na microbiota acarreta instabilidade do ecossistema microbiano intestinal, facilita a entrada de bactérias patogênicas e permite que elas adiram à parede da célula epitelial intestinal. A degranulação de mastócitos libera substâncias que aumentam a permeabilidade da mucosa, o que resulta na redução na integridade do complexo de proteína de junção estreita. Bactérias luminais ou produtos bacterianos, como peptidoglicanos e lipopolissacarídeos, interagem com receptores Toll­like em células dendríticas e macrófagos. Após o processamento, essas células apresentam o antígeno às células T, ocasionando produção de citocinas e quimiocinas que causam inflamação no trato intestinal. A Figura 1.2 resume as alterações fisiopatológicas na disbiose intestinal.8

IL-5, IL-6, IL-10, IL-13

FIGURA 1.2 Bactérias comensais (1). Bactérias patogênicas (2). Camada de muco (3). Enterócitos (4). Placa de Peyer (5). As células M desempenham papel importante no transporte de bactérias e partículas microbianas do lúmen para os folículos linfoides. As áreas ao redor das células M, chamadas de placas de Peyer, facilitam a resposta imune da mucosa. Os linfócitos são encontrados nesta estrutura. Proteína de junção intercelular (6). Célula de Paneth (7). Secretam alfadefensinas e lisozimas que não apenas eliminam bactérias patogênicas, mas também mantêm a integridade da membrana intestinal. Receptores Toll-like (8). Célula dendrítica (9). Célula T (10). Degranulação de mastócitos (11). Supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO) (12) Th: células T auxiliares; IL: interleucina; IF: interferon; IFN-gama: interferon-gama; TNF-alfa: fator de necrose tumoral alfa. Fonte: adaptada de Ghoshal et al., 2012.8

Testes Respiratórios no Diagnóstico de Supercrescimento Metanogênico Intestinal 4

Introdução

O supercrescimento metanogênico intestinal (IMO) é uma condição patológica relativamente nova, que, antes, era chamada de supercrescimento metanogênico ou supercrescimento bacteriano do intestino delgado-gás metano (SIBO-CH4). A produção de CH4 é crítica para o consumo de hidrogênio (H2) intraluminal. Uma molécula de CH4 contém quatro átomos de H2, portanto, é possível reduzir o volume de gás intraluminal diminuindo o número total de moléculas. O artigo intitulado “Association between gut dysbiosis and the occurrence of SIBO, LIBOlarge intestinal bacterial overgrowth, SIFO and IMO”, publicado em 2023, propõe que esta nomenclatura está incorreta, uma vez que não são causadas por bactérias, como no SIBO, mas por organismos procarióticos as arqueias, principalmente o agente Methanobrevibacter smithii (M. smithii). Destacam que o IMO também ocorre em qualquer parte do intestino, inclusive o cólon, no qual as arqueias usam H2 produzido no intestino que resulta da fermentação de CHO, para metanogênese, podendo retardar o trânsito intestinal.1,2 Excesso de arqueias, ou organismos anaeróbicos produtores de CH4, ocorrem em aproximadamente 30% dos pacientes com sintomas sugestivos de SIBO.3 Estudos mostram forte correlação entre CH4 e síndrome do intestino irritável (SII) variante constipação (SII-C).3-5

A M. smithii foi detectada em indivíduos CH4 e não CH4 e a proporção relativa de M. smithii foi significativamente maior para indivíduos metano-positivos do que para metano-negativos.

Os níveis de CH4 exalados tendem a ser diretamente proporcionais ao grau de constipação.3-6

No fim dos anos 1970, a excreção de CH4 pela respiração era considerada um marcador putativo da presença de câncer de cólon. De fato, sugeriu-se que a prevalência de câncer de cólon era significativamente maior em produtores de CH4 que em não produtores. Um estudo mostrou que a prevalência de excreção de CH4 é consideravelmente maior em pacientes com câncer de cólon do que em voluntários saudáveis, e após a ressecção colônica, a prevalência diminuiu para valores não significativamente diferentes daqueles encontrados em voluntários saudáveis.7 Outro estudo comparou um grupo de 59 pacientes com câncer colorretal não ressecado com um grupo de indivíduos controle pareados por idade e sexo para avaliar a associação entre câncer colorretal e CH4 respiratório. Um estudo concluiu que não há como provar associação entre detecção de CH4 respiratório e câncer colorretal.8,9

O estudo avaliou a relação entre gases intestinais e níveis glicêmicos e concluiu que há relação causal entre a diminuição da produção de H2, o aumento da produção intestinal de CH4 e a glicemia pós-prandial mais grave. Propôs que é possível identificar novos alvos terapêuticos na

Concentração(ppm)

FIGURA 4.3 Exame positivo para supercrescimento metanogênico intestinal e negativo para supercrescimento bacteriano do intestino delgado. Houve elevação de gás metano (CH4) ≥10ppm (linha verde) e não houve elevação na curva de hidrogênio (H2) ≥20ppm do basal (linha azul). O paciente apresentou dor e distensão abdominal, sem diarreia Fonte: banco de dados da HealthGO

Exame negativo para supercrescimento metanogênico intestinal e positivo para supercrescimento bacteriano do intestino delgado

Quando há elevação da curva de H2 até 90min de monitorização e sem elevação dos níveis de CH4 ≥10ppm a qualquer momento da monitorização até 90min (Figura 4.4).

Linha plana negativa para hidrogênio e gás metano

No intestino, são produzidos três gases, e mensurar CH4 e H2 produz uma análise incompleta, nos casos em que o gráfico é plano; eles poderiam ser de respondedores do sulfeto de hidrogênio (H2S). Porém, no Brasil, até o momento, ainda não há aparelho capaz de medir H2S.

A Figura 4.5 mostra por que CH4 e H2 podem não ser detectados em um exame de paciente com sintomas durante a monitorização. O H2 produzido por bactérias poderia estar em uso por

arqueias para gerar CH4 e bactérias redutoras de sulfato para formar H2S.

O protocolo para teste respiratório de CH4 para pesquisar IMO está apresentado na Tabela 4.1.

Teste respiratório H2-CH4 do supercrescimento bacteriano

do intestino grosso

O intestino grosso é o maior reservatório da microbiota intestinal e também pode sofrer desequilíbrio da microbiota. No entanto, apenas foram descritos casos excepcionais de disbiose no cólon. A relação da disbiose de curta duração após preparo de colonoscopia já foi relatado, sendo o diagnóstico clínico. Pacientes já relataram dor e desconforto abdominal até 30 dias após a colonoscoscopia. Os sintomas de supercrescimento bacteriano do intestino grosso (LIBO; do inglês, large intestinal bacterial overgrowth) podem ser ser semelhantes ao do SIBO ou ao do IMO (dor abdominal, distensão abdominal, gases e movimentos intestinais anormais). O teste respiratório não é indicado para este diagnóstico.

Testes Respiratórios no Diagnóstico de Intolerâncias aos Carboidratos 6

Introdução

O teste respiratório é indicado para diagnóstico de intolerância ao carboidrato (CHO), tais como:

Lactose.

Frutose.

Frutano

Sacarose.

O exame é considerado positivo se o valor de hidrogênio (H2) for ≥20ppm acima da linha de base. O Consenso Europeu propõe que o corte de H2 ≥10ppm de aumento acima da linha de base em um único ponto de tempo durante o teste possa indicar má digestão ou intolerância, se houver comprovação concomitante com exames de imagens para confirmar a chegada do substrato no intestino grosso (esta proposta não foi apresentada por nenhum outro Consenso).1

O Consenso Europeu ainda questiona o papel da inclusão da medição de gás metano (CH4) para melhorar a utilidade clínica dos testes respiratórios de hidrogênio (TR H2) para a detecção de má-absorção de CHO, uma vez que a sensibilidade aumentada pode ser neutralizada pela especificidade diminuída.1 Mas, se utilizado o corte de CH4 ≥10ppm de aumento acima da linha de base, pode indicar má-absorção, com 87% de concordância dos membros do Consenso Europeu. A medição da excreção de dióxido de carbono (CO2) ou oxigênio (O2) na respiração, se disponível, pode ser útil para confirmar que a coleta expiratória final da respiração foi correta.

Dose

Os estudos variam quanto à dose que deve ser utilizada para pesquisa de CHO, de 1 a 2g/kg de peso para os dissacarídeos (lactose, maltose e sacarose) e de 1g/kg de peso para os monossacarídeos (frutose e galactose), não excedendo 25g. A exceção é para o frutano, que são 10g.1-4

Sintomas

Em relação aos sintomas durante a monitorização do teste respiratório, o Consenso Europeu propõe que há quatro possibilidades diagnósticas após uma carga de CHO:1

1. Má-absorção com sintomas (intolerância).

2. Má-absorção sem sintomas.

3. Apenas sintomas.

4. Nenhuma das anteriores.

Intolerância à lactose

A lactose é a principal fonte de calorias no leite. A deficiência de lactase é a falha em expressar a enzima que hidrolisa a lactose em galactose e glicose no intestino delgado.5 Uma metanálise estimou a prevalência global de má-absorção à lactose em 68%, com taxas mais altas relatadas para dados de genotipagem que dados de teste respiratório.5,6 Estima-se que, em média, 75% dos adultos em todo o mundo mostrem alguma diminuição na atividade da lactase durante a idade adulta (Figura 6.1).

FIGURA 6.6 Má-absorção à lactose. Houve aumento da curva de H2, a partir de 120min (25ppm), 129ppm aos 150min e atingindo 154ppm aos 180min. Não houve referência de sintomas durante a monitorização, o que impede o diagnóstico de intolerância à lactose

ppm: partículas por milhão.

Fonte: imagem pertencente à autora.

40ppm

35ppm

30ppm

25ppm 20ppm 15ppm

10ppm 5ppm 0ppm

intolerânciaàlactose

Intolerânciaàlactose

Limitede : H 2

(ppm)CH4 (ppm)

Tabeladeconcentração degasesdurantesopros

Limite de : CH intolerânciaàlactose

BasalH2

BasalCH4

FIGURA 6.7 Basal de 6ppm de hidrogênio (H2) (linha azul) e 3ppm de gás metano (CH4) (linha verde). Houve aumento dos níveis de H2 de 20ppm superior ao basal, porém sem elevação dos níveis de CH4. O paciente apresentou diarreia e flatulência durante a monitorização, o que caracteriza intolerância à lactose

ppm: partículas por milhão.

Fonte: imagem pertencente à autora.

Índice

A

Alteração(ões)

- da microbiota versus antibióticos, 5

- extragástricas por infecção pelo Helicobacter pylori, 67

Análise de polimorfismo genético C/T, 48

Anemia ferropriva, 67

Antibióticos, 5

Aparelho(s)

- ALACER® e Dynamed®, 20, 24

- de teste respiratório de hidrogênio, 13

- H2X da ALACER®, 16

- HealthGo AIR®, 16, 20, 24

- para realização de teste respiratório hidrogênio e metano, 14

Asma, 68

B

Bactérias

- comensais, 4

- patogênicas, 4

Biópsia da gastroscopia, 72

C

Calibração dos aparelhos, 15

Câncer colorretal, 5

Carboidratos, 43, 63

- complexos, 63

Cardápio antifermentativo, 19

D

Disbiose em doenças intestinais específicas, 3

Doença

- celíaca, 5

- coronariana e cardiovascular, 68

- do refluxo gastresofágico, 68

- inflamatória intestinal, 5

EEubiose, 2

Exame positivo, 33

Exercícios físicos, 30

F

Frutano, 47, 58

Frutose, 47, 54

G

Gás metano, 2

Gases no trato gastrintestinal, 1

H

Helicobacter pylori, 65, 75

- alterações extragástricas por infecção pelo, 67

- - anemia ferropriva versus, 67

- - asma versus, 68

- - doença

- - - coronariana e cardiovascular versus, 68

- - - do refluxo gastresofágico versus, 68

- - patogênese da, 65, 66

- teste(s)

- - invasivos e não invasivos para diagnóstico do, 71

- - respiratório para pesquisa do Helicobacter pylori, 75

Hidrogênio, 2

I

Infecção pelo Helicobacter pylori

- alterações extragástricas, 67

- anemia ferropriva versus, 67

- asma versus, 68

- doença

- - coronariana e cardiovascular versus, 68

- - do refluxo gastresofágico versus, 68

- patogênese da, 65, 66

Instalação dos aparelhos, 16

Intolerância

- à frutose, 54

- à lactose, 47, 48

- à rafinose, 63

- à sacarose, 59

- alimentar, 44

- ao carboidrato, 47

- ao frutano, 58

- ao sorbitol, 63

J

Jejum, 18

L

Lactose, 47

M

Medida da atividade enzimática em amostras de biópsia intestinal, 48

Metabolismo do hidrogênio e gás metano, 2

Microbiota intestinal

- na disbiose, 3

- na eubiose, 2

PPatogênese da infeção do Helicobacter pylori, 65, 66

Preparação antes do teste respiratório, 9

S

Sacarose, 47, 59

SIBO-TAU (Upper Aerodigestive Tract – SIBO), 34

Síndrome do intestino irritável, 3

Sorbitol, 63

Substratos, 29

Supercrescimento

- bacteriano do intestino delgado, 27

- - causas, 28

- - definição, 28

- - exame

- - - negativo, 31, 32

- - - positivo, 31-33

- - mecanismo fisiopatológico, 28

- - teste respiratório, 29

- metanogênico intestinal, 37

- - exame

- - - negativo, 38, 39

- - - positivo, 38, 40

- - teste respiratório para, 38

TTeste(s)

- de antígeno fecal, 72

- de sensibilidade aos antibióticos, 72

- invasivos e não invasivos para diagnóstico do Helicobacter pylori, 71

- moleculares, 72

- respiratório

- - agendamento, 18

- - alimentos que não podem ser ingeridos na véspera, 19

- - aparelhos para realização de, 13

- - contraindicações, 16

- - de H2, 48

- - de hidrogênio e metano, 7

- - desempenho dos, 10

- - falsos

- - - -negativos, 24

- - - -positivos, 24

- - H2-CH4 do supercrescimento bacteriano do intestino grosso, 40

- - indicações, 9, 10, 16

- - interpretação do, 11

- - materiais para a realização, 17

- - medicamentos, 19

- - montagem da sala de exames, 17

- - na má-absorção ou intolerância

- - - à frutose, 55

- - - à lactose, 49, 54

- - - à sacarose, 61

- - - ao frutano, 58

- - no diagnóstico de intolerâncias aos carboidratos, 47

- - orientações para o dia do exame, 19

- - para pesquisa do Helicobacter pylori, 75

- - para supercrescimento

- - - bacteriano do intestino delgado, 29, 34

- - - metanogênico intestinal, 38

- - preparo

- - - para a véspera do exame, 18

- - - para o exame, 18

- - problemas durante a monitorização, 21

- - procedimentos na sala de exame, 20

- - profissional responsável pela execução do exame, 17

- - protocolo para a realização, 16

- - recepção ao paciente, 20

- - resolução de problemas, 24

- sanguíneo de absorção de lactose, 48

- sorológicos, 72

Testes Respiratórios em Gastrenterologia: Hidrogênio, Metano e Helicobacter pylori reúne, de forma inédita e didática, os fundamentos técnicos de execução dos exames, suas aplicações clínicas e os avanços nos métodos diagnósticos em testes respiratórios de hidrogênio, metano e Helicobacter pylori.

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A obra está embasada em diretrizes nacionais e internacionais e em estudos clínicos recentes que posicionam os testes respiratórios como ferramentas modernas e indispensáveis para o diagnóstico das intolerâncias alimentares a carboidratos, SIBO, IMO e H. pylori.

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