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suficiente para que possa exercer esta Medicina, que é a Medicina-arte, a Medicina humana, em que você trata a pessoa, não a doença da pessoa. Esse é, a meu ver, o grande problema que a Medicina moderna enfrenta. O que é um paciente difícil?
Essa é uma questão que eu sempre discuto. Não acho que exista paciente difícil, mas sim o paciente que não foi suficientemente esclarecido e que tem dúvidas. Hoje em dia, com todos os recursos disponíveis, o indivíduo vai procurar informações na Internet. Quando chega à consulta, discute com o médico sobre seu problema de saúde e sobre os tratamentos, e se o médico não estiver atualizado, não consegue conquistar a confiança do doente. Se existe desconfiança entre o doente e o médico, esse doente passa a ser difícil, porque ele passa a questionar o médico. Obviamente, não estou falando de indivíduos neuróticos ou psicóticos, que existem e têm que ser tratados por especialistas. O que fazer quando o paciente desperta no médico sentimentos como irritação, raiva e desconfiança?
O médico é o condutor do processo da inter-relação com o paciente. Cabe a ele entender as dificuldades do doente, e contribuir para dissipá-las. Se ele não fizer isso, não conquista a confiança do doente e a relação fica conflituosa. Isto ocorrendo, não permite que você exerça a profissão de maneira adequada. Eu digo para os meus doentes: “Toda vez que você está com medo, é porque você é ignorante. Não é uma ignorância intelectual, mas do fato que está acontecendo consigo. Então eu preciso explicar o que está acontecendo, para você entender”. E, uma vez que ele entende, eu consigo a colaboração. Para cada doente, para cada nível intelectual, há um tipo de conversa, e de abordagem. É importante que o doente se dê conta daquilo que ele tem. E hoje o próprio código de ética estabelece que o doente tem direito de ser esclarecido. O que fazer com o paciente que não segue as suas prescrições e recomendações?
Esse é o problema de sempre. Se você tem o doente na mão, ou seja, se explicou e ele entendeu, geralmente ele segue o que foi recomendado. Agora, se você simplesmente manda fazer e não explica, ele certamente não vai seguir. Você faz a receita e ele joga fora. O que um estudante de Medicina e um médico recém-formado devem saber sobre a relação médico-paciente?
Esse é o problema mais crítico que estamos enfrentando hoje. Porque os professores de Medicina não têm mais tempo para o estudante. Eles dão aulas mas não convivem com o estudante. Essa é a grande dificuldade que temos no ensino médico. Uma Faculdade de Medicina devia ter seu próprio corpo clínico, os seus médicos, os seus professores, exclusivos da Faculdade, para que o estudante, o residente, o interno, tivessem uma convivência mais próxima e mais permanente com eles. Para
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A d i b Dom i n g os J a te n e