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CAPÍTULO 1 Histórico, Progresso, Desenvolvimento e Posição Contemporânea da Gastrostomia Endoscópica Percutânea
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Histórico, Progresso, Desenvolvimento e Posição Contemporânea da Gastrostomia Endoscópica Percutânea Michael W. L. Gauderer
A gastrostomia, do grego gaster (estômago) e stomoun (boca ou abertura), tem uma longa e interessante história. Por bem mais de 100 anos, incontáveis procedimentos foram desenvolvidos para estabelecer uma comunicação entre o estômago e a superfície externa do corpo.1 A gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) acrescentou um novo conceito, que se tornou a base para um novo tipo de intervenção. Esse conceito, que consiste em aproximar uma víscera oca à parede abdominal, sem suturas, utilizando um cateter, possibilitou a colocação de uma gastrostomia sem laparotomia. A criação desse acesso minimamente invasivo começou com a identificação de uma necessidade específica. Durante meu período como fellow de cirurgia pediátrica do Children’s Hospital of Philadelphia (1976-1978), observei um crescente número de crianças com incapacidade de deglutição, referidas para a colocação de gastrostomia alimentar antes da alta hospitalar. A maioria desses pacientes neuropatas de alto risco apresentava disfagia orofaríngea neurológica e estava propensa a complicações anestésicas e cirúrgicas. A gastrostomia à Stamm, que ainda é eventualmente realizada, era a técnica mais utilizada, consistindo na colocação de um cateter de Pezzer, Malecot ou Foley no estômago exposto, por uma pequena gastrostomia cirúrgica e posterior invaginação da parede gástrica ao redor do cateter, com suturas concêntricas em bolsa. O cateter era exteriorizado pela parede abdominal, e o estômago suturado
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ao peritônio. Como nas demais técnicas de gastrostomia, era necessário realizar uma laparotomia e uma gastrostomia. Ficava clara a necessidade de obtenção de uma técnica alternativa mais simples para o acesso alimentar, especialmente em pacientes com graves comorbidades, como contraturas, convulsões, pressão intra-abdominal aumentada, broncoaspiração crônica e desnutrição. Imaginei então se uma gastrostomia sem incisão poderia ser realizada nessas crianças. Para o objetivo final de uma gastrostomia segura e minimamente invasiva, três critérios teriam que ser preenchidos: 1. Controlar o local de colocação do cateter no estômago. 2. Proteger os órgãos vizinhos contra lesão. 3. Obter uma aproximação confiável do estômago à parede abdominal. Pensei em diversas opções: balões intragástricos, ímãs, técnicas de cateterização cardíacas com controle radiológico e endoscopia rígida; infelizmente, porém, nenhuma aparentava ser suficientemente segura. No entanto, postulei que com a endoscopia flexível, um ramo da medicina que evoluía rapidamente, esses critérios poderiam ser preenchidos. O próximo passo seria desenvolver a tática adequada. A insuflação gástrica aproximaria o estômago da parede abdominal; deslocaria o fígado, o baço e o cólon; e permitiria a colocação segura de uma agulha de acesso vascular. Isso então permitiria a inserção de um fio através da agulha, atravessando as paredes
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