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1.3 Cervejas

A diferença entre as bebidas está definida na maneira de obtê-la e no teor alcoólico máximo admitido para cada uma. A cachaça é obtida apenas por destilação do mosto fermentado de cana. Quanto ao teor alcoólico, o máximo é de 54% na aguardente e de 48% na cachaça. No entanto, é difícil diferenciá-las por esse critério, pois é raro serem encontradas no comércio aguardentes de qualquer natureza com teor alcoólico superior a 40%-41% de álcool em volume.

Oficialmente, podem ser fabricados os dois tipos de bebida, porém, na prática, por definição, há apenas uma, porque os destilados encontrados à venda apresentam graduação alcoólica entre 39% e 40%, dificilmente menos. É raro encontrar destilado com mais de 41% de álcool à venda; localizar alguma com 54% é excepcional. A diferença legal é engenhosa e demonstra que aguardente é a mesma coisa que cachaça, a bebida típica nacional. Ela se tornou tão especial que um neologismo foi criado, cachacier, para identificar o escanção (sommelier) da cachaça.

O termo “cachaça” é antigo, derivado de operações industriais de aproveitamento ou eliminação de resíduos. Inicialmente, a denominação se referia ao destilado do fermentado de melaço ou de borras de melaço, considerado de pior qualidade em relação ao obtido diretamente da garapa, barato e de amplo consumo. Por essa razão se chama “cachaceiro” aos bebedores imoderados. É ainda um vocábulo de som agradável, fácil de falar em qualquer idioma. Talvez por isso um consumidor estrangeiro tenha tido a ideia de patentear o nome para usá-lo alhures, possivelmente para outra bebida. Esse requerimento de patente criou uma reação que culminou em processos, que terminaram em fixar para a bebida, definitivamente, o conceito de bebida típica brasileira não patenteável.

Era preciso, então, dar-lhe uma definição, que foi a indicada na legislação. Desse modo, cachaça, de significado até pejorativo no passado, tornou-se vocábulo nobre que estimulou o consumo da bebida em altas rodas sociais. Atualmente, poucos usam a palavra aguardente, e as pessoas afirmam com orgulho que gostam de consumir cachaça. Com o passar do tempo, esse termo ofuscará “aguardente de cana”.

Os destilados de cana, populares, além da nomenclatura oficial, recebem outras, em número ilimitado, registradas ou não nos dicionários, que poderiam ser classificadas como epítetos, como “água que passarinho não bebe”, “amansa sogra”, “marvada”. São os mais diversos, com significados estranhos, eróticos, espontâneos, criados em uma rodada de bebida em um bar, mas de entendimento imediato e chistoso. Alguns têm grande duração; outros desaparecem logo depois de emitidos.

A produção de destilados de cana para consumo como bebida é enorme, realizada em instalações domésticas, rurais e industriais. Pode-se afirmar que é fabricada em todos os estados da federação, em valores nominais que vão de litros por mês a milhares de litros por hora. Não se encontra estatística para o total produzido e, ressalvada essa condição, estima-se que seja maior que um bilhão de litros por ano e que o consumo por habitante/ano é maior que 10 litros. É um volume extraordinário em um país que tem pouco mais de 200 milhões de habitantes. Essas cifras revelam a importância econômica da bebida.

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