Revista de Divulgação Cultural (RDC) nº 93

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a tudo que aconteceu nos últimos anos em termos de política e decepção. RDC: Vimos fotografias em que você está manipulando alguns elementos com máscara e luva. O trabalho com metal oferece algum risco? Guido: É corrosivo. O problema acontece quando o processo é muito acelerado e eu vejo acontecer em muitas escolas de arte. Aumenta muito os gases, que são tóxicos. O que tem que fazer? Uma solução maior, com mais água, e deixar corroer. Eu deixo corroer uma noite inteira. RDC: Você tem algum “estalo” de quando a obra está concluída, quando pode “ir para a parede”? Guido: Tenho, embora meu trabalho seja um pouco diferente. Não é como o dos pintores, em que falta mais uma pincelada. O meu trabalho é de composição. Vou botar mais uma peça para lá ou para cá e isso vai atender o que quero com a obra. RDC: Você desenha antes? Guido: Eu tenho um processo de trabalho que começa com o desenho e, com o advento da tecnologia, transporto para o computador, para AutoCAD, quando faço o corte a laser. Depois vem a composição das peças. RDC: Já teve alguma fase de falta de inspiração? Ou criar é algo natural para você? Guido: O mais difícil é a criação. A execução é tranquila, já tenho a fórmula de como executar. RDC: Alguma ideia de expandir, de levar a sua arte para outro lugar?

Guido: Sempre digo que os orientais não falam sobre o futuro. Então a gente fala só na hora que estiver pronto. Pode dar azar. RDC: A sua resposta sugere que você tem grandes planos. Guido: Planos a gente tem. Isso mantém a pessoa viva. Quero viver até os 103 anos. RDC: A sua obra alcança países estrangeiros, quem sabe os cinco continentes?

“O mais difícil é a criação. A execução é tranquila, já tenho a fórmula de como executar.” Guido: Não é bem assim. Em algum momento achei que fosse interessante fazer exposições fora, então fiz uma na Alemanha, uma na Inglaterra e uma na Áustria. Mas você não é de lá, não vive lá, não é conhecido lá, então é um tiro no escuro. Eu adotei a frase “conquista tua aldeia que serás eterno”. Acho que, se é para acontecer, tem que acontecer a partir daqui. Uma coisa que eu gostaria muito é que a FURB fizesse um espaço com obras minhas. Gostaria de doar obras que ainda estão comigo. A FURB tem um bom acervo meu, tem inclusive aquela obra número 1 que o Carlos de Freitas encomendou. Isso poderia ser o embrião de um espaço cultural. Uma pretensão, mas se eu não pensar assim...

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RDC: Como você avalia a postura das pessoas em relação às artes visuais? Às vezes alguém pode dizer que no passado a arte era mais reconhecida e hoje o entretenimento é outro. Guido: Em outros tempos havia mais pessoas colecionando arte. Hoje em dia, não. É muito raro isso. Os artistas não têm mais espaço. Já houve época em que as casas eram decoradas, embora nem sempre a arte tenha que ser decoração, mas pode ser também. O artista não pode ficar almejando dinheiro público para sua arte, acho que ele pode para fazer alguns experimentos, mas isso não pode ser uma regra. Então ele depende de uma situação em que possa vender. Porém, alguma coisa nova está acontecendo, várias feiras de arte estão começando a acontecer e acho que, por conta disso, está voltando o colecionismo. Pessoas querendo colecionar arte. Já começa a furar um pouco esse esquema da decoração pasteurizada e vejo que não faz sentido as pessoas fazerem prédios ou morarem em apartamentos neoclássicos nos tempos de hoje. É como fazer “neoenxaimel”. Não faz mais sentido, está completamente fora do nosso tempo. Outro dia um rapaz encomendou uma escultura que caiba em 2,60m de altura e eu fiz uma réplica da escultura da Ponte do Tamarindo. É um outro pensamento, uma nova geração está começando a se libertar da pasteurização visual. RDC: A obra já está no local? Guido: Está numa galeria, mas logo vai para a casa dele.

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