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Eles preferem a canaleta
by eba_pucpr
Eduardo Souza, Jaderson Policante, Marcio Galan
Na falta de ciclovias em condições de uso, ciclistas dizem preferir utilizar as vias exclusivas de ônibus ao invés de faixas para bicicletas
Se você anda de ônibus, possivelmente já deve estar cansado de ver bicicletas transitando em vias exclusivas para ônibus. Desde o horário mais tranquilo, até o mais movimentado, lá estão ciclistas passeando pelas chamadas canaletas. Embora seja comum, a ação é ilegal e divide opiniões. Para quem anda de ônibus, ver o motorista freando a cada vez que precisa desviar de algum ciclista é sempre um susto, como conta a aposentada Marisa Lenz. “Acho um abuso por parte deles [os ciclistas]. Não percebem que quem mais tem a perder com essa teimosia são eles mesmos. O lugar deles é na ciclovia!”, diz. Marisa tem seu argumento respaldado pelos decretos n.° 696/95 e n.° 759/95, em vigor desde 1995, durante a gestão do então prefeito Rafael Greca (na época, pelo PFL), que proíbem o compartilhamento das canaletas pelas bicicletas.
Quando os decretos entraram em vigor, um acidente fatal com um garoto de 10 anos que pegava “rabeira” em um biarticulado chocou a opinião pública. Ainda hoje, não é raro ver quem se arrisque praticando a mesma “brincadeira”.
Segundo dados do Comitê de Análise de Acidentes de Trânsito, nos últimos quatro anos, pelo menos um ciclista morreu por mês nas ruas de Curitiba e região. Em 2013, foram 14 mortes. Embora não haja um número exato de quantos acidentes ocorreram em canaletas, dados do Batalhão da Polícia de Trânsito mostram que os três cruzamentos mais perigosos da cidade são cortados por linhas do expresso biarticulado – localizados nas avenidas Marechal Floriano, Sete de Setembro e República Argentina. Juntos, registraram 55 acidentes no ano passado.

Mesmo nas vias compartilhadas flagrantes de imprudência: Ciclista na contramão e pai carregando o filho sem os equipamentos de segurança.



Crédito: Marcio Galan

“Demoro dez mi nutos a mais pela ciclovia. Se eu vou pela rua, corro muito mais risco de ser atro pelado do que pela ca naleta. Uso a canaleta porque é mais seguro!” Felipe Ribeiro, estudante.

Crédito: Eduardo Souza Mais seguro
De fato, o lugar ideal para o ciclista é a ciclovia. No entanto, ainda hoje, nem todas as grandes cidades as comportam. No caso de Curitiba, os espaços destinados às bicicletas ainda são limitados, e a grande maioria das avenidas da cidade não oferece um espaço exclusivo para esse meio alternativo de transporte. Na falta delas, o Código de Trânsito Brasileiro aconselha que os ciclistas utilizem a rua, dividindo o espaço com os carros. É um direito assegurado para os ciclistas. No entanto, muitos ciclistas se sentem mais seguros na canaleta, como é o caso do estudante Felipe Ribeiro. Ele costuma utilizar as faixas de ônibus mesmo quando há ciclovias paralelas. “Demoro dez minutos a mais pela ciclovia. Se eu vou pela rua, corro muito mais risco de ser atropelado do que pela canaleta. Uso a canaleta porque é mais seguro!”

Reformulação
Além de terem poucas opções, os ciclistas sofrem com a qualidade das ciclovias de Curitiba. “Não existe motivo para andar pelas ciclovias, do jeito que elas estão. Você anda e treme por causa das raízes, entorta o aro devido aos buracos, perde tempo porque as pessoas andam nela. Aliás, os únicos que gostam das ciclovias são os pedestres, pois as calçadas conseguem ser ainda piores”, completou Felipe. A Prefeitura de Curitiba, por sua vez, quer mudar esse quadro e tornar a bicicleta um meio viável e atrativo para a população. Proposta de campanha do atual prefeito Gustavo Fruet (PDT), o Plano Diretor Cicloviário de Curitiba previa a reformulação das ciclovias ainda hoje existentes e a criação de novos espaços dedicados ao ciclista, estendendo a malha cicloviária para 300 km. Passados dois anos, o projeto começou a sair do papel no início deste ano, quando a Avenida Sete de Setembro foi transformada na primeira via calma da cidade – carros e bicicletas compartilham a via, sendo a velocidade máxima permitida limitada a 30 km/h. Outra obra que já foi iniciada foi o do Parque de Bolso do Ciclista, que situado num pequeno espaço entre as ruas São Francisco e Presidente Faria, tem como objetivo servir de ponto de encontro para o cicloativismo. O plano prevê a criação de 90 km de ciclorrotas, 80 km de vias calmas e 130 km de vias cicláveis (entre ciclovias, ciclofaixas e passeios compartilhados entre pedestres e ciclistas). Também há um decreto, em fase final de elaboração, que irá assegurar 5% das áreas de estacionamento em prédios residenciais e comerciais para ciclistas e motociclistas. Ainda segundo o documento, “o Plano Diretor Cicloviário de Curitiba deverá ser implantado até o final da atual gestão do prefeito Gustavo Fruet, não depende de legislação complementar e tampouco de aprovação pela Câmara Municipal”.
PEDALANDO COM SEGURANÇA
Professor junta filosofia e ciclismo para melhorar a vida no trânsito

O professor de Filosofia Eduardo Emmerick abriu mão das “pedaladas” entre amigos em busca de algo maior: ajudar quem queria começar a pedalar. O Bike Curitiba deu certo: a página no Facebook já conta com mais de três mil seguidores e o projeto conta com eventos semanais para todos os ciclistas, desde os iniciantes até quem tem mais experiência no pedal. Tudo começou em 2010. Emmerick e alguns amigos saíram pelas ruas de Curitiba pelo prazer de pedalar. O grupo chegou a ter quase 500 pessoas. “Começamos com uma roda de amigos. Amigos de amigos foram se juntando e o grupo aumentou. Mas eu via a necessidade de ampliar a ideia. Só que os amigos não quiseram, eles queriam um grupo fechado. Então, eu fui em busca de algo novo”, explica o professor. E foi em julho de 2012 que nasceu o Bike Curitiba.
A ideia do projeto era simples: ensinar, de maneira gratuita, quem queria aprender a pedalar de maneira correta. As aulas acontecem todos os sábados, na Praça da Espanha, no Batel, não só para o ciclista iniciante, mas para qualquer um que queira aprender um pouco mais. Emmerick afirma que muitas pessoas não sabem pedalar, e mesmo as que pedalam com frequência, não receberam a educação correta.
No entanto, as aulas passaram a ser apenas uma das vertentes do projeto. O grupo cresceu e os participantes queriam pedalar mais vezes durante a semana. Hoje o projeto conta com cinco eventos semanais e, aos domingos, a equipe do Bike Curitiba organiza passeios para fora da capital, com trajetos que já incluíram a Ilha do Mel e a Colônia Witmarsum, no município de Palmeira, no interior do Estado. O Bike Escola Curitiba acontece semanalmente, e tem sua organização feita previamente via redes sociais. Para participar, é necessário ter mais de 15 anos de idade, comparecer com sua bicicleta, capacete e luvas (itens de segurança obrigatórios). Para conferir a programação completa, acesse a página: www.facebook.com/bikecuritiba