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Da rua para o shopping

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A voz do Paraná

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O cinema que antes era visto como um evento cultural, hoje tem um cunho muito mais comercial

Andressa Elesbão, Leonardo Siqueira e Thamiris Mottin

Precisa comprar um tênis, procurar aquele livro interessante, almoçar e talvez até tomar um sorvete? Com certeza, a solução dos seus problemas é ir ao shopping. Mas e se você quiser lazer? Vá ao shopping mesmo assim! Calma, isso não é propaganda, eu me refiro a ir ao cinema. Afinal de contas, quem nunca deu um pulo no shopping pra pegar aquela sessão das oito horas da noite? Eu me arrisco a dizer que todos já passamos por isso. Mas uns anos atrás, e nem precisa ir muito atrás pra perceber, o shopping não era “point” de lazer. Isso porque ainda existiam os cinemas de rua. Existiam ou ainda existem?

Pois então, o cinema de rua como era antigamente já não existe mais. Mas alguns locais foram preservados. Aqui em Curitiba, a Cinemateca cumpre essa função. Gerida pela Fundação Cultural, a Cinemateca é focada mais na arte local, e já não recebe mais os filmes do circuito global de grandes produções. Segundo a assessoria da Fundação, esse nem é mais o objetivo. Para eles, o cinema de rua hoje possui um papel diferente, que é trazer as produções locais da sétima arte ao público. É fato que, em geral, as pessoas não têm o costume de ir à Cinemateca e a procura por filmes locais não é grande, mas a Fundação tenta ao máximo cumprir seu papel. Nesse caso, podemos concluir então que os cinemas nos shoppings são melhores que os antigos cinemas de rua? Nada disso! Bem, na verdade, são melhores em tecnologia, mas isso porque o cinema de rua não existe mais. Para Suely Isabel, de 70 anos, os cinemas de antigamente não deixavam nada a desejar em relação os atuais. “Olha, a gente não tinha filme em 3D naquela época nem nada dessas coisas tecnológicas, mas as salas eram confortáveis, as cadeiras eram boas...enfim, eu nunca tive do que reclamar.” Ela ainda se lembra que, por volta dos anos 80, era bem mais divertido ir ao cinema. “Era um evento, sabe? Eu me arrumava, fazia o cabelo, as unhas. Nós saíamos pra ir ao cinema, porque era importante pra gente, era nosso momento de lazer. Hoje as pessoas

não tem mais esse glamour. Ninguém vai ao cinema porque quer ir e sim porque pode fazer compras ou passar comer alguma coisa no caminho. As pessoas querem muita praticidade e tiram um pouco a aura das coisas”, dispara. O diagnóstico de Suely é corretíssimo. A praticidade é a principal causadora da extinção do cinema de rua. A partir do momento que o shopping “Nós saíamos pra ir ao cineganha espaço nas grandes cidades como um local em ma, porque era importante que você pode fazer tudo que precisa, sem precisar para gente, era nosso mocorrer a cidade inteira, ele mento de lazer.” Suely, 70 acaba também agregando alguns meios de cultura, e anos, aposentada. o cinema foi o principal. O mais interessante é notar como o capitalismo trabalha nesse quesito. O advogado Niarkos Siqueira se lembra com orgulho do custo de ir ao cinema com os amigos, no fim da década de 90. “Ali por 97, 98, eu ia direto no cinema com meus amigos. Era uma forma de diversão barata. Eu gastava uns R$15,00 pra comprar o ingresso e a pipoca. Ou seja, ainda sobrava dinheiro ir e voltar de ônibus. Impossível hoje em dia”, satiriza. É claro que já existia o esquema de se cobrar um preço absurdo pela pipoca pequena para fazer o consumidor comprar o pacote grande, mas isso não é nada perto dos custos de hoje. Pra se ter ideia, ao comprar o ingresso para o filme e uma pipoca, o espectador chega a gastar cerca de R$30,00 em média, nos grandes cinemas da cidade. Bem, não é necessário chorar sobre o filme queimado, Curitiba é uma cidade de opções. Se você quiser conhecer um cinema de rua, você pode visitar a Cinemateca e conhecer o trabalho dos profissionais locais. Mas se a sua é ver grandes produções, é só ir ao shopping. O importante é que a pipoca continua a mesma e que isso não deve mudar tão cedo.

Anderson Tozato

Milton Durski é proprietário da rede Cineplus de Curitiba. Para Milton Durski, os principais motivos para que os cinemas não estejam mais nas ruas são segurança, conforto e a praça de alimentação dos shoppings, que traz mais opções. Mesmo entendendo que a pirataria é um problema para o mercado, Durski acredita que muitas pessoas ainda preferem ir ao cinema, em razão da tecnologia disponível. “Muitos filmes conseguem números respeitáveis mesmo sendo vitima da pirataria, Os Mercenários 3, por exemplo, os brasileiros optaram por ver nas salas de cinema”, cita.

Para ele, o cinema não é visto somente como cultura, mas também como lazer. “O cinema vem crescendo ano a ano e batendo recordes de público e renda. Buscamos oferecer mais opções para os clientes. Tanto em conforto, como no lazer. Bomboniere diversificada e acessível, promoções de ingresso e um atendimento diferenciado.”

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