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O caminho dos sonhos

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O caminho dos

SONHOS

O seu sonho já deu sinais sobre algo que iria acontecer? Parece estranho, não? Mas não se preocupe, porque não é só você que anda tendo esse tipo de “previsão” do futuro

Amanda Ribeiro Crislaine Franco e Jeslayne Valente

Desde a antiguidade, os sonhos são usados como ferramentas para a solução e orientação de problemas, principalmente para a cura de doenças. Inclusive, alguns poderiam ser considerados pecaminosos pela igreja resultando em condenação por bruxaria. Mas será que todos os sonhos têm algo a dizer, e ainda é possível usa-los como um tratamento ou coloca-los em prática? Falar sobre os sonhos é algo que parece irreal, como no livro e no filme Alice no País das Maravilhas, no qual o personagem fala com animais, fica pequena em um momento e, em outro, gigante. Criaturas que no nosso mundo não existem. Mas, durante o sono, tudo isso e muito mais podem se tornar, talvez, realidade. Há também aqueles comuns, que se você ainda não sonhou, prepare-se, porque vai sonhar. Dentes caindo, esfarelando, saindo um por um ou acumulando em sua boca. Mulher grávida. Voar e sentir-se mais leve do que o próprio vento. Uma traição. Que está caindo. Que está atrasado para um compromisso. São vários os sonhos, mas será que tem o mesmo sentido ou interpretação para todos? De acordo com a psicanalista e vice-presidente da Biblioteca Freudiana de Curitiba, Denise Cuellar Cini, o “pai da psicanálise”, Sigmund Freud (1853-1939), elaborou uma teoria sobre o trabalho dos sonhos e a publicou em 1900. Ela foi revolucionária, pois colocava o sonho como uma formação inconsciente. No entanto, ele chamou a atenção: o sonho não é o inconsciente. Tanto no sono como em vigília, o pensamento funciona da mesma maneira, apesar de algumas diferenças na sua construção. Em ambos, apresentam-se o retorno do recalcado (reprimido) e defesas em relação a ele. Quando um sonho se repete, o que se repete são significantes que podem ter importância para o sonhador. No entanto, o que importa não são os sentidos que se dê aos significantes, mas sim as associações que o sonhador faz a partir do que se lembra dos sonhos. Os sonhos não carregam sentidos a serem desvendados, mas fazem parte da linguagem e têm valor na medida em que são falados e colocados numa cadeia associativa do pensamento do sujeito na análise. Às vezes, é a partir de uma imagem, de um número e de outra coisa qualquer, ditos no relato sobre o sonho, que a cadeia associativa se dará e o trabalho analítico ocorrerá. “Só saberemos se isto beneficiará o analisante, em tratamento psicanalítico, no decorrer da análise.”

Segundo o parapsicólogo e diretor do Instituto de Parapsicologia do Paraná (Ipappi), Vilson Rafael Stolf, os sonhos podem revelar coisas do passado, presente e futuro “Os sonhos são importantes e devem ser analisados, quando são pré-cognitivos. Ou seja, sonhos que nos avisam que algo irá acontecer em nossa vida necessitam ser resolvidos. Além disso, muitas pessoas, quando sonham, buscam interpretações na internet ou em livros, mas isso é uma grande furada, porque os sonhos são simbólicos, o significado só faz sentido para cada pessoa, o melhor interpretador é você mesmo. Isso é questão de autoconhecimento”, afirma. Para a psicóloga Clara Rossana Ferraro de Sá, integrante do Instituto Junguiano no Paraná, os sonhos são a chave para a mudança “Os

Valterci Santos Os sonhos podem ser bons para resolver problemas, trazendo benefícios à saúde.

sonhos são uma forma de reunir o inconsciente com o consciente, possibilitando ter conhecimento dos dramas que acontecem em nossas vidas ao dormir, nos dando o poder de mudança. Quando temos um sonho repetido, isso significa que o problema continua e precisa ser resolvido, além de auxiliar no tratamento de problemas”, conclui. Além disso, os estudos do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung indicam os sonhos como um processo de individuação: “É a experiência de um processo psíquico involuntário não controlado pela disposição ou atitude consciente e que mostra a verdade e a realidade internas do paciente, como elas de fato são, não como suponho que sejam, e não como eu gostaria que fossem, porém tal como são. Portanto, ele retifica a situação e acrescenta o material que estava faltando e que lhe pertence propriamente, melhorando assim a atitude. Quando um sonho emerge numa forma dominante, deve-se ter o trabalho de reproduzi-lo, seja em desenhos, ainda que não se saiba desenhar, seja em escultura, ainda que não se saiba esculpir, ou em qualquer outra maneira. Contanto que se estabeleça uma relação concreta com ele. Se observarmos os sonhos durante um longo período, vamos perceber a ação de uma espécie de tendência reguladora ou direcional oculta, gerando um processo lento e imperceptível de crescimento psíquico”, diz Clara de Sá. Ambos os pensamentos concordam que os sonhos são uma ferramenta de tratamento e autoconhecimento, podendo ser muito benéfico na solução de problemas tanto em questões pessoais quanto profissionais.

De olhos bem fechados

Confira alguns relatos de sonhos

“Há cinco anos e uns quatro meses, sonhei que estava à beira-mar caminhando. De repente, vi um ancião e uma anciã me olhando e fui até eles. Chegou então um pássaro imenso, gigantesco de asas grandes e pousou no braço do ancião, que me disse que este pássaro estava chegando da Ásia. Olhei o rosto do pássaro, e era o rosto de um homem, com barba rala e olhar bom. O ancião estendeu o braço em minha direção, trazendo o pássaro até mim. Eu tinha em sensação leve, tranquila, confiante, e um pouco curiosa. Acordei. Pela manhã conversei com amigos e tive a sensação de que alguém estava para chegar a minha vida. Em um mês conheci, numa festa de biodança numa chácara, um homem. Era o rosto do pássaro. E, te juro, esse homem estava chegando, há dois ou três meses, de uma jornada de seis meses no Timor Leste, na Ásia. Namoramos por cinco anos, e foi uma relação pra lá de rica. Também, ele é 15 anos mais velho que eu (tem 52 anos hoje), o que explica ter sido um ancião que o entregou para mim.” Sylvia Wya Poty, terapeuta.

“Sonhei que a minha avó tinha morrido de infarto no dia do aniversário do meu pai. Na sexta-feira que seria o aniversário. Ele queria fazer uma festa para comemorar. Mas eu não quis e o alertei sobre o quanto parecia real o meu sonho. Ele não acreditou em mim e fez mesmo assim. O inesperado aconteceu bem na hora da festa. Ligaram pra ele, falando que a minha vó tinha ido a óbito. Eu fiquei chocada. Eu tinha avisado, mas ele nem ligou para o que eu disse.” Amanda Alberto, desempregada.

“Já sonhei várias vezes que conhecia pessoas, lugares e até mesmo situações do meu cotidiano a que viriam a acontecer. E era tão real, como se fossem uma visão do futuro. E quando eles começaram a ocorrer de fato na vida real, pensei que era loucura da minha cabeça. Mas depois que eu vi que não era nada disso, e que realmente eles se realizavam igualmente ao que eu havia sonhado, comecei a dar muito mais valor aos meus sonhos. Sem dúvida, eles me ajudaram a solucionar muitas coisas em minha vida.”

Jéssica Caetano, estudante de Direito.

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