JUBILEU DE OURO DA FCA/UNESP
No 50º Aniversário da FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS DA UNESP – CAMPUS LAGEADO, o Blog do Delmanto presta a sua homenagem divulgando o post “Os 80 Anos da Fazenda Lageado (1934/2014)” , divulgando o REGISTRO HISTÓRICO da conquista da FAZENDA LAGEADO pelo Governo de São Paulo, posteriormente transferida para abrigar um campus da UNESP. É importante que as grandes conquistas sejam preservadas pois compõem o Patrimônio Histórico da FCA.
Cumprimentando todos os professores, ex-professores, Diretor e ex-Diretores, funcionários e ex-funcionários, alunos e ex-alunos queremos, na pessoa do Diretor da FCA, Prof. Dr. João Carlos Cury Saad, apresentar os nossos agradecimentos e nossa admiração pela realização dessa grande e admirável obra educacional e cultural de Botucatu.
Durante o mês de maio muitas programações estarão sendo realizadas: eventos musicais, encontros comemorativos, sessões solenes, lançamento de livros, enfim, festividades a marcar toda a grandeza do JUBILEU DE OURO DA FCA/UNESP! Com a exposição de fotos históricas da FCA na Biblioteca “Professor Paulo de Carvalho Mattos” e o lançamento de uma “cápsula do tempo” que “vai reunir imagens com as expectativas da comunidade atual sobre como estará a FCA daqui a 25 anos”, as comemorações estarão encerradas com brilhantismo.
Os posts “Os 80 Anos da Fazenda Lageado” e “Lageado: o Futuro é Possível! (http://www armandomoraesdelmanto com br/?area=artigos&id=37&pagina=)”p recisam ser lidos e registrados por todos que amam Botucatu e a FCA da UNESP!
Os 80 Anos da FAZENDA LAGEADO (1934/2014)
“Hoje, o Lageado é o Cartão de Visitas, o Cartão Postal de Botucatu. Mas é mais, muito mais! Hoje, o Lageado é a prova provada de que o futuro existe e é possível, agora, já!” (AMD)
As grandes conquistas de Botucatu estão ligadas à atuação de seus homens públicos. E foram muitos. É infantil dar loas às grandes conquistas e ignorar os que as viabilizaram... Entre esses homens públicos é preciso destacar os Deputados de Botucatu.
Tudo o que Botucatu possui está ligado à atuação desses ilustres botucatuenses. Os fracassos e as derrotas pegaram Botucatu órfã, sem o seu representante, sem o seu Deputado...
A Grande conquista da FAZENDA LAGEADO/ EDGARDIA, também.
A Fazenda Lageado, pertencia ao Dr. João Batista da Rocha Conceição – irmão do Conde de Serra Negra – e foi uma das maiores propriedades da região de Botucatu.
Com a crise de 1929/30, a Fazenda ficou em estado de insolvência, tendo o Deputado Estadual Dante Delmanto e o Deputado Federal Antonio Carlos de Abreu Sodré (ambos os mais votados de todo o Estado) conseguido, em 1934, com que o Departamento Nacional do Café (depois Instituto Brasileiro do Café – IBC) a expropriasse e a transformasse em FAZENDA EXPERIMENTAL DO CAFÉ.
Posteriormente, já em estado de decadência, o Deputado Federal Braz de Assis Nogueira, em 1972, conseguiu a transferência da Fazenda Experimental do Café, pertencente ao IBC, para o Governo do Estado de São Paulo, contando com o apoio do Ministro da Agricultura Ivo Arzua. Hoje, o Lageado é importante campus da UNESP
Nesse contexto é que se destaca o Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, o paulista VICENTE RAO. Após a REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932, foi graças ao ACORDO entre Getúlio Vargas e os Revolucionários de 32, em 1933, que possibilitou a redemocratização do país (1934/37).
E agora, quando se comemora os 80 ANOS da FAZENDA LAGEADO, vamos resgatar o papel desempenhado pelo jurista VICENTE RAO nessa grande e inestimável conquista para Botucatu. Da mesma forma, os artigos postados nos links no final deste post, completam o histórico dessa conquista botucatuense.
Vicente Rao – Jurista e Político Paulista.
Um dos mais destacados Mestres do Direito de São Paulo, teve participação ativa no período em que o Brasil viveu em PLENO ESTADO DE DIREITO, durante o período em que Getúlio Vargas se compôs com São Paulo e com os REVOLUCIONÁRIOS DE 1932. Com o NÃO cumprimento dos compromissos da Revolução de 1930 por Getúlio Vargas e com a falta de autonomia política dos Estados, mais a ausência do Estado de Direito que levaram à Revolução Constitucionalista de 1932, o núcleo pensante, a “intelligentzia paulista”estavam mobilizados. A derrota militar se transformara em vitória política ! Ficou famosa a frase de Getúlio:
“Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”.
E o fez. Nomeou Interventor em São Paulo, Armando de Salles Oliveira, revolucionário de 32 e genro de Júlio de Mesquita, fundador do jornal “O Estado de São Paulo”.
(contra-capa do livro “História da Vitória Política Paulista - 1934”)
Sim, se o objetivo da Revolução de 32 era a Autonomia Administrativa e uma Constituição Democrática, a vitória era dos paulistas! Getúlio convocou uma Assembléia Nacional Constituinte e o Brasil voltou a ser um ESTADO DEMOCRÁTICO (1935/37).
Em 1934, indicado por São Paulo, assumiu o Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores, o jurista Vicente Rao. No mesmo ano, participou da fundação da USP, por Armando de Salles Oliveira, juntamente com Paulo Duarte, Benedicto Montenegro, Júlio de Mesquita Filho, Cantídio de Moura Campos, Waldemar Ferreira, André Dreyfus, Sampaio Dória, Plínio Ayrosa, Luiz Cintra do Prado, José Carlos de Macedo Soares e tantos outros.
Ainda em 1934, chancelou a estatização da FAZENDA LAGEADO (que estava insolvente) pelo Governo Federal, através do Departamento Nacional do Café (sucedido pelo INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ – IBC), transformando-a em FAZENDA EXPERIMENTAL DO CAFÉ, atendendo ao pedido dos deputados Dante Delmanto e Antonio Carlos de Abreu Sodré (respectivamente, deputados estadual e federal), eleitos com a maior votação do Estado, na CONSTITUINTE PAULISTA de 1934. Esse pedido, contou com o trabalho do secretário paulista da agricultura, Luiz Piza Sobrinho e o empenho político de Armando de Salles Oliveira.
Durante o período democrático vivido pelo Brasil, foi efetivo o entrosamento entre o governo federal e São Paulo.
ALIANÇA POLÍTICA LEVA PAULISTAS AO MINISTÉRIO
De 1934 a 1937, exerceu o alto cargo de Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, o professor Vicente Rao e exerceu o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), o professor José Carlos de Macedo Soares. Com uma atuação polêmica em sua vida política, Vicente Rao viveu momentos de glória e de infortúnio:
1 – Apoiou, como militante do Partido Democratico, a campanha de Getúlio Vargas à presidência da república ( vencida por Julio Prestes);
2- Apoiou a REVOLUÇÃO DE 1930, liderada por Getúlio Vargas, sendo nomeado Chefe da Polícia Paulista. Tendo deixado o cargo após o rompimento do Partido Democrático com Getúlio Vargas pelo não cumprimento dos compromissos da Revolução de 30: redemocratização do país e convocação de uma Constituinte;
3- Participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932. Derrotado São Paulo. Seguiu para o exílio com os demais líderes do movimento;
4- Com o ACORDO de Getúlio Vargas com os Revolucionários de 1932, realizado em 1933, volta do exílio e assume, em 1934, o Ministério da Justiça;
5- Com a candidatura de Armando de Salles Oliveira à presidência da república, no final de 1937, pede afastamento do Ministério e volta a lecionar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) e se engaja na campanha;
6- Com a implantação da DITADURA DO ESTADO NOVO e com o fechamento das Assembléias Legislativas, Vicente Rao passa a fazer palestras contra a ditadura, na faculdade de direito e para a sociedade civil. É perseguido e expulso da Faculdade de Direito;
7- Volta a advogar e, 1951, com a volta de Getúlio Vargas à presidência da república, pelas vias democráticas, volta a assumir um Ministério, agora o Ministério das Relações Exteriores;
8- Advogou até o fim em seu prestigioso escritório de advocacia que deu ao Brasil, anos depois, um outro Ministro da Justiça, o prof. Saulo Ramos que fez carreira profissional no escritório de advocacia Vicente Rao.
É REGISTRO HISTÓRICO! (BLOG DO DELMANTO)
(ilustrações de Marco Antonio Spernega)
“Lageado: Um Esboço de sua História”
No ano de 1981, como diretor-proprietário do “Jornal de Botucatu”, programamos uma série de artigos sobre a história do Lageado e, para isso, contamos com a colaboração da Profª Inês Gontijo Antonini da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP. Com o título de “Lageado: Um Esboço de sua História”, publicamos esse trabalho em capítulos, nas edições de 23/09/81, 26/09/81,03/10/81,10/10/81,17/10/81,24/10/81,31/10/81 e 07/11/81. Por sua importância e pioneirismo no registro da história do Lageado reproduziremos, na íntegra, esse trabalho: «Em sua trajetória histórica, as Fazendas Lageado e Edgardia tem desempenhado papéis distintos. Num primeiro momento funcionaram como grande propriedade fundiária particular, unidades produtoras de café. Em 1934, compradas pela Federação, as Fazendas foram transformadas em Estação Experimental, voltada para o desenvolvimento de pesquisas agrícolas, e a partir de 1972, tornam-se uma unidade de ensino de nível superior.
Recuperar a história desta Fazenda significa não apenas desvendar seu passado e sua inserção na própria história econômica, política e social brasileira, mas abrir caminhos para tentar entender o momento presente e as alternativas para definir os objetivos para o melhor desempenho de seu papel.
Este documento é uma introdução à história do Lageado, um levantar de dados, fatos e acontecimentos que possam ser utilizados como ponto de partida para uma análise mais sistemática, propiciando debate mais aberto entre todos os que tem participado e feito a sua história.
Uma Fazenda de Café
A formação, instalação e desenvolvimento das antigas Fazendas do Lageado e Edgardia como unidades produtoras de café, inserem-se num processo histórico mais amplo - a grande expansão da economia cafeeira ocorrida no “Oeste Paulista”, no século passado.
O «ciclo do café» remonta às décadas de 1830/1840, desenvolvendo-se inicialmente no Vale do Paraíba. Em continuidade aos padrões da economia colonial, fundada na grande propriedade e na exploração da mão-de-obra escrava, a produção cafeeira atendia o mercado metropolitano, importador de produtos tropicais.
Entretanto, na segunda metade do século XIX, ocorreram transformações cruciais nas relações de produção e nas formas de apropriação da terra, que marcaram a própria evolução do capitalismo no Brasil e definiram toda uma estrutura de poder que caracterizará as primeiras décadas do século XX.
Neste sentido, a abolição do tráfico de escravos em 1850, e a consequente crise no abastecimento de mão-de-obra para a lavoura cafeeira, abriu perspectiva para o colapso do sistema escravocrata. A tentativa de atender a demanda de mão-de-obra pela introdução do trabalho livre estrangeiro, vinculou-se ao problema da redefinição da propriedade da terra. Não foi mera coincidência a promulgação, também em 1850, da Lei de Terras, instituindo a compra como único título legal de aquisição de terras.
Assim, no momento em que se deu a introdução do trabalhador livre como substituto do escravo, estabeleceu-se nova forma de acesso à terra, que por sua vez garantiu as condições de submissão e exploração da força de trabalho.
A partir da legislação de 1850, uma série de medidas deram suporte jurídico e financeiro para a grande expansão da economia cafeeira: o imóvel, e não mais o escravo, passou a ser a base das hipotecas; liberação de crédito hipotecário aos municípios do interior paulista; subvenção do governo à imigração estrangeira.
Nestas condições, ocorreu a expansão de novas fazendas de café no “Oeste Paulista”, a partir de 1870, numa busca ávida por terras virgens férteis. Esta expansão foi acompanhada por importantes transformações ao nível das forças produtivas, através do desenvolvimento do transporte ferroviário e da mecanização do beneficiamento do café. O café chegou a Botucatu exatamente na década de 1870, e junto com ele, a Estrada de Ferro Sorocabana(1878).
Em 1881, o doutor João Batista da Rocha Conceição, proveniente de Piracicaba, comprou do finado Alferes José da Silveira Franco, a Fazenda Lageado, pelo preço de 100 contos de réis. Em escritura pública lavrada a 10 de novembro de 1881, a propriedade, medindo “cerca de tres quartos de legoa de cumprimento e meia legoa mais ou menos de largo” é descrita como sendo uma “fazenda de cultura”contendo: “cafezais de cinco a dez annos, um cafezal novo de pouco mais de dous annos, e outro cafezal de Chacrinha quaso todo formado”. Além disso, já existiam: “caza de morada, parte forrada e assoalhada que conta com cem palmos de frente com oitenta de fundos; coberta de telhas (..) e rebocada de cal...; caza de despejo; caza para deposito de café; cazas de maquinas; moinho, estrebarias, monjollo, doze quartos que servem de aposentos dos escravos”.
São escassos os dados sobre a Fazenda durante a vigência da escravidão. E com a chegada do colono imigrante, parece terem sido poucos os elementos de cor que nela permaneceram. Nos depoimentos colhidos, houve referência apenas a um casal de ex-escravos que vivia na colônia “tres Casas”.
Foi a partir de compras subsequentes de terras vizinhas (Salto, em 1884; Fazenda Terreiro da Pedra, em 1895 e partes da Fazenda Terceira Agua, em 1896) que se confirmaram as Fazendas Lageado e Edgardia para cuidar dos grandes cafezais foi basicamente utilizado, o colono imigrante: italianos, espanhóis, portugueses, alemães e alguns japoneses. A medida que se organizava a Fazenda, colônias foram sendo constituídas: “Fazendinha”, “Três Casas”, Colônia Grande”, “Chacrinha”, “Seis Casas”, “Olaria” e “Chafariz” no Lageado, além de outros grupos de casas na Edgardia.
Em depoimento colhido, doutor João Batista da Rocha Conceição teria sido proprietário de outras fazendas em S. Carlos, Vera Cruz e Ventania. Mas, “Lageado e Edgardia formavam a maior e melhor delas”.
Em 1922, Edgar da Conceição e Jane Conceição Pacheco Chaves, filhos do doutor Batista, receberam as fazendas Lageado e Edgardia como partilha de espólio, avaliadas em 350 contos de réis.
Recuperando a descrição feita na transcrição do imóvel pode-se captar o grande desenvolvimento e valorização destas fazendas.
Fazenda Edgardia, com aproximadamente 480 alqueires assim discriminados: 100 alqueires em «cafezaes”, 80 alqueires em «cafezaes”abandonados e capoeiras, 100 alqueires em invernadas e pastos, 200 alqueires em «mattas”, 193.000 pés de café; quatro «mangueirões”para porcos; casa de morada; 29 casas de tábuas para colonos; uma mangueira de pau-a-pique para gado; um rancho para gado; duas invernadas fechadas (arame farpado), Fazenda Lageado, com aproximadamente 450 alqueires sendo: 250 alqueires em “cafezaes”, 35 alqueires em pastos, 80 alqueires em cultivado, 85 alqueires em «matta”, Casa de morada; duas casas para “fiscaes”; 32 grupos de casas ( “tijollos”e telhas); 13 grupos de casas (tábuas e zinco); dois grupos de casas (tábuas e telhas); dez casas para camaradas. Além disso: «Machinismos”para benefício do café; tulhas para 28 mil arrobas de café; turbina para mover a tulha de café; casa anexa à «machina”para depósito de café beneficiado; terreiros para 20 mil alqueires de café (parte ladrilhado e parte só pisado), ligado às tulhas por um pontilhão e com trilhos para recolhimento do café; tulha no terreiro para quatro mil arrobas de café; coberta ocupada por um
desfolhador duplo e um vapor de oito «cavallos”tendo em volta tanques para depósito do café; casa de “tijollos”para bomba d´água; moinho de fubá: triturador e “machina”de picar cana, tudo movido por uma roda d´água; oficina e depósito de ferro usado; um paiol de táboas para 80 carros de milho, cocheira, estábulo, um armazém na Chave da Estrada de Ferro Sorocabana.
Na década de 1920, a Fazenda atingiu seu apogeu. Os cafezais se expandiram atingindo um total de um milhão de pés e a produção alcançou altos níveis. Alguns depoimentos de contemporâneos descrevem esse auge:
- “Se a gente contar o que foi o Lageado ninguém nem acredita...»
- “De 1925 a 28 foram os anos da vaca gorda”
- “Tudo era café”.
- “O cafezal era uma floresta”.
- “A gente colhia 120 litros de café por pé. E era tanto que ficava café na roça».
- “Nos tempos de colheita usava 18 carroças, dois caminhões, e ainda precisava alugar mais caminhão”.
Uma Fazenda Experimental
A venda das Fazendas Lageado e Edgardia para o Departamento Nacional do Café, em 1934, parece estar relacionada com a “crise de 1929” e à própria orientação política assumida pelo Estado, para enfrentar os reflexos dessa crise no Brasil.
Desde a República, o Estado passara a intervir cada vez mais nos destinos da produção cafeeira, adotando medidas protecionistas em defesa do produtor. Quando, no início de 1930, ocorreu uma queda vertiginosa dos preços internacionais, de produtos primários, o Estado reafirmou a política de defesa dos cafeicultores e transferiu para o conjunto da sociedade o peso das vicissitudes da economia cafeeira.
Dentro desta perspectiva, é sugestivo o encaminhamento da problemática com relação à Fazenda Lageado.
A Fazenda entrou em crise. Segundo depoimentos colhidos:
- “Muitos pé de café foram abandonados; alguns foram cobertos com capim. Outros foram mesmo arrancados”.
- “O primeiro cafezal a ser desativado foi onde hoje é o Pomar...e era um dos mais novos”.
- “O fazendeiro tinha muitas dívidas”.
- “Houve atrasos nos pagamentos em 1931/32 e muitas famílias foram saindo».
- “Na Edgardia das 25 famílias ficaram só cinco”.
Nesse momento de crise, o Departamento Nacional do Café, orgão oficial responsável pelos aspectos político e financeiro da cafeicultura, adquiriu e pôs à disposição do Ministério da Agricultura, um imóvel resultante da unificação das duas fazendas, Lageado e Edgardia, de 884 alqueires e 290.000 pés de café no valor de 800 contos de réis.
Transformada em Estação Experimental do Café, a fazenda passou a ser controlada pelo Serviço Técnico do Café, órgão do Ministério da Agricultura. O objetivo exclusivo da Estação seria: levar a efeito estudos completos sobre a cultura cafeeira.
Os primeiros anos de instalação e funcionamento da Estação Experimental foram marcados por inúmeras dificuldade.
Relatórios elaborados pela direção denunciam a decadência e quase abandono das lavouras; o estado ruinoso e inaproveitável das instalações e benfeitorias; a dificuldade de conseguir mãode-obra; o estado precário das estradas, caminhos e carreadores e a necessidade de instalações adequadas para pesquisa e experimentos.
Além das dificuldades materiais, surgiram problemas de ordem administrativa e financeira: constante troca de diretores, falta de financiamento e/ou má distribuição das verbas, etc.
Ainda assim, os Relatórios dão conta de inúmeros empreendimentos levados a efeito entre 1936 e 1939: tentativa de recuperação dos velhos cafezais; reedificação das colonias; política de “recolonização”; instalação de pequena usina hidroelétrica; instalação do posto metereológico; início da instalação do horto para a obtenção de essencias florestais para plantio e distribuição de mudas; construção e inauguração do prédio da Diretoria e do Alojamento, além de residências para funcionários. Instalação do museu para prestar serviço de classificação do café e exposição permanente de amostras; instalação de galpão para exposição de máquinas de interesse para a lavoura.
Em 1939, ocorreu uma mudança na orientação e estrutura ministerial e todas as Estações Experimentais ficaram subordinadas ao Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícolas (depois integrado ao Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias, IPEAS). Dentro da nova orientação, a Estação Experimental de Botucatu, de especializada que era, passou a diversificar suas culturas. Em convênio com o Instituto Agronômico de Campinas foram executados inúmeros trabalhos e pesquisas agrícolas. Ao lado do café, passaram a ser cultivados em caráter experimental: trigo, mandioca, amendoim, milho, cevada, vime, rami, sisal, etc.
Com relação à cafeicultura, apesar da diminuição sistemática dos cafezais ( de 290.000 para 90.000 pés), foram desenvolvidos inúmeros trabalhos de pesquisa e ensaios de sombreamento, broca, restauração de velhos cafezais, espaçamento, enxertia, auto-fecundação, irrigação coleção de espécies e variedades, etc Os resultados destas atividades se encontram nos relatórios anuais da Estação, acompanhados de gráficos e rica documentação fotográfica.
Tantos os Relatórios como depoimentos colhidos testemunham as décadas de 1940 e 1950 como fase de estabilidade, marcadas pela continuidade administrativa e dos programas desenvolvidos.
Apesar das frequentes queixas de falta de recursos ( a renda da produção não revertia para a Estação), novas máquinas, equipamentos foram introduzidos no trabalho a nível laboratorial e no campo.
A partir dos anos 60, as dificuldades aumentaram. Relatórios e depoimentos dão conta da situação de crise e decadência da Estação. Em 1966, o Boletim do Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Centro Sul, elaborado pela própria Estação Experimental de Botucatu, chama a atenção para o Ministério da Agricultura assumir novamente uma posição em benefício da cafeicultura, reivindicando o retorno da cultura.
Uma Unidade de Ensino Superior
O encaminhamento da questão se deu no sentido de transformar a Estação Experimental em unidade de ensino superior, sobretudo a partir da instalação da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu ( FCMBB).
O Decreto de 12 de dezembro de 1968, autorizou a União a ceder ao Governo do Estado de São Paulo a área, benfeitorias e instalações da Estação para utilização e instalação de uma unidade de ensino superior.
A FCMBB e os órgãos de pesquisa do Ministério da Agricultura elaboraram convênio de pesquisas integradas visando dar prosseguimento aos trabalhos aí em andamento.
Entretanto, o comprador da propriedade fora o extinto Departamento Nacional do Café (DNC), e o legítimo possuidor da fazenda era o Instituto Brasileiro do Café (IBC), sucessor legal do DNC. Pela lei de 5 de dezembro de 1972, o IBC cedeu as Fazendas Lageado e Edgardia, a título gratuíto, ao Estado, para a instalação em caráter definitivo dos Cursos de Medicina Veterinária e Ciências Agronômicas. Em caso de destino diverso do especificado na lei, o imóvel será devolvido ao Instituto Brasileiro do Café.
A partir do momento em que se instala oficialmente, nesta Fazenda Lageado, a Faculdade de Ciências Agronômicas (UNESP), todo um corpo de professores, alunos e funcionários passam a constituir um novo universo. Neste sentido, é imprescindível não só recuperar e preservar a história desta fazenda e todo o seu patrimônio, como se repensar e propor alternativas para sua nova história.”
(Revista Peabiru nº 16 - Ano III de julho/agosto de 1999)