Jornal do empreendedor
São Paulo, quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Divulgação
ESPECIAL FOOD SERVICE
O suculento mercado de R$ 88 bilhões A indústria da alimentação fora de casa, o Food Service, representa 2,4% do PIB brasileiro e fornece 63 milhões de refeições por dia.
LUIZ CARLOS DE ASSIS
T
odos os dias, sai às ruas do Brasil uma clientela cativa e que não para de crescer. À hora do almoço, do café da manhã, no lanche da tarde, happy hour e no jantar, milhões de brasileiros consomem 63 milhões de refeições, de um simples sanduíche a um jantar completo. É esse contingente enorme que faz a indústria da alimentação fora do lar, também conhecida por Food Service, crescer cerca de 15% ao ano nos últimos dez anos (17% no ano passado) e que movimenta nada menos que R$ 88 bilhões por ano, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia). É uma parte expressiva da indústria de alimentação brasileira, que faturou, no total, R$ 343 bilhões no ano passado. Mais de 25% da indústria está voltada para este segmento, abastecendo cerca de 1,4 milhão de estabelecimentos no País. Estão nesse grande bolo os restaurantes, as cadeias de fast food e de entrega em domicílio, bares, hotéis, refeições coletivas e padarias. Estima a Abia que 23% da distribuição do canal está em restaurantes comerciais, 15% em padarias e 18% em bares e lanchonetes. "É um segmento com grande potencial de expansão", diz Enzo Donna, da ECD, consultoria especializada nesta área. O Food Service é o canal de vendas da indústria da ali-
mentação que cresce muito acima da taxa de crescimento da economia brasileira, por conta dos novos hábitos dos consumidores. O segmento representa 2,4% do PIB brasileiro e quase 40% do PIB do turismo. É um dos maiores empregadores do País, com cerca de 6 milhões de profissionais.
cado. Porém, o instituto apontou 31,04%, uma excelente notícia para todo o setor", analisa o consultor Jean Pontara. Em valores, o IBGE constatou que a despesa média mensal familiar com alimentação foi de R$ 421,72. Desse total, R$ 131,33 correspondem aos gastos com alimentação fora do domicílio. O restante
tamento do consumidor, seguindo o padrão dos outros países do mundo emergente e cidades grandes cada vez maiores, pessoas trabalhando mais, estudando mais e passando menos tempo em casa, portanto com menos tempo para cozinhar. É o que comprova o estudo da consultoria GS&MD - Gouvêa de Sou-
ra essa atividade, ela, marido e filhos alimentam-se hoje mais fora do lar. Assim, encaixa-se também na definição de Food Service a alimentação que pode ser comprada em supermercados ou restaurantes para ser aquecida ou em fase final de preparação em casa. Mercado promissor
Acima das previsões Em 2009, comer fora de casa representava 31% dos gastos de uma família em alimentação, de acordo com o IBGE. Nesse mesmo ano, São Paulo gastava 39%; o Rio de Janeiro, 41%; Brasília, 37%; e Minas Gerais, 30%. A região Sudeste gastava 37% na média. Até 2014, a expectativa é que o percentual nacional passe de 31% para 38%, nas previsões do consultor Enzo Donna. Com isso, o Sudeste deverá chegar a algo entre 45% e 46%, bem próximo da previsão para os Estados Unidos, principal país nesse mercado, que terá mais ou menos 48%. "O IBGE publicou recentemente o Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 20082009, que apresentou crescimento de 79% nos gastos das famílias com alimentação fora do lar, em relação ao POF 20022003, superando todas às previsões feitas até hoje deste mercado. Em 2003 o POF apontou para um mercado de 24,04% nos gastos com alimentação fora do lar e acreditávamos que o segmento representava entre 26% e 28% do mer-
NÚMEROS DO FOOD SERVICE I R$ 88 bilhões de faturamento anual (Abia) I 1,4 milhão de pontos de venda no País
(Abrasel) I 6 milhões de empregos
diretos (Abrasel) I 15% de crescimento médio
na última década (ECD Consultoria) I 31% da população comem
fora no Brasil (IBGE)
(R$ 290,39) representa os gastos com alimentação no domicílio. Também cresceu o gasto individual, o tíquete dos consumidores. Cada transação passou de R$ 4,00 em 2004 para R$ 8,28 em 2010, segundo a consultoria ECD. Mudança de comportamento Esta mudança forte no mercado é orientada por uma rápida transformação no compor-
za, no qual 77% dos respondentes utilizam o delivery. Entre os destaques, 80% das mulheres e 78% da Classe C já aderiram a essa modalidade. Outros fatores explicam o crescimento vertiginoso do setor: aumentou a participação da mulher no mercado de trabalho – de 41% em 1999 para 46% este ano, segundo o Euromonitor. Em geral, é a mulher que cuida da alimentação da família. Sem tempo pa-
Embora grandes empresas internacionais do setor já oper e m a q u i – c a s o d e M c D onald's, Subway, Burger King, Outback, Applebee's e KFC –, o Brasil é um dos mercados mais desafiadores por causa das particularidades do mercado, da legislação fiscal e das diferenças de hábitos dos consumidores nas diversas regiões, segundo aponta a consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza. Mas é, certamente, um mercado repleto de oportunidades. A GS&MD identifica essas oportunidades. Na indústria, mesmo as empresas grandes e ativas no mercado global ainda carecem de soluções dedicadas ao segmento. Na distribuição, há um grande desafio de logística e especialização. Os operadores ainda são pulverizados: os restaurantes são, na maioria, independentes – as grandes redes ainda detêm participação relativamente pequena do mercado. E, afinal, os varejistas oferecem opções ainda tímidas para um consumidor que tem demandas a cada dia mais específicas, em questões de qualidade, funcionali-
dade, conveniência, tendências étnicas e saúde, entre outras. "O que eu percebo é que o mercado caminha para a especialização – diz o consultor Jean Pontara, da J. Pontara Inteligência de Mercado. Há dez anos, explica ele, quando se falava em Food Service, falava-se de uma massa grande de todo tipo de serviço – restaurante, bar, pizzaria. Mal se falava em rotisserie. E tocava-se tudo da mesma forma. Ao longo dos anos, conforme a segmentação foi evoluindo, expandindo, foi demandando produtos mais específicos, tanto de preparo quanto de serviço. Hoje, segundo ele, a especialização – por indústrias, prestadores de serviços e operadores – é o que se vê com mais frequência. Essa indústria tem seus custos distribuídos entre matériaprima, cerca de 35%, e mão de obra (22%). Gasta 13% em impostos e 8% em custo de ocupação (aluguel, condomínio e outros), segundo a consultoria ECD. Ao longo dos últimos anos, os operadores estão se profissionalizando para enfrentar esses desafios. Segundo o portal Alimentação Fora do Lar, fazem compras menos aleatoriamente e mais baseados no cardápio, têm ideia quase exata do número de refeições servidas por dia, conhecem as safras, os produtos e seu rendimento. Estão atentos ao prazo de validade das mercadorias e conferem sempre a pontualidade e a idoneidade de seus fornecedores.