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TERRA MISTERIOSA E LONGÍNQUA, BRASIL
Cultura e literatura brasileiras em Israel
Entrevista com Dalit Lahav-Durst
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Aminha relação com a literatura brasileira começou em 1968, quando cheguei com os meus pais a São Paulo”, afirma a israelense entusiasmada pela cultura brasileira, Dalit Lahav-Durst, na entrevista que deu por escrito à Revista Devarim. Uma parte de sua família, do lado materno, saiu da Ucrânia em meados da década de 1920: uma tia foi para o Rio e outra para São Paulo. A avó, que era sionista, foi para a Palestina que, naquela época, estava sob o Mandato Britânico.
Fale um pouco sobre você e seu interesse pelo Brasil
Durante muito tempo O meu p é de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos foi o meu livro de cabeceira. Depois li O mist é rio do coelho pensante de Clarice Lispector, e O Saci de Monteiro Lobato. Foi assim que começou a minha história de amor com a literatura brasileira.
Depois disso, descobri o romantismo e o parnasianismo brasileiro: A mão e a luva de Machado de Assis; adorei ler Memórias póstumas de Br á s Cubas, entre outras obras do grande escritor; O guarani de José de Alencar e Os escravos de Castro Alves, cujo poema O Navio Negreiro impressionou-me, porque fiz um paralelo entre o sofrimento dos escravos africanos e o suplício dos judeus na Shoá. Aqui vai o canto fúnebre do albatroz: “Desce do espaço imenso,/ó águia do oceano!/ Desce mais… inda mais… não pode olhar humano/Como o teu mergulhar no brigue voador!/Mas que vejo eu aí…/ Que quadro d’amarguras!/É canto funeral!.../Que tétricas figuras!.../Que cena infame e vil…/Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
Mera coincidência, justamente acabei de ler na edição 44 (abril 2022) de Devarim, o artigo do rabino Joseph A. Edelheit Uma Releitura Crítica da Escravidão na Torá.
Mais tarde, descobri o Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa, Macunaíma , o formidável poema épico brasileiro, de Mário de Andrade, Mar morto de Jorge Amado, entre outros livros dele que, aliás, sempre tiveram muito sucesso em Israel, e a formidável Clarice Lispector, cuja história pessoal e estilo tão único me marcaram para sempre.
Sou tradutora literária, especializada em literatura sul-americana. Considero o trabalho do tradutor similar ao lavor do construtor de pontes. Eu traduzo especialmente obras de autores brasileiros e portugueses, porém, na maioria dos casos, as minhas traduções são o resultado de minhas próprias escolhas e iniciativas. Além disso, trato da escolha da capa e do texto da contracapa. O meu objetivo é introduzir ao leitor israelense obras que julgo interessantes e que considero de qualidade.
Traduzir livros que aprecio, do português para o hebraico, me dá um enorme prazer porque, dos sete anos que vivi em São Paulo, guardei belas recordações, mesmo estando consciente do período difícil que o país atravessou naqueles tempos (ditadura militar, desaparecimentos de ativistas políticos etc.). Eu posso afirmar que essa época da minha vida me inspirou para o futuro. O Brasil, terra amada, ocupa um canto muito especial no meu coração. Com o tempo, estabeleci contatos pessoais com alguns autores e também com as suas famílias, como Manuel Pope, em Portugal, e Jacques Fux e Paulo Rosenbaum, no Brasil – pessoas que se tornaram amigos, o que dá ao meu trabalho de tradutora uma dimensão mais humana.
Aqui vai uma lista de algumas das minhas traduções:
Dom Casmurro de Machado de Assis, Manifesto
Pau-Brasil e Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, Aprendendo a viver de Clarice Lispector,

Antiterapias e O Nobel de Jacques Fux. Atualmente, estou traduzindo Navalhas Pendentes de Paulo Rosenbaum, um livro cheio de suspense, ironia, ilusão e farsa, que trata de um tema de atualidade: inteligência artificial. Espero que o leitor israelense vá apreciar.
O primeiro livro que traduzi do português para o hebraico foi Dom Casmurro . Sei que Clarice Lispector tinha grande admiração por Machado de Assis. Além de ambos serem grandes escritores, eram também tradutores. A mãe de Machado de Assis era imigrante dos Açores e o pai era descendente de escravos da África. Clarice era filha de imigrantes judeus da Ucrânia. Ambos carregaram, por toda a vida, o peso da sua herança. Os caracteres e atitudes dos personagens de ambos os autores refletem as relações e o comportamento da sociedade brasileira. Nos escritos de Machado de Assis, o leitor pode aprender sobre a condição humana na sociedade brasileira. Em suas novelas, Clarice Lispector fala
Dalit Lahav-Durst: “Trabalhei, inclusive, com artistas sobreviventes da Shoá, cujas obras são dedicadas à memória das vítimas do Holocausto. Atualmente moro em Tel Aviv e trabalho com pintores, escultores e fotógrafos em Israel e na Europa.” muito sobre a condição da mulher e dos seus problemas existenciais, tema universal mas também relevante para a sociedade brasileira.
De escritores portugueses eu traduzi a novela O Barão de Branquinho da Fonseca, considerada uma das obras-primas da literatura portuguesa, e também Rio Turvo do mesmo autor. Sombras em Telavive e A Mulher Nua de Manuel Pope, bem como uma coletânea de contos e peças de teatro da sua autoria; e A Noiva Judia de Pedro Paixão, entre outros.
Também sou curadora e crítica de arte, especializada no Expressionismo alemão. Durante muitos anos trabalhei no Centro de Documentação Judaica do Museu da Shoá, em Paris, França. Lá organizei exposições de obras que foram realizadas nos guetos, nos campos de concentração e nos campos de extermínio. Trabalhei, inclusive, com artistas sobreviventes da Shoá, cujas obras são dedicadas à memória das vítimas do Holocausto. Atualmente moro em Tel Aviv e trabalho com pintores, escultores e fotógrafos em Israel e na Europa.
Qual o interesse do público israelense pela literatura (cultura) brasileira?

O público israelense se interessa especialmente pelo futebol brasileiro. Também se interessa pela música (samba, bossa-nova) e pela dança.
No fim dos anos 1970, a música brasileira conquistou o país inteiro. A canção País Tropical de Jorge Ben Jor foi traduzida em hebraico por Ehud Manor e cantada por Yehudit Ravitz, hoje uma das grandes figuras da música popular israelense. Posteriormente, foram produzidos um espetáculo e um programa de televisão, ambos dedicados à música popular brasileira.
Hoje em Tel Aviv, toda quinta-feira no calçadão Lahat na praia de Bograshov, reúne-se um grupo de amadores de MPB, entre eles muitos brasileiros que fizeram aliá, que vem para matar saudades, cantar e dançar ao ritmo da música.
Em matéria de cinema, os israelenses devem muito a um dos seus membros fundadores, David Perlov.1 Nascido no Rio de Janeiro em 1930, David fez aliá em 1958, viveu durante um certo tempo no kibutz Bror Chail, e depois se mudou para Tel Aviv. Considerado o pai fundador do cinema israelense, amigo do grande poeta Natan Zach, ele formou uma geração de realizadores e cineastas especializados no filme documentário.
O cinema brasileiro tem tido certo sucesso aqui, especialmente com os filmes de Fernando Meirelles, Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira , baseado no livro de José Saramago, e Central do Brasil de Walter Salles.
A respeito do interesse do público pela literatura brasileira, infelizmente, hoje em dia, o mundo literário encontra-se em crise; já não se lê como antes. Muitos leitores preferem livros de entretenimento a obras consideradas clássicas. Porém, os que se interessam pela literatura sul-americana em geral, e a brasileira em particular, conhecem várias obras (e filmes baseados nos livros), entre eles Macunaíma de Mário de Andrade e Dona Flor e seus dois maridos de Jorge Amado. O ex-Primeiro Ministro de Israel Yair Lapid foi tão inspirado pelo Mar Morto, que até escreveu uma canção Eshet Hassapan (A mulher do marinheiro), cantada por Rita, uma cantora muito famosa em Israel. Poucos israelenses leram Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa, que foi lançado aqui numa bela tradução. Mas, na realidade, eu também não conheço muitos brasileiros que o leram. Poucos leram a excelente Clarice Lispector, apesar de muitos dos seus livros terem sido traduzidos para o hebraico. Mas ela não é fácil de digerir. Muitos leram os livros de Paulo Coelho, cujas teorias no estilo New
Age se vendem bem aqui em Israel. Alguns leram Barba Ensopada de Sangue de Daniel Galera, um livro que adorei traduzir, especialmente por causa das suas belas descrições da fauna, da flora e das forças da natureza. Infelizmente, seu livro Mãos de Cavalo , que traduzi por encomenda de uma editora local, nunca foi publicado, porque a editora chegou à conclusão que o livro não se venderia bem no país. Alguns leram De Gado e Homens de Ana Paula Maia, Galileia de Ronaldo Correia de Brito, e outros de autores brasileiros que foram traduzidos.
Israel é um país pequeno, com uma população de aproximadamente 9 milhões de habitantes. Porém, como eu já havia dito, o “Povo do Livro” não lê mais como antes. Uma tiragem média de um livro em Israel é entre 500 e 1.000 exemplares.
Para dar ao leitor de Devarim uma ideia: o livro best seller O amante do escritor israelense A. B. Yehoshua, publicado em 1977, teve até hoje (2023) uma tiragem de 100.000 exemplares.

A respeito de tiragem normal de um livro brasileiro em Israel, aqui vão três exemplos:
• Aprendendo a viver de Clarice Lispector: 800 exemplares.

• Antiterapias de Jacques Fux: 500 exemplares.
• O Nobel de Jacques Fux: 500 exemplares.
E pode-se falar em sucesso da literatura brasileira em Israel?
O interesse do público israelense pode estar centrado em temas brasileiro-judaicos, em autores como Ronaldo
Wrobel com o livro Traduzindo Hannah , em que ele relata a trágica história (quase desconhecida aqui em Israel) das polacas, jovens judias trazidas do Leste europeu no início do século 20 e obrigadas a trabalhar como prostitutas por conta da organização mafiosa judia Zvi Migdal, na América do Sul; Jacques Fux com Antiterapias , que recebeu ótimas críticas aqui, que “relata a história de todos os judeuzinhos de alma torturada, de todos os jovens melancólicos, mas também de todos os adultos querendo cicatrizações”.2 Ambos os livros suscitaram o interesse dos críticos literários e dos leitores.
Contudo, muito pouca gente leu o Centauro no Jardim de Moacyr Scliar. O livro trata da condição judaica, do imigrante e do indivíduo que se sente invadido pelo coletivo. Há pouco tempo, li no Facebook um triste comentário de uma pessoa que encontrou numa rua de Tel Aviv um exemplar do livro em hebraico, em perfeito estado, novinho – parece que nunca foi nem aberto!
Recentemente, traduzi uma joia de livro: As Coisas de que não me lembro, sou de Jacques Fux, um livro de apenas 50 páginas, acompanhado das belas ilustrações de Raquel Matsushita. Ele trata de temas universais e existenciais, e espero que o público vá apreciá-lo.
Mas os leitores podem se interessar também por temas regionais ou gerais, que possam elucidar o Brasil, país tropical, terra misteriosa e longínqua, que continua a exercer uma magia e fascinar a imaginação.
Atualmente, em Israel, existe um pequeno grupo de tradutores do português para o hebraico. O mais conhecido entre eles é Rami Saari, o tradutor de Fernando Pessoa.
DALIT LAHAV-DURST é mestre em literatura comparada pela Sorbonne Paris III e diplomada em história da arte e curadoria pela mesma universidade. É autora, tradutora, curadora e historiadora. Foi curadora chefe na M.T. Abraham Foundation e chefe do departamento acadêmico e de intercâmbio cultural da Hermitage Foundation. Tem cidadania israelense e francesa e mora em Tel Aviv.


Em homenagem ao “Ano Ben Yehuda” que celebra o centenário do falecimento da pessoa de maior relevância no processo de renascimento do hebraico como idioma usado para todas as atividades dos judeus, a Devarim vai publicar nos seus três números de 2023 esta coluna com curiosidades a respeito da origem de palavras do hebraico pós-bíblico.
O Dilema Da Vacina
Este texto não nega a relevância da vacinação, nem contesta as políticas públicas com relação ao COVID.
O dilema aqui abordado aconteceu muito antes das mazelas do nosso tempo, mais precisamente em 1896, quando o doutor Ytschak ben Yossef Tovim, que vivia em São Petersburgo, na Rússia Imperial, resolveu escrever uma coluna de jornal sobre medicina.
Os artigos dele foram publicados no histórico jornal ץיִלֵּמַה (HaMelits –O Intérprete), a primeira publicação em hebraico da Rússia e, por este motivo, um ícone do iluminismo judaico.

Naquela época, escrever artigos médicos em hebraico não era tarefa para qualquer um! Além dos indispensáveis conhecimentos profissionais, era necessário ser criativo com o hebraico, idioma que dava os primeiros passos em seu renascimento e que, portanto, era extremamente carente de palavras científicas.
Conhecimentos médicos não faltavam ao dr. Tovim. O jornal o anunciava como “O Doutor em Sapiência Médica de São Petersburgo”. Assim que, muito provavelmente, ele tirou de letra a tarefa de descrever a difteria, comparando os métodos de tratamento do passado com as novas formas de cura da doença. Mas inventar termos em hebraico para “bacilos”, “micro-organismos” e “vacina” deve ter sido uma dureza. Era preciso ter imaginação fértil e um sólido conhecimento do hebraico bíblico, pois a primeira regra da criação de novas palavras em hebraico moderno obriga a busca por termos das Escrituras que tenham significado aproximadamente conexo com o da nova palavra.
Além disso, mesmo depois de você ter suado horas e horas, esquadrinhando tanto a memória como textos antigos à busca de um significado adequado, poderia acontecer que outra pessoa achasse um termo diferente do teu que caísse melhor no agrado do público. Quando isto acontecia todo o teu esforço ia parar na lata do lixo.
E isto aconteceu com “bacilo” e “micro-organismo”. O hebraico moderno não usa os termos que o dr. Tovim elaborou, talvez tiritando de frio ao lado de uma insuficiente lareira à lenha em pleno inverno báltico de 1896.
Contudo, ele foi vingado pela criação da palavra para “vacina”. Ela é usada até hoje, sendo que nos anos da COVID ela foi uma das campeãs de audiência. Cada vez que alguém em Israel perguntou “Você já se vacinou?”, prestou uma involuntária homenagem ao médico russo.
5783 2022/2023
Numa nota de rodapé ao seu artigo, o dr. Tovim explica que procurou na Bíblia uma palavra que contivesse tanto o conceito de “força” como de “coragem”, pois a vacina fortalece o sistema imunológico do organismo dando a ele as armas (a coragem) para lutar contra o micro-organismo invasor.
E ele achou em Amós 2:9 o adjetivo que buscava: ןֹסָח (chasson), que é usado no verso de Amós para qualificar um carvalho, uma árvore forte e imponente, cuja estatura afugenta seus inimigos.
Assim, vacina no hebraico moderno é ןוּסִּח (chissun), estar imunizado é ןֵּסַחְתִהְל (lehitchassen) e nos últimos dois anos, ninguém convidou alguém para um jantar em casa se recebeu uma resposta negativa à pergunta “הָנוֹרוֹק דֶגֶנ םֶּתְנַּסַחְתִה?” (itchassantem negued Corona – vocês se vacinaram contra o Corona?).
O dr. Ytschak ben Yossef Tovim deve estar feliz. Ele solucionou com sucesso o dilema da vacina.
O Tomate E A Lux Ria
O tomate é originário do nosso continente. Hoje ele está espalhado pelo mundo, mas até as grandes navegações ibéricas do século 16 apenas os habitantes das Américas o conheciam.
Portanto, os hebreus da época da Torá não sabiam que ele existia e quando seus descendentes do Israel atual decidiram compatibilizar o hebraico com o mundo moderno foi necessário inventar uma palavra para o alimento.
Duas alternativas se abriram à frente deles. A primeira era a de chamar a planta a partir de seu nome original asteca “tomatl”, conforme foi feito por grande parte dos idiomas falados no mundo, tais como o português, o inglês, o alemão, o holandês, o turco e tantos outros.
A segunda alternativa era a de adaptar o nome usado pelos italianos, que nomearam o tomate como “pomodoro”, uma palavra que significa “maçã dourada” e remete à beleza da fruta. Efetivamente, ao ser introduzido na Europa o tomate não foi imediatamente usado como alimento e sim como planta decorativa. Muitos outros idiomas, tais como o russo, o árabe e o iídiche adaptaram “pomodoro” para a sua pronúncia.

Contudo, obedecendo a uma das mais persistentes regras informais do judaísmo – “para que simplificar se é possível complicar” – o gosto dos primeiros israelenses acabou pendendo para uma palavra inédita, derivada do hebraico bíblico: הָּיִנָבְגַע (agvaniá).
A adoção deste nome é surpreendente, pois a raiz ב-ג-ע denota o que chamamos em português de “luxúria”, ou seja, o intenso desejo sexual; a lascívia; o sexo sem o componente espiritual do amor. O capítulo 23 do livro do profeta Yechezkel (Ezequiel) usa esta raiz de forma abundante ao descrever a ação de duas irmãs que representam metaforicamente os reinos de Israel e de Yehudá (Judá) e suas amorais (e desastrosas) alianças políticas.
Por seu forte subtexto amoral, o uso desta palavra foi combatido por alguns dos expoentes da criação do hebraico moderno, tais como Eliezer Ben-Yehuda (mais sobre ele na Devarim 46) e o Rabino Avraham Isaac Kook (o rabino chefe de Israel nomeado pelos dirigentes do Mandato Britânico).
Sempre preocupado por situar Israel dentro do Oriente Médio, Ben-Yehuda sugeriu o nome “badura” que deriva da adaptação para o árabe do italiano “pomodoro”. Já Kook sugeriu o inventivo “edemonia”.
Mas o gosto popular caiu em agvaniá e, portanto, vale a pena desvendar o misterioso caminho que liga a luxúria ao tomate.
Durante um breve intervalo de tempo, nos séculos 16 e 17, o tomate foi chamado na França de “pomme d’amour” (maçã do amor), pois acreditava-se que tivesse características afrodisíacas. Uma vez comprovada a insensatez desta crença, o nome foi abandonado, contudo o rabino Yechiel Pines (outro líder dos primeiros sionistas e uma pessoa com uma sólida educação secular e religiosa) achou por bem reavivar esta ligação e sugeriu o nome que finalmente ganhou a aprovação dos primeiros falantes do hebraico moderno.
Não se pode fechar um texto que versa sobre o tomate e sobre o hebraico sem mencionar que a mais recente derivação do “tomatl” asteca, o popular e delicioso tomate-cereja é um produto israelense: foi desenvolvido no campus de Rechovot da Universidade Hebraica.
Aprendemos três lições principais com a “saga do tomate no hebraico”. A primeira é que algumas tradições que nos parecem muito antigas (tais como a presença do tomate na dieta dos italianos) não tem mais que algumas centenas de anos. A segunda é que o fator de maior peso na adoção de um novo costume (seja ele uma palavra, um costume ou um ritual) é o gosto popular. Por mais que os especialistas se esforcem em impor sua escolha, ela só tem sobrevida se o povo gostar dela.
E, finalmente, que nenhuma cultura é fechada em si mesmo. Cada uma delas sofre a inevitável influência do entorno com o qual interage. Não existe uma “cultura pura” ou totalmente “original”. Todas são o resultado fascinante de milhares de adaptações.