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Em Poucas Palavras
SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE DRAMÁTICO
Osite vermelho.org.br (cuja sigla é “Portal Vermelho: A Esquerda Bem Informada”) publicou por uns dias e depois, provavelmente arrependido, tirou do ar um texto do professor Thomas de Toledo, no qual ele afiançava que o impedimento da presidente Dilma Rousseff era obra de agentes sionistas e norte-americanos infiltrados no Brasil.
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Como evidência desta douta análise da conjuntura, ele enumerou os três judeus que fariam parte do primeiro escalão do governo de Michel Temer: o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, o ministro da Defesa, Raul Jungman, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.
Atribuir todos os problemas – reais ou imaginários – aos judeus não é um delírio muito original. Antissemitas têm feito isto há séculos e não há porque duvidar que o Brasil também conte com a sua cota de racistas e de lunáticos que percebem conspirações judaicas por todos os lados.
É claro que devemos nos preocupar com o discurso antissemita e combatê-lo (aliás, com toda a propriedade, a Fierj abriu um processo contra o autor do texto). Mas algumas vezes, como neste caso, também é possível rir um pouco. Isto porque nem Etchegoyen nem Jungman são judeus. O que nos leva a crer que o professor Toledo imagina que todos os brasileiros que divirjam politicamente de suas visões e tenham um nome meio complicado de se pronunciar sejam judeus.
E já que estamos rindo da estultice do nosso “esquerdista bem informado” vale a pena visitar duas outras lendas a respeito do suposto fabuloso poderio judaico, pinçadas de divertido artigo de Yair Rosenberg:
Em junho do ano passado Asghar Bukhari, um inglês e fundador do Muslim Public Affairs Committe, chutou inadvertidamente um de seus sapatos para debaixo da cama. Ao não encontrá-lo na manhã seguinte culpou os judeus: “Os sionistas estão tentando me intimidar!”, declarou ele no Facebook. “Ontem à noite alguém conseguiu entrar na minha casa sem arrombá-la e roubou um dos meus sapatos enquanto eu estava dormindo. O objetivo dos judeus é me fazer sentir vulnerável dentro da minha própria casa”, concluiu. A tirada provocou uma onda de respostas debochadas e hilárias, mas Bukhari não deu o braço a torcer e postou um vídeo de 15 minutos reafirmando as suas acusações. Suspeitamos que quando, dias depois, achou o sapato tenha mais uma vez atribuído sua devolução aos judeus: “Ficaram pressionados pela comoção que a minha denúncia causou e tentaram apagar o crime cometido!”
Já o Hamas nos divertiu ao anunciar ter capturado um golfinho treinado por Israel para espionar a Faixa de Gaza e para assassinar seus habitantes. O animal está preso até hoje. Suspeita-se que eles estejam tentando fazê-lo confessar, mas o golfinho
permanece mudo e resistente ao tradicional método de tortura por afogamento simulado. Os interrogadores já não sabem mais o que fazer.
Tudo isto dá razão à anedota dos velhos tempos do judaísmo polonês, que relata o espanto de Itzik ao ver Yankel ler um jornal antissemita. “Por que você lê este lixo?!”, indigna-se o primeiro. Ao que Yankel responde: “Porque o jornal judaico que você lê descreve as nossas muitas agruras, enquanto que neste aqui eu leio que controlamos as finanças do mundo, que somos astutos, fortes, poderosos e imortais. É muito mais divertido!”
Caso Yankel fosse brasileiro e contemporâneo ele seguramente seria assinante do tal “Portal da Esquerda Bem Informada” e leitor assíduo do professor Thomas de Toledo. ü
A DESLEGITIMIZAÇÃO DA LEGÍTIMA DEFESA
Conforme acompanhamos pela imprensa, a modelo Ana Hickman e sua família foram vítimas de um atentado que terminou relativamente bem para os assaltados mas que, infelizmente, causou a morte do assaltante. Como é normal em situações que envolvem celebridades, vários comentários foram postados nas redes sociais. A maioria deles se solidarizavam com a modelo e sua família, contudo, ao menos um tinha um ponto de vista peculiar:
“Espera aí”, dizia a mensagem, “evitar um assassinato com um assassinato?”, questionava a pessoa, não concordando com a reação do herói deste incidente, o cunhado de Ana, que, após ver sua esposa levar dois tiros, felizmente não fatais, conseguiu se agarrar ao assaltante, desarmá-lo e matá-lo, numa ação que envolveu enorme risco para a sua vida.
Não temos como saber quantas pessoas endossam a crítica ao cunhado de Ana. Mas sabemos que dentre elas se encontra o promotor Francisco Santiago, do Ministério Público de Minas Gerais, que denunciou o cunhado da modelo. Contrariando a recomendação da Polícia, o promotor Santiago não caracterizou a legítima defesa pelo fato de o tiro ter atingido a nuca do assaltante.
A opinião do promotor traz à tona a dificuldade que o Estado de Israel tem em expor para o mundo a sua política de defesa. Acossado desde 1948 por um nacionalismo árabe que não aceita a sua existência e se empenha seriamente em destruí-lo, Israel faz consistentemente o que qualquer país faria: defende-se dentro de sua melhor capacidade.
Guerras, assim como lutas corporais com bandidos armados, são episódios violentos e nem sempre é possível dominar o adversário de forma não letal. Contudo, existem os que limitam o olhar apenas ao lado que sofre as piores consequências, sem atentar para quem agride e para a agressão em si.
Temos a predisposição de imaginar que os que criticam as ações defensivas de Israel são movidos pelo antissemitismo ou pela desinformação. Mas o drama vivido pela família de Ana Hickman mostra que, na verdade, não podemos desprezar a desconfortável tendência atual de deslegitimar a legítima defesa. Tendência que é agravada nos casos em que a parte que se defende obtém sucesso, pois aí ela aparenta ser a parte mais forte, o que agrava a situação, pois existe um forte impulso natural dos humanos de se solidarizar com os aparentemente mais fracos.
Devemos, é evidente, lutar contra essa tendência. Mas sem deixar de exercer permanentemente o nosso direito à autodefesa. ü

JUDAÍSMO E DEMOCRACIA

Trifonenko / iStockphoto.com
Otema do mais recente encontro do Movimento Reformista na América Latina – A Continuidade Democrática como Valor Judaico – causou alguns estranhamentos. É possível que um sistema político seja contido num valor cultural ou religioso?
É bem verdade que a democracia não foi inventada pelos judeus, ela é uma invenção grega, reformada na Idade Moderna por pensadores laicos. Contudo, a democracia carrega dentro de si fortes genes judaicos.
A começar pela igualdade de todos perante a lei, característica que, diga-se de passagem, era ausente da democracia grega, apenas os cidadãos da polis tinham os seus direitos garantidos. A Torá repete dezenas de vezes o mantra: “Uma mesma lei terás para ti e para o estrangeiro que habita junto de ti”. Além disso os juízes devem seguir o ordenamento: “Vocês não julgarão injustamente; não demonstrarão parcialidade; não aceitarão subornos, pois o suborno cega os olhos do discernimento e perturba o pleito do justo. Justiça, justiça é o que irão buscar, para que possam ocupar a terra que o Eterno, seu Deus, lhes dá, e nela prosperar”.
A atribuição de uma mesma origem aos seres humanos e a defesa da dignidade para todos, visto que todos foram criados à semelhança de Deus, também são valores judaicos aderentes aos regimes democráticos, ecoados em documentos tais como a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Assim como a liberdade de expressão que permitiu aos profetas admoestarem os reis pelas ruas das cidades do Israel bíblico sem que sofressem sanções de ordem legal. O Talmud registra as posições majoritárias junto com as minoritárias, num processo que, além de não abafar a voz dos dissidentes, ainda permite a reanálise das decisões à medida que cenários e premissas se modificam.
Diz a professora Ruth Wisse: “Os gregos desenvolveram a ideia de democracia pensando sobre como governar uma cidade. Já entre os judeus, ela começou com a santificação da vida e da individualidade … A natureza tribal dos judeus é às vezes considerada um obstáculo à democracia. Mas o exato oposto é verdadeiro: justamente por não terem universalizado a sua religião os judeus não têm problemas em conviver com os outros. A democracia exige o justo equilíbrio entre a autossuficiência e o reconhecimento respeitoso dos outros. Por suas próprias dificuldades, os judeus conhecem a difícil autodisciplina requerida pela civilização”.
Não obstante estes fatos, é certo que a lei religiosa judaica – a halachá – se baseia num sistema radicalmente não democrático, onde poucos luminares – algumas vezes apenas supostos – decidem a respeito da evolução e da aplicação da lei judaica. Contudo, a grande maioria dos judeus da atualidade não segue a halachá em sua totalidade e não reconhece sua autoridade em todas as decisões que tomam.
E de um ponto de vista eminentemente pragmático é forçoso reconhecer que apenas as democracias garantem a existência pacífica dos grupos minoritários. Assim que é de nosso interesse estratégico defender e promover a democracia em todos os cantos do planeta, participando do jogo democrático como cidadãos. É de nosso interesse participar da vida dos nossos países a partir do exercício de nossa identidade particular, inclusive de sua fundamental faceta judaica.
Faz todo o sentido do mundo debater a democracia e lutar por seu aprimoramento, conforme fizemos em junho passado no encontro do Movimento Reformista de São Paulo. Este é nosso dever como cidadãos e como judeus ancorados na modernidade. A nossa constante referência aos valores tradicionais judaicos como ponte para o presente resulta num aporte fundamental para o todo. ü
A MEZUZÁ E O CAPACETE
Os 40 anos da operação de Entebbe originaram um grande número de matérias – grandes e pequenas – na imprensa judaica em todo o mundo. Uma delas inclusive está nesta edição de Devarim, escrita pelo jornalista Alberto Léo Jerusalmi z’l poucos meses antes de seu precoce falecimento.
Um rabino do Rio de Janeiro distribuiu um mail por sua lista de assinantes louvando a operação, mas sem atribuir seu sucesso à ousadia, à coragem e ao planejamento dos que a realizaram. Lê-se em sua mensagem: “Esses jovens solteiros ou recém-casados que aceitaram arriscar as suas vidas pela salvação de dezenas de judeus a milhares de quilômetros de sua terra natal têm um mérito enorme ... e a maior prova do mérito deles é o fato da intervenção Divina ter tornado uma missão fadada ao fracasso numa das operações de maior sucesso de nossa história. Não houve nos últimos tempos um milagre maior do que esse! …”.
Ou seja, o mérito dos soldados é o de ter provocado a intervenção divina e é esta a verdadeira responsável pelo sucesso da operação que encantou o mundo. Deus modificou o desfecho da operação, que se mostrava sombrio (fadado ao fracasso), não obstante o planejamento e treinamento dos soldados.
Deus está ausente do livro de Ester, mas mesmo assim alguns atribuem a Ele os méritos pelo engenho de Mordechai que habilmente manobra os agentes políticos a seu alcance e com isto logra salvar os judeus na corte da Pérsia. O texto desse rabino é um fiel herdeiro desta tradição que relega ao homem o único mérito de saber provocar a ajuda divina. O seu livre arbítrio, a sua capacidade de análise, a sua ousadia, a sua criatividade, a sua coragem, a sua bondade e todos os demais atributos do ser humano são apenas instrumentos para a atração (ou rejeição) da ajuda divina.
Mas não é apenas o esforço do homem que tem o dom de mobilizar o socorro de Deus. Alguns apetrechos materiais também são úteis, visto que, segundo o rabino, esta é a lição prática do ocorrido em Entebbe: “É hora de rever e aumentar a nossa proteção, ou seja, verificar se as nossas mezuzot estão kasher”.
Algumas pessoas reclamaram do rápido salto do rabino, que partiu de uma brilhante operação militar num aeroporto no centro da África diretamente para as nossas portas e questionaram se era plausível acreditar que todas as mezuzot dos sequestrados estavam inadequadas. E também se era plausível acreditar que apenas as mezuzot dos sequestrados estavam inadequadas. Pois, dos milhões de judeus que viajam de avião, apenas aquele punhado de pessoas tinha sofrido a provação do sequestro.
O rabino tinha uma resposta pronta para este questionamento. Em seu post seguinte ele explicou que a mezuzá é como o capacete de um motociclista. Estar defeituosa não provoca o acidente e seu bom estado não o previne. Mas quando está perfeita protege a pessoa absorvendo parte do impacto na cabeça do motorista. O rabino não escreveu nem uma palavra sobre a possibilidade da mezuzá remeter à lembrança do compromisso de obedecer os mandamentos judaicos tanto em casa quanto na rua, tanto na intimidade como em público.
Como se diz na gíria: “Então tá”. Aprendemos mais uma. Isto tudo sem entrar nos meandros mais complicados da questão da ajuda divina, que trariam à tona qual o demérito das vítimas de crimes, guerras, pogroms e de tantas outras situações. Eles não tinham mezuzot ou não usavam capacetes? ü

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GOEBBELS DE KIPÁ
Aimagem que ilustra esta nota, coloca lado a lado duas gravuras de épocas diferentes. À direita, uma criação nazista dos anos 1930 e, à esquerda, o convite deste ano para um seminário na Yeshivá Ateret Yerushalaim (Jerusalém).
No lado direito vemos o clássico judeu do ideário nazista, gordo, narigudo e de lábios grossos, sentado sobre um imenso saco de dinheiro, saco este que nem consegue abrigar toda a sua riqueza, que se esparrama pelo chão. Em suas mãos um livro com uma Maguen David simboliza o Talmud e, ao fundo, na porta da Bolsa de Valores, grupos de judeus ortodoxos com seus chapéus e capotes confabulam. O texto abaixo da imagem diz “O Deus dos judeus é o dinheiro” e mais um monte de lixo antissemita.
O significado dessa imagem? Simples: “O judeu só pensa em dinheiro”.
No outro lado temos um George Washington tal como ele aparece nas notas de um dólar, com um sorriso maroto e uma sobrancelha levantada em seu rosto verde-dólar, a apontar para o convite ao seminário que se intitula: “O Problema da Reforma”. Logo
OS CICLISTAS
Numa conversa de bar uma pessoa revela: “Todos os males do mundo são culpa dos judeus!”. “Você está certo”, responde um dos interlocutores, e completa: “Dos judeus e dos ciclistas”. O primeiro se espanta: “Ciclistas!? Por que os ciclistas?”. O interlocutor encerra a conversa: “E por que os judeus?”
Esta anedota é antiga e muito repetida. Ela faz graça do ódio gratuito aos judeus que povoa a mente dos que vivem duplamente obcecados por teorias de conspiração e por racismo, fenômeno também conhecido pelo rótulo mais direto de antissemitismo.
Contudo, o fato de ser surrada não abaixo se lê: “Pergunta: Acaso é legítima a tomada de controle pelos Reformistas sobre o Muro das Lamentações, conversão, exército e banhos rituais?” Resposta: Isso depende de se eles são uma corrente do judaísmo ou um desvio para fora do judaísmo sobre as asas do dólar”. Como pano de fundo encontramos uma esmaecida cédula de um dólar. O significado dessa imagem? Simples: “O Judeu Reformista só pensa em dinheiro”.
A diferença entre elas? Simples também. A imagem da esquerda tem as letras hebraicas BS’D no canto superior, acrônimo do aramaico para “Com a Ajuda dos Céus”. Já os nazistas eram ateus. ü

a torna obsoleta. O exemplo mais recente é o manifesto do movimento negro norte-americano Black Lives Matter. Em 1º de agosto, o BLM divulgou uma plataforma de objetivos e exigências para, segundo eles, corrigir a conduta policial, o sistema educacional e a inadequação econômica nas comunidades negras dos Estados Unidos.
Uma das exigências listadas no documento é o desinvestimento dos USA ao Estado de Israel, que, segundo o documento, os torna “cúmplices no genocídio do povo palestino”.
Um genocídio que, se estiver acontecendo, é o mais incompetente da história da humanidade, visto a população palestina crescer ano após ano. Também não se entende como o desinvestimento no Estado de Israel pode contribuir para o aprimoramento da ação da polícia ou para a situação econômica dos negros da América. Também porque os problemas apontados pelo documento do BLM predatam de muito a criação de Israel.
O que fica sim muito claro é que os judeus (e talvez também os ciclistas) continuarão por muito tempo a serem culpados por todos os males percebidos por pessoas não orientadas pelo bom senso e pelos fatos. ü
PRECISAMOS DE MAIS HILEL
Oprofícuo e brilhante rabino americano Joseph Telushkin publicou em 2010 um pequeno e delicioso livro sobre Hilel, o conhecido rabino que viveu há aproximadamente dois mil anos. O livro descreve a essência de sua visão, sua abertura acolhedora para com o mundo e sua firme convicção de que a ética está no primeiro plano da observância religiosa.
Hilel é o protagonista de uma das histórias mais citadas do Talmud: Ao ser procurado por um não judeu que lhe pediu para convertê-lo de forma sumária (“enquanto ele se apoiava apenas sobre um pé só”, diz o texto), Hilel não desanimou e disse: “O que te for odioso não faças a outrem. Esta é toda a Torá, o resto é comentário. Agora vai e estuda”. Ou seja, se a pessoa se comportar de forma socialmente adequada ela pode se incluir entre os judeus, mas apenas isto não é tudo, há muito o que estudar também.
No último capítulo do livro, Telushkin expõe um pensamento muito valioso sob o título: “Porque precisamos
Digitalgenetics / iStockphoto.com de Hilel mais do nunca”. Vale a pena ler o começo deste texto:
Será que Hilel está sendo ignorado? À primeira vista esta questão parece ridícula. Hilel é provavelmente o rabino mais conhecido do Talmud e até mesmo pessoas com escasso conhecimento judaico estão familiarizadas com a história dele ensinando a essência do judaísmo para um não judeu enquanto este se apoiava em apenas um pé.
Mas o fato da história ser bem conhecida não significa que a mensagem esteja sendo lembrada. Os ensinamentos centrais do judaísmo, segundo Hilel, são os de agir eticamente e de manter um aprendizado contínuo. Implícita nesta fórmula está a ideia de que fé e religião importam imensamente, mas que elas não são o ponto de partida de uma jornada religiosa. O fato de Hilel relegar Deus e ritual à categoria de “comentário” não é o mesmo que qualificá-los como “notas de rodapé”. Os comentários importam muito. Contudo, não há como deixar para trás a simplicidade do ensinamento de Hilel que apoia o edifício religioso sobre uma fundação ética. Seria de imaginar que se a figura mais proeminente do judaísmo apresenta o sumário do judaísmo desta forma, ela iria influenciar permanentemente como os judeus entendem a religiosidade judaica.
Mas isto é verdade? Até os dias de hoje se dois judeus estão falando a respeito de um terceiro e um deles pergunta se o terceiro é religioso, a resposta vai se basear em seu nível de observância ritual e não na observância ética. É impossível ouvir uma conversa do tipo: – Fulano de tal é religioso? – Oh, sim, sem sombra de dúvida! – Como você sabe disso? – Porque ele jamais humilha alguém, principalmente em público. E ele sempre julga os demais com honestidade.
Este tipo de conversa simplesmente não existe. A religião é medida hoje em dia em termos de observância ritual. Se um judeu é conhecido por não observar o shabat e a kasherut, esta pessoa é classificada como não religiosa, mesmo se o seu comportamento ético for exemplar. Neste caso as pessoas vão dizer: “Infelizmente ele não é religioso, mas é uma ótima pessoa!”. Contudo, se uma pessoa que guarda shabat e kasherut é desonesta em seus negócios, ninguém vai dizer que ele não é religioso. Ao contrário, dirão: “Ele é religioso, mas infelizmente não é ético”.
O texto segue, lamentando que ao mesmo tempo em que colocamos Hilel no pináculo de nossa coleção de sábios, usamos muito pouco de seus ensinamentos e de suas práticas. Chegando à conclusão que precisamos urgentemente reformar o judaísmo colocando os ensinamentos de Hilel em primeiro lugar. ü

