

#484
ALGARVE INFORMATIVO
14 de junho, 2025








ÍNDICE
Quarteira festejou elevação a Cidade (pág. 24)
Lagoa Wine Show (pág. 34)
Fundação MEO e ULS Algarve inauguraram «Espaço com Sentido» no Hospital de Faro (pág. 42)
Ginastas da APAGL brilharam na Suíça (pág. 50)
Campeonato Nacional de Ginástica Acrobática em Albufeira (pág. 66)
«Cabral, a última lua de Homem Grande» no Cineteatro Louletano (pág. 92)
«Horizontes» no Auditório Carlos do Carmo (pág. 106)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 118)
Fábio Jesuíno (pág. 120)
Carlos Manso (pág. 122)
Sílvia Quinteiro (pág. 124)
Paulo Neves (pág. 126)

















Do Celeiro do Trigo ao Celeiro da Memória:
Projeto de Mediação Cultural
naugurado no dia 20 de janeiro de 2024, o Museu de Vila do Bispo – Celeiro da História resulta da reabilitação do antigo edifício dos celeiros locais da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, construído na década de 1950. Trata-se de um projeto genuinamente inclusivo e participativo, desde cedo, ainda na sua fase de planeamento, na sua personalizada missão e nos serviços educativos e de mediação cultural que hoje desenvolve ativamente.
O nosso projeto museológico assumiu, na sua génese, o compromisso
sociocultural de se estabelecer enquanto privilegiado fórum da Comunidade Local, devolvendo o espaço simbólico e as memórias nele armazenadas às suas gentes. Nesse sentido, conservámos o nome pelo qual o edifício é conhecido entre a Comunidade, reconduzindo-o na sua nova missão museológica – do Celeiro do Trigo ao Celeiro da Memória!
Depois, desenvolvemos uma campanha de aproximação às gerações que assistiram à vida útil dos antigos celeiros de Vila do Bispo, território então conhecido por «Celeiro do Algarve», identificando testemunhos diretos e protagonistas das atividades rurais
realizadas em torno do edifício erguido no «Sítios das Eiras». Parte destes atores culturais são hoje utentes dos Centros de Dia e dos Lares da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo, instituição com a qual estabelecemos uma parceria cimentada por motivações comuns, partilhadas entre técnicos de geriatria e de museologia, entre animadores sociais e mediadores culturais.
Hoje, o Museu de Vila do BispoCeleiro da História dá os seus primeiros passos pela mão dos mais velhos representantes da Comunidade Local, operando como uma extensão efetiva e afetiva das instituições que os acolhem. São realizadas regulares visitas ao Museu, que incluem convívios, tertúlias e lanches temáticos, atividades de partilha intergeracional com as escolas, entrevistas e inúmeras conversas que permitem o registo de memórias, experiências, vivências, saberes, gestos e tradições das nossas gentes e desta terra de mar feita...







Distinções, inaugurações e lançamento de livros marcaram
Dia da Cidade de Quarteira
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Junta de Freguesia de Quarteira
epois de um primeiro momento mais singelo ocorrido a 13 de maio, por se estar a poucos dias das Eleições
Legislativas, as comemorações do 26.º aniversário da elevação de Quarteira a Cidade prosseguiram, a 7 de junho, com um programa diversificado que homenageou a identidade, a cultura e o trabalho desenvolvido na freguesia.
A manhã iniciou-se no Auditório do Centro Autárquico, com a sessão protocolar onde foram atribuídas distinções de mérito a funcionários da Junta de Freguesia de Quarteira com mais de 15 anos de serviço, a par da apresentação do livro «Freguesia de Quarteira com História», da autoria de Fernando Graça. Seguiu-se a visita ao projeto «Cesta do Peixe», no Porto de Pesca de Quarteira, promovido pela Junta de Freguesia em parceria com a



Quarpesca e a Docapesca, e que pretende valorizar o pescado local e facilitar o acesso da população a peixe fresco, através de entregas ao domicílio, promovendo simultaneamente a sustentabilidade do setor das pescas e a economia local.
A comitiva deslocou-se posteriormente para a Avenida Carlos Mota Pinto, para a inauguração do mural de arte pública participativa do projeto QuART TILES. Este projeto, desenvolvido pela Junta de Freguesia em parceria com os Agrupamentos de Escolas D. Dinis e Dr.ª Laura Ayres, consistiu na criação de 12 painéis de azulejos elaborados por alunos do 6.º ao 12.º ano, com o envolvimento
da comunidade escolar e local e a coordenação do artista Miguel Cheta. A iniciativa pretendeu promover a interculturalidade e a valorização do espaço público, refletindo a diversidade cultural de Quarteira. O dia terminou com cultura e história, com a apresentação do catálogo «Com os Pés na Terra e as Mãos no Mar: 6000 anos de História de Quarteira», no Auditório do Centro Autárquico, uma obra que reflete a riqueza histórica e a ligação ancestral da comunidade ao mar e ao território.
As comemorações do Dia da Cidade foram uma organização conjunta da Junta de Freguesia de Quarteira e da Câmara Municipal de Loulé.

















Lagoa Wine Show celebrou o vinho, o território e a cultura
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes
e 6 a 9 de junho, Lagoa recebeu mais uma edição do Lagoa Wine Show, uma iniciativa da Câmara Municipal de Lagoa que já se consolidou como um dos mais relevantes acontecimentos vínicos do sul do país. Distinguido recentemente como «Evento do Ano» pelos Prémios da AMPV –Associação de Municípios Portugueses do Vinho, o certame reforçou o seu papel enquanto referência nacional na promoção da cultura do vinho, do território e da hospitalidade algarvia.
Este ano, o Lagoa Wine Show voltou a afirmar-se como uma montra privilegiada para os vinhos do Algarve, estendendose, numa lógica de cooperação e valorização do território nacional, à presença de algumas das mais prestigiadas regiões vitivinícolas de Portugal. Assim, para além do Algarve, estiveram representadas: o Alentejo, com vinhos de reconhecida intensidade e tradição; o Douro, berço dos vinhos do Porto e de grandes tintos de montanha; o Dão, região de elegância e história no centro do país; os Vinhos Verdes, com a sua frescura e identidade atlântica; Lisboa, uma das regiões dinâmicas e diversificadas da atualidade; a Bairrada,







conhecida pelos seus espumantes e tintos estruturados; e Setúbal, com destaque para os seus generosos de perfil singular; e houve ainda a presença especial de vinhos da Moldávia e da Geórgia, incrementando a dimensão cosmopolita e de intercâmbio cultural do evento.
Inspirado na identidade e missão do conceito «Algarve Golden Terroir», o Lagoa Wine Show assume-se como um instrumento de promoção dos vinhos algarvios, do seu saber-fazer e dos seus territórios. Valoriza-se o património agrícola, a paisagem rural, os produtos endógenos e a tradição vitivinícola enquanto expressão cultural e motor de desenvolvimento sustentável e turístico. Com um programa vínico e gastronómico de excelência, o público ficou a conhecer e saboreou a diversidade dos vinhos portugueses através de provas
comentadas, showcookings e momentos de partilha com produtores e especialistas.
Para além da programação vínica, o Lagoa Wine Show apresentou um programa cultural e musical eclético, com concertos, atuações de fado e animação de rua, num ambiente descontraído e sofisticado. A programação artística teve uma tónica especial no fado, reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas também se abriu a outras sonoridades e expressões musicais. Os grandes destaques do cartaz foram Buba Espinho, Entre Aspas, Para Sempre Marco e Dino D’Santiago, mas também foi possível assistir a atuações de Fado Vadio no Palco Premiu e ao Fado à Janela, um apontamento musical característico do Lagoa Wine Show.










Fundação MEO e ULS Algarve
inauguram primeiro «Espaço com Sentido» do país no Hospital de Faro
Fundação MEO e a Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve inauguraram, no dia 6 de junho, o primeiro «Espaço com Sentido» do país no Hospital de Faro, reafirmando o seu compromisso com um futuro mais inclusivo e acessível. O projeto visa facilitar o acesso a tecnologias de apoio destinadas a pessoas com limitações sensoriais,
motoras e cognitivas, contribuindo para a promoção da autonomia e igualdade de oportunidades.
Este é o primeiro espaço de uma rede nacional de «Espaços com Sentido» que a Fundação MEO pretende implementar em instituições parceiras – como hospitais, instituições de ensino superior e Instituições Particulares de Solidariedade Social – numa abordagem colaborativa que valoriza a proximidade com as comunidades locais. No «Espaço Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Fundação MEO
com Sentido», integrado no Núcleo de Produtos de Apoio da ULS Algarve, estão disponíveis várias soluções de referência da Fundação MEO em matéria de acessibilidade tecnológica: MagicContact – solução de comunicação aumentativa e alternativa para pessoas com dificuldades na fala e acesso a dispositivos móveis para utilizadores com baixa motricidade; Grid 3 – ferramenta de comunicação por símbolos e por texto, com teclados personalizados e controlo do computador através de interfaces alternativos, destinado a utilizadores com limitações neuromotoras, cognitivas e/ou na fala; PC Eye – câmara que permite o controlo do computador com o olhar, dirigida a utilizadores com limitações motoras; e ZoomText – ferramenta de ampliação e leitura de ecrã para utilizadores com baixa visão.
Os «Espaços com Sentido» destinam-se à demonstração e experimentação de tecnologias de acessibilidade subsidiadas pela Fundação MEO. Além das soluções tecnológicas, a Fundação MEO disponibiliza equipamentos como computadores, tablets e smartphones, bem como apoio financeiro para o mobiliário e adaptação dos espaços, assegurando conforto e funcionalidade. O acompanhamento dos beneficiários é garantido por equipas interdisciplinares das entidades parceiras, neste caso a ULS Algarve, permitindo avaliar as competências de comunicação da pessoa, de modo a viabilizar a autonomia nas diversas fases de abordagem terapêutica durante o processo de reabilitação e adequar as soluções tecnológicas às suas necessidades.


O evento de inauguração do primeiro «Espaço com Sentido» em Portugal, situado no Hospital de Faro, contou com a participação da Diretora da Fundação MEO, Carolina Pita Negrão, e de responsáveis da ULS Algarve, nomeadamente o Presidente do Conselho de Administração, Tiago Botelho; a Vogal do Conselho de Administração, Ana Marreiros; e a Diretora do Departamento de Educação, Inovação e Investigação, Teresa Figueiredo. “Este não é apenas mais um ponto na nossa rede. É, acima de tudo, um sinal claro do compromisso que assumimos com a inclusão e com o
acesso justo à tecnologia. Um compromisso com as pessoas”, começou por dizer Carolina Pita Negrão.
A presidente da Fundação MEO lembrou que o programa «Espaços com Sentido» nasceu com uma missão simples, mas muito poderosa: aproximar a tecnologia das pessoas com deficiência. “Dar-lhes ferramentas que aumentem a sua autonomia, que facilitem o seu dia a dia e que lhes devolvam, muitas vezes, algo tão básico como o direito de comunicar, aprender, trabalhar e viver com dignidade. Este espaço é o reflexo dessa missão: um lugar onde as

soluções tecnológicas podem ser experimentadas, adaptadas e personalizadas, porque cada pessoa tem necessidades diferentes; e um ponto de apoio, com profissionais dedicados e competentes, que acompanham cada utilizador desde o primeiro contacto até à integração da tecnologia na sua vida”, descreveu, acrescentando que este projeto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – como a redução das desigualdades e a importância das parcerias. “É exatamente nesse espírito que estamos aqui hoje, juntos, lado a lado com a ULS Algarve, uma instituição de referência, com equipas multidisciplinares que fazem verdadeiramente a diferença. E este espaço começou com algo muito simples: um e-mail, um telefonema, um
interesse genuíno da terapeuta Clarisse Mendes. Foi esse gesto que nos confirmou que estávamos no caminho certo. Por isso, Clarisse, o nosso mais sincero agradecimento. A sua energia, o seu acreditar e o seu cuidado foram fundamentais para tornar este projeto realidade”, elogiou Carolina Pita Negrão.
Até ao final do ano, a Fundação MEO pretende abrir mais três espaços deste género, construindo uma rede nacional que junta tecnologia, conhecimento local e, acima de tudo, um impacto muito real na vida das pessoas. “Vamos estar em hospitais, universidades e associações, sempre com o mesmo propósito: aproximar, facilitar e transformar. Que este espaço seja uma oportunidade real de mudança, e que represente o caminho que queremos seguir: mais justo, mais acessível, mais humano”.


Perante um auditório repleto de profissionais de saúde do Hospital de Faro, foi com satisfação que o Presidente do Conselho de Administração da ULS
Algarve exibiu a chave do primeiro «Espaço com Sentido» a entrar em funcionamento em território nacional, “um projeto que reflete o que de
melhor pode nascer da colaboração entre instituições públicas e entidades da sociedade civil”. “Este espaço é uma resposta inovadora em saúde, pensada com consciência social, sensibilidade humana e rigor técnico. Um espaço que nasce com um propósito claro: facilitar o acesso a tecnologias de apoio destinadas a pessoas com limitações

sensoriais, motoras e cognitivas, promovendo a sua autonomia, a sua voz e a sua plena inclusão na sociedade”, declarou Tiago Botelho.
Uma ponte entre a inovação tecnológica e a humanização dos cuidados de saúde, descreveu, “que honra o nosso compromisso como uma
Unidade Local de Saúde verdadeiramente acessível, equitativa e centrada nas pessoas”. O Presidente da ULS Algarve agradeceu o empenho de Clarisse Mendes, responsável pelo Núcleo de Produtos de Apoio, bem como a todos os técnicos e profissionais envolvidos no processo, “e sobretudo à comunidade que servimos e que todos os dias nos serve de inspiração para fazermos mais e melhor” “Que este espaço seja um local com sentido, direção e significado, onde cada pessoa encontra acolhimento, ferramentas para comunicar e, acima de tudo, dignidade”, desejou o dirigente. “Encontrar soluções tecnológicas que permitam, em situações muito objetivas e específicas, apoiar atividades da vida diária, progressões na aprendizagem ou no retomar de funções cognitivas, de retomar habilidades perdidas, pode constituir uma diferença substancial na recuperação das pessoas. Este é um hospital de agudos onde intervimos numa fase inicial de um qualquer evento, de uma doença degenerativa ou de um acontecimento traumático, estamos na fase mais importante da janela terapêutica”, salientou Tiago Botelho. “É uma altura crucial para não deixar perder muitas das oportunidades de ganhos para o doente e para a sua vida futura, daí a importância de projetos como este que nos ajudam a fazer as coisas de maneira diferente, mais rápida e eficaz, adaptada a cada caso concreto”, concluiu.



Ginastas da APAGL brilharam na Suíça
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
inal de tarde de quintafeira, 5 de junho, grande azáfama, como de costume, na Nave de Apoio do Pavilhão
Municipal Professor Joaquim Vairinhos, em Loulé, onde treina a classe de competição de ginástica acrobática da APAGL –Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé. No dia seguinte, várias atletas estavam de partida para Coimbra para participar no 1.º Torneio AcroVigor, organizado pelo Grupo Recreativo O
Vigor da Mocidade, e o final de época para a maior parte destas jovens acontece precisamente neste dia 14 de junho, em mais uma Taça da Associação de Ginástica do Algarve, desta feita em Tavira.
Uma época exigente e cansativa, mas recheada de sucessos, com os cinco grupos da APAGL que disputaram, nos dias 21 e 22 de maio, o Campeonato Nacional de Ginástica Acrobática de 1.ª e 2.ª Divisão, em Albufeira, a conquistarem medalhas e com a comitiva algarvia que




se deslocou a Genebra, Suíça, de 28 a 31 de maio, por ocasião do 20.º GIAC –Geneva International Acro Cup, a marcar também presença em quatro pódios. Lara Gonçalves, Kateryna Ilchyshyn e Núria Gil ficaram em 2.º lugar em Grupos Femininos Youth; Beatriz Deodato, Leonor Agostinho e Matilde Figueiras obtiveram igualmente o 2.º lugar em Grupos Femininos Pré-Youth; Carolina Barriga, Diana Agostinho e Maria Coelho conquistaram a medalha de ouro em Grupos Femininos Aspire; Sílvia Cardoso e Maria Inês Gomes, em Pares Femininos Aspire, subiram também ao lugar mais alto do pódio; finalmente, Mariana António, Sofia Diogo e Érica Cabrita, em Grupos Femininos Aspire, alcançaram um honroso 5.º lugar. “Nós trabalhamos, acima de tudo, para que os esquemas corram bem e o objetivo principal é a

superação delas no praticável. As medalhas, depois, são um acréscimo, o resultado desse esforço e dedicação”, indica Rita Nascimento, uma das treinadoras da classe de competição da APAGL. “Claro que termos todos os grupos medalhados no Nacional é espetacular e, no GIAC, o nível da competição era bastante elevado, pelo que foi também muito positivo termos quatro grupos medalhados. Em Genebra, a prioridade era apurar todos os grupos para as finais, portanto, o balanço é bastante positivo”, acrescenta.
Estes resultados podiam ter sido ainda melhores porque o trio Beatriz Deodato, Leonor Agostinho e Matilde Figueiras ficaram a escassas 5 centésimas da medalha de ouro em Genebra e, no






Nacional, ficaram empatadas em 2.º lugar, pelo que já se percebe que, na acrobática, o mais mínimo pormenor pode fazer a diferença. Como é, então, a tarefa de motivar, de manter focadas, estas jovens, umas ainda crianças, outras já adolescentes e a caminho da idade adulta, todas elas estudantes, para que tudo corra na perfeição no praticável.
“Como é natural, ao longo da época, elas não estão sempre no seu auge, têm altos e baixos. Tentamos que estejam sempre no seu melhor momento nas competições e, apesar de haver oscilações, já conseguimos apresentar um bom trabalho mesmo quando elas não estão no pico de forma. Isso significa que os treinos são produtivos e que nos permitem ir subindo a fasquia, de modo a que o seu desempenho seja positivo”, responde Carina Rosa. “A época é muito grande e extenuante, é difícil que saía sempre tudo perfeito”
Lidar com os altos e baixos, com os bons e maus resultados, aprender a seguir em frente quando as coisas correm menos bem, são fortes ensinamentos que a prática desportiva transmite a estas jovens. Rita Nascimento entende, porém, que na ginástica acrobática, por se lidar com grupos menores, a gestão de todos estes fatores é mais delicada.
“Trabalham muito próximas umas das outras praticamente todos os dias e todas têm os seus feitios, mas nós estamos cá para as ajudar a enfrentar os problemas e para as ensinar a melhor ultrapassar os desafios. Nós crescemos com elas, elas crescem connosco e umas com as outras, tem corrido tudo bem”, analisa a treinadora, com Lígia Silva a confirmar que existe, no seio da APAGL, uma forte crença no potencial de todas as ginastas. “Os resultados que temos alcançado têm sido uma




agradável surpresa, são o reflexo do trabalho da direção, das treinadoras, das ginastas e dos pais. Estamos bastante felizes, mas sabemos que temos ainda um longo caminho a percorrer. Queremos continuar a manter a nossa humildade, porque ainda temos muito para aprender e para crescer”, considera a treinadora.
Um caminho que se percorre passo a passo e época a época, com a certeza de que nenhuma é igual à anterior, porque há ginastas que terminam o secundário e rumam à universidade, o que nem sempre lhes permite prosseguir a carreira desportiva no mesmo clube. “É um grande desafio que se coloca todos os anos e no qual vamos logo pensando no decorrer da época, pois conhecemos as características delas e qual vai ser o seu futuro no curto prazo. Umas saem,

outras entram, todas vão crescendo, daí que, a partir de determinado momento, começamos logo a pensar nos grupos da próxima época”, explica Lígia Silva. “Contudo, só mesmo depois de fazermos algumas experiências na prática é que conseguimos perceber se, aquilo que idealizamos, se pode concretizar ou não”
Está desenhado o par ou trio, resta escolher a música, a coreografia, os maillots, um processo em que as treinadoras tentam decidir em consonância com aquilo que as próprias ginastas desejam. “Há que adequar o estilo do esquema às características delas para fazer sobressair o melhor de cada uma. Se calhar, dentro de um grupo, uma tem mais jeito para isto e a outra para aquilo, tentamos encontrar sempre equilíbrios”, refere Rita










Nascimento, com Carina Rosa a reforçar que a opinião das ginastas é sempre tida em conta. “Não é à vontadinha delas, tem que ser mais ou menos coerente com as nossas ideias e o fio condutor que já existe no clube, mas, se elas derem o seu contributo no processo criativo, depois conseguem transmitir mais expressividade e sentimento ao esquema. Elas têm que mostrar quem são no praticável e isso tem feito a diferença”, observa Carina. “Há grupos que se mantêm de uma época para a outra, outras mudam, mas o mais importante é que elas façam sempre o seu trabalho individual. Se as volantes e as bases fizerem a sua parte, depois é só juntá-las e não é como se estivéssemos a começar tudo do ponto zero”, defende.
Ora, com três polos de formação (Loulé, Almancil e Quarteira), de falta de matéria-prima para a classe de competição não se pode queixar a APAGL, reconhece o trio. “Temos conseguido reter as miúdas porque elas gostam efetivamente de estar aqui e isso é de louvar. Cada vez temos mais gente porque a base de formação é bastante boa e, quando elas reúnem condições para a competição, chamamos por elas”, frisa o trio, terminando da mesma forma como começaram a conversa: “O nosso objetivo é tentar fazer os melhores esquemas possíveis e que elas se superem no praticável, o resto vem por acréscimo. A primeira competição é com elas próprias, precisam sentir que deram o melhor delas”


















Campeonato Nacional de 1.ª e 2.ª Divisão de Ginástica Acrobática disputou-se em Albufeira
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Campeonato Nacional de 1.ª e 2.ª divisão de Ginástica Acrobática realizou-se, nos dias 17 e 18 de maio, em Albufeira, contando com a participação de centenas de atletas de 36 clubes para disputar os títulos nacionais em várias categorias. De facto, passaram pelo Pavilhão Desportivo de Albufeira

quase 500 atletas, incluindo praticamente todos os que representaram a seleção nacional no último Campeonato da Europa de Ginástica Acrobática.
O praticável montado no recinto recebeu as provas das diversas categorias e escalões, desde Iniciados até Seniores e o presidente do Município de Albufeira, José Carlos Rolo, não escondeu a satisfação pela forma como decorreram os campeonatos, realçando “a


importância de trazer cada vez mais eventos de referência para o concelho” “Albufeira é hoje um ponto de encontro nas mais diversas áreas, e isto é fundamental para combatermos os efeitos na sazonalidade da nossa indústria turística”, reforçou o autarca. Também o vice-presidente da Câmara Municipal e vereador com o pelouro do Desporto destacou a “capacidade instalada no Município para o acolhimento de eventos desportivos em diferentes modalidades”. Em vésperas de Albufeira se tornar Cidade Europeia do Desporto 2026, Cristiano Cabrita
considera que “estão reunidas as condições para mostrarmos que estamos à altura de receber as competições mais importantes”.
Os Campeonatos Nacionais de 1.ª e 2.ª Divisão de Ginástica Acrobática foram organizados pela Federação de Ginástica de Portugal, com coorganização do AcroAlbuhera – Clube de Ginástica de Albufeira e o apoio institucional do Município de Albufeira, do IPDJ e do Plano Nacional de Ética no Desporto.





































































































FESTIVAL TANTO MAR LEVOU
DE HOMEM GRANDE» AO CINETEATRO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
LEVOU «CABRAL, A ÚLTIMA LUA
CINETEATRO LOULETANO


Festival Tanto
Mar, uma coprodução da Folha de Medronho –Associação de Artes
Performativas de Loulé e da Câmara Municipal de Loulé, levou a cena, no dia 21 de maio, no Cineteatro Louletano, a peça «Cabral, a última lua de Homem Grande».
Com encenação de Flávio Hamilton a partir do romance de Mário Lúcio Sousa, nesta coprodução Sikinada – Companhia de Teatro (Cabo Verde) e Teatro Art'Imagem (Portugal), um homem, cuja identidade não se pode precisar de forma
clara, irrompe a cena. Está tudo calmo. Tem, contudo, a súbita impressão de que é atingido. Duvida, no entanto, por breves instantes: “Deram-me um tiro?”. Um outro através de si se revela, do imo dos mistérios. Algo lhe diz que a hora chegou. Que hoje é o seu último dia. A sua lua derradeira. A última luta?
Homem Grande encontra-se, porém, sereno, consciente que morrerá, de pé, como uma árvore secular. O relógio, omnipresente, vai impondo a sua matemática de subtração, indiferente a tudo, estabelecendo a ordem dos acontecimentos. Chegou a hora de todas as horas. Medo? Nem por isso. Ele nunca foi deste mundo; soube-o desde sempre.





























EMOTION DANCE ACADEMY «HORIZONTES» NO AUDITÓRIO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Filipa Marques

ACADEMY APRESENTOU AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO


Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, foi palco do espetáculo de dança «Horizontes», da Emotion Dance Academy, no dia 28 de maio. Com coreografia de Camila Saraiva, Érica Sukortseva, Gabriela Soares, Lucas Leandro, Luana Lourenço, Sara Tangerino e Sofia Alves, foi interpretado por André Costa, Ariana Guerreiro, Camila Henrique, Camila Saraiva, Carolina Rebelo, Érica Sukortseva, Érica Trovão, Gabriela Soares, Lucas Leandro, Luana Lourenço, Sara Tangerino, Sofia Alves, Sofia Santos e Valentina Thyssen, tendo Direção Artística de Laura Abel e Direção Técnica de Pedro Pinto.
A primeira edição do projeto «Jovens Criadores» da academia de dança de Armação de Pêra terminou, assim, da
melhor forma possível, com um espetáculo que “atravessa momentos de alegria, nostalgia, transformação e empoderamento”. “Sem palavras, os corpos dançam e ultrapassam fases de mudança. Refletem lutas internas e externas, celebrando as conexões que nos unem. Cada passo é uma manifestação de quem somos e de quem podemos ser, numa jornada vibrante, energética e poderosa do que significa ser humano”, descrevem Laura Abel e Pedro Pinto. “É muito difícil transmitir o orgulho que temos nestes 7 coreógrafos e 14 intérpretes que criaram o seu próprio espetáculo. Depois de seis meses de ensaios de segunda a domingo, este projeto trouxe-lhes muito mais do que um palco. Trouxe persistência, maturidade, responsabilidade e resiliência. Demoslhes literalmente a chave da Emotion para criarem algo do zero. Puderam ser, crescer e florescer juntos”, recorda a dupla.























Da indignação Mirian Tavares, professora
Às vezes tenho a sensação de que indignar-se é um dos verbos mais ouvidos, usados, sentidos dos últimos tempos. A verdade é que há tanta coisa que nos provoca a indignação, que fica difícil ordenarmos as ideias. Já não se fala da Guerra na Ucrânia, mas esta não cessou, fala-se muito, e bem, do horror genocida que se abate sobre a Palestina, da inação dos governos que não se movem para tentar, de alguma maneira, estancar essa ferida aberta e purulenta que a humanidade vai carregar por muitos anos. A parte da humanidade que tem empatia e consciência, claro. Há ainda os horrores cometidos por um desvairado com grande poder – líder da nação mais colonialista das últimas décadas. Nem o filme de Truffaut, Farenheit 451, chegou tão longe. Nem os mais disparatados romances e filmes distópicos conseguiram imaginar que a realidade ia superá-los largamente. Combate-se, de forma sistemática e programática, a cultura e a educação. Combate-se o saber. Na Dialética do Iluminismo (ou do Esclarecimento), Adorno e Horkheimer analisam o outro lado da moeda de uma racionalidade teleológica e, de alguma maneira, excludente. Já quase ninguém lê
O horror, o horror! Joseph Conrad
os frankfurtianos, já quase ninguém lê. O séc. XX foi marcado pelo cientificismo, até meados, e pela desesperança, após Hiroshima e Nagasaki. A racionalidade torna-se um discurso a mais, como a História. A ciência na sua certeza e a História, baseada em factos, foram desmascaradas porque descobriu-se que também elas são relativas, também elas estão do lado dos vencedores.
Inauguram-se novos discursos, mais includentes, mais diversificados, no entanto, a fragmentação do discurso e a descrença na razão também nos trouxe um renovado misticismo, novas e velhas crenças foram convertidas em discursos de verdade, e andamos, neste momento, a tentar sobreviver aos fragmentos, a tentar driblar os discursos que circulam, e que ganham adeptos, apenas porque sim. Apenas porque o lado mais bárbaro dos humanos veio ao de cima e tem se alastrado. A mesquinhez, a inveja, a falta de empatia e o narcisismo patológico tornam-se dominantes e guinamos para uma direita extremada e burra. Mas a ignorância deixou de ser uma vergonha e passou a ser uma medalha que alguns adoram exibir. Em nome da liberdade de expressão, os discursos de ódio circulam livremente. As pessoas lutam contra a corrupção dos governos instalados e querem instalar novos governos

compostos de pessoas que cometem e cometeram crimes mais graves, a meu ver. Pedófilos, ladrões, fascistas de carteirinha que passam do discurso à ação. E nós seguimos nos indignando. Já se tornou clichê dizer que a esquerda precisa se reinventar. Mas a verdade é que ainda não se reinventou. E é urgente uma mudança que nos salve da catástrofe do barbarismo. Que nos salve da ignorância que se jubila e se exibe. Que nos salve de nós mesmos.
Foto: Isa Mestre
Startups: Os novos descobrimentos portugueses
Fábio Jesuíno, empresário
ortugal, pioneiro na exploração dos oceanos, vê hoje o seu espírito aventureiro e inovador renascer no dinâmico ecossistema das startups.
O espírito aventureiro português, que marcou a história global, renasce agora no ecossistema das startups, onde a ousadia e a criatividade do passado se transformam em soluções inovadoras que ultrapassam fronteiras e conquistam mercados internacionais. Assim como os navegadores, que foram verdadeiros empreendedores do passado, os inovadores portugueses de hoje lançamse à descoberta de novas oportunidades, movidos pelo desejo de criar, reinventar e transformar ideias em realidade.
Portugal, que já foi referência mundial pela sua capacidade de exploração e descoberta, volta a destacar-se agora como um polo de inovação tecnológica. A lista de startups portuguesas promissoras é extensa e abrange setores como tecnologias de informação, energia limpa, inteligência artificial e biotecnologia. Empresas como a Tekever, Talkdesk, Feedzai e Outsystems são exemplos de como o talento nacional ultrapassa fronteiras, alcançando o estatuto de unicórnio e posicionando
Portugal no mapa das economias mais inovadoras da Europa.
O governo e o setor privado têm desempenhado um papel fundamental neste movimento, investindo em programas de apoio e capital de risco, o que tem permitido o crescimento acelerado de novas empresas e a atração de talentos e investidores internacionais. O resultado é um ecossistema vibrante, onde a tradição de explorar o desconhecido se mantém viva, agora através da tecnologia e da inovação.
Portugal ainda enfrenta desafios importantes para fortalecer o ecossistema de startups, especialmente no que diz respeito à simplificação do sistema fiscal e à adaptação dos impostos à realidade da inovação e das empresas emergentes. Sem estes avanços, o país vê comprometida a sua capacidade de competir em escala global.
Portugal, que outrora mudou o mundo com as suas descobertas marítimas, prepara-se hoje para liderar uma nova era de conquistas, desta vez no universo digital. O ADN de inovação, audácia e visão de longo prazo continua a definir o país, provando que os novos descobrimentos portugueses estão a ser feitos por startups que navegam rumo ao futuro.

A trajetória das startups portuguesas comprova que o espírito de descoberta e inovação, que outrora levou navegadores a desbravar oceanos, continua a impulsionar o país rumo ao futuro. Portugal soube transformar-se num ambiente fértil para o empreendedorismo, combinando infraestrutura moderna, acesso a financiamento, incentivos governamentais e uma cultura vibrante de inovação.
O reconhecimento internacional, o surgimento de unicórnios nacionais e a atração de talentos de todo o mundo
demonstram que os «novos descobrimentos» já estão em curso, agora a navegar pelos mares e oceanos da tecnologia. No entanto, para que este ciclo virtuoso se mantenha, é fundamental continuar a investir na simplificação de processos, na educação e na adaptação das políticas públicas à realidade das startups.
Na minha opinião, Portugal é cada vez mais uma referência europeia em inovação, mostrando que a coragem de explorar o desconhecido permanece viva, agora guiando uma nova geração de empreendedores que navegam pelas oportunidades do século XXI.
PERSU 2030: Ambição, Obstáculos e Soluções para uma Economia Circular em Portugal que a maioria da população desconhece
Carlos
Manso, Economista e Membro da Direção
Nacional da Ordem dos Economistas
ortugal assumiu, com o PERSU 2030, um compromisso claro com a sustentabilidade, apostando numa estratégia que privilegia a prevenção, a reciclagem e a valorização de resíduos urbanos. O plano estabelece metas ambiciosas, como a redução da deposição em aterro para 40% até 2030 e 10% até 2035, a recolha seletiva de 50% dos resíduos e a reciclagem de 60%. No papel, tudo aponta para uma revolução no paradigma da gestão de resíduos. No terreno, no entanto, persistem fragilidades que ameaçam o alcance dos objetivos definidos.
A primeira e mais crítica dificuldade é a fragmentação da governação. A multiplicidade de entidades públicas e privadas com competências sobrepostas resulta numa ação desarticulada, incoerente e, muitas vezes, ineficaz. Falta uma autoridade nacional com verdadeiro poder de coordenação e capacidade de imposição de metas vinculativas e penalizações claras para o seu incumprimento. A título de exemplo, a recolha diferenciada dos biorresiduos é
obrigatória desde 2024 em todo o território nacional e contam-se pelos dedos de uma mão os Municípios que já a realizam. A ausência de uma liderança forte compromete a execução local e trava a inovação sistémica.
A segunda barreira está nas profundas assimetrias territoriais. Existem alguns sistemas intermunicipais e municípios a apostar em soluções tecnológicas e operacionais de referência — como recolha porta-a-porta, simulação de um sistema PAYT e valorização energética — enquanto outros continuam demasiado dependentes do modelo tradicional, centrado no aterro e sem data definida para implementarem estratégias focadas nos novos desafios. Esta desigualdade reflete, não apenas diferenças de capacidade financeira e técnica, vontade política, mas também disparidades no acesso a financiamento comunitário e apoio técnico. O risco é criar um país a duas velocidades no que toca à economia circular e com isso ficar aquém das metas propostas.
A terceira limitação prende-se com a literacia ambiental da população. Sem um investimento robusto e contínuo em educação e sensibilização, é difícil mudar


comportamentos e garantir a correta separação de resíduos na origem. O envolvimento do cidadão é essencial para cumprir as metas, mas continua a ser negligenciado em muitos planos municipais.
Por fim, os constrangimentos financeiros e a rigidez dos instrumentos de financiamento disponíveis dificultam a inovação e a modernização dos sistemas locais. O PRR e o PT2030 trazem oportunidades relevantes, mas exigem maior simplificação de procedimentos e apoio técnico no reforço de competências municipal.
Face a este cenário, o caminho passa por cinco prioridades claras: (1) reforçar a autoridade e os meios da ERSAR, atribuindo-lhe um papel fiscalizador mais ativo; (2) criar plataformas de cooperação intermunicipal obrigatórias e operacionais; (3) condicionar o acesso a
fundos à concretização de metas mínimas e indicadores verificáveis; (4) desenvolver campanhas nacionais de literacia ambiental com linguagem adaptada a diferentes públicos, criando mecanismos de penalização para quem não aderir ao sistema; e (5) investir numa infraestrutura digital nacional para a gestão inteligente de resíduos.
O PERSU 2030 representa uma oportunidade histórica para transformar o sistema de resíduos português num modelo de circularidade e eficiência. Mas, para tal, é necessário coragem política, inovação institucional e um verdadeiro pacto coletivo. Não basta definir metas, é preciso garantir que todas as peças do sistema — do cidadão ao decisor político, do operador à entidade reguladora, do produtor ao consumidor — trabalham em conjunto para as concretizar. E é preciso garantir que a implementação desta estratégia não traga aumentos significativos nas tarifas.
A economia circular é uma responsabilidade de todos. Pensem nisto.
Nota: Este artigo de opinião apenas reflete a opinião pessoal e técnica do Autor e não a opinião ou posição das entidades com quem colabora ou trabalha.
Uma gelataria no Barrocal Sílvia Quinteiro, professora
altam três semanas para o final do ano letivo. O ritmo é acelerado — frenético, mesmo. Aulas, seminários, testes, correções, palestras, orais... Como se não bastasse, é sexta-feira. E fim de dia… A sensação é de sufoco. Quase de desespero. O tempo não chega. Alguma coisa vai ficar para trás. E corro, corro, corro…
De um lado para o outro, de casa para a universidade, de sala em sala, entre edifícios. O telemóvel, tão colado à mão que mais parece um implante, ajuda a acompanhar os e-mails que não param de chegar e a atender chamadas em que se cruzam questões urgentes — como o agendamento de um evento, a dúvida do marido sobre que marca de manteiga deve comprar e a do filho sobre onde deixou o livro de Física — com questões tontas, que desafiam os limites da minha paciência cansada.
E, como a lei de Murphy não falha, o dia, que começou ventoso e fresco, transformou-se inesperadamente. Estou de fato, sapatinho fechado com meia e, lá fora… 32 graus. Pondero passar por casa para me recompor e mudar de roupa antes de rumar ao último compromisso do dia, mas tal não se afigura possível. Faço-me à estrada e sigo para São Brás de Alportel. Preciso de silêncio para me
concentrar no que vou fazer, mas o telefone não dá tréguas. Estaciono, ainda com a cabeça a mil, e só passados uns instantes me apercebo de que, afinal, acabei por chegar cedo demais.
Respiro fundo. Saio do carro, penduro o meu erro com mangas no braço, mas não o abandono. O evento exige a compostura de um blazer, mesmo que o corpo discorde. Arregaço as mangas, sacudo o cabelo que teima em colar-se ao pescoço e olho desconsolada para os sapatos que me afunilam os pés. O pior não é alguém ter tido a ideia de criar estes objetos de tortura, é eu tê-los comprado... Voluntariamente.
Ponho-me a caminho, em direção a uma loja onde sei que vou encontrar exatamente aquilo de que preciso para me recompor. Avistar a porta aberta põeme um sorriso nos lábios.
Entro. Espero que me atendam, mas não está ninguém ao balcão. Na esperança de que me ouçam, tusso, faço barulho com as chaves, mexo nas moedas, bato o salto afiado no chão (pode ser que, afinal, os amaldiçoados sapatos tenham alguma utilidade)… Até que, finalmente, vindo da rua, surge um rapaz. Move-se com uma calma inesperada. Cumprimenta-me, pousa uma pequena mochila e pergunta o que desejo. Peço um copo com dois sabores: uma bola de D. Rodrigo e outra de figo


com amêndoa. Coisa ligeira, eu sei. Refugio-me nas sábias palavras da minha bisavó: Paga o mal que faz com o bem que sabe!
Questionada sobre se o gelado é para levar ou se vou ficar na esplanada, assumo que tenha a ver com a escolha do recipiente. Engano-me. Digo que me vou sentar na esplanada e ele responde:
— Se aparecer alguém, pode avisar que eu volto já? Vou ali só dez minutos.
Concordo e, enquanto vou apagando as preocupações com pecaminosas colheradas de gelado, acumulo funções: CEO de uma gelataria em São Brás.
Os clientes que chegam não parecem surpreendidos com a informação. Imagino que o “vou só ali” faça parte da
rotina e que todos, em algum momento, tenham assumido as funções de gestor interino do estabelecimento. Escolhem uma mesa e aguardam. O sossego é tanto que quase adormeço. Espera-se em silêncio, sem pressas. Ele já vem.
Estico-me, para ver se desperto um pouco, e, apercebendo-me de que a tensão que me prendia a cervical desapareceu, rodo lentamente o pescoço para um lado e para o outro. Uma senhora idosa, acompanhada pelos netos, lança-me um sorriso aberto:
— A senhora não é de cá, pois não? — pergunta.
— Não. Sou de… — ia a responder, quando me interrompe:
— Vê-se logo. Com tanta roupa num calor destes. Está aí toda escalmorrada, coitada. Não está habituada aqui ao tempo do Algarve. É de Lisboa?
— Sim, sim. — apresso-me a responder, porque a vida já é demasiado difícil para se ser julgada pela escolha da indumentária.
O rapaz regressa. Abandono a mesa e o cargo e dirijo-me à Biblioteca Municipal. O dia terminará com a apresentação de Flores de cinza, de Dora Gago. Poemas que são um hino à esperança e ao recomeço — quem sabe se como proprietária descontraída de uma gelataria num qualquer recanto do Barrocal. Isso é que era vida!
Europeu Paulo
Neves, «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha
screvo no dia que se assinala os 40 anos da Adesão de Portugal (e Espanha) à União Europeia (então ainda CEE), concretizada pelas mãos de Mário Soares (que já a havia requerido, aquando de um outro seu governo em 1977) e de Felipe González.
Claro que antes disso já eramos europeus, daquela Europa que são ainda mais países do que os que integram este espaço político em que participamos de pleno direito e que, por causa da História e antiguidade de cada país membro, torna dificílimo o processo de decisão e de ação num mundo em que tudo já aconteceu antes de nos termos apercebido, quanto mais termos influenciado.
Parece-me inevitável, não só pela voragem dos acontecimentos imporem respostas preparadas, mas também, essencialmente, pela dimensão enquanto ator global, que alicercemos institucionalmente este espaço democrático com uma moldura política/legislativa capaz de dar impacto ao real valor do que representamos e somos. Ou perderemos já capacidade de intervenção eficaz.
Sim, parece-me inevitável a necessária e para mim desejada maior integração de políticas em geral pela via de um
federalismo na União que respeite e em que se imponha o princípio da subsidiariedade, mantendo-se a soberania dos Estados.
No Algarve, espaço que nestas crónicas devo salientar, importa com Espanha, e no quadro da União Europeia, liderar a atenção às relações da UE com o Magrebe – Argélia, Líbia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia, países do noroeste africano e com estreito contacto com a região do Sahel; assim como também com a extensa área de influência da Macaronésia (frente atlântica de Portugal, Espanha, respetivos arquipélagos, Cabo Verde, mormente agora com a expansão da ZEE – Zona Económica Exclusiva).
Espaços de oportunidades, mas da eclosão dos maiores desafios imediatos e que pela proximidade geográfica e cultural nos impactam diretamente. Ou ficamos só a ver na televisão o que se passa mais longe até que aconteça perto daqui.
O Algarve, na confluência destes eixos do Mediterrâneo e do Atlântico, estará no «olho do furacão» se assumir estrategicamente o seu poder de relação nas culturas do Mediterrâneo, sem nenhum embaraço de disputa territorial, e da frente até às Canárias, sem descurar a situação de segurança e instabilidade, mas também de desafios, de criar atenções até ao Sahel, região
determinante onde se jogam interesses globais e com os países contíguos/próximos, entre os quais alguns membros da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).
Já me esquecia… para isto é preciso que o Algarve se assuma pois. No quadro nacional e na sua relação com a Andaluzia, afirmando espaços de cooperação, na energia, no tráfego marítimo, no ambiente e nas áreas socias, com ações proativas a assumir com Lisboa, com Madrid, com Bruxelas, mas também com a Madeira, até Cabo Verde, etc.
E com as Américas, defronte da ZEE, nas áreas da investigação e ciência.
Temos(!) os atores e as instituições para tanto. Tenham(os) ambição.
Claro que também podemos continuar a ser levados. A entreter-nos. A ser apenas vítimas do que nos acontecer. E dizer que a culpa é dos da cor, dos ricos, ou dos pobres, dos políticos, etc.
Mas isso é o contrário ao que o futuro nos permite e nos aponta. Talvez levantar o olhar e ver com quem podemos ombrear. Reganhar dimensão, tendo estratégia.
A Espanha e depois o Egito vão assumir a liderança da Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo, de contacto político-institucional entre os países da Europa (os da UE e os outros) que estão relacionados geograficamente com os países do Norte de Africa (os do Magrebe e os outros até ao Oriente próximo).

E nós estaremos lá também. Calados ou agindo. Portugal poderá ter uma ação útil, concertada primeiro a nível interno, depois com Marrocos e Cabo Verde, com a UE, aproveitando a relação do Presidente do Conselho também com todos. Todos ganharão com tanto.
«Depois não se queixem…» e continuem a falar dos milhões dos fundos europeus, como se isso fosse o importante nesta conversa desde a adesão de Portugal.
Mas isto é um algarvio a pensar no dia em que nos damos os parabéns por estarmos na União Europeia desde há 40 anos, e desde há 900 na Europa, com estes vizinhos.
Foto: João Neves dos Santos


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