REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #483

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ÍNDICE

Loulé inaugurou o primeiro Centro de Saúde Universitário do país (pág. 22)

34.º aniversário do Centro de Juventude de Faro do IPDJ Algarve (pág. 34)

Terra de Maio no Azinhal (pág. 50)

Dia do Pescador festejado em Olhão (pág. 62)

111.º aniversário do Concelho de São Brás de Alportel (pág. 74)

Campeonato Nacional de Ginástica Acrobática em Albufeira (pág. 92)

«Eurídice e o instante» no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa (pág. 122)

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 134)

Ana Isabel Soares (pág. 136)

Carlos Manso (pág. 138)

Loulé inaugurou o primeiro Centro de Saúde Universitário do país

omeçou, no dia 31 de maio, uma nova etapa dos cuidados de saúde primários na região do Algarve, com a abertura, em Loulé, do primeiro Centro de Saúde Universitário de Portugal. O edifício conjuga inovação, conhecimento e serviço público de saúde e é um espaço de partilha, com várias valências integradas: é a nova casa da Unidade de Saúde Familiar Lauroé, da Unidade de Cuidados de Saúde na Comunidade

Gentes de Loulé e da Unidade de Apoio à Gestão do ACES e Direção dos Cuidados de Saúde Primários da ULS Algarve. O fator diferenciador é, contudo, a Unidade Académica de Formação e Investigação em Cuidados de Saúde Primários, com espaços dedicados à formação pré e pósgraduada. “Este será um centro onde a prática inspira a ciência — e onde a ciência transforma a prática”, frisou Rubina Correia, diretora clínica dos cuidados de saúde primários do Algarve, durante a apresentação desta nova unidade.

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Com modernas salas de formação, de reuniões, uma sala de videoconferência e gabinetes de consulta para ensino e prática médica em contexto formativo privilegiado, “este Centro foi planeado para integrar o ensino, a prática e a investigação” “Permite acolher formações presenciais e à distância, estabelecendo pontes com a Faculdade de Medicina do Algarve e com as mais prestigiadas escolas de medicina do país e do mundo, facilitando o acesso a professores e investigadores de referência internacional”, adiantou Rubina Correia, que considera que irá também “contribuir para a fixação de profissionais qualificados na região”. O ABC - Algarve Biomedical Center ficará responsável por este núcleo, sendo esta

uma cooperação entre Autarquia, Universidade e ULS.

Para reforçar precisamente esta vocação de unidade universitária, o autarca de Loulé, Vítor Aleixo, anunciou que o Município irá destinar uma verba anual de 200 mil euros para criar uma Bolsa de Investigação Clínica Aplicada «Saúde em Loulé Aqui e Agora». “Os médicos de medicina geral e familiar que trabalham no SNS no concelho de Loulé, e que queiram ligar o seu trabalho no dia a dia à investigação, aproveitando as mais-valias deste Centro de Saúde, poderão contar com este apoio anual”, explicou. “O Ensino Superior e a Saúde caminham lado a lado”, sublinhou, por sua vez, o reitor da

Universidade do Algarve, uma instituição que atualmente já possui 1.800 estudantes em diversos cursos na área da saúde e que “pretende chegar aos 3 mil estudantes nesta área numa década, desde médicos, enfermeiros, terapeutas da fala, fisioterapeutas e nutricionistas”, referiu Paulo Águas.

Em nome da Faculdade de Medicina e do ABC – Algarve Biomedical Center, parceiro fulcral nesta nova unidade, Paulo Castelo Branco destacou as duas vertentes deste Centro de Saúde. “A primeira, a melhoria da formação dos médicos, mas também dos enfermeiros e dos auxiliares. Dotar estas pessoas de melhores acessos à informação e à partilha do conhecimento irá melhorar a forma como estes profissionais de saúde executam as suas tarefas no dia a dia, o que terá um impacto nos utentes

deste serviço. A segunda, a investigação, e a investigação na área da saúde salva vidas”, enfatizou, adiantando ainda que: “Da nossa parte tudo faremos para tornar este Centro de Saúde numa referência nacional e internacional”.

Para o responsável da ULS, Tiago Botelho, este edifício representa “um novo conceito de proximidade entre o ensino, a investigação e a prestação de cuidados de saúde”, e vem reforçar “a capacidade de resposta assistencial às populações”. Como tal, anunciou que, no concelho de Loulé, a ULS Algarve “está a tomar decisões organizativas que irão permitir atribuir, ainda em 2025, médico de família a mais cerca de 10 mil cidadãos que hoje em dia não o têm”

A USF Lauroé, “uma unidade de excelência”, assegura atualmente os cuidados de saúde a 13 mil e 448 utentes, número que em breve irá aumentar para 15 mil e 250, com a integração de mais um médico e um enfermeiro. Esta unidade inclui também as extensões de Cortelha e Ameixial, é composta por uma equipa de 7 médicos, 7 enfermeiros e 6 assistentes técnicos, contando também com 4 internos de Medicina Geral e Familiar. Os seus indicadores de desempenho nos últimos anos colocamna no top dos melhores do país.

Já a outra valência, a UCC Gentes de Loulé, que percorre as nove freguesias do concelho, abrange 71 mil e 791 utentes. Esta unidade apresenta uma das maiores

redes de cuidados domiciliários da região, com 4 equipas de cuidados continuados integrados, que acompanham mais de 100 utentes. Neste seu “compromisso com a comunidade”, desenvolve projetos como a preparação para o parto, a intervenção Precoce, Saúde Escolar e Cantinho da Amamentação. Conta com uma equipa multiprofissional de 15 enfermeiros, 2 assistentes técnicos e vários profissionais especializados, como fisioterapeutas, terapeutas, nutricionistas e psicólogos e médico. O edifício passa a albergar também suporte administrativo e logístico do ACES e das suas unidades funcionais.

Vítor Aleixo recordou o processo que levou a este dia inaugural, “uma história

muito longa, de avanços e recuos”, que teve início em 2010, com a celebração de um protocolo entre o Município e a antiga ARS para contruir na cidade um novo edifício para a saúde. Em 2020 foi, entretanto, introduzida a componente de «Centro Universitário» e o projeto do edifício foi escolhido após consulta pública de um concurso de ideias. “É um salto em frente relativamente áquilo que era a abordagem convencional, há aqui inovação, há aqui ambição”, salientou o edil. Uma ambição que irá, de resto, “mais à frente” considerando o ecossistema de inovação e de investigação científica na área das ciências biomédicas que está a nascer em Loulé.

De facto, neste momento já funciona em Loulé um Centro de Simulação Cirúrgica, destinado à formação dos médicos, e o primeiro Laboratório de Genética Médica, fundamental no acompanhamento de inúmeras doenças através de análises de genética, entre elas o cancro. Por outro lado, a servir não só o Algarve como o Alentejo, está também a Ressonância Magnética adquirida pela Câmara de Loulé, com o apoio da CCDR Algarve. Este equipamento, a funcionar em contentores provisórios junto do Pavilhão, irá relocalizar-se no novo edifício que irá nascer na Rua Humberto Pacheco, em terreno cedido pela Autarquia, juntamente a PET-TAC, um equipamento de diagnóstico, e ainda com o Serviço de Procriação Medicamente

Assistida, o segundo do país integrado no SNS (apenas existe um no Hospital de S. João do Porto), com diagnóstico genético pré-Implantatório. “Estamos a construir este ecossistema porque queremos que as pessoas usufruam de mais e melhores cuidados de saúde, acrescendo-se ainda o objetivo de diversificação da base económica do Algarve. Não podemos continuar eternamente amarrados à atividade turística e imobiliária. O Algarve tem todas as condições para atrair jovens investigadores e clínicos, pessoas que querem trabalhar com condições”, sublinhou Vítor Aleixo.

É também nesse sentido que surge o investimento público no futuro Edifício Mariano Gago, um equipamento de investigação na área das ciências biomédicas, um investimento que rondará os 30 milhões de euros. Por outro lado, foi adjudicada em reunião camarária do dia 2 de junho o concurso para a recuperação do antigo Centro de Saúde, que agrega a Unidade de Saúde Familiar Serra Mar. Recorde-se que a construção do Centro de Saúde Universitário de Loulé implicou um investimento de 7,3 milhões de euros, valor repartido pelo Município (65 por cento) e Ministério da Saúde (35 por cento).

Domingos Caetano homenageado nas comemorações do 34.º aniversário

do Centro de Juventude de Faro do IPDJ Algarve

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

oi em ambiente de grande festa que o IPDJ no Algarve comemorou, no dia 26 de maio, o seu 34.º aniversário.

Juntamente com o movimento associativo, juvenil e desportivo, representantes das principais entidades regionais, autarcas, jovens, funcionários e amigos, sopraramse as velas e homenageou-se um

convidado muito especial, Domingos Caetano.

A festa começou no hall de entrada com visita a duas exposições, uma de jovens alunos da Escola Tomás Cabreira, outra de utentes invisuais da APEXA («Voz visual»), seguida de uma atuação do Grupo de Ginástica Rítmica («Gym for Life»), da Associação Che Lagoense. A sessão comemorativa iniciou-se com as palavras de reconhecimento e incentivo

por parte do Presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, Rodrigo Carlos, da Vereadora da Câmara Municipal de Faro, Teresa Santos, e do Diretor Regional do Algarve do IPDJ, Custódio Moreno.

Este ano, as comemorações decorreram sob o lema «Despertar para a Paz, cultivando a esperança em tempos difíceis...» e o programa contou com as participações de Cláudia Fonseca e Samanta, Maria Lourenço, Rita Bravo, Billy Frash, Saly del Vall e a banda Mundo ao Contrário. O momento mais alto da

tarde foi a homenagem a Domingos Caetano, um grande artista e um grande homem, mas, acima de tudo, um grande amigo de todos.

Para encerrar as comemorações, proferiram breves palavras o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação, o Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, o Presidente da CCDR Algarve, José Apolinário, aos quais se seguiu um concerto com Diogo Dias e Amigos. No final, todos sopraram as velas e provaram o bolo de aniversário.

Milhares de pessoas reviveram tradições em mais uma edição

de sucesso da Terra de Maio

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Castro Marim

aldeia do Azinhal esteve em destaque, entre 23 e 25 de maio, com mais uma edição da Terra de Maio, a Feira da Cabra que acolheu milhares de visitantes que pretendiam reviver as tradições algarvias e desfrutar de música portuguesa. Os saberes e sabores da Cabra de Raça Algarvia estiveram, mais uma vez, em destaque por todo o recinto, com a

exposição de espécies deste animal e ainda a sétima edição do Maior Queijo de Cabra de Raça Algarvia que fez as delícias dos presentes.

A nível de espetáculos musicais, os grandes destaques deste ano foram Rebeca, Quim Barreiros e Sons do Minho, continuando assim a aposta do Município de Castro Marim na música portuguesa, além de atuações de outros artistas como Pardais à Solta, Grupo +2, Sérgio Conceição e Hugo Madeira, Charanga los

del Ruedo, Rancho Folclórico do Azinhal e Acordeanima. Outro dos pontos altos deste evento que decorreu no Centro Multiusos do Azinhal foi o habitual seminário sobre temas como a Gestão da Água e Regadio e a Produção Agrícola, com a participação da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e da Guadimonte. Uma das apresentações contou com a participação do engenheiro Macário Correia, com uma retrospetiva sobre o Plano de Gestão Hídrica, mas também

sobre a futura Barragem da Foupana e os seus possíveis cenários de localização.

O edifício principal acolheu a apresentação de novos produtos da Queijaria do Azinhal e ainda showcookings da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António e da Confraria do Atum. Os showcockings contaram ainda com a participação especial do chefe Arnaldo Correia, do Orangea – Hotel Ozadi, do chefe Hugo Martins, do Hotel Vila Petra Albufeira e natural do Azinhal e que já dá cartas a nível regional, Ricardo Luz, do Authentic e vencedor do prémio Chefe Cozinheiro

do Ano 2019 e Jeferson Dias, do Al Sud –Palmares e vencedor do Chefe Cozinheiro do Ano 2023.

Decorreu também o concurso que premiou os produtores da Cabra de Raça Algarvia, que este ano contou com uma participação alargada de produtores de toda a região e do Alentejo, além da valorização de outros animais de raças autóctones como a Ovelha Churra, outra espécie que se pretende dar valor no território do Baixo Guadiana, havendo já uma produção instalada. Nesta atividade destacou-se a nova geração de jovens caprinicultores, com outro conhecimento, mas com a mesma paixão pela manutenção da raça.

A Terra de Maio contou igualmente com demonstrações equestres, atividades infantis, feira de produtos regionais, demonstrações de artesanato, tiro com arco, workshops e ateliers. Associado ao evento existiram outras iniciativas promovidas por privados e por associações locais, como o 7.º Passeio Informal de Motorizadas Antigas, organizado pela Associação Recreativa e Cultural do Azinhal, com cerca de 100 participantes.

A Terra de Maio foi dinamizada pelo Município de Castro Marim, em colaboração com a Junta de Freguesia do Azinhal.

Olhão assinalou mais uma vez o Dia do Pescador

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Município de Olhão voltou a homenagear, no dia 31 de maio, os homens e mulheres que dedicam a vida ao mar. Para além da cerimónia de atribuição de distinções, o evento, que decorreu no Auditório Municipal Maria Barroso, contou com a tertúlia «Segurança na Pesca», a inauguração da exposição «Património em Rede: Um peixe, uma comunidade e dois países» e

um showcooking, onde os produtos da pesca foram os protagonistas.

Naquela que foi a 27.ª edição das comemorações do Dia do Pescador, Ricardo Calé, vice-presidente do Município de Olhão, começou por saudar calorosamente os homenageados deste ano, homens e mulheres que se destacaram pela sua entrega, pelo exemplo e pelo amor ao mar. “Um agradecimento muito especial também às suas famílias, que são, muitas vezes, o apoio invisível que torna possível a

vida no mar. Esta homenagem é mais do que merecida e é um sinal do respeito que toda a comunidade tem para convosco”, declarou. “Esta é uma homenagem a quem trabalha em condições exigentes, muitas vezes com riscos, mas sempre com um compromisso firme com a sua atividade. E reforçamos o nosso dever coletivo de continuar a apoiar e valorizar estas pessoas, garantindo que têm meios, condições e reconhecimento para continuar a fazer o que fazem melhor: viver do mar, com dignidade”, acrescentou.

Ricardo Calé lembrou que Olhão tem sido palco de várias iniciativas relevantes no setor da pesca e aquacultura, reforçando o seu papel como referência nacional nestas áreas, e que o município tem participado ativamente no projeto

ParticiPESCA, que visa estabelecer mecanismos de gestão participativa das pescarias, promovendo a sustentabilidade e a cogestão dos recursos marinhos, no caso concreto da pesca do polvo. A Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO), do IPMA, tem também desenvolvido projetos de investigação em aquacultura, incluindo testes com novas espécies de peixe para ampliar a capacidade de produção de pescado. “Olhão continua a manter-se fiel às suas raízes, às atividades primárias e com condições de atratividade para o desenvolvimento do setor. Não podemos deixar de enaltecer a indústria conserveira de Olhão, verdadeira embaixadora do nosso património marítimo. Com uma história rica que remonta ao início do século XX, este setor consolidou-se como um dos pilares da identidade olhanense e do

desenvolvimento económico local. As conservas produzidas em Olhão são reconhecidas, não apenas a nível nacional, mas também além-fronteiras, levando o sabor do nosso mar a mercados internacionais exigentes. Esta tradição, aliada à inovação e à qualidade, continua a afirmar Olhão como uma referência incontornável no panorama conserveiro, mantendo viva uma herança que orgulhosamente atravessa gerações”, enalteceu o autarca.

O vice-presidente assumiu que se vivem tempos que exigem visão, planeamento e ação e salientou que, em Olhão, “temos vindo a trilhar esse caminho com responsabilidade e ambição, olhando para os desafios do presente com os olhos postos no futuro”. Nesse sentido, Ricardo Calé partilhou com a plateia duas das prioridades estratégicas que têm mobilizado a edilidade olhanense: o

combate às alterações climáticas e a proteção das suas comunidades costeiras, nomeadamente na Fuzeta. “O Plano Municipal de Ação Climática de Olhão é um documento estruturante que traça o rumo que queremos seguir até 2050. Este plano estabelece um conjunto de medidas claras e exequíveis para tornar Olhão mais resiliente e sustentável. Falamos de 17 medidas estratégicas e 85 ações prioritárias, divididas entre a adaptação às alterações climáticas e a mitigação das emissões de gases com efeito de estufa”, indicou. “Este plano é, acima de tudo, uma resposta proativa à realidade que enfrentamos: a subida do nível do mar, o avanço da erosão costeira, a escassez hídrica em zonas como Pechão e Moncarapacho. E é também uma ferramenta essencial para alinharmos o nosso território com as metas nacionais e europeias em matéria de clima”

Um dos desafios que exige ação constante do Município de Olhão é o assoreamento da barra da Fuseta e também as suas magníficas praias. “Este é um problema que há muito tempo afeta a comunidade piscatória, limitando a navegação e colocando em risco, não só a segurança das embarcações, mas também a economia local. Temos consciência de que as dragagens periódicas são apenas soluções de curto prazo, por isso, em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente, foi levada a cabo uma intervenção urgente na Praia da FusetaMar, com a reposição de 40 mil metros cúbicos de areia, garantindo a sua fruição balnear e atenuando os efeitos do assoreamento”, destacou, anunciando igualmente que, no âmbito do Plano Plurianual de Dragagens 20242026, está prevista a dragagem de 150

mil metros cúbicos de areia na barra e no canal da Fuseta. “Este investimento, de cerca de 924 mil euros, permitirá melhorar significativamente a navegação, reforçar a proteção da linha costeira e ampliar a área útil da praia em cerca de 30 metros”, descreveu. “O assoreamento representa um sério entrave à navegação segura das embarcações, dificultando o acesso ao mar e o regresso ao porto, colocando em risco não só a segurança dos pescadores, mas também a sustentabilidade da própria atividade. A manutenção regular e eficaz dos canais de navegação, assegurando que se mantenham desobstruídos, é fundamental para garantir condições seguras e operacionais às frotas de pesca locais”.

Ricardo Calé recordou ainda que já arrancam as obras para a construção do HUB Azul de Olhão, marcando o início de um projeto transformador para a região do Algarve. “Este centro de excelência, que representa um investimento previsto de aproximadamente 5 milhões de euros (com 4,7 milhões de euros provenientes do PRR), será dotado com equipamentos de ponta, com instalações modernas dedicadas à pesquisa em biologia molecular, biologia geral e patologia. O grande objetivo é alcançar a vanguarda em pesquisas nas ciências do mar e, consequentemente, impulsionar a inovação em prol de uma aquacultura que seja simultaneamente sustentável e inteligente. Para além disso, o HUB Azul de Olhão terá um papel crucial na promoção de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e no fortalecimento da formação e

capacitação técnica de trabalhadores e estudantes do setor marítimo” salientou, defendendo também que “temos de criar condições para que as novas gerações vejam na pesca e na aquacultura um caminho possível e digno” “É preciso investir em conhecimento, em tecnologia, em boas práticas, mas nunca perder a ligação aos saberes antigos, àquilo que nos identifica”.

O dia era de festa, mas também para se pensar num futuro onde as comunidades piscatórias possam continuar a viver do mar, mas com mais segurança, melhores condições e novas oportunidades.

GAL Pesca Sotavento Algarve, organismo cujo parceiro gestor é o Município de Olhão, tem sido essencial para trazer apoio e investimento à região do Sotavento. Graças a ele, têm surgido projetos que respeitam os

saberes antigos, mas que também trazem novas ideias, novas formas de trabalhar, de inovar e de diversificar. Só no anterior programa MAR 2020, no âmbito dos projetos GAL Pesca, foram investidos mais de 5 milhões de euros aqui no território do Sotavento Algarvio. Isso traduziu-se em novos projetos, 35 novos postos de trabalho criados, e ajudou a manter 97 empregos que de outra forma não existiriam. E isto faz toda a diferença para quem cá vive e trabalha”, disse o vice-presidente, revelando que, com o novo programa MAR2030, estão já aprovados 3,5 milhões de euros para continuar a investir localmente, que deverá gerar um investimento a rondar os 5 milhões de euros. “Este dinheiro vai ser usado em iniciativas pensadas localmente, com base nas necessidades reais das nossas comunidades, e com um objetivo claro

– garantir que as regiões costeiras têm futuro, e que as pessoas que dependem dele também o têm. Estamos a falar de uma estratégia que teve origem nos atores locais, que ouve as pessoas, que trabalha lado a lado com quem está na região, e os resultados estão à vista. Temos projetos com qualidade, gente empenhada, resultados concretos. Isso mostra que estamos no bom caminho” acredita Ricardo Calé, que terminou a sua intervenção com uma mensagem clara: “Vamos continuar a trabalhar juntos, com os pés na terra e os olhos no futuro, para que o mar continue a dar sustento às nossas famílias e dignidade às nossas comunidades. O trabalho dos pescadores e aquacultores de Olhão é essencial para o nosso concelho e para o nosso país. Hoje, e todos os dias, celebramos a vossa coragem, determinação e dedicação”

Concelho de São Brás de Alportel festejou o seu 111.º aniversário

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Dia do Município de São Brás de Alportel foi assinalado, a 1 de junho, com um vasto programa que teve início, no Jardim Lourenço Viegas, em frente ao Centro de Saúde, com a cerimónia oficial do hastear da bandeira, ao som do Hino Nacional interpretado pela Banda Filarmónica de São Brás de Alportel, com a colaboração dos Bombeiros Voluntários de São Brás de Alportel. Seguiu-se, no Parque Roberto Nobre, a inauguração de

um mural alusivo aos 50 anos do 25 de Abril, um projeto com mentoria da professora Helena Ourêlo e com o apoio da professora Ana Isabel Palma, concretizado por alunos de artes visuais do 3.º ciclo e ensino secundário do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas, e que presta homenagem aos valores da liberdade e da democracia.

O Jardim Carrera Viegas foi depois palco da Sessão Solene Comemorativa, sob o lema «Reabilitação Urbana, Estratégia de Qualidade de Vida para

Todos», que incluiu a apresentação da Estratégia de Renovação do Centro Urbano pela vice-presidente Marlene Guerreiro; a assinatura do Auto de Consignação da segunda fase das obras de reabilitação do centro histórico pelo presidente Vítor Guerreiro e o empreiteiro Joaquim de Brito; e a atribuição das Insígnias Municipais de Bons Serviços aos funcionários que completavam 25 anos de serviço, e de Valor e Altruísmo, Mérito e Honra, reconhecendo o mérito e dedicação de cidadãos e entidades locais. Uma cerimónia que contou com apontamentos musicais da responsabilidade das acordeonistas Raquel Gago e Matilde Ramos, alunas do professor Jorge Alves, bem como da violonista Nicole Palma e da sua

professora Mariline Martins, para além da leitura de um poema de Rita Bravo.

Após as intervenções dos Presidentes da Assembleia Municipal, Ulisses Brito, e da Junta de Freguesia, João Rosa, falou José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, com a Sessão Solene a culminar com as palavras de Vítor Guerreiro, no seu derradeiro Dia do Município enquanto presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. “Celebramos hoje a nossa história, a nossa identidade, o orgulho que temos em sermos alma e corpo desta comunidade, em sermos vida neste território, em sermos sãobrasenses. Recordamos hoje o entusiasmo, a alegria e a euforia que os nossos antepassados sentiram a 1 de junho de 1914, com a grande conquista

alcançada pela coragem e determinação do João Rosa Beatriz, o nascimento do concelho de São Brás de Alportel. Evocamos, com profunda gratidão, a memória deste homem de coragem, um verdadeiro impulsionador da sua terra e da sua gente, cuja determinação será sempre para nós um exemplo inspirador. Celebramos 111 anos de um percurso feito de trabalho, de conquistas, de união, de resiliência e da entrega de um povo à sua terra”, começou por dizer o edil.

A poucos meses de terminar o seu terceiro e último mandato à frente dos destinos de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro acredita que, “na união da nossa comunidade, iremos juntos continuar a seguir pelo caminho certo, para que possamos construir um futuro melhor para os nossos filhos e netos”

“Seguindo o exemplo de João Rosa Beatriz, sem nunca perdermos a capacidade de sonhar e a determinação para transformarmos os sonhos em realidade, vamos continuar juntos a escrever as páginas da nossa história coletiva. E, apesar dos tempos conturbados que a humanidade está a viver, nós temos muitos e bons motivos para termos esperança no futuro”, afirmou, lembrando que, hoje, “São Brás de Alportel é uma referência a nível nacional e internacional como um concelho de excelência para viver, trabalhar e investir” “Onde a qualidade de vida dos seus cidadãos e a sustentabilidade do território têm sido a linha condutora da nossa ação municipal. Uma qualidade de vida que se expressa nas respostas em saúde; num parque escolar cuidado, moderno, que se adapta continuamente às

necessidades; na qualidade ambiental que preservamos e valorizamos; nos apoios e respostas sociais a quem delas necessita; nos apoios às famílias; nas acessibilidades e na modernização de um espaço público; na diversidade da oferta desportiva, que estimula hábitos de vida saudáveis; na diversidade e qualidade da oferta cultural; na defesa e valorização do património, tanto material como imaterial, que preservamos com orgulho; no dinamismo dos nossos empresários, comerciantes e do nosso movimento associativo. E muito temos trabalhado, lutado, para que possamos ser um concelho onde os seus habitantes tenham as respostas adequadas às suas necessitadas, onde sejam desafiados a sonhar, onde sejam felizes”, salientou.

Por tudo isto, São Brás de Alportel tornou-se um concelho atrativo, mais competitivo e sustentável, tendo registado, nos últimos censos, um crescimento populacional de 5,7 por cento. “Como sabem, muito foi feito, mas temos a humildade para reconhecer que muito há por fazer, pois esta é uma tarefa que nunca estará terminada. Mas é com orgulho que vejo que as intervenções que temos vindo a executar, têm criado nos sãobrasenses, nas pessoas, a vontade de virem para a rua, de usufruírem em segurança e com mais conforto dos nossos espaços públicos, e esse é o objetivo principal, criarmos condições para que as pessoas aqui possam viver momentos felizes”, declarou Vítor Guerreiro.

Na área da saúde, o edil recordou que foi requalificado e melhorado o edifício do Centro de Saúde e está em curso a construção do novo edifício, que vai receber uma Unidade de Saúde Familiar, num investimento de 2,5 milhões de euros, com financiamento do PRR. A melhoria contínua do Parque Escolar de São Brás de Alportel tem sido outro desígnio permanente e alvo de investimentos contínuos e, perante o crescimento demográfico do concelho, torna-se necessário criar novos espaços educativos. “Por isso, encontram-se concluídos os projetos da ampliação e remodelação da Escola E B 2,3 Poeta Bernardo de Passos e da ampliação do Jardim de Infância «Joaninhas». A habitação é outro desafio que nos convoca a todos, um desafio europeu, global, pois a falta de habitação

acessível é um problema transversal que exige respostas firmes e concretas. No âmbito da Estratégia Local de Habitação investimos um valor superior a 600 mil euros em aquisições e projetos de execução”, apontou, não esquecendo igualmente os programas de âmbito social da autarquia e os apoios ao desporto e ao associativismo local, assim como os investimentos efetuados a pensar no ambiente e na defesa da floresta. “Somos o único concelho da região que tem um anel de circulares completo em torno do seu principal núcleo urbano. Temos uma rede de passeios acessíveis que é uma referência na mobilidade. Construímos novos equipamentos de saúde, temos equipamentos desportivos que nos permitiram criar o hábito da prática regular de atividade física. Em muitas

zonas do concelho temos, neste momento, em curso várias obras num valor superior a 6 milhões de euros”.

Vítor Guerreiro frisou que há mais projetos concluídos a aguardar oportunidades de financiamento, nas áreas da habitação, educação, ambiente, equipamentos socais, vias de comunicação, desporto e renovação urbana. “Entrei na câmara municipal a tempo inteiro no dia 7 de janeiro 2002, mas já tinha tido a oportunidade de ter estado dois mandatos na Assembleia

Municipal. Estive 12 anos como vereador e 12 anos como presidente, são quase 24 anos de entrega, trabalho e luta pela nossa terra. Nestes três mandatos como presidente da câmara, alcançamos inúmeras conquistas coletivas, que marcaram profundamente o nosso concelho e a vida das pessoas. Ser autarca é algo muito especial, pois temos a oportunidade de ajudar a construir sorrisos nas pessoas, felicidade nas suas vidas, de traçar o caminho de uma comunidade rumo ao futuro”,

descreveu. “Nasci cá, cá nasceram os meus filhos, cá vivem os meus pais. Desde sempre quis dar um pouco de mim ao meu concelho, pois a minha escola de cidadania foi o associativismo. Pautei-me sempre pelo espírito de missão, motivado pela possibilidade de impulsionar a minha terra, de ajudar a minha gente. No Comité das Regiões Europeu tive a oportunidade de colocar São Brás de Alportel em Bruxelas, e de lá partilhar e defender as nossas causas e os nossos desafios. Nunca me faltou o sonho e ambição para fazer mais e melhor, faltaram, sim, as verbas necessárias à concretização de alguns sonhos, ou a

vontade dos governos”, desabafou. “Ao terminar este ciclo, levo comigo a honra de ter servido a minha terra. Foi muito o que aprendi e que cresci ao desempenhar esta nobre missão. Agora terei a oportunidade de abraçar outros desafios, mas continuarei, sempre, a participar ativamente, e é com o sentimento de missão cumprida e o coração cheio de gratidão que vos agradeço por me terem permitido ser o Presidente da nossa terra. Acredito que juntos, com todas e todos os sãobrasenses, vamos continuar a escrever as páginas da história de uma comunidade distinta”, concluiu.

Campeonato Nacional de 1.ª e 2.ª

Divisão de Ginástica Acrobática disputou-se em Albufeira

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Campeonato

Nacional de 1.ª e 2.ª divisão de Ginástica

Acrobática

realizou-se, nos dias 17 e 18 de maio, em Albufeira, contando com a participação de centenas de atletas de 36 clubes para disputar os títulos nacionais

em várias categorias. De facto, passaram pelo Pavilhão Desportivo de Albufeira quase 500 atletas, incluindo praticamente todos os que representaram a seleção nacional no último Campeonato da Europa de Ginástica Acrobática.

O praticável montado no recinto recebeu as provas das diversas categorias

e escalões, desde Iniciados até Seniores e o presidente do Município de Albufeira, José Carlos Rolo, não escondeu a satisfação pela forma como decorreram os campeonatos, realçando “a importância de trazer cada vez mais eventos de referência para o concelho”. “Albufeira é hoje um ponto de encontro nas mais diversas áreas, e isto é fundamental para combatermos os efeitos na sazonalidade da nossa indústria turística”, reforçou o autarca. Também o vice-presidente da Câmara Municipal e vereador com o pelouro do Desporto destacou a “capacidade instalada no Município para o acolhimento de eventos desportivos em diferentes modalidades”. Em vésperas

de Albufeira se tornar Cidade Europeia do Desporto 2026, Cristiano Cabrita considera que “estão reunidas as condições para mostrarmos que estamos à altura de receber as competições mais importantes”.

Os Campeonatos Nacionais de 1.ª e 2.ª Divisão de Ginástica Acrobática foram organizados pela Federação de Ginástica de Portugal, com coorganização do AcroAlbuhera – Clube de Ginástica de Albufeira e o apoio institucional do Município de Albufeira, do IPDJ e do Plano Nacional de Ética no Desporto.

AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO COMPANHIA PORTUGUESA

CONTEMPORÂNEO NO DIA MUNDIAL

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

CARMO RECEBEU DE BAILADO MUNDIAL DA DANÇA

Companhia

Portuguesa de Bailado

Contemporâneo viajou até Lagoa, no dia 29 de abril, Dia Mundial da Dança, para apresentar, no Auditório Carlos do Carmo, três peças: «Public Domain», de Ricardo Campos Freire; «Eurídice e o Instante», de Vasco Wellenkamp; e «Almada E TUDO!» de Maria Mira.

Entre interesse público e privado, entre amores e desilusões, entre ação e passado, este espetáculo é uma viagem

pelas questões da sociedade. “Formado por três peças, elas interligam-se para serem um todo forte e questionante: em «Public Domain» pensamos os nossos individualismos colossais numa sociedade imperfeita; em «Eurídice e o Instante», observamos a nossa capacidade de lutar pelo amor de uma vida e de duvidar; em «Almada E TUDO!» regista-se a vontade desgarrada de ação para mudar o mundo, no lirismo de um manifesto... e tudo”, descreve a conceituada companhia liderada por Vasco Wellenkamp. Nesta edição é publicada a reportagem de «Eurídice e o Instante».

Mantenhamo-nos (terapeuticamente) ocupados!

ntre os meus amigos mais velhos, tenho tido o privilégio de conviver com pessoas que, após terem-se aposentado e os seus filhos saído da casa de família, não se renderam à dolência, à apatia e à inatividade. Após uma vida repleta e preenchida pelos afazeres profissionais e pessoais, resistiram ao apelo de calçarem as pantufas e o roupão e passarem grande parte dos dias com um comando de tv na mão.

De uma forma ativa, participativa e cooperante, constato que há cada vez mais gente a partilhar e a adquirir conhecimentos com os outros, procurando fazer do que a rodeia a sua casa também. Não é por isso de estranhar a quantidade de pessoas que, não se considerando reformadas para a vida, concedem os seus préstimos, de forma graciosa e altruísta, a instituições de índole variada. É esse o tipo de pessoas que, já não tendo as mesmas aptidões da juventude, têm agora o tempo e a vontade para trilhar caminhos que o percurso da vida, por variados motivos, lhes negou. É, pois, muito comum ver coletividades ligadas à cultura e ao desporto com imensos «seniores» no seu seio.

Partilho a opinião que muitas instituições de cariz artístico e desportivo, sem o assumirem nem declararem publicamente, têm também a função de interajuda e solidariedade social. Sendo a terapia ocupacional uma área interdisciplinar que utiliza atividades e intervenções como meio de promover a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida, as atividades culturais, desportivas e lúdicas desempenham um papel crucial como ferramentas terapêuticas. Essas práticas, além de contribuírem para a reabilitação física e mental, proporcionam oportunidades de inclusão social, desenvolvimento pessoal e alívio das tensões provocadas pelo stress diário.

As várias formas de expressão cultural, como a pintura, a música, o teatro, a dança e a literatura, revelam-se importantes instrumentos de terapia ocupacional. Estas atividades permitemnos explorar e expressar emoções, muitas vezes de uma forma que as palavras não conseguem. A título de exemplo, refiro a musicoterapia, tendo em conta que é amplamente utilizada para ajudar pessoas com autismo, depressão ou Alzheimer, aliviando sintomas e promovendo conexões emocionais. Tornarmo-nos parte ativa de uma comunidade cultural pode ajudar a fortalecer a autoestima, oferecendo-nos,

ao mesmo tempo, uma estrutura de apoio.

A prática desportiva tem um impacto direto na saúde mental, ajudando a combater a ansiedade, a depressão e o stress. Durante o exercício, o corpo produz endorfinas, conhecidas como «hormonas da felicidade», melhorando

assim o humor e reduzindo o desconforto emocional. Os desportos de equipa, em particular, promovem o espírito de grupo e ajudam a desenvolver competências sociais. O desporto é uma das ferramentas mais eficazes na manutenção e reabilitação física, ajudando e potenciando a recuperação da mobilidade, da força e da coordenação motora.

A combinação de práticas culturais e desportivas em programas interdisciplinares tem demonstrado resultados promissores em variados contextos. Por exemplo, a incorporação da dança e da música em atividades físicas não só melhora a saúde física, mas também estimula o bemestar emocional. A cultura e o desporto emergem como ferramentas indispensáveis na prática da terapia ocupacional. À medida que mais estudos exploram e validam estas práticas, a sua importância na saúde e na reabilitação continuará a crescer, beneficiando-nos a todos.

Agora que já leu estas palavras de incentivo, “Faça-se à vida!” e promova o seu bem-estar e, consequentemente, a sua felicidade. Porque conviver com gente bem-disposta é a melhor terapia para nos manter (bem) ocupados!

Ainda o joelho Ana Isabel Soares, professora

ma das lendas sobre como terá surgido o chá é contada por Wenceslau de Moraes, no livro que fez publicar em 1905, O Culto do Chá. As maravilhas da tecnologia permitem folhear hoje as suas páginas ilustradas, a partir do site da Biblioteca Nacional, percebendo até a transparência do papel de arroz. É como se os dedos lhe

Página de O Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes, com ilustração de Yoshiaki (versão digital da Biblioteca Nacional de Portugal)

tocassem a textura, passassem sobre as rugazinhas junto ao vinco da folha e experimentassem o socalco mínimo dos desenhos colados na página, corressem o fio do corte para passar para a página seguinte – como se se ouvisse mesmo o som surdo do papel. Um primor. A beleza das ilustrações, atribuídas a Yoshiaki (sobre quem não encontrei dados fidedignos, já que o nome aparece corresponder a vários artistas, mesmo na transição do século XIX para o XX), corresponde à elegância da prosa de Moraes, descritiva, visual, bondosa para quem lê. Mesmo quando narra a história de Darumá (hoje vê-se escrito sem o acento), sacerdote indiano que terá vivido no século V ou VI e, conta-se, terá levado para a China o budismo Zen. Qualquer relato acerca desta figura sublinha a sua dedicação à prática da meditação e ao sacrifício do corpo pelo aperfeiçoamento do espírito. Moraes tem o cuidado de abrir a narrativa com uma invocação (“Oh, fé dos velhos tempos!...”) e uma amorosa declaração a essas diferentes entidades: “– como eu vos amo, a todos!...” Só a seguir se digna elevar os seus “piedosos pensamentos” a Darumá. Nove anos (Moraes não precisa o número de anos, fala em “passar a vida”) terá o monge decidido ficar em meditação, vigilante e “de joelhos sobre o solo pedregoso”, por “voluntaria desistencia das efémeras alegrias terrenas”, “vulto... ajoelhado sobre as pedras”. A postura prolongada justifica a

imagem com que ainda hoje é representado, sem pernas, ou com um único pé à mostra, para o que não teria grande uso, ainda assim. Moraes acha-lhe um curioso correspondente português: Darumá é como “o nosso frade do sabugo”, uma espécie de sempre-em-pé que, na verdade, porque está sempre sentado sobre os joelhos é que jamais pode cair.

E o chá? O chá, conta Moraes, é coisa santa, pois terá surgido das pálpebras de Darumá quando o cansaço (fraqueza dos terrenos) o fez cair no sono e a sua ira por ter fraquejado o levou a cortar as pálpebras, para não voltar a adormecer: caídas no chão depois de cortadas, e como se transformassem em castigo de humildade perante o gesto cru de auto mutilação, as pálpebras transformara-se no arbusto cujas folhas dariam a bebida estimulante que ajudaria à meditação, à vigília, ao permanente alerta espiritual. “Estava conhecido o chá”, continua Wenceslau de Moraes: “tem pois na China a sua origem, e é coisa santa, como se acava de provar. Crê quem quer; mas devo advertir que este livro foi escripto para os crentes”. Assim. Numa penada, a mais delicada das bebidas surge de um gesto humano tão duro, e duma tão generosa dádiva dos deuses.

Daruma em Meditação, séc. XVIII, Torei Enji (1721-1792 d.C.), Tinta sobre papel (Los Angeles County Museum of Art)

Foto: Vasco Célio

Portugal e as Reformas Estruturais

Carlos Manso, Economista e Membro da Direção

Nacional da Ordem dos Economistas

omeço por fazer um «spoiler alert». Este artigo de opinião vai ter de tudo um pouco, sarcasmo, ironia, verdades, desilusões e, espero eu, alguma esperança.

O nosso País tem uma relação com as reformas estruturais semelhante à relação que muitos de nós temos com o ginásio: sabemos que precisamos, até pagamos a mensalidade, mas raramente aparecemos. Pelos menos até termos alguma doença que nos obrigue a fazer exercício físico. Portugal, mesmo com a presença da odiada TROIKA também não fez grandes reformas, porque não podemos chamar as privatizações de reformas estruturais e nem a alteração da Lei Eleitoral fomos capazes de fazer, continuando a dizer a mais de um milhão de eleitores que o seu voto é inútil e que essa situação não nos incomoda.

Durante os últimos 40 anos, os diagnósticos sobre as necessidades do país tornaram-se um subgénero literário. Não há conferência, relatório do Conselho Económico e Social, plano da OCDE, ou discurso do Presidente da República que não invoque a santíssima Trindade da modernização nacional: Educação, Justiça e Administração Pública. Tudo muito consensual. O problema é que o consenso

em Portugal é, muitas vezes, o prelúdio da passividade e essa passividade a longo prazo vai agravar as carências existentes em setores que até funcionavam razoavelmente bem, como a Defesa e a Segurança Pública.

Tivemos reformas em papel couché, outras em powerpoints com animações, e algumas até foram à televisão. Mas mudar, mudar mesmo, só o discurso. Permitam-me que exagere, afirmando que as reformas estruturais em Portugal são como o monstro do Lago Ness, todos falam nelas, mas nunca ninguém as viu. E mesmo quando dizemos com um toque vintage: “é preciso reformar o Estado”, dizemos, com a solenidade de quem já desistiu.

A justiça continua a ter prazos que desafiam a vida útil dos processos e a paciência dos cidadãos. O sistema fiscal, com a sua complexidade exagerada, continua a funcionar como um labirinto onde os Minotauros são as taxas e coimas, onde já nem os contabilistas se sentem confiantes. A administração pública, com exceções honrosas, continua mais apta a produzir carimbos do que soluções, apesar de ainda estar dotada de quadros especializados com conhecimento técnico que não deve ser desprezado. Na educação, discutem-se metas curriculares enquanto milhares de alunos continuam sem professores a meio do ano letivo.

Curiosamente, todos os partidos reconhecem a necessidade de reformas estruturais. Até as colocam nos programas eleitorais, entre a aposta na cultura e o apoio às energias renováveis. Mas logo que chegam ao poder, descobrem que reformar implica enfrentar interesses, desmontar privilégios e correr o risco de ser impopular. Ora, como todos sabemos, em Portugal o risco é um conceito exótico — especialmente para quem vive do voto.

Reformar é, afinal, subversivo. É dizer a um conjunto de corporações que o mundo mudou, que não basta gerir o declínio ou protelar decisões. É olhar o país com a honestidade de quem sabe que a sustentabilidade do modelo económico, ambiental e social depende de escolhas difíceis, cada vez mais difíceis. Mas, por aqui, preferimos a arte do remendo à da reconstrução. Mudam-se os nomes, criamse comissões, lançam-se agendas, planos estratégicos e promessas plurianuais que nunca coincidem com os ciclos eleitorais. Porque a verdadeira reforma, essa, é sempre adiada para depois das próximas eleições — que é como quem diz, para nunca.

O resultado está à vista: um país que avança em círculos, onde o crescimento económico é anémico, a produtividade estagnada e a confiança nas instituições, essa sim, em queda livre. Mas atenção, não nos acusem de inação: reformar, reformamos. O IVA da restauração já mudou mais vezes do que os manuais escolares. E, em matéria de reorganizações ministeriais, somos campeões europeus. Sem nunca medir o seu impacto, porque isso colocaria à vista de todos a irrelevância dessas decisões.

Portugal é, assim, o país das reformas anunciadas e das mudanças proteladas. Um país onde todos sabemos o que deve ser feito, mas ninguém quer ser o primeiro a fazê-lo. E se tivermos poder ou influência para decidir, que a reforma seja feita primeiro no quintal do vizinho. Porque reformar dói, e nós preferimos analgésicos institucionais: fundos europeus, moratórias, bazucas. Tudo serve para adiar a conversa séria. Até quando?

Quem sabe, talvez um dia surja a tão aguardada «reforma das reformas»: aquela que nos ensina a fazer o que é preciso, sem pedir licença aos ciclos políticos, sem medo dos lobbies e sem esperar por mais um relatório de uma qualquer TROIKA. Mas até lá, sigamos com o nosso talento único para a procrastinação estratégica.

Já dizia Maquiavel, “não há nada mais difícil ou perigoso, do que tomar a frente na introdução de uma mudança”. Pensem nisto.

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