REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #473

Page 1


ALGARVE INFORMATIVO

15 de março, 2025

LOURENÇO E NOA

ÍNDICE

Portugal O’Meeting em Loulé (pág. 18)

Programa DAE é um sucesso em Lagos (pág. 36)

Lagoa inaugura Centro de Distribuição e Gestão de Águas (pág. 46)

Lourenço Cartaxo e Noa Rodrigues vão ao Europeu de Ginástica Acrobática (pág. 52)

«... e vi o céu» no Teatro das Figuras (pág. 70)

«Memo» no Cineteatro Louletano (pág. 86)

Choque Frontal ao Vivo (pág. 100)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 110)

Sílvia Quinteiro (pág. 112)

Paulo Neves (pág. 114)

Maior prova de orientação em Portugal disputou-se em

Loulé este Carnaval

e 1 a 4 de março, teve lugar, no concelho de Loulé, o «Portugal O' Meeting», uma prova de orientação pedestre a contar para ranking da Taça de Portugal da Federação Portuguesa de Orientação e com duas etapas a contar para o World Ranking.

Contando com a presença de cerca de 2 mil e 400 atletas oriundos de 34 países, este evento foi aberto a pessoas de todas as idades, que participaram em vários escalões de competição ou escalões abertos, individualmente ou em grupo. A organização da edição de 2025 esteve a cargo do Club BTT Terra de Loulé, sob a égide da Federação Portuguesa de Orientação, e com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e das freguesias de Almancil, Quarteira, São Clemente, São

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Clube BTT Terra de Loulé

Sebastião e União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim.

Na semana anterior ao início da competição, houve campos de treino abertos, onde participaram centenas de atletas diariamente em São Brás de Alportel (25 de fevereiro), Tôr (26 de fevereiro), Quinta do Lago (27 de fevereiro) e no Model Event no Estádio do Algarve (28 de fevereiro). Os quatro dias de provas de competição foram divididos em sete etapas. No dia 1, de manhã, realizou-se a prova de distância Média WRE no Ludo e, à noite, um Sprint Noturno no Estádio do Algarve. No dia 2, de manhã, teve lugar no Ludo a prova de distância Longa e, à noite, um Sprint

Noturno em Quarteira. No dia 3, de manhã, disputou-se a prova de distância Média WRE junto ao Canil de Loulé e, a meio da tarde, em Quarteira, realizou-se o Pre-O Sprint. No dia 4 e último da competição, junto ao Canil de Loulé, disputou-se a prova de distância Longa –Chasing Start.

No final, durante a cerimónia de entrega de prémios, foi entregue o testemunho ao clube Ori-Estarreja que vai ser o organizador do próximo Portugal «O» Meeting que decorrerá no fim-de-semana de Carnaval, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 2026, no Município de Mira.

Programa Municipal de Desfibrilhação Automática Externa está a ser um sucesso em Lagos

Serviço de Proteção Civil e Defesa da Floresta da Câmara Municipal de Lagos deu a conhecer, no dia 10 de março, os resultados da primeira fase da implementação do Programa Municipal de Desfibrilhação Automática Externa de Lagos, numa sessão que contou com as intervenções do edil Hugo

Pereira, do Coordenador Municipal de Proteção Civil, Márcio Regino, e do CEO da Ocean Medical, Marco Castro. Para além desta apresentação e enquadramento do PMDAE, foram igualmente entregues certificados de agradecimento às entidades parceiras do programa, bem como de equipamentos DAE à Proteção Civil de Lagos, Polícia Municipal de Lagos, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana e Polícia Marítima.

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

O PMDAE de Lagos é uma iniciativa do Município de Lagos que visa melhorar a resposta a situações de emergência, nomeadamente em casos de paragem cardiorrespiratória, promovendo a segurança e o bem-estar da população, sendo o segundo maior programa do género da região algarvia, apenas atrás do seu congénere de Albufeira. Tem como objetivo principal a instalação de desfibrilhadores automáticos externos em locais estratégicos e a formação de operacionais que possam utilizá-los, de forma eficaz, com vista a aumentar as taxas de sobrevivência e diminuir os danos associados a paragens cardiorrespiratórias. “Este não é apenas um projeto, é um compromisso real com a segurança e o bem-estar da nossa comunidade. Preparar, capacitar e proteger, três missões com um único

objetivo: um Lagos mais seguro”, começou por dizer o enfermeiro Luís Bravo.

No uso da palavra, o Coordenador Municipal de Proteção Civil, Márcio Regino, lembrou que a formação dos mais de 500 operacionais foi ministrada pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagos, existindo, neste momento, 24 desfibrilhadores automáticos externos localizados em diversos espaços públicos e na própria via pública das diferentes freguesias. “A doença cardíaca isquémica é uma das principais causas de morte no mundo e, de ano para ano, notamos o aumento de ocorrências de paragem cardiorrespiratória, pelo que é importante haver cada vez mais desfibrilhadores disponíveis, bem como pessoas formadas para evitar estas

mortes. O cidadão tem aqui um papel limitado e temporário, mas primordial, porque, quando os profissionais de saúde chegarem ao local, se já estiverem a ser executadas manobras de suporte básico de vida, as probabilidades de sobrevivência aumentam bastante”, assegurou o responsável.

Quanto mais equipamentos estiverem disponíveis, e mais pessoas estiverem formadas, mais vidas se conseguem salvar, e para isso há que transmitir estes conhecimentos à comunidade, e a começar logo pelas escolas, considera Márcio Regino. “É muito gratificante vermos os agrupamentos de escolas de

Lagos a solicitarem-nos a realização destas ações de sensibilização, os mass trainings, a que se somam várias parcerias estratégicas com as forças de segurança, a Santa Casa da Misericórdia, as Juntas de Freguesia”, referiu. “Queremos uma comunidade cada vez mais resiliente e preparada para lidar com esta problemática que

não escolhe idades”, reforçou o Coordenador Municipal de Proteção Civil, acrescentando que as quatro principais escolas do concelho já estão equipadas com desfibrilhadores automáticos externos, designadamente, a Escola Júlio Dantas, a Escola Tecnopólis, a Escola Gil Eanes e a Escola Básica das Naus. “Desde que implementamos o programa, foram realizados 58 cursos de suporte básico de vida com desfibrilhação, perfazendo 392 horas de formação certificada, a que acrescem os treinos operacionais regulares”, sintetizou o responsável.

A finalizar a sessão, Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos, sublinhou que “as máquinas, sozinhas, não salvam vidas, é preciso voluntários para receberem formação adequada para as utilizar quando, infelizmente, elas são necessárias”. “Entendemos que, para o programa ser efetivamente eficaz, teríamos que arrancar em força, colocando desfibrilhadores automáticos externos nos locais onde eles são obrigatórios, mas também noutros onde se verificam aglomerados de pessoas, como as escolas e a Santa Casa da Misericórdia.

Há que agradecer a todos os parceiros que desde a primeira hora disseram «presente», mas isto só agora é que começou, para que Lagos esteja o melhor preparado possível para aquele acaso que acontece quando menos se espera. A saúde, a vida, é o bem mais precioso que temos e devemos estar prontos para auxiliar quem precisa de ajuda, e quando precisam dela”

Município de Lagoa tem novo Centro de Distribuição e Gestão de Águas

ealizou-se, no dia 5 de março, a inauguração das novas instalações do Centro de Distribuição e Gestão de Águas de Lagoa, um marco significativo no reforço da eficiência e qualidade dos serviços públicos prestados aos Lagoenses. Este novo centro representa um passo importante na modernização e centralização da gestão dos sistemas de abastecimento de água, drenagem de águas residuais urbanas e águas pluviais, bem como na melhoria do atendimento e da informação aos utilizadores dos serviços de águas e resíduos urbanos. A

obra de construção e adaptação das novas instalações teve um valor global de 578 mil e 709,69 euros, um investimento significativo que reflete o compromisso do Município com a modernização da infraestrutura e com a qualidade dos serviços prestados à população.

O Centro de Distribuição e Gestão de Águas de Lagoa assume uma série de responsabilidades essenciais para a gestão e operação dos serviços, nomeadamente: a Gestão do Sistema Público de Abastecimento de Água –Garantir o fornecimento contínuo e de qualidade de água à população; a Gestão do Sistema Público de Drenagem de Águas Residuais Urbanas – Assegurar o

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

correto tratamento e escoamento das águas residuais; a Gestão do Sistema Público de Drenagem de Águas Pluviais –Prevenir alagamentos e assegurar a drenagem eficaz das águas da chuva; a Contratação dos Serviços de Águas e Resíduos Urbanos – Gerir a contratação e os serviços relacionados; a Leitura, Processamento e Cobrança dos Consumos de Água e Resíduos Urbanos –Efetuar a leitura de consumos e proceder à faturação e cobrança; e o Atendimento e Informação aos Utilizadores – Garantir um serviço de atendimento eficiente, com informações claras e acessíveis para todos os utilizadores dos serviços de águas e resíduos. A mais-valia deste novo espaço reside na centralização de todos os serviços técnicos, operacionais e administrativos num único edifício, proporcionando uma gestão mais ágil e eficiente dos recursos e serviços prestados.

Este modelo integrado permitirá, não só uma melhor resposta às necessidades da população, como também otimizará a operação do sistema de águas e saneamento, assegurando uma gestão mais eficaz e sustentável dos serviços. E as novas instalações incluem diversas áreas que garantem a operacionalidade e a eficiência do centro, distribuídas entre o piso térreo e o primeiro andar: Centro de Controlo equipado com sistemas de telegestão, para monitorização e gestão remota dos sistemas de água e drenagem; Gabinetes Técnicos e Administrativos divididos para facilitar o trabalho das diversas equipas, com destaque para o Gabinete de Gestão de Perdas e o Gabinete de Deteção de Fugas; Área Operacional que inclui espaços para o Gabinete de Leitura de Contadores e Oficina; Espaços de Apoio

como refeitório, salas de reuniões e instalações sanitárias.

No âmbito da modernização e melhoria dos processos operacionais, a instalação das Zonas de Medição e Controlo (ZMC´s) constitui um dos maiores avanços. Estes sistemas serão responsáveis por fornecer dados em tempo real sobre o consumo de água e as condições operacionais das infraestruturas. Com esta tecnologia, será possível monitorizar, de forma eficiente, a rede de abastecimento e drenagem, permitindo uma gestão de recursos mais eficaz e a deteção precoce de anomalias, como perdas de água ou falhas no sistema. As ZMC´s serão, assim, um auxiliar fundamental na tomada de decisões mais informadas, promovendo a sustentabilidade e a eficiência do serviço prestado aos Lagoenses.

Por tudo isto, o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação, entende que “a inauguração do Centro de Distribuição e Gestão de Águas de Lagoa é um momento de grande relevância para o nosso concelho” “Este novo espaço não é apenas um símbolo de modernização, mas também um reflexo do nosso compromisso contínuo com a melhoria da qualidade de vida dos Lagoenses. Ao centralizar a gestão dos serviços de águas e saneamento, conseguimos proporcionar uma resposta mais rápida, eficaz e transparente às necessidades da nossa população, promovendo a sustentabilidade e a eficiência no uso dos recursos. Este é um passo importante para Lagoa e para todos os que aqui vivem e trabalham”, reforçou o edil.

Lourenço Cartaxo e Noa Rodrigues representam Portugal no Europeu de Ginástica Acrobática

á cerca de 15 anos que nenhum clube algarvio estava representado numa equipa ou seleção nacional de ginástica acrobática, um feito que volta agora a ser alcançado graças aos brilhantes desempenhos do par misto pré-youth Lourenço Cartaxo e Noa Rodrigues, do CEDF – Clube Educativo e Desportivo de Faro, que vão participar no 32.º Campeonato Europeu de Ginástica Acrobática a ter lugar, de 8 a 14 de abril, no Luxemburgo. Uma enorme alegria para toda a «família» do CEDF e que é o culminar de um trabalho que começou a ser desenhado, em 2021, por Telmo Dias, antigo atleta do Gimnofaro Ginásio Clube e Ginástica Clube de Loulé, finalista do Campeonato da Europa e do Mundo e agora treinador do CEDF e Selecionar Territorial do Algarve de Ginástica Acrobática. “Começamos com uma equipa infantil, todos pequeninos e, volvidos três anos e meio, termos atletas na equipa nacional, é um tremendo orgulho”, admite durante um

treino na sede do clube, na Estrada do Passeio Ribeirinho, em Faro.

Convém esclarecer que, na ginástica, a ida a uma seleção nacional funciona de forma diferente, por exemplo, do futebol. De facto, primeiro um par ou grupo tem que conseguir apurar-se para um Campeonato da Europa ou do Mundo e só depois é integrado na seleção nacional (no caso dos seniores) e na equipa nacional (nos restantes escalões).

“Qualquer atleta pode participar nos apuramentos, inscreve-se e percorre as várias etapas, mas é muito difícil cumprir com os mínimos e o lugar do ranking. Neste caso, o Lourenço e a Noa vão no escalão pré-youth, depois há os youth, juniores e seniores”, explica Telmo Dias, declarando que percebeu logo o potencial que este par tinha para dar cartas na acrobática. “É normal, de ano para ano, alterarem-se os grupos, as estratégias, os planos, porque os miúdos vão crescendo, há pares que se tornam em trios e viceversa. Este é o único par que está exatamente inalterado desde o início

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

deste projeto, a pensar que, dali a quatro anos, iriamos estar nesta luta. Claro que, na altura, toda a gente me chamava maluco, porque a Noa tinha apenas 6 anos e o Lourenço 11, e eu já estava a fazer planos para o escalão 1116”, recorda.

O certo é que os anos foram passando e os resultados demonstraram que Telmo Dias estava certo. “Foram campeões nacionais, subiram para iniciados e depois juvenis, as coisas começaram a fazer sentido e eles acreditaram cada vez mais no projeto”, frisa o treinador, acrescentando que, normalmente, aos campeonatos europeus ou mundiais vão dois pares/grupos por cada especialidade, sendo que, no caso concreto dos pares mistos pré-youth, vai um de Faro e outro de Coimbra. E porquê tantos anos sem irem algarvios a estas competições,

perguntamos ao selecionador territorial. “São precisas bastantes horas de treino, terem qualidade natural, muita dedicação e empenho e, às vezes, é também uma questão de conjuntura. Há anos em que o nível e a competição, em termos nacionais, se calhar, são maiores, mas a verdade é que desde 2010 que não havia nenhum clube algarvio neste patamar. Pode ter havido algum atleta algarvio a representar clubes de Lisboa ou do norte do país, mas, de clubes do Algarve, desde 2010 que não tínhamos ninguém”, reforça o entrevistado.

A vida dos pares mistos ou grupos masculinos é mais complicada do que nos pares ou trios femininos porque há menos rapazes a praticar ginástica acrobática e, se pensarmos em volantes, o cenário é ainda mais cinzento, aponta

Telmo Dias. Contra tudo isso têm lutado Lourenço Cartaxo e Noa Rodrigues, que agora já só pensam no Europeu do Luxemburgo. “O planeamento é completamente diferente, porque temos que saber gerir as expetativas e o esforço físico. A competição este ano começou muito cedo, pelo que o desgaste vai ser cada vez maior, e o objetivo para o Europeu é realizar os esquemas sem qualquer falha, como

aconteceu, aliás, agora no MIAC – Maia International Acro Cup, onde venceram na sua categoria”, salienta. “Se se portarem da mesma maneira, só têm é que ficar contentes. Depois, é tentar ir à final”.

Ora, fazer um esquema sem falhas não é sinónimo de medalhas, nem sequer de ir à grande final, mas Telmo Dias entende que o nível da ginástica acrobática em

Portugal está a aproximar-se, a passos largos, dos lugares da frente. “Ainda agora na Taça do Mundo de Seniores todos os grupos foram medalhados. Portugal já não é o país coitadinho que ia lá só para participar, vamos com o sonho de lutar pelas medalhas”, enaltece o treinador, que não esconde o orgulho que sente por estes jovens que acompanha já há quatro anos. “A Noa está a entrar na fase de pré-

adolescente, o Lourenço é o típico adolescente, temos que saber perceber e lidar com as situações do dia-a-dia que eles vivem e que depois podem influenciar os treinos. Quando estávamos nos infantis, a Noa, por exemplo, conseguiu fazer muita coisa muito depressa e eu tive que colocar um travão a mim mesmo. Se evoluírem demasiado rápido podem saltar etapas que depois, no futuro, podem fazer falta. E, claro, se conseguirem tanta coisa muito cedo, podem não querer mais, desmotivar-se”, comenta.

Lourenço Cartaxo e Noa Rodrigues no próximo ano passam, entretanto, a juniores, o que significa novos elementos nos esquemas, figuras mais complexas, mas Telmo Dias acredita que eles saberão lidar com tudo o que lhes apareça pela frente. “Eles têm crescido em conjunto, conhecem como ninguém os defeitos e virtudes de cada um. Às vezes há dias mais difíceis na escola, ou estão mais cansados, mas têm superado todas as dificuldades lado a lado”, observa, sorridente, adiantando que, no Campeonato da Europa, o par vai executar o mesmo esquema que levaram ao apuramento e que apresentaram na Maia. “Este escalão tem elementos obrigatórios, que são a base para se evoluir, mas é óbvio que não vamos ficar o ano inteiro a fazer sempre o mesmo. De vez em quando vamos ao cinto – um sistema de segurança para treinar dinâmicos – e a Noa já faz duplos e triplos e começa a perceber os saltos cada vez melhor”

Olhando agora para o CEDF, como é natural, o entusiasmo com este feito do

seu par misto é enorme, mas estão habituados a estas lides, nomeadamente em termos de trampolins. “O clube já tem tido muitos atletas nas seleções de trampolins, e com bastante sucesso, e a acrobática está a seguir o mesmo caminho. O clube tem ajudado imenso, inclusive na vertente financeira, porque a Federação só assume as despesas dos atletas seniores. É uma semana de competição que ronda os 1.500 a 1.700 euros por cada atleta e estamos a tentar arranjar patrocinadores para cobrir a parte que o clube não consegue pagar. No fim, serão os pais a suportar o restante, e não estamos a falar apenas de uma prova internacional por ano”, destaca Telmo Dias.

CEDF que este ano teve três grupos no apuramento, um trio pré-youth, o misto pré-youth e um par feminino youth (12-

18), que quase se apurava também. “No próximo ano letivo a base vai para a universidade, não sei se fica no Algarve, ela própria também ainda não sabe, todos os anos temos que gerir estas situações”, reconhece Telmo. “A Clara é uma aluna brilhante, tem média de 19 e 20 em todas as disciplinas, portanto, vai conseguir tirar o curso que quiser. Terá que decidir o que é melhor para ela a nível pessoal, se fica cá os três anos e depois tira o Mestrado fora, se vai logo para outra cidade. Na acrobática o futuro profissional é mais difícil porque não é modalidade olímpica, mas traz educação para a vida. O compromisso de não faltarem aos treinos, de se dedicarem, os sacrifícios que fazem quando estão doentes ou mais cansados, vão crescer com esses valores que, infelizmente, há muita gente que não os tem”, desabafa. Para já, no

entanto, é tempo de pensar no Campeonato da Europa do Luxemburgo.

“Quando recebemos a notícia, foi chorar por todo o lado, sou sincero, eu, o Lourenço, a Noa, todos os treinadores e colegas, foi uma alegria enorme.

Depois, caímos para a realidade e começamo-nos a preparar para este desafio, indo a torneios e competições para ganhar estabilidade”, conclui.

“Treinamos muito para os resultados que obtemos”

Desde os três anos que Noa Rodrigues anda no CEDF, começou no multygim antes de ir para a ginástica acrobática, e Lourenço Cartaxo teve praticamente o mesmo percurso, mas noutro clube, tendo ingressado no CEDF há quatro anos. E num instante o treinador Telmo Dias os juntou para embarcarem numa

jornada que tem sido bastante bemsucedida, mas não isenta de dificuldades. “Há dias em que a vontade de vir treinar é menor, mas já é um hábito”, admite Noa, um sentimento partilhado por Lourenço. “Às vezes gostávamos de ir com os nossos amigos a um sítio qualquer ou ficar em casa a descansar, mas já estamos acostumados a esta rotina”, garante.

Rotinas onde se incluem os tradicionais cuidados de atletas, confirma Lourenço. “Levamos uma vida igual às dos nossos amigos e colegas, mas com algumas restrições que são para o nosso bem” “Eu como o que devo comer, sei que não posso exagerar nos doces, não preciso que me digam nada”, acrescenta Noa, enquanto Lourenço confessa que nem sempre é fácil conciliar a escola com a ginástica. “Estou no 9.º ano, as

matérias são cada vez mais complicadas e tenho treinos todos os dias. Aos finsde-semana também há muitas provas e torneios, preciso aproveitar todos os momentos livres para estudar o máximo para os testes. As notas vão dando para passar”. Quanto a Noa, embora o tempo para dedicar aos estudos seja escasso, “as notas são boas”, diz.

Apoio dos colegas do CEDF não falta, garantem Noa e Lourenço, “damo-nos todos bem”, e a ajuda dos treinadores é fundamental para dominarem os exercícios. “Viemos de iniciados para juvenis de 2.ª divisão, são coisas novas, mas os esquemas têm corrido bem. Estas coreografias que levamos ao apuramento e ao MIAC já tínhamos estreado o ano passado, estamos bem rotinados”, analisa Lourenço, sob o olhar

atento de Noa, a volante que precisa ter confiança total no seu base. “Faço o que tenho que fazer e sei que ele também vai fazer a parte dele, por isso, corre tudo bem. Quando saímos do «cinto» temos algum medo a fazer as novas manobras, mas isso passa com o treino e a experiência”, assegura.

Do gostinho pela ginástica a ser campeão, a ganhar medalhas, foi um

abrir e fechar de olhos, mas Lourenço lembra que “treinamos muito para que estes resultados apareçam”. “Nas provas fazemos o que temos a fazer, como nos treinos, e depois depende também de como se apresentam os nossos adversários. Levamos isto muito a sério, mas os nossos pais, às vezes, ainda vivem isto com mais intensidade do que nós”, revela, com um sorriso. “Gritam e gritam, mas nós não ouvimos nada, não vemos ninguém. Desligamonos do que está à nossa volta, estamos sozinhos no nosso mundo”, descreve Lourenço. “A minha mãe sempre esteve ligada à ginástica, a minha irmã anda nos trampolins, eu quis vir para a acrobática, a família vive muito isto”, confirma Noa.

Sobre a ida ao Campeonato da Europa, Lourenço declara que foi um objetivo que começou a ser preparado há quatro anos. “São muitas horas de trabalho, mesmo a nível mental, porque eu e a Noa somos muito nervosos. Acho que foi merecido”, frisa Lourenço. “A Noa é como se fosse minha irmã, sei tudo o que ela gosta e não gosta de fazer. Quando está mais nervosa nas provas, digo-lhe que só temos que fazer igual aos treinos. Estarmos juntos tornou-se normal e temos os dois a mesma ambição: vencer na ginástica”, salienta Lourenço. “Gostava de ser sénior, ir a um Campeonato do Mundo, tenho muitos objetivos pela frente”, acrescenta Lourenço. “Eu, neste momento, só penso na ginástica, não sei se queria ser outra coisa no futuro”, conclui Noa.

«… E VI O CÉU» DE JOSÉ LAGINHA E MARLENE VILHENA

SUBIU AO PALCO DO TEATRO DAS FIGURAS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ntegrado no Ciclo d’outra maneira dos encontros do DeVIR, o Teatro das Figuras, em Faro, assistiu, no dia 7 de março, ao espetáculo de dança contemporânea «... e vi o céu» de José Laginha e Marlene Vilhena.

A dupla de coreógrafos e bailarinos lembra que Suleiman Baraka pôs crianças palestinianas a olhar para lá das bombas, para as estrelas, assim como «look up here, i’m in heaven» podia ter sido o haiku final de David Bowie. Contam também que o Príncipe Andrei, em «Guerra e Paz», é atingido, cai para trás e, deitado, deixa de ver a guerra, só vê o céu e as nuvens. “Não se olha nunca para trás. É isso que distingue a guerra de outras maneiras de morrer. Nuns casos diz-se adeus e, noutros, não. Na guerra, o que está dentro da pessoa tem que se atirar para a frente, como pedras. Cada um vem a ser a própria

pedra, de modo a não ter fome, não ter frio, não ter medo. A pedra é o milagre, um bailarino na batalha”, diz, por sua vez, Hélia Correia em «Um bailarino na batalha».

Segundo a produção, “olhar para além das bombas, para as estrelas, preparar o inevitável, poderá ajudar-nos a acolher de forma mais pacífica o futuro e a viver melhor o presente, mas também a apaziguar-nos, a encontrarmo-nos nas perdas e a superar a dor dos que nos deixam, celebrandoos em gestos criativos que potenciam a (nossa)vida”. “Apesar do desconforto, este é um assunto cada vez mais falado pelos profissionais de saúde. Exemplo disso é a carta que Mark Taubert, médico de cuidados paliativos, escreveu a David Bowie, ouvida na parte final deste espetáculo, e edição de 2017 do evento «Letters Live», assim como pela sociedade civil, particularmente pelos cuidadores informais, ainda tão desacompanhados. Esta temática é

também abordada, cada vez com mais frequência, pelo cinema e pelas artes, como é o caso do último filme de Pedro Almodóvar, «The Room Next Door». David Bowie preparou-se, despediu-se deixando-nos «Blackstar», onde encontramos «Lazarus», um dos temas desse disco que é tocado ao vivo no espetáculo”, explicam.

«... e vi o céu» propõe-nos uma reflexão não linear sobre a superação e a transcendência, partindo de memórias, de experiências pessoais, mas também de acontecimentos reais que nos impelem a contemplar e a celebrar a vida e a natureza, como se poderá ver em alguns dos excertos de «Supernatural», filme de Jorge Jacóme e André e. Teodósio que também integram esta criação. “A guerra, a luta por um território e até pelo mais básico são

uma realidade que se pode transmutar num projeto de superação e elevação como o do astrofísico palestiniano Suleiman Baraka, que nos desafia a olhar para além das bombas, para as estrelas”, acrescentam os criadores e intérpretes, José Laginha e Marlene Vilhena.

O espetáculo tem texto dramatúrgico de Miguel Castro Caldas, excertos de «Um bailarino na batalha» de Hélia Correia e da carta de Mark Taubert para David Bowie, assim como de André e. Teodósio, e conta com composição de música e interpretação ao vivo de José Salgado. É uma coprodução do Cineteatro Louletano e Teatro das Figuras, sendo que a DeVIR é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura / Direção-Geral das Artes.

MARLENE BARRETO LEVOU CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

LEVOU «MEMO» AO

NO DIA DA MULHER

um futuro distópico, Ewa é sequestrada por uma Ordem que apaga as suas memórias, tornand o-a vulnerável à manipulação. Sem lembranças de quem foi, ela é levada a acreditar que tem uma missão vital para a sociedade. A manipulação da memória é usada como arma para moldar a sua natureza e a manter sob controlo. Paralelamente, a Criadora Teatral – a narradora da história de Ewa – enfrenta as suas próprias dúvidas, questionando o papel da violência na sua obra e a sua responsabilidade ao perpetuar imagens de opressão. Num jogo entre a verdade e a ficção, a Criadora insere-se na trama, metaforizando a sua luta interna entre o poder de contar a história e as distorções que essa história pode gerar.

Este é o enredo de «Memo», a peça que a louletano Marlene Barreto levou ao

Cineteatro Louletano, a 8 de março, Dia da Mulher. Com texto, criação e interpretação de Marlene Barreto, consultoria dramatúrgica de Stella Faustino e revisão dramatúrgica de Clara Bevilaqua, Helena Ales Pereira, Júlia Medina e Madalena Palmeirim, a peça teve pesquisa e investigação de Angélica Vedana, Brume Dezembro, Júlia Medina, Leopoldina Fekauamãle, Luzia Oca e Stella Faustino, numa produção geral da «Mescla Associação Cultural» que teve residências artísticas no Cineteatro Louletano ( Loulé), Casa da Escada Colorida (Rio de Janeiro), Companhia Olga Roriz (Lisboa), Auditório da Biblioteca de Marvila (Lisboa) e Centro Cultural Raiano (Idanha-a-Nova) e apoio financeiro da DGArtes.

«Memo» é uma coprodução da Mescla Associação Cultural e Cineteatro Louletano, tendo apoios do CRIA –Centro de Pesquisa e Investigação Antropológica, Município de Idanha-aNova.

NOVA TEMPORADA DO AO VIVO ARRANCOU COM

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Teresa Coelho

CHOQUE FRONTAL COM JEAN CHRISTIAN

Choque Frontal ao Vivo regressou, no dia 20 de fevereiro, ao TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, para uma nova temporada conduzida por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, cabendo a primeira data a Jean Christian.

Formado em música clássica, foi com os velhos clássicos do folk canadiano que cresceu e descobriu a paixão pela música, sendo a sua vida multicultural a sua maior fonte de inspiração. Natural do Quebec, habita em Espanha, e trabalha desde 2005 em Portugal como professor no

Conservatório Regional do Algarve e contrabaixista na Orquestra do Algarve. Foi ali que conheceu Nuno Soares, Sara Cymbron, Ana Luísa Marques e João Castro, músicos com quem partilha palco no projeto «Jean Christian Et Les Reves Enfouis».

Depois de mais uma sessão de lotação esgotada no pequeno auditório do TEMPO, seguem-se, a 20 de março, Cristina Cherry, e, no dia 23 de abril, os «The Black Teddys». O Choque Frontal é um programa da Alvor FM, em que Ricardo Coelho e Júlio Ferreira são responsáveis pela realização, produção e apresentação.

Encontrei a felicidade numa caixa de Nestum (ou Neston)

uando passamos por um período de sofrimento, o algoritmo (essa misteriosa criatura que gere nossas escolhas), começa a nos empurrar pelos olhos e ouvidos adentro uma quantidade infinita de conteúdos de autoajuda, de conversas de coach, de vídeos com imagens tristes e doces, com uma música de fundo de fazer chorar as pedras da calçada e, também, se o nosso caso for de “tristeza pós-separação”, publicidade de sites de encontros. Os conteúdos, que pretendem ajudar a preencher o nosso vazio, ou a fazer-nos lembrar de que somos fortes, que tudo passa e que, todo sofrimento é uma lição deviam ser proibidos. A ideia, teoricamente, é fazer com que nos sintamos irmanados na dor – além de nós, está o mundo, ou está um mundo de pessoas que, como nós, estão a sofrer. E por isso, de acordo com as mensagens que se repetem vezes sem fim, estamos

Soy feliz

Soy un hombre feliz

Y quiero que me perdonen

Por este día

Los muertos de mi felicidad. Silvio Rodríguez

todos num longo processo de aprendizado. Gostaria, de verdade, de bater na cara de quem teve a ideia absurda, e que a conseguiu, e consegue, vender tão bem, de que o sofrimento é uma fase necessária ao nosso crescimento como seres humanos, um passo decisivo na nossa evolução. Eu quero é involuir, ficar na minha zona de conforto e não me aperfeiçoar como pessoa, se, para tal, o custo do bilhete da entrada no paraíso dos iluminados é uma temporada no inferno da angústia e da dor. Como se diz no Brasil, “me incluam fora dessa” ou melhor ainda, “me errem”. Somos, independentemente de estarmos a passar ou não por uma fase menos boa, bombardeados pela ideia de felicidade alcançável para qualquer um, basta querermos. Basta entramos no mindset indicado. Só que não – a felicidade não se encontra numa caixa de Nestum, de Cerelac, de cacau ou de café. Não é comprável e muito menos está ao alcance de nós, bastando para isso, queremos. Basta apenas sairmos do nosso cantinho escuro da dor e lutarmos, com força de

vontade e pensamento positivo, que a tal felicidade vai ser alcançada. E, aparentemente, permanecerá. A felicidade, ideia e palavra boas, é convertida num exercício de vontade - o que faz com que, a maior parte de nós, acabe por se considerar uma pessoa falhada. Como é que eu não encontro a tal da felicidade? Não serei suficientemente pró-ativo? O meu empreendedorismo falhou? Eu falhei? Nos anos 60 Guy Debord escrevia sobre a Sociedade do Espetáculo, se fosse hoje iria escrever sobre a sociedade do pensamento positivo, da autoreconstrução, da resiliência. Ou melhor, do falhanço. Porque custa tanto deixar que sejamos infelizes? Nem que seja naqueles momentos em que queremos

mesmo enfiar a cabeça num buraco e deixar o mundo passar lá fora; nem que seja nos momentos em que ser feliz não é uma opção ou escolha. Não se escolhe a felicidade como se escolhe o sabor de um gelado num dia de sol. Mas, o facto de estar a escolher um gelado num dia de sol pode, em si mesmo, trazer-nos aquela felicidade possível. A que espreita entre as frestas do quotidiano chato, da impaciência com o trabalho e com as pessoas, da nossa luta diária com a vida e pela vida. A felicidade espreita e, sem esperarmos, pode assomar. Quase sempre em dias ensolarados. Mas é possível também no inverno, nos dias chuvosos e enlameados. Ela vem como uma onda de frescura, como uma sensação indiscritível de prazer, que pode ou não perdurar, mas que nos assalta. O quotidiano nem sempre é um lugar feliz. E precisamos aprender a lidar com isso –nem tudo é surpreendente, nem tudo é bom, nem tudo é aquilo do que precisamos. Mas tudo faz parte de um grande pacote que é a vida. Não me venham esfregar na cara a felicidade impossível. Prefiro a minha felicidade caseira, às vezes comedida, mas reconfortante à felicidade por decreto.

Foto: Isa Mestre

Organizem-se!

ndo há semanas a tentar escrever uma crónica.

Sento-me todos os dias, segura de que

“é hoje” e ... nada. Umas linhas, um ou dois parágrafos, por vezes. Mas, quando vou reler, a ideia que há poucos minutos me parecia ótima já está ultrapassada.

Espera-se de uma crónica que, de alguma forma, retrate o quotidiano. Esforço-me, estou atenta, mas confesso faltar-me o fôlego para acompanhar a velocidade a que os acontecimentos se desenrolam. Não bastasse o ritmo, ainda é necessário interiorizar e procurar fazer algum sentido das imbecilidades, alarvidades e total falta de noção com que somos bombardeados de todos os lados.

Tentei escrever sobre as ameaças de tomada do Canal do Panamá, da Gronelândia e do Canadá; sobre a mudança de nome do Golfo do México; sobre o facto inédito e impensável de um Presidente americano se tornar no melhor amigo de um ditador russo ... mas ia eu a meio quando vi a Sala Oval transformada numa Pocilga Oval, o que também me pareceu um excelente tema. Abri um novo ficheiro, deitei mãos à obra, mas fui de imediato interrompida pelo som das notificações: Trump tinha

proibido o financiamento dos ratos transgénicos, convencido de que eram transgénero. Pensei que fosse uma brincadeira e ainda continuei no tema anterior mais algum tempo. E estava eu ainda a tentar assimilar a ideia dos transratos quando deparei com a imagem do racista, misógino, xenófobo e homofóbico Marco Rubio – talvez tenha sido parca em adjetivos, não hesitem, por isso, em fazer uma pausa para acrescentar alguns – com uma cruz de cinzas no meio da testa. Dizia a legenda que pretendia assinalar desta forma o início da Quaresma. Benzi-me. Que mais podia fazer?

Pensei, então, em rabiscar uma crónica intitulada “Ai, Cristo, anda cá abaixo ver isto”, o que continuou a fazer sentido por umas horas, já que se seguiu a notícia de que o governo americano ia encerrar o Departamento da Educação e abrir o da Fé. Bem visto, sim senhor. Só com muita fé e pouco conhecimento se consegue aguentar esta gente.

Cansada da loucura americana, achei que seria refrescante focar-me no nosso quintal. Afinal de contas, ainda somos um país democrático, com gente minimamente normal à frente dos nossos destinos. Isto, claro está, se esquecermos os ladrões de malas, os pedófilos e as saudações nazis no Parlamento… Bem, e já agora, se evitarmos falar em proteção de dados, em TGVs, casinos, bombas de

gasolina, campos de golfe, filhos precoces, tomar Olivença, moções de censura, moções de confiança, eleições uma vez por ano, governos que têm mais vontade de cair do que a oposição de os empurrar … Enfim, tirando esses pequenos detalhes, estamos bem melhor do que os Estados Unidos.

Desliguei a televisão e as notificações do computador. Precisava de umas horas sem notícias para conseguir digerir tanta informação; contudo, a verdade é que só termino esta crónica por pura teimosia. A minha tentativa de suspensão do tempo foi interrompida por uma chamada do outro lado do oceano. Uma amiga contame que Trump & Companhia (excelente nome para uma companhia de circo; não tão bom para o que se pretende) cortaram o financiamento do controlo da qualidade da água da rede pública e

decidiram eliminar dos registos militares todas as alusões a não brancos e gays. Sem surpresa. Já nada surpreende. Acontece que, tendo esta última tarefa sido atribuída à Inteligência Artificial, foi apagada da História, adivinhe-se, a referência ao Enola Gay. Nem transratos, nem homoaviões, pelos vistos. Podia ser anedota, tal como tudo o que aqui referi, mas, também neste caso, é pura realidade. E, às tantas, até pode ser bem visto, se pensarmos que a saída deste Gay do armário foi a única que alguma vez trouxe consequências devastadoras para a humanidade.

Senhores (des)governantes dos dois lados do Atlântico, estamos cansados.

Ganhem juízo! E, já agora: organizemse!

E agora Algarve? Paulo Neves, «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

om muito pragmatismo e ainda maior foco, parece-me que temos que nos preparar já para o próximo «período de estabilidade» governativa que, será provável, possa durar entre junho do corrente ano e até janeiro 2027. Ou seja, desde a tomada de posse do próximo governo (se for minoritário, até ao provável chumbo do seu orçamento para 2027.

Sem lamúrias, o que é “que eu pediria” ao próximo governo (e assim também, aos próximos autarcas com posse em outubro próximo) que aproveitassem(os) este tempo? Não repito o óbvio Novo Hospital Central do Algarve, pois tenho a certeza que vai acontecer em qualquer cenário governativo, dado que já poderia ter avançado em 2024 não fosse “a queda do outro” governo.

Foco na mobilidade: Entre o final de 2025 e logo o início de 2026, finalmente teremos toda a linha ferroviária do Algarve eletrificada entre Vila Real de Santo António e Lagos. Portanto, teremos já que acautelar que haverá, pela CP; simultaneamente material circulante adequado que substitua o diesel. E porque não aproveitar o lançamento do novo concurso da concessão dos transportes rodoviários intermunicipais (VAMUS) em articulação com a ferroviária, integrando já a REFER no procedimento para a gestão intermodal através da Autoridade Regional de Transportes (AMAL)? E, se por coincidência, as novas concessões municipais a concursar pudessem organizar-se eficazmente, nos respetivos cadernos de encargos, por áreas sub-regionais para garantir relações

pendulares evidentes entre o local onde se vive e onde se trabalha nas proximidades, em concelhos próximos? E se o metrobus se pudesse integrar com estes diferentes modos sub-regionais e estender-se do aeroporto, também, até antes da ponte da “praia de Faro”?

Sim, isto pode acontecer neste, provável, curto período de estabilidade que se aproxima.

Foco no desenvolvimento de oportunidades: Estamos a poucos meses de se conhecer e começar a implementar os próximos passos nos investimentos nas principais marinas, captando novos clientes e investimentos diferenciados. Talvez fosse também de integrar formas de maximizar essas oportunidades articulando já finalmente, a reorientação da pista e, portanto, o seu crescimento para garantir segurança, do aeródromo de Portimão e/ou regressar-se ao aeródromo conjunto com Lagos, atendendo ao impacto fantástico para todo o Barlavento até à Costa Vicentina e também se integrando a sustentabilidade do Autódromo Internacional do Algarve, assim como do alargamento do cais e bacia de manobras para os cruzeiros de maior porte. No lado de Vilamoura, o mesmo cuidado na fixação de equipamentos lúdicos e de suporte tecnológico de valia regional associados aos mega-iates são já fundamentais. Assim como, é imperioso apostar imediatamente nas estruturas de Proteção Civil, no mar e em terra, também aqui há oportunidades em tecnologia e conhecimento que nos colocarão no mapa de forma positiva e preventiva sobre o risco.

Sim, isto pode acontecer neste, provável, curto período de estabilidade que se aproxima.

Foco na Andaluzia e Estremadura: O eixo do mediterrâneo, nas áreas logísticas e rede de transportes neste hinterland com o Alentejo, assim como as universidades com a nossa aumentando a transferência de conhecimento; a proximidade a grandes centros produtivos agroalimentares e populacionais; os investimentos na captação, adução e rede de águas comuns, criam já uma oportunidade magnífica para a necessária massa crítica que motivará os municípios do sotavento algarvio, arrastando toda a região, a novos desafios que, a seguir, as novas pontes internacionais vão catapultar. A primeira, rodoviária, em Alcoutim, a segunda, ferroviária, que neste período serão iniciadas (para o interior) e negociada (a segunda). Sobre a primeira, escrevi propositadamente “para o interior”, sim há que atentar nesta oportunidade transversal dali, recuperando já toda a rede de distribuição da procura até ao Barranco do Velho e muito mais além.

Isto pode acontecer neste, provável, curto período de estabilidade que se aproxima.

Foco na preparação do capital humano: Estamos num caminho irreversível de afirmação de talentos que a sociedade de informação global e a cultura do cosmopolitismo a que nos habituámos e treinámos com o turismo afirma na região todos os dias. Seja por atração e fixação populacional seja por formação diversificada e de oportunidades de associação de capitais. Agora, fundamental é potenciar a transferência e distribuição de rendimentos a todos que fazem e são atores de desenvolvimento. O tempo fará com que seja inevitável suster o dumping social pela melhoria de condições transversalmente a todos. Para encurtar esse tempo, talvez seja de reequacionar modos de aplicação fiscal

derivados dos setores mais rendosos na região para se investir nas pessoas obrigando a um pacto de solidariedade nacional também com o reinvestimento.

Sim, isto tem que ser feito neste período, ou perdemos as pessoas, as oportunidades e os meios que a União Europeia ainda coloca à nossa disposição e, que parece, a muito breve trecho serão aplicados noutros desafios comuns e noutras latitudes mais necessitadas no atual contexto internacional.

Agora voz aos partidos e aos eleitores. É deixar a democracia funcionar, tratemo-la bem. Até pode acontecer que a estabilidade seja mais duradoura do que aqui prevejo e assim os desejos e pedidos possam ainda ser mais exigentes e extensos para serem melhor avaliados depois.

Foto: João Neves dos Santos

PROPRIETÁRIO E EDITOR:

Parágrafoptimista Unipessoal Lda. NIPC 518198189

GERÊNCIA: Mónica Pina

DETENTORA: Mónica Pina (100%)

SEDE:

Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil

Órgão registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782

DIRETOR:

Daniel Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924

Telefone: 919 266 930 (custo de chamada para a rede móvel nacional)

REDAÇÃO:

Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil

Email: algarveinformativo@sapo.pt

PERIODICIDADE: Semanal

CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO:

Daniel Pina

FOTO DE CAPA:

Daniel Pina

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve.

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores.

A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão.

A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica.

A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais.

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos.

A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas.

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.