REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #417

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ALGARVE INFORMATIVO 30 de dezembro, 2023

CONTRAPESO 1 44.º ANIVERSÁRIO DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE | BETO KALULU | FESTIVAL ALGARVE INFORMATIVO #417 MARC NOAH | MINISTRO DA CULTURA VEIO A LOULÉ PARTICIPAR NOS CENÁRIOS DO FUTURO


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ÍNDICE Ministro da Cultura em Loulé (pág. 16) 44.º aniversário da Universidade do Algarve (pág. 22) «A que cheira a liberdade?» do VATe (pág. 36) Festival do Contrapeso - parte III (pág. 54) Beto Kalulu no Auditório Carlos do Carmo (pág. 70) Marc Noah no Choque Frontal ao Vivo no Teatro Municipal de Portimão (pág. 82)

OPINIÃO Ana Isabel Soares (pág. 94) Júlio Ferreira (pág. 96) João Ministro (pág. 100) Alexandra Rodrigues Gonçalves (pág. 102)

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Ministro da Cultura foi a Loulé para participar nos «Cenários Futuros» do Teatro Nacional D. Maria II Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, esteve em Loulé, no dia 15 de dezembro, para participar no debate «Políticas Culturais – escalas e desafios para a coesão territorial», com moderação de Rui Catarino, presidente do Teatro Nacional D. Maria II, e que contou também com a participação, no ALGARVE INFORMATIVO #417

painel, dos presidentes da CCDR Algarve, José Apolinário, e da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo. Numa época de descentralização de competências do Estado Central, o desígnio da coesão territorial, considerado no contexto das políticas culturais, tem gerado alterações significativas às escalas nacional, regional e municipal. Por outro lado, o reconhecimento da assimetria no acesso 16


à participação cultural por parte das populações leva à necessidade da promoção da diversidade e inclusão e à procura de ferramentas eficazes (incluindo, mas não só, a dimensão orçamental). O debate foi um entre vários que tiveram lugar, nos dias 15 e 16, integrados no programa «Cenários Futuros» da Odisseia Nacional, do Teatro D. Maria II. Esta coprodução com o Município de Loulé propôs uma reflexão sobre as várias escalas das políticas públicas e do aparelho institucional, destacando a importância de uma visão integrada que considere as especificidades culturais das regiões e dos municípios. Em Loulé, nos dias 14,15 e 16 de dezembro, vários espaços da cidade 17

receberam de braços abertos o Teatro Nacional D. Maria II para um programa recheado de surpresas, sob o mote «Pensar o País, através do Teatro». Do programa fizeram parte debates, mesasredondas, conferências várias e espetáculos, como foi o caso, no dia 15, de uma reflexão sobre o Alentejo e o Algarve, um Fórum na Escola Secundária de Loulé, um debate sobre a criação artística no Algarve e um mencionado sobre o impacto das políticas culturais na coesão territorial, com a presença do Ministro da Cultura. No dia 15 de dezembro houve ainda espaço e tempo para a apresentação de projetos, envolvendo a presença de três programadores culturais do sul do país, Dália Paulo (Câmara Municipal de Loulé), ALGARVE INFORMATIVO #417


Gil Silva (Teatro das Figuras, Faro) e Pedro Barreiro (O Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo), para se discutir as metodologias, missões e interesses das estruturas que representam. No dia 16, a sede da Filarmónica Artistas de Minerva acolheu várias mesas-redondas, sobre a Infância, Adolescência e Juventude, ao passo que a Secundária de Loulé recebeu o Fórum Comunidade, juntando estruturas culturais, associações cívicas, empreendedores e outros agentes de 24 concelhos do Alentejo e Algarve, para uma reflexão sobre o futuro do país até 2050. Da parte da tarde, novo debate, desta vez sobre Cultura e Educação, abordando as relações entre cultura, arte e educação na formação dos cidadãos/cidadãs do amanhã. ALGARVE INFORMATIVO #417

No dia 16 de dezembro realizou-se também uma Conferência-Performance, uma performance de tributo ao poeta norte-americano Walt Whitman («Canto a Whitman», na Casa da Mákina) e uma Leitura Encenada, com «Viagem por mim Terra», também na Casa da Mákina, em Loulé. Do programa do «Cenários Futuros» fez ainda parte a peça internacional «La vie invisible», de Guillaume Poix, numa criação e encenação de Lorraine de Sagazan, no Cineteatro Louletano no dia 15, peça precedida, no dia anterior, pelo lançamento do livro homónimo, no Palácio Gama Lobo .

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Reitor da UAlg pede mais justiça na distribuição do Orçamento de Estado e aponta o alojamento como principal barreira para os estudantes deslocados Texto: Daniel Pina| Fotografia: Universidade do Algarve or ocasião do 44.º aniversário da Universidade do Algarve, para além da celebração e do reconhecimento, o reitor Paulo Águas ALGARVE INFORMATIVO #417

considerou importante fazer balanços e perspetivar o futuro próximo, centrando o seu discurso em três grandes pilares: Ensino, Investigação e Recursos. O reitor apontou o preço do alojamento na cidade de Faro como o principal travão à captação de estudantes deslocados e 22


prometeu continuar a pugnar por mais justiça na distribuição das verbas do Orçamento de Estado. Na sessão solene, que se realizou no dia 13 de dezembro, no Grande Auditório Caixa Geral de Depósitos, no Campus de Gambelas, o reitor iniciou o seu discurso começando pelo Ensino, a primeira das missões da Universidade. A título de exemplo, mencionou alguns dados importantes: em 2022/23, o número de estudantes, incluindo 320 de mobilidade, ultrapassou os 10 mil, mais 4,7 por cento do que em 2021/22 e mais 33,9 por cento do que o registado em 2015/16. De referir ainda que “em 2022/23, pela

primeira vez, o número de estudantes estrangeiros foi superior a 2 mil, mais precisamente 2 mil e 175,

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distribuídos por 101 nacionalidades, igualmente o maior número de sempre”. O reitor assegurou que a UAlg continuará a trabalhar para prosseguir esta trajetória e alcançar os 3 por cento dentro de dois a três anos, sendo que a médio prazo terá de se aproximar dos 4 por cento, de modo a aumentar o seu contributo para a qualificação da região. Para tal, acredita que “será

fundamental expandir a atividade da UAlg no Barlavento do Algarve, o que exige a concretização do projeto já iniciado para o desenvolvimento de novas infraestruturas em Portimão”. Para além do crescimento do número de estudantes, Paulo Águas destacou o aumento do número de diplomados que

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nos últimos dois anos se aproximou-se dos 2 mil /ano, quase 40 por cento acima dos registos de cinco anos antes. Nesta trajetória, o reitor evidenciou a importância dos Programas Impulsos, financiados pelo Programa de Recuperação e Resiliência, que permitiram mobilizar aproximadamente dois milhões de euros para aquisição de equipamentos destinados a atividades de ensino. Além disso, através do PRR está a ser possível mobilizar recursos para modernização das condições de ensino, e, entre outros aspetos, também estão a ser melhoradas as condições de alojamento para os estudantes deslocados, em particular os bolseiros.

“Em 2023 foi possível proceder à renovação de três residências, totalizando 237 camas, ALGARVE INFORMATIVO #417

representando um investimento de 4,4 milhões de euros, sendo que à data o financiamento assegurado ainda não ultrapassa os 2,4 milhões de euros. Em 2024 pretendemos proceder à renovação de mais 195 camas e iniciar a construção de duas novas residências que acrescentarão mais 287 camas às 550 existentes”, indicou. Todavia, o reitor está convicto de que

“o aumento da oferta de alojamento social em mais de 50 por cento % não será suficiente para fazer baixar de forma substancial a principal barreira que os estudantes deslocados enfrentam para frequentar o 24


ensino superior: o custo do alojamento”. De acordo com dados do Observatório do Alojamento Estudantil, o preço médio por quarto em Portugal aumentou 25,7 por cento entre setembro de 2021 e setembro de 2023, de 268 para 337 euros. No caso da cidade de Faro, no mesmo período, o preço médio por quarto aumentou 40 por cento, de 250 para 350 euros. Para Paulo Águas, o preço do alojamento na cidade de Faro constitui o principal travão à captação de estudantes deslocados. “Se é certo

que o ensino superior é uma responsabilidade do poder central, é indiscutível o seu impacto nas localidades onde as instituições desenvolvem a sua atividade. A UAlg tem contribuído para transformar o Algarve e, em

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particular, a cidade de Faro. É cada vez maior o número de municípios, começando pelo de Lisboa, que têm vindo a contribuir diretamente para o aumento da oferta de alojamento para estudantes a preços moderados”, sublinhou. Sobre a atividade de Investigação & Transferência, para o período de 2022 a 2025, o plano estratégico fixou como objetivo um valor médio anual de execução de 10 milhões de euros, +16,6 por cento face ao quadriénio anterior, em atividades classificadas nas seguintes tipologias: apoio à comunidade e extensão científica; transferência de tecnologia; projetos institucionais; formação pós-graduada; prestação de serviços; investigação e

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desenvolvimento; e unidades de investigação. Em 2022, explica o reitor,

“a execução ultrapassou os 14 milhões de euros, sendo que até outubro de 2023 estávamos com um crescimento homólogo de 5,7 por cento”, constatando ainda que “tem vindo a aumentar, bem acima do previsto”. Ciente de que muitas vezes rigor é erradamente associado a restrições, a «cortes cegos», a «apertar do cinto», o reitor adverte que o rigor dos últimos seis anos irá manter-se até ao final do mandato, em 2025. Frisa ainda que o

“rigor é o principal responsável pela execução orçamental de 2023 que poderá atingir os 70 milhões de euros, que compara com os ALGARVE INFORMATIVO #417

60,5 milhões executados em 2022 e os 55 milhões executados em 2018”. “Em 2023, a massa salarial irá crescer acima dos 7 por cento, o que deverá voltar a acontecer em 2024”, revelou. Admitindo que o rigor foi o responsável por muitas das decisões e das medidas tomadas, Paulo Águas não tem dúvidas de que “hoje somos mais eficientes”, exemplificando: “Com os

mesmos recursos conseguimos ter mais estudantes, mais diplomados, mais projetos, mais investigação e mais impacto na comunidade”. Mas em dia de celebração, o reitor não esqueceu a tutela, para quem a UAlg continua a ser ineficiente, pois a atividade de Ensino 26


apenas justifica 85 por cento da dotação do Orçamento de Estado. “Somos nós

e a generalidade das instituições até 10 mil estudantes que têm vindo a ser erradamente referidas como as instituições que vinham sendo beneficiadas na distribuição das verbas do Orçamento de Estado”. As regras de distribuição das verbas do OE baseiam-se nas economias de escala, o que conduziu, na opinião do reitor, a que “entre 2022 e 2024 a

percentagem do Orçamento de Estado destinada à UAlg tivesse baixado de 3,18 para 3,06 por cento, e que continue a baixar nos próximos anos se a metodologia aplicada pelo XXIII Governo Constitucional, que se encontra em funções de gestão, vier a ser prosseguida pelo próximo Governo”. “O que nos resta fazer?”, questiona. “Continuar a pugnar por mais justiça na distribuição das verbas do Orçamento de Estado”.

A realidade cultural, social e económica do Algarve e de Portugal têm beneficiado, inequivocamente, da atividade da UAlg Ana Jorge, na sua intervenção enquanto presidente do Conselho Geral, recordou 27

que a UAlg “ao longo dos seus 44

anos, tem vindo a fazer, um percurso notável e tem-se imposto na Academia nacional e a nível internacional”. “Desígnio cumprido, porque a Universidade do Algarve é hoje uma referência e um motor de grande desenvolvimento”, salientou, referindo-se à importância de a UAlg integrar a Aliança Europeia de Universidades desde o início de 2023, a Universidade Europeia do Mar (SEA-EU). Na sua opinião, “a construção de

um espaço universitário europeu, radicado em nove contextos próximos pela sua identidade patrimonial marítima, da Ria Formosa aos mares da Noruega e das costas polacas ao Mediterrâneo, e a ligação a parceiros de outras partes do mundo é, hoje, também um desígnio da Universidade do Algarve”. Para a presidente do Conselho Geral, “a realidade cultural, social e económica do Algarve e de Portugal têm beneficiado, inequivocamente, da atividade da Universidade do Algarve em todas as suas áreas de intervenção, sejam elas de formação, de investigação e de transferência ou de interação com a comunidade, constituindo mesmo um dos bons exemplos desta interação no País”.

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Em representação dos funcionários não docentes, Celeste Garcia agradeceu a todos os que a ajudaram nesta etapa e a oportunidade de contribuir e deixar um pouco do seu saber. “Termino hoje

uma experiência feliz nesta casa que me acolheu durante tantos anos. Aqui me tornei um melhor ser humano, competente e responsável”. Já Rita Tavares,

seu primeiro discurso, comprometeu-se a trabalhar em estreita colaboração com todos os agentes educativos. Para a representante dos estudantes, a UAlg é o pilar fundamental do desenvolvimento regional, a força motriz da economia, da cultura e do progresso. Rita Tavares focou alguns aspetos que ajudariam a melhorar a vida dos estudantes e da própria comunidade académica, nomeadamente as infraestruturas para a prática desportiva e o melhoramento das

presidente da Associação Académica, no ALGARVE INFORMATIVO #417

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acessibilidades, como a linha férrea e a implementação do metro bus. Em representação dos docentes, Efigénio Rebelo, da Faculdade de Economia, centrou a sua intervenção nos resultados financeiros dos últimos anos. Na opinião do docente, os bons resultados alcançados devem-se

“fundamentalmente ao dinamismo da instituição e à sua governação, mobilizadora e 29

respeitadora das autonomias das unidades orgânicas e dos centros de investigação, estatutariamente consagradas, e assente num bom relacionamento institucional com as unidades funcionais, com os serviços, com a estrutura representativa dos estudantes, mas também com os restantes stakeholders da instituição, designadamente a CCDR, as ALGARVE INFORMATIVO #417


câmaras municipais, os restantes organismos regionais, as ONG, as empresas e associações empresariais e a nossa comunidade Alumni”. Na opinião de Efigénio Rebelo, “a bem-sucedida implementação de uma cultura organizacional baseada na motivação, no sentimento de pertença e na coesão interna, com igual valorização dos dois subsistemas, dos diferentes níveis de formação e tipos de investigação e com a valorização da responsabilidade social da Instituição, permitir-nos-á fazer mais e melhor, assegurando a ALGARVE INFORMATIVO #417

sustentabilidade dos nossos saldos”. Entretanto, foi entregue, pela segunda vez, o Prémio Investigador UAlg, uma dotação no valor de 5 mil euros que visa distinguir e reconhecer publicamente o investigador da Universidade do Algarve que pelo trabalho desenvolvido na área da investigação científica se destacou a nível nacional e internacional. Jorge Manuel Ferreira de Assis, investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), foi o grande vencedor, de entre as 14 candidaturas recebidas. Durante a cerimónia foram ainda homenageados os primeiros docentes e funcionários da UAlg, e entregues as medalhas da Universidade aos funcionários que completam 25 anos de serviço. 30


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Em dia de comemorações foram também anunciados os vencedores do Orçamento Participativo. Em 2023, a Universidade do Algarve colocou à disposição da comunidade académica 80 mil euros a favor de projetos que melhorem o bem-estar da comunidade. A UAlg foi a primeira universidade portuguesa a dinamizar um orçamento participativo para toda a instituição, com 40 mil euros para estudantes e 40 mil euros para funcionários docentes, nãodocentes e investigadores. E os estudantes viram selecionadas duas das suas propostas: «Espaço de Convívio, Estudo e Alimentação», com um financiamento de 9 mil e 337,22 euros; e «Instalação de mobiliário urbano», com um orçamento de 30 mil e 662,78 euros. De entre as propostas de funcionários ALGARVE INFORMATIVO #417

docentes, não-docentes e investigadores, e com um financiamento de 40 mil euros, a vencedora foi «Seguimos Juntos! Apoio psicológico na transição para o Ensino Superior». Por se tratar de uma proposta imaterial, será também executado o projeto «Captação de Recursos Externo para o OP-UAlg». Durante a cerimónia foram ainda entregues os seguintes prémios: Prémio Ensino Aprendizagem – Professor do Ano distinguido pelos Estudantes; Prémio Boas Práticas da UAlg; e, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, o Prémio Universidade do Algarve aos diplomados com mérito no ano letivo de 2021/22. A sessão contou com dois momentos musicais pelos Suricata, uma fusão entre Fado, Jazz e Blues . 32


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«A QUE CHEIRA A LIBERDADE?» É O NOVO ESPETÁCULO DO VATe Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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espetáculo «A que cheira a Liberdade?» do VATe – Vamos apanhar o teatro da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve pretende assinalar uma data que marcou profundamente o nosso país, designadamente, o 25 de abril de 1974. Isto porque, em 2024, faz 50 anos que um golpe de estado deu lugar a uma revolução que mudou para sempre a vida de milhares de portugueses. Os livros «O 25 de abril contado às crianças… E aos outros» de José Letria, «O Tesouro» de Manuel António Pina e «Era uma vez o 25 de abril» de José Fanha servem de inspiração para esta viagem à história de Portugal, criada e encenada por Jeannine Trévidic e com interpretação e manipulação a cargo de Carolina Maio e Luís Campião. ALGARVE INFORMATIVO #417

Em cena está um baú e do baú saem outros baús, caixas, malas, música, livros e jornais, memórias de um tempo, vozes de esperança. Neste espetáculo, que é um poema, os atores recorrem à interpretação, manipulação de objetos, teatro de sombras e são também eles poetas à procura da sua voz. «A que cheira a Liberdade?» abraça todas as gerações e todos os sentidos, tendo sido fundamental, durante a sua criação, revisitar o conceito e a palavra «liberdade», o que significava antes e o que significa hoje. Com direção de produção de Luís Vicente, a construção da cenografia e dos objetos e bonecos é de Nuno Silvestre, com construção e pintura de Jeannine Trévidic e Nuno Silvestre, desenho de luz de Octávio Oliveira e operação de luz e som de Adriana Pereira . 38


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TERCEIRA EDIÇÃO DO FESTIVAL CONTRAPESO COM SALDO MUITO POSITIVO Texto: Daniel Pina| Fotografia: João Catarino

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Festival Contrapeso foi a cena, em Loulé, de 30 de novembro a 3 de dezembro, com um programa de teatro, jazz, cruzamentos disciplinares e várias ações de mediação, como workshops e masterclasses, abrangendo diferentes públicos e temáticas, desde a emigração contada pelo prisma de quatro clowns, à eutanásia ou à ciganofobia, passando pelo revisitar de nomes incontornáveis do jazz mundial à criação de música original a partir de poesia. «Gerações» foi o tema da terceira edição deste evento da responsabilidade da Mákina de Cena, que este ano ALGARVE INFORMATIVO #417

contemplou sete espetáculos e duas formações em seis espaços de Loulé (Cineteatro Louletano, Auditório do Solar da Música Nova, Casa da Mákina, Tempo das Artes, Palácio Gama Lobo e Conservatório de Música de Loulé), reunindo artistas portugueses consagrados e emergentes. O Festival arrancou, no dia 30 de novembro, com o espetáculo «Selvagem», de Carolina Santos e Marco Martins, que também assumem a função de diretores artísticos deste festival, e que, usando voz e baixo, cruzaram a poesia de Salvador Santos com as composições originais de Marco Martins. Este espetáculo, uma estreia nacional, contou ainda com participação de músicos como João Paulo Esteves da Silva e Alexandre Frazão, No dia seguinte, a Companhia 56


Nariguda apresentou no Cineteatro Louletano o espetáculo «Adiante», protagonizado por palhaças que conduzem o espetador numa viagem pelas narrativas do sonho e da poética que definem a simbologia da escada. À noite, no Solar da Música Nova, o espaço destinado à programação musical do festival, João Barradas, um dos mais conceituados e amplamente reconhecidos acordeonistas europeus da atualidade, foi responsável por um inesquecível concerto a solo de acordeão jazz. A Oficina de Ideias das Terras do Oeste (OITO) trouxe, no dia 2 de dezembro, «O Infinito Estrangeiro» e, mais tarde, o contrabaixista Nelson Cascais apresentou-se em quinteto no Auditório do Solar da Música Nova com um tributo a um dos mais importantes músicos norte americanos do século XX, Charles Mingus .

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LAGOA RECEBEU CONCERTO DE CONSAGRAÇÃO DE BETO KALULU Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ricardo Coelho

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Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, foi palco, no dia 9 de dezembro, de «Celebrando a Vida – Concerto de Consagração Beto Kalulu», que serviu para celebrar a carreira deste carismático músico. O espetáculo multifacetado apresentou um repertório revitalizado, novos arranjos e músicas inéditas, seguindo a cronologia musical da carreira do percussionista. Acompanhado por músicos de excelência e diversos convidados ALGARVE INFORMATIVO #417

internacionais, dançarinos e recursos multimídia, o concerto proporcionou uma experiência envolvente e emocionante a todos os presentes, entre os quais muitos amigos que não quiseram perder este momento de celebração. E, ao longo do espetáculo, um narrador foi partilhando curiosidades e introduções cativantes sobre a vida e a carreira do músico que neste dia comemorou precisamente mais um aniversário. Um espetáculo com casa cheia que celebrou a vida e a carreira de Beto Kalulu, um ícone da música do Algarve e de Portugal . 72


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MARC NOAH ESGOT «CHOQUE FRONTAL A Texto: Daniel Pina| Fotografia: Vera Lisa

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TOU ÚLTIMO AO VIVO» DE 2023

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asa cheia no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, no dia 13 de dezembro, para assistir ao derradeiro «Choque Frontal ao Vivo» de 2023, desta feita com o cantor Marc 85

Noah. O programa da rádio Alvor FM da responsabilidade de Ricardo Coelho e Júlio Ferreira encerrou da melhor forma mais um ciclo, num espetáculo em tons natalícios e que teve um pendor solidário em prol da Santa Casa da Misericórdia de Alvor. O programa regressa agora, a 25 de janeiro, com Luís Capitão . ALGARVE INFORMATIVO #417


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Octogésima nona tabuinha - Grand Rex Ana Isabel Soares (Professora) a primeira vez que vi Paris, era o ano de 2001. Tive a sorte de ser guiada por dois cicerones que estudavam a sociedade francesa de épocas diferentes, dois grandes professores em muitos sentidos da palavra professor: o primeiro (responsável, aliás, pelo convite que ali me levou), François Poirier (1947-2010), dedicava-se a estudar movimentos políticos, centrando-se num olhar sobre a sociedade, ideais revolucionários e sindicalismo na Europa do século XX, sobretudo na Grã-Bretanha e em França. No próprio dia em que aterrei em Paris pela primeira vez, levou-me a conhecer aquele que continua a ser um dos meus lugares favoritos (como o é de tanta gente), a Place des Vosges, uma antiga Praça Real, construída e inaugurada no começo do século XVII, onde ainda este ano me perdi – no mais perfeito dos sentidos – numa loja de chás. O outro professor e guia foi Jean-Pierre Vallat (1951-2021), especialista em estudos sobre a época romana, sobretudo da área onde hoje se pisa a Cidade-Luz, que me foi apresentado por Poirier e, muito generosamente, tentou ensinar-me o que havia, ali pelos séculos III ou II antes da era cristã, em alguns lugares do centro de Paris. Bem tentou, e ainda começámos um passeio largo, que ALGARVE INFORMATIVO #417

deve ter começado por alturas do Boulevard Haussmann, em linha reta pelo Boulevard Montmartre, onde Vallat se entusiasmava a contar-me dos feitos de tempos antigos, quando, entrada pelo Boulevard Poissonnière, o meu olhar me devolveu o pensamento não àquele começo de século XXI, mas a uns anos antes do final do século XX e à minha memória de um filme que continuava (continua) a inquietar-me e a entusiasmar-me. À nossa frente, enquanto Vallat falava de cenas que em mim sugeriam imagens de bandas desenhadas de Goscinny e Uderzo, a ocupar toda a esquina de um edifício cuja curva cerrava duas avenidas, erguia-se um cartaz em vários tons obscurecidos e alaranjados: uma selva cerrada na parte inferior, fendida de alto a baixo pelo brilho de um fio de água, com um aro imenso de sol a pôr-se e a contaminar de laranja toda a parte superior, atravessada por nuvens e salpicada pelo que, a um segundo olhar, se percebia serem helicópteros. Em baixo, uma sequência de letras brancas, anúncio chamativo, davam a ler «Apocalypse Now» (que, além da imagem, reconheci de imediato) e «Redux» (a novidade). Além de Cannes, estreava em Paris, naquela semana, em duas salas históricas, a versão que Francis Ford Coppola refizera com material que não integrara no filme que, em 1979, levara ao Festival da Croisette (e com o qual conquistar a Palma de Ouro). Qual romanos, qual Praça de Vosges, quais 94


Foto: Vasco Célio

sindicalistas! Muni-me de mais compadecido e grato olhar, virei-me para o querido Jean-Pierre e disse-lhe, sem qualquer margem para discussão, que a nossa visita terminava ali, pois um compromisso inesperado me tomava: tinha de entrar no Grand Rex, procurar um bilhete, e ver a próxima sessão. (O que aconteceu lá dentro fica para a primeira crónica de 2024. Boas entradas!). 95

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“Maldeçoade Partide Même Maline!” Júlio Ferreira (Inconformado encartado) sta noite tive um sonho daqueles bons… Pensando bem, foi um sonho, mais ou menos. É melhor começar «isto» com: “Esta noite tive um pesadelo!”. Não pensem já em javardice. Em coisas que envolvam algemas, chicotes, mel, etc… remetendo-nos de imediato para um universo de potencial deboche com forte conotação sexual. Nada disso! Até porque, não sei se já vos tinha dito, que eu sou mais de missas. Mas comprovadamente sabem, pelo que escrevo aqui, que sou exímio na superação dos meus limites de parvoíce. Isso ninguém me tira! Vamos ao que interessa: neste pesadelo, encarnei «Dante» e, em vez de poeta, escritor, teórico literário, filósofo moralista e pensador político, no meu pesadelo eu era candidato pelo partido MPMM (Maldeçoade Partide Même Maline) às eleições legislativas de 10 de março de 2024. Um partido de cariz regional, a desejar ardentemente participar naquelas intermináveis, inconsequentes, bacocas, provincianas e estupidificantes discussões na Assembleia da República. Sem demagogias temos previsto acabar com as segundas-feiras e outras sete medidas, originais. Batizei como: «A Divina Comédia», ninguém se lembraria disto, e será perfeito para Portugal: ALGARVE INFORMATIVO #417

1. Baixar índices de Soberba É verdadeiramente fascinante habitar numa nação que vive constantemente em crise e perceber que os produtos de luxo atingiram níveis de venda estratosféricos em Portugal. O mercado global de produtos de luxo no nosso país alcançou, em 2021, uma faturação recorde de 288 mil milhões de euros, segundo a consultora Bain, e que, em 2023, a marca de carros mais vendida em Portugal foi a «Tesla» cujo modelo mais barato custa a módica quantia de 50 mil euros. A propósito, se o objetivo é brilhar na vaidade, talvez seja justo impor: por cada capricho de luxo adquirido acima de um valor estipulado, o comprador teria a honra de depositar uma quantia correspondente na nossa querida Segurança Social. Com isso, quem sabe, poderíamos finalmente garantir que os reformados não teriam que fazer malabarismos para colocar comida na mesa. Uma forma elegante de equilibrar a equação da extravagância e da solidariedade social. 2. Tributar a Inveja Nesta novela de duvidosa qualidade, há um excedente generoso de «inveja» que se solidificou a ponto de se tornar um componente vital da nossa rica cultura nacional, a par do galo de Barcelos ou das esculturas oriundas das Caldas da Rainha. 96


que sucumbem à «inveja» serão gentilmente convidados para arcar com a responsabilidade do pagamento de impostos, enquanto os imunes a essa praga ficam agraciados com a isenção fiscal. 3. Proibir a Ira

A «inveja» destrutiva da maioria dos nossos compatriotas em relação aos outros funciona como uma barreira para o progresso, nivelando todas as oportunidades por um patamar bem modesto. Imagine-se canalizar para fins construtivos toda a energia que os portugueses gastam a lixar diária e paulatinamente outros portugueses, e teríamos um país a sério, e não um rectangulozinho complexado que se autodenomina o «cu da Europa». Aqueles 97

Manifestações violentas contra pessoas e bens e outras exibições espetaculares de Ira poderiam ser resolvidas de forma simples. Os membros detidos seriam gentilmente requisitados para campos de reabilitação rodoviária ou da agricultura nacional, que, coitada, anda pelas ruas da amargura por conta dos pecados do passado. Assim, enquanto aram a terra ou alcatroam estradas, podem refletir sobre como as colheitas de indignação podem ser mais bem aproveitadas para o bem comum. Uma abordagem agrícola/rodoviária para lidar com o excesso de ira! Façam mais amor e menos guerras e também a natalidade vai aumentar. 4. Banir a Preguiça Neste cantinho à beira-mar plantado?! E uns séculos após os descobrimentos, ainda sofremos da persistente síndrome do «além-mar». Ora nos indignamos contra Trump, destilamos amargura contra Putin, organizamos ALGARVE INFORMATIVO #417


manifestações, pintamos edifícios e cortamos estradas em nome do ambiente. No entanto, quando se trata de levantar o rabiosque para votar, aí a coisa complica. O Tuga, pratica os discursos, solta a revolta, despeja memes, incendeia redes sociais, acumula calos nos dedos por causa dos tweets, torna-se um especialista em tudo, mas, curiosamente, nunca entra em campo para jogar... digo, votar (nem que seja em branco). A reivindicação de sofá raramente dá frutos… Para aqueles que abraçam a Preguiça seletiva, como uma filosofia de vida, propomos que embarquem não sei bem para onde, mas a estadia prolongada é inteiramente permitida, com retorno autorizado daqui a, digamos, 10 anos. 5. Penalizar a Avareza Segundo Dante, a avareza perfilha sete filhas que requerem medidas excecionais em forma de supositórios dez vezes ao dia: a traição, a fraude, a mentira, o perjúrio, a inquietude, a violência e a dureza de coração. Para os restantes… para os ilustres ocupantes dos corredores do poder e os órgãos do Estado. A ideia é simples e encantadora: cada vez que uma dessas geniais «medidas governamentais de contenção» for implementada, ela terá um efeito vitalício sobre os membros do governo e seus descendentes. Nada como garantir que a herança da sabedoria política seja compartilhada de maneira tão generosa, criando uma tradição. E, quem sabe, talvez assim o país atinja o nirvana da contenção orçamental! 6. Eliminar a Gula ALGARVE INFORMATIVO #417

O alvoroço em torno da obesidade infantil atinge proporções épicas, com medidas histéricas sendo criadas para enfrentar essa ameaça. No entanto, o problema desta epidemia não está nas crianças, mas nos seus pais e nos seus avós, que desenvolveram um apetite insaciável nos anos dourados dos fundos comunitários europeus. Depois do PRR, parece que a festa vai acabar. Proponho uma dieta especial para os glutões que forem apanhados: um regime rigoroso que consiste no recebimento compulsivo do ordenado mínimo nacional por um próspero período de 20 anos. Depois de todo este pesadelo, e quando iam surgir na minha cabeça as medidas para a «Luxúria», aquela que impossibilita o homem de viver a castidade no corpo, nos pensamentos e nas atitudes, não sei porquê, acordei sobressaltado e aos gritos. Não consegui voltar a adormecer, com o barulho do queijo da serra que me ofereceram no natal. Já agora, há dias que só ouço gente simpática a desejarme «boas entradas». Epá, eu até percebo a ideia, mas caramba… isso lá é coisa que se deseje a alguém!? Terão a noção de que tenho espelho em casa!? Saberão vocês a luta que tenho travado para que este cabelinho se aguente mais uns tempos!? Mas se é da passagem de ano que falam, sejam claros. Desejem um «Feliz Ano Novo», que eu aceito com muita alegria e coragem, embora as resoluções de Ano Novo sejam como o coelhinho da Páscoa ou a fada dos dentes. Não existem, mas fingimos que sim e está tudo bem. Até porque 2023 não deixa saudades nenhumas. BOM 2024! . 98


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Je Suis Doñana (et Algarve) João Ministro (Engenheiro do Ambiente e empresário) inesperado aconteceu. Pela primeira vez uma das principais áreas naturais da Europa perdeu um dos galardões de maior prestígio mundial devido à má gestão governamental daquele espaço1. A grave seca por que atravessa o Parque Nacional de Doñana e, em particular, a má gestão dos recursos hídricos naquele território, levou a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) a excluí-lo da Lista Verde das áreas protegidas. A penalização é exemplar e revela que algo não vai bem. Uma equipa de peritos avaliou durante anos a gestão em prática naquela reserva ecológica e concluiu que muitos dos critérios essenciais para a sua inclusão naquela listagem não foram cumpridos, nomeadamente no que respeita à gestão da água, elemento vital na preservação daquele ecossistema. A extração sem precedentes de água de aquíferos para utilização na agricultura intensiva ampliou de tal forma os impactos da seca que hoje apenas 2 por cento da zona húmida ainda mantém água. As consequências são óbvias: perda acentuada de biodiversidade, habitats naturais degradados, solos expostos e erodidos, entre outros aspectos, incluindo económicos e sociais. Os alertas foram surgindo ao longo de vários anos, mas a inoperância e/ou cumplicidade do ALGARVE INFORMATIVO #417

governo Andaluz para com o forte lobby agrícola conduziu a este desfecho. As medidas tardias e inconsistentes, nomeadamente perante o regadio ilegal que em Dezembro estimava-se em mais de 15 por cento do total do regadio naquela região, não evitou o pré-colapso do sistema hidrológico e ecológico associado, ficando Doñana agora como «aspirante a incorporar» a lista verde da UICN, mediante a adopção de medidas correctivas, de conservação e de boa gestão Esta dramática notícia deveria funcionar como um alerta-vermelho para o Algarve, como já aqui escrevi várias vezes. A grave situação de seca por que estamos a passar e a ausência efectiva de uma gestão dos recursos hídricos na região podem levar-nos a uma situação de précolapso dos nossos sistemas hidrológicos, superficiais e subterrâneos, mas aparentemente ninguém está realmente empenhado em evitar isso. Os agricultores continuam a exigir obras pesadas para manter – e ampliar – a sua actividade altamente extractiva; o turismo de massas, do betão e das piscinas, expande-se como se nada disto fosse real; os municípios, cada um por si, deflagram «bandeirolas» de desempenho ambiental, apenas para anestesiar os cidadãos com feitos, cujos resultados práticos de pouco valem (alguns deles até contraditórios são); os planos e estudos, arrumados nas prateleiras, decoram os 100


gabinetes dos decisores; as repetitivas palestras e conferências aliviam as almas dos interlocutores, como subterfúgio ao que realmente devia estar-se a fazer; e o abastecimento público – esse pequeno grande detalhe – tal como o conhecemos pode ruir em Abril próximo – daqui a quatro meses! – caso não chova a sério. Terminar 2023 com um artigo destes não augura um futuro risonho. Mas, nem tudo foi mau em 2023 e, apesar de algum notório pessimismo, alimento a 101

esperança que o próximo ano seja de facto melhor, neste e noutros capítulos. A mobilização da sociedade civil para exigir mais e melhor para o Algarve é, porém, essencial para que tal aconteça. E é esse o meu desejo para 2024. A todos, votos de um feliz e bom 2024! . 1 https://www.eldiario.es/andalucia/huelva/ donana-pierde-prestigioso-sello-listaverde-mayor-organismo-internacionalmedioambiente_1_10775621.html ALGARVE INFORMATIVO #417


Nova oportunidade para a Esperança (notas soltas) Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg) hegou a altura do ano em que fazemos um balanço introspetivo de nós, da vida, do país e do mundo que nos rodeia. Procuramos estabelecer prioridades para o ano que vem e corrigir aquilo que pensamos ter sido mais negativo. Em termos pessoais foi um ano particularmente duro e trabalhoso, com escassez de descanso e de verdadeiro lazer. Tentamos manter as tradições e uma aparente normalidade, mas o mundo à nossa volta não nos deixa ficar indiferentes. As notícias são perturbadoras e dão-nos nota da morte de centenas de crianças e pessoas em Gaza (quase 21 mil no total desde 7 de outubro); mais de 200 mil mortos desde o início da Guerra entre a Ucrânia e a Rússia, que colocam várias gerações e famílias em situação de total fragilidade e dor. Os relatos mais recentes da «Terra Santa» são o centro das atenções, marcando de forma profunda todos os que ouvirem aquelas crianças de tenra idade questionar os repórteres no terreno ALGARVE INFORMATIVO #417

sobre “que mal fizemos nós para estarmos a passar por isto?”. Também um testemunho de um taxista em Belém, reproduzido por Alexandra Lucas Coelho esta semana para o Jornal Público perguntava: “o Mundo sabe o que está a acontecer, e onde está a Humanidade?”. Onde está? Nos podcasts mais recentes de fim de ano, numa discussão sobre as invenções e a inovação de 2023, três cientistas identificam e destacam os avanços na área da Inteligência Artificial (IA) centrando-se nos mais benéficos para o ser humano e para a qualidade de vida. Incluem o desenvolvimento de mecanismos de leitura e descodificação da comunicação cerebral (usando como teste uma larva da fruta), referindo que poderá ser um caminho principal para a comunicação futura com pessoas com dificuldade de verbalizar a comunicação; também referem o problema global futuro da alimentação para a Humanidade e o desenvolvimento de novos produtos alimentares face ao crescimento global da população mundial; mas, como mais extraordinário emerge a capacidade de «ligar» ao cérebro humano a medula de um doente traumatizado sem possibilidade de andar, 102


restituindo ao indivíduo a capacidade motora*. Esta semana também um artigo do Jornal Público titulava sobre a nossa 103

Região: «Região rica, povo pobre. O Turismo é o sonho algarvio que exclui a maioria» reconhecendo a falta de habitação na região e o excesso de alojamento turístico. Dados da ALGARVE INFORMATIVO #417


PORDATA recentes revelam que: “o maior ordenado médio, por mês, incluindo horas extra, subsídios ou prémios, dos empregados por conta de outrem, é no sector da eletricidade, gás e água. São 3.041 euros, três vezes mais do que no setor que tem o menor ganho médio mensal – o do alojamento e restauração” (referido na mesma notícia de 23/12/2023). Contudo, ao ouvir a mensagem de Natal de António Costa – primeiro-ministro demissionário – pensei que não vivia no mesmo país, na mesma Europa, no mesmo Mundo. Os problemas que nós temos entre mãos são muitos e não resultam tão somente de externalidades, mas de questões estruturantes. Temo ainda que, antes de melhorar tudo vá piorar, pois para o Turismo, de facto, as ameaças estão a emergir também de fora para dentro e assustam uma economia que está dependente dos seus resultados: inflação excessiva, instabilidade dos mercados emissores, alterações climáticas e catástrofes naturais; falta de mão-de-obra; sazonalidade do emprego; falta de água… o que no caso do Algarve se agrava e se acresce a falta de investimentos em infraestruturas e equipamentos, entre os quais, o eterno Hospital Central e a Ferrovia, agora a Bitola Europeia e ainda o Metro de Superfície.

Pouca coisa está a funcionar em pleno neste momento no nosso país Neste momento, pouca coisa está a funcionar em pleno no nosso país. O ALGARVE INFORMATIVO #417

Serviço Nacional de Saúde está todos os dias na televisão pelos piores motivos, dizem-nos para contactar a linha de saúde 24 que depois nos remete para o Centro de Saúde… mas não há médicos de serviço e lá vamos para o privado pagar 80 euros de consulta urgente… a Habitação, as Escolas, a Educação, a Juventude, os Transportes Públicos, os Correios, a Cultura… acompanham as dificuldades. Particularmente com maior constância na província, onde é tão bom vir a banhos. Tantos planos depois, tantos milhões para projetos sociais, tanto PRR apregoado, há 10 mil e 963 crianças e jovens identificados em situação de pobreza extrema na região do Algarve e o insucesso escolar chega a quase 20 por cento segundo o novo Plano Desenvolvimento Social, da Associação de Municípios do Algarve. Continua-se numa análise superficial e demonstrando enorme incapacidade de resolução. Uma das nossas grandes valias é a forma como recebemos e integramos. A população de nacionalidades estrangeiras continua a crescer de uma forma diferente do passado (os novos residentes são hoje migrantes diferenciados) e a fornecer mão-de-obra para a área dos serviços e da agricultura (a que subsiste). Os problemas que afetam os portugueses estão agora também a afetar estes novos habitantes. A resposta às suas necessidades torna-se mais difícil e as nossas regulamentações nas várias áreas encontram-se desadequadas. A culpa anda sempre solteira e é sempre dos outros. 104


Todavia, na Ucrânia, em plena guerra, chega um relato através do Jornal Expresso sobre o Teatro em Kyiv e sobre a vida do quotidiano. O Teatro representa um refúgio para a normalidade. As famílias vão ao café, aos concertos e enchem teatros, procurando alimento para a alma. Nós não temos guerra, mas temos de encontrar a nossa força, a nossa luz condutora. No dia 21 de dezembro tive oportunidade de testemunhar a entrega da Chave de ouro da cidade de Faro a Ruy de Carvalho no Teatro das Figuras. Procuro não esquecer as suas palavras, todos temos bons e maus momentos, mas «Vivam a Vida». Ouvimos reproduzir parcialmente uma frase da canção de Jorge Palma num discurso público: “Enquanto houver estrada pra andar, A gente vai continuar”, mas não é suficiente. Não vamos mesmo parar de procurar uma sociedade mais justa, equitativa e fraterna. São 50 anos de abril, de democracia, que nos pertence a todos. São 50 anos de avanços e recuos. Aqueles que se apregoavam os pais da ciência, os pais do SNS, os pais da democratização do acesso à educação, os precursores de um Estado social… têm falhado redondamente. Podemos recorrer a números parciais para revelar alguns dados positivos, mas pergunto estamos bem? Estamos satisfeitos? Estamos melhor? Talvez nalguns aspetos, mas pior em tantos outros. Esta retórica já não encanta, nem esconde a realidade.

e um metro de superfície que permita a mobilidade interurbana, e a criação de uma melhor integração intermodal dos transportes, a resposta urgente à ineficiência já reconhecida do plano de eficiência hídrica da região, a revisão das estratégias locais de habitação, mas também a diversificação económica e a qualificação de vários recursos. Entre tantas outras coisas que se podem acrescentar. No encerramento de 2023, nesta última crónica procuramos renascer: “Enquanto houver ventos e mar”**, a esperança está entre nós e em fazermo-nos ouvir, e em agir, em prole desta mudança necessária . * Desculpem o pouco rigor técnicocientífico nestas matérias, pois reproduzo as palavras ouvidas no momento e o que consegui reter. ** Jorge Palma, A gente vai continuar.

No Algarve é urgente a concretização do eterno Hospital Central, uma ferrovia 105

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #417

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