REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #392

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INFORMATIVO 17 de junho, 2023 #392 FESTIVAL MOMI | TANTO MAR | «MUSIC-HALL» | «PETISCOS DO PESCADOR» ANDRÉ JORDAN HOMENAGEADO EM VILAMOURA | LAGOA WINE SHOW
ALGARVE

ÍNDICE

André Jordan homenageado em Vilamoura (pág. 16)

Lagoa Wine Show (pág. 22)

Marchas Populares de Quarteira (pág. 32)

Mimo Tuga no Festival MOMI (pág. 60)

«Asas de Papel» no Festival MOMI (pág. 78)

«Music-Hall» no Teatro Lethes (pág. 88)

«M.E.D.E.I.A.» no Cineteatro Louletano (pág. 98)

«Petiscos do Pescador» em Quarteira (pág. 110)

OPINIÃO

Ana Isabel Soares (pág. 120)

Lina Messias (pág. 122)

André Jordan homenageado em Vilamoura

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

oi descerrada em Vilamoura, no dia 9 de junho, uma placa toponímica como o nome de André Jordan, empresário que ficou conhecido como o «pai do turismo português». A até agora Avenida Praia da Falésia, junto ao Lake Resort, passou a designar-se Avenida Comendador André Jordan, numa homenagem do Algarve, em especial do concelho de Loulé, a esta figura indissociável do turismo nacional.

Impossibilitado de estar na cerimónia por motivos de saúde, André Jordan fezse representar, contudo, pela numerosa família, com o filho mais velho, Constantino Jordan, a sublinhar que “ele sempre trabalhou com todo o seu coração e não parava enquanto não concretizasse tudo aquilo que podia fazer”. “Deixamos em Vilamoura muitas saudades, dos colaboradores, dos amigos, e quero agradecer a vossa amizade e

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esta homenagem”, declarou Constantino Jordan.

Para Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, “é de inteira justiça o perpetuar do nome de um homem de exceção, de um empresário com qualidades invulgares, que soube sempre levar para a sua atividade o bom gosto, a arte, o equilíbrio, a elegância e, sobretudo, uma grande sensibilidade na relação entre a economia e o meioambiente”. “Para ele, a economia tinha que se encaixar no meio físico para criar valor e excelência. E se o Algarve é, hoje, uma referência ao nível da atividade turística em todo o mundo, muito se deve, não tenhamos qualquer

dúvida, à visão extraordinária desse homem genial que é o André Jordan. Mais tarde veio para Vilamoura, numa altura em que ela precisava regenerar-se e dar um salto em frente, e foi responsável por uma nova fase de desenvolvimento”, salientou o edil. “Sem beleza, sem bom-senso, sem equilíbrio, sem relação harmoniosa e sustentável com o ambiente, a economia está comprometida. Para gerar riqueza e acrescentar valor económico a uma região, hoje precisamos pensar de maneira diferente”, concluiu Vítor

Aleixo. O presidente da Câmara Municipal de Loulé anunciou ainda que, em data a agendar, André Jordan será agraciado com a Chave do Humanismo, a “honra máxima” com que a autarquia

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tem distinguido outros cidadãos, em

, personalidades de grande notoriedade pública nacional e internacional como foi o caso, até ao momento, de José RamosHorta, presidente de Timor Leste, José Maria Neves, presidente da República de Cabo Verde, e o primeiro-ministro António Costa.

André Jordan (Andrzej Franciszek Spitzman Jordan) nasceu a 10 de setembro de 1933, em Lviv, Polónia (hoje cidade da Ucrânia). Deixou o seu país ainda criança, quando a ameaça da Segunda Guerra Mundial e da perseguição Nazi se tornavam reais. A família, que perdera tudo na Polónia, teve uma breve passagem por Portugal, mas foi no Brasil que se estabeleceu. Ali Jordan começa a sua carreira, primeiro como jornalista e depois no imobiliário, passando mais tarde por outros países,

como o Uruguai, a Argentina e os Estados Unidos da América.

Regressa a Portugal em 1970 e fica conhecido pelo seu grande projeto no sul do país, a Quinta do Lago, um dos empreendimentos de golfe e lazer mais famosos do mundo. Tendo como inspiração os country clubs americanos, a Quinta do Lago foi adaptada às características da paisagem algarvia. O conceito era novo em Portugal, mas Jordan acreditou no seu futuro brilhante. Com uma carreira de mais de 50 anos, criou ainda o Belas Clube de Campo, uma comunidade residencial com campo de golfe, perto de Lisboa, e levou a cabo um dos mais extraordinários planos de revitalização na zona de Vilamoura, assim como a criação do Programa Vilamoura XXI, também no Algarve.

É Doutor Honoris Causa pelo ISCTE e pela Universidade do Algarve. Foi Cônsul

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“situações muito excecionais”

Honorário do Brasil no Algarve durante 17 anos. É Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e foi condecorado pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Comercial. O Governo brasileiro designou-o Grande Oficial da Ordem do Rio Branco. É cidadão honorário das cidades do Rio de Janeiro e Nova Iorque e recebeu a Medalha de Ouro de Loulé (1998) e Sintra, bem como do Turismo do Algarve. Foi nomeado Oficial da Ordem do Império Britânico, pela Rainha Isabel II. Recebeu do Prémio Nacional de Turismo – categoria Carreira. Em 2014, foi considerado uma das 12 personalidades mais influentes

no turismo a nível mundial. André Jordan participou ainda da fundação de várias importantes instituições nas áreas empresarial e da cultura. É autor de livros, sendo o mais recente «Uma Viagem pela Vida» .

Ruas de Lagoa receberam mais uma edição do Lagoa Wine Show

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Lagoa Wine

Show voltou a animar, de 7 a 10 de junho, o coração da cidade de Lagoa, levando à Rua Coronel

Figueiredo, Praça da República, Rua Dr. Manuel de Arriaga e Largo Alves Roçadas bons vinhos, boa gastronomia e, claro, a melhor música portuguesa. O cartaz deste ano contou com vozes inconfundíveis do fado como Gisela João, Pedro Moutinho, Ricardo Ribeiro, Filipa Vieira e Luana Velasquez, bem como Silvana Peres, que junta a sonoridade do

fado aos ritmos brasileiros e africanos, Miriam Cantero, cantora espanhola que tem o flamenco na voz, Lura, que mistura o flamengo e a música lusófona, tudo isto completo com artistas locais e o já habitual Fado à Janela.

O Lagoa Wine Show é uma das mais emblemáticas mostras de vinhos no sul do país, onde, a par da música, os mais conceituados produtores, das várias regiões vinícolas, marcam presença. E é um facto que o crescimento vitivinícola do Algarve tem, ao longo dos anos, despertado o interesse de críticos e peritos nacionais e internacionais,

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recebendo o merecido reconhecimento através de diversas distinções obtidas em prestigiados concursos da especialidade.

“Numa altura em que comemoramos os 250 anos da criação do concelho de Lagoa, não poderíamos deixar de procurar que esta fosse uma das melhores edições de sempre deste evento, porque o vinho faz parte da história e da identidade de Lagoa.

Luís

Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa .

Queremos aproveitar estes momentos para continuar a promover e a elogiar o extraordinário trabalho realizado pelos nossos produtores, pois o Algarve está a afirmar-se cada vez mais como uma região de vinhos de qualidade”, destacou

MARCHAS POPULARES DE

PASSEIO DAS DUNAS EM NOITE

QUARTEIRA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

QUARTEIRA AQUECERAM

NOITE DE SANTO ANTÓNIO

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Passeio das Dunas recebeu pela primeira vez, no dia 12 de junho, o desfile das Marchas Populares de Quarteira, que voltam a desfilar nos dias 23 e 28 de junho. Desde 2019 que este evento não se realizava, de modo que este ano as expectativas eram enormes, não só pelo interregno prolongado causado pela pandemia, mas pela grande novidade que constituía o novo recinto.

De facto, depois de vários anos a marchar no «Calçadão», desta vez o Passeio das Dunas, o prolongamento desse passeio marginal para o lado de Vilamoura, inaugurado em 2016, foi o

cenário do desfile. A alteração nasceu de uma vontade conjunta das organizações das marchas, Junta de Freguesia e Câmara Municipal, no sentido de dar melhores condições, tanto aos marchantes para mostrarem toda a qualidade artística, mas também aos visitantes que, a cada ano que passa, acorrem em maior número ao desfile. E o espaço esteve engalanado para receber as sete marchas que participam este ano, designadamente, As Florinhas de Quarteira, a Rua da Cabine, a Rua Gago Coutinho, a Rua Poeta Pardal, a Fundação António Aleixo, a Rua Vasco da Gama e a Rua do Outeiro.

Tal como acontece noutras localidades piscatórias portuguesas, nas noites de Santo António, S. João e S. Pedro, as ruas

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de Quarteira enchem-se de cor, música, dança e alegria durante o mês de junho. O ponto alto das celebrações é o desfile das marchas que representam as ruas da cidade, envolvendo centenas de marchantes trajados a rigor, com coreografias únicas inspiradas em temas como o mar, a atividade piscatória, as tradições dos Santos Populares e os símbolos associados a esta festividade –os arcos, os manjericos, as fogueiras, os balões, a alcachofra ou o alho-porro. Para além do desfile, a gastronomia – as

sardinhas assadas, as febras, o pão com chouriço, o caldo verde e o vinho tinto – e os arrais constituem razões mais do que suficientes para que milhares de pessoas visitem Quarteira nestes dias. A tradição manda ainda que se saltem as fogueiras e se queime alcachofra.

A organização é da APROMAR –Associação Promotora das Marchas Populares, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e Junta de Freguesia de Quarteira .

LOUCURA NA DOCA DE FARO COM MIMO TUGA

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

MOMI – Festival

Internacional de Teatro Físico Algarve, organizado pelo JAT – Janela

Aberta Teatro, teve a sua segunda edição de 8 a 11 de junho e a Doca de Faro foi um dos epicentros da festa, com a estreia em Portugal de «Con su permiso», espetáculo de rua / mimo / clown / teatro físico do conceituado chileno Rodolfo Meneses, mais conhecido por Mimo Tuga.

O artista circense iniciou o seu trabalho artístico nas ruas de Valparaíso e passou mais de 11 anos a viajar pelo mundo e a apresentar as suas criações. Mimo Tuga é um autodidata que, em 2003, aos 18 anos, desistiu da ideia de estudar na

universidade e partiu para uma jornada que nunca terminou. “O dilema era castrar-me ou ser honesto com o meu amor... e eu escolhi o último caminho”, explica o chileno, que em 2011 venceu o Prémio do Público do Festival Mim'off en Périgueux (França), em 2015 conquistou o Prémio de Melhor Espetáculo atribuído pela Red Profesional Euro -Latinoamericana de las Artes Escénicas (Ilhas Canárias), em 2016 foi reconhecido pelo Instituto Cultural Norte Americano de Valparaíso, em 2018 obteve o Galardão da Pista de Oro, categoria palhaço, no Festival Internacional de Circo de Chile e, em 2019, recebeu os prémios especiais de Nikulin Circus e de Bolshoi de Moscow, no Festival Circ Elefant d’Or de Girona (Espanha).

A expetativa era enorme e ninguém ficou defraudado, no final de tarde, início de noite, dos dias 8 e 9 de junho, com Mimo Tuga a deixar encantadas as largas dezenas de miúdos e graúdos que encheram de cor e alegria a Doca de Faro. Um espetáculo fantástico que contou com a preciosa, e inesperada, colaboração dos condutores que àquela hora circulavam junto ao Jardim Manuel Bívar e que, de repente, se viam interpelados por este irresistível artista. Rodolfo Meneses entrou e saiu de carros,

viajou de autocarro, andou empoleirado num autotanque dos Bombeiros, ajudou pessoas a atravessar a rua, correu feito louco atrás de bicicletas e motos, organizou animados concertos de buzinadelas, seduziu condutoras… e condutores. Enfim, dois espetáculos completamente diferentes, porque vivem do improviso, do calor do momento, daquilo que a dinâmica de uma cidade viva proporciona, e que o chileno, qual Mestre renascentista, transformou em duas magníficas obras-primas .

«ASAS DE PAPEL» ENCANTOU NA PRIMEIRA NOITE DO MOMI

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

MOMI – Festival

Internacional de Teatro Físico Algarve, organizado pelo JAT – Janela

Aberta Teatro, arrancou para a sua segunda edição, na noite de 8 de junho, com «Asas de Papel», uma criação e encenação de Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa.

Interpretada por Daniela Veiga, Diana Bernedo, Ilda Nogueira, Jorge Oliveira, Laura Parneva e Vasco Seromenho, esta produção da JAT – Janela Aberta Teatro é um espetáculo sem palavras, criado através da linguagem do Teatro Físico e do Mimo Contemporâneo. “Uma proposta de grande sincronia coreográfica, num espaço vazio, onde o movimento adquire um

grande valor criativo e interpretativo ao serviço de uma mensagem profunda, sobre os riscos da mecanização da sociedade e da desumanização do indivíduo. Uma história emocionante, repleta de imagens poéticas, que convida o espectador a ler, sonhar e resgatar sua criança interior. Um espetáculo inclusivo sem barreiras”, comentam

Na história, mãe e filha, absorvidas pelo ritmo diário do quotidiano moderno, acabam por afastar-se uma da outra. A mãe, escrava do trabalho, desconecta-se do seu lado humano, enquanto a filha se refugia num livro, que será a sua companhia e uma janela para mundos fantásticos. Uma história que encantou o muito público presente na Doca de Faro.

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COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA APRESENTOU «MUSIC-HALL» NO TEATRO

LETHES

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

o dia 3 de junho, a Companhia de Teatro de Almada trouxe ao Teatro Lethes, em Faro, o espetáculo «MusicHall» de Jean-Luc Lagarce e com encenação de Rogério de Carvalho.

Em cena, deparamo-nos com uma cantora de music-hall em decadência. Ladeada pelos seus dois acólitos e validos, os seus dois boys, eis-nos perante uma rapariga que nos revela as suas desventuras cénicas. “Conta-nos a sua história, a um tempo divertida e patética, que não é mais que o percurso de uma por assim-dizer vedeta que, na verdade, toda a

vida só atuou em salas de segunda ordem. Torna-se, por isso, praticamente inevitável identificarmo-nos com esta artista claudicante que, apesar das dificuldades técnicas e da falta de público, nunca abdica dos seus ensejos de criação e da sua vontade de representar”, descreve o encenador.

A partir de um texto de Jean-Luc Lagarce traduzido por Alexandra Moreira da Silva e com encenação de Rogério de Carvalho, cenografia de José Manuel Castanheira e figurinos de Barbara Felicidade, a peça foi interpretada por João Farraia, Pedro Walter e Teresa Gafeira .

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TANTO MAR TERMINOU COM «M.E.D.E.I.A.» DA TRIBO DE ATUADORES

Texto: Daniel Pina| Fotografia: João Catarino/ Folha de Medronho

edição de 2023 do Tanto Mar –Festival de Artes Performativas de Loulé, uma organização da associação cultural Folha de Medronho com o apoio do Município de Loulé, chegou ao fim, no dia 27 de maio, no Cineteatro Louletano, com «M.E.D.E.I.A.» da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, interpretada magistralmente por Tânia Farias.

Nesta obra, o coletivo brasileiro retoma uma versão antiga e pouco conhecida do mito, trazendo uma mulher que não cometeu nenhum dos crimes de que Eurípides a acusa. Por mais de dois mil

anos, Medeia, uma das mais poderosas mulheres da mitologia grega, é acusada de várias atrocidades, tais como o fratricídio e o infanticídio, e é esta imagem que foi imposta à consciência ocidental que a Tribo vem negar. O mito é questionado e reelaborado de maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como estas se mantêm ou se destroem.

Medeia é uma mulher que está na fronteira entre dois sistemas de valor, corporizados respetivamente pela sua terra natal, e pela terra para a qual foge.

Ambas as sociedades, Corinto e Cólquida, apresentam na sua história um sacrifício humano fundamental, que serviu para a estabilização do poder patriarcal.

“Medeia é uma mulher que

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enxerga seu tempo e sua sociedade como são. As forças que estão no poder manifestam-se contra ela, chegando mesmo à perseguição e ao banimento, ela é um bode expiatório numa sociedade de vítimas”, refere a companhia.

A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz surgiu em Porto Alegre, em 1978, com uma proposta de arte pública que contribuísse com a democratização, com a descentralização da cultura e com o livre acesso aos bens culturais. Desde então, o grupo desenvolve um trabalho contínuo de pesquisa em relação à linguagem cênica e ao processo criativo do ator. As suas três principais vertentes são o Teatro de Rua, o Teatro de Vivência

e o trabalho artístico-pedagógico, desenvolvido na sua sede, a Terreira da Tribo (1984), e em outros bairros populares junto à comunidade local.

Para o Ói Nóis Aqui Traveiz, o teatro é um lugar de invenção e experimentação, um meio de transformação, de mudança de mentalidades, a nível social e, também, individual. Reconhecida hoje como ponto de cultura, a Terreira da Tribo é um dos principais centros de investigação cênica do país e constituiuse como Escola de Teatro Popular, uma referência nacional na aprendizagem do teatro e a única no Estado a oferecer formação teatral qualificada de forma gratuita. Em 2015 recebeu o Prêmio Ordem do Mérito Cultural do Governo Federal .

«PETISCOS DO PESCADOR» COM CHAVE-DE-OURO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

PESCADOR» FECHOU

CHAVE-DE-OURO

COM TOY

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os dias 2, 3 e 4 de junho, o Passeio das Dunas, em Quarteira, recebeu mais uma edição dos «Petiscos do Pescador», evento de comemoração da comunidade piscatória que alia a música aos melhores sabores do mar, passando pela tradicional lavada.

São as próprias famílias de pescadores desta cidade os «chefs» da festa, tendo sido responsáveis, uma vez mais, pela confeção dos petiscos que foram apreciados no recinto e que tiveram como ingredientes principais sobretudo o peixe e o marisco, com receitas tradicionais que deliciaram os visitantes. A tradição também se cumpriu com o

momento da lavada ou arte de arrastar para terra, na praia em frente ao Passeio das Dunas, com a população a participar no «puxar a rede» para terra onde se pode ver a riqueza que ainda se encontra nas águas que banham Quarteira em termos de pescado.

O festival terminou com um estrondoso concerto de Toy, mas pelo palco passaram ainda Luciana Abreu, Valter Cabrita, Remember Me 80’s&90’s, Raya, Som Time, José Manuel Ferreira, Beatriz Pereira, Sai do Chão – Tributo a Ivete Sangalo e um Tributo aos Xutos e Pontapés. A organização foi da Quarpesca – Associação de Armadores e Pescadores de Quarteira, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e da Junta de Freguesia de Quarteira .

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Septuagésima

oitava

tabuinha: Fuga Ana Isabel Soares (Professora)

primeiro lugar que fotografei em Paris foi a Place des Vosges. Era a Primavera de 2001 e, com uma maquineta

descartável, sem grande hipótese de imaginar o que dali sairia, fiz o boneco. Não sei se gosto da fotografia por todos os defeitos que ela tem, se por aquela

chaminés são mais permanentes do que a nuvem e as pessoas, naquilo que cada uma traz de potencial movimento.

Continua a ser dos meus lugares

favoritos: estive em Paris quatro vezes e das quatro revisitei a praça, mesmo se por momentos fugidios, só para me recordar de como parece fora da fotografia que tenho na sala de estar. Só voltei a fotografá-la agora, há uns dias. Mais de vinte anos depois, calhou outra

multidão exposta e alegre; se é pelo homem de costas, pela solidão da nuvenzinha no ar poluído da cidade. Ponho-me às vezes a olhar para ela à procura de algum pormenor em quem ainda não tenha reparado. As sebes, a fonte, os telhados, as janelas e as

estação amena, mas em transição – e uma série de outras diferenças que fui percebendo. Quando lá cheguei este junho, caminhei a toda a volta da praça, desencontrando-me de muitos outros turistas que, como eu, se misturavam no meio da estrada e cruzavam sem

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qualquer disciplina das arcadas para o jardim, da relva para os bancos, dos bancos para a loja de chá. Tive a consciência das horas mais aguda do que em 2001, do tempo que estava a roubar a mim mesma para estar ali (há 22 anos, passeei verdadeiramente – ou então é a distância da memória que apaga a pressa). Pareceu-me haver agora mais pessoas (a comparação entre as imagens sugere ser ao contrário), mas mais dispersas.

Outra grande diferença trouxe-a a tempestade deste domingo: a Primavera em Paris despediu-se quente mais do que morna, e não conteve o choro. Nem meio minuto depois das primeiras gotas, corremos todos para debaixo das tílias da praça, misturandonos agora à procura dos espaços que as folhas protegiam e sacudindo da roupa e da pele as gordas, grossas, pesadas gotas de água que rolavam dos troncos para o chão .

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Foto: Vasco Célio

os cinco sentidos, o que sempre senti ter mais «apurado» é o cheiro. Soube há pouco tempo que já há um nome para esta condição, que pode ser até uma patologia: hiperosmia.

Os cheiros têm a capacidade de me fazer viajar no tempo, trazem à minha memória pessoas, situações, momentos e locais. Os cheiros influenciam as minhas emoções e comportamento de tal forma que têm sido o motivo de grandes paixões ou rápidos afastamentos; de sentir um enorme relaxamento ou uma grande dor de cabeça; de rir à gargalhada ou de sentir uma profunda tristeza.

Dentro da nostalgia da minha infância feliz cabe o cheiro do café de cafeteira acabado de fazer, o cheiro do bolo de café e canela a sair do forno, o cheiro da canela no arroz doce ainda quente, o cheiro das bolinhas de cânfora dentro dos armários, o cheiro das malvas floridas na varanda, o cheiro do aftershave do meu pai, o cheiro do sabão azul e branco usado no tanque para lavar a roupa branca, o cheiro da hortelã colhida da horta para a canja.

Nas memórias de tantos dias inesquecíveis encontro o cheiro da terra molhada num passeio no campo, o cheiro do mar num dia de praia com maré baixa,

o cheiro do caril de gambas para um jantar especial, o cheiro do abraço apertado de quem se amou, o cheiro da minha Alice quando era bebé, o cheiro dos ramos de flores entregues com amor, o cheiro dos campos de lavanda numa viagem de carro com os vidros abertos.

Para mim, não há nada que substitua o cheiro de um livro novo ou a sensação de ir dormir envolvida no cheiro dos lençóis de algodão acabados de lavar, o cheiro do óleo de coco na pele, o cheiro de um bom vinho tinto, o cheiro das velas com aroma de baunilha, o cheiro dos pinheiros junto à minha casa, o cheiro dos meus gatos a dormir no meu colo… Sei que todos os dias estou a criar novas memórias para o futuro!

Curiosamente já há estudos a comprovar que as memórias olfactivas são especiais porque podem fazer mais do que nos transportar para um determinado momento das nossas vidas, elas também podem melhorar a nossa saúde. De acordo com várias pesquisas, as memórias ligadas ao cheiro podem realmente ser mais positivas do que as memórias trazidas por quaisquer outros sentidos, melhorando o nosso estado de espírito e consequente bem-estar. É também interessante ver a crescente importância do cheiro na recente área da ciência que é o neuromarketing, que só atesta o impacto que o sentido olfactivo tem no comportamento humano.

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“O importante é parar e cheirar as flores”
Lina Messias (Especialista em Feng Shui)

A chamada indústria do cheiro movimenta muito dinheiro. Desde os perfumes de marca, até à mais recente identidade olfactiva usada pelas lojas e grandes espaços comerciais, ou os aromas utilizados numa casa à venda, todos têm o objectivo último de induzir a determinado comportamento. O aroma do pão a flutuar pelos corredores do supermercado, o cheiro do café ou de bolachas numa casa à venda, a riqueza do couro do interior de um carro novo; nem sempre percebemos, mas o olfato é fundamental para muitas decisões que tomamos como consumidores, seja comprar um carro novo ou tão simplesmente comprar um bolo e um café na correria do dia-a-dia. Como alguns exemplos, e de acordo com o «Scent Marketing Institute», os aromas de couro e cedro influenciam na compra

de móveis e os aromas cítricos induzem a estados de alegria que fazem com que passemos mais tempo nas lojas com o consequente aumento na probabilidade de comprar. O cheiro vende!

O resultado da importância dos cheiros está também cada vez mais presente entre as nossas quatro paredes e nunca se viu tão grande variedade de aromas para as residências como agora. Existem aromas em forma de velas, óleos essenciais para difusores, incensos, vaporizadores e perfumes para a Casa. Admito que sou fã de todas elas e quem entra na minha casa sabe.

“Não corras, não te aflijas. Só estás aqui de passagem e é curta a tua visita. O importante é parar e cheirar as flores”.

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