REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #334

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ALGARVE INFORMATIVO 9 de abril, 2022

«O TESTAMENTO DA VELHA» | CLÁUDIA PASCOAL | «TRASH CIRCUS» E «VELVET KILLS» | «OMBELA» ALGARVE INFORMATIVO #334 DOMICILIÁRIA | PLANO CURRICULAR DIFERENCIADO EM VRSA | «ENGOLIR SAPOS»

1 HOSPITALIZAÇÃO


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SUMÁRIO OPINIÃO

68 - «Engolir Sapos» em Loulé

130 - Paulo Cunha 132 - Ana Isabel Soares 134 - Adília César 136 - Fábio Jesuíno 138 - Nuno Campos Inácio 140 - Júlio Ferreira

96 - «O Testamento da Velha» em Olhão

82 - «Trash Circus» e «Velvet Kills» em Faro

120 - «Ombela» do Tanto Mar em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #334

108 - Cláudia Pascoal em Lagos

46 - «Tempus Fugit» estreou em Lagoa 12


26 - Centro Hospitalar Universitário do Algarve alarga Hospitalização Domiciliária

36 - Plano Curricular Diferenciado no Agrupamento de Escolas D. José I em VRSA 13

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CHUA ESTENDE HOSPITALIZAÇÃO DOMICILIÁRIA A QUATRO ESTRUTURAS RESIDENCIAIS PARA PESSOAS IDOSAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Centro Hospitalar Universitário do Algarve aumentou a cobertura da Hospitalização Domiciliária a nível regional através da assinatura de protocolos com quatro Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, nomeadamente a Santa Casa da Misericórdia de Faro, a ACASO de Olhão, o Centro de Apoio a Idosos de Portimão e ALGARVE INFORMATIVO #334

a Santa Casa da Misericórdia de Lagos. A cerimónia de assinatura dos protocolos de articulação teve lugar no Auditório da Biblioteca Municipal de Olhão, no dia 23 de março, e contou com a presença do Coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde, Delfim Rodrigues, do Presidente da Câmara Municipal de Olhão e da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, António Miguel Pina, do Presidente da 26


Ana Varges Gomes

Administração Regional de Saúde do Algarve, Paulo Morgado, e da Presidente do Conselho de Administração do CHUA, Ana Varges Gomes. O CHUA dispõe do Serviço de Hospitalização Domiciliária desde 2019, na Unidade de Faro, e desde 2021 na Unidade de Portimão, sendo uma alternativa ao internamento convencional que proporciona assistência clínica de modo contínuo e coordenado àqueles doentes que, requerendo admissão hospitalar, cumprem também uma série de critérios clínicos, sociais e geográficos que permitem o internamento no domicílio, agora estendido também a estas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas. Esta opção constitui uma importante maisvalia para a recuperação dos doentes, que 27

vão poder beneficiar do acompanhamento clínico por parte dos profissionais de saúde do CHUA no modelo de hospitalização domiciliária, aliado à capacidade técnica existente nos lares e nas estruturas, nomeadamente ao nível da enfermagem e das equipas de auxiliares com formação específica em geriatria. O modelo agrada bastante a Ana Varges Gomes, Presidente do Conselho de Administração do CHUA, por possibilitar aos doentes serem tratados no seu habitat normal, onde têm as suas rotinas e onde se sentem confortáveis.

“O facto de irem a um hospital causa-lhes várias perturbações em termos do ritmo de vida, essa simples mudança no dia-a-dia ALGARVE INFORMATIVO #334


Delfim Rodrigues

pode gerar-lhes confusão. Esta é também uma forma de aproximar o hospital da comunidade. As nossas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas têm sido inexcedíveis nestes dois anos de pandemia, porque tínhamos utentes que ficavam internados nos hospitais por não terem uma solução da parte social”, referiu, manifestando o seu desejo de que esta resposta possa ser alargada a outras instituições. “Temos esperança de

que, com este passo que aqui estamos hoje a dar, outros iguais se possam dar no futuro. Os utentes das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas vão ter, seguramente, melhores ALGARVE INFORMATIVO #334

cuidados de saúde, estamos a colocar os doentes no centro das decisões. Os nossos profissionais da Hospitalização Domiciliária vão sair das nossas paredes e vão entrar nas vossas, em articulação com a vossa estrutura. A nossa equipa também está de parabéns por desafiar a administração do CHUA para abraçar esta missão, para fazer mais e melhor, e é para isso que nós estamos cá”, reforçou Ana Varges Gomes. Na ocasião, o Coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde, Delfim Rodrigues, agradeceu de forma muito sentida a 28


Paulo Morgado

colaboração das quatro Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas que assinaram o presente protocolo, pelo seu

“sentido ético de servir o público, de servir o outro, de servir o parceiro”. “O Algarve é um exemplo porque, dos 38 hospitais existentes em Portugal, só há mais dois que fazem isto, o Centro Hospitalar do Oeste e o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro”, revelou, salientando a importância da resposta em hospitalização domiciliária para os doentes, para os hospitais e agora para estas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas. “O meu grande

reconhecimento aos médicos, 29

enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos e fisioterapeutas, que no dia-a-dia levam estes cuidados a casa dos doentes. O CHUA já tratou, por esta via, cerca de 700 doentes. Se tivessem que ser tratados nos hospitais, imaginem a logística que tal implicaria e a desmultiplicação de recursos humanos – que nem sempre é fácil, mas também imaginem o impacto que tal teria para os doentes e para as suas famílias”. Delfim Rodrigues declarou que o Sistema Nacional de Saúde ainda tem ALGARVE INFORMATIVO #334


António Miguel Pina

taxas de internamento muito elevadas, sendo que, com este modelo de hospitalização domiciliária, já foram tratados, a nível nacional, cerca de 20 mil doentes, “o que equivale à

construção de raiz de um hospital de 350 camas, só que, neste caso, as camas estão em casa das pessoas”. “Sabemos que os níveis de satisfação dos Serviços de Urgência são baixos em todo o mundo, as taxas de satisfação dos Serviços de Internamento Hospitalar rondam os 50 por cento, já na Hospitalização Domiciliária, o nível mínimo é de 95 por cento”, apontou. Paulo Morgado, Presidente da Administração Regional de Saúde do ALGARVE INFORMATIVO #334

Algarve, destacou o carácter inovador do alargamento da hospitalização domiciliária às Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, ainda para mais porque todos os intervenientes ganham com este processo. “Os resultados e a

satisfação são melhores quando os cuidados são prestados no domicílio. Há utentes com patologias múltiplas e situações complexas cuja residência é nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, os antigos lares, que devem ser inseridos na hospitalização domiciliária, um passo que o CHUA está a dar e que eu saúdo. Estes idosos são, infelizmente, clientes regulares dos serviços de urgência e ocupam uma percentagem importante dos 30


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serviços de internamento. Um internamento que se justifica, claro, mas, existindo a possibilidade de os tratar nas suas casas ou nas residências para idosos, ficam a ganhar os utentes, as instituições e os hospitais”, frisou. “É um momento marcante em que estamos a levar aos nossos utentes melhores cuidados de saúde, com equipas altamente treinadas, muito profissionais, com excelentes aptidões. É um projeto que defende a vida das pessoas e tenho a certeza que outras Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas vão querer aderir”, assegurou. ALGARVE INFORMATIVO #334

A sessão finalizou com as palavras de António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão e da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, que também se mostrou satisfeito com

“esta excelente iniciativa e, a curto prazo, se calhar o problema que se vai colocar ao CHUA é conseguir dar resposta a todas as solicitações”. “Conhecendo o pensamento das IPSS e Misericórdias, certamente que a vontade de todos é que este modelo cresça para prestarem um melhor cuidado aos utentes nos seus próprios espaços, ao invés de irem para os hospitais”, justificou . 32


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EM VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO, O AGRUPAMENTO DE ESCOLAS D. JOSÉ I ADAPTA O PLANO CURRICULAR AO PERFIL DOS SEUS ALUNOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Agrupamento de Escolas D. José I hegou ao fim, no dia 8 de abril, o segundo período do ano letivo 2021/2022, meses em que, no Agrupamento de Escolas D. José I, em Vila Real de Santo António, acompanhamos um pouco do que tem ALGARVE INFORMATIVO #334

sido feito no âmbito do Plano Curricular Diferenciado recentemente implementado, depois de terem sido identificados vários alunos com algumas retenções, absentismo regular e forte desinteresse pelos saberes escolares.

“Estes alunos, tendo como escolaridade obrigatória a frequência até ao 12.º ano, não 36


deverão estar eternamente no 5.º e 6.º ano. O Plano Curricular Diferenciado tem o objetivo de tornar o ensino mais apelativo para os jovens, ir ao encontro das suas motivações. A ideia é continuar a trabalhar com os conteúdos do currículo normal, mas com outras estratégias e intervenções”, explica Eduardo Cunha, diretor do Agrupamento. Falamos, neste caso, de jovens cujas famílias não valorizam, como deveriam, a escola, sentimento que depois é extrapolado para os próprios alunos, que vão acumulando retenções, os antigos

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chumbos. A vontade de reverter esta situação levou, então, o Agrupamento de Escolas D. José I a adotar um Plano Curricular Diferenciado, sem nunca, contudo, os discriminar e colocá-los à parte da restante população escolar, garante o entrevistado. “Juntá-los

todos numa turma diferente levaria a que não se sentissem integrados na escola, uma escola que se pretende que seja inclusiva. Podemos trabalhar com alunos de modo distinto, mas isso não significa excluí-los”, frisa Eduardo Cunha. “Queremos que eles tenham como referência a sua turma, os seus colegas e o seu diretor de

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turma. Depois, as disciplinas onde sentem maiores dificuldades, casos da Geografia e História de Portugal, das Ciências, da Matemática, do Inglês e Português, deram lugar a novas disciplinas que integram este Plano Curricular Diferenciado. Os alunos são oriundos de várias turmas-mãe, nas quais continuam a ter diversas disciplinas, como Educação Física, Educação Visual, Educação Musical, Educação Tecnológica e Património Local”, descreve. Eduardo Cunha lembra que a legislação portuguesa prevê a flexibilização do ALGARVE INFORMATIVO #334

currículo base implementado em cada estabelecimento de ensino, mas não existe um «desenho» definido a nível nacional, com cada agrupamento a ter liberdade para criar um Plano Curricular Diferenciado de acordo com os seus recursos humanos e, sobretudo, com o perfil dos alunos junto dos quais se pretende intervir. “É importante que

os professores também se sintam motivados e à-vontade para trabalhar com um grupo difícil e exigente, onde é preciso ser bastante criativo e dinâmico, persistente e resiliente. Este desenho foi feito por nós e uma escola ao lado da nossa pode optar por outro completamente 38


diferente”, declara o diretor, que não poupa elogios aos docentes que abraçaram este desafio. “Explicamos

aos professores o que pretendíamos com a implementação do Plano Curricular Diferenciado, que desde o primeiro minuto se mostraram bastante motivados para atuar junto destes alunos. Claro que, numa fase inicial, não foi fácil, os próprios alunos estavam resistentes a esta mudança, mas as docentes Ilda Felício e Sílvia Cruz têm realizado um trabalho árduo e invisível que é substancialmente elevado com a preparação das aulas. Depois, entrou-se numa rotina de prazer e, à medida que os resultados foram 39

aparecendo, a motivação aumentou para se continuar, para não se virar as costas a tudo aquilo que já foi feito, sabendo que o caminho que está pela frente será mais fácil”, destaca o entrevistado. Um trabalho louvável que é efetuado numa turma do 5.º ano e noutra turma do 6.º ano e que envolveu, a par dos docentes e técnicos do estabelecimento, alguns colaboradores externos, como o luthier Manuel Amorim e os músicos Orlando Almeida e Aníbal Vinhas.

“Ajudaram os alunos a perceber que, numa escola, faz-se mais do que aprender a ler e a escrever, até mesmo criar música e construir instrumentos. E, de uma forma bastante prática, os jovens ALGARVE INFORMATIVO #334


acabam por adquirir, por exemplo, noções de história e matemática”, diz Eduardo Cunha, reconhecendo, porém, que nem todas as dificuldades foram já ultrapassadas. “O caminho

ainda é longo, porque este perfil de aluno não é fácil de lidar. Não estamos a falar de alunos com comportamentos desviantes, os maiores problemas prendem-se com o interesse e empenho. Neste momento há jovens já muito empenhados, outros para lá caminham, mas temos que trabalhar igualmente com as famílias, para que valorizem aquilo que é feito nas escolas com os seus filhos e para aquilo que os próprios filhos produzem na escola. Este Plano Curricular Diferenciado foi pensado a dois anos para os jovens que estão no 5.º ano de escolaridade e a um ano para aqueles que estão no 6.º ano de escolaridade e que, se tudo correr bem, irão transitar para o 7.º ano. A previsão é de continuidade desta alternativa”, revela. Um Plano Curricular Diferenciado que arrancou, no terreno, neste ano letivo, mas o diretor do Agrupamento de Escolas D. José I garante que existe uma atenção constante a jovens que dão sinais de algumas fragilidades no campo da aprendizagem. “Não se pretende que

existam muitos alunos nesta situação, mas também não se pode avançar para esta alternativa ALGARVE INFORMATIVO #334

com um número demasiado reduzido de jovens. Desde a educação pré-escolar que articulamos bastante com aquelas famílias que não dão tanta atenção ao desenvolvimento e às aprendizagens dos seus educandos, mas é quando os alunos chegam ao 2.º ciclo que se notam mais os problemas decorrentes de falta de empenho e interesse. É uma questão a que estamos sempre atentos e, quando achámos que era o momento certo para apostar numa coisa diferente, arriscámos e, para já, as coisas estão a correr bem. São passos pequenos, mas muito valorizantes para a escola, para os docentes e para os alunos”, garante Eduardo Cunha.

UM TRABALHO EXAUSTIVO JUNTO DOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO O Plano Curricular Diferenciado é depois coordenado por Ilda Felício, professora de Português, História, Cidadania e Património Local e, no caso destas duas turmas específicas, Oficina de Projeto. “No fundo, acaba por ser

uma aprendizagem descomprometida. Eles não se apercebem, mas estão a realizar atividades práticas ao nível das ciências e matemática com diversos jogos”, aponta, acrescentando que estão oito alunos na turma do 5.º ano e mais oito na turma do 40


6.º ano. “As disciplinas nucleares requerem mais estudo e é nelas que

pelo estudo e evitar que abandonem a escola. “São jovens que estão

eles evidenciam maiores dificuldades. Deste modo, trabalham os mesmos conteúdos e fazem as aprendizagens essenciais, a partir dos domínios da Cidadania”.

desinteressados pela escola, as famílias também não valorizam a escola, temos que ser nós a cativálos com atividades diferenciadas”, admite Ilda Felício. “São miúdos com uma idade bastante superior à média da turma-mãe. No 5.º ano de escolaridade temos normalmente jovens com 9 ou 10 anos, ao passo que estes, devido às retenções, já têm 13, 14, 15 anos. É normal que depois não se identifiquem com as matérias e os conteúdos, acabam por perturbar

Plano Curricular Diferenciado que é composto, no Agrupamento de Escolas D. José I de Vila Real de Santo António, pela Oficina de Letras (que inclui o Português e as TIC), Oficina de Projeto, Comunicar em Inglês, Mundo Atual (em vez de História e Cidadania) e Laboratório de Ciências e Números, numa tentativa clara de reacender o interesse dos jovens 41

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as aulas e, sempre que podem, faltam mesmo”, prossegue a docente. O cenário está a ser bastante distinto quando os jovens estão inseridos neste Plano Curricular Diferenciado, com os conteúdos adaptados à sua faixa etária, e para isso está a contribuir, sem dúvida, a dedicação das professoras afetas a este modelo desenhado pela direção do Agrupamento de Escolas D. José I. “Tem

sido feito um trabalho exaustivo com os encarregados de educação com reuniões periódicas para lhes lembrar que a assiduidade é fundamental”, sublinha Ilda Felício. “Temos tido também a preocupação de dar visibilidade ao que os jovens fazem junto dos pais. Estas famílias normalmente ALGARVE INFORMATIVO #334

só vinham à escola quando alguma coisa corria mal com os seus educandos. No início do segundo período fizemos uma atividade sobre o Dia do Sorriso, outra sobre a Semana dos Afetos, mostramos os filmes aos pais, inclusive com partes da construção dos instrumentos musicais e de escrita criativa, e eles ficaram admiradíssimos. Eles fazem coisas giras, por isso, há que motivá-los a não desistirem”, reforça a entrevistada. “Eles não têm dificuldades de aprendizagem, mas sim interesses divergentes dos escolares, e a ideia é, quando transitarem para o 3.º ciclo, entrarem em Cursos Profissionais”. 42


tido alguma relação com uma guitarra. Entretanto, uma das atividades do Plano Curricular Diferenciado do Agrupamento de Escolas D. José I que maior interesse gerou junto destes alunos foi a construção de cordofones, instrumentos musicais de corda, com o auxílio do conhecido luthier Manuel Amorim, que prontamente aceitou o desafio para colaborar no projeto.

“Através da música trabalhou-se outras disciplinas como a matemática e o português. Construímos violas de três cordas e uma afinação muito simples com caixas de vinhos, mas que permite criar ritmos, e cajóns com contraplacados, instrumentos que têm a ver com a cultura destes miúdos de 14 e 15 anos. Foi bastante interessante, correu muito bem”, assume, satisfeito, o antigo docente. Ao todo, Manuel Amorim participou em cinco sessões com estes alunos do Plano Curricular Diferenciado, que nem sabiam o que era um luthier. “Quando se vê

um músico a tocar num palco, não nos lembramos que por detrás dele está alguém que lhe construiu o instrumento. Os miúdos primeiro estranharam, ‘quem é este tipo, o que é que ele faz’, mas, quando lhes expliquei o que queríamos fazer com eles, a reação foi fantástica”, conta, lembrando que

“As raparigas têm um ritmo muito próprio, gostam imenso de bater palmas e com o tacão dos sapatos. Fizemos umas violas bastante estranhas, mas eles aceitaram tudo com uma naturalidade incrível, porque eram eles que iam construir os seus próprios instrumentos. Eu apenas orientei”, salienta o luthier com ateliê em Loulé. No final das cinco «aulas», todos os jovens tinham então os seus instrumentos, que vão permanecer, até ao término do ano letivo, na escola, porque a ideia é dar continuidade ao projeto. “Estiveram lá o Orlando

Almeida e o Aníbal Vinhas a tocarem a guitarra clássica e a guitarra portuguesa e pretende-se que os alunos vão desenvolvendo as suas capacidades e aptidões musicais, mas os instrumentos, depois, são mesmo para quem os construiu. Estou realmente surpreendido com as professoras Ilda e Sílvia, estiveram lá sempre, a direção da escola mostrou-se logo recetiva a este género de atividades, e os alunos sentiram que faziam parte da comunidade. Acredito que é possível fazer a diferença utilizando-se outros métodos pedagógicos”, afirma Manuel Amorim .

apenas dois ou três dos jovens já tinham 43

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TEMPUS FUGIT ESTREOU NO AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO, EM LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Companhia de Dança LaMov Ballet veio a Lagoa, no dia 2 de abril, para apresentar o seu espetáculo «Tempus Fugit» em estreia nacional no Auditório Carlos do Carmo. A passagem do tempo e a sua fugacidade servem de base a esta proposta coreográfica que se soma à quinzena de espetáculos que LaMov Ballet ALGARVE INFORMATIVO #334

tem criado ao longo da sua carreira. Em «Tempus Fugit», os movimentos dos bailarinos são explosivos, dinâmicos, em momentos extremos e infinitos. “O trabalho é uma jornada frenética, emocionante e até dolorosa; representa a passagem da vida e o que deixamos nela em nosso rastro. «Tempus Fugit» é beleza, é amor, é dor, é riso, é cinza...”, descreve a companhia. 48


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«ENGOLIR SAPOS» DA AMARELO SILVESTRE VEIO A LOULÉ FALAR SOBRE PRECONCEITOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 1 de abril, de «Engolir Sapos», uma reflexão artística, em forma de espetáculo de teatro para famílias, sobre preconceitos e sapos de loiça. “Em

Portugal, existem entre 40 a 60 mil ciganos, uma minoria entre as maiorias. Em Portugal, existem entre centenas e milhares de sapos de loiça em estabelecimentos comerciais, uma minoria entre as maiorias dos produtos expostos. Os sapos existem para decorar. E para afastar. Ciganos. Se um sapo incomoda homens e mulheres de ALGARVE INFORMATIVO #334

carne e osso, um sapo incomodanos a todos. Em palco estão Pai e Filha, e sapos”, descreve a encenadora Rafaela Santos. «Engolir Sapos» é uma criação da «Amarelo Silvestre» com dramaturgia de Fernando Giestas e interpretação a cargo de Amélia Giestas e Ricardo Vaz Trindade. O espetáculo é uma coprodução do Teatro Viriato, Centro de Arte de Ovar e Teatro Municipal do Porto, tendo realizado residências artísticas no Teatro Viriato, As Casas do Visconde, Centro de Arte de Ovar, Citemor, Projecto 23 Milhas e ZDB. Conta com o apoio da República Portuguesa – Cultura/Direção-Geral das Artes, entre outros . 70


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«TRASH CIRCUS» E «VELVET KILLS» AQUECERAM CASA DAS VIRTUDES Texto: Daniel Pina Fotografia: Daniel Pina e Eduardo Pinto

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projeto «Fora da Cesta» prossegue a sua viagem performativa pelo Algarve com o objetivo de divulgar a região e os seus artistas e criativos, procurando ter em complemento uma mensagem de atualidade sobre as alterações climáticas e a urgência em desenvolver alertas de consciencialização e de motivação para ALGARVE INFORMATIVO #334

medidas de ação, tão necessárias à qualidade de vida ambiental de todos os seres vivos. O projeto artístico transdisciplinar alia o vídeo a diferentes artes performativas, sendo apoiado pelo programa Garantir Cultura, e rumou, no dia 2 de abril, até Faro, mais concretamente à Casa das Virtudes, com o novo circo dos «Trash Circus», com coordenação artística de Pascal Talamazzi, e com banda sonora dos «Velvet Kills» . 84


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DIA MUNDIAL DO TEATRO CELEBRADO EM OLHÃO COM «O TESTAMENTO DA VELHA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Olhão

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lhão assinalou o Dia Mundial do Teatro, a 27 de março, com a apresentação da peça «O Testamento da Velha» no Auditório Municipal de Olhão. Trata-se de uma produção da Casa da Juventude, inicialmente exibida em 2006, agora adaptada e com um novo elenco. Uma velha velhaca, sabida e tarada. Dois filhos cadilhos que só trazem sarilhos. Uma criada mal-amada que é filha bastarda. Uma noiva num jumento à espera do casamento. Duas filhas às turras, burras, burras, burras. Tantos, tantos, mais de um cento. Todos à procura do testamento. Este é o mote para a produção, pela Casa da Juventude, ALGARVE INFORMATIVO #334

desta peça de teatro da autoria de João Evaristo, cuja primeira versão estreou em 2006, tendo sido depois revista e apresentada em 2013. Em 2020, para comemorar o Dia Mundial do Teatro, foi anunciada uma nova adaptação com um rejuvenescido elenco de atores saídos dos grupos de formação da Casa da Juventude. Adiada devido à pandemia, chegou agora a altura de realizar essa comemoração. Com texto e encenação de João Evaristo e coordenação técnica de Zeta Duarte, «O Testamento da Velha» conta com a participação dos atores Joaquim Parra, Marta Vargas, José Vale, Heloísa Coelho, Leonel Santos, Isa Mondim, Jady Batista, Vanessa Caravela e Juliana Boyko . 98


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LAGOS ASSISTIU A «OS ETERNOS, OS CONSAGRADOS E OS QUE ACABARAM DE CHEGAR» DE CLÁUDIA PASCOAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho

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Auditório Duval Pestana do Centro Cultural de Lagos integrou, no dia 1 de abril, a tour de Cláudia Pascoal, com «Os Eternos, os Consagrados e os que acabaram de chegar», um concerto tão energético e dinâmico como as suas canções, conforme ficou demonstrado com o lançamento de «Fado Chiclete», a primeira amostra do seu novo álbum. Com produção de David Fonseca, o disco promete afirmar, definitivamente, Cláudia ALGARVE INFORMATIVO #334

Pascoal no panorama musical português como uma das mais prolíferas e criativas compositoras da sua geração. Ao vivo, Cláudia Pascoal apresenta-se em trio, acompanhada por André Soares (guitarra) e Diogo Alexandre (bateria), e no alinhamento estão incluídas, não só as novas músicas, como também os singles do aclamado álbum de estreia, como «Ter e Não Ter», «Viver» com Samuel Úria, «Espalha Brasas», «Tanto Faz» e «Quase Dança». Este foi o álbum com o qual Cláudia Pascoal recebeu o Prémio Revelação nos Play – Prémios da Música Portuguesa . 110


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TANTO MAR CHEGOU AO FIM COM «OMBELA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino

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Folha de Medronho – Artes Performativos organizou, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, mais uma edição do Tanto Mar – Festival Internacional de Artes Performativas de Loulé, com o objetivo de complementar a oferta regional e nacional e desenvolver, ao longo do ano, direta ou indiretamente, o trabalho de cruzamento de experiências entre os criadores dos países onde o português é a língua oficial. “Com base nestes

dois eixos, pretende-se transformar o «Tanto Mar» numa interface para a circulação de espetáculos de grupos vindos de países falantes do português, almejando com essas experiências e resultados que Loulé, a médio/longo prazo, seja o palco europeu privilegiado, e o espaço físico para um futuro arquivo do material do labor despendido, para chegar ao efémero do palco, como, por exemplo, cartazes, livros, programas e audiovisual”, explicam João de Mello Alvim e Alexandra Diogo. Depois de «Amêsa» e «Mionga», o festival terminou, no dia 19 de março, no Cineteatro Louletano, com a performance «Ombela», pelo Grupo O Poste – Soluções Luminosas, do Brasil. “A chuva, após

cair, resolve deixar duas gotas que ALGARVE INFORMATIVO #334

se transformam em duas entidades, que são a personificação da chuva ganhando corpo e voz. Essas Ombelas inventam rios e desdobram ao som do vento e a cada gota faz nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. Ao 122


longo da jornada aqui na terra vemos as gotas tomarem formas variadas absorvidas pelo processo de humanização que passam”, explica a companhia do Recife. «Ombela» é um musical ao vivo com direção da cantora Isaar, representa arquétipos do universo feminino e é a 123

síntese poética onde a chuva reorienta a transfiguração dos sentidos da vida e nos interroga quem somos nós e para onde vamos? Para além de ser interpretada em português, contém partes faladas e cantadas na língua africana de Angola, o umbundo, que é bastante falada pelos Ovimbundos das montanhas centrais daquele país . ALGARVE INFORMATIVO #334


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O espírito do lugar Paulo Cunha (Professor) xistem locais que nos marcaram tanto que, mesmo tendo a oportunidade de visitar e conhecer outros, acabamos por regressar, procurando a felicidade que nos continuam a proporcionar. Frequentemente, dizemos que são sítios que nos marcam pelo seu espírito. A expressão «genius loci» (espírito do lugar) é tudo aquilo que torna um qualquer local em lugar, atribuindo um ambiente que por si só, sendo similar a tantos outros, é único para nós. As vivências, os cheiros, os sons, as cores, os sabores e, principalmente, as memórias tornam esse lugar diferente e uno. O que torna um edifício único, mesmo rodeado por outros em tudo semelhantes? O que faz de um espaço um lugar único quando o mesmo se insere numa área idêntica? É o respeito pela história, pela identidade, pelas características e pela memória do lugar que o torna também nosso. Sendo o conceito de património um conceito evolutivo, é importante compreender a sua flexibilidade e transformação e assim crescer com ele. O arquiteto Christian Norberg-Schulz (1975) considerou crucial dotar a vida humana de significado existencial. ALGARVE INFORMATIVO #334

Segundo ele, o lugar que determina algo conhecido e concreto é um espaço do qual nos apropriamos, um lugar vivido, feito nosso mediante o seu uso. É um lugar onde cada um se identifica e relaciona com o mundo e que está rodeado de caráter e de símbolos - um lugar existencial. Seriamos pessoas diferentes se tivéssemos nascido num local diferente? De que forma a nossa personalidade e perceção do mundo seria modificada pela mudança de contexto? Somos indissociáveis do nosso contexto, seja cultural, familiar, social, temporal ou espacial. Independentemente da cultura, os nossos antepassados detetaram que cada local tinha qualidades próprias, atribuindo-lhe muitas vezes características humanas ou mesmo sagradas e divinas. Esta qualidade única e talvez mesmo mística tornou-se conhecida como «genius loci» ou o espírito do local. Tendo em conta todas as características de um local que dão forma à energia que emana, acabamos por chegar à conclusão de que o espírito do local é um conceito que tenta definir o indefinível. Por exemplo, os romanos definiram o «genius loci» como uma entidade, um espírito cuja função é proteger os lugares. Já para os chineses todo o estudo formal e energético de um espaço, exterior e 130


interior, feito através do «feng shui» é, na verdade, uma leitura e interpretação do espírito do local. Inconscientemente, as nossas mentes recebem informação dos espaços onde habitamos, trabalhamos e convivemos. Evidentemente, a qualidade desses lugares influencia indireta e diretamente a nossa capacidade de ser, de estar e de agir. Para tomar consciência desta energia subjacente é preciso deixar os sentidos funcionarem em toda a sua plenitude. Antigamente, em certas culturas, antes de se fazer qualquer alteração ou construção, o espírito do lugar era sempre consultado e interpretado por anciãos ou xamãs, porque acreditavam que as construções humanas intervêm diretamente no local, 131

podendo amplificar as suas qualidades ou destruir a sua alma. Podemos dar-lhe o nome que quisermos, mas é indesmentível que há um poder que nos atrai ou repele de determinados locais e que, tal como certas pessoas, influencia e condiciona a nossa vida. Queiramos e saibamos interpretá-lo e viveremos, por certo, melhor e mais felizes. Acredito que sim! O tamanho do espaço depende dos nossos sentimentos. Para aquele cuja mente é livre de cuidados, Um dia ultrapassará um milénio. Para aquele cujo coração é grande, Um pequeno lugar é como o espaço entre o céu e a terra. (Poema tradicional chinês) . ALGARVE INFORMATIVO #334


Quinquagésima tabuinha: Joelho (IX) Ana Isabel Soares (Professora universitária) ma das cenas de guerra que, no cinema, com mais poder se fixaram no meu pensamento, foi, sem surpresa, a da morte do Sargento Elias (Willem Dafoe), observada de cima – de dentro de um helicóptero que os resgatara pouco antes – pelos seus companheiros de pelotão (Platoon é o título do filme de Oliver Stone, de 1986), mas que a câmara acaba por registar e mostrar ao nível do chão. A carga dramática, gradualmente aumentada por esta passagem do céu à terra, é reforçada pela banda sonora e musical que acompanha as imagens: o ruído das hélices e do motor dos helicópteros e o das rajadas de metralhadora, a que se sobrepõe o crescendo do Adágio de Samuel Barber, a sua opus 11 para cordas. Depois de planos gerais em que se percebe que aquele soldado foge, sozinho, das balas do inimigo que o persegue em bando, a atenção do espectador é dirigida, em plano mais aproximado, ao homem solitário que, uma e outra vez, soçobra sob os ataques, cai no chão, reergue-se, corre, cai de novo, arrasta-se e, por fim, detém-se para morrer, atacado pelas costas. O momento em que o corpo já não é senão uma massa que se movimenta desalmada, fixado no rosto o esgar definitivo, é representado como instante sacrificial: os braços sobem para o céu, como que elevados por uma alma que já se evolou, e o resto do peso carrega os dois joelhos, ponto duplo ALGARVE INFORMATIVO #334

através do qual o cadáver se aferroa à terra. Morrer de joelhos é mais trágico do que o simbólico morrer de pé – significa a entrega, a rendição inexorável, o abandono que não pode evitar-se, um aqui fico, já não estou, faça-se de mim segundo uma desumana vontade. Os inúmeros retratos de final de vida, em tons sacrificiais e dramáticos, ressurgem nas artes de todos os géneros – os joelhos fazem-se presentes nessa exaltação. Assim como no estertor do Sargento Elias, podem ser sinal de uma redução cadavérica, como que substitutos dos pés na brevidade com que a alma se despediu do corpo, recordação de um regresso à animalidade pré-Sapiens, à condição que, afinal, a existência animada só ilusoriamente abandonamos. Elias é um Cristo que, forçado a desistir da existência, interroga o Pai – porque me abandonaste? Quando forem recolhidos os destroços da sua corporalidade, será deposto sobre o mármore e o seu padecimento será lamentado por três figuras: a mãe, um jovem apóstolo, a quem deixará o legado do pensamento, e a mulher cujo rumo de vida ajudou a modificar. Elias será Jesus e Andrea Mantegna o observará (não apenas Maria, João e Madalena, mas esse olhar que é do pintor e de quem, frente ao quadro, o vê*) a frieza do corpo jacente na pedra fria, já não de pé, nem de joelhos, mas numa linha horizontal, em perspetiva. Em vez do rosto, em vez dos braços, serão os pés feridos que primeiro verá e dará a ver – feridos do ferro com que foi 132


Foto: Vasco Célio

crucificado, ou das balas que, através das grossa solas de borracha os trespassaram. Inertes e nus, os pés prolongar-se-ão para longe de quem olha, empurrados pelos joelhos que se adivinham sob o lençol (as cores que Mantegna usará para o pano serão as mesmas com que o pincel terá pintado a pedra, todo o tom da imagem se cristalizará nesse róseo que relembra o sangue esbatido, débil). Quando o olhar se detiver nos joelhos, verá que estes servem de moldura interna, ladeados, cada um da mão respetiva, porque os nós dos dedos repetem a qualidade articulatória que se oculta. Ao centro deste duplo enquadramento (mão – joelho – __ – joelho – mão), está o inominável sexo de Cristo, pudica e devidamente coberto, membro de vida cujo relevo por baixo do lençol se iguala ao das duas juntas genufletoras. São três elevações do tecido, uma tríade cujo núcleo se exibe e cala. Uns dois séculos (quase, quase certos) depois de Mantegna pintar Cristo morto nel sepolcro e tre dolenti, talvez a mais famosa das lamentações sobre Cristo morto, o compositor alemão-dinamarquês Dietrich 133

Buxtehude escreveu um ciclo de sete cantatas em que louva não a totalidade física de Cristo, mas membros específicos do seu corpo. Impede, assim, que se concentre a atenção no elemento global (ou melhor, cindido em sólido e líquido, corpo e sangue) através do qual se compreende a transubstanciação e que a atenção seja dedicada ao que é parcial, não uno, mas isolado, humano mais do que divino. A ordem pela qual inscreve na composição cada um dos membros do nosso Jesus (Membra Jesu Nostri, o título, é a locução latina que significa, precisamente, os membros de Nosso Jesus) é a mesma pela qual o olhar do espectador os encontra no quadro de Mantegna. A última das cantatas dirige-se ao rosto adormecido de Cristo (o rosto pacificado que Mantegna desenhou), a penúltima ao coração (o invisível e guardado coração que a carne ainda acama), a quinta dedica-se ao peito, cofre do cor, caixa da emoção e o mais amplo elemento no quadro de Mantegna; a quarta à ilharga, ao lado de Jesus (os versos da melodia poderiam ter sido entoados por Madalena, cujo rosto dolorido quase não se vê, na zona sombria do quadro, os olhos fora do enquadramento e a boca aberta, em procura), a terceira às abençoadas mãos – logo depois do canto inicial, louvor aos pés, à carne escancarada e ferida, chaga e estigma da confrontação na morte, cantam-se os versos aos mais sagrados joelhos . * Na Pinacoteca de Brera, Ermanno Olmi decidiu, em 2013, exibir a tela de Mantegna (68 x 81cm) na perspetiva que teria sido desejada pelo pintor: a 67cm do chão, quem a quiser contemplar terá de se ajoelhar. ALGARVE INFORMATIVO #334


Notas Contemporâneas [36] Adília César (Escritora) “E este paraíso prometido pelo poeta, distante como está, banha toda a sua obra de uma imortal claridade – que é a essência da serenidade”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) OMOS IMORTAIS na arte. Prolongamos na efemeridade do momento criador uma essência artística, por vezes estética. A alegria não parece fazer parte dessa equação. Já a doença, tão reveladora da condição humana, perpetua uma certa condição intrínseca da imaginação, escavando bem fundo, até doer o que ainda não doía. * A DOENÇA pode ser uma patologia de descoberta do eu. Afinal, quando estamos sãos e felizes, o que há a dizer aos outros sobre a nossa interioridade? Estou feliz! Sim, e depois? Já as agruras do destino, os sentimentos de culpa e de inquietação pesam na consciência. Transbordam das margens da pele, dos orifícios do corpo, da escuridão da tristeza. Ah… a melancolia, essa arma de arremesso da criação. * ALGARVE INFORMATIVO #334

A MELANCOLIA enquanto característica humana instalase e identifica-se com a metáfora filosófica, poética, artística. Individualizase, torna-se autoral de objectos artísticos. É uma tentativa de cura do mundo que está doente, melancólico. A melancolia pode ser a doença e a sua cura. Talvez escrever sobre melancolia nos mantenha ocupados – o veneno poderá gerar o próprio antídoto. A aura estética da melancolia compensava o sofrimento que podia causar – ontem, tive a certeza que isto era verdade. E hoje? * NÃO EXISTE TOLERÂNCIA para com os melancólicos. No degrau seguinte surge a depressão, afastando-se de uma certa condição existencial e transpondo-se para a doença mental. A fronteira é frágil, fina. E, todavia, se os fundamentos biológicos da depressão fazem todo o sentido enquanto distúrbio da bioquímica cerebral, que há a dizer sobre as possibilidades poéticas do indivíduo que parece viver no seio de um caos emocional permanente? Talvez a loucura faça parte das nossas vidas, 134


talvez os loucos sejam normais, talvez a loucura seja urgente. Para já, digo apenas isto: William Burroughs, Arthur Rimbaud, Charles Bukowski, Dino Campana, António Gancho. Mas há mais, muitos mais. Eles andam por aí, cobertos de fatiotas de ironia. Neblina, escuridão. Eles são os poetas loucos, malditos, melancólicos.

enterram-se, voluntariamente, numa morte anunciada. Os seus poemas são as suas sepulturas. Depois, os poetas melancólicos renascem e a procura recomeça. Os fracassos do homem perante a vida ditam verdadeiras obras primas, são testemunhos intemporais da condição humana autodestrutiva. *

* OS POETAS MELANCÓLICOS nunca estão satisfeitos, não alcançam a serenidade espiritual nem veem a luz nos seus versos. Procuram, escavam e 135

JÁ LESTE «Uma temporada no inferno» escrita em 1873, de Arthur Rimbaud? Não? Então, devias. Talvez o inferno seja, afinal, um paraíso . ALGARVE INFORMATIVO #334


Criativos, aqueles que mudam o mundo para melhor Fábio Jesuíno (Empresário) er criativo é o mesmo que pensar diferente, é ser original. São os criadores de ideias que acham que podem mudar o mundo, são os que efetivamente o fazem para melhor.

momento que o indivíduo vê uma oportunidade ou problema; a segunda é a fuga, onde a pessoa deixa de pensar na realidade presente e abre a mente; por último, o movimento, o indivíduo explora a sua imaginação, gerando novas ideias e fazendo ligações inéditas.

A criatividade faz a diferença como capacidade humana responsável por grandes mudanças e transformações. É a criatividade a grande responsável pela evolução da humanidade, todos os grandes génios são, acima de tudo, criativos.

Outra das formas para estimular a criatividade é utilizando o brainstorming, uma técnica de grupo ou individual, na qual são realizados exercícios mentais com o objetivo de explorar potencial de ideias com um baixo risco de atitudes inibidoras. Este formato é implementado em três fases distintas, onde a primeira é aquela onde são geradas as ideias, a segunda tem como objetivo esclarecer os processos e a terceira é a avaliação das ideias propostas.

Através da reflexão e do silêncio conseguimos encontrar os caminhos para a criatividade. Qualquer pessoa pode desenvolver esta qualidade e treiná-la, está ao alcance de todos este superpoder útil para as mais diversas situações. Considero a criatividade uma das maiores qualidades dos seres humanos, é ela que faz a diferença nas mais diversas profissões, deve ser impulsionada sempre e estudada para que qualquer pessoa aprenda a ser mais criativa. A criatividade pode ser estimulada através de um processo onde existem três ações que são colocadas em prática: a primeira é a atenção, que se refere ao ALGARVE INFORMATIVO #334

É importante mudar a forma como olhamos para as coisas, muitas das vezes as nossas rotinas criam uma monotonia, inibindo assim a nossa imaginação. É importante imaginar abordagens contraditórias e, dessa forma, promover o pensamento do impossível, o inatingível, o inigualável, deixar a nossa caixa de pensamentos limitadora e pensar fora dela, explorando novos horizontes através de uma floresta preenchida por muitos obstáculos. 136


Aqueles que atingem níveis de criatividade elevados conseguem criar ideias de grande impacto na sociedade, são eles que têm a capacidade de mudar o mundo para melhor. Sem medo de errarem e aceitando o risco de não serem 137

compreendidos, estão à frente do seu tempo, são os verdadeiros criadores do futuro, sonhadores realistas de uma coragem inigualável. Num mundo cheio de incertezas, os criativos vão fazer a diferença . ALGARVE INFORMATIVO #334


Governo novo, renovadas esperanças Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) Algarve tem sido, historicamente, uma região adiada para os governos centrais. A sua localização periférica relativamente ao centro de poder, a falta de voz reivindicativa decorrente da falta de unidade interna e de autonomia regional e a existência de uma elevada percentagem de população flutuante e desenraizada, contribuem para que, sempre que ocorre uma mudança de governo, surjam novas esperanças de concretização de ambições antigas e sucessivamente adiadas. As últimas Legislativas não foram diferentes, nem produzem efeitos diversos. No entanto, este mandato faz crescer a esperança de ocorrência de algumas reformas positivas, não pelo governo em si, mas pelas condições de governabilidade. Pelo menos, desta vez, saberemos que não haverá um atirar de culpas sobre o governo anterior para a realização de um conjunto de imperativos regionais, a começar pela apregoada implementação da regionalização. Os últimos anos o Algarve percebeu que a falta de uma autonomia regional e a sua dependência ao centralismo impossibilitaram a implementação de medidas específicas para a realidade ALGARVE INFORMATIVO #334

regional e nem o tão apregoado pacote de investimentos específico para a região surtiu qualquer efeito. Depois de dois anos de extremas dificuldades para todos aqueles que vivem do sector turístico, em que assistimos à debandada de uma parte significativa de mão-de-obra qualificada, à paralisia económica e à falta de investimentos alternativos, o adiamento da construção do Hospital Central do Algarve para outro mandato seria incompreensível, até para os defensores do Governo. Do mesmo modo, a manutenção da cobrança de portagem na A22 é uma desconsideração para com os residentes no Algarve, não só pelo gesto de cobrar, mas, principalmente, pela falta de alternativas viárias, pela irrelevante rede de transportes públicos e pelas deficiências que a via apresenta. No entanto, a maior esperança que podemos ter para os próximos quatro anos é a concretização da regionalização. O Algarve reúne todas as condições para fazer uma boa gestão pública regional, capaz de suprir as inúmeras deficiências e de acudir às falhas específicas da nossa realidade, que se depara com os problemas próprios de um interior desertificado e de um litoral superlotado; de um barrocal abandonado; de um litoral extenso mas desprovido de um porto marítimo adequado; de uma linha 138


ferroviária com seis décadas de atraso em relação ao resto do país. A falta de um representante regional no Governo poderá contribuir para uma quase unanimidade regional a favor desta luta, que não é partidária, nem uma necessidade presente, mas antes um legado que fica para as gerações futuras. 139

Se falhar nesta concretização, o ónus do fracasso será exclusivamente atribuível à governação actual. Os algarvios saberão quem são os responsáveis por mais um adiamento, por mais um alheamento face ao poder central, pela manutenção da sua condição de colónia. Balnear, mas não só… . ALGARVE INFORMATIVO #334


Adão…e suas duas mulheres!!! Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) stou de volta, minhas amêndoas de Páscoa (com recheio de chocolate)!!! Estive ausente, porque o covid19 (e nenhuma das 18 versões anteriores) resolveu aparecer e entrar lá em casa sem ser convidado 39 testes negativos depois. Eu sei, eu sei… que já não vou para o céu após esta ausência. Contudo, deixo-vos uma mensagem de força e resistência, se tudo correr bem para mim e mal para todos vós, voltarei a escrever no início de maio. Como sabem, chega esta altura do ano (e no Natal) e só me vem à cabeça episódios bíblicos, porque será? Será porque alguns textos bíblicos indicam o exercício da ironia, do riso com certo deboche e escárnio? É que basta ler o novo testamento para ver a forma como os heróis bíblicos são muitas vezes envergonhados e apresentados como decadentes. Se lerem o antigo garanto que ainda vão ficar mais escandalizados. Não me refiro ao riso da alegria por alguma bênção ou vitória conquistada, mas a outro tipo: aquele que nasce de uma narrativa que desnuda, para nos fazer rir. Vocês sabiam que o grande Moisés era gago? A Bíblia é um conjunto de narrativas, por vezes com certa dose de humor. Reconheçamos na Bíblia Hebraica um conjunto maior de narrativas humorísticas, mas não ALGARVE INFORMATIVO #334

deixemos de imaginar como devem ter sido as reações a algumas das palavras de Jesus nos Evangelhos, nomeando líderes de sepulcros caiados e chamando governante de raposa. É que para a época… Mas, (mesmo acreditando num Deus de amor e com um humor refinado) não vou por aí. Inspirado em algo que li enquanto estava em isolamento, tomei a liberdade e heresia de rescrever uma história entre os três primeiros seres a habitar a terra. Leram bem, não foram apenas dois, mas três… Era uma vez, há muito tempo atrás, num reino não muito longínquo (onde agora é Portugal) e num tempo onde tudo era mágico, (tudo era mágico porque era tudo uma cambada de analfabetos e ninguém sabia explicar nada de acordo com a ciência). Deus formou Adão e Lilith do pó da terra e soprou em suas narinas o sopro da vida e manda-o para o paraíso. Isto já de si é suspeito. Porque não o mandou para outro sítio qualquer? Nunca saberemos, mas o que é certo é que o Homem lá foi diligentemente para aquilo que Deus convencionou por paraíso. Na realidade era um pardieiro vazio, sem interesse nenhum e completamente despovoado. Não fossem umas arvorezinhas aqui e ali e assemelhar-se-ia ao Alentejo profundo. Criados da mesma fonte (ambos tinham sido formados da terra), eram iguais, sob 140


todos os aspetos. Adão, não gostava dessa situação e buscava um meio de mudá-la. Mas Lilith não era mulher de aceitar esse despropósito, tinha pelo na venta. Bebeu um gole de bebida estimulante, pronunciou o santo nome de Deus e desapareceu. Adão, como bom macho queixou-se ao Senhor que não sabia lavar a loiça e que as roupas (folhas de parra) estavam por lavar. Nesta história até a questão das roupas é insidiosa… se os gajos estão no paraíso porque diabo têm que usar parras a tapar-lhes a genitália? Boss e Dior seriam 141

mais plausíveis, bolas! Afinal de contas que paraíso era aquele?? Bom, continuando… O Senhor, inclinado a ser solidário, enviou, ele próprio, mensageiros atrás de Lilith, pedindo que desse mais uma oportunidade ao Adão, ou enfrentaria horrível punição. Lilith, entretanto, preferiu qualquer coisa a viver com Adão, decidiu ficar onde estava. Com toda esta indecisão, Adão, farto de contar as árvores, que nem eram tantas ALGARVE INFORMATIVO #334


como isso, resolveu meter um requerimento a Deus para lhe arranjar outra companhia. Distraidamente Deus mandou-lhe uma ovelha e rapidamente descobriu o significado da contranatura. Decidiu então fazer um truque com uma costela de Adão, criando dali uma segunda companheira para o entediado mamífero. Chamou-lhe de Eva. E agora chega aquela parte incongruente: aquela em que Deus, num lampejo de autoridade tipo «quem manda aqui sou eu e vou inventar algo para vos deixar a matutar» decide embirrar com as maçãs e proibir Adão e Eva de as comer. Qual é o problema das Kiwis? E da pera rocha? Porque não proibir as ameixas ou o ananás? Ou toda a gama de frutos secos? É só incongruências… Chegamos então à parte da cobra que falava. Tudo bem. Eu até ter chegado a 2022 e ouvido o Putin, achava que as cobras não falavam, portanto, isto até faz algum sentido no meio desta trapalhada toda. Mas a questão é que a cobra de Adão e Eva demonstra uma obsessão voyeurística qualquer por maçãs. Gosta de as ver serem comidas. Há gostos para tudo… Finalmente, os gajos comem a maçã e Deus aparece para os expulsar do paraíso e não se fala mais nisso. Porquê? A história acaba aqui porquê? E a vida porca que eles levaram depois, com a obsessão insidiosa que Adão desenvolveu por ovelhas? E com quem casou Lilith?

imaginário infantil. As figuras femininas como é exemplo Lilith, sofreram por não se submeterem a Adão, «o homem mais puro de todos». De qualquer forma, a transgressão delas trouxe, além de severas punições, a ideia de que, desde os tempos mais remotos, a mulher procurava sua autonomia, tanto sexual quanto ao direito de conhecimento. Elas desobedeceram e sofreram sanções. Quantas mulheres já não passaram pelo mesmo tipo de demonização apenas e tão somente porque transgrediram regras de um mundo patriarcalista que não aceita a independência feminina? Uma mulher livre sempre foi tida como perigosa, ameaçadora, que não pode ser dominada. No entanto, é apenas e tão somente uma mulher, e não um ser maléfico, como tanto já quiseram difundir. Nesta época já sabem, nada de comer carninha, que o Deus (de alguns) faz beicinho. Deus é um gajo atento aos detalhes e se vocês comem uma sandes de queijo com uma fatia de fiambre lá escondida, têm que rezar no mínimo dois Pais Nossos de joelhos, enquanto enfiam os dedos na goela e vomitam o pecado numa espécie de absolvimento bulímico. Por hoje, está feito! Adeus, um bemhaja e façam amor que nem coelhinhos da Páscoa para compensar os doces que vão comer! Se o fizerem por uma questão de saúde e não de prazer, Deus compreende. Não pratiquem é sadomasoquismo, que chicotes e amarras e essas coisas, nesta altura do ano pode ser considerado, de mau tom .

Espero que tenham ficado esclarecidos e espero não ter destruído muito o vosso ALGARVE INFORMATIVO #334

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #334

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