REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #318

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ALGARVE INFORMATIVO 11 de dezembro, 2021

PAULO ÁGUAS | PRÉMIO MUNICIPAL DE VOLUNTARIADO DE PORTIMÃO | MOMI 1 SOM RISCADO | GNR DE LAGOS | ASSOCIAÇÃO MARGINÁLIA | «A PAZ PERPÉTUA» ALGARVE INFORMATIVO #318


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110 - Associação Marginália 88 - «WoooW!» de Nando Caneca

18 - Posto Territorial da GNR de Lagos 60 - «King of the Jungle» dos ReAct!

50 - «Encode» de Simão Costa e Yola Pinto

102 - «Música para Algarvios do futuro»

OPINIÃO

72 - «A Paz Perpétua» ALGARVE INFORMATIVO #318

122 - Paulo Cunha 124 - Mirian Tavares 126 - Ana Isabel Soares 128 - Adília César 130 - Fábio Jesuíno 132 - João Ministro 134 - Nuno Campos Inácio 12


40 - Paulo Águas novamente eleito para Reitor da Universidade do Algarve

28 - Portimão entregou Prémio Municipal do Voluntariado 13

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GNR DE LAGOS TEM NOVO POSTO TERRITORIAL NO CHINICATO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina aquele que seria o seu último ato oficial como Ministro da Administração Interna antes de apresentar a demissão horas mais tarde, Eduardo Cabrita deslocou-se, na manhã do dia 3 de dezembro, ao Chinicato, para a inauguração do novo Posto Territorial da GNR de Lagos. Localizadas num edifício municipal junto à EN 125, as novas instalações “vão ao

encontro das expectativas da Guarda Nacional Republicana e dos ALGARVE INFORMATIVO #318

seus militares que diariamente procuram dar respostas às necessidades de segurança das populações”, referiu o TenenteGeneral Rui Carlos Clero, que enfatizou o empenho da autarquia local para dotar o efetivo de Lagos de infraestruturas que melhoram a qualidade do serviço prestado. “Os

lacobrigenses podem contar com uma Guarda renovada, colaborativa e mais capacitada para melhor responder aos seus anseios”, garantiu o Comandante18


Geral da Guarda Nacional Republicana, lembrando ainda a recente cedência de uma viatura de patrulhamento à GNR de Lagos pela Câmara Municipal. As novas instalações materializam igualmente, na opinião do TenenteGeneral Rui Carlos Clero, a proximidade existente entre os diversos atores e forças vivas do concelho em prol do bem comum. “A segurança e a criação de

um ambiente social pacífico é um desafio e uma responsabilidade que a todos nos anima. Estamos conscientes de que a Guarda poderá contribuir, de uma forma mais efetiva, para garantir a liberdade e a segurança das populações com o

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apoio de todos neste desígnio coletivo e, neste particular, o Município de Lagos tem partilhado, ao longo dos últimos anos, das nossas preocupações, através da promoção integrada de sinergias, competências e recursos de diferentes entidades sediadas no concelho, assegurando a eficácia e adequação das respostas locais”, destacou o Comandante-Geral da GNR, dando os exemplos da criação do Núcleo de Planeamento e Intervenção do Sem-Abrigo de Lagos, da celebração do Contrato Local de Segurança, da implementação do projeto «Aprender a Crescer com Segurança» no âmbito do

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Programa Escola Segura, e da concretização do Gabinete de Apoio à Pessoa Idosa e do Gabinete de Apoio à Vítima de Lagos. “A violência

doméstica constitui uma das mais graves formas de violação dos direitos humanos e continua a ser um dos fenómenos criminais que mais preocupa a GNR. Só no ano transato e nos três primeiros trimestres de 2021 foram constituídos 65 arguidos como agressores pela prática deste tipo de crime. Este novo quartel representa também a preocupação da Guarda para com as vítimas de violência doméstica, com uma sala de atendimento à vítima que não existia nas instalações anteriores e que vai permitir um serviço de ALGARVE INFORMATIVO #318

melhor qualidade e facilitador de maior estabilidade emocional das vítimas”. O Tenente-General Rui Carlos Clero referiu ainda que, no recente Censos Sénior, foram sinalizados, no concelho de Lagos, 133 idosos que vivem sozinhos ou isolados e que estão a ser apoiados e acompanhados pelos militares da GNR, como forma de mitigar os riscos a que estão sujeitos.

“Servindo uma população de aproximadamente 13 mil habitantes, distribuídos por cerca de 189 quilómetros quadrados, os militares do Posto Territorial de Lagos, em estreita cooperação com os militares da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário e do 20


Núcleo de Proteção Ambiental do Destacamento Territorial de Portimão, têm exercido a sua atividade através de uma atuação preventiva e de proximidade. Esta modalidade de atuação muito contribui para o sentimento de segurança e tranquilidade públicas e permitiu, em 2020, e até à presente data, na área adstrita ao Posto de Lagos, a realização de 449 ações de sensibilização, enquadradas em operações e programas desenvolvidos pela Guarda como «Idosos em Segurança», «Escola Segura», «Campo Seguro» e «Floresta Segura»”, descreveu o Tenente-General Rui Carlos Clero.

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Lagos que se caracteriza igualmente pelo seu vasto património histórico, cultural e natural, com a GNR local a realizar, desde 2019, 169 patrulhas de proteção da floresta, a efetuar 59 ações de ataque inicial a incêndios – com uma taxa de sucesso de 92 por cento – e a investigar as causas de 91 incêndios rurais. “Num período

ainda muito afetado pela situação pandémica que vivemos, contem com o nosso compromisso em contribuir para o normal desenvolvimento das atividades económicas da região e para o bem-estar social dos cidadãos. Aos militares do Posto Territorial de Lagos, deixo-vos duas palavras de conforto e confiança. Enquanto vosso Comandante-

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Geral estarei atento e procurarei, a cada momento, tomar as decisões mais adequadas que concorram para os mais elevados desígnios da nossa Guarda, e trabalharei na procura da otimização da organização do serviço da Guarda e da mais eficiente utilização dos

recursos disponíveis. E tenho confiança no futuro, sustentada na esclarecida perceção das vossas competências e responsabilidades, e na vossa capacidade para responder, com oportunidade, responsabilidade e sensatez”, finalizou o TenenteGeneral Rui Carlos Clero.

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parceria e num estreito diálogo com a Secretaria-Geral da Administração Interna e a Guarda Nacional Republicana. “O contrato de

No uso da palavra, Hugo Miguel Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos, recordou que a segurança, para além de fundamental para a população local, é também um fator determinante para a competitividade e atratividade do Algarve enquanto destino turístico. Por isso, deixou clara a sua satisfação pelo culminar de um caminho percorrido em 23

cooperação interadministrativo celebrado a três concedeu ao Município de Lagos a legitimidade necessária para lançar uma empreitada de remodelação de instalações para acolher, neste edifício municipal, o Posto Territorial da GNR de Lagos, depois de, em anos anteriores, o mesmo termos feito com a Direção Geral da Conservação da Natureza e Florestas do Algarve e com o Sub-Destacamento de Trânsito de Lagos da GNR. O nosso papel é criar as condições e proporcionar todo o apoio logístico para que as forças de segurança de natureza militar ou civil e os serviços de segurança possam exercer devidamente a sua missão, garantindo, deste modo, os direitos e as liberdades dos cidadãos e o pleno funcionamento das instituições democráticas, a ordem e tranquilidade públicas, a segurança e proteção de pessoas e bens”, sublinhou o edil lacobrigense. Hugo Miguel Pereira considera Lagos um concelho privilegiado por congregar a presença de várias forças de segurança, casos da GNR, PSP, Polícia Marítima e Polícia Municipal, sendo que, dos 212,99 quilómetros ALGARVE INFORMATIVO #318


quadrados deste território, cerca de 94 por cento estão sob a jurisdição da GNR, numa população em torno dos 13 mil habitantes que triplica ou quadruplica no período da época alto do turismo. “Num

território tão extenso como este exige-se, a par de instalações dignas, confortáveis e funcionais, um número de efetivos que permita dar resposta aos crescentes desafios que se colocam pela frente. A maior dispersão habitacional e populacional neste território, uma maior prevalência de população idosa, os riscos inerentes às alterações climáticas e aos fogos florestais, e as novas formas de criminalidade, são uma realidade que exige o reforço dos meios humanos para garantir a ALGARVE INFORMATIVO #318

intervenção de proximidade que todos desejamos”, reivindicou o presidente da Câmara Municipal de Lagos, aproveitando para enaltecer a GNR por ser um parceiro de corpo e alma em diversos áreas sensíveis de intervenção. “Da nossa parte cá

estaremos para continuar a assegurar as condições físicas e os meios materiais e logísticos necessários”, declarou Hugo Miguel Pereira. A cerimónia de inauguração do novo Posto Territorial de Lagos da GNR chegou ao fim com a intervenção de Eduardo Cabrita, na altura ainda Ministro da Administração Interna, que também considerou a segurança como um dos grandes ativos de Portugal, e do Algarve, enquanto destino turístico. 24


“Portugal era, em 2014, meritoriamente considerado o 18.º país mais seguro do mundo pelo Global Peace Index. Nos últimos quatro anos, fruto de uma ação sustentada da parte dos milhares de homens e mulheres que servem Portugal nas forças de segurança, estivemos sempre entre os cinco países mais seguros do mundo, sendo que, durante a maior parte desse período, fomos mesmo considerados o país mais seguro da União Europeia. Este ativo é decisivo para a qualidade

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de vida dos portugueses e para o sentimento de coesão nacional, mas também fundamental para atrair investimento e captar turistas e investigadores, bem como aqueles que aqui queiram gozar os seus dias de repouso numa fase final de vida”, apontou Eduardo Cabrita, acrescentando ainda que nos últimos quatro anos se registaram os menores índices de criminalidade em Portugal desde 1989.

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“A SOLIDARIEDADE E O VOLUNTARIADO SÃO IMPRESCINDÍVEIS E INSUBSTITUÍVEIS”, AFIRMA ISILDA GOMES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina o Dia Internacional do Voluntariado, que se comemora a 5 de dezembro, a Câmara Municipal de Portimão prestou homenagem pública a várias associações e pessoas que se têm distinguido pelo trabalho comunitário efetuado em período de pandemia, nomeadamente na entrega de refeições, cabazes e medicamentos ao domicílio e na realização de compras. A sessão, que teve lugar no Auditório do Museu Municipal de Portimão, contou com a ALGARVE INFORMATIVO #318

partilha de experiências em tempos de covid-19 por parte de João Lagartinho (Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento de Portimão), Manuela Santos (Cáritas Paroquial de Nossa Senhora da Conceição – Matriz de Portimão) e Sara Bruins (voluntária em nome individual). Após os testemunhos, foram homenageadas a Cáritas Paroquial Nossa Senhora da Conceição – Matriz de Portimão, ADRA – Associação Adventista para o Desenvolvimento, Recursos e Assistência, ACRA 1.º 28


Dezembro, Associação Flor Amiga, GRATO – Grupo de Apoio aos Toxicodependentes, MAPS – Movimento e Apoio à Problemática da Sida, Associação para o Planeamento da Família – Projeto Rio, Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento N.º 159 – Portimão e Corpo Nacional de Escutas Agrupamento de Alvor, bem como os voluntários a título pessoal Sara Bruins, Miguel Andrade, Marisa Guerreiro, João Sobral, João Gouveia, Catarina Menezes, Tynara Nascente, José Brito, Aleida Monteiro, Sónia Baiona, Diogo Diniz, Custódia Entradas e Arnaldo Silveira, que ofereceram os seus préstimos no âmbito da Plataforma do Voluntariado de Portimão, lançada recentemente pela autarquia local. Com este gesto, o Município de Portimão pretendeu enaltecer publicamente a vertente do voluntariado, que voltou a estar no 29

centro das atenções enquanto ato de cidadania ativa, constituindo uma componente importante no percurso de vida dos envolvidos e contribuindo para reduzir disparidades sociais e promover a necessidade e o dever de ajudar o próximo. No mesmo âmbito foram entregues os prémios e menções honrosas aos vencedores do Prémio Municipal de Voluntariado, galardão criado, em dezembro de 2018, pelo Município de Portimão para distinguir projetos nas áreas da solidariedade, saúde, ambiente, economia social, educação e formação, que promovam a melhoria da qualidade de vida de crianças, jovens, idosos, cidadãos portadores de deficiência ou outras pessoas em situação vulnerável. A título coletivo, o primeiro prémio, no valor de 6 mil e ALGARVE INFORMATIVO #318


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500 euros, foi para o projeto «SER na Demência» da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer, sendo entregue uma menção honrosa à Santa Casa da Misericórdia de Alvor pelo projeto «Horticultura Terapêutica». Já a título individual, Inês Sousa Reis também recebeu 6 mil e 500 euros para implementar um Jardim Sensorial, cabendo a menção honrosa a Rita Paulo Nunes Ricardo. A entrega do Prémio Municipal de Voluntariado deu o «pontapé-de-saída» às comemorações do Dia da Cidade de Portimão, que se assinala a 11 de dezembro, e é mesmo, para Isilda Gomes, um dos momentos mais marcantes do programa, “porque a solidariedade e

o voluntariado são imprescindíveis e insubstituíveis”. “Se não tivéssemos esta rede de voluntários e de associações, dificilmente 31

seríamos capazes de dar resposta às necessidades da população. Por isso, sinto um enorme orgulho naquilo que vocês todos os dias dão aos outros. Vivemos numa sociedade em que a solidariedade não é apenas uma palavra bonita, mas é um ato que se concretiza ao longo de todo o ano, e não apenas nesta época natalícia, que é um momento de paz e amor por natureza”, frisou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. Isilda Gomes não se cansa de dizer que a maior riqueza de Portimão são as suas pessoas e acredita mesmo que não existem muitas cidades e concelhos “com esta capacidade de

se dar e entregar aos outros e de ALGARVE INFORMATIVO #318


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trabalhar para que os outros sejam menos infelizes”. “Todas as associações de Portimão da área social têm feito um trabalho com uma dignidade que bastante nos honra. É claro que muitas delas não existiriam sem o apoio da Câmara Municipal, mas essa é a nossa obrigação, caso contrário, teríamos que contratar 10, 20, 30 vezes mais técnicas e funcionários para fazerem aquilo vocês fazem”, assumiu a edil, perante os dirigentes associativos que se encontravam na plateia. E a autarca mostrou-se especialmente preocupada, não com as pessoas que já estão no sistema e que habitualmente recebem algum tipo de apoio da rede social, mas com a «pobreza envergonhada». “Pessoas que estão a 33

passar mal, mas que têm vergonha de se dirigir aos locais onde lhes podem dar alimentos, roupa, medicamentos. Por isso, precisamos estar atentos a estas situações que podem estar a acontecer mesmo ao nosso lado e, por vezes, nem nos damos conta delas. Quero fome zero em Portimão, porque a Câmara Municipal tem, felizmente, neste momento uma situação financeira que lhe permite fazer face à necessidade de dar alimentos, roupa e medicamentos a quem deles precisa”. Olhar para todos e por todos é um desejo de Isilda Gomes, daí não ter palavras suficientes para agradecer ao ALGARVE INFORMATIVO #318


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movimento associativo de Portimão e ao seu contributo para um mundo melhor.

“Assim conseguimos dormir com mais tranquilidade, porque não é possível sermos felizes se, ao nosso lado, à nossa frente, tivermos pessoas em sofrimento. Que não seja por falta de dinheiro que não damos as respostas a quem delas carece, aliás, em 2020 assinamos três contratos específicos com as associações por causa da covid-19. Vocês multiplicam e transformam o dinheiro que recebem da autarquia em tudo aquilo que faz falta às pessoas”, destacou a presidente de câmara, para quem este Prémio Municipal de Voluntariado é “uma ode

ao valor das pessoas e à solidariedade, um apelo ao amor que todos nós devemos ter cá dentro para com o nosso próximo”. Um prémio que recebeu diversas candidaturas, a título coletivo e individual, o que muito agrada a Isilda Gomes, daí o valor monetário ter aumentado dos 5 mil euros iniciais para os atuais 6 mil e 500 euros. “A questão

da Alzheimer diz-me muito, convivi com esse problema durante quase 10 anos, e sei o quanto as famílias precisam de apoio e não o têm. Cada vez temos pessoas a viver mais anos, cada vez temos mais pessoas a sofrerem de Alzheimer, e há muitos dias em que os seus 35

familiares se vão abaixo e precisam de uma vozinha a darlhes força”, indicou a presidente da Câmara Municipal de Portimão, deixando no ar a possibilidade de, em edições futuras, se aumentar o número de projetos apoiados por este Prémio. “Tudo depende do

envolvimento das pessoas e das instituições, e esse tem sido fantástico”, salientou, antes de deixar os votos de Feliz Natal a todos os presentes e, acima de tudo, em segurança e com saúde. “Em

Portimão estamos muito mal em termos de covid-19, temos bastantes infeções, não vale a pena estarmos a «tapar o sol com uma peneira» e a dar uma falsa sensação de segurança às pessoas. Infelizmente, ainda temos muita gente que continua sem se vacinar e são essas pessoas que constituem a maior parte dos casos mais complicados. Espero que 2022 seja melhor que os dois últimos anos, porque não sei se alguma vez passamos por uma tempestade destas a seguir ao terramoto de 1755. Isto está a ser um autêntico terramoto para todos nós, precisamos ter capacidade para lutar e sobreviver, e acreditar que há futuro, que não é este vírus que vai acabar com a Humanidade”, finalizou Isilda Gomes .

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE CONTINUA A SER A PREFERIDA DOS ALGARVIOS, MAS AUMENTAM CADA VEZ MAIS OS ALUNOS ESTRANGEIROS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina aulo Águas toma posse, a 15 de dezembro, como Reitor da Universidade do Algarve para um segundo mandato de grande responsabilidade – não fosse esta uma das Academias mais prestigiadas de Portugal e uma presença constante nos ALGARVE INFORMATIVO #318

principais rankings internacionais – e de constantes desafios, “que podem ser

encarados de uma forma doce ou agridoce, mas sempre de um modo positivo”. “O meu primeiro mandato foi indelevelmente marcado pela pandemia, mas conseguimos ultrapassar as dificuldades graças à resiliência 40


dos docentes e do pessoal não docente, e dos próprios estudantes, porque não é fácil estar em isolamento nestas idades. Os jovens prosseguiram e concluíram as suas formações e a verdade é que chegámos a 2021/2022 com mais estudantes, uma situação financeira bastante mais equilibrada daquela que se verificava em 2017/2018 e melhoramos os nossos níveis de investigação”, relata o entrevistado,

fora do campus, ou porque viviam na mesma casa, ou porque eram amigos e estudavam juntos, sem distanciamento e máscara. Articulamos com as autoridades de saúde, os estudantes ficavam em isolamento, algumas turmas passaram a ter ensino à distância, mas tudo correu bem porque nenhum estudante necessitou de cuidados de saúde”, conta o Reitor da Universidade do Algarve.

em início de conversa. Após quatro anos de balanço positivo, e mercê do conhecimento acumulado e de se sentir com energia para desempenhar esta missão durante mais quatro anos, Paulo Águas decidiu recandidatar-se e o Conselho Geral da UAlg entendeu dar-lhe essa responsabilidade. E se agora é tempo de pensar no futuro, a nova realidade trazida pelo covid-19 continua bem viva nas nossas memórias, porque a pandemia teima em persistir. “Traçámos

planos de contingência e monitorizamos sempre muito de perto todas as situações. Hoje, obviamente, tudo está mais rotinado, a máquina está mais oleada, mas no início foi mais complicado. Sabíamos da existência de casos, mas não havia transmissão dentro da instituição porque foram tomados todos os cuidados adequados. Nunca tivemos nenhuma turma com mais de dois ou três estudantes positivos, e que resultavam de relações existentes 41

A par dos problemas de saúde, temeu-se também uma quebra da produtividade, piores resultados académicos, até mesmo abandono escolar, mas mais uma vez tudo correu pelo melhor, revela Paulo Águas.

“Quando confinamos na primeira vez, em março de 2020, esse receio era grande, mas os estudantes demonstraram toda a sua resiliência e que querem mesmo fazer a sua formação. Não tivemos aumento de insucesso escolar neste período e até temos, neste momento, o maior número de alunos dos últimos 10 anos. Em 2010/2011 eramos cerca de 9 mil e 100 alunos, seguiu-se um período de decréscimo até 2015/2016, como se verificou em todo o país, depois começou a verificar-se um aumento progressivo, muito alavancado pelo acréscimo dos estudantes estrangeiros”, indica, não poupando palavras de elogio também aos ALGARVE INFORMATIVO #318


professores. “Foram uns heróis

porque, hoje em dia, é certo que estamos todos mais familiarizados com as novas plataformas de comunicação, mas foi necessária uma formação intensiva. Também sabemos que as novas gerações são mais digitais que a atual geração de professores, daí ser ainda mais louvável a capacidade que tiveram para se adaptar em tão curto espaço de tempo”. Pessoal docente que continua a ser bastante profícuo em termos de investigação, com a Universidade do Algarve a ser constantemente notícia por novas descobertas realizadas nas suas várias unidades orgânicas.

“Naturalmente que um ou outro projeto de investigação pode ser sofrido alguns atrasos devido à pandemia, porque o confinamento não permitia trabalhos de campo, mas as dinâmicas não se perderam, ninguém ficou parado. A investigação também está muito dependente da captação de financiamento e temos sabido aproveitar as oportunidades que vão surgindo. Aliás, estamos em máximos de captação de financiamento para a investigação, o que depois de traduz nos resultados que temos vindo a alcançar”, indica Paulo Águas, que não esconde a satisfação por ver a UAlg a figurar regularmente nos principais rankings do setor. “Em alguns ALGARVE INFORMATIVO #318

rankings não existe qualquer participação direta da Universidade, tratam-se de análises bibliométricas e de investigação, noutros, temos que submeter as nossas candidaturas e, depois, se atingirmos determinados patamares, figuramos nos rankings. No fundo, há uns anos perdeu-se o medo de «irmos a jogo», quanto mais não fosse pela experiência e por ficarmos a conhecer melhor os nossos pontos fortes e fracos. 42


Os rankings servem muito para exercício de benchmarking e não estamos aqui a falar do trabalho de um reitor ou de uma equipa reitoral, mas de toda a Academia”, salienta o entrevistado. “Num dos rankings mais prestigiados, o Times Higher Education, a Universidade do Algarve é a instituição portuguesa com maior projeção internacional. Para além de termos uma percentagem de estudantes estrangeiros relativamente elevada em relação às outras instituições, os 43

nossos professores e investigadores também estão a trabalhar com muitos colegas internacionais. Isto resulta de um trabalho que vem sendo feito pela UAlg há bastante tempo”. Entretanto, para além do merecido reconhecimento além-fronteiras, estas distinções traduzem-se, depois, em mais estudantes e financiamentos, garante Paulo Águas. “São selos de

qualidade atribuídos por entidades externas, o que dá uma grande credibilidade à ALGARVE INFORMATIVO #318


Universidade do Algarve. Temos aproximadamente 20 por cento de estudantes estrangeiros e os números são mais elevados nos mestrados e doutoramentos. Na formação inicial, nas licenciaturas e cursos de primeiro ciclo, lecionamos apenas em português – e em princípio é isso que se perspetiva acontecer nos próximos anos – o que limita a procura ao espaço da lusofonia. No segundo ciclo e nos doutoramentos, já temos uma parte interessante que são lecionados em inglês. Ora, ao desaparecerem as barreiras linguísticas, nos mestrados, mais de 30 por cento dos estudantes são estrangeiros e, nos doutoramentos, os alunos ALGARVE INFORMATIVO #318

estrangeiros são mais de 40 por cento”, descreve o Reitor, indicando que, para além da oferta curricular da UAlg, também contribuem para estes números a sua localização e o facto de estar num país com níveis elevados de segurança e com um clima fantástico. Resta saber como é que está a procura da Universidade do Algarve pelos próprios algarvios, com Paulo Águas a adiantar que, no que toca às licenciaturas e ao Concurso Nacional de Acesso, os números de candidatos subiram consideravelmente nos dois últimos anos em resposta ao aumento das vagas disponíveis, de 1.200 para 1.600 alunos. “Mais de metade dos

alunos do Algarve escolhem a UAlg e 2/3 dos estudantes que chegam à UAlg são do Algarve, e 44


mais não são porque, infelizmente, as acessibilidades não são as mais interessantes. Não há mal nenhum em que os algarvios escolham universidades de outros pontos do país para prosseguirem os seus estudos, o que todos queremos é qualificar os jovens, até porque o Algarve tem níveis de abandono escolar, no ensino básico e secundário, ligeiramente superiores à média nacional”, frisa Paulo Águas. “Uma família que resida a 10 ou 15 quilómetros de Faro consegue colocar os seus filhos na universidade, se estiverem a 30 ou 40 quilómetros, as dificuldades são maiores, porque não temos uma rede de transportes que permita aos estudantes deslocarem-se diariamente das suas casas para os campus. Há que registar uma redução dos custos de deslocação, mas o tempo de deslocação impede que mais jovens acedam ao ensino superior”, observa o entrevistado.

SAÚDE E TECNOLOGIA EM RÁPIDO CRESCIMENTO Inserida numa região marcadamente turística e junto ao mar como é o Algarve, é natural que a oferta curricular da UAlg se evidencie mais nas áreas do Turismo e Mar, mas a Saúde tem crescido imenso na última década e as novas tecnologias começam a dar cartas. “Todas as áreas

são importantes, porque os 45

interesses dos estudantes e as necessidades da sociedade são diferenciadas, mas a UAlg é, definitivamente, uma referência na investigação em torno do Mar, seja em quantidade como qualidade, e no Turismo, como comprovam os rankings de Shangai”, confirma o Reitor. “A Saúde não esteve presente na matriz fundacional da Universidade do Algarve, chegou, no início deste milénio, através da Escola Superior de Saúde. Em 2007 surgiu o Mestrado Integrado de Medicina, que começou com 24 vagas e que, em 2022/2023, vai ter 72 vagas e, em 2025/2026, esse número será de 96. Ou seja, a Medicina vai passar a ser o curso da UAlg com mais estudantes”, aponta Paulo Águas. “É uma área que tem crescido bastante, com enfermagem, ciências farmacêuticas, medicina, ciências biomédicas, e dando suporte ao ABC – Algarve Biomedical Center”, acrescenta. Uma das grandes novidades é, sem dúvida, o UAlg TEC Campus, um polo tecnológico situado no Campus da Penha que, em janeiro, já acolherá 15 empresas das áreas das tecnologias de informação e comunicação, o que contribuirá para a tão falada diversificação da base económica do Algarve e para a sua maior sustentabilidade. “Iremos ter, num ALGARVE INFORMATIVO #318


primeiro momento, uma transformação do Campus da Penha e, depois, da própria universidade e da região”, antevê Paulo Águas, reconhecendo que, de facto, são poucos os grandes projetos que acontecem no Algarve em que a Academia não está envolvida, de forma mais ou menos direta, de mangas arregaçadas a trabalhar no terreno ou dando consultadoria e acompanhamento científico.

“Procuramos dar tudo o que podemos em prol do desenvolvimento da região, num trabalho e esforço coletivo da Academia, e é muito gratificante aquilo que vamos ouvindo dos parceiros regionais e recebermos constantes solicitações de apoio, seja na área da agricultura, do mar, do ambiente, para participarmos em projetos emblemáticos que ocorrem na região e aos quais damos o nosso modesto contributo”. A máquina da Universidade do Algarve está, pelos vistos, bem mais oleada do que há quatro anos, mas isso não significa que basta deixá-la a andar em piloto automático, avisa prontamente Paulo Águas com um sorriso. “Neste

mandato há novos desafios pela frente, logo a começar pelo número de alunos. Se, nos últimos anos, tivemos um aumento dos estudantes nacionais, é expectável que se possa começar a assistir a uma redução, devido à própria ALGARVE INFORMATIVO #318

demografia, porque a taxa de natalidade continua a diminuir. Com a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, mais jovens completam o Ensino Secundário e seguem para o Ensino Superior, mas será importante continuarmos a captar estudantes internacionais. E, para isso, vamos 46


tentar ter mais alojamento para estudantes, o que, se calhar, só se vai concretizar daqui a três ou quatro anos”, refere o entrevistado. Mais alunos implica igualmente espaços maiores, nomeadamente no Campus das Gambelas, para o que ainda não existe financiamento garantido, admite Paulo Águas. “Nos últimos cinco anos o 47

número de estudantes nas Gambelas aumentou mais de 40 por cento, estamos apertados. Precisamos fazer uma reafectação de espaços e há um projeto para aumentarmos a área de construção, o mesmo acontecendo no Pólo de Portimão”, declara, em final de conversa .

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YOLA PINTO E SIMÃO COSTA CELEBRARAM 10 ANOS DE COLABORAÇÃO COM ESPETÁCULO NO SOM RISCADO DE LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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o ano em que assinalam uma década de colaboração artística, a bailarina e coreógrafa Yola Pinto e o pianista e compositor Simão Costa estrearam a sua nova criação conjunta, «ENcode_we´ve got others under our skin», no dia 25 de novembro, no Cineteatro Louletano, em Loulé, na abertura do festival Som Riscado. «Encode» desdobra o modelo clássico da criação de um espetáculo na área transdisciplinar das artes performativas, reunindo artistas e instituições de Arte (música-artes performativas-artes visuais) ALGARVE INFORMATIVO #318

e Ciência, que refletem, na sua diversidade, a abordagem transversal da pesquisa desta dupla de artistas. “O

palco surge como se de uma sala de exposição se tratasse, na qual não há visitantes nem visitados, nem objetos nem sujeitos; todos são e fazem parte de um mesmo ecossistema interdependente. Testa-se uma abordagem a um novo conceito de ecologia, enquanto ato colaborativo de todos os organismos que o constituem”, explica a dupla. Com percursos artísticos estabelecidos e reconhecidos nas áreas 52


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da música e dança, respetivamente, Simão Costa e Yola Pinto trabalham em parceria desde 2011. Este trabalho tem vindo a estruturar-se através da pesquisa apaixonada pelos processos físicos do som e da natureza multifacetada dos mecanismos de escuta, seja a partir dum corpo que dança ou de dispositivos que foram criados especificamente para cada criação. Nos últimos 10 anos, enquanto dupla, têm investido na relação entre arte e ciência, numa ação não raras vezes provocatória no que respeita ao binómio espaço performativo-espaço expositivo.

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MOMI TROUXE «KING OF THE JUNGLE» DIRETAMENTE DA SUÉCIA PARA FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico do Algarve, organizado pelo Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, deu o «pontapé-de-saída», no dia 25 de novembro, no polo da Penha da Universidade do Algarve, em Faro, com «King of the Jungle», uma performance de rua da responsabilidade da «ReAct! – Action Moving», na qual a companhia sueca testou as múltiplas possibilidades de comunicação entre público e artistas.

“Pessoas circulando na rua, os animais da selva moderna da

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cidade. Entre outras espécies, podemos assistir aos trabalhadores de escritório, que passam a maior parte das suas vidas adultas na frente do computador. Normalmente podem-se encontrar num estado de elevado stress a pensar no próximo compromisso, com as suas pastas na mão. É um quadro bastante comum no cenário moderno da cidade”, descrevem os artistas. Com «King of the Jungle», a ReAct! pretende virar essa imagem de cabeça

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para baixo, numa performance de rua em que usam e misturam os elementos comuns de cada local específico, que no caso do MOMI foi o Campus da Penha da Universidade do Algarve, mas também o Mercado Municipal de Faro. “Através da

exploração física e improvisação brincamos com o retrato do funcionário do escritório, fazendo perguntas como: Quem está realmente no controlo da sua vida, você ou

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seu laptop? Do ponto de vista humorístico, criamos imagens claras através do uso da dança e de acrobacias, mas o espetáculo funciona também como um meio para discutir questões de materialismo e o papel que as coisas, os objetos, desempenham nas nossas vidas quotidianas”, indica a companhia .

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«A PAZ PERPÉTUA» «ENJAULADA» NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Teatro Estúdio Fontenova trouxe ao Teatro Lethes, em Faro, nos dias 25 e 26 de novembro, «A Paz Perpétua», com texto de Juan Mayorga, tradução de Luísa Monteiro e encenação de José Maria Dias e as brilhantes interpretações de Carlos Pereira, Fábio Nóbrega Vaz, Graziela Dias, Patrícia Paixão e Sara Túbio Costa.

resultado da massificação da sociedade, se criou uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, razão por que aceitam e cumprem ordens sem questionar. A «Paz Perpétua» de Mayorga traz-nos novamente a essa realidade de Arendt, onde a Paz se constrói na falta de moralidade”, explica a companhia.

“Hannah Arendt defendia na «Banalidade do Mal» que, em

Referindo-se o próprio título da obra de Mayorga ao ensaio filosófico de

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Kant que reflete a eterna questão ‘será que os fins justificam todos os meios?’, o texto deixa-nos a premissa de uma reflexão demasiado atual: onde é que as medidas de segurança acabam e onde é que começa o terrorismo? Na obra o autor espanhol oferece-nos então uma metáfora à ameaça terrorista global, com três cães a competir por um lugar num corpo de elite de combate antiterrorista.

“Com o humor, por vezes negro, mas de um requinte de quem 75

explora mais as suas dúvidas do que certezas, o autor, ao dar às suas personagens a forma de animais, pode explorar ideias e conceitos que de tão brutais seriam inconcebíveis sair da boca de um ser humano, o que permite alargar a fronteira catártica desta sua metáfora”, reforça a companhia. ALGARVE INFORMATIVO #318


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ESTE NANDO CANECA É MESMO «WOOOOW»!!! Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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xtraordinário. Integrado no MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico do Algarve, organizado pelo Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, o espanhol Nando Caneca apresentou, no Auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude, em Faro, o seu «Woooow», que fez as delícias de uma plateia completamente esgotada de miúdos e graúdos. O espetáculo está recheado daqueles momentos da vida quotidiana que simplesmente se tornam algo único e extraordinário. Sem palavras, mas com muita diversão, energia e dinamismo, a peça é uma homenagem ao brincar e ao amor. Numa verdadeira amálgama de humor, esta viagem fantástica mistura ALGARVE INFORMATIVO #318

circo, magia, teatro gestual e improvisação para crianças e adultos e tudo fica ainda mais maravilhoso quando a assistência adere em pleno, como sucedeu em Faro. E ainda mais quando as crianças que sobem ao palco não percebem logo à primeira o que o artista pretende que elas façam, como é perfeitamente natural, dando origem a episódios delirantes. Nando Caneca, que até se deixou enamorar por uma algarvia durante o espetáculo, estudou circo e teatro gestual em Barcelona e mímica e magia em Madrid, trabalhou em várias produções desde 2004 e formou a dupla de palhaços «Los Caneca» em 2007, percorrendo o mundo com «Los Caneca Show». Em 2016 estreou «Woooow», o seu primeiro solo, que o MOMI trouxe agora até Faro . 90


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MÚSICA DO PASSADO INTERPRETADA PELOS MÚSICOS DO FUTURO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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Festival Som Riscado animou o último fim-desemana de Loulé e, no dia 26, o Auditório do Solar da Música Nova acolheu «Música para Algarvios do Futuro», projeto que parte do visualista Tiago Pereira e do músico Sílvio Rosado recorrendo a alunos do Conservatório de Música de Loulé, com o objetivo de estimular os jovens a criarem peças novas. ALGARVE INFORMATIVO #318

Os dois autores, que constituem os «Sampladélicos», têm feito um trabalho notável na renovação das tradições musicais portuguesas, tendo por base as raízes tradicionais. Aliás, Tiago Pereira é o autor do programa da Antena 2 «A Música Portuguesa a Gostar dela Própria» e em Loulé assistiram-se a vários trava-línguas, bailes mandados, orações, cantigas, provérbios e lenga-lengas, trabalhados com os futuros músicos que estão a crescer no Conservatório Francisco Rosado, em Loulé . 104


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ASSOCIAÇÃO MARGINÁLIA NASCEU EM PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Ricardo Coelho

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recém-criada Associação Cultural Marginália deu-se a conhecer formalmente, no dia 19 de novembro, no Museu de Portimão, numa conferência de imprensa em que compareceram os seus órgãos fundadores, executivo municipal da cidade, comunicação social e amigos. O objetivo é, de acordo com Paulo Filipe e Raquel Oliveira, não só organizar eventos musicais, mas também outros relacionados com teatro, artes performativas, cruzamentos artísticos e arte urbana. “Para os próximos

tempos está previsto o projeto «Live & Loud’» que consiste em criar vídeos com bandas e artistas locais em vários pontos da cidade e depois transmiti-los de forma gratuita e acessível a toda a gente, concertos de final de ano e, nos dias 15 e 16 de janeiro, o «Tribute Weekend», onde ALGARVE INFORMATIVO #318

algumas bandas vão tocar no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão”, revelaram, ficando ainda prometido o concurso «Battle Of The Bands», a realizar durante o Março Jovem. Para assinalar da melhor forma o arranque da nova associação realizouse igualmente, no auditório do Museu de Portimão, um concerto com as bandas portimonenses «Volume 2» e «Jesus Blood». Após uma pausa de alguns anos, os «Volume 2», formados por Carlos Lourenço (baixo), Josué Gomes (bateria) e Rodrigo Costa (teclas, guitarras e voz), regressaram com o seu rock melódico cantado em português, bem patente no álbum «Viver o Entretanto», sendo que estão a gravar um novo disco para lançar em 2022. Quanto aos «Jesus Blood», são uma das bandas de rock mais antigas e icónicas de Portimão, composta por Migas (voz e guitarra), Rato (bateria) e Nuno (baixo) . 112


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OPINIÃO Dar e receber Paulo Cunha (Professor) ortugal, assim como o resto da Europa, apresenta um número cada vez maior de idosos e, como tal, de aposentados/reforma dos. Para que essa população tenha mais qualidade de vida, foram criadas várias respostas direcionadas para ocupar o tempo livre dos seus beneficiários, umas ligadas à Segurança Social, outras privadas, de entre as quais se destacam Centros de Convívio, Centros de Dia, Centros de Férias e de Lazer, Universidades da Terceira Idade, etc. O psicólogo António Manuel Fonseca, no seu livro «O Envelhecimento. Uma abordagem psicológica», com base num estudo realizado a 502 reformados portugueses, propôs três padrões dominantes de transição/adaptação à reforma para a população portuguesa: Padrão AG (Abertura - Ganhos), caraterístico em pessoas reformadas há menos tempo (menos de 5 anos), que manifestam uma atitude positiva perante a vida e de abertura aos outros e a si mesmo; Padrão VR (Vulnerabilidade - Risco), evidenciado em pessoas reformadas há mais tempo que as referidas no padrão anterior (menos de 9 anos), verificando-se uma diminuição do seu bem-estar e ALGARVE INFORMATIVO #318

satisfação com a vida e um aumento da vulnerabilidade; Padrão PD (Perdas Desligamento), verificado em pessoas reformadas há mais de 9 anos e com mais de 75 anos, caracterizado por perdas desenvolvimentais generalizadas, manifestas através do desinvestimento em atividades sociais e da dificuldade em retirar prazer do dia a dia. Tendo em conta que, se tudo correr como esperamos, todos nos aposentaremos/reformaremos, é natural que nos questionemos sobre o que fazer no tempo de vida que então nos restará. Tomando como exemplo o que alguns familiares e amigos meus fazem ou pretendem fazer, deixo-vos aqui algumas pistas e sugestões. O voluntariado sénior integra pessoas autónomas, com mais de 65 anos e que dedicam o seu tempo a atividades sociais não remuneradas, por livre escolha, e com um elevado grau de compromisso. Estas atividades são realizadas fora do contexto das suas relações mais próximas (familiar e de amizades) e integradas em instituições. Devido ao facto de não haver muitos estudos sobre o voluntariado sénior em Portugal e a realidade espanhola se afigurar até certo ponto próxima à realidade portuguesa, pela proximidade territorial e de vivências socioculturais, 122


cito aqui os nove tipos de atividades a que os reformados se dedicam enquanto voluntários [Tomás, M., Tomás, E, & Suaréz, J. (2002). Voluntariado de Mayores: ejemplo de envejecimiento participativo y satisfactorio]: conservar a memória coletiva; transmitir o folclore e culturas populares; preservar laços intergeracionais extrafamiliares; potenciar o envolvimento em problemas sociais, políticos e económicos; defender os interesses dos idosos e da sociedade; cuidar de outras pessoas; fazer companhia e visitas; realizar tarefas domésticas noutros lugares; ser tutor de um idoso. Os motivos que levam os reformados/aposentados a voluntariarem-se para ajudar os seus 123

semelhantes são o Altruísmo, a Pertença, o Ego e Reconhecimento Social e a Aprendizagem e Desenvolvimento [Motivações para o Voluntariado (adaptado de Ferreira, Proença & Proença, 2008)]. Não sabendo quais os motivos que levam os «nossos» aposentados/reformados a sair de casa para oferecer o seu tempo, disponibilidade e ajuda a quem precisa, é com enorme agrado e consideração que neles reconheço um exemplo a seguir. Fossem todos assim e, por certo, olharíamos para os nossos preciosos anciãos com outros olhos. Os olhos de quem brevemente chegará ao tempo de ter mais tempo para ajudar e de ser ajudado. Porque na vida tudo tem retorno! .

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OPINIÃO Eis o meu corpo Mirian Tavares (Professora Universitária) “Se te pareço noturna e imperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses. (…) Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento”. Hilda Hilst alava aos alunos sobre a Body Art – a tão incompreendida e polémica Arte do Corpo, ou dos corpos, e explicava que, vendo à distância o que foi feito por artistas dos anos 60, 70 e ainda dos 80 do século XX, muita coisa nos parece hoje risível ou bizarra. Mas a sua bizarria tinha um conceito que lhe dava sustentação – era preciso dominar o último território onde a arte ainda não tinha fincado bandeira, o corpo do artista. O artista que pintava, fotograva e esculpia passava também a usar o seu corpo como ferramenta e suporte. E esse avançar sobre a pele, a carne, os fluidos corporais era uma atitude política, era uma maneira de o/a artista dizer que seu corpo era pertença única e exclusivamente sua e que a sociedade, as leis, as barreiras sociais e morais que impunham certos comportamentos, gestos e atitudes, precisavam ser desmascaradas. Nós dizemos: meu corpo. Como se o nosso corpo, de facto, nos pertencesse. Ignoramos que somos ALGARVE INFORMATIVO #318

impelidos pela sociedade a procurar um corpo que obedeça a determinados padrões, que somos obrigados pela lei, e para alguns, pelas religiões, a ocultar o corpo, e, no caso das mulheres, a esperar por leis que legislam sobre o seu direito de escolha, ou livre-arbítrio. Há ainda a nossa relação com as tecnologias, com as nossas extensões artificias que já incorporamos e que fazem parte de nós: somos, sem o sabermos, cibernéticos. E os artistas, como Sterlac, fazem-nos ver que hoje podemos, se quisermos, ser completamente outros, e também que já somos outros seres, híbridos, tecnodependentes e também muito sós. Contei aos alunos que hoje, passados anos, olho para trás e vejo o que deixei que me dissessem/fizessem – acreditar que estava sempre com quilos a mais. Que não me encaixava, que os óculos me tornavam feia e que precisava mudar. E que só me dei conta do absurdo de tudo, depois da angústia, do sentimento de inadequação, e partilhei isso com eles/elas porque não quero que sofram o mesmo. Quero que tenham 124


Foto: Victor Azevedo

consciência de como somos todos seres lindos, com sua beleza particular, com suas falhas, gorduras a mais ou a menos, com cicatrizes, marcas e medos. Que, mesmo que não sejamos donos dos nossos corpos, podemos atuar sobre a representação social que nos impõe modelos inatingíveis e sermos nós mesmos, orgulhosos de nossa diferença e unicidade. Uma aluna enviou-me uma mensagem e disse que hoje era uma 125

pessoa, e uma artista, melhor, pelo que ouviu nas minhas aulas. Coisas que ela pensava que ninguém falaria, ou daria importância, muito menos numa sala de aula. E eu fiquei imensamente feliz, pois ensinar, para mim, é sobretudo um exercício de liberdade. E a sala de aula é o espaço onde podemos experimentar o pensamento e não nos limitarmos a um guião . ALGARVE INFORMATIVO #318


OPINIÃO Trigésima oitava tabuinha - O joelho (II) Ana Isabel Soares (Professora universitária) uer ver-se a importância do joelho? Durante as primeiras décadas do século XIX, à semelhança de outros intelectuais e curiosos europeus, o médico Elias Lönnrot foi fixando em letra (manuscrita, depois de imprensa) os cantares que ouvia às gentes mais simples. Andava pela Carélia, uma região que hoje é partilhada pela Rússia e pela Finlândia, e foi dali que recolheu letras e melodias. Percebeu que uns eram cantos recentes, outros tinham décadas, outros ainda vinham de séculos que nem conseguia vislumbrar (mas acabou por juntá-los a todos como se fossem da mesma idade, urdindo-os com pontos novos, linhas dele conhecidas, coisas com uma modernidade que disfarçava). Entre essas cantigas, alguns versos diziam sobre o nascimento das coisas – do ferro, dos animais, do mundo. Cosmogonias, chamaram-lhes assim, por versarem o nascimento do cosmos. Ora, cantavam os carelianos ouvidos por Lönnrot que a deusa Ilmatar, “intacta, filha do ar” (e mãe de Väinämöinen, herói que o médico fez erguer no seu reconto) passava os dias entediada “nos jardins do vasto ar, / nas planuras dos terrenos”, sempre a deambular sozinha. ALGARVE INFORMATIVO #318

Um dia, para desentristecer, desceu do céu até ao mar e fez levantar os ventos, que sopraram de todos os pontos do universo ainda incriado. Soprando de um lado e de outro, soprou com mais força o vento Leste, que fez espuma do mar e embalou a deusa – quando ela deu por ela, estava grávida do mar. Dizem os versos que Ilmatar andou setecentos anos prenha, “mais de nove gerações” (os versos são lugares bonitos onde a aritmética se diverte e se rende aos nomes que tem). Sete séculos andou, carregando o que o mar nela deixara, e nada de se dar o nascimento. A pobre Ilmatar, em desespero, arrependida de ter deixado os ares onde vivera tranquila, clamou por Ukko, o mais elevado dos deuses: “Vem, que preciso de ti, / acode, pois és chamado!”. Invocado o deus, para livrar do peso do ventre a deusa Ilmatar, ainda assim não nascia o que estava para nascer – e que era, entretanto, o tal herói Väinämöinen. Mas, enquanto Väinämöinen nascia e não nascia, aproxima-se do mar uma ave (poderia ter sido uma espécie de cagarra, um pato, uma garça, o que se quisesse e ao verso mais se ajustasse, essa é que é essa). Está atrasado o parto da deusa (estes heróis de antigamente levavam séculos a nascer – hoje, são heróis os que nascem antes dos poucos meses que têm para se formar, como 126


Foto: Vasco Célio

são heróis os que os fazem nascer e vingar), que dorme sobre as águas e, no sono incomodado pelo passado, faz erguer da superfície das ondas – um joelho. Onde pousam as aves o seu cansaço de distâncias tardadas no voo sobre o mar? No dorso de um cetáceo, num tronco seco que flutua, nalguma rocha perdida – mas o que pode um pássaro, no desespero flutuante sobre o mar ainda despido dessas coisas do mundo, se o mundo ainda não era? Havia o mar, havia o cansaço do pássaro, quando surgiu por cima das águas o joelho da deusa, um pouso! Foi ali que o pássaro descansou e, afinal igual à deusa, feminil e prenhe, “seus ovos dourados pôs: / seis ovos eram de ouro, / o sétimo de ferro era” (a aritmética nos versos <3). No prenhe joelho de Ilmatar foi onde descansou e deu à luz aquela ave. Väinämöinen não 127

nascia, mas saíram do pássaro os ovos – e, porque o joelho tem a configuração de ângulo, oposto de plano, contradição do horizonte, surgimento oblíquo de vida, os ovos rolaram para longe, “mil pedaços se fizeram, / em pedaços se quebraram”, por serem de redonda forma e em si não se terem sobre aquelas encostas descidas do joelho, ponto máximo de Ilmatar. De cada um desses fragmentos que tinham ovos vieram a surgir a terra, o céu, o sol, a luz, estrelas, “as nuvens do ar”. O joelho foi o atrapalhado ninho dos ovos do cosmos . Nota: A obra de Elias Lönnrot a que aqui faço referência é Kalevala, o poema épico finlandês. Cito da edição portuguesa da Dom Quixote, na tradução que a Merja de Mattos-Parreira e eu fizemos e saiu em 2013, iluminada pelos belíssimos desenhos e estudos de Rogério Ribeiro. ALGARVE INFORMATIVO #318


OPINIÃO Notas Contemporâneas [27] Adília César (Escritora) “Tudo esqueceu? Não. Desta difusa impressão, algumas imagens começam logo a destacar, muito precisas, muito claras, dando pela recordação o mesmo encanto que deram pela contemplação”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) NOITE parece um sonho. Uma certa leveza ou talvez transparência. A minha lucidez atraiçoa-me. Não sei do meu corpo, não reconheço a posição que ele ocupa, não assimilo a força da gravidade que o segura e o faz tombar. Há uma energia subtilmente enjoativa a povoar o ambiente do quarto. A um canto, surge a figura densa e perturbadora de uma construção humana que se vai desmoronando à medida que se constrói, que se reconstrói, digo. É um paradoxo sentimental de pensamentos sem nexo, de palavras sem ordem gramatical, como as ruínas que se sobrepõem de forma adversa a elas mesmas. A linguagem de circunstância não implica qualquer concordância moral com o que está certo ou errado, naquele preciso momento. E, todavia, faz todo o sentido que assim seja. * NAQUELE PRECISO MOMENTO, o silêncio da noite convoca o meu pensamento. Dormir não é uma opção. ALGARVE INFORMATIVO #318

Levanto-me da cama, mas as forças do sangue abandonam-me e tento alcançar a mão gigantesca da humanidade que me poderá salvar da queda. Mas não se faz da fraqueza força, não encontro o ponto de equilíbrio inerente à minha frágil condição e apenas consigo apoiar-me na ideia matriz de uma apoteótica projecção emocional: vejo a cadeira e penso a cadeira, em toda a sua magnificência. Tento visualizar o objecto-cadeira e a sua imagem, a energia desses múltiplos significados como um caleidoscópio infinito de fraquezas e forças em espiral infinita. Talvez assim consiga chegar até ela, talvez assim consiga edificar uma construção não desmoronada. * O QUE CHEGA é uma linha contínua de angústia, como obscuras pinceladas de aguarela. De que cor? Não sei responder. Sei que a imagem de uma cadeira não é «a cadeira», é apenas uma representação do objecto que entendo por «cadeira». Compreendo que a cadeira e a sua imagem não podem coexistir porque são duas coisas diferentes que não partilham o mesmo 128


plano. Mas uma cadeira nem sempre é uma cadeira e eu poderia, se quisesse, dar-lhe outro nome, como «abraço» ou «poço». Podia ser, por exemplo, uma intenção de lugar ideal para o descanso, uma afonia do corpo que luta contra a gravidade. Ou um objecto que leio com o corpo todo: este livro aberto. A matéria securizante que envolve a minha substância, uma energia de contenção da minha própria energia. A fronteira de uma essência cósmica. * IMAGINO que a cadeira está ali à minha espera, palpável e tridimensional. Comunicativa. A cadeira fala uma linguagem reconfortante, macia; espera uma resposta que deve ser física – quer sentir o peso do meu corpo através do acto de me sentar – mas o que lhe responde é o meu alívio, o alívio do meu cansaço que agora descansa. A cadeira sente o meu sentimento de satisfação. A cadeira é um objecto que sente o que eu sinto. Não reage, mas aceita a minha presença. A cadeira onde me sento não é apenas uma cadeira. É o «outro» que me acolhe na paisagem delirante do meu silêncio cansado. Estou a dormir ou a sonhar? *

simples? De tão profundamente humano, ambos somos matéria viva que se funde numa planície onde corre um rio de sangue a transbordar as margens, indefinidamente, aguarelando a serenidade metafísica do silêncio. É claramente um sonho, tão real como a cadeira onde me sento. Ao canto do quarto, recordo e contemplo toda a minha existência passada e irreal. Lá fora, o futuro. Afinal, estou bem acordada e contemplo a vida que ainda irá passar por mim .

EU E A CADEIRA imbuídas de um sentimento mútuo e fraterno. A vida pode ser assim tão 129

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OPINIÃO As tendências de negócio para 2022 Fábio Jesuíno (Empresário) s negócios estão em constante transformação e saber as suas tendências é algo de grande importância. Na minha opinião, estas serão as principais tendências de negócios para o próximo ano: Negócios sustentáveis Considero ser a maior tendência para o próximo ano, devido à preocupação crescente com o impacto das actividades humanas no ambiente. Os negócios diretamente ligados à promoção de novos produtos e serviços ecologicamente eficientes estão a ganhar grande impacto no mercado e a transformarem a forma como consumimos, alterando e criando novos modelos de negócios.

Negócios de Educação Online Continua a ser uma das maiores tendências da actualidade, que tem apresentado um grande crescimento, tornando-se cada vez mais acessível e fácil de implementar. É a melhor forma de democratizar o conhecimento. O desenvolvimento tecnológico e o crescimento da internet têm sido os grandes impulsionadores dos negócios de educação online, tornando-a mais interativa e aumentando a sua utilização. Estas são as três tendências de negócio que vão fazer a diferença no próximo ano .

Negócios circulares A economia circular é um modelo de negócios tendo em vista a sustentabilidade económica, social e ambiental. A utilização deste modelo de negócio está assente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de produtos, materiais e recursos.

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OPINIÃO Lagoa dos Salgados e a protecção há muito desejada João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) á diz o ditado «antes tarde do que nunca». Há mais de 20 anos que diversas organizações não governamentais de ambiente, empresas de turismo e milhares de indivíduos, portugueses e estrangeiros, «batalham» pela protecção da Lagoa dos Salgados. Tem sido um esforço deveras gigante, como gigante foi o empenho de tantas pessoas que de diferentes maneiras actuaram neste longo processo até chegarmos aos dias de hoje. De tudo um pouco foi feito. Um «pouco» que neste caso foi imenso. Estudos científicos, relatórios técnicos e temáticos, artigos em revistas de diferentes especialidades da biologia, notícias em jornais e revistas, seminários e conferências, eventos internacionais, acções populares, manifestações, debates, reuniões, entre outras. É uma lista de iniciativas sem fim com um único e específico propósito: proteger esta zona húmida - e as áreas envolventes - e valorizá-la como o tesouro natural que é. Atrevo-me mesmo a dizer que não ficou nada por fazer, excepto um simples e decisivo acto que permitiu chegarmos onde estamos: a coragem e a convicção de umas poucas pessoas, com poder de decisão, que não se deixando ludibriar pelos «opositores de secretária», os tecnoburocratas anti-conservação da natureza e agentes do obscurismo institucional - cujos verdadeiros interesses ALGARVE INFORMATIVO #318

permanecerão incógnitos - avançaram com o processo para aqui criar uma área protegida. Aqui chegados, uma nova etapa inicia-se. Porém, não sejamos ingénuos nem demasiado optimistas. Os opositores a este projecto estão aí, activos e a defender fortemente os seus interesses de que sustentável pouco têm. As ambições imobiliárias instaladas naquele resquício de litoral ainda quase intocado são imensas e, como a história já antes nos demonstrou, não irão abrandar perante esta muito bem-vinda iniciativa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Cabe agora a todos os que apoiam e defendem a proposta manifestar-se publicamente pela sua aprovação – actualmente em discussão publica aqui: https://participa.pt/pt/consulta/propostade-classificacao-da-reserva-natural-dalagoa-dos-salgados – e exigir a respectiva implementação e fiscalização. A Lagoa dos Salgados e a região adjacente, como já aqui antes referi em artigo publicado em ALGARVE INFORMATIVO #238 by Daniel Pina - Issuu, é um espaço deveras especial. Não apenas pela muito relevante riqueza natural onde se destacam vários elementos da fauna e flora silvestres, incluindo um endemismo nacional e a presença avultada de várias espécies de aves e 132


plantas ameaçadas -, mas pelo valor social, recreativo, pedagógico e científico. Este é um dos últimos redutos do litoral sul do Algarve que ainda não foi estilhaçado pelo betão e os contínuos tapetes de relva, transformado e estandardizado à semelhança de tantos outros locais da nossa costa, onde o modelo de ocupação em pouco difere: hotéis, villas, aldeamentos, arruamentos com relvados e palmeiras, inúmeras piscinas, etc, etc. É neste recanto que inúmeras pessoas encontram a paz, a tranquilidade e a motivação para passear, descontrair e desfrutar um pouco de natureza. Onde milhares de turistas, em particular os amantes da natureza, se deslocam para admirar e fotografar dezenas de espécies de aves, algumas muito raras, que aí ocorrem. Que diversas escolas, desde o ensino básico ao superior, levam os seus alunos para actividades pedagógicas. Que investigadores, nacionais e internacionais, desenvolvem os seus estudos e pesquisas, relacionados com diversos temas de cariz ambiental. Que o litoral encontra, enfim, uma ligeira descompressão da intensa massa betuminosa que cobre os vários quadrantes onde quer que se olhe a partir daquele local (excepto no mar!). Criar uma reserva natural neste sítio não é apenas um passo determinante na conservação de um conjunto de valores naturais essenciais e únicos em Portugal. É também a consagração de um bem público mais vasto que deve ser defendido e valorizado a bem da qualidade de vida das populações do Algarve, daquelas que nos visitam e obviamente, das gerações vindouras. É o compromisso com um futuro ambientalmente mais harmonioso e plenamente enquadrado naquilo que são os grandes desígnios europeus no 133

âmbito do Green Deal ou da Cimeira de Glasgow 2021. É mostrar que não vale tudo e que o Algarve não pode estar refém dos ditames do imobiliário desgovernado, do turismo de massas e da economia do cimento. Ao persistente trabalho de organizações como a Associação A Rocha, a Almargem ou a SPEA, da Universidade do Algarve e de tantos cidadãos interessados, junta-se agora o papel determinante do ICNF, completando um longo ciclo de dedicação que permite hoje sonharmos com um futuro mais risonho para aquele sítio. Sou naturalmente suspeito na forma como aqui exprimi a minha opinião, não só porque colaborei neste esforço conjunto de proteger esta lagoa, como pelo facto de já ter exercido funções no ICNF e de ali ter excelentes referências de empenho e dedicação dos seus técnicos e dirigentes. Não poderei, contudo, deixar de enaltecer o trabalho e persistência destas organizações (e outras não aqui referidas) e à coragem e ousadia do ICNF, por romper um deserto de 21 anos de não criação de áreas protegidas em Portugal e por aplicar a mais justa decisão à Lagoa dos Salgados: propô-la como uma Reserva Natural de âmbito nacional .

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OPINIÃO As eleições mais fraudulentas da Democracia Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) s eleitores portugueses voltam a ser chamados para mais uma escolha democrática no próximo dia 30 de Janeiro. Como sempre, aquele que forem votar, participarão nas eleições mais fraudulentas da democracia portuguesa, não no que tange ao resultado eleitoral, mas no afastamento entre o «dever ser» e o «ser» democrático. Vejamos: 1 – As forças partidárias apregoam que todos os votos contam. Será assim? Não! Nas últimas eleições legislativas 673 mil e 206 votos expressos e válidos em forças partidárias e coligações concorrentes não contribuíram para a eleição de ninguém. Este número é superior à votação total da terceira força política portuguesa nas legislativas de 2019, o Bloco de Esquerda, que obteve quinhentos mil votos. Como é isto possível? Pela aplicação do «Método de Hondt» em 22 círculos eleitorais, que não elegem o mesmo número de deputados. O voto de cada eleitor só contará efectivamente se for votante num dos partidos que, no seu círculo eleitoral, elegeu um parlamentar. Todos os outros não contam para nada. ALGARVE INFORMATIVO #318

2 – Apregoa-se que todos os votos valem o mesmo. Será assim? Não! Desde logo, o círculo eleitoral de Lisboa elege tantos deputados quanto a soma dos distritos de Portalegre, Évora, Beja, Setúbal e Faro, ou seja, um distrito sozinho tem maior representatividade do que metade do território português. Como a eleição é feita de acordo com o «Método de Hondt», o distrito de Portalegre, por exemplo, elege 1 deputado por cada 52 mil e 962 eleitores, enquanto o distrito de Lisboa elege 1 deputado por cada 37 mil e 705 eleitores. O voto de um eleitor de Portalegre não vale o mesmo que o de um eleitor de Lisboa, do Porto, ou de Braga. 3 – Defendem que a divisão do universo eleitoral por círculos distritais e regionais pretende obter uma representatividade regional no parlamento. Será assim? Não! O sistema eleitoral, baseado na votação em partidos políticos ou coligações, faz com que os interesses das oligarquias partidárias sejam mais valorizados do que os interesses regionais. Principalmente os partidos com maior representatividade parlamentar têm por hábito colocar como «cabeça-de-lista» pelos diversos 134


distritos, principalmente nos que elegem menor número de deputados, figuras de destaque do partido, para conseguirem garantir a sua eleição, muitas vezes deixando as regiões sem qualquer representante parlamentar. Tem sido uma prática muito frequente no Algarve, pelos mais diversos partidos. 4 – A maior falácia democrática, no entanto, é a concentração de todas as atenções na figura do candidato a primeiro-ministro, numa eleição que é exclusivamente parlamentar. Quando os eleitores votam em Eleições Legislativas, não escolhem o chefe de governo, mas sim os seus representantes no parlamento. O partido mais votado não tem de ter, necessariamente, maior número de deputados. Isso dependerá dos resultados obtidos em cada distrito. Nem o facto de um partido ser mais votado determina, necessariamente, que consiga formar governo, como ficou bem expresso em 2015.

composição do parlamento. Se as eleições fossem feitas com a aplicação do «Método de Hondt» num único círculo nacional (como acontece nas Europeias e é replicado nas Autárquicas), nas Eleições Legislativas de 2015 o PS teria um grupo parlamentar com 91 deputados, em vez dos 108 que obteve; o PSD teria 70, em vez de 79; o BE 24, em vez de 19; a CDU 16, em vez de 12; o CDS e o PAN teria duplicado a representatividade, passando a ter 10 e 8 deputados; o CHEGA e a IL triplicariam a representatividade, que passaria de 1 para 3; o Livre teria 2 e os partidos Aliança, PCTP/MRPP e RIR teriam conseguido eleger um deputado. Como fica demonstrado, o sistema eleitoral está feito para inflacionar a representatividade dos grandes partidos e para impedir que pequenas forças partidárias obtenham representação parlamentar. Para muitos isto é valorizar a estabilidade política, para mim é defraudar as expectativas de quem vai votar com a convicção de que está em pé de igualdade com os restantes eleitores. Não havendo fraude nos resultados, porque são aplicadas as regras de jogo previamente definidas, não deixa por isso de existir uma fraude entre a escolha livre dos eleitores e o resultado final da eleição .

Esta fraude eleitoral, repetida desde 1975, tem efeitos práticos na 135

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