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www.arquisp.org.br | 5 a 11 de outubro de 2016

| Esporte | 17

Retirada da Educação Física do ensino médio preocupa comunidade esportiva Luciney Martins/O SÃO PAULO

O QUE MUDOU nA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO? Com a MP 746, de 23 de setembro de 2016, houve alterações em artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Uma delas acaba com a obrigatoriedade da disciplina de Educação Física no ensino médio. Como era – LDB - Art. 26, § 3º “A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica”. Como ficou - LDB - Art. 26, § 3º “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental”.

Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

A publicação da Medida Provisória 746/2016 pelo presidente da República, Michel Temer, em 23 de setembro, causou preocupação na comunidade esportiva. A MP, que flexibiliza os currículos do ensino médio e amplia progressivamente a jornada escolar a partir de alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, prevê, entre outras medidas, o fim da obrigatoriedade das disciplinas de Educação Física, Filosofia, Sociologia e Artes nesse ciclo do ensino básico. O Conselho Federal de Educação Física (Confef) considerou “um contrassenso que no momento em que inúmeras pesquisas apontam o crescimento da obesidade e do sedentarismo infanto-juvenil, e sabendo que a atividade física é a medida mais eficaz para evitar esse mal, o governo federal proponha a retirada da Educação Física do ensino médio. Sobretudo por se tratar do país que acabou de atravessar a década de megaeventos esportivos, sediando recentemente os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, onde ficou clara a importância da atividade física na manutenção da saúde e da formação cidadã”, manifestou-se o Confef, por meio de nota pública. Apesar de já estar em vigor, a MP ainda precisa ser referendada pelo Congresso Nacional. Os deputados e senadores que participam da comissão mista que está analisando o texto já propuseram 567 emendas à medida provisória. Após a análise da comissão, a MP será discutida nos plenários da Câmara e do Senado. De acordo com Rossieli Soares, se-

cretário de Educação Básica do Ministério da Educação, as mudanças mais significativas no ensino médio acontecerão após a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que deve ser concluída em 2017. No entender do secretário, a MP 746 busca proporcionar que o ensino médio “saia de um modelo totalmente engessado para outro que se comunique com a realidade do aluno e da escola”, afirmou em entrevista ao Portal Brasil.

Descontentamento

Na tentativa de impedir a aprovação da MP 746 pelos deputados e senadores, o Confef tem apoiado uma petição on -line (www.confef.com/370) que já conta com mais de 110 mil assinaturas. “O Conselho Federal de Educação Física se compromete a fazer todo o esforço possível junto ao Congresso Nacional a fim de rejeitar a medida. Contamos ainda com o apoio dos profissionais de Educação Física e da sociedade em geral”, consta na nota da entidade. Também houve manifestações contrárias à MP por parte do Sindi-Clube, entidade que representa 3,5 mil clubes no Estado de São Paulo. “O Sindi-Clube está apreensivo com os rumos que poderão ser seguidos na reforma do ensino médio. O setor clubístico entende que, exatamente após a realização com sucesso no país de dois dos maiores eventos esportivos – Jogos Olímpicos e Paralímpicos –, a não obrigatoriedade da Educação Física não converge com o que é feito nos países evoluídos, que têm políticas muito bem definidas de inclusão social pelo esporte. O Sindi-Clube apoia a reforma do ensino, que é necessária, mas

defende que não pode ser levada adiante sem que antes haja um debate mais prolongado sobre pontos importantes, como este da prática física e esportiva nas escolas”, disse, ao O SÃO PAULO, Roberto Leão Granieri, presidente do Sindi-Clube. Ainda segundo Roberto Granieri, a massificação do esporte por meio das escolas criará condições para a diversificação de modalidades esportivas e a formação de atletas. “Retirar do currículo escolar do ensino médio a Educação Física é o oposto do que se aguarda, pois também desfavorece a saúde preventiva oferecida pela prática esportiva regular”, complementou.

‘Educação Física escolar precisa mudar’

Promotor de eventos nacionais com educadores físicos, Cristiano Parente, professor de Educação Física que já lecionou no ensino médio, também é contrário à retirada dessa disciplina da grade curricular, mas avalia que reformulações são necessárias. “Sou totalmente contra que se tire a Educação Física do ensino médio, mas sou absolutamente a favor de que se mude o modelo que temos para realmente transformá-la em algo essencial. Hoje está se transmitindo aos estudantes um conteúdo dentro de um modelo esportivizado, que só prioriza o jogo dentro da escola, e muitas pessoas acabam não querendo fazer a aula”, opinou. A decisão do governo federal de retirar a Educação Física como uma disciplina obrigatória do ensino médio é baseada, no entender de Cristiano, nos indicadores de custos e rendimento dos estudantes. “Como modelo de disciplina

dentro da escola, as aulas de Educação Física mostram falta de conteúdo, são vistas como um momento de lazer, de sair da sala de aula, e, por isso, quando se está pensando em gestão, na formação do cidadão, se encontram motivos muito pequenos para que permaneçam na escola”, analisou. No entender de Cristiano, um novo modelo de Educação Física nas escolas não deve estar centrado na prática de jogos, mas em proporcionar aos estudantes o entendimento de como funciona o corpo, do porquê algo é proposto na aula e das vantagens da prática regular da atividade física. “É preciso haver um conteúdo teórico sobre o entendimento do corpo e depois pode ser utilizada a quadra, a pista, como um laboratório para que o estudante entenda como há a necessidade de movimentação ou para melhorar uma habilidade”, destacou. Ainda segundo Cristiano, a prática da atividade física é indispensável em todas as fases da vida. Em especial na adolescência (período em que a maioria dos estudantes cursa o ensino médio), ajuda na formação do corpo e na consolidação das estruturas ósseas e musculares. “Hoje, no mundo, há uma média de 4% de pessoas regularmente ativas, mas 100% das pessoas precisam fazer exercícios. É um número baixíssimo e mostra que as pessoas estão claramente dizendo que o modelo de Educação Física que a gente tem, esportivo ou não esportivo, não serve para elas”, analisou. Segundo dados do Diagnóstico Nacional do Esporte, divulgados pelo Ministério do Esporte em 2015, 32,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos são sedentários.


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