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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 18 a 24 de março de 2015

| Reportagem | 11

Insatisfeitos com o Governo, brasileiros vão às ruas em protestos Daniel Gomes Edcarlos Bispo osaopaulo@uol.com.br

A ampla investigação da corrupção que redundou nos desvios de recursos da Petrobras e insatisfação com o panorama político e econômico do País foram pontos

comuns das manifestações de rua que aconteceram na sexta-feira, 13, e no domingo, 15. Organizada por centrais sindicais e movimentos sociais, os

atos do dia 13 aconteceram em 23 capitais, e apesar das críticas ao Governo, defenderam a continuidade do mandato de Dilma Rousseff (PT). Já os brasileiros

Luciney Martins/O SÃO PAULO

que foram às ruas no dia 15, em 185 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal, manifestaram-se, em sua maioria, pelo impeachment da Presidente. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na Paulista, a maioria dos participantes exige o impeachment da presidente Dilma

Centrais sindicais e movimentos populares defendem Petrobras e mandato da Presidente

‘Fora, Dilma’?

Apoio ao Governo e críticas à economia

Na Avenida Paulista, em São Paulo, a manifestação contra o atual Governo aconteceu durante toda a tarde domingo, e reuniu o maior número de participantes desde as “Diretas Já”. Segundo a Polícia Militar e os organizadores, 1 milhão de pessoas estiveram no ato, mas a contagem do Instituto DataFolha foi de 210 mil participantes (o Instituto contou as pessoas por setores e levou em conta o fluxo por hora, já a PM valeu-se de imagens aéreas, considerando cinco pessoas por metro quadrado). Um dos momentos significativos aconteceu às 16h, quando todos entoaram o Hino Nacional Brasileiro, e na sequência se ouviu o uníssono “Fora, PT! fora, Dilma!”. Por toda a avenida, em faixas e com gritos, houve pedidos pelo impeachment da Presidente, um basta na corrupção e reclamações sobre o panorama econômico do País. Também inúmeras vezes, o PT, a Presidente e o ex-presidente Lula foram xingados em coro. “Chegamos a um ponto insustentável, hoje tivemos a gota da água de um balde que chegou ao limite”, opiniou Márcia Maria, 66. Segundo Kim Kataguri, 19, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos grupos que articulou as manifestações, já estão sendo coletadas assinaturas para apresentar ao Congresso Nacional o pedido de impeachment da Presidente. “As pessoas estão nas ruas e os congressistas estão vendo que a população quer o impeachment. A

Reações do Palácio do Planalto Diante dos protestos de rua, o Governo Dilma se manifestou

gente espera que a oposição ao Governo tenha uma postura mais firme depois de hoje”, disse ao O SÃO PAULO. Para ele, em caso de impeachment, o vice-presidente Michel Temer deve assumir a presidência até 2018. “O MBL é um movimento liberal, somos contra qualquer tipo de ditadura, não defendemos a intervenção militar”. Durante o ato, alguns manifestantes chegaram a vaiar um grupo que, em um carro de som, em frente ao Parque Trianon, defendia a intervenção militar. Na avaliação de Maurício Tanurcov, 53, do grupo Revoltados Online, que também articulou as manifestações, “já há elementos mais que suficientes para o impeachment da presidente Dilma, que foi citada 11 vezes na Lava Jato, falta só vontade política, porque elementos para os juristas existem de sobra”, enfatizou. Também articulador do ato, o movimento Vem Pra Rua mostrou-se contrário ao impeachment da Presidente. “Não defendemos o impeachment neste momento porque não há um cenário político e jurídico que fundamente esse pedido”, afirmou Janaína Lima, 30, porta-voz do Movimento. “O Vem Pra Rua convocou o povo para defender a democracia, para dizer um basta à corrupção e saímos em defesa da operação Lava Jato, para que todos os corruptos e corruptores sejam devidamente investigados e condenados”, complementou.

no próprio domingo, 15, por meio dos ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência, que consideraram as manifestações legítimas, mas

Na mesma avenida Paulista, na sexta-feira, 13, centrais sindicais e movimentos sociais realizaram o “Ato Nacional em defesa da classe trabalhadora, da Petrobras, da democracia e da reforma política”. De acordo com a PM, participaram 12 mil pessoas, já os organizadores apontaram para 100 mil manifestantes, e o Instituto Datafolha indicou a contagem de 41 mil participantes. O ato apresentou críticas à política econômica do Governo Dilma. “Estamos na rua para defender a Petrobras dos setores privatistas, pelos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras em especial a juventude, que têm sido atacados pelas medidas do Governo. Criticamos o Governo em relação as MPs 664 e 665 [para novas regras para acesso a benefícios previdenciários] e defendemos uma transformação mais estrutural e profunda, por meio de uma reforma política com constituinte exclusiva do sistema político”, afirmou Thiago Pará, 25, estudante de Direito, membro do movimento Levante Popular da Juventude, formado majoritariamente por jovens da periferia. “A Presidente tem que dar um sinal e governar para quem a elegeu, governar a partir do programa do qual ela foi eleita. Não temos nenhum problema de ir para rua criticar o Governo, somos um movimento autônomo e independente e se o Governo estiver fazendo besteira – como está fazendo na política econômica e trabalhista – iremos

apontaram que um impeachment da Presidente não seria legítimo. Eles anunciaram que nos próximos dias serão enviadas ao Congresso propostas anticorrupção. Na segunda-feira, 16, Dilma

criticar, mas temos a plena consciência que precisamos lutar pela democracia e pela legalidade”, afirmou Thiago. O ato saiu da Paulista e, mesmo debaixo de chuva, seguiu até a praça da República. Trajando uniforme laranja estava Agnaldo Araúna, técnico de operação e funcionário da Petrobras há 27 anos. “O momento que a Petrobras passa é difícil. Infelizmente, pessoas se aproveitaram de suas posições de direção e se juntaram a empresas, formaram um clube para saquear a nossa empresa e em alguma medida em conjunto com políticos”, avaliou. Ainda segundo Agnaldo, os movimentos que pedem a saída da Presidente estão errados. “Ao menos que seja comprovado que ela tenha cometido um crime de improbidade administrativa, ela tem que cumprir o mandato até o fim. Não é possível que ao perder as eleições democraticamente, você queira na marra tomar o poder, isso em qualquer lugar do mundo é golpe de Estado”. As centrais sindicais e os movimentos sociais farão outras manifestações, provavelmente em abril, de acordo Adriana Magalhães, dirigente do Sindicato dos Bancários e da executiva nacional da CUT. Ela detalhou que o ato do dia 13 não foi um fato isolado, pois desde o ano passado as entidades estão “retomando bandeiras históricas, dentro de um calendário de luta dos movimentos sociais”.

disse estar disposta ao diálogo com a sociedade e pediu ao Congresso urgência na aprovação do ajuste fiscal. A Presidente admitiu que pode ter tido “algum erro de dosagem” na política econô-

mica do primeiro mandato, mas discordou que a corrupção tenha começado no seu Governo. “Ela [corrupção] não só é uma senhora bastante idosa neste País, como não poupa ninguém”.


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