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22 | Especial de Natal

- Esportes | 17 de dezembro de 2014 a 7 de janeiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br Comitê Paralímpico Brasileiro

Sem limitações para vencer Antonio Tenório perdeu completamente a visão aos 19 anos; no judô, ganhou o reconhecimento internacional Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

A final por equipes masculinas do Mundial de Judô Paralímpico, disputado em Colorado Springs, nos Estados Unidos, em setembro passado, estava empatada: duas vitórias para os brasileiros, duas para os russos. Coube a Antonio Tenório vencer a luta decisiva que garantiu a única medalha de ouro do Brasil na competição. “Tive apenas que fazer o meu trabalho que era ganhar aquela luta. O judô é o esporte mais individual, mas nós precisamos um do outro para treinar e quando nos juntamos em equipe temos que nos ajudar, apoiando e torcendo”. A declaração acima poderia ser de um novato, feliz pela primeira medalha internacional da carreira, mas não: Antonio Tenório tem 44 anos, e foi o primeiro judoca paralímpico do País a conquistar uma medalha de ouro, nos jogos Paralímpicos de Atlanta 1996. A essas se somaram as de Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008. Em Londres 2012, já com 41 anos, ele foi medalhista de bronze. Tenório diz que pretende estar na Paralimpíada Rio 2016, mas antes, “tenho fé em Deus que vou participar do Parapan de Toronto em 2015”. Todas as medalhas paralímpicas de Antonio Tenório, bem como os pódios em mundiais e jogos Parapan-americanos (ouro no Rio 2007 e em Guadalaraja 2011), foram conquistadas na classe funcional B1, para atletas completamente cegos.

Amante de judô, cego por acaso Nascido em São José do Rio Preto (SP), Antonio Tenório da Silva teve plena visão até os 13 anos de idade, quando brincando de estilingue com os amigos foi atingido por uma semente de mamona e ficou cego do olho esquerdo. Seis anos depois, uma inflamação no olho direito fez com quem perdesse a visão por inteiro. “Desde os 7 anos, pratico judô, foi por intermédio do meu pai. Eu nunca me vi fora do esporte. O esporte na vida da gente, principalmente na minha que fiquei deficiente visual aos 19 anos, me ensinou muitas coisas, a ganhar e a perder, e é um bom caminho para a vida”, disse Tenório em entrevista ao O SÃO PAULO. Com uma vida de superação digna de história de cinema, o judoca paralímpico virou filme: “B1 – Tenório em Pequim”, lançado em 2010, com direção de Felipe Braga e Eduardo Moura. “O filme conta minha história de vida e foi gravado também durante a paralimpíada de 2008. Ele retrata o momento esportivo da vida do atleta, fala da preparação, do stress vivido em uma competição, o que a gente sofre no dia a dia da Vila Olímpica, e as emoções da vida de esportista”, explicou o tetracampeão paralímpico. Superação cada vez mais reconhecida Antonio Tenório garante que hoje os atletas paralímpicos no Brasil têm mais prestígio que em tempos passados. “O reconhecimento das pessoas com os atletas paralímpicos melhorou, e a gente vem sentido essa transformação, pois cada vez que buscamos uma medalha, o público vai conhecendo mais a gente”. Porém, ter mais reconhecimento não significa, segundo Tenório, que os esportes paralímpicos sejam devidamente valorizados no Brasil. “Há várias ações que

Antonio Tenório, tetracampeão paralímpíco, quer disputar medalhas no Rio de Janeiro em 2016

podem ser aprimoradas, principalmente a busca do patrocínio privado, para se aproximar mais ainda do movimento paralímpico”, comentou, dizendo ter confiança que o Brasil será quinto colocado no quadro de medalhas da Paralimpíada Rio 2016, como projeta o Comitê Paralímpico Brasileiro.

Aliás, Antonio Tenório já avisa: vai seguir atuante após a paralimpíada. “Parar de competir? Eu vou até 2024! Até 54 anos”, garantiu, sorridente, o judoca paralímpico, que também participa de competições com esportistas sem deficiência, já tendo vencido, em 2008, o Campeonato Paulista Master de Judô.

MUNDO DOS ESPORTES

• O judô é praticado como modalidade paralímpica desde a década de 1970, mas só ingressou no programa da paralimpíada a partir de Seul 1988, apenas na categoria masculina. A inclusão da disputa feminina aconteceu em Atenas 2004. • No judô paralímpico, competem atletas deficientes visuais das classes B1, B2 e

Judô Paralímpico B3, todos juntos, conforme a limitação de peso de cada categoria.

• São considerados atletas B1 os completamente cegos, que não têm qualquer percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção; os

atletas B2 têm a percepção de vultos, assim conseguem reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual de 2/60 ou campo visual inferior a 5 graus; e os judocas B3 conseguem definir imagens, tendo acuidade visual de 2/60 a 6/60 ou campo visual entre 5 e 20 graus.

• Em 1987, os judocas paralímpicos bra-

sileiros participaram pela primeira vez de uma competição internacional, o Torneio de Paris. Desde a inclusão da modalidade nos Jogos Paralímpicos, em Seul 1988, o Brasil conquista medalhas. Naquela edição, foram três de bronze, com Jaime de Oliveira, Júlio Silva e Leonel Cunha. Fonte: CBP


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