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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 11 a 16 de dezembro de 2014

| Entrevista | 15

Padre Adolfo Nicólas Páchon

Jesuítas devem ir aos limites de onde a Igreja fala com a sociedade Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes danielgomes.jornalista@gmail.com

A respeito do futuro, o senhor já anunciou que em 2016 deixará a função de superior geral dos Jesuítas. Quais as motivações dessa decisão?

Aos 78 anos, Padre Adolfo Nicólas Páchon, superior geral da Companhia de Jesus (Jesuítas) desde 2008, anunciou, no último mês de maio, que em 2016 deixará o comando da ordem que hoje atua em 130 países, com mais de 17 mil religiosos. Ser superior geral por toda vida não é bom para a ordem religiosa. Há talentos mais dinâmicos, pessoas muito bem preparadas, mais jovens, e é preciso deixar que eles tomem as responsabilidades. Eu dou conta das minhas limitações”, afirma Padre Adolfo nesta entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, em que também analisa os desafios da missão dos Jesuítas no Brasil e no mundo. O Superior Geral dos Jesuítas esteve em São Paulo em 15 de novembro, quando presidiu missa no Pateo do Collegio. No dia seguinte, no Rio de Janeiro, ele oficializou a criação da Província dos Jesuítas do Brasil, que unifica as outras três províncias existentes até então – Brasil Meridional, Brasil Centro Leste e Brasil Nordeste, além da região missionária Brasil Amazônia. Na ocasião, também deu posse ao Padre João Renato Eidt, como provincial no Brasil.

O SÃO PAULO - O senhor veio ao País para a criação oficial da Província dos Jesuítas do Brasil. Como imagina que será a atuação da Província? Padre Adolfo Nicólas Páchon Vai ser uma província muito grande. Os indianos, por exemplo, em Roma, estavam muito impressionados porque o Brasil é três vezes maior que a Índia, e lá, temos mais de 20 províncias em duas regiões. E no Brasil, que é três vezes maior, há somente uma província, e isso impressiona.

O senhor já esteve no Brasil outras três vezes. O que lhe parece mais desafiador para a ação dos Jesuítas aqui no País? Para o novo provincial no País será muito desafiador o tamanho do País. O Brasil tem dimensões enormes, toda a Europa cabe no Brasil. Um desafio muito grande que ele vai ter é estar sempre presente com os Jesuítas e, ao mesmo tempo, não ficar movendo-se de um lado para

importantes decisões olhando para o futuro.

Ser superior geral por toda vida não é bom para a ordem religiosa. Há talentos mais dinâmicos, pessoas muito bem preparadas, mais jovens, e é preciso deixar que eles tomem as responsabilidades. Eu dou conta das minhas limitações. Fiz o que podia fazer e agora é o momento de pensar em outros, mais jovens, que tomem essa responsabilidade. Não é bom que os Jesuítas fiquem se perguntando: “aquele velhinho de Roma segue em Roma?’ Então, prefiro sair antes de que comecem a questionar isso. Temos a experiência, tanto na Companhia de Jesus quanto na Igreja em geral, experiências recentes aliás, de que os últimos anos de uma pessoa não são muito eficazes, produtivos. A pessoa tem que cuidar da própria saúde. Talvez fará suas atividades de superior geral ou será como um objeto de decoração, sem função qualquer, sem vida ativa. outro, ou seja, precisará demarcar presença, mas não viver em aeroportos, em aviões continuamente. Ele terá que encontrar um modo particular para responder a esse desafio.

Há pontos de atenção específicos sobre a ação dos Jesuítas em São Paulo? Eu acredito que a presença dos Jesuítas está em todas as partes. Neste momento da história em que o mundo está mudando muito, está se mudando a forma de pensar religiosamente e não religiosamente, temos que discernir, em todas as partes, qual é a melhor maneira de estar presente e onde. No Brasil, eu falo que é preciso se fazer um discernimento de quais são os pontos-chaves das mudanças sociais, das mudanças de mentalidade e das mudanças culturais para estar em diferentes locais em nome da Igreja, para servi-la. Essa é nossa missão em todas as partes, e eu creio que agora ganha tons muito especiais.

O Papa Francisco tem exortado a todos os fiéis, insistentemente, que sejam parte de uma Igreja em saída.

Como isso é vivenciado pelos Jesuítas? Isso casa muito bem com a visão que temos sobre nossa missão de Jesuítas. Os papas, desde Paulo VI, estão nos falando de ir às fronteiras, e isso é ir aos limites de onde a Igreja fala com a sociedade. O que o Papa Francisco está dizendo é para sairmos de nós mesmos, o que já está muito incorporado na maneira dos Jesuítas de entender a missão, ou seja, se encaixa perfeitamente conosco.

Em 2014, os Jesuítas comemoram os 200 anos da restauração oficial da Companhia de Jesus, feita em 7 de agosto de 1814, pelo Papa Pio VII, por meio da bula Sollicitudo omnium Ecclesiarum. Como tem sido vivenciado este momento celebrativo? Estamos celebrando com muita sobriedade, aprendendo tudo o que temos que aprender com o passado, com os acontecimentos da supressão e da restauração. E o Papa Francisco tem nos ajudado muito bem, fazendo reflexões sobre estes tempos difíceis nos quais a Companhia tem tomado

Na congregação dos Jesuítas de 2016, além da possível escolha de um novo superior geral, o que mais estará em discussão? Eu creio que estamos passando por um processo de mudança lenta. As congregações antigas eram congregações apostólicas, com decretos muito concretos sobre o apostolado, mas veio o Concílio Vaticano II e mudou muito da mentalidade e da visão da Igreja, da liturgia, a visão de tudo. As congregações gerais de 31 [ano de 1965] a 34 [1995] dos Jesuítas tiveram decretos de reflexão para ajustar a visão da Companhia aos tempos modernos. Agora, temos que nos voltar para a missão e acredito que isso está acontecendo, pois já a Congregação Geral 35 [ano de 2008] foi muito concreta em ajustar o modo como entendemos a missão hoje e tocar em problemas do fazer da missão. Eu creio que nos voltaremos para uma congregação de decretos concretos, que toca na missão e não tem que refletir sobre o que é a vida religiosa ou sobre o que se supõe sobre os votos, etc. Isso já está feito.


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