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www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 6 a 11 de novembro de 2014

| Reportagem | 11 Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Padre Zezé, Malu Veiga, Luiz Carlos Ramos, Padre José Renato Ferreira, Padre Cido Pereira e Irmã Helena Corazza participam de painel temático sobre as rádios católicas, no Colégio de São Bento

Há futuro para as rádios católicas?

de São Paulo, que falou brevemente aos participantes do evento. Ele destacou que emissoras como a 9 de Julho precisam evidenciar, sem medo, que possuem uma identidade católica, pois participam da missão da Igreja, “prestam um serviço à sociedade, com valores próprios da Igreja”. O Padre José Soares Rodrigues, Padre Zezé, da rádio Imaculada Conceição, de São Roque (SP), enalteceu a atuação da Rede Católica de Rádio, que leva a mensagem reflexiva e formativa dos bispos do Brasil aos pontos mais distantes do País e coloca em evidência os projetos da Igreja desenvolvidos pelos leigos nas pastorais.

Especialistas analisaram esta temática em painel de reflexões promovido pela 9 de Julho, emissora da Arquidiocese de São Paulo, no sábado, dia 1º Daniel Gomes

danielgomes.jornalista@gmail.com

Mais interativas, com maior presença em frequência modulada (FM), disponibilizando conteúdos em diferentes plataformas, para apresentar, sem pieguices, os valores cristãos. Essas são algumas das projeções para as emissoras católicas, conforme apontaram os participantes do painel “O futuro da rádio católica”, realizado no sábado, dia 1º, no Colégio de São Bento, em São Paulo. Como lembrou o Padre José Renato Ferreira, diretor da rádio 9 de Julho AM 1.600 kHz, promotora do evento, o painel não se propôs a buscar respostas definitivas, mas, com base na partilha de experiências, provocar reflexões e apresentar alternativas.

Interatividade e novas linguagens

Malu Veiga, radialista e coordenadora da programação da rádio Aparecida, relatou as diferentes estratégias de interação com os públicos da emissora em AM, ondas curtas e em FM. “Em FM, trabalhamos com uma linguagem mais jovem, devido ao público alvo, desde a locução, que é mais ágil, a interação com a internet, com intervenções no YouTube, Facebook e promoções interativas. Nas ondas curtas e na AM, usamos uma linguagem mais falada, porque temos que passar a mensagem de evangelização, da Palavra de Deus e isso requer mais de reflexão. Também estamos na internet e nos aplicativos de celular”, detalhou ao O SÃO PAULO. Segundo Malu Veiga, todo processo de produção, programação e marketing da rádio Aparecida está integrado, e a emissora trabalha com o tripé de convergência midiática, inteligência coletiva e cultura participativa. “Até na AM e nas ondas curtas, onde o público tem mais idade, as pessoas pedem interação. É um retorno rápido, muito ágil, que acrescenta muito, pois os ouvintes aca-

Migração para a FM

Cardeal Scherer e Padre José Renato falam sobre a missão evangelizadora da rádio 9 de Julho

bam sendo, também, produtores de conteúdo”, afirmou, projetando que o rádio com imagens e a disponibilização de podcasts (arquivos digitais de áudio) tendem a ser intensificados no futuro. Na avaliação do Padre José Renato, “o cuidado com a linguagem sempre deve existir para anunciar com fidelidade a Igreja e ainda há a questão da convergência de mídias. Temos que ser humildes e admitir que não temos todas as respostas, e que precisamos aperfeiçoar a interatividade, para que tenhamos uma proximidade ainda maior com os nossos ouvintes”, comentou.

Para além de orações e devoções

Também participante do painel reflexivo, Padre Cido Pereira, vigário episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo e apresentador da rádio 9 de Julho, opinou que, por vezes, há um uso equivocado do rádio apenas para divulgar orações, devoções e “milagres”, reduzindo a interação com Jesus Cristo aos problemas pessoais, o que acaba por limitar o alcance a novos ouvintes. Segundo Padre Cido, as rádios católicas precisam enfrentar o desafio de dialo-

gar com o mundo, de conscientizar para os direitos, de convocar à solidariedade e à fraternidade. “Temos que ter evangelização, destaque para os valores cristãos, sem ser piegas. É possível formar mentes e corações para Deus, ter uma rádio católica de notícias e não uma rádio de notícias católicas”, enfatizou. A presidente da Signis Brasil, Irmã Helena Corazza, paulina, alertou para a necessidade de capacitação dos leigos que apresentam programas religiosos em rádios que não são católicas, a fim de que levem aos ouvintes os valores do Evangelho e ajudem a formar cidadãos capazes de pautar questões na sociedade. “Outro desafio é das linguagens, falar aos afastados, pois é preciso pensar naqueles que, às vezes, só ouvem a Igreja pelo rádio. Precisamos ser criativos para ser ouvidos. A autossustentação também é um desafio. Temos que criar essa consciência de rede para compartilhar a abundância do que temos. É preciso chegar onde as pessoas estão, precisamos nos reformular”, afirmou.

Identidade católica

Um companheiro seguro, versátil e popular. É assim que o rádio é visto pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo

Na avaliação de Luiz Carlos Ramos, professor da PUC-SP e coordenador de jornalismo da rádio Capital, o radialismo pode ser potencializado com as novas mídias e a migração das emissoras da AM para a FM. “As FMs falam muito para os jovens. Hoje em dia, as AMs são sintonizadas principalmente por pessoas de 40 a 90 anos, com a migração, também vão atrair interesse de quem tem 20 anos, 25 anos, e isso para uma rádio da Igreja Católica é muito bom. Mas ao tentar atrair o jovem, não se deve perder o ouvinte fiel de mais idade. É preciso mesclar, não fazer uma transformação muito brusca”, afirmou. Desde 2013, o decreto 8.139, do Ministério das Comunicações, autoriza as emissoras AMs a pedirem mudança de faixa para o FM. No total, o órgão já recebeu 1.386 pedidos de migração, sendo que 237 destes são de rádios que operam no Estado de São Paulo. O passo seguinte será a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizar estudos de viabilidade técnica em cada município para determinar se há espaço para a migração de todas as emissoras interessadas em cada município. Se não houver espaço no espectro, poderá ser usada a faixa estendida de FM (de 76 MHz a 88 MHz). “Quando essas emissoras começarem a emitir sinal em FM, não vai ser possível captá-lo nos atuais aparelhos de rádio, porque estarão numa faixa mais baixa, então, será preciso produzir novos aparelhos. No Estado de São Paulo, essa migração deverá ocorrer principalmente a partir de 2016, a não ser que haja atrasos em função de problemas técnicos”, explicou Luiz Carlos à reportagem.


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