Correio da Venezuela 388

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correio de venezuela • 16 a 22 de dezembro de 2010

11 anos depois, sobreviventes temem uma

Vargas ainda luta p Muitas ruínas ainda podem ser vislumbradas no Estado Vargas. No entanto, os portugueses radicados nesta zona costeira não desistem de seguir o exemplo de luta face à adversidade que vem da sua terra Natal Shary Do Patrocinio Carla Salcedo Leal O receio por voltar a passar pela situação de emergência que vivida em 1999 brota dos olhares, silenciosamente. É uma recordação atípico, envolta entre chuvas e zonas declaradas em estado de catástrofe. Onze anos depois dos choques causados pela natureza no Estado Vargas, a população recorde aquele episódio como se fosse ontem, ainda que todos não estejam dispostos a deixar de lutar por uma região onde tudo se perdeu. Fruto da sua condição de estado costeiro, Vargas converteu-se, desde Chuspa até El Junquito, na casa de um grande número de portugueses, que chegaram à Venezuela com a ilusão de alcançar melhores oportunidades de vida. Como se se tratasse de um amor eterno à primeira vista, muitos dos que desceram dos navios que aportaram no Porto de La Guaira ficaram presos a esta povoação. Apesar dos escombros e das ruínas que ainda se vislumbram em Vargas, estes fervorosos crentes no progresso, não perdem a esperança de que no seu querido povoado ocorram mudanças radicais, tal como sucedeu na Madeira, ilha que

O apego dos sobreviventes lusitanos a esta terra, pesa muito mais que a implacável força destrutiva de da natureza se converteu num exemplo a seguir por muitos povos. O apego destes sobreviventes lusitanos a esta terra, pesa muito mais que a implacável força destrutiva de da natureza, e do mesmo medo que atraiçoa o subconsciente quando começa a cair água do céu. Viver para contar O presidente da Câmara de Comércio de Naiguatá, o comerciante Manuel Sardinha, reviveu a situação do aluvião de 99 no passado 29 de Novembro, quando foi obrigado a abandonar o seu veículo no

meio da auto-estrada para não ser arrastado, juntamente com o seu filho, pelas enxurradas que ocorreram na entrada de Carmen de Uria. “Pensava que tinha de me resignar a perder o carro outra vez, e não foi assim, mas pensei muito no ano de 99, quando estava no carro com toda a minha família”, disse. Ainda que muitos pensem que não se pode tropeçar duas vezes na mesma pedra, quem continua em Vargas fá-lo por amor à terra que lhes estendeu os braços. Sandinha encontrava-se com toda a sua família,

Números > Estima-se que 90% dos portugueses que vivem em Vargas são de origem madeirense, sendo que pelo menos metade vive na região desde a sua chegada. > Só em Carmen de Uria morreram 44 portugueses em Dezembro de 1999. em casa do seu sócio e compadre, Isidro Farías, em Carmen de Uria, na noite em que se iniciou a tragédia. Os seus carros ficaram presos e ele ficou por perto para os vigilar, até que um jovem fornecedor de carne de frango do negócio se

aproximou para o avisar acerca da situação. Paradoxalmente, o jovem morre à sua frente horas mais tarde. “Só quem viveu isto e hoje está aqui para contá-lo consegue entender. Em determinados momentos fechava os


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