ComunidadesUSA 16

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(pastelarias) um pouco por todo o lado, o que acaba por estragar o negócios uns aos outros”, explica. Mesmo assim, havia uma oitava em vista, mas o projecto ficou adiado porque, diz, não conseguiu o “lease”. É que neste negócio, muitos dos terrenos onde é construída a pastelaria são de proprietários que os alugam. Pedro Pacheco é o dono do terreno e da maioria das suas lojas, mas tem algumas que construiu em terrenos onde paga renda. Uma das mais conhecidas é a da universidade de Yale, em New Haven. “Isto é um negócio onde nós compramos o franchising à companhia e os produtos, mas o resto é tudo nosso”, explica. A manutenção e expansão do negócio está dependente da reputação do proprietário e da aprovação nas fiscalizações que o Dunkin Donuts faz às lojas. “Ainda hoje de manhã tive uma inspecção”, diz. Hoje em dia, para abrir uma pastelaria do Dunkin Donuts a companhia requer um investimento de cerca de 100 mil dólares, mais o local e a construção das instalações. “Nós compramos o franchising, somos responsáveis pelo investimento completo e toda a construção tem que ser aprovada pela companhia”, explica. “Hoje em dia, para abrir uma loja simples é preciso no mínimo 1 milhão de dólares”, acrescenta. E depois de aberto é necessário não só comprar os produtos à Dunkin Donuts como pagar comissões semanais à companhia em função do lucro obtido por cada loja. “Isto não é o negocio que muita gente pensa”, diz Pedro Pacheco, acrescentado ainda que “são muitas horas de trabalho, todos os dias da semana, sem férias nem feriados, o ano inteiro se quisermos vencer”. A verdade é que nos últimos anos o negócio de Dunkin Donuts cresceu tanto neste país que hoje se tornou um dos ícones da América. Por todo o lado vemos pastelarias com o símbolo vermelho da Dunkin e parecia que o crescimento não teria fim. Porém, a crise neste negócio chegou muito antes da crise económica e financeira, conforme explica Peter Pacheco: “A competição entre nós é tão grande, com lojas a abrir umas em cima da outras, que eu já não sei se isto vai chegar para todos”, diz. “Para a marca isso não é problema, pois eles vão ganhando as comissões, mas para nós que estamos no ramo há muitos anos esta situação não é nada boa, pois há gente que compra lojas somente para vender passados uns tempos. Ora esta proliferação acaba por desvalorizar o negócio”. Mas a crise económica tem afectado duComunidadesUSA

ramente o negócios dos “donuts”. “Nos vendemos cafés e bolos sobretudo a quem vai de manhã para o trabalho”, diz Pedro. “Com cada vez mais pessoas sem trabalho, nós sentimos uma diminuição nas vendas de mais de 10 por cento”, acrescenta. Mesmo assim, Peter Pacheco mantém-se optimista e acredita numa recuperação da economia, por isso não põe de lado novos investimentos num futuro próximo. “O meu objectivo é não parar”, diz. Mas, por outro lado, mostra-se céptico em relação a este tipo de negócio face à política da marca em licenciar lojas “a menos de 500 pés uma das outras”. “Antigamente nós comprávamos a licença (franchising) e tínhamos o nosso território, onde ninguém podia entrar”, explica. “Hoje abrem-se lojas a torto e a direito, pois a marca quer é volume de negócio”. “Certas pessoas pensam que isto é um negócio que só dá lucros, mas esquecem-se que é necessário um grande investimento contínuo e que as despesas semanais são enormes. Alem do mais, todos temos que pagar a percentagem à Dunkin Donuts”, diz. “É uma vida sempre muito arriscada”, acrescenta. E um negócio que exige uma atenção constante, pois Peter Pacheco tem quatro dos sete restaurantes abertos 24 horas por dia, empregando quase uma centena de pessoas. E conclui: “Fazemos a nossa vida, mas não estamos milionários, como se pensa”. Actualmente, Peter desempenha a função de supervisor geral, deixando a gestão diária das lojas nas mãos do seu filho — Peter Júnior — e do seu genro, Brian. Mas nota-se que o timoneiro do barco é ainda ele. É difícil prescindir da sua experiência de mais de 26 anos num negócio com tanta concorrência, por isso durante esta entrevista o telefone, com chamadas de um ou de outro, não parou de tocar. As suas duas filhas — uma contabilista e outra técnica num hospital, não estão no negócio. Ao fim de quase três décadas no ramo, Peter diz que o balanço é positivo. “Estamos a passar uma fase muito má, a pior de sempre”, diz, “mas há-de melhorar”. Sobre o futuro dos Dunkin Donuts, numa economia que aperta cada vez mais o cinto, tem uma visão muito realista: “muitas lojas vão fechar”. “Todos temos o direito a ser ambiciosos, mas tudo tem um limite”, diz. “O problema é que muitos de nós estamos a ultrapassar o nosso limite, pois se não abrimos mais lojas, vem outro e abre ao nosso lado” Jan 2009

Como emigrante, Peter Pacheco diz-se realizado, pois na América conseguiu muito mais do que imaginava, graças ao trabalho e às oportunidades que este país lhe deu. Nos Açores, que continuam no seu coração, investiu num restaurante e em várias propriedades, mas nunca lhe ocorreu regressar ou abrir um franchising de Dunkin Donuts. “Isto é um negócio americano que nunca teria sucesso em Portugal, pois só para sobreviver, um restaurante destes tem que fazer pelos menos 20 mil dólares semanais”, explica. Os Açores são hoje o sítio onde passa férias e convive com amigos. Vai lá várias vezes por ano e diz que se nos anos 70 tivesse as condições de hoje não teria emigrado. Como todos, diz que veio para ficar apenas uns anos, mas o destino trocoulhe as voltas. “Naquele tempo, o meu objectivo era vir cá 10 anos, ganhar dinheiro para uma casa e regressar aos Açores, mas tudo muda, a vida dá uma grande volta e poucos são os que regressam”. Não se arrepende: “O meu grande objectivo era construir uma família e dar a oportunidade aos meus filhos de estudarem, coisa que eu infelizmente não tive. E isso consegui fazer, com o trabalho, que é a única forma de realizarmos os nosso sonhos. Por isso estou realizado e feliz como estou. Há milhões com muito menos do que eu”.

Cantigas ao desafio, comunidade A par da sua actividade profissional, Peter Pacheco tem dedicado uma boa parte da sua vida à comunidade e às cantigas. É membro activo e benemérito do Clube Português de Wallingford há 30 anos, tendo ocupado já todos os cargos e contribuído com tempo, trabalho e dinheiro para as várias obras ao longo dos tempos. Gosta também de cantar ao desafio, à moda de S. Miguel e neste hobby vemo-lo regularmente a cantar em festas de solidariedade social ou de angariação de fundos para causas humanitárias de cá e dos Açores. Tem também promovido o fado um pouco por todo o estado de Connecticut, organizando espectáculos com fadistas de Portugal e das nossas comunidades. A Dunkin Donuts foi fundada em 1950 em Quincy, Massachusetts, por Bill Rosemberg. O ano passado a companhia tinha 7.988 lojas franchisadas em 34 países, 5.769 das quais nos Estados Unidos. No ano fiscal de 2007 a companhia vendeu mais de 5.3 mil milhões de dólares de produtos nos seus restaurantes. 21


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