October 08

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October 2008 • vol. II • nº 14 • $3

The Portuguese-American Monthly Magazine in the United States

Consulado de Portugal em Orlando abre até final do ano... mas o de Miami nem chega a abrir

Miguel Ramalho-Santos Cientista português ganha prémio de $1,5 milhões

Acaba o voto do emigrante por correspondência

Comunidades Açorianas Saiba quais são e as que deve comer todos os dias

APE lança rádio e televisão na Internet para os emigrantes

Cooking with Dad Manny Lopes Programa de TV une duas gerações de luso-descendentes



The Portuguese-American Magazine in the United States

vol. II • nº 14 • Set/OCTOBER 2008 www.ComunidadesUSA.com

COOKING WITH DAD MANNY LOPES Programa de culinária na Televisão une duas gerações de luso-descendentes em torno da cultura e gastronomia portuguesas

Neste número: 2 – EM FOCO – Associação dos Portugueses no Estrangeiro (APE) lança rádio e televisão na Internet para os emigrantes; Escritório Consular de Portugal em Orlando, Flórida, abre até ao final do ano 3 – FALATÓRIO 4 – I CONVENÇÃO MUNDIAL DAS COMUNIDADES Emigrantes pedem defesa do movimento associativo e da língua portuguesa 5 – EMIGRAÇÃO – Acabou o voto por correspondência 6 – ENTRAR NOS EUA sem visto só com pedido feito na Internet; empresários portugueses da diáspora reúnem-se em Lisboa 8 – CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS – Novos conselheiros tomam posse no Centro Cultural de Belém 15 – PORTUGAL –Parque termal do Vidago (Chaves) reabre remodelado em 2009 16 – CULTURA –Dias de Melo: escritor açoriano deixou-nos aos 83 anos 19 – NAS ONDAS DA INTERNET –Algumas páginas que interessam; Madredeus lançam novo disco 24 - COMUNIDADES –Escola Infante D. Henrique e Banco Espírito Santo entregam Bolsas de Estudo; MAPS e CPCU oferecem aulas de inglês para adultos; Proverbo homenageou jornalista Fernando Santos 36 – LUSOFONIA – Luso-descendente lembrado e homenageado no Uruguai

9 ͵ MIGUEL RAMALHOͳSANTOS RAMALHO SANTOS Cientista português ganha prémio de $1,5 milhões para pesquisa com células estaminais embrionárias

Secções 12 – NA MARGEM de CÁ – A ilha de Cascaes, por Lélia Nunes; 26 –HISTÓRIA – Palma Inácio, por Eduardo Mayone Dias; 29 – LIVROS – Funchal: Uma Nostálgica viagem à cidade antiga, por Duarte Barcelos; 31 – DA AMÉRICA e das COMUNIDADES – Do fim do voto por correspondência à América socialista, por Diniz Borges; 34 – DIA-CRÓNICA – por Onésimo Teotónio de Almeida; 35 – AN AZOREAN in the MIDWEST – por Manuel Ponte 37 – ENGLISH SECTION – The Mistery of Language, por Dr. António Simões 39 – HORÓSCOPOS – por Maria Helena; 40 –HUMOR

17 - ALZIRA SILVA, directora Regional das Comunidades, inaugura Portal das Comunidades Açorianas


EM FOCO The Portuguese-American Monthly Magazine in the USA www.ComunidadesUSA.com

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APE lança rádio e televisão on-line para os emigrantes portugueses O próximo plenário do Conselho das Comunidades, a 14 de Outubro, vai ser já transmitido em directo na Internet

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Associação dos Portugueses no Estrangeiro (APE) vai lançar uma rádio e televisão on-line dirigida aos emigrantes portugueses de todo o mundo, anunciou a associação. Segundo o secretário-executivo da APE, Gabriel Fernandes, a rádio e a televisão vão já transmitir em directo todo o plenário do Conselho das Comunidades Portugueses (CCP) que vai decorrer em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, entre os próximos dias 15 e 17 de Outubro. O objectivo, segundo Gabriel Fernandes, é dar mais visibilidade ao CCP, o órgão de consulta do governo português em questões de emigração, que é ainda desconhecido de grande parte da população emigrante. Para além da cobertura dos eventos do CCP, a rádio e televisão da APE vai transmitir programas de informação e debates de temas pertinentes para os portugueses residentes no

estrangeiro. A rádio terá ainda parcerias com rádios locais de Portugal e das comunidades e funcionará para já com 12 horas de emissões diárias. Para sintonizar basta ir ao sitio da APE em www.apeportugal.com. “Vamos estar em sintonia com a Europa, os Estados Unidos, o Brasil e África. Mas temos de analisar o problema da Austrália para ver que programas vamos transmitir de noite”, disse a mesma fonte. A televisão também já foi testada recentemente no congresso Mundial da Comunidades que a APE organizou em Agosto em Santa Maria da Feira. Criada em 2007, a APE é uma associação de defesa dos direitos dos portugueses no estrangeiro com sede em Portugal e delegados por todo o mundo. O actual presidente é José João Morais, da Virgínia, Estados Unidos da América

Escritório consular de Portugal em Orlando abre até ao final do ano Fica situado na Piazza Grande Avenue e terá dois funcionários O NOVO escritório consular de Portugal na Flórida vai ficar situado na Piazza Grand Avenue, no 6996, da cidade de Orlando, e deverá abrir ao público antes do final do ano. Segundo fonte da secção consular da Embaixada de Portugal em Washington, na dependência da qual ficará este escritório, o processo decorre com normalidade e já tem todas as autorizações necessárias, aguardando-se agora a conclusão da obras de adaptação do local. O novo escritório Consular de Portugal em Orlando vai prestar ao público todos os serviços normais de emissão de documentação, nomeadamente vai ser dotado de uma máquina de recolha de dados para emitir passaportes que serão enviados por correio em três dias úteis aos requerentes.

Este escritório, recorde-se, foi uma das promessas do Secretário de Estado das Comunidades no âmbito da reestruturação consular de 2006 que, entretanto, encerrou, inexplicavelmente, o Consulado Honorário em Miami. Apesar de ter prometido que Miami continuaria aberto, a verdade é que desde Setembro de 2007 ele se encontra encerrado. A Secretaria de Estado das Comunidades disse recentemente que o objectivo é manter abertos os dois consulados, mas a revista ComunidadesUSA soube que, em princípio, o Consualdo honorário de Miami não terá qualquer funcionário nem prestará nenhum serviço de documentação aos portugueses residentes nesta área que serão assim obrigados a usar o escritório de Orlando.


... a falar é que a gente se (des)entende

FALATÓRIO

Nota: As opiniões e afirmações aqui expressas não coincidem necessariamente com as dos proprietários e editores da revista

Quem não tem Magalhães, tem WC portátil...

• A RTP1 transmitiu 48 programas não anunciados e 27 programas anunciados não chegaram a ser transmitidos • A SIC exibiu 25 programas não anunciados e 16 anunciados não foram transmitidos. • A TVI transmitiu 51 programas exibidos mas não anunciados pela estação, e 7 programas anunciados não foram transmitidos. Quantos ao cumprimento de horários... pois.

Parece brincadeira mas não é. Esta sanita portátil existe mesmo e foi descoberta nas serras da Madeira, acima do Poiso na ida para o Chão da Lagoa. Pelos vistos foi muito usada durante o último rally Vinho da Madeira 2008. Não se sabe se Alberto João Jardim vai fazer com ela o que Sócrates fez com o computador Magalhães, isto é, vendê-la ao Chavez para reproduzir...

E o burro sou eu? A TAP LANÇOU recentemente uma campanha de bilhetes a 64 euros (Tap discount) válidos para qualquer destino na Europa para onde a companhia efectue voos directos mas… como era de esperar, não incluiu os Açores. Nem para lá, nem de lá para qualquer destino para onde voa, neste caso Lisboa e Porto, e em “code share” com a SATA de Ponta Delgada para Amesterdão, Londres, Dublin, Manchester e Frankfurt. Curiosamente, inclui três voos a saírem do Funchal. Como diria Scollari, e o burro sou eu?

Do relatório da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)

“Um elefante viciado em heroína esteve três anos em desintoxicação” Daily Telegraph

Esquadra assaltada... Portugal está a viver uma verdadeira onda de assaltos que atingiu em Agosto uma violência inusitada e nunca vista. A culpa é das alterações ao código Penal, dizem uns, que dificultam a prisão preventiva e obrigam os juízes a soltarem os criminosos presos pela polícia. Mesmo em flagrante delito. Outros dizem que se trata de uam vingança dos juízes pelo facto de terem sido maltratados pelo governo. A verdade é que Portugal parece estar a saque e grande parte dos crimes são cometidos por cidadãos estrangeiros certamente conhecedores da brandura das nossas leis e dos nossos juízes. A situação é de tal forma que tudo serve aos ladrões, desde as coisas mais insignificantes, como roupa na rua a secar, até assaltos preparados com rigor militar, como foi o da carrinha de valores da autoestrada A3. Mas há casos para todos os gostos: imagine-se que dia destes um ladrão foi preso por ter assaltado, pasme-se, as instalações da própria polícia Judiciária em Lisboa. Palavras para quê...

Na via rápida Funchal-Santa Cruz também circulam cadeiras. Não sabemos se são de rodas, mas que também têm acidentes, isso têm. Vejam só a notícia. ComunidadesUSA

Programação? Para quê?

Oct 2008

“Seria má política apostar no futebol português” Suleiman Al-Fahim, milionário que comprou o Manchester City

“Sem saltos altos não consigo pensar! Não me concentro e não posso focar nada...” Vitoria Beckham, à BBC

Na Madeira pensa-se em tudo. Vejam só este parque de estacionamento no Hiper Sá do Centro Comercial de Santana. Além de espaços para deficientes e grávidas, há também um lugar para grávidas deficientes... 3


Na I Convenção Mundial das Comunidades organizada pela APE

Emigrantes pedem na Feira defesa do movimento associativo, ensino da língua e preservação da memória da emigração

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I Convenção Mundial das Comunidades Portuguesas organizada pela Associação de Portugueses no Estrangeiro (APE) e que decorreu em Agosto na cidade de Santa Maria da Feira, concluiu ser essencial preservar a memória da nossa emigração e dinamizar o movimento associativo. A Convenção Mundial visou a análise e discussão de questões actuais e prementes relacionadas com a diáspora portuguesa, a saber: (1) a Crise do Associativismo, (2) as Memórias, e (3) as Geminações. Sobre estas matérias, concluiu-se o seguinte: O Associativismo foi e continua a ser um elemento essencial da presença portuguesa nos cinco continentes; por isso, é importante efectuar um levantamento exaustivo das associações portuguesas no estrangeiro, conhecer a sua história, os seus problemas actuais e o seu enquadramento nos respectivos países de acolhimento, num trabalho que poderá ser atribuído ao recentemente criado “Observatório”. As razões para um cenário de crise em algumas das associações prendem-se, entre outros aspectos, com a dificuldade de renovação de dirigentes, a pouca participação de mulheres, a falta de apoios e a reduzida intervenção do Governo português na definição e execução de um politica adequada a esta nova realidade. Dessa forma, deve ser solicitada uma maior intervenção que pode incidir na formação de dirigentes, na modernização do funcionamento e num maior reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Também as autarquias podem servir como elos de ligação com as associações portuguesas no estrangeiro, através do estabelecimento de parcerias. Assim, reconhecendo a excelência da articulação entre o poder central e o poder local na área das migrações, torna-se indispensável que a rede dos gabinetes, que lhes presta apoio, possa cobrir todo o território nacional (Continente e Ilhas). Este alargamento deve realizar-se nas regiões mais afectadas pelos fluxos migratórios, passando os gabinetes já existentes a 4

serem designados como gabinetes de apoio às migrações, dada as características actuais da mobilidade das populações. Perante a situação verificada, a Convenção propõe uma política orientada na concentração de esforços humanos e materiais no sentido de melhor aproveitar meios logísticos que através de adequada utilização contrariem a pulverização e dispersão associativa. A situação do ensino do idioma luso, oferecido pelas associações portuguesas dos EUA, foi alvo de reflexão, tendo-se concluído que é um dever histórico de Portugal apoiar estas escolas que já contam com um século de promoção e disseminação da nossa língua no continente norte-americano, a par da necessidade de um esforço continuado de integração da língua nos curricula oficiais norte-americanos especialmente nas áreas de maior concentração de portugueses e/ ou luso-descendentes. Só com uma integração alargada, ao serviço dos portugueses e luso-descendentes, brasileiros e oriundos dos PALOP, bem como de todas as pessoas norte-americanas ou de outras etnias interessadas na aprendizagem do Português, se poderá concretizar o objectivo da internacionalização da língua nos EUA, usando como modelo o trabalho já realizado, no terreno, com sucesso, por outras línguas europeias de projecção mundial. Para tal, espera-se que o governo português apetreche as Coordenações de Ensino da Costa Leste e Oeste com os recursos humanos, financeiros e materiais suficientes para fazer face às necessidades existentes, acabando, assim, com o estado de abandono a que tem sido votado o ensino português nos EUA, nas últimas décadas. Não se pode falar na história de Portugal sem conhecer a história de mobilidade dos portugueses no Mundo que começou no século XV com os Descobrimentos e dentro das devidas comparações prosseguiu poucos séculos depois com a emigração. Preservar a memória da emigração portuguesa é manter viva as heranças culturais e acompanhar a dinâmica das suas mudanças, Oct 2008

reconhecendo a importância do relacionamento inter-geracional na partilha de experiências de vida e dos seus riquíssimos testemunhos. Sendo múltiplas as fontes de informação e diversa a que pode ser recolhida, todo este trabalho de defesa e preservação da memória deve ser feito de forma sistemática e responsavelmente articulada entre as comunidades portuguesas, o poder central em Portugal e a sua rede administrativa e diplomática, disponibilizando a Associação de Portugueses no Estrangeiro para, nesta e noutras áreas, dar o seu contributo que pensamos ser útil. Existindo já em Portugal iniciativas que desenvolveram trabalho neste domínio sugere a Convenção que as mesmas não sejam ignoradas, inspirando o desenvolvimento e a caracterização de um projecto de âmbito nacional. Geminação é uma união entre duas localidades, resultante da fusão de vontades, estimulando factores diversos e alicerçada em interesses comuns. São muitos os casos em que comunidades portuguesas residentes no estrangeiro deram início a processos de geminação, que pretendem intensificar os elos com o país de origem. A intenção inicial foi transcendida pelo alargamento de participantes e intensificação de programas articulados que ajudaram ao aprofundamento de um reconhecimento mútuo e melhor relacionamento entre as partes envolvidas. A geminação pode despertar potencialidades adormecidas, permitir ideias e projectos inovadores, congregando vontades e esforços, somando valências e oportunidades, multiplicando frutos e dividendos. Santa Maria da Feira e Guimarães deixaram-nos bons exemplos de geminações dinâmicas e de sucesso, implicando as respectivas populações e garantindo assim o desenvolvimento e a perenidade do projecto inicial. A APE é uma associação internacional com sede em Portugal de defesa dos interesses dos emigrantes. É presidida por Jose João Morais, da Virginia, EUA. ComunidadesUSA


Alteração foi aprovada na Assembleia com os votos do PS e PCP

Acabou o voto por correspondência para os emigrantes portugueses A partir de agora todas as eleições são presenciais (nos Consulados)

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alteração da lei eleitoral, que institui o voto presencial dos emigrantes nas legislativas e europeias, foi aprovada com os votos do PS e PCP, a abstenção do Bloco de Esquerda

e os votos contra do PSD e do CDS-PP. A troca de acusações entre socialistas e social-democratas marcou o debate que antecedeu a votação da proposta de substituição do

A quem incomoda o voto por correspondência?

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osé Lello, do PS, antigo secretário de Estado das Comunidades, foi o autor do projecto que extinguiu o voto por correspondência. As razões que estiveram na origem deste desejo de mudar a lei são incompreensíveis para a maioria dos emigrantes que vêem nele apenas uma jogada político-partidária ou uma engenharia eleitoral para evitar uma situação que já aconteceu ao PS: ganhar as eleições legislativas com maioria “relativa” graças a um deputado eleito pela Emigração. O círculo de Fora da Europa é dominado pelo PSD desde os anos 90 e mesmo na Europa, onde os movimentos de esquerda estão mais bem organizados, o PSD consegue eleger sempre um deputado. José Lello, e o PS, devem saber que o fim do voto por correspondência significa um aumento da abstenção (basta ver o número de votantes nas últimas eleições presidenciais, as primeiras onde para votar era necessário uma deslocação ao Consulado) mas mesmo assim foram para a frente com o projecto sem ouvirem os emigrantes nem o Conselho das Comunidades, o órgão de consulta sobre questões de emigração. Lello argumentou que se tratou de “uma iniciativa parlamentar” e que “por outro lado”, o Conselho “não estava a funcionar”. O que não é inteiramente verdade, pois até os novos conselheiros eleitos tomarem posse (o que vai acontecer este mês) os destinos do CCP são dirigidos pelo Conselho Permanente. José Lello diz que o voto por correspondência não oferece garantias de segurança. Por outro lado, as suas afirmações de que o PS está a prever o alargamento dos locais de voto e pretende introduzir na nova lei a possibilidade dos emigrantes portugueses votarem também ComunidadesUSA

em consulados honorários e vice-consulados, em associações portuguesas e ainda em “instituições públicas de outros países, como escolas e câmaras municipais” são no mínimo ingénuas para quem já foi secretário de Estado das Comunidades e deveria conhecer esta realidade, sobretudo nas Américas. Como é que os Consulados, com os parcos recursos financeiros que têm e a crónica falta de funcionários vão poder criar mesas de voto? E com que voluntários? Nos Estados Unidos viu-se nas recentes eleições para o Conselho das Comunidades essa dificuldade e no Canadá a lei proíbe mesmo as associações sociais de se envolverem em actos eleitorais estrangeiros. Se as eleições decorrerem só nos Consulados a abstenção aumentará assustadoramente na América do Norte e do Sul. Esta decisão, que não teve em conta nenhum estudo credível, é ainda mais estranha quando o governo do PS testou nas últimas eleições o voto electrónico (via Internet) e a maioria da democracias modernas aceitam sem problemas o voto por correspondência. É estranho também que toda a esquerda tenha votado a proposta de José Lello. É caso para perguntar: e se os resultados fossem diferentes, isto é, se o PS vencesse no círculo da Emigração Fora da Europa, o voto por correspondência era seguro? Nas últimas eleições para a Assembleia da República, em Fevereiro de 2005, a abstenção nos dois círculos eleitorais da Emigração situou-se nos 76 por cento, com 36.388 emigrantes a votar, num total de 148.159 recenseados. O PS obteve 12728 votos no círculo da Europa e 3552 no de Fora da Europa; o PSD obteve 6366 no círculo da Europa e 7783 no de Fora da Europa. Oct 2008

José Lello o autor da proposta que acabou com o voto dos emigrantes por correspondência

voto por correspondência pelo presencial. O deputado do PSD pelo círculo Fora da Europa, José Cesário, acusou os socialistas de "terem medo" do voto dos emigrantes. "Desde 1999 que [o PS] não consegue ganhar umas eleições nas comunidades portuguesas. Pelo contrário, tem sido perfeitamente esmagado nos mais diversos actos eleitorais realizados", acusou o parlamentar. "Confrontado com esta situação o PS não tem escrúpulos. Usa uma das suas únicas iniciativas dirigidas aos portugueses na diáspora nesta legislatura para tentar alterar administrativamente este estado de coisas", referiu José Cesário, acrescentando que o PS espera assim "que a sua pobre sorte mude e passe a ter melhores resultados". José Cesário sublinhou que os emigrantes não votam no PS porque "não acreditam" num partido que acabou com as contas Poupança Emigrante, com os incentivos ao crédito, com o porte pago para o envio de jornais e com quase duas dezenas de consulados. Respondendo às críticas do PSD, o deputado socialista José Lello lembrou que "o próprio PSD" defendeu no seu projecto de lei sobre a participação dos emigrantes nas eleições presidenciais que "não só admitia o voto presencial como regra, como o considerava a todos os títulos o instrumento ideal de expressão da vontade dos eleitores". Lello, que foi dos autores da proposta socialista, defendeu que o voto por correspondência tem "muitas imperfeições" e pode ser "potencialmente permeável à fraude". "Nas últimas eleições legislativas, a imprensa deu conta do desaparecimento inexplicável de várias centenas de boletins de voto destinados à emigração e perto de uma centena de votos oriundos do Brasil foram enviados para Espanha", justificou. Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, desafiou o PS a apresentar o mapa dos mesas de voto que pretende criar em cada país, um repto que foi aceite de imediato. 5


Entrar nos EUA sem visto só com pedido antecipado na Internet Novas regras entram em vigor em Janeiro de 2009 mas o site que recebe os pedidos está disponível a partir de 17 de Outubro AS NOVAS regras de entrada nos Estados Unidos para quem viaje em turismo e sem visto entram em vigor a 12 de Janeiro do próximo ano e implicam alterações significativas, nomeadamente um pedido que deve ser feito obrigatoriamente na Internet através do sistema Electrónico para Autorização de Viagem [ESTA]. Este pedido ao Programa de Isenção de Visto [PIV] é grátis e deve ser solicitado com antecedência através do site https://esta.cbp. dhs.gov disponível a partir de 17 de Outubro em 17 línguas, segundo fonte oficial. A resposta ao pedido pode ser imediata dando autorização aprovada [viagem autorizada], viagem não autorizada ou autorização pendente que terá uma resposta até 72 horas

após o pedido. Caso seja aprovada a entrada nos EUA, a autorização é válida por dois anos, excepto se, por exemplo, mudar de nome ou de passaporte, sendo o documento de leitura óptica o único válido para passar a fronteira norte-americana. A aprovação da entrada em território norte-americano aplica-se a quem se desloca por um período máximo de 90 dias e implica que o requerente possua uma passagem de ida e volta, ou com saída para outro país. Ficam isentos deste pedido quem possua visto para entrar nos EUA ou que entre pelas fronteiras terrestres, deixando por isso de ser necessário o preenchimento do anterior formulário, o I-94W.

Empresários portugueses da diáspora reúnem-se em Lisboa em Novembro Existem mais de 120 mil empresas portuguesas de emigrantes, 20 mil das quais são consideradas grandes empresas

REPRESENTANTES das 120 mil empresas portuguesas da diáspora reúnem-se em Novembro, em Lisboa, no I Fórum Mundial dos Empresários Portugueses, anunciou a Secretaria de Estado das Comunidades. A iniciativa resulta de uma parceria do Ministério dos Negócios Estrangeiros com a Confederação Mundial das Câmaras de Comércio Portuguesas. “Este I Fórum Mundial dos Empresários Portugueses pretende potenciar as capacidades verificadas no conjunto de empresas, que são propriedade de portugueses que vivem fora de Portugal, e também a ambição de Portugal em internacionalizar as suas empresas e a sua economia”, disse a fonte. O objectivo é encontrar “formas de cooperação e de parcerias entre as empresas tituladas por portugueses que vivem no estrangeiro e empresas portuguesas sediadas em Portugal”. A iniciativa vai decorrer a 28, 29 e 30 de Novembro e a par da realização do Fórum, o 6

Governo vai apresentar um programa de incentivo à internacionalização dos empresários portugueses. “Este programa, a que chamamos NetInvest, permitirá criar uma rede de informações e conhecimentos, também em parceria com a Confederação, não só para a oportunidade de negócios como para a troca de informações e oportunidades de investimento também em Portugal”, acrescentou. Este programa recorrerá a capitais de risco e a outros incentivos, “no sentido dessas parcerias poderem vir a estabelecer uma cooperação estratégica entre as diferentes empresas, dando por essa via um curso à internacionalização das empresas portuguesas”. Segundo a Secretaria de Estado das Comunidades há mais de 120 mil empresas no mundo inteiro tituladas por portugueses. Destas, 20 mil são consideradas grandes empresas, em todas as áreas e em todos os domínios de negócios”. Oct 2008

A página onde deve ser requerida a autorização

Estes procedimentos causaram alguma preocupação entre as comunidades portuguesas nomeadamente as açorianas, pois os familiares que residem no arquipélago, sobretudo pessoas de idade, visitam frequentemente os familiares nos Estados Unidos, sendo agora obrigados a requerer autorização. Como ela deve ser feita na Internet, alguns emigrantes manifestaram o receio de que isso atrase o processo, pois a maioria dos idosos não só não sabe usar o computador como não possui uma caixa de correio electrónico (e-mail). Os serviços da Direcção Regional das Comunidades Açorianas, no entanto, já disseram estar disponíveis para prestar apoio.

A EMIGRAÇÃO NO MUNDO Total de emigrantes: 175 milhões ilhõ PAÍS

MILHÕES DE EMIGRANTES

1. Estados Unidos 2. Federação Russa 3. Alemanha 4. Ucrânia 5. França 6. Índia 7. Canadá 8. Arábia Saudita

35 milhões 13,3 milhões 7,3 milhões 6,9 milhões 6,3 milhões 6,3 milhões 5,8 milhões 5,3 milhões fonte: OIM

ComunidadesUSA


Instituição sólida em franco crescimento...Transferências GRÁTIS. Soluções para emigrantes e não residentes

O Banif – Banco Internacional do Funchal, também está presente junto das comunidades portuguesas nos EUA, através do Banif Açores, Inc. Para mais informação consulte o escritório próximo de si...

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Conselho das Comunidades Portuguesas toma posse no Centro Cultural de Belém Plenário Mundial, agora com eleitos e nomeados, vai também eleger o novo presidente do Conselho Permanente

O

Conselho Mundial das Comunidades Portuguesas (CCP) vai tomar posse no Plenário Mundial que decorre de 15 a 19 de Outubro em Lisboa com Conselheiros eleitos e nomeados. Cinco meses depois de ter sido eleito, o CCP vai também eleger o seu presidente e Conselho Permanente com o novo figurino que lhe deu a revisão da lei que rege este órgão consultivo do governo português para as questões de emigração. De acordo com a nova lei do CCP, o CCP é composto por 73 conselheiros, dos quais 63 são eleitos e dez são designados entre associações, luso-eleitos, o Conselho Permanente das Comunidades Madeirenses e o Congresso das Comunidades Açorianas. Segundo fon-

te do gabinete do secretário de Estado das Comunidades, António Braga, por votação das associações de portugueses na Europa, foram designados Alfredo Cardoso (membro da Federação das Associações Portuguesas de Munster, Alemanha) e Mário Castilho (Presidente da Associação Portuguesa Cultural e Social de Pontault-Combault, França). As Associações Fora da Europa nomearam o dirigente associativo Terry Costa, do Canadá, e o presidente da Casa de Portugal de Montevideu, Raul Simón. Por seu lado, os luso-eleitos na Europa escolheram Paulo Paixão e Cristela de Oliveira, ambos de França. Os portugueses eleitos para cargos políticos Fora da Europa designaram Rita Botelho dos Santos (pelo

Os Conselheiros dos Estados Unidos A nova lei do CCP reduziu o número de Conselheiros nos Estados Unidos de nove para cinco, além de retirar a este círculo a zona da Bermuda. Os Conselheiros eleitos para o novo CCP são José João Morais e Manuel Carrelo, pelo círculo de Newark (inclui Washington, New Jersey, New York e Connecticut), João Pacheco e Claudinor Salomão, pelo círculo de New Bedford (inclui Massachusetts e Rhod Island), e Elmano Costa, pelo círculo de San Francisco (California). Somente este é um estreante, pois os restantes pertenciam já ao anterior Conselho. O CCP é um órgão de consulta do governo português para as questões da emigração.

Círculo de San Francisco (California)

Elmano Costa fotos: ComunidadesUSA

círculo China, Japão, Tailândia e Macau) e Manuel Simão de Freitas (África do Sul). Pelo Conselho Permanente das Comunidades Madeirenses foi designado José Gonçalves, residente na Bélgica, enquanto o Congresso das Comunidades Açorianas optou por não indicar ninguém, preferindo designar pessoas de acordo com os temas em discussão.

Nomeados Entretanto, e tal como prevê a lei, o Governo nomeou os conselheiros pelos países onde não houve candidatos, tendo sido indicada Maria Teresa Heymans (Holanda), Manuel Martins Pereira (Valência, Venezuela) e Joaquim Torres Rodrigues (Angola e República Popular do Congo). Pelo círculo de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Senegal foi nomeada Maria Adriana Carvalho e pela Índia Jorge Renato Fernandes. De acordo com a fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidades, falta nomear uma pessoa por Espanha porque "não se apresentou ninguém, nem se encontrou alguém com disponibilidade". fotos: ComunidadesUSA

Círculo de New Bedford (Massachusetts e Rhode Island)

João Pacheco

Círculo de Newark (Washington, New Jersey, New York e Connecticut)

José João Morais

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Manuel Carrelo

Oct 2008

Claudinor Salomão

ComunidadesUSA


Miguel Ramalho-Santos

Biólogo português ganha prémio de $1,5 para investigação em células estaminais embrionárias

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biólogo português Miguel Ramalho-Santos, investigador e docente da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, foi um dos dois galardoados desta universidade com o Prémio de Novo Inovador, atribuído pelo National Institute of Health, dos Estados Unidos, no valor de 1,5 milhões de dólares. Este prémio destina-se a apoiar a pesquisa de inovações que possam vir a “transformar a ciência biomédica e comportamental”. No caso de Miguel, vai permitir a continuação, durante os próximos cinco anos, dos seus trabalhos de investigação em células estaminais embrionárias no laboratório que dirige em São Francisco, naquela universidade californiana. Actualmente, Miguel Ramalho-Santos é também professor assistente de obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutiva no Instituto de Medicina da Regeneração da Universidade; em laboratório, a sua investigação centra-se no controlo e função das células estaminais embrionárias, com implicações para a biologia, medicina regenerativa e cancro. Os seus trabalhos têm sido publicados em várias revistas científicas de referência na área, nomeadamente a “Cell Stem Cell” e a “Gene Therapy”. Miguel Ramalho-Santos é filho do sociólogo Boaventura Sousa Santos e da investigadora e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Maria Irene Ramalho. Licenciou-se em Biologia na Universidade de Coimbra, onde fez também um mestrado em Biologia Celular, mas escolheu a Universidade de Harvard, em MA, para fazer o seu doutoramento numa área naquele tempo pouco investigada em Portugal. Acabou por ficar nos Estados Unidos, já lá vão onze anos. A revista ComunidadesUSA falou com o cientista que nos explicou em que consiste o seu trabalho e qual a importância deste prémio para as suas pesquisas. entrevista de António Oliveira

Qual a razão que o levou a deixar Portugal para fazer o doutoramento nos Estados Unidos? Durante o meu Mestrado, em Coimbra, fui-me informando das várias áreas da formação em Biomedicina no fundo para tentar descobrir um bocado as áreas que mais me interessavam para o meu trabalho futuro ComunidadesUSA

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Miguel Ramalho-Santos de doutoramento. À medida que ia lendo fui descobrindo um interesse bastante grande por Biologia do Desenvolvimento, isto é, um fascínio por saber como é que o embrião se desenvolve a partir de uma única célula, que permite construir um organismo inteiro com os vários tipos de células diferenciadas que compõem o nosso corpo. E apercebi-me que de facto a investigação de topo nessa área era feita nos Estados Unidos, sobretudo em Harvard, por um grupo de investigadores com os quais eu gostaria de trabalhar. Candidatei-me em 1997, tive a sorte de entrar no programa e acabei por vir trabalhar com eles no doutoramento em Biologia do Desenvolvimento Embrionário. E como surgiu a Universidade da Califórnia? Após a conclusão do doutoramento tive conhecimento da existência de um lugar nesta universidade 9


Investigações poderão possibilitar criar células em laboratório capazes de curar qualquer doença que me interessou pelo facto de ser de investigador independente, isto é, não estava a trabalhar para outro professor. Candidatei-me e entrei como investigador, com o meu laboratório, em Outubro de 2003, estabelecendo o meu próprio programa de investigação. Comecei desde logo a ter alunos de doutoramento e de “pos-doc” a trabalhar para mim. Foi uma oportunidade de começar a trabalhar mais cedo na investigação. Desde Dezembro último sou também professor associado da Universidade. E como é financiada a sua investigação? A maior parte dos fundos vêem de “grants”, como este do National Institutes of Health (NIH), de instituições privadas e da própria universidade, que embora seja uma universidade pública, tem fundos para a sua própria investigação. Quando comecei a trabalhar aqui recebi fundos da Universidade para poder contratar uma técnica; depois tive um aluno que veio de Portugal de um programa doutoral da Universidade de Coimbra, com uma Bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia; pouco tempo depois contratei uma “pos-doc” croata que veio de um laboratório da Alemanha também com uma Bolsa. Ao mesmo tempo ia candidatando o laboratório a “grants” e esta agora que recebemos do NIH é de longe a maior de todas que nos vai permitir a independência financeira, digamos assim, a liberdade para fazer todo o trabalho em que estamos envolvidos ao longo dos próximos cinco anos. Quantos alunos e cientistas trabalham no seu laboratório? Neste momento somos sete, incluindo eu, o que é bastante razoável, mas esta “grant” vai permitir expandir para além disso. Pode explicar sucintamente as suas investigações e as implicações práticas, digamos assim, para o futuro da humanidade? Devo desde já dizer que eu sou um biólogo, portanto faço investigação básica, não faço investigação clínica, digamos assim. Faço investigação na área da genética das propriedades das células estaminais embrionárias, portanto quais são os genes que conferem às células estaminais embrionárias as propriedades que as distinguem de outras células. Uma propriedade fundamental destas células e uma das razões pela qual eu me senti fascinado pela embriologia, é que são células que têm capacidade de dar origem a qualquer tipo de célula do organismo. Ou seja, a partir de células estaminais embrionárias é possível obter células musculares, neurónios, células do sistema digestivo... Qualquer tipo de células do nosso corpo pode ser derivada no laboratório a partir de células estaminais embrionárias. O que não é o caso de células estaminais adultas que são muito mais restritas no seu potencial. É uma propriedade extremamente fascinante como é que uma célula é capaz de ter todas as opções em aberto, digamos, de diferenciação, e de alguma maneira isto tem que ser revelado em termos genéticos. 10

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Portanto o meu laboratório está interessado, e tem vindo a fazer trabalho nessa área para saber quais são os genes e os mecanismos, digamos moleculares, que regulam essa capacidade das células estaminais embrionárias de darem origem a todas as outras células. Portanto, como é possível explicar a nível molecular e genético esse facto de estarem toda as opções em aberto. Conhecendo então este processo é agora possível reproduzir qualquer tipo de célula em laboratório para curar qualquer tipo de doença? Bom, eu ia chegar a esse ponto. Mas gosto de ressalvar que eu faço investigação básica e como em todos os casos no passado, por vezes foi possível prever qual o tipo de aplicação que veio a resultar daí em benefício para a humanidade, noutros casos foram resultados inesperados durante o decurso da investigação básica. E muitas vezes é isso que acontece e os cientistas têm que ter os olhos abertos para possibilidades que não estão à espera e de onde resultam observações interessantes que têm uma importância enorme para a humanidade mas que não foram imediatamente previstas. No caso da investigação de células estaminais há, enfim, a proposta, ou a ideia, de que o que pode derivar mais directamente em termos de aplicações desta investigação básica é o que mencionou, isto é, se formos capazes de saber como é que as células têm estas opções todas em aberto talvez seja possível manipular estes programas genéticos que estamos a estudar, como digo a nível básico nas células estaminais, de modo a poder gerar células que possam ser úteis para os doentes. Ou para pelo menos perceber determinado tipo de doenças para as quais tem sido difícil arranjar cura. Este é um potencial das células estaminais enorme, mas eu acho que pode haver vários outros. O futuro o dirá O estudo nestas células estaminais humanas tem sido alvo de forte polémica nos Estados Unidos, com um grupo de conservadores a opor-se ao seu estudo. Como cientista, como vê toda a esta polémica? Eu trabalho em células estaminais embrionárias que são derivadas de embriões muito jovens, de uma semana após a fertilização. Temos trabalhado em células humanas, mas como fazemos investigação básica, muito do nossos trabalho é feito em ratinhos onde podemos estudar a embriologia em mais pormenor e podemos fazer experiência que não podemos fazer em humanos. O ratinho é um excelente modelo genético, pois podemos manipular genes de uma maneira muito específica que não é possível em seres humanos, por isso usamos estas células estaminais em vez das humanas para fazer as experiências. Mas também usamos as humanas para verificar se os resultados que estamos a obter nos ratinhos se aplicam à espécie humana, o que é importante neste tipo de investigação. Há alguma ComunidadesUSA


controvérsia nesta área, mas ela é cada vez menor, até porque há agora uma percepção geral de que esta investigação tem que seguir o seu curso para ser possível desenvolver novas terapias. Esta é uma área muito jovem e pode levar o seu tempo até dar frutos, mas a minha perspectiva é de que ela deve avançar e logo se verá se há aplicações interessantes ou não. Como cientista naturalmente acredita que estes estudos e outros do género nos vão permitir encontrar num futuro a cura par doenças que hoje são incuráveis? Eu acho que sim. Na Califórnia há um referendo para financiar a investigação em células estaminais embrionárias precisamente porque o Estado se apercebeu de que há um potencial enorme não só de terapias mas até de potencial económico, pois isto pode ser toda uma nova área da economia em termos da biotecnologia, indústrias da saúde, farmacêuticas e por aí fora. É no fundo aproveitar o potencial de usar células em vez de drogas, ou em conjunto com elas, para curar, ou pelo menos tentar melhorar a condição de doentes que padecem sobretudo de doenças degenerativas bastante graves. Acho que esse potencial é enormes e já há teste clínicos a decorrer com células derivadas de células estaminais embrionárias humanas em doentes de diabetes e de Parkinson. Portanto já não é um mundo de fantasia, mas claro que vai demorar o seu tempo, como tem sido o caso das descoberta de novos medicamentos para o cancro. Esta é definitivamente uma área de futuro. Após onze anos nos Estados Unidos, ComunidadesUSA

e agora com este prémio, não põe a hipótese de regressar a Portugal? É uma perspectiva que mantenho em aberto. Estou muito em contacto com o que se passa em Portugal, pois todos os anos vou lá varias vezes dar seminários em universidades, sobretudo em Coimbra e Lisboa, e tenho participado na orientação de cursos de programas de doutoramento nesta área da biomedicina e em 2009 vou participar num novo programa da Fundação Gulbenkian na área da formação de médicos interessados em fazer investigação fundamental. Portanto estou muito ligado e muito a par da investigação que está a decorrer em Portugal em células estaminais ou embriologia do desenvolvimento, ou até em outras áreas. Neste momento tenho aqui excelentes condições e óptimos colegas nesta universidade, gente com quem é muito interessante interagir. Esta universidade tem também uma grande tradição na investigação de células estaminais. Foi aqui que foram descobertas as células estaminais embrionárias de rato. A descoberta foi feita por dois grupos ao mesmo tempo: um desta universidade e outro em Inglaterra. Esta “grant” de cinco anos é realmente uma oportunidade para agarrar e tentar fazer o melhor trabalho que pudermos, mas não excluo a hipótese de regressar a Portugal ou à Europa. Acha que Portugal oferece hoje condições de trabalho aos seus jovens cientistas para evitar que eles saiam do país? Sim, as coisas melhoraram bastante desde que eu saí. Na altura não havia de facto investigação de biologia de desenvolvimento embrionária de topo e foi muito claro que eu tinha que sair. Neste momento já há, mas continuam as limitações de financiamento. É importante que o Estado português continue a investir em investigação e desenvolvimento, porque é uma área de futuro e Portugal tem mostrado que tem talentos e se os jovens forem estimulados para se dedicarem à ciência e investigação e os vários projectos Oct 2008

que financiam a investigação continuarem a ser apoiados, as coisas podem melhorar ainda mais. Acho que tem sido feito um trabalho bastante bom nos últimos anos tentando atrair investigadores portugueses que estavam no estrangeiro para Portugal. Se esse esforço continuar só pode ser bom para o país. E como foi a adaptação aos Estados Unidos? Eu tenho e sempre tive um espécie de “mix feeelings” por viver nos Estados Unidos. É evidente que tive aqui oportunidades excelentes em termos da minha formação e da investigação que estou a fazer. O meio académico é de facto interessante e estimulante, menos rígido do que na Europa, mais aberto e meritocrático, como eles lhe chamam, e isso também me atrai, pois estamos menos dependentes de hierarquias e de outras coisas que em Portugal são mais preponderantes. Mas a nível, digamos, social e político, sobretudo nestes últimos anos, foi às vezes um pouquinho deprimente sentir que estou nos Estados Unidos e a viver neste país. Às vezes sinto um bocado essa ambiguidade em que me custa sentir-me integrado. Estou nos Estados Unidos há onze anos e continuo a sentir-me perfeitamente português e obviamente que tenho muitas saudades da família e dos amigos e do ambiente e da cultura em Portugal. Por isso tento estar perto todas as vezes que posso e tenho oportunidade. Põe a hipótese de ficar a viver cá? Essa é uma questão pessoal que se me porá provavelmente no futuro. Se calhar não teria problema nenhum com isso, mas essa é uma decisão que terei de tomar na altura certa e neste momento não estou preocupado com isso. Tenho boas perspectivas profissionais pela frente e acho que esta é uma oportunidade que devo agarrar, sobretudo se puder continuar a passar alguma desta inovação e da investigação e do conhecimento que estamos a gerar para Portugal, através dos programas onde tenho dado aulas ou de outras oportunidades que possam surgir por lá. Esse tipo de intercâmbios podem ser muito bons para mim. O futuro o dirá. Tem algum aluno português consigo neste momento? Sim, aqui tenho um aluno que está a terminar o doutoramento, o Alexandre Maia, e tenho também acompanhado alguns alunos em Portugal. 11


NA MARGEM

DE CÁ

A crónica do Brasil

A Ilha de Cascaes

100 anos de Franklin Cascaes (1908 -2008)

“Oh minha Ilha de Santa Catarina, És uma sereia que enlevas e embalas o mar Mesmo se morrer distante de ti querida Quero vir para sempre no teu seio repousar” Franklin Cascaes in:Canto da Ilha de Santa Catarina,1973 O ano de 2008 assinala o centenário de nascimento do etnógrafo, escultor,folclorista Franklin Cascaes,o bruxo da Ilha. Não é sem razão que quando se fala na presença do imaginário bruxólico na literatura, na música e nas artes catarinenses seu nome é sempre lembrado como uma referência incontestável tanto por estudiosos e pesquisadores da cultura popular catarinense quanto pela população catarinense, particularmente pelos habitantes da Ilha de Santa Catarina. Na obra de Cascaes, o imaginário bruxólico cria corpo, agiganta-se e com força se impõe, estando presente de forma manifesta em toda parte e não mais restrito ao interior da ilha e às conversas de fins de tarde nos barracões de pesca. Populariza-se o ComunidadesUSA

termo “bruxólico” forjado por ele e configura-se “o imaginário bruxólico” na literatura, na arte, na música e na vida ilhoa. A Ilha passa a ser conhecida (e por Lélia Pereira da Silva Nunes*, sua imagem vendida) quer pela beleza de suas praias, lha de Santa Catarina, Brasil quer por sua magia como Ilha das Bruxas ou Ilha da Magia ou Ilha de Cascaes. As Bruxas da Ilha estão na literatura enfeitiçando o leitor; nas artes, os próprios artistas anunciam-se partícipes do Realismo Fantástico Ilhéu – a escola artística de Cascaes; na música, a temática está presente na figura da mulher-bruxa, feiticeira, que tece a tela da sedução infinita, que faz mil loucuras, aprisionando na rede da pesca, no rendado da paixão. Como artista, Franklin Cascaes foi autodidacta. Utilizou o seu talento e criatividade em registrar e transmitir através da escrita, do desenho, da escultura e do artesanato o legado açoriano, na ânsia de memorizar o passado, de salvar o património cultural que se fragmentava frente às exigências da modernidade, que chegava transformando o espaço urbano, descaracterizando o meio rural e espoliando o pescador da sua praia. Um bruxo, solitário em sua caminhada, por mais de trinta anos recolhendo histórias e estórias, num persistente trabalho de rabiscar a mitologia, desenhar a bico-de-pena cenas do cotidiano, crenças e o imaginário ilhéu, moldar na argila os personagens desse cenário insular. Da argila brotaram rostos conhecidos da cidade, do bispo ao governador, do manezinho e pescador à rendeira da Lagoa da Conceição. Deixou um valioso documentário sobre usos e costumes, histórias de bruxarias e magias, além de um acervo riquíssimo de cerâmica figurativa que retratam festas religiosas tradicionais, folguedos populares, crenças e lendas, as alfaias e as tecnologias patrimoniais dos engenhos, da pesca e da agricultura, a labuta diária na criação artesanal de subsistência. Traduziu melhor do que ninguém o universo artístico, fantástico, mágico que permeava (e permeia) a teia de relações sociais do povo açoriano da Ilha de Santa Catarina. Na sua única obra publicada, O fanNOTA: este texto está escrito em tástico na Ilha de Santa Catarina (1979 – I volume), português do Brasil, país de onde é estão reunidas doze estórias de um conjunto de vinte natural a autora. Oct 2008

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“Eu aprendi, na minha escola de iniciação à bruxaria, que lá nos Açores, na terra dos nossos antepassados, as bruxas também costumavam roubar embarcações (...)”.

Reza Contra Bruxas — Pela cruz de São Simão Que te benzo com água benta Na sexta-feira da Paixão

e quatro. No enredo, temos a narrativa linear do fantástico contado com extrema singeleza por vozes da Lagoa, do Ribeirão da Ilha, do Pântano do Sul e de outras freguesias. O leitor mergulha num torvelinho e de cada página saltam bruxas, feiticeiras, lobisomens, boitatás, benzedeiras com suas rezas e remédios. “A bruxa que estava sentada no banco da popa da lancha junto da gaiúta, onde o pescador estava escondido, era comadre e prima dele. Ela sabia da presença dele ali, através do seu fado fadórico sobrenatural. (...) Ao ser desmascarada suas faces enrubesceram, seus olhos esgazearam e sua fala emudeceu. Recuperando-se, ela afirmou: – Compadre, a terra de origem deste punhado de areia e deste ramalhete de rosas é a Índia. Eu aprendi, na minha escola de iniciação à bruxaria, que lá nos Açores, na terra dos nossos antepassados, as bruxas também costumavam roubar embarcações e fazer estas viagens extraordinárias entre as ilhas e a Índia.” (Bruxas Roubam Lancha Baleeira de um Pescador, in: O Fantástico na Ilha de Santa Catarina, 1ºvol.) ComunidadesUSA

O segundo volume de O fantástico na Ilha de Santa Catarina, que só sairia nove anos após sua morte, ou seja, em 1992, traz doze outras estórias. Os textos seleccionados reflectem as andanças de Franklin Cascaes pelo interior da Ilha, no lusco-fusco do entardecer, num dia de prosa nos bancos das vendas com os pescadores da Armação ou do Canto dos Araçás, a contar casos sobre as aparições das praias desertas, os vultos que acenam, misteriosos e desesperados do alto dos paredões dos Naufragados ou ainda causos sobre as bruxas, lobisomens, boitatás, que habitam todos os cantos e recantos da Ilha. Estórias de tempos idos, estórias rememoradas continuamente no tempo e naquele espaço sem limites ou fronteiras a não ser o da linha do horizonte onde o céu e o mar se encontram. Franklin Cascaes, o bruxo ilhéu que amou a Ilha com a sabedoria de quem conhece o movimento das marés, o sussurrar tinhoso do vento sul e a humildade de quem nasceu no mar das espumas de Itaguaçu, percorreu madrugadas iluminadas pela lua cheia, alçou voos nas asas da imaginação e repousou para sempre no seio da terra amada, a sua Desterro, numa tarde chuvosa do verão de 1983. Oct 2008

Treze raio tem o Sóli Treze raios tem a Lua, Salta o demônio para o inferno qu’esta alma não é tua. — Tosca marosca, rabo de rosca, aguilhão nos teus pés e e freio na tua boca. — Por riba do silvado e por baixo do telhado! São Pedro, São Paulo, São Fontista. Dentro da casa, São João Batista — Bruxa, tatara- bruxa, tu não me entres nesta casa, nem nesta comarca toda — Por todos os santos. Amém!

Esta oração foi recolhida no Pântano do Sul, mas é comum em toda ilha com ligeiras alterações, segundo os moradores do interior da Ilha é bom tê-la por perto para espantar as bruxas ou rezá-la até antes de falar sobre elas...

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Churrasqueira

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Parque termal de Vigado (Chaves) reabre remodelado em 2009 O

parque termal de Vidago, Chaves, reabre as portas no primeiro semestre de 2009 após obras de requalificação no âmbito do projecto Aquanattur, da Unicer, que pretende dar notoriedade à região enquanto destino turístico. A pré-abertura e abertura daquele espaço ocorrerão entre "Março e Junho" do próximo ano. O Aquanattur é um projecto da responsabilidade da Unicer Turismo, resultado de um

contrato realizado com a Agência Portuguesa para o Investimento (API), no valor de 47,8 milhões de euros, para requalificação dos centenários parques de Pedras Salgadas e Vidago, em Trás-os-Montes. O projecto visa a reconversão dos dois parques — que distam entre si nove quilómetros — através da dinamização de duas marcas do grupo Unicer (Pedras e Vidago), dotando-os de infra-estruturas turísticas e termais, que passarão a funcionar

Peniche compra moeda com mais de 200 anos A Câmara de Peniche anunciou que adquiriu uma moeda de ouro com mais de 200 anos encontrada no fundo mar e que pertencia ao carregamento de um navio que naufragou perto de Peniche, em 1786. A moeda fazia parte do carregamento do navio, onde se incluíam 150 toneladas de moedas de ouro e prata e 600 toneladas de cobre. O San Pedro de Alcântara, que fazia a ligação entre Callao, no Peru, e Cádiz, em Espanha, naufragou no dia 2 de Fevereiro de 1786 na zona de Papoa, em Peniche. Segundo relata um comunicado da autarquia, após o naufrágio, a então vila de Peniche “viu chegar gente de diversos lugares da Europa para participar nas operações de resgate da carga do navio”.

numa lógica de complementaridade. No parque de Vidago, que completa cem anos de existência em 2010, o hotel de quatro estrelas está a ser transformado num "cinco estrelas diferenciado", num projecto assinado pelo arquitecto Álvaro Sisa Vieira. Vidago vai ter também um SPA lúdico e termal, construído de raiz nas traseiras do hotel, que será servido pela cadeia internacional da especialidade E'SPA. O actual campo de golfe de nove buracos, desenhado por McKenzie Ross em 1936, passará a ter 18 buracos, em formato "borboleta", a partir de um centro que é o próprio hotel. Este parque vai dispor ainda de um espaço expositivo de Serralves e de casas rurais para alojamento de artistas, com atelier incluído.

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129 Ferry Street, NEWARK, NJ 07105 Tel: (973) 344-7379 • Fax (973) 344-2419 ComunidadesUSA

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CULTURA

Para Dias de Melo – Haverá sempre a Trilogia da Amizade por Kiwamu Hamaoka

Dias de Melo recebe das mãos do presidente Carlos César uma homenagem do governo regional (Maio 08)

Literatura açoriana de luto mais uma vez

Dias de Melo, o autor de “Pedras Negras’, deixa-nos aos 83 anos O

escritor açoriano Dias de Melo faleceu a 24 de Setmebro aos 83 anos no hospital de Ponta Delgada, onde se encontrava internado há cerca de uma semana. José Dias de Melo nasceu na Calheta do Nesquim, ilha do Pico, a 8 de Abril de 1925, sendo conhecido nos meios literários como um escritor profundamente ligado aos Açores e às suas gentes, que retratou com mesrtia nos muitos livros que escreveu. Foi professor primário e colaborador assíduo da imprensa regional e nacional e um profundo conhecedor da temática baleeira e da emigração, tema sobre o qual escreveu variadíssimas vezes. O seu primeiro livro – "Toadas do Mar e da Terra" – remonta aos 50, mas foi com "Pedras Negras", publicado em 1964, que se tornou conhecido do grande público e da crítica. Ao longo da sua vida foi alvo de muitas homenagens, nomeadamente a comenda da Ordem do Infante, o título de Cidadão Honorário das Lajes do Pico e, já este ano, um reconhecimento público do governo regional (ver foto, que incluiu o lançamento de uma nova edição da trilogia das obras do autor - "Pedras Negras", "Mar 16

Rubro" e Mar Pla Proa". O escritor João de Melo classificou a sua obra como “vasta e significativa, especialmente em torno da sua ilha natal, o Pico”. "Tendo sido um épico local da faina da caça à baleia, com paralelo na literatura norte-americana, basta lembrar o Moby Dick, esteve sempre muito atento ao tempo português e não se limitou a ser um homem insularizado", realçou este escritor seu conterrâneo. "Ele inseriu os Açores na dinâmica do tempo português, nunca se deixando apanhar pelo regionalismo, e é claramente um autor nacional", sublinhou. Da sua obra, João de Melo destacou a trilogia "Pedras Negras", "Mar Rubro" e Mar P'la Por seu turno, o presidente do Governo Regional, Carlos César, expressou o seu pesar pela morte do escritor Dias de Melo, considerando que, na sua condição de autor e cidadão, "consolidou um imaginário açoriano feito de mundividências populares". Na avaliação de Carlos César, Dias de Melo aprofundou conceitos do imaginário regional e desenvolveu uma "estética combativa e socialmente empenhada". Oct 2008

No dia 24 de Setembro soube, pela Internet, do falecimento do grande escritor açoriano Dias de Melo. Conheci-o na Ilha de São Miguel em 1991. Mas antes disso tinha adquirido em Lisboa uma segunda edição do seu livro Pedras Negras. Dez anos depois, traduzi essa obra prima para japonês, que foi publicada no Japão. A dialectologia picoense era, porém, inevitavelmente domplexa e eu tinha que fazer perguntas ao autor por carta. Dias de Melo não estava ligado à internet e levou muito tempo a eu conseguir resposta. Soube entretanto que ele fora internado no hospital e operado. Mesmo assim, continuava a “escreviver” e parece que o fez até ao último momento. No Japão, bem como nos Açores, houve próspera actividade de baleação e essa indústria enriqueceu a vida do mundo. E contribuiu para aumentar o intercâmbio mundial. Dias de Melo foi, como é óbvio pela leitura dos seus livros, experimentou a baleação e por isso as suas descrições daquela saga têm, naturalmente, mais força e dinamismo, nitidamente graças à sua experiência. A trilogia baleeira - Mar Rubro, Pedras Negras, Mar pela Proa - deve ficar na memória da gente porque tem na verdade um valor de ficar. Aprendi várias cóisas através das crónicas romanceadas de Dias de Melo. Por exemplo, de Mar Rubro, soube que um emigrante açoriano se tornou na América um capitão militar. Isso revela também é o universalismo dos Açores. Em Pedras Negras, soube que um barco baleeiro foi utilizado para fuga à fome dos Açores. E, em Mar pela Proa, tive conhecimento das inúmeras intrigas profundas dos homens baleeiros por causa do dinheiro da pesca da baleia. As três obras acima mencionadas, em todo o caso, devem ser consideradas tesouros não só para os açorianos mas também para o mundo inteiro. Quem está ligado à comunidade açoriana vai ter de dar as mãos para manter esse património mundial. No Japão, traduzi Pedras Negras. Nos Estados Unidos da América, Gregory MacNab traduziu também (Gávea-Brown, 1983). E nos Açores há felizmente agora a reedição dessa obra prima dele. E por isso continurá a trilogia da amizade entre o Japão, os E. U. A. e os Açores. ComunidadesUSA


Um projecto ambicioso e de grande qualidade científica

Comunidades açorianas inauguram Portal bilingue na Internet Situado em www.comunidadesacorianas.org o Portal vai crescer com o contributo da diáspora açoriana espalhada pelo mundo

Alzira Silva (de branco, ao centro, com alguns dos colaboradores do Portal durante a inauguração na Horta, Faial

A

s comunidades açorianas espalhadas pelo mundo têm desde Setembro um portal na Internet que lhes vai permitir estreitar laços e encurtar distâncias e ao mesmo tempo construir uma base de conhecimentos sobre os temas da diáspora de grande qualidade e quantidade para futuros trabalhos de investigação sobre esta temática. Denominado “Comunidades Açorianas”, o portal bilingue (em português e inglês) encontra-se no endereço www.comunidadesacorianas.org e tem já alguns artigos disponíveis publicados por especialistas em Portugal, Açores, Estados Unidos e Brasil. O seu objectivo é construir uma grande base de dados que vai crescendo por contribuição de uma comunidade de académicos e outros peritos nas várias áreas da emigração, desde a literatura à investigação científica, até às comunidades, tradições populares, história, educação, comunicação social, artes e letras, património, referências bibliográficas, entre outras. Não se trata de mais uma página na Internet ou de um portal de simples referências bibliográficas mas sim de uma base de saberes, informação e escritos de qualidade verificada e atestada por um conselho científico. Pretendese que os vários académicos açorianos ou de origem açoriana ou outros que estudam o tema ComunidadesUSA

da emigração dêem o seu contributo de uma forma livre permitindo que os seus estudos cheguem até ao investigador e ao público em geral interessado em conhecer o fenómeno das migrações. Alzira Silva, a directora Regional das Comunidades, entidade que patrocinou a iniciativa, disse na altura da inauguração que o portal constitui um “legado que respeita o passado, que acompanha o presente e que prepara o futuro”, notando que se trata de um contributo para que a identidade açoriana “persista no espaço temporal e que derrube as barreiras físicas das nossas Comunidades, criando um espaço internacional de conhecimento da nossa história que, afinal, é de todos nós”. “O Portal Comunidades Açorianas consiste na partilha. Como seres humanos temos o dever de partilhar conhecimento, utilizando as ferramentas contemporâneas como elo de intercâmbio de experiências nas mais diversas partes do Globo viabilizando e incentivando a investigação da nossa história”, disse Alzira Silva . Com o objectivo de atingir o grande público, o Portal pretende dar a conhecer “aspectos da trajectória emigratória dos açorianas, e agora também o fenómeno recente da imigração nos Açores, um aspecto essencial que moldou a Oct 2008

nossa maneira de estar no mundo”, explicou a directora Regional das Comunidades à revista ComunidadesUSA. “É uma porta aberta das Comunidades que falará delas e as porá a falar de si e que vai pôr os açorianas a ler as comunidades e as comunidades a lerem os Açores e no fundo as pessoas todas em contacto com tudo aquilo que existe inédito e nós possamos convidar a entrar, e tudo aquilo que já está escrito mas que agora ficará reunido de uma maneira muito mais acessível a pesquisadores, estudiosos e a simples curiosos destes fenómenos”, acrescentou. Mas se o Portal partiu da iniciativa da Direcção Regional das Comunidades, o objectivo é que ele ganhe agora uma dinâmica própria. Alzira Silva explica: “Nós queremos que este Portal ganhe uma dinâmica própria, que ganhe autonomia e deixe de ser um bebé da DRC. É como uma criança que vai para o mundo e que este agarra cheio de solicitações de desafios, de convites, de apelos que as próprias comunidades criarão e irão gerir da maneira que considerarem mais conveniente. Mas claro que numa primeira fase nós temos que alimentar esse Portal e quando ele estiver em condições de ter a sua vida própria vai tornar-se autónomo. Mas nesta alimentação nós não queremos estar sozinhos, queremos estar com os Conselhos (Científico e de Ética) e com as comunidades, que podem começar já a aceder ao portal e a pensar em contributos que lhe possam dar e a divulgar para outros que o possam fazer também”. Alzira Silva disse ainda que o Portal das Comunidades “é um bem de todos não sendo de maneira nenhuma um bem de um grupo ou de elite que se uniu para o fazer”. “Claro que tivemos que unir algumas instituições e pessoas para o tornar possível, mas a partir do momento que ele está no mundo é um bem de todos e é isso que queremos que seja”, explicou. A directora Regional adiantou que todos poderão participar carregando trabalhos no Portal desde que respeitem as regras e os critérios de qualidade, notando que ele não pretende ser “um blogue de brincadeira” mas sim “um espaço onde há lugar para o trabalho académico como há lugar para o artigo de informação que tenha por base um dos temas relacionados com esta temáticas desde que cumpra as regras definidas pelo Conselho Científico”. O leitor também pode participar e submeter artigos. Basta para isso que se inscreva na página inicial como colaborador. Para mais informações vá até www.comunidadeacorianas.org. 17



NAS ONDAS DA INTERNET

Madredeus lançam novo CD — “Metafonia” —, em Outubro

Páginas na Internet que talvez lhe interessem... ou não Fotos de Portugal inteiro

http://minhasorigens.no.sapo.pt/PPS%20Portugal.html

Uma página para quem gosta das “presentations” em Power Point que nos invadem a caixa de correio electrónico todos os dias. Esta reúne todos os “PPs” sobre Portugal, incluindo Açores e Madeira. Só é pena é que as fotos sejam todas em baixa resolução...

Tudo sobre o Colombo português http://colombo.do.sapo.pt/

Um site interessante onde se tenta desmontar, com provas documentais, a alegada mentira em torno da nacionaldiade italiana de Colombo e se mostra a sua verdadeira nacionalidade: portuguesa

Português para imigrantes

http://cursoimigrantes.no.sapo.pt/

Um curso para os imigranets a viverem em Portugal aprenderem português mas que serve bem para todos. Até mesmo aqueles que acham que já sabem falar e escrever a língua...

Um museu da Emigração Portuguesa http://www.museu-emigrantes.org/

Talvez a melhor página on-line sobre a temática da emigração portuguesa. Este site do Museu da Emigração da Câmara Municipal de Fafe está disponível também nas línguas inglesa e francesa.

IQ teste

http://www.iqtestfree.net/

Os Madredeus lançam um novo disco de estúdio no próximo dia 20 de Outubro através da Farol Música. «Metafonia» é um duplo CD e o primeiro registo dos Madredeus após a saída de Teresa Salgueiro, José Peixoto e Fernando Júdice. A Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica) e Carlos Maria Trindade (sintetizadores) juntaramse duas novas vozes, as das cantoras Mariana Abrunheiro e Rita Damásio. «Metafonia» conta ainda com a participação da Banda Cósmica, composta por Ana Isabel Dias (harpa), Sérgio Zurawski (guitarra eléctrica), Gustavo Roriz (guitarra baixo), Ruca Rebordão (percussão), Babi Bergamini (bateria), Jorge Varrecoso (violino) e Sofia Vitória, Cristina Loureiro e Marisa Fortes (coros). O disco divide-se entre 12 temas originais e sete músicas retiradas de álbuns anteriores dos Madredeus. Em «Metafonia», a nova formação dos Madredeus propõe reinventar a abordagem à música cantada em português para grandes espectáculos, bebendo da tradição das composições portuguesas e dos arranjos da música popular da Europa, África Ocidental e Brasil.

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Oct 2008

ComunidadesUSA


‘Cooking with Dad’ Descobrir as raízes portuguesas através da culinária “COOKING WITH DAD” é um programa de televisão que, como o próprio nome indica, trata de culinária. Neste caso de culinária portuguesa que se apresenta aos telespectadores como um programa de família onde o patriarca cozinha com os seus filhos e lhe tenta transmitir um pouco da sua herança cultural através da gastronomia. O seu autor é Manny Lopes, natural de Benedita, Alcobaça, a viver nos Estados Unidos, na área de Ludlow, MA, desde os seus seis anos de idade, e que desenvolveu um interesse pela cozinha portuguesa no restaurante do seu pai, o “Caravela”, o primeiro restaurante português da zona oeste de MA. Os seus colaboradores são, obviamente, os seus três filhos — Frank, Thomas e Jaclyn — que o acompanham ao longo dos episódios e vão aprendendo a cozinhar pratos tipicamente portugueses. “Cooking with Dad é um programa familiar baseado nas minhas experiências do dia a dia com os meus filhos assim como com os meus pais e irmãos”, explica à ComunidadesUSA Manny Lopes. Mas como surgiu esta ideia de produzir um programa de culinária portuguesa com a família? “A ideia de fazer um programa de culinária foi nascendo com o tempo”, diz Manny Lopes. “Na tradição portuguesa, a cozinha é geralmente o ponto de encontro de mutas famílias. Eu e os meus filhos sempre passámos tempo juntos na cozinha e eles gostavam de participar e ajudar. Um dos programas favoritos do meu filho Tom era o “The Iron Chef ” que nós víamos juntos. Com o passar do tempo cada um deles ia aprendendo a cozinhar comigo e eu gostava de brincar dizendo que um dia gravaria os programas e os mandava para o Canal da Culinária chamando-lhes Cooking With Dad”, diz. Eventualmente, as suas experiências e vivências na cozinha com os filhos à volta da culinária portuguesa tornaramse conhecidas dos amigos que se mostraram interessados em saber mais dos seus dotes culinários acabando por o convencer a mostrá-los publicamente. Manny Lopes acabou por ceder à pressão dos amigos e ao mesmo concretizar aquele sonho antigo com que costuma brincar com os filhos. “O ano passado decidimos seguir esse sonho e filmámos o episódio piloto, que colocámos na Internet numa página crida para o efeito. Saiu muito bem, o que nos encorajou a gravar mais. Eventualmente acabámos por filmar 13 episódios que nos divertiram imenso”, explicou Manny à nossa revista. O sucesso do episódio piloto em www.Cookingwithdad” foi rápido, apesar de Manny não ter feito qualquer publicidade. Disse apenas aos amigos, que disseram aos seus amigos numa cadeia que levou já mais de 35 mil pessoas a verem o programa. E foi esse êxito que o levou a gravar mais 12 episódios, num estúdio, com meios profissionais e aptos a serem passados em televisão. Neste momento Cooking With Dad já tem um contrato para o programa passar numa estação pública e eventualmente em outros canais. ComunidadesUSA

Manny Lopes com os filhos Frank, Thomas e Jaclyn

“Para já o programa vai passar no Cox Cable Rhode Island Public Access, que cobre o estado de Rhode Island e partes de Massachusetts, e estamos em negociações com uma estação local afiliada da CBS na área de Springfield-Ludlow”, diz Manny Lopes. “Recentemente desloquei-me também à Califórnia, à área de São Francisco e São José, onde estabeleci contactos com vista a uma possível distribuição”, acrescenta notando que aquela é uma área onde residem milhares de portugueses e seus descendentes. Destinado a atingir um público vasto, sobretudo de origem portuguesa mas que já não fala a língua (terceiras, quartas e mais gerações) o programa é, naturalmente, falado em inglês. Mas, tal com a música, a culinária tem uma linguagem universal compressível por todos. Paras os luso-descendentes, ele é também uma forma de relembrar os tempos passados na cozinha com as mães cozinhando as receitas que trouxeram de Portugal ou que lhes foram transmitidas pelos seus avós ao mesmo tempo que vão aprendendo um pouco sobre a cultura portuguesa e as suas raízes lusas. As receitas preparadas em todos os programas não podiam ser mais portuguesas. Tratam-se de pratos que Manny aprendeu a cozinhar no restaurante dos seus pais e outros que foi apreciando nas festas da comunidade portuguesa de Massachusetts e em restaurantes locais. “Penso que podemos dizer que algumas receitas são adaptada por nós”, diz. “A forma de preparar muitas das receitas tradicionais varia em função de quem as confecciona e da região onde são cozinhadas. Eu espero que o nosso blogue na Internet (www.cookingwithdad. com) inspire as pessoas a mandarem-nos as suas versões das receitas que nós cozinhamos nos programas”, diz.

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“Cooking with Dad is a true family cooking based on real life experiences between my children and I” and the portuguese culture Tell us about your family and why they immigrated to the United States. I was born in Portugal in the small town of Benedita, which is in the freguesia of Alcobaça. At that time Benedita was a very poor community and we lived in a small typical Portuguese farm house constructed of stone. It was a quinta that we shared with my grandparents and some aunts and uncles. The homes had no running water, electricity or central heating system. Cooking and heating were done on the lareira (hearth) in the kitchen. My father Francisco Antonio Joao made a living as a “sapateiro” (Cobbler-shoe maker). He had an oficina attached to the house and had 3 employees. We immigrated to the United States in March 1960. I was 6 years old and my sisters were 7, 4 and 2. We emigrated for the same reasons that many before us and after us did. The United States was the “land of opportunity”, where if you worked hard you could get ahead and have a good life. I slightly remember the long 12 hour ride on the propeller plane ride across the Atlantic to a new country. The Plane took us to Boston Massachusetts where we were picked up by my uncle José João (my father’s brother) and some aunts and uncles that were already living here. We then made the ride to western Massachusetts on the super wide modern highways and I remember eating a banana on the way and being so surprised at its size, even the bananas were bigger here! The saying that “if you work hard, you can make it in the USA” was exactly that. My father took jobs at a masonry plant making cement blocks and forging plants, sometimes working 3 jobs he would go to the jobs on a bicycle, getting up early and traveling the distances to work even in the NE winter weather. My mother also took a job as a sewing machine operator at a factory. Our life changed drastically, from the quiet rural poor community to the faster paced life in the USA. Life was hard and my parents had regrets at times having to work round the clock while leaving their children at home. ComunidadesUSA

and owned the first Portuguese Restaurant in Western Massachusetts and called it “Restaurant Caravela”. Back then Portuguese food and cuisine was virtually unheard of outside the Portuguese community but through some creative advertising and promotions, we were able to bring in many non Portuguese who loved it. We tried to introduce the traditional Portuguese dishes, and even

But, our close family ties kept us together. My parent’s hard work paid off as they were able to buy a home within their first year (with my uncle Joe’s help) and a car. By 1965 we were able to make a family trip back to Portugal, and what a trip that was. We were an example of the success in the United States. My father rented a car and the people in the village thought looked at us like we were royalty. We brought a brand new Manny Lopes co os pais e irmãos no tempo do restaurante Caravela 8mm movie camera and documented our travel there traveling all the way to Oporto, Braga, Fatima etc. For the trip to Fatima my father rented a bus to take the villagers so they wouldn’t have to make the two day walk to the pilgrimage. Every family brought a picnic lunch and when they got off the bus all the variations of meals were put out on blankets and we were encouraged to taste them all. It’s amazing how the same meal can be prepared so differently from family to family. When did you start getting interested A família Lopes ao tempo em que emigraram in the Portuguese cuisine? had sardinhas grelhadas on the menu as My family was of the entrepreneurial an appetizer. We encouraged people to try mindset. Probably because they were self it and would show them how to eat them. employed in Portugal and had to come up They were a hit. We hired a Brazilian chef with ways to make a living there. I followed at one point that brought some great dishes in that tradition and was always involved in in as well. We catered many weddings as far “family businesses” in one way or another. away as Rhode Island and of course it was a My father started buying and investing in family experience as my Father, mother, and real estate and apartments in the late 60s. sisters were all involved in every aspect of I of course was involved with all aspects of that including visiting prospective properties the business. What made you start a TV show about with my parents and helping to interpret etc Portuguese food? with realtors, lawyers etc. Of course once The idea and concept of starting a properties were purchased I was involved cooking show developed over time. In the with repairs etc, a whole new perspective Portuguese tradition, the kitchen is usually and I learned many things that became very the focal point of most families. My children useful to this day. My family eventually and I have always spent time together in the broke away from the factory life. We bought Oct 2008

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kitchen. They always took a keen interest in participating and helping. I like having a kitchen with the stove positioned on a center island in the kitchen making it a focal point and the cooking becomes part of the activity. When my children were small they would push the kitchen chairs up against the counter and want to be a part of the fun. Usually breakfast on weekends we would make pancakes, waffles etc. We would shape the pancakes into Mickey Mouse faces and other fun shapes. One of Tom’s favorite shows on TV was “The Iron Chef ”, we used to watch it together. Later as they were growing up they would individually spend time with me cooking and making up meals together and I would joke that I would one day record our episodes in the kitchen and send the film into the cooking channel and call it “Cooking with Dad”. Last year we decided to follow that dream and filmed the pilot. It came out very well and we were encouraged to do more. We then proceeded to film 13 episodes. We had lots of fun with that and included my mother and sisters in different episodes. What is the main objective of the show? Cooking with Dad is a true family cooking based on real life experiences between my children and I as well as my parents and sisters. In future shows we will be highlighting more extended family members, friend, more restaurants and other festas and festivals around the country and the word. We also intend to touch on the history of the meals and locations in Portugal When will the show debut on TV and in which stations? Do you have Portuguese sponsors? We’ve been working on both sponsors and a format for airing our show on Public Access and other networks. It’s been a bit of a learning experience over the past year getting to know how the media business works and we had to re-assess how we needed to approach the market. We do not as of yet have any Portuguese sponsors but is something we’re working on. I’m hoping to have the support of Portuguese communities and companies as we have been primarily focusing on our culture and food. I’m sure that in time we will once the shows are being aired and people see the content. So far we will be airing on Cox Cable Rhode Island Public Access later this year. Cox RI Public Access broadcasts to the entire state of RI ComunidadesUSA

and neighboring communities like New Bedford MA. This market is a very large Portuguese community, so we are looking forward to that. We are also researching and plan on targeting other public access across the USA, recently we made a visit to the San Francisco-San Jose Area in an effort to meet Portuguese from that area as well. In the A velha casa da família em Portugal Springfield-Ludlow MA area of western MA, we’ve been world, from mainland Portugal to Açores, discussing the show with a local CBS affiliate Madeira, then Brasil, Goa, Mozambique, that looks promising Macau even Hawaii, the Philippines, and I’m The pilot program on your web page sure Portuguese living in France, Australia is a huge success. How the people heard the USA and many other countries have about it? their own Portuguese variations. The only advertising we’ve done is by We are trying to be creative as well and having a web site and word of mouth. I was bring some interesting recipes that have a very impressed that in just about a year of Portuguese flavor to them but offering some having the web site we’ve had over 35,000 alternatives, as an example on one episode hits. In reaction to that we’re revamping we filmed showing Portuguese sandwiches, the web site to make it more interactive. we made some bifanas. My older son Frank All we’ve had on the site so far is the full wanted a non meat version so we marinated screening of our pilot show that was filmed tofu in a bifana marinade recipe. The final in a studio in RI. We will be adding a “blog” result was a delicious alternative we called onto the site and also posting some of our a “Tufana”. On another show with my sister other shows that we filmed on location at the Trinda, we filmed a Vegan show were we Portuguese Festa and my kitchen in Ludlow made a vegetarian Paelha and vegan chocoMA. We have flirted with the idea of selling late Congo bars. the episodes for TV, I guess time will tell on Do you think the Portuguese cuisine that. will be in the future appreciated in this How do you choose the recipes? Are country like the Italian or French, for they all traditional or adapted by you? example? The recipes that we’ve chosen so far are I do feel that the USA is ready for our our traditional family recipes and recipes Portuguese Cusine, but it will take some for items that we’ve featured at the Festa and effort and education on our part to present a local restaurant. So I guess some of the it. Take the sardinha appetizer that we tried recipes are adapted by us. I recently heard a at our restaurant many years ago. I rememcomment by a popular cooking show host ber when I would first mention it to custothat most great recipes start at home and mers; they would frown and thought that that’s something I’ve always believed. We I was trying to give them canned sardines. all long for the tastes and smells of what we After encouraging them and showing them were brought up with, we try to emulate that. the proper method of eating them, they Really many of our traditional Portuguese came back for more. The same has happerecipes have many variations as they are ned in the USA with sushi, Mexican food made from family to family and region to and Asian cuisines. They are now all widely region. Dobrada and cozido as well as caldei- accepted and favored in the USA There are a rada are great examples of that. I’m hoping lot of misconceptions out there among Amethat the new blog on our website will inspire rican about Portuguese food and Portugal people to send in they’re variation of the in general. Many people think it’s very spicy recipes we’re showing. It could be interesting or just don’t know, in reality our cuisine isn’t to see all the variations. If you think about it, very different from many French or Italian the Portuguese are represented all over the dishes. Oct 2008

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Café Bakery Majestic (703) 330-4447 Mais do que um Café Morais Plaza • Manassas, Virginia


NEW YORK & MA

Escola Infante D. Henrique e Banco Espírito Santo entregam Bolsas de estudo a alunos luso-descendentes

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Escola de Língua Portuguesa Infante D. Henrique, de Mount Vernon, estado de Nova Iorque, e o Banco Espírito Santo Inc., voltaram este ano a distribuir a Bolsa de Estudo 2008 “O Navegador/Banco Espírito Santo”. Estas Bolas destinam-se a ajudar alunos luso-descendentes de Nova Iorque no prosseguimento dos seus estudos universitários. Trata-se de uma iniciativa conjunta da escola Infante D. Henrique, do Portuguese American Club de Mount Vernon e do Banco Espírito Santo através dos seus escritórios em Newark, Nova Jérsia

MAPS e CPCU oferecem inglês para adultos

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CPCU Credit Union e a Massachusetts Alliance of Portuguese Speakers (MAPS) assinaram um protocolo de cooperação que vai permitir criar aulas de inglês para adultos nas comunidades de Cambridge, Massachusetts. Paulo Pinto, director executivo da MAPS, e Rui Domingos, chefe executivo da CPCU, anunciaram que a MAPS vai oferecer um curso de inglês ESL gratuito de 12 semanas durante este Outono patrocinado pela CPCU. O curso deverá começar no início de Novembro de 2008 no escritório da MAPS em Cambridge, 1046 Cambride St., com aulas de duas horas duas vezes por semana. “A MAPS está muito grata por receber este apoio da CPCU”, disse Paulo Pinto. “É realmente empolgante ver os nossos empresários locais interessados em fortalecer os membros da comunidade de língua portuguesa e ajudálos a tornarem-se mais auto-suficientes. Estamos honrados em colaborar com a CPCU e ansiosos para trabalhar com eles em futuros projectos.” Domingos, ele mesmo um imigrante, percebe o valor e benefício de ser bilingue e diz que “esta parceria representa o nosso grande e contínuo interesse na comunidade de língua 24

Com a entrega das bolsas deste ano ascende a 19 mil dólares o total doado por estas instituições nos últimos quatro anos Diaquino Freitas e Julia Patane com Mariana Gomes (centro) a primeira a estudantes de classificada deste ano das Bolsas “O Navegador/Banco Espírito Santo” origem portuguesa residentes no estado de Nova Iorque. Este ano foram entregues démicas mas também pelo seu envolvimento bolsas de estudo no valor de $6,000 a alunos comunitário, um dos factores de peso na que se destacaram pelas suas qualidades aca- atribuição dos prémios. O primeiro classificado na edição deste ano foi Mariana Gomes, residente em Mount Vernon, que completou o 9º ano do Curso de Língua e Cultura Portuguesa na Escola Infante D. Henrique. Foram ainda atribuídas Bolsas a Diana Figueiredo, Johnatahn dos Reis e Danny Sousa. A cerimónia de entrega decorreu no Portuguese American Club de Mount Vernon durante um jantar onde esteve presente o representantes do Banco Espírito Santo, director do escritório em Bridgeport, Jorge Custódio António Gato, o director do Espírito Santo em Newark, Nova Jérsia, disse que este apoio continuado à Bolsa “O Navegador/Banco Espírito Santo” se insere na “política de proximidaRui Domingos e Paulo Pinto de do banco com as comunidades e faz parte do seu papel social de apoiar iniciativas que visem portuguesa, não só como recurso bancário, o engrandecimento cultural da mesma. mas como um meio de ajudar os nossos memA Escola de Língua Portuguesa Infante D. bros a navegar linguisticamente neste país. Henrique foi fundada em 1974 pela comuniEstamos ansiosos em trabalhar com a MAPS dade portuguesa de Mont Vernon, tem aulas e oferecer aos nossos membros a oportunidade de Português até ao 9º ano e serve as comunide melhorar as suas capacidades linguísticas e dades do condado de Westchester, Estado de ter sucesso no país.” Nova Iorque. Qualquer interessado em aprender ou Segundo o seu director, Judite Fernandes, aperfeiçoar o seu inglês deverá inscrever-se a escola não tem qualquer apoio de Portugal durante este mês de Outubro entrando em con- para o seu funcionamento. tacto com Julia Évora, coordenadora do pro“A nossa escola, como aliás todas as outras grama através do telefone (617) 864-7600. comunitárias nos Estados Unidos, ao contrário A CPCU é uma instituição financeira sem da Europa, vive apenas do apoio dos pais e fins lucrativos servindo há 80 anos a comuni- das comunidades e da dedicação de alguns dade de língua portuguesa com escritórios em professores que teimam em ensinar a língua Somerville e Cambridge, MA. portuguesa às novas gerações”, disse. Oct 2008

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ONDA CURTA

Jornalista Fernando Santos homenageado em Newark, NJ

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Proverbo, a secção literária do Sport Club Português de Newark, New Jersey, continua na sua senda da promoção das nossas letras e da cultura portuguesa de cá e de lá. Recentemente, num dos seus encontros mensais, os “proverbianos” (como lhes chama a nossa querida amiga Glória de Melo) homenagearam o jornalista do Luso-Americano Fernando Santos. O Fernando, que havia já sido distinguido em Portugal com o “Prémio talento 2008” da Secretaria de Estado das Comunidades, aproveitou para falar de um dos seus livros — “Por quem os sinos não dobram” — que relata a visita que fez a uma das tribos índias

Fernando Santos, ao centro, com o grupo da Proverbo

da Amazónia. Por quem os sinos não dobram” que suscitou imensas perguntas de todos os presentes e a que o Fernando respondeu com entusiasmo e desvendando segredos desta tribo de índios brasileiros. Ofereceu um exemplar a Proverbo e à Secção cultural da Casa do Ribatejo, na pessoa da Cila Santos. A homenagem foi feita em forma de “proclamação do Dia do Fernando San-

tos”, com a oferta de uma placa alusiva. O Fernando Santos, recorde-se, tem apoiado, incentivado e “puxado” pela Proverbo desde a primeira hora, sendo um acérrimo defensor da nossa língua e cultura. A proclamação não podia ter sido mais bem entregue. Fernando Santos e chefe de redacção do mais antigo jornal português publcaido fora de Portugal, o Luso-Americano, de Newark, New Jersey.

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HISTÓRIA

PALMA INÁCIO

Revolucionário e aventureiro De entre os resistentes à ditadura salazarista, ele ocupa sem dúvida um lugar de destaque A juventude Durante os quase cinquenta anos de resistência em Portugal ao sistema político catalizado pela chamada Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, muitos foram evidentemente, a vários níveis, os obreiros desse movimento. No campo da acção directa, todavia, um lugar de muito especial relevo foi assinalado por Palma Inácio. Hermínio da Palma Inácio nasceu a 29 de Janeiro de 1922 em Ferragudo, então uma pequena aldeia de pescadores da costa algarvia, filho de um humilde operário ferroviário de escassas letras mas de firmes convicções sindicalistas. Terminado em Silves o curso secundário industrial, alista-se aos dezoito anos na Aeronáutica Militar e é destinado à Base Aérea nº1, na Granja do Marquês, Sintra. Aí completa o curso de mecânico e atinge o posto de sargento. Consegue também o brevet de piloto civil. Durante o serviço militar estabelece relações com alguns oficiais desafectos ao regime salazarista e, curiosamente, também com um nesse tempo fervoroso apoiante do Estado Novo, o Capitão Humberto Delgado. Estava-se no período da Segunda Guerra Mundial e o País ressentia-se da falta de transportes que causava sérios problemas na obtenção de produtos essenciais. Palma Inácio, preocupado com a carência de alimentos na sua aldeia natal, tenta clandestinamente levar alguns a bordo de um Tiger da Aeronáutica Militar. Sofre contudo um acidente no Alentejo e o seu plano é descoberto. Condenado a vinte dias de prisão é em seguida afastado do serviço. Encontra sem embargo colocação na aviação civil e começa a trabalhar no aeroporto de Lisboa como mecânico da linha aérea holandesa KLM.

A primeira operação Palma Inácio envolve-se entretanto em 26

EDUARDO MAYONE DIAS

actividades antigovernamentais e a 10 de Abril de 1947 é um dos participantes na “abrilada”, um plano de golpe de estado pela Junta Militar de Libertação Nacional, dirigido pelo Almirante Mendes Cabeçadas com a colaboração de vários oficiais superiores, entre eles o General Marques Godinho. A insurreição iria iniciar-se na região de Tomar e determinaram-se precauções para neutralizar unidades militares que se pudessem opor ao movimento. Uma destas precauções consistia em imobilizar os recursos da Base Aérea da Granja do Marquês, onde Palma Inácio havia prestado serviço. Bom conhecedor do terreno, encaminha-se pois para aí na companhia de outro mecânico, Gabriel Gomes, e entre os dois cortam os cabos de comando de 28 caças e de um Dakota utilizado pelo Ministro da Guerra, Santos Costa, para as suas deslocações oficiais. A conjura é cancelada à última hora e a polícia lança uma vaga de prisões. Na iminência de ser detido, o jovem revolucionário refugia-se numa casa de Lisboa e depois numa quinta em Odivelas, onde aparenta ser estudante em férias.

A primeira prisão Denunciado por alguém que vira a sua fotografia afixada no posto local da GNR, Palma Inácio é preso e dá entrada no Aljube. Havendo-se recusado a revelar o nome do oficial que o encarregara da missão de sabotagem, sofre a tortura da ”estátua” por doze dias consecutivos, seguidos por cinco meses de incomunicabilidade. A 16 de Maio de 1949 enrola quatro lençóis nas pernas, debaixo das calças e na casa de banho, durante um momento de inatenção dos guardas, usa-os para saltar por uma janela a quinze metros do solo. Derruba quatro guardas que se lhe atravessam no caminho e Oct 2008

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A ETAPA seguinte é o Brasil, onde reencontra Humberto Delgado e se relaciona com outros membros do exílio político, entre eles Henrique Galvão. Foi este quem concebeu a chamada Operação Vagô, que Palma Inácio e cinco companheiros iriam protagonizar. desaparece entre a multidão da Baixa de Lisboa.

Marrocos, Estados Unidos e Brasil Após quatro meses escondido numa casa perto de Alcobaça, um amigo ajuda-o a entrar num navio de carga que partia de Lisboa para Casablanca, onde desembarca. No Marrocos francês obtem o estatuto de exilado político e trabalha por um ano como mecânico de camiões. Emprega-se depois como membro da tripulação de um navio mercante que operava no Norte da Europa. Deste passa para outro, no qual, como empregado de mesa, viaja pelo Extremo Oriente e chega aos Estados Unidos. Fixa-se então na pequena cidade de Northampton, em Massachusetts, dotada de um aeroporto em funcionamento desde 1929, e consegue um emprego como mecânico da aviação, outro brevet de piloto civil e um novo trabalho como instrutor de voo. Assim passam cinco anos até que, em 1955, os serviços de imigração o descobrem como indocumentado e o deportam. A etapa seguinte é o Brasil, onde reencontra Humberto Delgado e se relaciona com outros membros do exílio político, entre eles Henrique Galvão. Foi este quem concebeu a chamada Operação Vagô, que Palma Inácio e cinco companheiros iriam protagonizar.

Um audacioso golpe A Operação Vagô consistiu no desvio de um Super-Constellation da TAP da carreira Casablanca-Lisboa. Pouco antes do seu início, Palma Inácio recebe o aviso de que a operação devia ser abandonada. No entanto, com tudo já em andamento, decide prosseguir. Assim, a 10 de Novembro de 1961, no aeroporto de Casablanca, um “comando” de seis operacionais portugueses, todos exilados políticos no Brasil, embarca no “Mouzinho de Albuquerque”, juntando-se a treze passageiros, dois portugueses e onze de outras nacionalidades. A única mulher entre os assaltantes estava grávida e o seu ventre ainda mais se avulta

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com cinco pistolas que traz presas por uma cinta. Palma Inácio entra com um revólver escondido numa meia. Tudo decorre então de acordo com o plano estabelecido. 45 minutos após a descolagem, Palma Inácio irrompe pela cabina de pilotagem e aponta o seu revólver à cabeça do comandante, exigindolhe que simule uma aterragem em Lisboa, seguida de um voo rasante sobre a capital, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro. Em todos estes pontos seria lançado borda fora um total de 100 000 panfletos impressos em papel de seda que haviam sido introduzidos no aparelho dentro da bagagem de mão dos conspiradores. O texto dos panfletos consistia num manifesto da Frente Antitotalitária dos Portugueses Livres do Estrangeiro denunciando a falsidade das eleições para a Assembleia Nacional que dois dias depois iriam ter lugar e incitando a uma revolta contra o governo salazarista. Procurando dissuadir os assaltantes do seu propósito, o comandante alega que não tem possibilidade de abrir as janelas nem dispõe de combustível para um regresso a Marrocos, como lhe fora ordenado. Absolutamente familiarizado com as circunstâncias, Palma Inácio não se deixa convencer. Pede o registo de voo e depois de verificar que o combustível seria mais do que suficiente para o voo até Tânger, recomenda ao comandante a despressurização das cabinas e a abertura das janelas de emergência para assim se realizar o lançamento dos panfletos. Responsável pela segurança do avião e dos seus tripulantes e passageiros, o comandante vê-se forçado a obedecer. Comunicado o incidente pela rádio, dois caças Sabre levantam voo da base de Monte Real com o fim de interceptar o SuperConstellation e mesmo abatê-lo se não obedecer à intimação de aterrar em solo português mas nunca o conseguem detectar. Com o auxílio do comissário de bordo e das duas hospedeiras, os panfletos vão sendo lançados à medida que se alcançam os objectivos. Já sobre o mar, de regresso a Marrocos, ainda a baixa altitude, são avistados dois navios de guerra portugueses mas o comandante executa uma habilíssima manobra de evasão. A escassos metros das ondas cruza entre as duas unidades, e assim impede-as de usar a sua artilharia pelo risco de se atingirem mutuamente. Entre os passageiros mantinha-se a calma. Na realidade ignoravam o que estava acontecendo. Os companheiros de Palma Inácio evitaram mostrar as armas e o pessoal de bordo tentou criar um ambiente de normalidade servindo bebidas. Foi somento após a chegada a Tânger que os passaOct 2008

A Operação Vagô consistiu no desvio de um Super-Constellation da TAP da carreira Casablanca-Lisboa. Pouco antes do seu início, Palma Inácio recebe o aviso de que a operação devia ser abandonada. No entanto, com tudo já em andamento, decide prosseguir.

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O último e mais espectacular plano de Palma Inácio não chegou a consumar-se. Propunha-se ele ocupar com elementos da LUAR a cidade da Covilhã geiros, ante a exuberância dos assaltantes, reforçada por um brinde com o champanhe de bordo celebrando o êxito da operação, se deram conta do assalto. Palma Inácio remata a operação oferecendo a cada passageira uma rosa e pedindo desculpa pelo inconvenente. A Operação Vagô assinalou-se pela ausência de qualquer acto violento e, mais do que tudo, por um impressionante atentado à quase invulnerabilidade do governo de Salazar. Representou também um episódio verdadeiramente notável pois se tratava, pela primeira vez na história mundial do sequestro, com fins políticos, de um avião de passageiros.

A Operação Mondego O desvio do avião da TAP havia esgotado os fundos dos conspiradores exilados no Brasil, que desejavam prosseguir a sua actuação até ser atingido o objectivo final do desmantelamento do regime ditatorial português. Entretanto Palma Inácio fundara a Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR) e consideravam-se novas estratégias. A opção recaiu sobre um projecto a que se deu o nome de Operação Mondego, a primeira actuação da LUAR. Tratava-se agora de um assalto à agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz. O plano foi meticulosamente estudado e, ao ser posto em prática, Palma Inácio fez-se passar por um arqueólogo brasileiro interessado em estudar as ruínas de Conímbriga. Com o pretenso fim de conseguir fotografias aéreas foi-lhe facultado o uso de um avião. Uma vez assegurado um relativo êxito, a 17 de Maio de 1967, minutos antes das quatro da tarde, hora do encerramento da agência, Palma Inácio e três companheiros entram pelas instalações e em breve saem com três sacos contendo um pouco mais de 29 000 contos, quantia muito apreciável para a época, a caminho da fronteira espanhola. Fora um rude abalo ao prestígio do Estado, mas na realidade não muito rentável para a LUAR. Das notas roubadas, 12 000 de 500$00, não haviam ainda sido postas em circulação, o que não as tornava susceptíveis de reembolso ou troca. Também parte do produto do assalto eram 18 500 notas de mil escudos, prontamente retiradas de circulação. De qualquer modo, informadores da PIDE infiltrados na LUAR levaram a que 11 000 contos fossem recuperados numa quinta dos arredores de Paris, assim como idêntica quantia escondida numa mina de água perto de Guimarães. Com os fundos ainda passíveis de serem utilizados adquiriram-se armas na Checoslováquia, então enviadas a depósitos na Bélgica, França e Portugal. O Governo Português solicitou a várias autoridades estrangeiras a extradição dos quatro culpados, o que foi sempre recusado por o assalto haver sido considerado um acto político.

Uma operação fracassada O último e mais espectacular plano de Palma Inácio não chegou a consumar-se. Propunha-se ele ocupar com elementos da LUAR a cidade da Covilhã, cujos acessos, incluindo estradas e pontes, seriam cortados com explosivos. A população seria evacuada e a PSP e a 28

GNR desarmadas. Após alguns dias, os ocupantes retirar-se-iam para o estrangeiro. Cerca de cinquenta membros da LUAR entram em Portugal por Moncorvo, em carros carregados de armas e explosivos. A operação todavia fracassa quando um agente da PSP desconfia que um Mercedes conduzido e ocupado por jovens tivesse sido roubado. Palma Inácio reage com um tiro para o ar, é dado o alarme e todos são detidos.

Nova prisão e fuga Palma Inácio, na cadeia da PIDE do Porto, começa a planear nova fuga. Consegue que uma irmã lhe envie umas lâminas escondidas num album e pacientemente vai serrando as grades da cela. Nove meses depois da sua prisão, numa noite de forte temporal, empurra as grades, cai sobre um alpendre, salta um muro e na rua passa em frente de um guarda abrigado numa guarita que o toma por um transeunte fugindo à chuva. Na primeira esquina corre até ao tabuleiro superior da ponte D. Luís I, por onde os comboios passavam a reduzida velocidade. Suspende-se de um vagão de carga, chega a Lisboa e semanas depois cruza a fronteira. A PIDE transmite a sua fotografia pela televisão, oferece uma recompensa por informações que levem à sua recaptura mas tudo sem resultado. É no entanto detido em Madrid e enviado para a prisão de Carabanchel. Um pedido de extradição não é deferido pelo Governo Espanhol. Expulso do país, fixa-se na capital francesa.

A última prisão Em 1973 entra de novo em Portugal, com outro grandioso projecto, o de sequestrar alguma alta personalidade do regime, que seria trocada por presos políticos. Uma quebra das regras de segurança da LUAR leva a polícia a procurar um suspeito numa tasquinha das Avenidas Novas. A surpresa foi que esse suspeito, disfarçado com uma peruca, era Palma Inácio. Violentamente espancado ainda na rua, antes mesmo de chegar à sede da DGS e durante a noite, entra num estado de pré-coma. O sistema político português estava no entanto perto do seu fim. A 26 de Abril de 1974 começam a ser libertados os presos do Forte de Caxias. Palma Inácio é o último a sair, posto que alguns oficiais resistiam à ideia da sua libertação por considerarem que o assalto ao banco da Figueira da Foz havia sido um crime comum.

O anticlimático fim de uma fulgurante carreira O mais famoso revolucionário do tempo torna-se então militante do Partido Socialista. Mário Soares propõe para ele em 1994 a concessão da Ordem da Liberdade mas a proposta não é aceite pelo Conselho das Ordens. Só seis anos mais tarde, durante o mandato de Jorge Sampaio, é que recebe pela mão de Manuel Alegre as insígnias dessa condecoração. Dada a sua idade, ingressa num Lar fundado por ex-alunos da Casa Pia de Lisboa, onde mal subsiste com uma modesta pensão de reforma, tendo-se, por razões de consciência, abstido de solicitar reingresso nas Forças Armadas com o posto que através dos anos lhe haveria correspondido, como a lei autorizava. Era o singelo desenlace da aventurosa carreira do homem mais temido pela Ditadura, incessantemente empenhado numa luta pela liberdade sem jamais haver recorrido à violência física.

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Memórias do Funchal – o Bilhete-Postal Ilustrado até à Primeira Metade do Século XX

Uma nostálgica viagem à cidade antiga por Duarte Barcelos (investigador da ilha da Madeira)

No ano que ora decorre o Funchal está a comemorar os 500 anos da sua elevação a cidade. De modo a assinalar dignamente esta efeméride a Empresa Municipal Funchal 500 Anos fez uma aposta forte na edição de livros que, no seu conjunto, no presente e no futuro, constituir-se-ão como incontornáveis obras de referência. A obra Memórias do Funchal – O Bilhete-Postal Ilustrado até à Primeira Metade do Século XX, de José Manuel Melim Mendes, foi editado pelo Funchal 500 Anos, e teve o seu lançamento no pretérito dia 17 de Dezembro de 2007, no Hotel Porto Mare, localizado na zona velha da cidade, a dois passos da sede da entidade que patrocionou a sua publicação. Tratase de um magnífico livro de capa dura, em edição bilingue (português e inglês), contendo 411 páginas e medindo 23 x 31 cm, e que apresenta 413 postais antigos da cidade do Funchal, publicados no tamanho original, e organizados por ordem temática. Na nossa cidade existem inúmeros coleccionadores de postais antigos, que fazem da procura de raridades um verdadeiro hobby. O autor deste livro, homem multifacetado ligado a vários organismos, é um deles. Com esta edição decidiu partilhar com o público os postais mais importantes da sua magnífica colecção. O despontar do interesse por esta área é-nos explicado por José Mendes no Preâmbulo: «O hábito ComunidadesUSA

de coleccionar bilhetes-postais ilustrados, designadamente da Madeira e do Porto Santo e de navios mercantes, principiou, ainda, nos meus tempos de menino. Os primeiros, porque o meu pai, funcionário da Delegação de Turismo da Madeira, me incutiu o gosto de preservar os postais sobre a Madeira e o Porto Santo, editados pela Delegação de Turismo, ateliês fotográficos e casas comerciais. De navios mercantes, porque devido à excelente vista do quintal da casa de meus pais sobre a baía, no sítio muito apropriadamente designado por Lombo da Boa Vista, a contemplação e os sonhos que a chegada e partida dos navios provocavam me impulsionaram a juntar postais de navios que algumas vezes visitava. E, depois, porque, na Escola de São Filipe e no Liceu Jaime Moniz dessas décadas longínquas, coleccionar e trocar postais de navios era, para muitos de nós, as playstations ou os passatempos televisivos da época.» A abrir o livro deparamo-nos com três magníficos postais panorâmicos da cidade do Funchal, seguidos de um fabuloso mapa antigo da mesma, que remonta ao dealbar do século XX. No capítulo “Os Primeiros Postais ilustrados do Funchal” encontramos 19 ilustrações que nos apresentam alguns belos cantos e recantos da nossa cidade romântica, cada uma delas acompanhada por legendas bilingues, narrando alguns aspectos técnicos das mesmas. Por entre outras coisas encontramos imagens dos carros de bois, das “redes” como meio de trans-

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Se uma imagem vale por mil palavras, 413, tantas quantas as reproduzidas neste livro, valerão muito mais. porte, do “comboio do Monte”, dos famosos carrinhos de cesto, ou ainda vistas da baía funchalense ou de alguns hotéis. No capítulo “Funchal: a Baía e o Porto. Porta de Entrada e Saída” deparamo-nos com uma magnífica colecção de 51 postais de temática marítima, mostrando sobretudo o movimento de embarcações na nossa baía, numa época muito anterior à construção da “muralha”. De facto, estes postais remontam ao tempo em que a maioria dos emigrantes madeirenses rumou aos Estados Unidos ou ao Brasil, em que o embarque nos “vapores” se fazia de lancha desde o cais da Pontinha. E na maioria destas ilustrações antigas contam-se, por vezes às dezenas, o número de barcos ancorados ao largo do Funchal, sinónimo da importância que outrora teve o nosso porto marítimo. Na secção “Deambulando pelas Principais Referências citadinas” estão patentes 78 belos postais que nos apresentam um variado leque de imagens sobre as principais ruas e edifícios do Funchal antigo, desde o cais da cidade, o Palácio de São Lourenço, o Pilar de Bânger, a Sé Catedral, o Teatro Municipal, a Rua do Aljube com o seu pujante comércio, algumas ribeiras do Funchal ou a Fortaleza do Pico. No capítulo referente às “Actividades e Profissões”, 51 belíssimas ilustrações mostram-nos algumas profissões de outrora, sendo que algumas que algumas já deixaram de existir nos nossos dias. Começando pelos bomboteiros, que nas suas lanchas vendiam os produtos da Madeira aos turistas a bordo dos barcos, e passando pelos intrépidos rapazes da mergulhança, pelos pescadores, pelos agricultores (mostrando imagens da apanha e transporte da cana-de-açúcar, e do fazer do vinho nos típicos lagares e transporte do mosto em “borrachos”, pelas bordadeiras ou lavadeiras, pelos leiteiros ou pelos homens das cestas, pelas vendedeiras de flores, pelos vendedores nos mercados antigos, pelos boeiros, “candeeiros” e carreiros do Monte, a nossa vista espraia-se e delicia-se com a contemplação destas imagens. 30

Na secção referente ao “Turismo” encontramos 39 magníficas ilustrações, muitas delas referentes aos antigos hotéis madeirenses, com grande destaque para o Reid’s, que ainda hoje em dia existe, e para os vários anexos que chegou a possuir. Segue-se um dos capítulos mais interessantes deste livro, sem desprimor para os outros, intitulado “A Visão de alguns Artistas”, em que nos são apresentadas 52 belíssimas pinturas feitas por artistas estrangeiros na Madeira, com destaque para as produzidas por Ella du Cane, Max Römer ou Paolo Kutscha. Muitas destes postais são cópias de aguarelas destes pintores, que nos dão uma visão romântica do Funchal, das suas flores, das suas gentes, e dos seus costumes. Os postais respeitantes à publicidade não foram esquecidos pelo autor deste livro, e num capítulo com o mesmo nome são apresentadas 55 exemplares distintos, que vão desde a que era feita aos diferentes hotéis, aos editados pelas antigas companhias de navegação marítima com imagens do Funchal, e do qual destacamos um de um “vapor” da Cunard Line (que chegou a transportar emigrantes madeirenses para a América) com a cidade do Funchal como pano de fundo, aos contendo imagens dos antigos hidroaviões que faziam viagens para a Madeira, aos postais editados pelas empresas de exportação de vinho, aos curiosos postais sobre a banana da ilha, aos postais de casas comerciais, com destaque para as que lidavam com a venda e exportação de bordados. No último capítulo deste livro, intitulado “Eventos Marcantes e Sociedade”, encontramos uma série de 65 postais, contendo reproduções fotográficas, de algumas imporOct 2008

tantes efemérides da história madeirense na primeira metade do século XX. Assim sendo, o primeiro grande evento que merece largo destaque foi a visita real dos reis D. Carlos e D. Amélia, em 1901, a chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral à Madeira em 1921, imagens alusivas às comemorações do 5.º centenário da Madeira, assinalado em 1922, imagens dos estragos causados pelo grande temporal de 1926, curiosas imagens de um Zeppelin sobrevoando o Funchal, um conjunto de imagens retratando alguns aspectos da Revolta da Madeira, em 1931, as visitas de alguns presidentes da República à nossa ilha, entre outras, terminando com interessantes imagens sobre a visita da Imagem de Nossa Senhora de Fátima à Madeira, em 1948. Se uma imagem vale por mil palavras, 413, tantas quantas as reproduzidas neste livro, valerão muito mais. Ao longo das suas inúmeras imagens o nosso olhar percorre, embevecido, curiosíssimos aspectos do Funchal de outrora. Trata-se simplesmente de um livro fabuloso, que tem uma apresentação cuidada, e que merece figurar na estante de cada madeirense. Esta obra é ainda aconselhável a todos os nostálgicos que se recordam do Funchal antigo, ou até muito especialmente aos nossos emigrantes, que ainda o retêm na retina. Esta obra, cuja compra recomendamos vivamente, encontra-se à venda por 60 Euros e poderá ser adquirida através do site www. funchal500anos.com na opção Loja Virtual, na página inicial, ou através do seguinte endereço postal: Funchal 500 Anos, Rua de Santa Maria, n.º 170, 9060-291 Funchal, Madeira – Portugal. ComunidadesUSA


DA AMÉRICA E DAS COMUNIDADES

Do fim do voto por correspondência à nova América socialista... Passando pela visita turística do secretário de Estado das Comunidades à Califórnia

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unca perdi muito tempo com os movimentos que insistem em que votemos na terra de origem. Apesar de achar um direito para quem detém a dupla nacionalidade, penso que como comunidade devemo-nos preocupar com a nossa presença no mundo político norteamericano, o mundo onde vivemos e onde vivem as nossas famílias. Mas, votar, e participar activamente na vida política dos EUA, não significa que não temos o direito de votar e de participar, também activamente, na vida política em Portugal, aliás, a Constituição portuguesa permite-o. Daí que a última medida governativa em Portugal, que tem por objectivo restringir o voto do emigrante é, verdadeiramente, vergonhosa. Para quem não sabe, permitem-me uma breve sinopse. Acontece que os cidadãos portugueses que vivam no estrangeiro podem, como sabemos, votar para a Assembleia da República e para o Presidente da República. Para a Assembleia da República os emigrantes que ainda têm a cidadania portuguesa podem votar por correspondência. Para o Presidente da Republica o voto é presencial, em mesas de voto que normalmente funcionam nos Consulados. A última modificação, vinda do sempre à direita primeiro-ministro José Sócrates, é que se cesse o direito ao voto por correspondência para a Assembleia da República. Poder-se-á dizer que no caso do estado da Califórnia (onde vivo há quase 40 anos) esta é uma questão meramente académica. É que são meia dúzia de pessoas que votam nestes actos eleitorais. Porém, a proposta apresentada pelo Partido Socialista é contrária a qualquer princípio democrático. Aliás, o governo do Engenheiro José Sócrates há muito que vendeu a alma ao diabo. É um dos aspectos que mais intriga o PSD. Este PS está mais à direita que o Partido Social Democrata. Sabe-se que o PS não tem tido bons resultados nos círculos da emigração, por vezes até por ser incompreendido. Porém, nunca será a colocar entraves aos votos dos cidadãos que vai ser compreendido. Há quem afirme que esta proposta do PS, tem como primordial objectivo, aumentar o número de votos pela emigração, cortando nos votos do PSD. Tudo leva a crer que estas más línguas têm razão. Isso é muito mau. Nunca a esquerda democrática trabalha para reduzir a participação eleitoral, nunca. A esquerda que se vive em Portugal é, seguramente, uma esquerda doentia. É ComunidadesUSA

por DINIZ BORGES

fantoche. Tal como escreveu há anos Manuel Alegre: “…a esquerda a que pertenço ainda não é/não a busquem no alfa nem no ómega/ela mora no como e no porquê/contra a mentira e as trevas do dogma… a esquerda a que pertenço é outra vida/não se enreda nos limos, não se entrega…a esquerda a que pertenço não se compra/tem poemas que podem ser guerrilhas/e onde outros capitulam ela está contra.” Quem acredita numa democracia baseada em princípios de esquerda tão sagrados como o do direito ao voto e desse direito ser facilitado a todos os cidadãos, está de luto. Se em outros tempos se disse que Mário Soares “engavetou” alguns princípios da esquerda em Portugal, então poder-se-á dizer que o PS de José Sócrates enterrou-os bem enterrados. É mesmo não ter vergonha!

A visita turística de António Braga... E já que se falou em vergonha, quem não tem vergonha nenhuma é o Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. O Senhor António Braga esteve na Califórnia, durante alguns dias. Veio passear. Literalmente! Num momento em que deveria estar em Lisboa, tentando convencer este seu PS que limitar os votos dos emigrantes é algo antidemocrático, decidiu dar um salto à Califórnia. É muito mais conveniente estar a visitar um estado (não as comunidades, porque não houve verdadeiros encontros com as forças vivas da comunidade—aliás houve um encontro em S. José da Califórnia com 3 pessoas), almoçando aqui, jantando ali, fazendo um discurso aqui e outro ali (sempre em lugares muito restritos) do que estar em Lisboa lutando pelos direitos dos emigrantes. Mas isto já se esperava. Este é, seguramente, o pior Secretário de Estado das Comunidades que temos tido. E olhem meus amigos, que salvo raras excepções, não temos tido muita sorte com Secretários de Estado das Comunidades. Porém este é demais! É que se fosse um defensor das comunidades, e pelo direito destas votarem, não só ficava em Lisboa, como se não conseguisse mudar o seu partido, demitia-se. Já vi políticos demitiremse por menos. Que falta de pudor! Depois, onde estão os nossos “lideres” comunitários? Se calhar num “cocktail” com o Senhor Secretário de Estado? Oxalá que não! Acho que teriam mais vergonha, ou talvez não?! É que num momento em que os direitos dos emigrantes são cada vez mais arrumados, há que chamar as pessoas à responsabilidade. Quem está em posição de liderança nas nossas comunidades tem o dever, diria mesmo a obrigação, de tomar uma posição forte contra Oct 2008

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mais esta discriminação. Até mesmo a nossa comunicação social, que infelizmente de jornalismo tem muito pouco, também deveria ter uma palavra nesta matéria. Já o disse milhares de vezes, nada mudará no relacionamento entre Portugal e as nossas comunidades, enquanto os líderes não quiserem tomar uma posição. Um dos nossos grandes males continua a ser a duplicidade. Criticamos a classe política em Portugal enquanto eles lá estão, mas quando chegam cá, ficamos babados com um convite para tomarmos um copito e tirarmos uma foto de circunstância. Bendita presunção e água benta!

Seabra’s Marisqueira

América socialista? Na América agora somos todos socialistas. Isto para pegar numa frase recentemente escrita por um colunista do New York Times sobre a recente onda de nacionalizações. É verdade! Quem o diria? Um governo da direita, um dos mais direitistas que temos tido, um governo que sempre enalteceu o selvático mercado livre, sem o mínimo de restrições, acaba de nacionalizar algumas das mais importantes companhias financeiras do país. Como sabem três monstruosas companhias do mundo da alta finança foram “compradas” pelo governo americano, o mesmo governo que acaba de pedir ao Congresso autorização gastar mais um trilião de dólares num plano para “tentar” salvar o mítico mercado livre. Um trilião de dólares para preservar os barões do Wall Street. A isto chama-se “welfare” para os super ricos. É que este plano de salvação nacional custará a cada pessoa nos Estados Unidos cerca de 2300 dólares. E sem qualquer garantia que funcionará. Para além de conter pouco, muito pouco mesmo, no que concerne a benefícios para o cidadão comum. Mais, não nos esqueçamos: quem está a pedir os fundos para salvar a economia é o mesmo governo que a afundou. Ninguém é assim tão ingénuo que pense que nada deveria ser feito. É geralmente sabido que é necessária uma intervenção governamental. Porém não deixa de ser curioso que são os proponentes dum governo que diz favorecer uma desligação total entre o mundo empresarial e governativo que se torna no maior intervencionista na história recente dos EUA. É bom que se diga ainda que estamos apenas na ponta do iceberg, e que entre tudo o que se passou nos últimos dias e continuará a passar, algo não deixa de ser interessante, ou seja: a era dos conversadores, inaugurada por Ronald Reagan em 1980 está a chegar ao fim. Foi o antigo actor de cinema, tornado governador e depois presidente que levou ao país a mensagem, e mais tarde as políticas, que aboliram com inúmeros regulamentos com que o capitalismo tinha que conviver. Para Reagan, e os seus acólitos, tais como Bush I e Bush II, e até mesmo Bill Clinton depois de perder a maioria Democrata no Congresso, o governo não era parte da solução mas sim parte do problema. Esta filosofia deu lugar a uma amalgama de leis que liberalizaram todos os sectores da economia. Hoje, esse mesmo grupo desfaz esse princípio. Hoje, o governo tem que forçosamente ser parte da solução porque se não for, o capitalismo morre. É o socialismo para os ricos, através das nacionalizações que está a salvaguardar o capitalismo. Que engraçado! Daí que quando nas campanhas políticas ouvirem um Republicano a discursar sobre as virtudes dum mercado livre completamente liberalizado façam uma destas duas: corram com ele/a do poder ou votem por ele/a e preparem-se para esvaziar os bolsos. 32

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DIA-CRÓNICA

ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA

Made in Portugal

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ma entrevista com Peggy Whitson, primeira mulher a comandar a Estação Especial Internacional (ISS), despoletou-me da memória o recente convívio aqui na Brown em casa de Ruth Simmons (que também vê com frequência atrelado ao seu nome o designativo de “primeira mulher negra reitora de uma universidade Ivy League”). Era festa para celebrar os doutorandos honoris causa deste ano. A simplicidade digna, mai-lo desconcertante à-vontade desses encontros, não deixam nunca de me impressionar, a mim nado e criado no formalismo cinzentão lusitano, recuperado depois do 25 de Abril em novos moldes, é certo, mas ressuscitado para durar. No laudatório dos honorandos por um membro da Universidade, e nos agradecimentos daqueles, sempre o humor put down e self-deprecating. Tudo em tom chão, como na referência ao trabalho de Shih Choon Fong, pioneiro em Engenharia Fractal - “o que quer que isso seja”, o apresentador a acrescentar, e depois o Honoris Causa, hoje Reitor da National University of Singapura, a explicar que em criança ficava muito triste quando se lhe quebravam os brinquedos e, por isso, passou quinze anos na Brown a investigar o problema. Ou Robert Redford, laureado pelo seu papel de defesa do ambiente, ao chegar-lhe a vez de agradecer, admitindo não saber falar em público porque todas as frases dos filmes que o lançaram nos olhos do mundo foram escritas por outros. Chegou a vez da geofísica planetária Maria Zuber, antiga aluna da Brown, hoje investigadora no MIT e responsável por um projecto que faria aterrar uma nave em Marte no dia seguinte. Falou das lutas íntimas por que uma mulher passa quando tem filhos pequenos e quer ao mesmo tempo manter uma carreira científica a exigir entrega incondicional. Que um dia, atormentada, à mesa com os filhos lhes pôs a questão: ficar mais tempo em casa ou continuar a dedicar-se à carreira científica. O mais novo saltou logo: Tás louca! Na minha escola eu sou o único com uma mãe que dispara raios laser para o espaço! ComunidadesUSA

Esta crónica ia prosseguir no tema da mulher na ciência, mas também pode legitimamente enveredar por outro rumo, como o de continuar com histórias de doutoramentos honoris causa de que me recordo. Há muitos anos foi a vez de Mário Soares. O único português até agora, se não incluirmos o luso-descendente Craig Mello, Nobel de Medicina no ano passado e ex-aluno. A universidade quis reconhecer o papel de Mário Soares na consolidação do processo democrático em Portugal. No mesmo ano, Stevie Wonder ganhou um honoris causa em Música. No colorido e alegre cortejo College Street abaixo, Stevie Wonder e o nosso ex-Presidente, ambos com a beca da Brown, barrete e tudo, caminharam de braço dado, o cantor cego completamente entregue à confiante firmeza de Soares. No outro dia, o Providence Journal trazia, em parangonas e na primeira página, uma fotografia dos dois. Eu estava de saída para Lisboa dali a pouco e fui à redacção do jornal indagar se me cediam uma cópia. (Eram tempos arcaicos, pré-internéticos, quando tudo tinha de ser em papel e por mão própria ou correio postal). Sim, senhor, com muito gosto, autorização plena para reproduzir a dita. Levei-a para Lisboa e fui oferecê-la a amigos no Diário de Notícias, onde eu era então colaborador regular, levado pela mão do Mário Bettencourt Resendes (coincidência que, como é óbvio e o leitor acredita piamente, nada tinha a ver com o facto de sermos patrícios da mesma ilha dos Açores). Dias depois, saía em destaque na última página, creio que com honras de “foto da semana”. E não demorou muito para eu receber em retorno uma boca, que rodou célere entre a má-língua portuguesa - a legenda a incluir pelo jornal devia ter sido simplesmente: “Um cego a guiar outro cego”. Injusta, muito injusta mesmo. Mas – convenhamos - uma boa e bem portuguesa piada, autêntica, made in Portugal, na melhor tradição do nosso escárnio e mal-dizer, em que somos mestres com o calo de oitocentos anos de experiência. Pena não haver comprador para essa nossa produção.

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January 2007

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AN AZOREAN IN THE MIDWEST

The tuna sandwich MANUEL L. PONTE

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he most noticeable deficiency in the world's richest country is the lack of charcoal-broiled sardines, served with fresh lemon, slightly hard bread, and a cheap white wine. We won't even require hot pepper sauce, although that condiment would help highlight how much we natives of St. Michael's Island, Azores, sacrificed when we came to America - a country where until a few years ago fish was considered Catholic penance. Furthermore, when an Azorean such as I marries a Bostonian of Irish background, the poor chap "suffers". Granted that the wife may be beautiful, kind, gentle, and God-fearing, but Heaven forgive her for the fish she serves. Even after more than fifty years of marriage, Katherine has yet to serve any kind of charcoalbroiled sardines, which is understandable since we live more than fourteen hundred miles from the Atlantic. In the meantime, I live dreading when my wife opens a tuna fish can. Here's why: In 1955 and '56, I worked for a Boston insurance agency, having chosen that occupation when a college friend told me that one of the best ways to earn money in America was to become an insurance agent. "Americans protect their wealth by impoverishing themselves while paying the insurance premiums that protect their wealth," my friend claimed. Naturally, after having lived so many years broke, it was only natural that I try to better my status in the easiest possible manner. Work, I felt, is for donkeys. That's why God gave them four legs. At least that's what we used to say back on the island. The truth is that I never felt right as an insurance agent. The work was boring and aggravating, and what it did for me was to measure me for my numbers, rather than my mind. I remember, for example, that in the agency where I worked, the ideal symbol of success was to imitate, or outdo, a certain Yale Goldman, who, although still young, sold a lot ComunidadesUSA

of policies, while suffering from an extremely nervous stomach. Life was a constant pressure cooker where the equivalent of well done reduced itself to the top dollar. One day, after having made the "President's Club", I abandoned the job, never to return. I still remember how the General Agent, Henry Faser, looked at me and pointed out in a rather critical manner: "You're abandoning a career that could assure great financial security for you and your family. Insurance has made America great." As Henry talked I thought of my father, a simple carpenter, who, with a saw, some boards, a hammer, etc., could build a cabin, or a house. I also thought of my mother, a simple seamstress, who with a needle, thread, buttons, and cloth could make me a shirt, or even a pair of drawers. But I, what could I make? I could only take money from people and, playing with cards that favored the insurers, pretended that I was doing it for the insured's benefit and not for the insurer's profit and my commission. If Henry's great America existed, I felt, it was because certain people got up in the morning and, with plow, or any other tool at hand, made the land produce, or a house rise, etc. Granted that the insurance agent would be needed eventually in the scheme of things. In the meantime, it was my feeling that I still personally needed a bit more from life and that, if money were to be my only objective, I was living without very high aims. I can not, however, claim that my life as an insurance agent did not prepare me for the future. If I had not lived it, I would not have ever met Dick Casey and grown to recognize what it is to be Boston Irish. My life would have been relegated to having married a beautiful woman and lived with her without knowing why she did not know how to prepare a tuna salad. Yes. A tuna salad. Dick Casey and I stopped one afternoon at my parents' in Cambridge. It was around lunch time, and my mother insisted that we sit down and eat. We were a most informal family, and Dick was only asked to eat the same we would eat - something simple: Boiled potatoes, fresh kale from our garden, and tuna fish covered gently with olive oil and wine vinegar. Not the Oct 2008

greatest, or the fanciest, cuisine. Dick did not comment as he ate the potatoes and the kale, although he claimed he had never eaten them boiled in our style. On the other hand, as he ate the tuna, which minutes earlier had been in a twelve-ounce can from the Stop & Shop, he would look at my mother, and with a smile where one could practically see the map of Ireland on his Irish-American face, thank her, and thank her, and thank her... Profusely. My mother, who had never been noted for her cooking, would, in turn, look at me and, in her St. Michael's dialect, ask me: "Dank you, dank you, p'ra quĂŞ?" English translation: "Thank, thank you, for what?"). After a while she would inform me for the possibly tenth time that her tuna had come from a can. "If he could only taste freshly salted tuna the way I used to prepare it back home. Or charcoal broiled sardines... Here in America, though, we don't have the time for those things." And, while she spoke to me in Portuguese, Dick would continue his "Thank you, Mrs. Ponte." It has been more than fifty years. My mother died abput ten years ago - but not before we reminisced and brought up the tuna fish incident. "If only he knew how good my sardines were," she assured me nostalgically. She had forgotten his name, referring to him as my old friend "Dank you." Two years after Dick had lunch at my parents', Katherine Gerada Mulvey and I married. By that time, I had already stopped selling insurance. Dick Casey, however, had not faded from my memory. In fact, it wasn't long after I married that I discovered the reason for his ecstasy. One Saturday Katherine prepared sandwiches for us to take to Jones Beach. We lived on Long Island, New York, at the time. Katherine, somehow, has always liked chicken, something that I can do without, regardless of what nutritionists say. It has always been my belief that if any animal has feathers, he, or she, was born to fly, sing - or lay eggs, which I love to eat regardless of how they're prepared. Marriage, however, makes demands on most people. That is to say, there have been many Sundays 35


Luso-descendente lembrado e homenageado no Uruguai Foi filósofo, escritor e académico, responsável pela introdução dos valores liberais e do plurarismo político e dos conceitos do pragmatismo filosófico na América do Sul Eduardo Lobão, da Agência Lusa

O

luso-descendente Carlos Vaz Ferreira é o homenageado nas celebrações do Dia do Património no Uruguai, com as principais actividades centradas em Colonia del Sacramento, cidade fundada por Portugal no século XVII. Filho e neto de portugueses, o filósofo Carlos Vaz Ferreira nasceu em Montevideu a 15 de Outubro de 1872, e no passado dia 03 de Janeiro completaram-se 50 anos sobre a sua morte, facto que levou as autoridades uruguaias a escolherem-no para o homenaPortas da cidade Colónia do Sacramento, fundada pelo gear e recordar a sua obra nas celebrações português Manuel Lobo em 1680 no Rio da Prata que ao longo do fim-de-semana se estendem em todo o Uruguai. aos museus e animação de rua, o Dia do A escolha de Colonia del Sacramento Património Nacional, que vai na 14ª edição, para acolher as principais actividades, deveintegrou este ano a novidade de colocar em se ao legado histórico deixado por Portugal cada uma das casas do "barrio histórico" e ainda à sua inclusão no grupo pendões com os nomes de cada das 22 maravilhas de origem uma das famílias que nelas portuguesa no mundo e que são viveu. Património da Humanidade, dis"Trata-se de garantir que se à Agência Lusa o intendente o Património Imaterial deste (governador do Departamento local património da Humanide Colonia) Walter Zimmer. dade continue e não cai não A escolha das Sete Maraviesquecimento", salientou Walter lhas de Origem Portuguesa no Zimmer à Lusa. Mundo começará a ser votada Colonia del Sacramento foi a partir do próximo dia 07 de Carlos Vaz Ferreira fundada pelo português Manuel Dezembro, e os resultados serão Lobo em 1680, no Rio da Prata, revelados numa cerimónia a e tinha a função estratégica de realizar em 10 de Junho de 2009. defesa contra o império espanhol, tendo por A cidade foi classificada Património essa razão sido palco de disputas ao longo de Mundial da Humanidade pela UNESCO um século, que a deixavam ora sob controlo em 1995, e os museus do Período Histórico português ou castelhano. Português e da Casa Nacarello ilustram os A arquitectura urbana foi considerapontos patrimoniais de referência do chama- da pela UNESCO como um dos melhores do "barrio histórico". exemplos da união dos estilos português, "Temos muito orgulho no legado históespanhol e pós-colonial, e entre os monurico de Portugal e como Carlos Vaz Ferreira mentos e locais de referência contam-se a é descendente de portugueses faz todo o Basílica do Santíssimo Sacramento, a Capela sentido o destaque dado a Colonia", disse de S. Benito de Palermo, a Praça 25 de Maio, Walter Zimmer. também chamada Praça das Armas, o Museu Além das conferências, visitas guiadas Português e a Casa Nacarelo. 36

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The tuna sandwich (conclusion from last page)

in almost fifty years when I have had to put up with chicken, when I would have been a lot happier with a simple piece of bread and cheese, after having thrown the chicken dinner to the farthest reaches of the garden. Since at the time of the sandwiches I already knew about Katherine's taste for chicken, however, it was only natural, therefore, that I eat the sandwich at our beach picnic without thinking of what it contained. Besides knowing it would contain chicken, I also knew that, in true American style, it would have considerable mayonnaise, as well as various food stretchers that nutritionists suggest add value to a meal while reducing the cost of its main ingredient. As a good husband, I did not hesitate to compliment Katherine on how well she had mixed all the ingredients - celery, green pepper, and, of course, chicken. "What chicken?" Katherine asked. "The chicken in the sandwich. Buried in the mayonnaise," I replied. "Chicken? It wasn't chicken. It was tuna." I suddenly started to laugh. In front of me suddenly surged the figure of Dick Casey, looking at my mother and saying: "Thank you, Mrs. Ponte." The poor chap, raised in Depression-time Boston had never eaten pure tuna in his life. Or, if perchance he had, someone had given it to him mixed with carrots, celery, mayonnaise, etc. so that it would "stretch" and make the tuna can go a long way. Fortunately for him, my mother had never read a magazine in her life dealing with nutrition, or with how a woman could come up with better and more economical tuna meals. To her, tuna was tuna, and should be eaten as such - with perhaps boiled potatoes, kale, cabbage, and possibly a boiled onion - all covered slightly with wine vinegar and olive oil and, when not being served to guests, hot sauce, or a hot finger pepper. Tuna should be tuna - and nothing else. Period. "Thank you, Mrs. Ponte. Thank you," said Dick Casey as he faded into my memory in the beach's sunshine. And to Katherine. Well, what can I say after over fifty years? "Thank you, too, Mrs. Ponte. It's been fun. Even without the sardines." ComunidadesUSA


The Mistery of Language Language is tied not only into thought and speech but also emotions and feelings ANTÓNIO ANTÓ ANT ÓNIO S ÓNIO SIMÕES IMÕES IMÕ ÕES

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n a recent article I discussed what it is to be bilingual and some of the theoretical models. Language learning, be it in the first or second language, is a very complex process. We can use the field of neurology, socio-linguistics, psychology, anthropology and so one to give us a glimpse of this fascinating and mysterious phenomenon. Years ago while looking out of my apartment window on Bleeker Street in New York City, I reflected on what language is. As I deepened in abstraction, the more I became confused. I realized that language was tied not only into thought and speech but also emotions and feelings. I also realized that symbols, which are language representations, are different in each culture. For example, the color white in many western countries represents purity and “goodness.” Yet, in some of the Asian cultures it represents death and mourning. I also compared some of my own language(s), English and Portuguese. I know that I could not explain to a Portuguese what it means to be a Red Sox fan and a Yankee hater (or vice versa). Similarly, I could not explain to my American counterparts was it is to be a Benfica fan and a Sporting hater (again or vice versa). With this realization I wrote the following poem. It is in both English and Portuguese I hope you enjoy it.

On Langauge Metaphoric consciousness that shapes one's soul to the earth and fosters a love in one's mind for everlasting truth. Little is known about why and when this awareness is created, and for what reason and the like. It defines love and hate at the same time, but still hinders us in dealing with many facets of what is and what is not. Many words we gather, possess, and use ComunidadesUSA

in our lifetime, though we do not understand the deep meaning of what we say. Beauty can be created with great emotions that touch our very essence; the beauty penetrates many realities but hides its own function. There are many tongues on this earth, and possibly in the uni¬verse itself, saying the same things. Still, we believe that the same words are saying different things. Visual creations are formed and shaped that make us see the world in many complex ways, and at the same time attempt to simplify what is and what could be. Body movements and body distances are done and then analyzed in other languages, believing that our own way of thinking is immune to subjectivi¬ty. A Chomsky, a Whorf, and others will use language to explain it, thinking that objectivity has been accom¬plished. The poet will smile and continue on in the exploration. Governments create rules for what is and hire a few to preserve the correct way, and the rewards are distributed in terms of knowledge and value. People who do not have the cultural capital are put aside as differ¬ent or deficient. Computer chips now create new ways of defining the old, artifi¬cial voices explain new forms of the same thing. Two plus two is no longer four, and four plus four is no longer eight, but both explain thirty three. Forms are shaped and changed from one moment to another, a media event can create new thoughts from the forms of the past, a past that makes the present and the future all in one. Language, I still do not know what it is.

Da Linguagem Percepção metafórica que molda a alma Oct 2008

à terra e alimenta no pensamento um amor à verdade eterna. Pouco se sabe do porque — e do quando se torna consciente e porque razão e o resto. Define ao mesmo tempo amor e ódio mas impede-nos também de lidar com as muitas faces do que é e do que não è. As palavras que coleccionamos, possuímos e usamos pela vida sem percebermos o significado profundo do que dizemos. Pode criar-se beleza de grandes emoções que tocam a nossa essência; a beleza perpassa muitas realidades mas oculta a sua função. Línguas há neste planeta, e até talvez no próprio universo, que dizem as mesmas coisas. Pensamos, todavia, que as mesmas palavras dizem coisas diferentes. Criações visuais que se foram e tomam formas que nos fazem ver o mundo de um modo complexo e ao mesmo tempo, tentar simplificar o que é e o que podia ser. Movimentos gestuais e distâncias corporais são dadas e analisadas, acredita-se que o nosso pensar é imune à subjectividade. Um Chomsky, um Whorf usam a língua para o explicar, pensando atingir a objectividade. O poeta sorri e prossegue a sua busca. Governos promulgam leis para o que háde ser, empregam uns tantos que preservam a versão verdadeira a distribuem recompensas pelo conhecimento e valor. Põe-se de lado quem não tem capital cultural por que é diferente ou deficiente. Computadores criam agora novos modos de definir o antigo, vozes artificias explicam novas formas da mesma coisa. Dois mais dois não são quatro, nem quatro mais quatro são oito, mas juntos explicam trinta e três. Tomam forma novas que mudam de um momento para o outro, imagens recriam pensamentos de formas do passado, passado que funde o presente e o futuro. Linguagem, ainda no sei o que é. 37


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Horóscopos para Outubro pela Dra Maria Helena, LISBOA

Virgem – 23/8 a 22/9 Carneiro – 21/3 a 20/4 Carta do Mês: O Dependurado, que significa Sacrifício. Amor: Poderá ser invadido pela paixão. A felicidade espera por si, aproveite-a! Saúde: Procure fazer uma vida mais salutar. Cuidar da sua saúde não é uma questão de querer. É um dever. Dinheiro: Esta não é uma boa altura para investir nos negócios. Número da Sorte: 12

Touro – 21/4 a 20/5 Carta do Mês: 2 de Ouros, que significa Dificuldade ou Indolência. Amor: Dê mais atenção à sua família. Ela também necessita de si. Que o Amor seja uma constante na sua vida! Saúde: Poderá ter dificuldades em dormir. Dinheiro: Se pretende abrir um negócio não o faça já. Espere por dias melhores. Número da Sorte: 66

Gémeos – 21/5 a 20/6 Carta do Mês: A Papisa, que significa Estabilidade, Estudo e Mistério. Amor: É uma boa altura para os nativos solteiros iniciarem um relacionamento estável. Procure intensamente sentimentos sólidos e duradouros, espalhando em seu redor alegria e bem-estar! Saúde: O descanso e o exercício

Carta do Mês: A Estrela, que significa Protecção, Luz. Amor: Altura ideal para efectuar a mudança que tanto necessita de fazer. É tempo de um novo recomeço! Saúde: Canalize a sua energia para actividades de lazer. Faça apenas aquilo que realmente gosta. Dinheiro: Esforce-se por aumentar os níveis dos seus rendimentos, para conseguir melhorar a sua situação económica. Número da Sorte: 1

Balança – 23/9 a 22/10 Carta do Mês: 8 de Paus, que significa Rapidez. Amor: Evite as discussões com alguém que lhe é muito querido. Agora é tempo para paciência e vontade de partilhar. Saúde: Previna-se contra gripes. Dinheiro: Dê mais valor ao seu trabalho, e só terá a ganhar com isso. Número da Sorte: 30

Escorpião – 23/10 a 21/11 Carta do Mês: Valete de Ouros, que significa Reflexão, Novidades. Amor: Poderá ser surpreendido pelo seu par. Aproveite a surpresa. Viva o presente com confiança! Saúde: Tente manter a calma, pois o seu sistema nervoso anda um pouco frágil. Dinheiro: Este é um momento favorável, aproveite para fazer o que já tinha planeado. Número da Sorte: 75

Sagitário – 22/11 a 21/12 Carta do Mês: 10 de Ouros, que significa Prosperidade, Riqueza e Segurança. Amor: Saiba desculpar e pedir desculpa. O seu par apreciará a sua atitude. Siga a sua intuição, siga o caminho do amor! Saúde: Faça mais exercício físico. Olhe mais pela sua circulação sanguínea. Dinheiro: Tente poupar algum dinheiro. Mais tarde poderá precisar dele. Número da Sorte: 74

Capricórnio – 22/12 a 20/1 físico são fundamentais para conseguir aguentar a pressão exercida sobre si durante este mês. Dinheiro: Planifique a sua vida profissional para que possa ser mais organizado e rentabilizar o seu trabalho. Número da Sorte: 2

Caranguejo – 21/6 a 21/7 Carta do Mês: Cavaleiro de Paus, que significa Viagem longa, Partida Inesperada. Amor: Ponha as cartas na mesa e evite esconder a verdade. Enfrente os seus medos e as suas dúvidas e será feliz! Saúde: É possível que se sinta psicologicamente esgotado. Descanse mais. Dinheiro: É possível que tenha alguns problemas com o seu patronato. Número da Sorte: 34

Leão – 22/7 a 22/8 Carta do Mês: Morte, que significa Renovação. Amor: Esqueça o seu passado afectivo e parta em direcção à felicidade. Que o futuro lhe seja risonho! Saúde: Andará mais impaciente nesta altura. Dinheiro: Financeiramente tudo se apresenta estável. Número da Sorte: 13 ComunidadesUSA

Carta do Mês: O Carro, que significa Sucesso. Amor: Mês de grande harmonia entre o casal. Aproveite ao máximo os momentos de alegria para agradecer a Deus tudo o que tem! Saúde: Modere o seu estado de ansiedade. Dinheiro: Êxitos a nível pessoal e profissional. Número da Sorte: 7

Aquário – 21/1 a 19/2 Carta do Mês: A Temperança, que significa Equilíbrio. Amor: Sentirá a necessidade de fazer alguns sacrifícios para manter o bem-estar familiar. Rejeite pensamentos pessimistas e derrotistas. Dê mais de si. Saúde: Tendência para sentir uma ligeira indisposição que o conduzirá à redução do seu ritmo diário. Dinheiro: Poderá ter as condições necessárias para se dedicar a um projecto deixado na gaveta. Número da Sorte: 14

Peixes – 20/2 a 20/3 Carta do Mês: 7 de Espadas, que significa Novos Planos, Interferências. Amor: Sentir-se-á liberto para expressar os seus sentimentos e amar espontaneamente. Que o Amor seja uma constante na sua vida! Saúde: Estará melhor do que habitualmente. Dinheiro: Boa altura para pedir aquele aumento ao seu chefe. Número da Sorte: 57 Oct 2008

Maria Helena e a Musicoterapia

N

uma época em que as crianças e jovens se mostram mais inquietos e em que mesmo os adultos apresentam cada vez mais problemas relacionados com o stress e a agitação da vida quotidiana, a Musicoterapia é uma boa forma para reencontrar o equilíbrio e conquistar a harmonia. Oiça música, deixe-se levar pela emoção! A música traz-nos bem-estar e está presente nas mais diferentes culturas. Todos os seres humanos têm uma relação específica com o som no seu dia-a-dia. É uma linguagem universal e uma parte integrante da nossa vida. É importante ter em conta que a música está também dentro de cada um de nós, e que pode induzir ou aliviar as nossas emoções. A música contribui para o nosso bemestar pois proporciona relaxamento, sendo um dos passatempos preferidos da maior parte das pessoas. Por outro lado, em quase todas as festas e outros locais de convívio, como bares ou discotecas, a música é uma presença constante, mesmo que seja discreta. Desde sempre a música também foi adoptada na vida espiritual, fazendo parte de muitas cerimónias religiosas, por um lado, e ajudando na meditação, por outro. Uma vez que ajuda a libertar os sentimentos e as emoções, tem muitas vantagens terapêuticas. Como o próprio nome indica, a Musicoterapia utiliza a música e a sua linguagem simbólica própria como uma maneira de estabelecer um elemento mediador que ajude as pessoas a entrarem em harmonia consigo próprias e com o Mundo que as rodeia. É uma utilização do som e da música concebida com objectivos terapêuticos, e estruturada de forma a aliviar o sofrimento de alguém e melhorar o seu estado de saúde física e mental, ou contribuir para diminuir problemas que o indivíduo tenha consigo ou com aqueles com quem vive. Lave a sua alma ouvindo as músicas de que mais gosta. Se estiver triste e quiser mandar a tristeza embora oiça uma música alegre!

As qualidades da terapia acima referida não dispensam as indicações do seu médico. 39


PASSATEMPOS O jogo das Vogais Use as cinco vogais para completar cada palavra. Atenção que, na mesma palavra, não pode repetir vogais.

L ___ G ___ M ___ N ___ S ___ S ___ RR ___ ___ L S M ___ P N ___ ___ M ___ T ___ C ___ G ___ L ___ S ___ ___ M ___ ___ R Q ___ ___ T ___ C T ___ R ___ P ___ B L ___ C ___ N ___

Ordene as letras de cada palavra para formar nomes de animais. Em seguida, com a primeira letra de cada animal, obtenha o nome do continente onde os podemos encontrar a todos.

Observe a sequência apresentada de seguida. Que peça de dominó deve colocar no espaço vazio para que a sequência seja correcta? Deve substrair umas peças às outras.

DOCRILOCO ASAFIO CERINTEORNO LAPMIA ESVARUZT PELTIANO

HUMOR Uma anedota politicamente incorrecta... Duas louras encontraram-se depois de algum tempo sem se verem. Olga – Queeeeerida! Há quantos séculos! Clara - Jooooooia! Sabes, tive um rebento! Olga – Ai sim? É como se chama? Clara – Sonasol. Olga – Eu também tenho uma filha. Chamei-lhe Maria. Clara – Ai credo, isso não é nome de bolacha?

O que os alunos portugueses escrevem nos testes... ✦ O Hino Nacional Francês chama-se La Mayonèse. ✦ No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram-se sifilizando. ✦ Na Grécia a democracia funcionavam muito bem porque os que não estavam de acordo envenenavam-se. ✦ Os ruminantes distinguem-se dos outros animais porque o que comem, comem duas vezes. ✦ As plantas distinguem-se dos animais por só respirarem à noite. ✦ Ecologia é o estudo dos ecos, isto é, da ida e vinda dos sons.

SOLUÇÕES

ANIMAIS Crocodilo Continente: ÁFRICA Faizão DOMINÓS Rinoceronte Peça F menos a peça C é Impala igual à peça B Avestruz Antílope

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VOGAIS Leguminosa Surrealismo Pneumático Guloseima Arquitecto Republicano

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