ComunidadesUSA nº 21

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The Portuguese-American Monthly Magazine in the US

Aug 2010 • vol. IV • nº 21 • $3

ARTUR RIBEIRO Realizador de ‘Duplo Exílio’ filma de novo em New York

Luís Luís

Luso-americano faz balanço de 1 ano no Afeganistão

Emigrante contruiu praça de touros na sua herdade

Deco

DAN GASPAR

O luso-americano que treinou Eduardo, o guarda-redes de Portugal, fala do mundial



The Portuguese-American Magazine in the United States

edição dupla - vol. III • nº 21 • Jul-AUG 2010 www.ComunidadesUSA.com

Neste número: 4 – EM FOCO – Turistas vão pagar mais para entrar nos Estados Unidos; Obama visita Portugal em Novembro para cimeria da UE e da NATO 5 – FALATÓRIO 6 – MUNDO – Assassínios no Rio de Janeiro foram o dobro das mortes na guerra do Afeganistão em 6 meses 7 – DESTAQUE – Emigrante português constrói praça de toiros na sua herdade 12 – EM FOCO – Produtos portugueses no Museu de Arte Moderna de New York (MoMa) 13– ENTREVISTA – Francisco Semião fala do Élio Leal novo projecto NOPA 17 – CINEMA – Artur Ribeiro, o realizador de “Duplo Exílio” ou de “Um Lugar para Viver”, filma de novo nso Estados Unidos 22 – PORTUGUESES EM DESTAQUE – George Mendes eleva cozinha portuguesa ao estatuto de “imperdível” na cidade de New York; Universidade Carnegie Mellon distingue professor português 23 – CAPA – Dan Gaspar, o treinador luso-americano de guarda-redes da selecção portuguesa, fala do Mundial da Áfrcia do Sul 30 – POESIA – por Edmundo Macedo 31 – VINHOS – Um tinto com carácter à venda nos Estados Unidos: Borges Quinta da Soalheira Douro

DAN GASPAR

O treinador dos guarda-redes da selecção de Carlos Queirós no Mundial de 2010 fala do campeonatodo Mundo na África do Sul

Carlos Queirós

ARTUR RIBEIRO Autor e realizador português de “Duplo Exílio” (longa-metragem rodada nos Estados Udos) volta a filmar em New York

Secções 33 – RUMORES DA DIÁSPORA – por Diniz Borges 35 – LIVROS – “Inquisiç˜åo: no Reino do Medo” 36– DIA-CRÓNICA – por Onésimo Almeida 38 – DA AMÉRICA E DAS COMUNIDADES – por Diniz Borges 39 – OPINIÃO – Visita da Sagres a San Diego merecia mais 42 –HUMOR

17 – FRANCISCO SEMIÃO fala da nova organização de defesa dos interesses das comunidades portuguesas nos Estados Unidos, NOPA


EM FOCO The Portuguese-American Monthly Magazine in the USA www.ComunidadesUSA.com

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Entrar nos Estados Unidos sem visto vai custar a partir de Setembro $14 Cidadãos dos países que integram o Visa Wiaver Program são obrigados a pagar taxa quando preenchem pedido on-line A partir de 8 de Setembro os turistas portugueses que pretendam visitar os Estados Unidos ao abrigo do chamado Visa Waiver Program (não precisam de visto) vão ter de pagar $14 quando pedirem a autorização de entrada através do Electronic System for Travel Authorization (ESTA), autorização essa válida por dois anos para entradas ilimitadas. Esta taxa vai ser cobrada a todos os 36 países incluídos no Visa Waiver Program e destina-se, segundo o Customs and Border Protection, a financiar os custos inerentes à implementação deste programa electrónico. Desde Janeiro de 2009 que os cidadãos dos países incluídos no Visa Wiaver Program são obrigados a pedirem uma autorização na Internet antes de iniciarem a sua viagem para

os Estados Unidos, apesar de não necessitarem de pedir visto. O questionário na Internet inclui as perguntas que os turistas e residentes geralmente respondem nos impressos distribuídos a bordo dos aviões que são obrigados a entregar às autoridades aduaneiras à entrada de qualquer aeroporto americano O Visa Waiver Program foi criado em 1986 e permite a cidadãos de vários países a entrada e permanência nos Estados Unidos para turismo ou negócios até 90 dias sem um visto. Portugal integra a lista de países do VWP desde os anos 90 mas já esteve em perigo de ser excluído por causa do número de turistas que não regressam a Portugal dentro dos prazos previstos.

Presidente Obama visita Portugal em Novembro para participar nas cimeiras da UE e da NATO É a primeira visita do presidente americano a Portugal O presidente Barack Obama visita Portugal em Novembro para participar na cimeira de líderes da União Europeia e na reunião da NATO que tem lugar em Lisboa a 19 e 29 desse mês. Esta será a primeira visita de Obama a Portugal e segundo uma declaração da Casa Branca, o presidente vê este encontro com os seus colegas europeus como uma oportunidade de “reafirmar a agenda transatlântica e de dar passos em frente na cooperação em assuntos de interesse mútuo”. “Nós estamos unidos no esforço de proteger o nosso povo e de promover a segurança global através do combate ao terrorismo e na prevenção da proliferação de armas de destruição maciça”, diz ainda a nota da Casa Branca. Os Estados Unidos e a União Europeia representam, recorde-se, metade da economia mundial. Na cimeira da NATO deverão ser dis-

cutidos temas importantes para a segurança mundial, nomeadamente uma nova estratégia para o Afeganistão.


... a falar é que a gente se (des)entende

FALATÓRIO

Uma página politicamente (in)correcta onde as opiniões e afirmações expressas não coincidem necessariamente com as dos proprietários e editores da revista

As encerradoras de escolas... Em 5 anos (desde 2005) governo de Sócrates já fechou 3.200 escolas...

50% das famílias portuguesas não têm capacidade financeira para fazer face a um imprevisto de apenas... 1.000 €

118.402 milhões de Euros Era o total de depósitos bancários das famílias portuguesas em Maio deste ano

A Educação em Portugal tem estado nas mãos de duas mulheres nestes dois mandatos de Sócrates – Maria de Lurdes Rodrigues, no primeiro, e agora Isabel Alçada. Aquela já tem o nome inscrito nos anais da história por ter despoletado a guerra com os professores que levou mais de 120 mil docentes à rua; esta, a Isabel, arrisca-se também a ficar na história por ter sido a ministra que finalmente acabou com os chumbos na escola... Por esta ou aquela razão, ambas ficarão sem dúvida conhecidas entre os portugueses como as “encerradoras de escolas”. De norte a sul do país, a Maria começou a encerrar a torto e a direito e a Isabel vailhe no encalço. Só este ano lectivo vão ser mais de 700 as escolas do primeiro ciclo (antigo primário) que fecham por todo o país. Mas a luta não pára e mais encerra-

mentos estão previstos. Tudo em nome do sucesso escolar e das crianças, mesmo que esses safados dos alunos, alguns com 6 anos apenas, tenham que se levantar às 6 horas da manhã e percorrer 30 ou 40 quilómetros para terem aulas em “perfeitos ambientes escolares”, com “todas as condições pedagógicas”, “Magalhães”, Vascos da Gama e Afonsos Henriques. E que regressem a casa por volta da 8 horas da noite! Afinal, para que raio quer um puto de 6 anos o tempo senão para estudar? Sim, porque para trabalhar já nós temos a ministra e o nosso primeiro que promete não descansar enquanto não forem encerradas todas as escolas das aldeias. E depois, claro, acabamse os chumbos. Garantido. Que Santo António nos valha e não vá dar a ideia à ministra da Saúde em acabar com todos os doentes e... começar a fechar hospitais.

+ 100 mil/mês É o número de portugueses que metem baixa por doença mensalmente

45% renováveis Em Portugal, 45% de toda a energia consumida já é proveniente de fontes renovávies, isto é, barragens hidro-eléctricas, parques éolicos, estações geotérmicas e instalações solares. O facto foi destacado pelo de The New York Times.

64 milhões

Pela nossa saúde...

O realizador Manoel de Oliveira está a filmar uma curta-metragem para apresentar em Setembro no Festival de Veneza... ComunidadesUSA

de pares de sapatos produzidos em Portugal em 2009 pelas 1635 empresas do sector que empregavam 59 mil trabalhadores

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MUNDO

Rio de Janeiro: número de assassínios em 6 meses foi mais do dobro das mortes na guerra do Afeganistão... De Janeiro e Junho deste ano foram mortas no Rio 2.412 pessoas Rio de Janeiro (Lusa) - O número de homicídios no Rio de Janeiro, apenas no primeiro semestre deste ano, supera em mais de duas vezes o número de civis mortos na guerra do Afeganistão no mesmo período. Os dados são alarmantes e contrastam uma situação de estado de guerra, em que vivem países como o Afeganistão, e registos de violência letal em cidadãos nas grandes cidades em situação de paz. Segundo dados divulgados pelas Nações Unidas, 1.271 civis morreram no Afeganistão nos primeiros seis meses de 2010. O que impressiona aos olhos de investigadores e cientistas sociais é que, numa comparação com casos de homicídios no Rio de Janeiro, o número de assassínios registados foi 2.556 de janeiro a junho, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do estado. Em São Paulo, a maior metrópole do Brasil, os números também assustam. Os homicídios no estado paulista somam 2.412, quase 90 por cento maior em relação ao Afeganistão. Na avaliação da socióloga Jaqueline Muniz, diretora do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime, os casos de situações de guerra como no Iraque ou Afeganistão são "fenómenos e dinâmicas" diferentes. "Esse contraste do número de civis mortos ajuda a qualificar a magnitude dos números de violência letal. É uma indicação de que os números de violência letal nas grandes capitais brasileiras têm sido altos", disse à Lusa a especialista em segurança pública da Universidade Cândido Mendes.

"Temos um problema sério para resolver nas grandes cidades latino americanas. Rio de Janeiro, São Paulo e Recife ainda seguem com índices elevados comparado às cifras de outras cidades internacionais", analisa Muniz. Segundo a socióloga brasileira, esses números sinalizam a complexidade da segurança pública, o problema das grandes cidades e

"A população acaba sendo mais exposta à situação de risco letal, por mais que isso pareça paradoxal", destaca ao argumentar que, mesmo num contexto de guerra, há regras e atores específicos e "a população civil não deveria ser o alvo". Contudo, a especialista sustenta que no Rio de Janeiro, a criminalidade urbana, as incertezas e os riscos são diferenciados.

o desafio para enfrentá-lo. "Em termos gerais, nas grandes capitais, a criminalidade violenta e letal expõe a mais risco o cidadão comum do que num estado de guerra. A segurança pública é um desafio quotidiano. Já a guerra, em princípio, tem um prazo", argumenta. Muniz afirma que as "dimensões de risco e perigos acabam sendo mais incertas" num cenário urbano.

Para reduzir os índices de criminalidade, é preciso uma política específica de segurança, resultado de dinâmicas combinadas, admite Muniz. "Os patamares no Rio permanecem elevados apesar de haver uma tendência de queda. No Brasil o desafio é imenso, temos problemas crónicos que se arrastam por décadas", conclui. (texto escrito ao abrigo do acordo ortográfico)

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O ganadeiro e proprietário da Herdade “Sol e Toiros”, Elio Leal

Emigrante português construiu praça de toiros na sua herdade às portas de Toronto, no Canadá Com toiros da Califórnia e Colorado, toureiros dos Açores e ganadeiros dos EUA, primeira tourada foi sucesso por Maria João Ávila, texto e fotos

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(em Dundalk, Canadá)

ganadaria “Sol e Toiros” organizou no passado dia 14 de Agosto uma corrida de toiros histórica. Esta foi a primeira corrida de toiros em solo canadiano desde finais da década de 80, quando estas deixaram de se realizar, e só foi possível graças ao esforço do ganadeiro Elio Leal, natural da ilha Terceira, que decidiu construir uma praça de toiros na sua herdade localizada em Dundalk, situada a norte de Toronto. Elio ComunidadesUSA

Herdade “Sol e Toiros” em Dundalk, Ontario, Canadá, propriedade de Élio Leal AUG 2010

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O gupo de Forcados Amadores do Canadá com João Herminio, Eng. António Eurico Ponte e João Carlos Pamplona da Ilha Terceira, Açores

Leal e Fernando Gonçalves são dois grandes aficionados da festa brava e estavam decididos a vencer todos os obstáculos à realização de corridas de toiros no Canadá. O cartel foi composto pelos cavaleiros Tiago e João Pamplona, filhos do cavaleiro de alternativa João Carlos Pamplona e netos do cavaleiro amador Raul Pamplona da ilha Terceira, falecido a 17 de Abril deste ano. Estes dois irmãos da dinastia Pamplona lidaram dois toiros cada nesta corrida e tiveram como bandarilheiros os Terceirenses José Luís Leonar-

À esquerda, Manuel Sousa Jr. (Kool), de Turlock, e Mita Ávila LeMoine; em cima, aficionadas Nina Ávila LeMoine e Andrea Rocha

do, Jorge Silva e o praticante Diogo Coelho. Os irmaos Pamplona são apoderados pelo Eng. António Eurico Ponte da ilha Terceira, figura emblemática do meio taurino açoreano e um dos accionistas da Praça de Toiros da Ilha Terceira. Para o toureio a pé, Elio Leal contratou o matador António João Ferreira "Tojo" que veio acompanhado pelo seu bandarilheiro Barquinha. ToJo nasceu em Santarém e foi aluno da escola de toureio José Falcão de 1996 até 2003. 8

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Cortesias com os cavaleiros Tiago e João Pamplona

As pegas foram da responsabilidade do Grupo de Forcados Amadores do Canadá, que fizeram a sua estreia oficial nesta corrida, tendo como cabo do grupo Miguel Ataíde, antigo forcado do Grupo da Tertúlia Tauromáquica Terceirense. Foram lidados seis toiros provenientes da Califórnia e do Colorado. A corrida foi abrilhantada pela Banda Ecos Taurinos, dirigida pelo maestro Miguel Domingos e o director de corrida foi o senhor António Perinu. Para apadrinhar este evento taurino, deslocaram-se da Califórnia um grupo de aficionados entre eles o ganadeiro Manuel Sousa Jr. mais conhecido por Kool, fundador do grupo de forcados de Turlock e antigo cabo do grupo. Depois do falecimento de seu pai, o ganadeiro Manuel Sousa Sr., foi

Aspecto da enorme assistência da primeira tourada na nova praça de toiros de Dunkland, Ontario

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O cavaleiro Tiago Pamplona na tourada inaugural da praça de toiros de Élio Leal

a vez do seu filho dar continuidade à obra iniciada pelo seu pai. Alguns dos toiros que pertencem a ganadaria “Sol e Toiros” assim como algumas das montadas usadas para a lide a cavalo, foram adquiridas ao ganadeiro Manuel Sousa Jr. Esta corrida foi um sucesso absoluto, e o proprietário da Ganadaria Sol e Toiros promete que esta praça será inaugurada com pompa e circunstância no próximo ano com a presença do matador de toiros Victor Mendes, grande amigo do ganadeiro Elio Leal. Esta corrida foi designada "artística e humana", o que quer dizer que em vez de bandarilhas são usados ferros com velcro. “Só assim é que foi possível que as corridas de toiros fossem realizadas em terreno Canadiano”, explicou o ganadeiro.

organizar corridas de praça. Esteve ligado a outras organizações taurinas durante vários anos e finalmente concretizou o sonho de ter a sua própria herdade, praça de toiros, gado bravo e cavalos de lide em Dundalk.

A pequena cidade de Dundalk fica situada na chamado Grey County, na província do Ontário, Canadá, a norte da grande metrópole de Toronto onde vive uma grande comunidade portuguesa.

Élio Leal: um terceirense aficionado Elio Leal é natural da freguesia das Fontinhas na Ilha Terceira e está radicado em Toronto há mais de 30 anos, sendo empresário de construção civil. Como Terceirense, tem grande “aficion” e o seu objectivo foi sempre realizar corridas à corda no Canadá, o que tem feito noss ultimos anos. Mas o grande sonho era O cavaleiro João Pamplona na tourada inaugural da praça de toiros de Élio Leal 10

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EM FOCO

Produtos portugueses à venda nas lojas do Museu de Arte Moderna (MoMa) da cidade de NY As lojas do Museu de Arte Moderna (MoMA) norte-americano vão passar a vender quase uma dezenas de produtos portugueses “design” e “vintage”, graças do sucesso da mostra portuguesa “Destination Portugal”, disse à Lusa fonte da instituição. Na conclusão da mostra de mais de dois meses nas três lojas de Nova Iorque e também na de Tóquio, Japão, a responsável de “merchandising” da MoMA Design Store, Lauren Solotoff, adiantou que esta foi das melhores iniciativas já feitas com produtos de outros países. “Foi extraordinário. A coleção de produtos foi muito bem recebida”, afirmou Solotoff. Muitos destes cerca de 100 produtos portu-

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gueses nunca tinham sido postos à venda nos Estados Unidos, e alguns materiais causaram mesmo surpresa nos visitantes, caso da cortiça usada no fabrico de malas ou guarda-chuvas. “A coleção tinha grande impacto visual, incluindo materiais e métodos de produção interessantes, estava a bom preço e mostrou-se popular entre todo o nosso público, incluindo clientes de design, visitantes do MoMA e comunicação social”, disse. “Foi realmente uma mistura bem sucedida de todos os tipos de produtos, quer novos, quer vintage”, adiantou à Lusa. A responsável do MoMA não divulga os números de venda, mas assegura que foi dos melhores alcançados nas diversas promoções

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do género. Entre os produtos mais vendidos esteve o serviço de chá “Whistler”, feito de cerâmica pintada e cortiça, as colheres “Goa” em inox e resina, um vaso de porcelana, uma mala de ombro em cortiça, as taças Bordalo Pinheiro em forma de melão e os lápis Viarco. O cenário foi semelhante em todas as lojas, mas em Tóquio, adiantou, os produtos com cortiça foram particularmente bem sucedidos. Os mais caros, como eram as peças de mobiliário design, foram os menos vendidos, afirmou Solotoff. “Dado o sucesso desta coleção de produtos e os contactos com designers e representantes que fizemos, planeamos continuar a apresentar novos produtos de Portugal”, adiantou à Lusa. No católogo de outono serão incluídos nove produtos, incluindo um banco (“Handle Stool”) do designer Fernando Brizio, um pilão de barro para ervas, além do “Whistler”, talheres “Goa" e peças Bordalo Pinheiro. Lauren Solotoff afirma-se mesmo “surpreendida” com a quantidade de produtos que entrou diretamente para o catálogo. “A nossa seleção para o catálogo normalmente está concluída na altura (maio) em que o evento foi lançado. Mas os produtos que incluímos foram aqueles que começaram imediatamente a vender bem”, referiu. “Além disso, todos foram prontamente disponibilizados pelos fabricantes e designers nas quantidades que precisamos para produtos de catálogo”, afirmou Solotoff. Para o delegado do AICEP na América do Norte, Rui Boavista Marques, a iniciativa “contribuiu para elevar o nome de Portugal ao de um País de Design”, e Nova Iorque é “ uma cidade de tendências” com poder de influência internacional. “Nunca num evento deste tipo – já foram realizados 7 - aconteceu o sucesso de Portugal. Antes da acção de promoção não havia nenhum produto português. Agora vão ficar mais de 10 produtos no portfolio permanente e 5 terão grande destaque na revista da rentrée, que chegará a 2.500 milhões de assinantes das actividades do MOMA” Com esta boa publicidade, disse à Lusa, “a maior preocupação é a de consolidar os ganhos de mercado das marcas portuguesas presentes e potenciar os seus negócios nos Estados Unidos”. 12


ENTREVISTAS

Francisco Semião fala da NOPA, National Organization for Portuguese-Americans foto ComunidadesUSA

A NOPA – The National Organization of Portuguese-Americans – foi fundada em 2009 por elementos que antes trabalharam com a PALCUS (The Portuguese-American Leadership Council of the US) e os seus objectivos são muito semelhantes: promover e defender os interesses das comunidades portuguesas nos Estados Unidos. Em entrevista à ComunidadesUSA, o fundador, Francisco Semião, “Director of Development” da George Washington University Medical Center
em Falls Church, Virginia, explica como nasceu a NOPA, qual a sua missão e porque ela é um complemento – e não um concorrente – à PALCUS. (entrevista em inglês)

Explain what is NOPA. Francisco Semião – The National Organization of Portuguese-Americans (NOPA) is a national non-profit, non-partisan, tax-exempt organization created to address the many growing needs of the PortugueseAmerican community living in the United States. NOPA was founded in 2009 by Francisco Semião (Director of Development at the GW Medical Center) with the support of leaders from the Portuguese Community who currently form part of the Board of Directors’ Executive Committee and Advisory Council: Dr. Arcindo Santos (Task Manager at the Inter-American Development Bank), Jason Moreira (Legislative Affairs Specialist at the Center or Budget and Policy Priorities), Mary Jo Rodrigues (Former Executive Director of the Portuguese Organization for Social Services and Opportunities and currently

Francisco Semião, o fundador da NOPA

Director of Sales at the Luso-American Life Insurance Society), Tony Ferreira (Vice-President of Investment Operations at Freddie Mac), and Cremilde Araujo (Embassy of Portugal in Washington, DC). Headquartered in the Greater Washington DC Region, NOPA conducts applied research, policy analysis, advocacy, and providing a Portuguese-American perspective in critical policy areas. NOPA provides Portuguese language education and culture promotion as well as capacity-building assistance to its affiliates who work at the state

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and local level to advance opportunities for individuals and families. What are your main goals? NOPA’s mission is to empower US citizens and residents of Portuguese descent through advocacy, community development, education, and organizational support. Our objectives are to play a supporting role to organizations and elected officials that serve our community, serve as an advocate for issues that impact the Portuguese-American community, provide capacity and develop

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Fundada em 2009, tem por objectivo a defesa dos interesses das comunidades portuguesas nos EUA

Francisco Semião numa reunião do Conselho das Comunidades com a comunidade portuguesa em Newark em Fevereiro deste ano foto ComunidadesUSA

ment support to community organizations, support Portuguese language education efforts, promote the Portuguese culture in the US, and assist in strengthening Portuguese – US relations. Are you a lobby group? NOPA is not a lobbying organization, but through our advocacy activities, we do dedicate a percentage of our time to lobby on issues that affect the Portuguese American community and Portugal. Many people believe that non-profit charitable organizations in the US are not allowed to lobby their elected officials. The reality is that the federal government acknowledges, through regulations promulgated by the Internal Revenue Service, that non-profits do have the right to lobby legislators. NOPA passionately seeks every opportunity to lobby on behalf of the Portuguese American community as long as our activities meet set regulations.

Are you working with the Portuguese authorities? Besides defending the interests of the Portuguese-American community, NOPA’s mission also includes defending the interests of Portugal in the US and strengthening the relationship between both countries. Recently, as a response to the floods that devastated Madeira, NOPA was coordinating with the Cruz Vermelha at 3am on the following Monday to set up a specific account, so that the Luso American community could send their donations for the specific purpose of helping our brothers and sisters suffering from the tragedy. NOPA also set up a specific account, so that individuals who did not feel comfortable making bank account wire transfers could just use their credit cards to make their donation. In your mission statement you mention that you want also to promote the Portuguese language. How?

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NOPA plans to promote the Portuguese culture and language through its Portuguese American Yearbook and community development activities. The Portuguese American Yearbook, which will be a yearly publication, will not only serve as a national resource for our community but also for other communities across the US. This publication will also be available online and will highlight information about our culture, artists, elected officials, community leaders, and important events. NOPA will promote Portuguese language education by providing support to existing programs and schools in our communities with grant organizational development assistance. Who are the NOPA supporters? Since its founding, NOPA’s Board of Directors agreed that the organization was to be self funded during its first year recognizing that many in our community would be hesitant to support a new organization that

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“The National Organization of Portuguese-Americans (NOPA) is a national non-profit organization that supports and works with communities and organizations to advocate for and empower Portuguese-Americans” in NOPA web page, Mission Statment

did not have a track record. Once NOPA celebrates its first anniversary, we will invite the Portuguese American community to provide financial support in any amount, if they would like to see NOPA do more of what it has done so far. All donations will strictly be used for organizational operations and programs, and NOPA plans to report how the funds are used by posting its yearly report on its website for our community’s review. NOPA also plans to apply for US Federal Government and Foundation grants and to any organization in Portugal that wishes to support NOPA’s mission.

Do you have members? Anyone can be a member? NOPA is not a membership organization. We serve all US citizens and residents of Portuguese descent, including those who decide to or cannot afford to send us a donation. Everyone is welcome to sign up and receive our information and benefit from our services. Are not your organization and its mission a little bit like a duplicate of PALCUS? NOPA does not consider itself to be a competitor with PALCUS, as our missions foto ComunidadesUSA

Fernando Rosa, da PALCUS, sobre a existência da NOPA Fernando Rosa, o director-executivo da PALCUS, comentou à nossa revista a existência da NOPA desta forma: “Tanto o fundador e director da NOPA como parte do ‘staff ’ trabalhou para a PALCUS e portanto para fundarem esta organização é porque os seus objectivos devem ser diferentes dos nossos. Obviamente eu não tenho ideia nenhuma se é uma duplicação da PALCUS, eles é que devem saber”. Fernando Rosa disse ainda não ver na NOPA qualquer concorrência à PALCUS: “Não, não é concorrência nenhuma. Quando se trabalha dentro da comunidade com objectivos de resolvermos os seus problemas, nunca há concorrência. Acho que há lugar para toda a gente poder apresentar as diversas opiniões e os trabalhos que fazem em prol das comunidades e para as organizações que se interessam por elas”. Quanto ao facto dos fundadores e

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are different. Our organization collaborates with and provides support services to organizations that work to empower our communities so that Portuguese Americans can have a stronger political presence, access to social services, resolve their immigrant status, and keep the Portuguese language and tradition alive. NOPA also provides services in the form of weekly community funding and legislative alerts, policy analysis, and action alerts that directly respond to legislative activities that affect our community or Portugal. In your opinion, what are the main concerns about the Portuguese communities in the US today? The principal problem that affects our communities throughout the US is the lack of solidarity. This is not just NOPA’s assessment but a conclusion that was agreed upon by leaders from the Portuguese American community who attended a summit organized by Ambassador Joao de Vallera in Washington, DC in October 2009. If we figure out how to become a unified voice like our Greek, Hispanic and Italian counterparts, our opportunities in this country will be improved. How? With more luso-americans in Washington? Our communities can have a stronger political voice in Washington, DC if we all were active voters, contacted our elected officials every time there is an issue that affects our community and Portugal, joined any Portuguese-serving organization, encouraged our community organizations and clubs to communicate more, inspired our youth to seek higher education, supported our Portuguese American political candidates, and reminded everyone we know how proud we are to be of Portuguese descent.

Fernando Rosa, director-executivo da PALCUS

membros serem ex-membros da PALCUS, Fernando Rosa desvaloriza e nega qualquer cisão: “Os fundadores da NOPA estiverem ligados à PALCUS durante anos e saíram porque o entenderam fazer. Os objectivos do que querem fazer lá eles os sabem”.

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CONTACTS:

NOPA PO Box 2652 Falls Church, VA 22042 e-mail: info@nopa-us.org Francisco Semião (Executive Director): fsemiao@nopa-us.org 15



Artur Ribeiro

Fotos ComunidadesUSA

Realizador português de “Duplo Exílio” volta a New York para filmar “Flor & Spade”

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entrevista de António Oliveira

iveu nos Estados Unidos, em Los Angeles e New York, onde estudou representação, guionismo e fez cinema e teatro. Foi também aqui que filmou a sua primeira longa-metragem – “Duplo Exílio” (2001) –, uma história de amor entre um deportado luso-americano ( John Gardner) e uma jovem açoriana ( Joana Seixas). Regressou depois a Portugal onde iniciou uma carreira de sucesso como autor e realizador, sobretudo na televisão onde assinou séries como “Um Lugar para Viver” (RTP1), “Uma Noite Inesquecível”(SIC), e vários telefilmes da série “Casos de Vida” (TVI), entre outros. Foi também co-autor de “Destino Mortal” (TVI) e co-realizador da série “Equador” (TVI). Trabalha actualmente para a Plural Portugal (ex-NBP), a maior produtora de televisão em Portugal, e encontra-se neste momento nos Estados Unidos, em New York, a filmar algumas cenas de “Flor & Spade”, um projecto independente para longa-metragem de cinema com produção, argumento e realização sua. Em entrevista à ComunidadesUSA, Artur Ribeiro falou deste e de outros projectos seus.

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Regressaste a Portugal há uns anos e agora voltas aos Estados Unidos para filmar. Porquê? Apesar de nos últimos anos ter trabalhado bastante em Portugal. nos projectos mais variados, e sobretudo para televisão, mantenho sempre uma ligação com os Estados Unidos, tendo para além do Duplo Exílio – a minha primeira longa-metragem que foi filmada em NY e nos Açores – já mais recentemente filmado em New York uma curta-metragem com o título Seeing Voices, e agora este verão, encontro-me igualmente a filmar dois pilotos para séries de televisão e internet para Portugal, e aproveitei para fazer

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Durante as filmagens em New Rochelle, New York, Artur Ribeiro dá instruções aos actores John Gardner e Nicole Mitzel

as filmagens da parte americana deste filme independente que estou a desenvolver: “Flor & Spade”. Filmas em HD e sem o recurso a grandes produções. Isso não vai limitar a sua apresentação nas salas de cinema? Nesta época de crise há que encontrar novas abordagens para fazer cinema e televisão. Por isso, mesmo sem subsídios e apenas contando com alguns apoios institucionais, e o investimento dos actores e equipa, decidi avançar para este projecto que será construído com tempo, dando prioridade à história e aos actores, pois acredito que em termos técnicos hoje é possível fazer mais por menos. Hoje em dia há muitos exemplos de filmes gravados em HD, mesmo com câmaras semi-profissionais, que estreiam em cinema. Neste momento o que estou a fazer em HDV (que não é o formato final) é apenas material para filmes fictícios da personagem do John Gardner, que interpreta o papel de um actor famosos americano – Ian Spade. O que estamos a filmar aqui são supostas cenas de ComunidadesUSA

vários filmes em que ele entra e são para a personagem da Flor (interpretada pela actriz Sandra Santos) em Portugal estar a ver na televisão. Fala um pouco do filme e de onde surgiu a ideia de escreveres o guião. A história partiu de uma ideia da actriz Sandra Santos, que interpreta a personagem principal – Flor – uma mulher que vive no barrocal Algarvio e que sofre da perturbação psicológica "erotomania", estando convencida que um famoso actor americano -- de nome Ian Spade -- está apaixonado por ela e há vários filmes lhe envia mensagens que só ela entende, confessando o seu amor. Quando a estrela de Hollywood vai passar férias a Vilamoura, os dois vão acabar por se encontrar. Se para Flor o encontro é fruto da paixão que Ian Spade nutre por ela, o actor, que não faz ideia da sua perturbação mental, julga ser um encontro casual e vai acabar por se apaixonar por ela. Até ao dia em que percebe o estado mental de Flor... Sendo este um projecto de produção AUG 2010

Fotos ComunidadesUSA

pessoal, foi sempre a minha ideia filmar na região onde cresci, o Algarve, e em particular o Concelho de Loulé e Vilamoura. É igualmente uma forma de descentralizar a produção de cinema de Lisboa. Desta forma, estou a abordar as entidades locais, institucionais e privadas, para os mais variados tipos de apoio que ajudem à melhor concretização deste filme, pois tenho consciência que não há melhor promoção para uma região que o protagonismo dos locais num filme de ficção. Acredito ter neste projecto uma história bastante universal e que com a ligação narrativa aos EUA e ao mundo das estrelas de Hollywood, seja um filme que ultrapasse as fronteiras nacionais em termos de distribuição. Quem é o produtor e como recrutaste os actores? O produtor para já sou eu, com a colaboração preciosa da produtora Cláudia Dias, e de momento não sei ainda se me vou associar a algum outro produtor. Mas 18


Fotos ComunidadesUSA

Artur Ribeiro, assistido no som porJenifer Fragoso, durante as filmagens de uma cena de “Flor & Spade” com os actores John Gardner e Nicole Mitzel

o que é certo é que quero ter controle total sobre o filme e por isso assumir também mais responsabilidade. Para já estou a reunir apoios financeiros e logísticos, de forma a conseguir fazer o filme com um orçamento reduzido mas sem comprometer a qualidade. Os actores vão sendo recrutados sobretudo entre os actores com quem já trabalhei, que já conheço bem, gosto do trabalho e que são certos para as personagens. Já tinhas trabalhado antes com a actriz principal, Sandra Santos, e com o John Gardner. Isso torna as coisas mais fáceis? Sim, são dois dos meus actores preferidos e quando gosto de um actor gosto de repetir o trabalho com eles. Conhecemonos muito bem e o trabalho em conjunto é estimulante. A Sandra teve a ideia que foi o ponto de partida para este filme, por isso, mais sentido faz ainda ela interpretar a personagem que criou, e o John tem ajudado a criar os pseudo-filmes da sua personagem. Fazes também a montagem? Achas que a alta definição é o futuro do cinema, ou

pelo menos dos jovens realizadores que não têm acesso às grandes companhias produtoras? A montagem será feita entre mim e algum colaborador mas com o HD e os computadores pessoais modernos podemos praticamente fazer toda a produção em casa e já não é preciso ter acesso a empresas de pós-produção e produtoras. O importante neste momento é ter boas ideias e bons guiões. Tecnicamente é muito mais fácil fazer cinema ou televisão. E o You Tube e as redes sociais, que papel lhes atribuis no futuro do cinema? Servem sobretudo para cada vez mais haver novos talentos a explorarem as potencialidades do audiovisual, mas, mais uma vez, ter acesso à técnica e mesmo à divulgação pela internet não chega. É preciso ter boas ideias e saber contar boas histórias. Os filmes não vivem da qualidade técnica ou dos efeitos. Um filme com uma imagem mais fraca mas com uma melhor história é sempre mais apreciado que um filme tecnicamente irrepreensível mas sem conteúdo.

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Como é que está hoje o cinema em Portugal? Parece que têm surgido nomes novos, mas os filmes que se fazem ainda são subsidiados a 100%? Não, já há filmes a ser feitos com alguns financiamentos alternativos e sobretudo a nível das curtas-metragens muitos novos nomes que fazem filmes sem acesso a subsídios. Mas ainda há muito caminho a percorrer. Um dos grande problemas de Portugal é que há pouco investimento na fase de escrita de guião. E um argumento coxo não vai longe nem há realização nem montagem que o salve. As tuas séries em Portugal revelam uma influência americana. Achas que Hollywood continua ser a maquina de sonhos onde se faz o melhor cinema do mundo? Não sei se as minhas séries têm assim tanta influência americana, o que eu tento é contar histórias interessantes e da melhor forma possível dentro dos meios que tenho ao meu dispor, mas não gosto da dicotomia de Hollywood contra o resto do mundo. Há

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coisa boas e más em todo o lado. Quando vais estrear “Flor&Spade”? Tendo em conta que é um projecto que ainda tem um longo percurso a cumprir para a reunião de todas as condições, se estiver pronto para o verão do próximo ano já era muito bom. O que me interessa neste projecto é ter aquilo que normalmente não temos em trabalhos para televisão: tempo. Tempo para amadurecer as rescritas do guião, tempo para ensaios e desenvolver bem as personagens e depois tempo para filmar sem stress e procurando sempre os melhores locais, a melhor luz, o melhor momento. É claro que isto pode ser utópico mas, se não sonharmos desistimos de querer fazer coisas. Que outros projectos tens em mãos neste momento? Contas vir de novo trabalhar aos Estados Unidos em breve? Para já continuo ligado à Plural Portugal, ex-NBP, que é a maior produtora de televisão em Portugal e para quem tenho trabalhado nos últimos anos tendo estado envolvido em projectos muito interessantes como os telefilmes Casos da Vida para a TVI (escrevi e realizei 5) ou a super-produção da série Equador, que nos levou da Índia ao Brasil durante 6 meses de rodagens (e onde fui um dos realizadores), ou mais recentemente a série para a RTP Um Lugar Para Viver, que escrevi e realizei, e a mini-série de vampiros da TVI "Destino Imortal" que co-escrevi com a Cristina Silva. De momento, para a Plural também estou a filmar dois pilotos para futuras séries para fazer aqui em NY. Por isso, conto voltar a trabalhar por cá em breve.

Cenas das filmagens de “Flor & Spade” no Chelsea Piers, em New York, podendo ver-se em cima a actriz Evelina Pereira e os actores John Gardner e Filipe Homem Fonseca, em baixo, à direita (Fotos gentilmente cedidas pelo realizador) ComunidadesUSA

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‘Aldea’: restaurante português é dos mais recomendados em NY Nova Iorque – Em menos de um ano, um "chef " luso-americano impôs o seu restaurante Aldea entre os "imperdíveis" de Nova Iorque, mas o prato ícone, o arroz de pato, é designado por "paella", prova da ignorância sobre a cozinha portuguesa.A edição de 2010 do suplemento "O Melhor de Nova Iorque", publicado pela conceituada revista New York, elege o Aldea como um dos cerca de 50 restaurantes a não perder na cidade, graças à "paella que tecnicamente não o é" – o arroz de pato."É uma ode fumegante, crocante, cheia de texturas às glórias das sofisticadas técnicas gourmet e do bom sabor à moda antiga e caseiro. Chamemos-lhe a nossa favorita criação dentro do género paella", escreve o crítico da New York sobre o prato-ícone de Mendes no restaurante no centro de Manhattan, Union Square, aberto em maio de 2009.A mesma revista já colocou o Aldea em segundo lugar numa listagem dos dez melhores novos restaurantes da "City" e escolheu Mendes como um dos quatro melhores novos "chefs" da cidade.O crítico de restaurantes Ryan Sutton, da Bloomberg, deu-lhe três estrelas (em quatro), tal como o Daily News, e a revista GQ colocou o restaurante como um dos dez melhores a abrir portas em todo o país, no último ano."É a prova de que a cozinha portuguesa pode triunfar, com mais sofisticação. Mas é preciso que se faça mais para dar a conhecer. Que mais pessoas abram restaurantes aqui, que as autoridades portuguesas divulguem", disse George Mendes em entrevista à agência Lusa.Se nas zonas de concentração da comunidade portuguesa em Nova Iorque e Nova Jérsia é fácil encontrar restaurantes que sirvam bacalhau ou bitoques – como em Astoria, Long Island, Mineola – já em Manhattan são poucos, incluindo o "Pão" de Jorge Neves, ponto de encontro de muitos portugueses da "City".O único que conseguiu afirmar-se como "cozinha de autor" é o Aldea, como reconhece Mendes. Já fechado está o Alfama, que foi, durante anos, sinónimo "de cozinha antiga portuguesa, rústica e bem feita", segundo recorda Mendes, que chegou a ser vizinho desse restaurante. "No Aldeã, o que fiz foi pegar nas receitas de cozinha portuguesa que aprendi com a minha mãe e experimentar até poder assinar

o que é o meu estilo hoje (…). Peguei em pratos como arroz de pato, guisados ou assados, receitas antigas portuguesas e fiz uma interpretação minha", diz Mendes, que fala em português com forte sotaque americano. A "viagem por sabores diferentes" não se esgota, mas começa em Portugal. "Começo com um ingrediente que tem história em Portugal, depois gosto de viajar. Tenho amor pela cozinha japonesa, do Vietname, das antigas colónias portuguesas, como Macau e Goa…", adianta. Depois de três anos de ausência, devido aos preparativos da inauguração do Aldea, Mendes regressa a Portugal em junho, numa visita "para descansar" em que quer aproveitar para conhecer os novos O chefe George Mendes e aspecto da sala de jantar do Aldea projetos dos chefs José Avillez e Vitor Sobral, e rever "clássicos" como ementa o "trademark" arroz de pato. Face ao sucesso do Aldea, que torna neo Pap´Açorda, em Lisboa. Sobre uma possível colaboração futura cessário fazer uma reserva com vários dias com chefs ou eventos gastronómicos em Por- de antecedência, Mendes admite expandir o negócio ou mesmo abrir mais um restaurante, tugal, afirma-se "super interessado". Para já mantém intercâmbios com chefs de mas, para já, o objetivo é descansar. "Estou super contente, mas abrir o restauoutras regiões dos Estados Unidos. Este fim de semana está em Charleston, Carolina do Sul, rante trocou-me a vida inteira", afirma. (Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico) a convite de um restaurante local, que tem na

Professor português distinguido pela universidade Carnegie Mellon José Fonseca e Moura foi recentemente distinguido pela universidade norte-americana de Carnegie Mellon com a sua máxiam distinção. Moura dirige o programa de colaboração entre aquela instituição de ensino superior e congéneres portuguesas (CMU-Portugal). “É uma distinção conferida avaliando o impacto a nível científico e técnico da carreira de um indivíduo”, disse à Lusa Fonseca e Moura. A distinção reflete o ensino, mas também publicações, a adoção de tecnologia por empresas e participação em conferências universitárias

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ou de outras entidades, esclareceu. Professor associado do Departamento de Engenharia Biomédica da Carnegie Mellon University (CMU), onde leciona desde 1986, Fonseca e Moura ascende assim ao cargo de “university professor”, o que, nas palavras do próprio, permite “pairar” sobre os diversos departamentos da universidade, considerada das mais importantes do mundo em engenharias. “É uma distinção conferida avaliando o impacto a nível científico e técnico da carreira de um indivíduo”, disse à Lusa Fonseca e Moura.

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Dan Gaspar

Treinador de guarda-redes da selecção portuguesa fala do Mundial da África do Sul entrevista de António Oliveira (ComunidadesUSA)

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foto António Oliveira


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Com Bruno Alves, defesa central da selecção nacional

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PESSOAS

Luís M. Antunes Luís Na hora do regresso a casa, soldado luso-americano faz o balanço de um ano na guerra no Afeganistão

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P O E SI A

DO MAR, HÁ MUITO TEMPO ... Deixei-te a chorar por ti... A última vez que te vi, cerraras já o teu véu. Olhei-te do lisbonense estuário, ondas brancas, então pequenas, embora o mar a crescer, a marulhar, a encarneirar, a zangar-se e a toldar-me mais a vista. Estavas cinzenta, fechada, no teu altar escondida, envolta em névoa, majestosa, eras jóia aferrolhada. Cada dia que passei fora de ti, dia perdido. Promontório da Lua, nada vale como tu! Acordas fresca e sorris, algo em ti é de beleza irreplicável, no mundo, de ponta a ponta ... a açucena e a mimosa, o malmequer e a camélia a perfumar-te... ... e o aroma dos pitósporos em flor nas cálidas noites de Agosto?! Injusto é morrer sem dormir uma noite em ti! Pelo menos uma noite! Uma cálida noite de Agosto e o aroma dos teus pitósporos pelas frestas da janela ... para se voltar a viver ... Chega o crepúsculo e logo mostras teu divino seio, corre o Sol a reluzir-te, ficas na Terra rainha. És dona dos verdes todos, do tapete inigualável, és delicada, viçosa, és intocável e pura, és virgem e soberana. Do Tejo não vi o teu rosto, estavas de costas voltadas, remota, inatingível, fiquei triste, fiquei só... Hora da despedida, rolos e rolos de fitinhas, fitinhas de muitas cores, fitinhas de todas as cores, arco-íris de fitinhas, roxo anilado azul verde amarelo alaranjado vermelho, a cair do navio para a doca,

Seabra’s Marisqueira

a colorir o navio, ... a adoçicar a mágoa? ainda que lá estivesse esperança ... a esperança de quem parte, a esperança de quem sai, de quem teve de sair, de sair ... atormentado, de quem parte à aventura, de quem sai desafiando, arrostando, temerariamente, o perigo, iminente, a espreitar atrás do sonho ... vozearia, gente, muita gente no cais, braços, centenas de braços ... no ar ... gesticulando, afirmando o mesmo adeus de todas as despedidas, lábios, centenas de lábios, promessa de beijos. Centenas de lábios chorando beijos, atirando beijos do cais para o navio, do navio para o cais, centenas de beijos, dizendo amor e dor,

A tradição continua! • A casa da verdadeira cozinha portuguesa e do marisco em New Jersey

e eu triste e só, e o navio ... a quilha a sulcar o infindo oceano ... e eu triste e só, mas tu meu formoso berço, minha namorada amantíssima, minha Sintra sem igual, lembras-te? - foste o deleite de Byron e a Cynthia dos Romanos, numa exaltação, suave, doce de mel, que foi bálsamo, trouxe a vida, chegaste, estuante, ao meu lado, olhaste, terna, o teu filho, ergueste a fronte, abalaste...

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VINHOS

Borges Quinta da Soalheira Douro Um tinto de grande elegância e muito sabor

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oje recomendamos um vinho do Douro de particular sabor: o Borges Quinta da Soalheira 2007. Trata-se de um tinto com 13% Vol da região do Douro produzido a partir das castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca. De cor rubi, nariz de frutos vermelhos ligeiramente alicorado, é um vinho bom de boca e muito equilibrado. Nos Estados Unidos é importado pela Vintage Trading de Waterbury, CT, e pode ser encontrado nas principais garrafeiras da costa leste. Se não encontrar na sua loja preferida, contacte a Vintage Trading através do telefone (203) 575-9446.

IMPORTADOR PARA OS EUA: Vintage Trading LLC 23 East Aurora Street, Waterbury, CT 06708 (203) 575-9446

O copo influencia o sabor do vinho Como escolher o copo certo para cada vinho Os especialistas são unânimes: os copos influenciam o sabor do vinho. E cada tipo de copo pode salientar as características certas de determinado vinho. Como escolher, então, um bom copo para saborear todos os sabores do vinho? Aqui ficam cinco opções. 1 – 60 centilitros: copos grandes para pequenas quantidades de vinho, seja branco ou tinto, permitem que o líquido respire; 2 – Fino e translúcido: é importante conseguir ver claramente através do copo e deve ser fino para que o vidro não interfira no sabor do vinho; 3 –Pé alto: para que possa segurar confortavelmente no copo sem influenciar a temperatura do vinho; 4 –Pequena curvatura para dentro no topo: ajuda a centrar os aromas; 5 –Menos de $10: este tipo de copo parte-se facilmente, por isso é importante que, para além de reunir todas as características acima, seja suficientemente barato para poder ser substituído. ComunidadesUSA

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RUMORES DA DIÁSPORA

Sobre “Tales from the tenth Island”, de Onésimo Teotónio de Almeida por Vamberto Freitas (S. Miguel, Açores) “Tales From The Tenth Island” (com selecção, tradução e introdução de David Brookshaw) é uma selecção de contos de (Sapa)teia Americana de Onésimo T. Almeida que foi originalmente publicado em Lisboa pela Editora Veja (1983), e depois saído numa segunda edição das Edições Salamandra em 2000. Recenseei-o no Diário de Notícias logo de seguida, e depois inclui-o no meu livro de ensaios Pátria ao Longe: Jornal da Emigração II (1992). Outros se pronunciariam publicamente em seguida. O autor regressaria anos depois com mais quatro narrativas de imigração incluídas no seu Aventuras De Um Nabogador & outras estórias-em-sanduíche (Bertrand Editora, Lisboa, 2007). Maria Teresa Maia Bento Amarelo Carrilho publicaria a sua tese de mestrado precisamente sobre os contos iniciais, alguns deles já antológicos, intitulada O Sonho Americano e a (Sapa)teia Americana (Universitária Editora, Lisboa, 1998). Faço aqui este brevíssimo historial pela distância no tempo que já nos separa da saída destes contos que marcaram de modo inusitado a visão que temos da nossa experiência imigrante vista através da literatura de língua portuguesa nos EUA nestas últimas décadas, e que inclui enfaticamente as narrativas de José Francisco Costa (Mar e Tudo, Edições Salamandra, Lisboa, 1998), e as de Francisco Cota Fagundes (No Vale dos Pioneiros: Narrativas da Minha Diáspora (Edição da Câmara Municipal da Praia da Vitória e da Junta de Freguesia da Agualva, 2008). Perante a habitual desatenção de alguns entre nós, a verdade é que a literatura açoriana já inclui no seu cânone esta escrita-outra, a que nos dá conta, por vezes algures entre a ficção e a realidade, de como a açor-americanidade foi perpetuada ComunidadesUSA

Coordenação do Instituto Açor-Americano Direcção de Diniz Borges (CA)

Em poucas palavras As comunidades portuguesas nos Estados Unidos têm uma amalgama de escritores que através dos anos têm criado o que chamámos a literatura luso-americana, que é parte integrante da literatura étnica dos Estados Unidos. Um dos nomes mais conceituados é o de Onésimo Teotónio Almeida. Um colaborador da imprensa de língua portuguesa no continente norte-americanos, inclusive desta revista, O Professor Doutor Onésimo Almeida tem uma obra invejável. Os seus contos, agora traduzidos para inglês são imprescindíveis para quem queira estudar as nossas comunidades. Daí este texto de Vamberto Freitas, profundo conhecedor da literatura luso-americana, que nos fala de um dos livros da vastíssima e profícua obra de um exímio escritor, catedrático, e acima de tudo um ser human excepcional, Onésimo Teotónio Almeida. Abraços, Diniz

pela geração que partiria das ilhas no início dos anos 60. Deu-se, com estes e outros escritores da Diáspora, um corte epistemológico radical, que um dia Eduardo Mayone Dias atribuiu a uma nova realidade da nossa imigração a oeste, mesmo que os números permanecessem relativamente reduzidos: a primeira geração formada em universidades portuguesas e norte-americanas, mas que eventualmente se viraria para as suas raízes e as transformações sociais e culturais que aconteceram na sociedade de acolhimento, a nova pátria luso-americana. Urbino de San-Payo, outro poeta português imigrado há longos anos naquele país, também diria a respeito das nossas comunidades norte-americanas em geral: “Sim, somos os filhos de duas paisagens: a da memória e a da vista. A ausência de qualquer delas faz-nos sangrar”. Eis aí uma síntese perfeita de toda temática AUG 2010

Página de Artes & Letras

da literatura dos nossos autores em constante correrias e vivências profundas entre o cá e o lá. De onde vem este interesse (entusiasmo, diria) de alguns “estrangeiros” por literaturas tão pouco conhecidas como a nossa? Podem alguns intelectuais (especialmente em Portugal, na sua indisfarçada angústia de serem europeus “autênticos”) atirar contra o multiculturalismo e o politicamente correcto, mas foram exactamente estas novas “atitudes” primeiramente emanadas da América do Norte que viriam a permitir novos olhares ante as suas sociedades-mosaico. A partir daí, já ninguém poderia ignorar todos os povos que construíram o Novo Mundo, muito menos faltarlhes ao respeito que sempre lhes foi devido, mas ofuscado pelo histórico etnocentrismo, quando não racismo aberto e directo. Tive a felicidade imensa de ter pertencido e testemunhado como estudante na academia da Califórnia (depois como professor do ensino secundário) o início dos anos de transformação e humanização, por assim dizer, de uma sociedade que até aos anos cinquenta vedava os imigrantes e/ou grupos étnicos minoritários ao seu lugar de inteira pertença e cidadania. Dirão que alguma escrita imigrante (cont. página seguinte) 33


O humor assim como uma certa postura trágico-cómica de Onésimo T. Almeida sobressaem aqui de modo muito especial, sem nunca retirar a seriedade com que um personagem é visto e tratado no drama antecedeu de longe todo este movimento societal. Só que foi a partir desse momento de viragem que essa escrita passa a ser parte de currículos e estudo sistemático nalgumas das mais prestigiadas universidades dos EUA e de outros continentes e países (Brasil e Europa, inclusive em Portugal), a sua divulgação lenta mas seguramente assegurada em publicações especializadas e gerais, acontecendo consequentemente a legitimação da mundividência, concreta e/ou transfigurada, dos que desde sempre haviam permanecido esquecidos nas margens, ou na tal “ponte” das tormentas de que nos falava o poeta já aqui citado. De resto, foi o reconhecimento por quase todos de que as sociedades da última parte do século passado eram já obra globalizada, e a nova literatura mundial teria de olhar para a complexidade humana que estava subjacente a todas as comunidades e, agora sim, vivências praticamente sem fronteiras. David Brookshaw é Professor de Estudos Luso-Brasileiros na University of Bristol (Inglaterra), especializado em literaturas pós-coloniais de língua portuguesa (nem Macau fica fora da sua lupa), e desde há alguns anos inclui nos seus estudos a literatura luso-americana e imigrante, tal como demonstra na sua longa introdução a Tales From The Tenth Island. Creio que o “fascínio” de Brookshaw que o leva a um esforço destes (toda a tradução é uma dura luta linguística e de contextualização literária e cultural adentro de uma outra Tradição) provém não só do facto de ele não querer deixar passar em branco a mais significativa escrita em língua portuguesa nas suas muitas variantes, como do facto de neste caso se tratar da representação ficcional de gente de ilhas minúsculas em termos geográficos a braços com a sua adaptação num continente imenso, que é a América do Norte. Europeus da periferia, a América esteve desde sempre muito mais próxima de nós do que a restante terra dos nossos antepassados, a distância que nos separa um mero factor da imaginação, as possibilidades de nova vida

raramente consideradas possíveis fora das Américas (Brasil também presente e desejado durante séculos), a não ser para uma elite bem reduzida e historicamente privilegiada. A nossa relação com o destino a oeste nunca foi totalmente pacífica, mas o facto é que os açorianos sempre enfrentaram todas as barreiras imagináveis para se tornarem cidadãos da sua outra pátria americana. Brookshaw conhece todos os nossos meandros culturais e até psíquicos, a sua tradução evidencia nuances de uma criatividade pouco habitual. O seu Tales From The Tenth Island encerra, tal como a colectânea original (Sapa)teia Americana, com o conto “Adriano(s)”, o percurso de um adolescente terceirense na costa leste americana entre uma comunidade maioritariamente de micaelenses. Narração sob várias perspectivas, cada um “julgando” Adriano precocemente devotado ao Sonho Americano, rejeitando raivosamente todo o seu passado nas ilhas, logo em luta contra os próprios pais pelo que representam, no seu entender, de “marginalização” na nova sociedade, o mesmo adolescente enquanto visto e descrito nos mais depreciativos termos por outros imigrantes adultos é considerado um herói, um pequeno génio de altas potencialidades profissionais e económicas, pelos anglo-americanos que com ele se cruzam no dia-a-dia. O humor assim como uma certa postura trágico-cómica de Onésimo T. Almeida sobressaem aqui de modo muito especial, sem nunca retirar a seriedade com que um personagem é visto e tratado no drama em que se torna a sua própria reinvenção total. Traduzir as linguagens l(USA)landesas (o cruzamento fonético do português com o inglês, tão característico dos nossos imigrantes) de (Sapa)teia Americana é um tremendo desafio seja para quem for; Brookshaw reconhece-o na sua introdução, mas não hesita ante os mais “intraduzíveis” passos destas narrativas. Adriano, a certa altura, expressa grande antagonismo ante os seus conterrâneos oriundos de São Miguel, dizendo que nem sabia da existência dessa ilha até emigrar, chama-os pelo nome mais comum na Ter-

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ceira do seu passado--coriscos. Tradução de Brookshaw: sons-of-bitches. Discutível, mas perto de uma semântica, por assim dizer, intencional na minha ilha natal, e vai aí só como um exemplo entre muitos outros das opções de um tradutor conhecedor e atento ao espírito preconceituoso de um povo como o nosso. Tales From The Tenth Island foi publicado na Inglaterra, e deduz-se que dirigido a um público reduzido, mas talvez curioso de como navegaram outros ilhéus para um país anglófono, historicamente muito caro a eles próprios. Mesmo que seja lido só por outros estudiosos da lusofonia, o seu contributo não deixa de ser menos importante. O mundo de língua portuguesa extravasa em muito para além dos PALOP. Para quem não pertence “oficialmente” a essa grande comunidade espalhada por todos os continentes e outros arquipélagos, a sua criatividade literária em nada nos fica a dever. Muito pelo contrário: completa os arquivos criativos e memoriais de um povo que sempre navegou e se soube (re)construir em toda a parte, reinventando as suas próprias tradições nos mais improváveis recantos do globo, em convivências pacíficas só permitidas pela criação de novas linguagens, que nos poderão parecer estranhas, mas funcionam plenamente na conjugação da portugalidade com todos os outros. Que estudiosos como David Brookshaw, o muito prestigiado e reconhecido tradutor também de Mia Couto, o reconhecem e valorizam só poderá servir de lição a nós todos. Um pouco mais de atenção à nação peregrina deveria continuar a ser uma exigência intelectual no país de origem. ______________________________ Onésimo T. Almeida, Tales From The Tenth Island (Selection, Translation and Introduction by David Brookshaw), Seagull/ Faoileán, England

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LIVROS

“Inquisição – o Reino do Medo” Um relato de casos autênticos dos perseguidos e condenados pelo tribunal da Igreja Dezembro de 1808 quando as tropas francesas tomaram o trono de Madrid, e em Portugal foi extinta formalmente numa sessão das Cortes Gerais (Parlamento), em 1821. Os relatos de cada caso, em que se fez sentir a perseguição inquisitorial até à morte dos considerados culpados por heresia ou blasfémia, não surgem isolados e são enqua-

drados no contexto económico e social da época, percorrendo a obra três séculos - do XVII ao XIX -. Referindo-se a este livro, o jornal inglês The Guardiam escreveu: “um estudo de grande fôlego sobre a intolerância”, e o Sunday Telegraph foi mais longe e tendo afirmado: “[Toby] Green transmite-nos uma mensagem que, pode dizer-se, é assustadoramente atual”. Toby Green, 36 anos, estudou na Universidade de Cambridge, divide a sua actividade entre o ensino, o jornalista e a investigação, tendo publicado já várias obras na área da história e da biografia.

Livro de registos consulares de Aristides de Sousa Mendes no Museu Judaico em New York

O livro “A Inquisição – O Reino do Medo”, do historiador inglês Toby Green, é um conjunto de relatos de casos autênticos dos que foram perseguidos durante três séculos por aquele Tribunal da Igreja Católica. A obra centra-se essencialmente em Espanha, Portugal e nas ex-possessões ultramarinas dos dois reinos ibéricos, contando casos de bruxas e judeus perseguidos, maçons, bígamos, ou marinheiros sodomitas levados à fogueira do Santo Ofício da Inquisição. Este ensaio não é uma história geral da Inquisição, mas através do estudo da documentação depositada nos arquivos de Espanha, Portugal e Vaticano, resgata alguns casos, contando as histórias verídicas de hindus perseguidos em Goa, muçulamos acossados, ou até padres que escapavam às regras da castidade que o exercício do mister sagrado obriga. Os cenários deste ensaio são Valência, Sevilha, Saragoça, Teruel, Lisboa, Évora, Múrcia, Granada, Valladolid, mas também Bissau, Cabo Verde, Brasil, Lima, Bogotá, Cidade do México, ou Goa. A Inquisição foi abolida em Espanha em

O livro de registos de vistos de Aristides de Sousa Mendes, considerado um documento histórico de grande valor, está exposto no Museu da Herança Judaica em Nova Iorque, desbloqueadas que foram os entraves ligados ao seu transporte e seguro. Inicialmente previsto para estar em Nova Iorque no dia 17 de Junho, o “Dia da Consciência”, a sua vinda chegou a estar em risco por causa das exigências do Instituto Diplomático, segundo João Crisóstomo, o mentor da incitiava. Esse dia foi marcado por várias iniciativas a nível mundial de homenagem ao cônsul de Portugal em Bordéus que salvou milhares de judeus e outros refugiados das mãos do nazis na Segunda Grande Guerra, lembrando o 17 de Junho de 1940 dia em que o então cônsul de Portugal em Bordéus começou a conceder vistos em massa a judeus e a outros refugiados sem autorização de Lisboa, permitindo-lhes a fuga. Graças à intervençåõ do ministro dos Negócios Esgtranegiors, Luís Amada, o livro acabou por vir apra New York onde foi oficialmente apresentado no Museu a 19 de Julho, data que marca os 125 anos do nascimento de Aristides de Sousa Mendes. Estará agora em exposição durante um ano numa vitrina no Museu da Herança Judaica especialmente criada para o efeito ao lado do passaporte da senhora Kostman, um dos refugiados a quem Aristides de Sousa Mendes concedeu um visto permitindo assim a sua

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Página do livro de registos de vistos concedidos por Sousa Mendes na II Grande Guerra

fuga para o Brasil. Esta será a segunda vez que o livro sai de Portugal para Nova Iorque, pois há cinco anos, também por iniciativa de Crisóstomo em colaboração com a International Raoul Wallenberg Foundation, o documento e a caneta com que Aristides de Sousa Mendes assinou alguns dos vistos, estiveram em exposição no mesmo museu durante cerca de dois anos. O Museu da Herança Judaica fica no Batery Park City, no sul de Manhattan, virado para a baía de Nova Iorque com a estátua da Liberdade em fundo, e o seu objectivo é perpetuar a memória do Holocausto lembrando os milhões de vítimas da Segunda Grande Guerra.

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DIA-CRÓNICA

OnéSImo Teotónio Almeida

Quase a grau zero Havia antigamente, mas já muito antigamente, no milénio Churchill, nada perito em modéstia, não perdoava abusos nesse passado, uma virtude (em caso de dúvida, consultar a palavra no capítulo e deixou-nos aquela pérola a propósito de Clement Atlee, Google) chamada humildade, parente de outra quase-irmã, a molíder do Partido Trabalhista: Um homem modesto com muitos motidéstia, que por vezes se revestia de conotações com indumentária. vos para isso, boca provavelmente conhecida de Golda Meir, retraída Modesto podia significar decente. E havia ainda outro parentesco mas incisiva, baixinha porém dona de altivez, que desferiu contra já semântico a implicar pobreza. No entanto, é da primeira que me não recordo qual alvo: Não seja humilde, você não tem estatura para apetece escrever hoje pois estou nostálgico de estórias sobre virtuisso! Pelo menos eu já conhecia ambas quando há tempos um gabades dos antepassados. rolas de fazer De Gaulle humilde, me admitiu em conversa: Como Fui educado por eles a ponto de recorrer a pseudónimo nos sabe, eu sou um pouco orgulhoso. Desprevenido, saiu-me sem dar meus escritos juvenis por ser imodesto usar o próprio nome. Nunca tempo para o superego reprimir: Não seja tão modesto! ouvira falar de Walt Whitman nem do seu I celebrate myself, and Hoje, todavia, essa piadas perderam a força. Estamos rodeados sing myself, epítome da autocelebração, nos antípodas do que me de gente que faria enriquecer o descobridor de uma magnífica receiensinavam. Se calhar não vivia longe do mundo da freirinha que ta para ganhar dinheiro facilmente: comprar as pessoas pelo preço dizia a outra: Sou muito mais humilde do que a irmã. Costumava que valem e vendê-las pelo que elas pensam que valem. contar uma estória de Charles De Gaulle (como vêem hoje estou Nalguns casos o lucro seria parco, reconheçamos. Não há muito para dinossauros) de que nunca soube a tirada final pois quem ma tempo, Terence Rafferty abria assim uma recensão ao romance contou tinha-a incompleta. Já tentei junto de muitos francófonos de um autor que todos conhecemos : A voz na terceira pessoa no na esperança de que algum a conhecesse, mas até hoje sem êxito. novo romance de X tem um tom altissonante e uma autoconvicção Era assim: o Presidente foi confessar-se e o padre lembrou-lhe a rondar o pontifício, uma caprichosa determinação que o próprio que se esquecera de referir o seu grande pecado - o orgulho. Em Deus invejaria. No caso, porém, em reacção, o autor bem poderia ter penitência, impunha-se uma oferta na caixa das esmolas. De Gaulle repetido a desculpa do outro: Como ser humilde quando se é grande cumpriu, acompanhando o óbulo de uma mensagem : Du Grand como eu sou? De Gaulle au Petit O leitor deve Pelo menos eu já conhecia ambas quando há tempos um gabarolas de fazer estar a interrogar-se Jésus. Vendo o envelope, o sacerdote sobre o porquê deste De Gaulle humilde, me admitiu em conversa: Como sabe, eu sou um pouco foi todo bons motema para crónica. orgulhoso. Desprevenido, saiu-me sem dar tempo para o superego reprimir: Vou desvendá-lo: dos admoestar Mr. Não seja tão modesto! le Président que, Sinto-me hoje particontrito, substituiu: cularmente humilDu Premier de la de. Esta manhã France à la 2.ème personne de la Trinité. (Avisei que me faltava a arribou-me no Google um aviso. Alguém parece ter encomendado o terceira parte, certamente a mais desbragada. Uma pena! Será que o meu livro De Marx a Darwin. A desconfiança das ideologias via um leitor conhece? Se sim, conte-me!) serviço internacional de vendas pela Internet. A vendedora tornou Eram múltiplas as estórias de De Gaulle a glosar o mesmo tema: públicas as estatísticas, assim me informando do meu grau de popuEle a rezar: Sagrado Coração de Jesus, tem confiança em mim! (dalaridade: 1 em 3 807 590. tadíssima esta!). Ou ainda: a mulher, no seu primeiro encontro com Aí está uma notícia capaz de confirmar no seu lugar até o ego ele inteiramente desfardado, exclamando: Mon Dieu! E o general: mais humilde. Se bem entendo, em três milhões oitocentas mil e tal Na intimidade trata-me por tu. requisições de livros uma destinava-se ao meu. É obra!!! ComunidadesUSA

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January 2007

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DA AMÉRICA E DAS COMUNIDADES

por DINIZ BORGES (na Califórnia)

De repente o futuro tornou-se curto* Porque, infelizmente, esse diletantismo serve para que muita gente, nestes nossos meios comunitários, permaneça, injustamente, em cargos de liderança.

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á tempos havia prometido a mim próprio que não voltaria a escrever, assim tão cedo, sobre as nossas comunidades. Primeiro, porque muito do que se poderá escrever será repetitivo, segundo porque quando se diz algumas verdades, acaba-se sempre por importunar alguém. Acontece que recentemente na cerimónia que tivemos em Tulare (os jovens alunos da associação estudantil SOPAS) para homenagear alunos e membros da nossa comunidade local, o MVPA (a 2 de Maio de 2010), o segmento cultural foi dedicado ao nosso Nobel da Literatura (nosso, por ser o primeiro, e até à data único, em língua portuguesa) José Saramago. Ao longo desse evento, ao falarmos de Saramago, citámos algumas frases memoriais do escritor, as quais levaram-me a reflectir, ainda mais uma vez, as nossas comunidades. Porque como o nosso Nobel da Literatura: não só escrevo - escrevo quem sou. Apesar de saber que somente escrever que sou leitor de José Saramago, que o aprecio imenso como escritor, será, para muita gente que nunca o leu, nunca o soube ler, um verdadeiro ultraje, um sacrilégio, utilizarei algumas das suas enunciações para tecer umas breves observações sobre as nossas comunidades portuguesas em terras californianas. Até porque nunca pedi nem permissão, nem desculpa, por aquilo e aqueles que li e que leio. Começo então com a expressão que me levou a esta reflexão e a escrever sobre uma das minhas paixões: as nossas vivências de comunidades emigrantes e luso-descendentes no multiculturalismo americano. Essa frase foi: as palavras não foram dadas aos homens para que escondessem os seus pensamentos. Como não sou de esconder pensamentos, aí vão algumas despretensiosas anotações. Para o bem e para o mau, as comunidades são parte da minha vida. Há muito anos

que as vivo, estudo, e reflicto. Aliás, recordome que na, não tão longínqua década de 1990, uma amiga minha disse-me, clara e inequivocamente: sai da comunidade porque ela aniquila muito do teu tempo e nunca serás uma pessoa de sucesso. Não segui a sua sugestão. Talvez o deveria ter feito, -até para sossego de muita gente. Porém não o fiz, e continuo mergulhado nas comunidades. Mas também nunca me preocupou o sucesso. Aliás, sucesso poderá ser definido de muitas formas. Mas o que nunca fiz, e nunca farei, é seguir os passos que muitos nestas nossas comunidades têm dado, ou seja: utilizá-las para seu próprio interesse, para construírem o seu próprio altar. E isso acontece nas formas mais variadas. Basta olharmos um pouco à nossa volta. É que tal como Saramago magistralmente escreve: O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses. Daí continuarmos, em muitos aspectos, rodeados dum amadorismo cada vez mais assustador. Porque, infelizmente, esse diletantismo serve para que muita gente, nestes nossos meios comunitários, permaneça, injustamente, em cargos de liderança. Se é verdade que em terra cegos quem tem um olho é rei; não é menos verdade que não somos uma comunidade de cegos e ao contrário do provérbio popular acredito mais na celebre frase do Nobel português: em terra de cego quem tem um olho acaba por cegar. Porque, como nos disse José Saramago “cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa,”’ persisti, durante vários anos, em direcções de algumas das nossas organizações e ainda trabalho com

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por DINIZ BORGES

muitas. Tem sido uma verdadeira escola, porque e ainda outra enunciação do Nobel português: se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. E reparei que um dos nossos infortúnios é termos pouquíssimo espírito crítico. É que ficámos tão entusiasmados com os auto-elogios que nos esquecemos de que a análise, a crítica positiva, a reflexão honesta e descomplexada são elementos imperativos para qualquer organização. Permitamme contar-vos um pequeno incidente que ocorreu quando fiz parte, durante mais de uma década, de uma das nossas organizações portuguesas aqui neste estado, e na região onde vivo. Tinha por hábito analisar o que se fazia, pedia que fôssemos mais meditativos, que pensássemos a organização e a comunidade que tínhamos e a que queríamos ter. Que olhássemos além dos interesses da comunidade de hoje e que construíssemos a comunidade de amanhã. Até cheguei a sugerir retiros culturais e sessões para preparação de futuros líderes. Claro que tudo isto era, para muita gente, uma simples chatice. E quando porventura se analisavam alguns eventos, algumas actividades, raramente se examinava a qualidade. O que era importante era a quantidade. Porque tudo tem o seu tempo, e o seu espaço, e nada pior do que se estar num lugar onde não nos querem, onde a exigência da qualidade é um estorvo, saí dessa direcção. Foi dito e redito, que depois da minha partida é que havia “paz na organização...nada se questionava...tudo corria lindamente.” Tanta paz que tudo o que se fez culturalmente durante pouco mais de uma década foi enterrado a sete pés. Tudo correu tão lindamente que hoje, nem a quantidade pode ser motivo de regozijo. Porque tal como afirmou Saramago: de repente o futuro tornou-se curto. As nossas comunidades precisam de examinarem-se, de mais reflexão. Com cada dia que se passa o futuro escapa-nos.

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OPINIÃO

Da América e das Comunidades

A Sagres em San Diego: uma visita que merecia mais Foi com grande alegria que tivemos conhecimento de que San Diego tinha sido a comunidade escolhida para receber este ano a N.P.R. Sagres e celebrar o Dia de Portugal, de Camões e da Comunidades Portuguesas em 2010. Como português e emigrante, conhecedor da comunidade e bem atento ao “modus vivendi” da comunidade luso-americana do condado de San Diego e, obviamente, do inteiro estado da Califórnia, entristeceu-me que os preparativos da visita a San Diego do navioescola e de S. Exa. o Embaixador de Portugal em Washington, hajam resultado em falhas de toda a ordem, especialmente no tocante ao protocolo que deveria ter pontificado durante as visitas e o qual nunca deveria ter omitido, pelo menos, a cerimónia que se impunha junto ao Monumento a João Rodrigues Cabrilho, dados os estreitos laços entre a Armada Portuguesa e o festival multi-nacional que comemora a chegada do primeiro europeu ao que hoje se chama a costa oeste americana. Falhas

deste calibre não são aceitáveis, exigindo-se melhores e mais bem elaboradas recepções tanto à chegada como à partida da Sagres. De nenhum modo se podem atribuir estas faltas a ignorância. Esta não é a primeira vinda da Sagres a San Diego e o que se fez nas visitas anteriores reflecte muito bem o nível de organização que é possível fazer se para isso ela for entregue a pessoas com a devida competência na comunidade. No entanto, nem tudo foi negativo. A presença da Sagres no porto de San Diego não podia ter representado melhor Portugal e a recepção a bordo foi, como sempre, um serão inesquecível. Alem disso, a presença do Embaixador de Portugal em Washington contribuiu para que o Dia de Portugal 2010 em San Diego jamais seja esquecido. José Maurício Lomelino Alves,

Comendador da Ordem do Mérito, Presidente emérito Portuguese Historical Center, expresidente do Cabrillo Festival

The Sagres in San Diego: a visit that deserved more It was with great jubilation that we learned that San Diego had been the community chosen to receive the N.P.R. Sagres and to celebrate the Day of Portugal, Camões and the Portuguese Communities 2010. As a Portuguese and an immigrant, versed on the community and well aware of the “modus vivendi” of the Portuguese community and luso-american in San Diego County and obviously of the entire state fo California, I was deeply saddened with the level of preparation for the visit of the Sagres and the Ambassador of Portugal in Washington. The results were evident by the many failures, especially, as it referred to protocol that should have been exercised during the visit, and wich in the minimum should have included a ceremony at the Monument of Jão Rodrigues Cabrilho, due to the strong ties that exist between the Portuguese navy and the multi-national festival that commemorates the arrival of the first European in what is now the West Coast of the United States. Failures of this caliber are not acceptable, nor can the lack of welcoming and sending off ceremonies for the Sagres be blamed on ignorance.

This is not the first trip of Sagres to San Diego. Past visits were defined by the level of organization that is possible, if such an event is coordinated by competent persons in the community. However, not all was negative, as the presence of the SAgres in the port fo San Diego could not have better represented Portugal, and the reception on board on the Sagres was as always, an unforgettable evening. Additionally, the presence of the Ambassador of Portugal contributed to the fact that the Portugal Day 2010 in San Diego will never be forgotten. José Maurício Lomelino Alves

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As nossas comunidades precisam de examinarem-se, de mais reflexão. Com cada dia que se passa o futuro escapanos. Estamos estáticos entre o saudosismo da comunidade emigrante que santifica a cultura popular, santificação que é particularmente abençoada pela nossa comunicação social (conclusão da página anterior)

Estamos estáticos entre o saudosismo da comunidade emigrante que santifica a cultura popular, santificação que é particularmente abençoada pela nossa comunicação social, e as novas gerações que se educam, que têm cada vez maior preparação e que olham para muito do que fazemos como acções de gueto e algumas até mesmo bastante medíocres. E todo o mundo sabe que mediocridade puxa mediocridade. Daí que não seja assim tão difícil compreender-se a razão (ou as razões) porque a vasta maioria dos nossos jovens (refiro-me aos jovens recentemente licenciados e doutorados - entre as idades dos 22 aos 33 anos) não têm o mínimo interesse em mergulhar nas nossas comunidades. Há que assumir-se essa realidade, a vastíssima maioria dos jovens adultos talentosos, afasta-se das vivências comunitárias e acho que todos nós sabemos porquê, só que ninguém quer falar nisso, nem assumir responsabilidades: daí mais uma frase de Saramago: o melhor caminho para uma desculpabilização universal é chegar à conclusão de que, porque toda a gente tem culpas, ninguém é culpado. Alguns dirão que isto é pessimismo, mas parafraseando José Saramago: os pessimistas é que mudam o mundo porque os optimistas estão sempre satisfeitos com tudo. Se não olharmos à comunidade com olhos que tenham algum espírito critico, jamais mudaremos o que é essencial mudar-se. Saramago escreveu que “a nossa maior tragédia é não saber o que fazer com o mundo.” Acho que é uma analogia perfeita para as nossas comunidades. *frase de José Saramago

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Passatempos

HUMOR

Palavras Cruzadas

No restaurante... Um sujeito vai a um restaurante e pede galinha. Quando o prato chega, ele reclama com o criado: — Mas o que é isto? Esta galinha tem uma perna maior que a outra! Ao que o criado responde: — Mas o senhor vai comer a galinha ou vai dançar com ela? No restaurante, o cliente visivelmente chateado com o prato que lhe foi servido, chama o empregado e diz-lhe: — Garçom, não consigo engolir esta comida. Chame imediatamente o gerente. — Não adianta — diz o empregado — ele também não vai conseguir...

Em viagem Um viajante a caminho do Algarve pára numa tasca Alentejana: — Arranje-me uma sandes de presunto sem manteiga, por favor! O homem vai à cozinha e na volta pergunta: — Desculpe lá! Pode ser sem margarina?

No avião No avião pergunta a hospedeira de bordo: — Aceita jantar, senhor? — Quais as opções? — pergunta o passageiro. — Sim ou não — diz a hospedeira.

Na escola Na primeira aula de catecismo na escola, pergunta a professora a um dos alunos: — Na sua casa, vocês rezam antes das refeições? — Não, senhora professora. Não precisamos. A minha mãe é uma óptima cozinheira. Na sapataria: — Boa tarde! Queria um par de sapatos... — De que número? — Os dois do mesmo, por favor!

Anedota picante

Esta anedota é mesmo picante. Só para maiores de 18 anos. Não nos responsabilizamos: — Malagueta, piripiri, pimenta e alho.

HORIZONTAIS:

FACTOS INTERESSANTES DO MUNDO LUSO

História - Geografia - Literatura - Música - Cinema - Desporto - Politica - Artes, etc. 1 - Príncipe português Soluções com multi-palavras usaadas juntas sem separações. ‘Da’ , ‘de’, ‘dos’ em nomes são consideradas como palavras individuais. assassinado com o pai (D. Carlos) em 1908. (2 palavras) 3 - Quantas são as ilhas desertas que integram o Arquipélago da Madeira? 6 - Ciclista português que em 1983 bateu o recorde de permanência em bicicleta e entrou no “Guiness World Book of Records” (2 palavras) 8 - Índios do território de Rondónia, Brasil. Habitam as margens do rio Uraricoera. 9 - O primeiro nome do músico brasileiro que ganhou o prémio “World Music dos Grammy Awards” em 2000? 11 - Sobrenome de Francisco e Jacinta, os 2 - Que ilha dos Açores é o ponto mais pastorinhos de Fátima. ocidental da Europa? 12 - Vila e sede de conselho no rio Ave 4 - Filme americano rodado em 1944 com (Porto). Vera Ralston, Richard Arlen e Robert 13 - O presidente de Cabo Verde em 2002. Livingston ( 3 palavras em inglês) (2 palavras) 5 - Quem sucedeu Óscar Carmona como 14 - Primeiro nome da fadista chamada a Presidente da República em1953? (2 ‘Santa do Fado’ nos anos 1920 e 30. palavras) 7 - Sede de conselhos em Faro (Continente) e Ponta Delgada (Açores). VERTICAIS: 10 - Antigo reino do tempo dos Mouros, 1 - O nome do iate comprado por João no sul de Portugal. Vale e Azevedo, quando era presidente do Benfica, que causou escândalo. (2 palavras 11 - A ilha ‘doirada’ em inglês)

- Quem ri por último... é de compreensão lenta.
 - Os últimos são sempre... desclassificados. 
 
-Quem o feio ama... tem que ir ao oculista. 
 
-Deitar cedo e cedo erguer... dá muito sono!

 - Filho de peixe... é tão feio como o pai.
 
- Quem não arrisca... não se lixa. 
 
- O pior cego... é o que não quer cão nem bengala. 

 - Quem dá aos pobres... fica mais teso.
 
- Há males que vêm... e ficam.

 - Gato escaldado... geralmente está morto. 
 
- Mais vale tarde... que muito mais tarde. 

 - Cada macaco... com a sua macaca.

 - Águas passadas... já passaram.
 - Depois da tempestade... vem a gripe.

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