Anuário de Pecuária 2023 - 2024

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ANUÁRIO DE PESQUISAS PECUÁRIA

RESULTADOS 2023-2024

Editores Técnicos

Amoracyr José da Costa Nuñez

João Restle

Patrick Bezerra Fernandes

Ubirajara Oliveira Bilego

Centro Tecnológico COMIGO

Geração e Difusão de Tecnologias

Rio Verde - GO - 2025

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano - COMIGO

Centro Tecnológico COMIGO

Av. Presidente Vargas, 1878, Jardim Goiás, Rio Verde - GO

CEP 75901-901 - CP 195

Fone: (64) 3611-1573 ou (64) 3611-1684 www.comigo.coop.br ctc@comigo.com.br

Periodicidade: anual

Volume 7, 2024

Tiragem: 500 exemplares

13a edição

Todos os direitos reservados.

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano - COMIGO

Centro Tecnológico COMIGO

ANUÁRIO DE PESQUISAS PECUÁRIA — RESULTADOS 2023–2024.

Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Centro de Ciência e Tecnologia COMIGO

Av. Presidente Vargas, 1878, Jardim Goiás, Rio Verde - GO

CEP 75901-901 - CP 195

Anuário de Pesquisas CTC Pecuária - Resultados 2023-2024

Editores Técnicos: Amoracyr José da Costa Nuñez, João Restle, Patrick Bezerra Fernandes, Ubirajara Oliveira Bilego - 11. Ed. - Rio Verde, GO: Centro Tecnológico COMIGO, 2023. 102 p.: il (algumas color).

Sumário

APRESENTAÇÃO

OCentro Tecnológico COMIGO (CTC), localizado no município de Rio Verde, Goiás, Brasil, é parte integrante da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (COMIGO). Sua missão é desenvolver pesquisas práticas e aplicadas voltadas ao setor agropecuário. Os estudos desenvolvidos no CTC têm como objetivo gerar recomendações de manejo, avaliar produtos comerciais e auxiliar a equipe técnica da COMIGO, composta por médicos veterinários, zootecnistas e agrônomos, no posicionamento correto e ético das novas tecnologias aplicadas às matérias-primas, como grãos de cereais, oleaginosas e plantas forrageiras, destinadas à nutrição de animais domésticos. Dessa forma, é possível impulsionar a segurança alimentar da população do Centro-Oeste, melhorar a sustentabilidade econômica e assegurar a disseminação adequada das informações para os cooperados vinculados à COMIGO. Além disso, o CTC atua como um elo entre ciência-extensão-campo, contribuindo para a modernização da agropecuária da região, ampliando a competitividade dos produtores e estimulando a adoção de práticas sustentáveis.

Da mesma forma, para ampliar a divulgação dos resultados das pesquisas realizadas no CTC, são promovidos eventos no próprio local de pesquisa, como a Tecnoshow COMIGO – Feira de Tecnologia em Agronegócio. A Tecnoshow COMIGO é hoje considerada uma das maio-

res feiras de tecnologia rural do Brasil, sendo um espaço estratégico para transferência de conhecimento, lançamento de novas tecnologias e fortalecimento das parcerias entre produtores, indústria e pesquisa.

Outro aspecto relevante é, ao longo do ano no CTC, também ocorrem workshops nas áreas de agropecuária, circuitos de inovação e dias de campo. Esses eventos reúnem cooperados, produtores da região, empresas parceiras da COMIGO, pesquisadores, professores e alunos de instituições de ensino superior do Sudoeste Goiano.

A geração dessas pesquisas só é possível porque o CTC, atualmente, mantém diferentes linhas de estudo e áreas de conhecimento, tais como: Manejo e Controle de Doenças das Culturas, Manejo de Pragas e Plantas Daninhas, Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, Fitotecnia, Produção Animal, Agricultura de Precisão, Forragicultura e Pastagem. Isso revela o comprometimento da equipe administrativa da COMIGO com o uso adequado dos recursos e com o foco na geração de conhecimento e pesquisa que impactam diretamente a comunidade em diversos aspectos. Essa diversidade de linhas de pesquisa possibilita ao CTC responder rapidamente às demandas emergentes do setor agropecuário, garantindo inovação constante, redução de riscos para os produtores e maior eficiência produtiva.

EDITORIAL

Ocenário geopolítico impactou diretamente a pecuária mundial, uma vez que houve grande instabilidade na variação dos insumos utilizados nessa cadeia produtiva. Assim, a pecuária de corte tornou-se desafiadora, pois resiste à pressão para manter sua viabilidade econômica e assegurar produção eficiente e sustentável de alimentos seguros para a sociedade. Diante disso, em razão do cenário oneroso da pecuária, as margens de lucro foram reduzidas, dificultando a expansão da atividade e, em alguns casos, até mesmo a permanência do pecuarista nesse segmento.

Baseado nessa realidade, surge a necessidade de verificar estratégias viáveis para promover o equilíbrio entre eficiência produtiva e sustentabilidade. Para isso, devem ser adotadas práticas de manejo que atuem nesse propósito. Nesta edição do Anuário da Pecuária, o pecuarista encontrará informações que oferecem possibilidades para tornar a produção animal a pasto sustentável, incluindo o uso de recursos forrageiros para a formação de pastagens com consórcios de leguminosas-gramíneas, além da utilização de biofertilizantes. Ao mesmo tempo, sob a perspectiva da manutenção da fertilidade do solo, esta edição mostrará que a pecuária, assim como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), pode alcançar níveis de fertilidade equivalentes aos de áreas destinadas exclusivamente à agricultura. Isso reforça a importância do manejo adequado da correção da acidez e

da manutenção da fertilidade do solo em áreas voltadas à produção de gado de corte.

Também serão apresentadas informações relevantes sobre a ILP e seu impacto na produção animal a pasto realizada em sucessão à lavoura de grãos, evidenciando que esse sistema é uma alternativa viável e promissora para intensificar o uso do solo de forma sustentável e eficiente. Isso ocorre porque é possível utilizar a área de cultivo durante a entressafra, período em que o monocultivo não é viável devido aos baixos volumes de precipitação. Com foco na intensificação animal, também serão trazidas informações sobre a produção de gado de corte em sistema de confinamento, destacando o impacto do manejo nutricional proposto na produção de carne ao final do ciclo produtivo.

Os artigos inseridos neste anuário foram escritos de forma clara e objetiva, com a finalidade de englobar produtores, pesquisadores, consultores, técnicos e alunos, para que o conteúdo seja assimilado de maneira espontânea e natural. Assim, o material elaborado por pesquisadores do CTC e convidados, oferece informações que podem contribuir com a rotina diária do pecuarista, auxiliando na tomada de decisões e no ajuste de estratégias para alcançar altos níveis de desempenho produtivo.

Boa leitura!

AGRADECIMENTOS

À Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano – COMIGO, pelas condições operacionais e financeiras de trabalho.

À equipe de apoio do Centro Tecnológico COMIGO, pelo esforço e dedicação, imprescindíveis na realização dos trabalhos.

Aos autores que contribuíram com a produção dos textos.

Aos parceiros de pesquisa da COMIGO.

À equipe da ASCOM - Assessoria de Comunicação da COMIGO.

Às equipes do Departamento de Assistência Técnica da COMIGO.

Às equipes do Suplemento Mineral COMIGO e das RAÇÕES COMIGO.

A todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho.

TABELA E GRÁFICO DE REGIME PLUVIOMÉTRICO

MANEJO RACIONAL DE BOVINOS DE CORTE

LOPES1, Carlos Emanuell Xavier; OLIVEIRA2, Jade Helena Plaza; FERREIRA3, Izabela Silva; NUÑEZ4, Amoracyr José Costa; BILEGO5, Ubirajara Oliveira

1 Graduando em Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG

Email: carlosemanuell@discente.ufg.br

2 Graduanda em Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG

Email: plazajade@discente.ufg.br

3 Graduanda em Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária – UniRV

Email: izabelasilvaferreira@gmail.com

4 Engenheiro Agrônomo, DSc. Professor Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFG

Email:ajcnunez@ufg.br

5 Médico Veterinário, DSc. Pesquisador Veterinário II, Centro Tecnológico COMIGO – COMIGOEmail: ubirajarabilego@ comigo.com.br

INTRODUÇÃO

Com o maior rebanho bovino comercial do mundo, o Brasil ocupa a posição de segundo maior produtor global de carne bovina, respondendo por 15,0% da produção mundial. Além disso, o país lidera o ranking de exportação de carne bovina, sendo responsável por 21,3% das exportações globais (ABIEC, 2025). Essa significativa presença da pecuária brasileira no mercado mundial de consumo e comercialização de carne coloca o Brasil em destaque entre consumidores exigentes, tanto no mercado interno quanto externo, que demandam melhores condições de produção, com menos sofrimento animal e maior bem-estar. Portanto, é crucial que os produtores se adaptem às crescentes exigências do consumidor, buscando oferecer um produto que atenda aos padrões dos mercados mais rigorosos, os quais, por sua vez, garantem os melhores retornos financeiros (Mendonça et al., 2017).

Mesmo nas etapas iniciais da cadeia produtiva, como nas compras de gado, observa-se uma crescente preocupação com o manejo de origem dos animais. Carvalho et al. (2020) destacam que os participantes de exposições e leilões, assim como aqueles que acompanham as vendas pela mídia, têm demonstrado um interesse crescente por informações sobre o manejo e o comportamento dos animais. Nesse contexto, torna-se essencial avaliar como os animais são tratados nesses eventos e observar suas reações ao serem retirados de seu ambiente natural. Um manejo adequado durante a recepção dos animais nos parques de exposições e leilões, quando realizado de forma cuidadosa, pode contribuir de maneira significativa para o sucesso das vendas, influenciando positivamente a percepção dos compradores sobre o bem-estar e a qualidade dos animais.

O bem-estar animal e a qualidade da carne estão profundamente interligados em todas as etapas da cadeia produtiva, desde o nascimento até o abate dos animais. Esse tema tem ganhado relevância nos âmbitos público, econômico e político, especialmente devido às mudanças no comportamento dos consumidores, que cada vez mais se preocupam com as condições nas quais os animais são criados, alimentados e abatidos (Bethancourt-Garcia et al., 2019a). De acordo com Mendonça et al. (2017), o es-

tresse pré-abate, causado por condições inadequadas de manejo e transporte, aumenta as perdas devido a hematomas nos animais e prejudica o processo de conversão do músculo em carne, o que compromete tanto a qualidade do produto quanto seu tempo de prateleira no varejo.

De acordo com Bethancourt-Garcia et al. (2019a), a ausência de programas específicos voltados ao bem-estar animal nas propriedades contribui para o aumento de hematomas, que estão diretamente relacionados a diversos fatores, como o gênero dos animais, as condições de transporte, o manejo na propriedade, falhas na manutenção de equipamentos e instalações, e a falta de capacitação dos trabalhadores responsáveis pelo manejo do gado. Os hematomas resultam em perdas econômicas significativas, pois as partes afetadas da carcaça precisam ser descartadas. Além disso, a carne proveniente de animais feridos ou abatidos em condições inadequadas de bem-estar perde características valorizadas pelos consumidores, deteriora-se mais rapidamente e pode se tornar imprópria para o consumo humano.

Bovinos submetidos a situações que gerem estresse durante o período pré-abate podem ter suas reservas musculares de glicogênio esgotadas, o que impede a queda natural do pH durante o processo de conversão do músculo em carne (Warner, 2016). Como resultado, a carne apresenta um pH elevado, o que compromete sua qualidade sensorial e reduz significativamente sua vida útil no varejo (Grandin, 2020). Segundo Jardim et al. (2022), animais com temperamento mais tranquilo tendem a apresentar maior ganho de peso, e níveis baixos de reatividade estão associados à diminuição de lesões, como hematomas na carcaça, o que ajuda a evitar perdas econômicas e mantém a qualidade do produto final. Em contrapartida, animais mais reativos geram custos de produção mais elevados devido ao desgaste excessivo das instalações, ao aumento de hematomas e à deterioração da qualidade da carne. Além disso, esses animais representam um risco maior de acidentes, tanto para os trabalhadores quanto para eles próprios.

CONCEITOS E APLICAÇÕES DAS TÉCNICAS DE MANEJO RACIONAL

Omanejo racional de bovinos baseia-se na compreensão dos comportamentos instintivos dos animais, o que exige um conhecimento aprofundado sobre como eles se comportam em seu ambiente natural e como reagem a mudanças nesse ambiente ou à presença de outros animais que possam ser percebidos como uma ameaça. Nesse contexto, destaca-se o conceito de ‘Zona de Fuga’, que representa o limite de proximidade tolerado pelo animal antes de considerar a presença de outro indivíduo como uma ameaça (FIGURA 1). A zona de fuga está diretamente ligada ao medo: quando uma possível ameaça ultrapassa ou pressiona esse limite, o animal tende a reagir movendo-se para aumentar a distância e reduzir a percepção de risco (Grandin & Deesing, 2008).

Grandin e Deesing (2008) também abordam o conceito de ‘Ponto de Equilíbrio’, uma linha virtual perpendicular ao eixo do corpo do animal que determina se ele se moverá para frente ou para trás (FIGURA 2). Quando o manejador está a uma distância maior, o ponto de equilíbrio localiza-se na região da escápula do animal. No entanto, à medida que o manejador se aproxima excessivamente, invadindo a zona de fuga, o ponto de equilíbrio desloca-se para uma área atrás dos olhos. Dessa forma, ao se posicionar atrás do ponto de equilíbrio e invadir a zona de fuga, o manejador faz com que o animal se mova para frente. Por outro lado, ao se aproximar pela frente do ponto de equilíbrio, o animal tende a se mover para trás, eventualmente girando para aumentar a distância do manejador. Dessa forma, para que o manejador inicie o movimento do animal para frente, ele deve deslocar-se do ponto A para o ponto B, invadindo a zona de fuga por trás do ponto de equilíbrio.

FIGURA 2. Demonstração da relação entre os conceitos de zona de fuga e ponto de equilíbrio. Fonte: Adaptada de Grandin & Deesing (2008).

Ao seguir os princípios do ponto de equilíbrio e da zona de fuga, o manejo no curral torna-se mais seguro e eficiente, podendo ser ainda mais otimizado com o uso de ferra-

FIGURA 1. Demonstração do conceito de “zona de fuga” em ovinos. Fonte: Grandin & Deesing (2008).

mentas auxiliares. Para o manejo de bovinos, recomenda-se o uso de ferramentas de maior comprimento, como a bandeira (FIGURA 3). Essa ferramenta nunca deve ser utilizada para bater ou cutucar os animais, mas sim como uma extensão do braço do manejador. Dessa maneira, a bandeira facilita o trabalho com a zona de fuga, permitindo ao manejador intensificar ou reduzir a pressão exercida sobre os animais, conforme necessário, garantindo um manejo mais eficaz e seguro (Grandin, 2019).

Outra ferramenta que pode ser empregada é o bastão elétrico, porém sua utilização deve ser restrita a situações excepcionais, quando o animal se encontra em condições específicas e todas as demais práticas de manejo racional já foram tentadas sem sucesso. O bastão elétrico pode ser utilizado, por exemplo, quando um animal se recusa a avançar, como na rampa que antecede o brete de contenção. Nesse caso, é essencial que o bastão não seja aplicado repetidamente no animal. Deve-se garantir que haja espaço livre à frente para que o animal possa se mover, e que a voltagem aplicada seja baixa o suficiente para não provocar vocalizações, mantendo o choque em níveis similares aos de uma cerca elétrica. O uso do bastão elétrico, em situações excepcionais, pode ser crucial para evitar estresse adicional e possíveis lesões no animal, que poderiam ocorrer devido a tentativas insistentes do manejador para fazê-lo se mover. Dessa forma, o bastão resolve a situação de maneira rápida, eficaz e sem causar danos ao animal. É igualmente importante ressaltar que o bastão não deve ser carregado constantemente pelo manejador, pois sua disponibilidade frequente pode incitar o uso inadequado ou desnecessário. O bastão elétrico deve ser armazenado e utilizado apenas quando for absolutamente necessário (Grandin, 2019; Grandin & Deesing, 2008).

De acordo com Grandin & Deesing (2008), todo o esforço dedicado a um manejo adequado pode ser completamente comprometido por falhas estruturais ou problemas pontuais nas instalações de manejo. Assim, é fundamental identificar e corrigir tais deficiências para garantir o sucesso das atividades. Para isso, é necessário compreender outros conceitos relacionados ao comportamento instintivo dos bovinos. De maneira geral, os bovinos não temem o que não conseguem visualizar, o que evidencia a importância de utilizar troncos fechados lateralmente com materiais como tábuas, papelão ou outros elementos que obstruam a visão. Isso impede que os bovinos vejam o manejador ou distrações externas (FIGURA 4), eliminando pontos de distração fora da rota pretendida e facilitando o manejo. Outro conceito relevante é o de “caminhos iluminados”, que sugere que os bovinos se sentem mais seguros ao se moverem por áreas mais claras. Essa característica pode ser explorada para conduzi-los de ambientes escuros para áreas mais iluminadas, estimulando seu deslocamento de forma natural. Além disso, fatores aparentemente simples para os humanos, como sombras no chão ou objetos no percurso, devem ser removidos, pois podem gerar resistência nos animais ao avançar por esses caminhos.

FIGURA 3. Manejo racional utilizando bandeira. Fonte: Acervo CTC (2024).
FIGURA 4. Tronco de manejo racional com visão lateral bloqueada. Grandin & Deesing (2008).

RELAÇÃO COMPORTAMENTAL

HOMEM-ANIMAL

O trabalho com gado é amplamente reconhecido como uma das principais causas de acidentes envolvendo seres humanos no ambiente rural. O manejo de bovinos representa uma interação complexa entre pessoas, animais e o ambiente em que estão inseridos, e o comportamento do tratador pode gerar reações de medo nos animais, afetando negativamente tanto a produtividade quanto o seu bem-estar. Evidências mostram que tratamentos inadequados ou agressivos podem desencadear reações adversas nos bovinos, além de aumentarem o risco de ferimentos. As consequências do medo induzido por um manejo inadequado frequentemente reforçam atitudes negativas dos tratadores em relação aos animais, perpetuando um ciclo prejudicial. A postura e atitude do tratador desempenham papel fundamental nessa interação, influenciando diretamente a forma como os animais são manuseados. Tratadores que demonstram atitudes positivas e empáticas tendem a impactar favoravelmente o comportamento dos bovinos, promovendo um manejo mais eficiente, seguro e harmonioso (Titterington et al., 2022).

O comportamento dos bovinos é influenciado por uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Por isso, é fundamental adotar técnicas de manejo eficientes, que incentivem comportamentos positivos nos animais e minimizem sua reatividade em relação aos humanos. A implementação de práticas de manejo adequadas é especialmente importante para evitar que os animais associem a presença humana a experiências negativas, sendo ainda mais eficaz quando introduzidas precocemente. Bovinos que vivenciam interações positivas com humanos desde os primeiros dias de vida tendem a ser menos reativos e mais adaptados ao manejo, o que contribui para operações mais seguras e produtivas (Ujita et al., 2021).

O manejo silencioso e a comunicação verbal reduzida são práticas recomendadas para minimizar riscos ao lidar com bovinos. É essencial evitar interações táteis forçadas, especialmente com o uso de objetos, pois essas ações podem provocar reações de medo nos animais, retardando

os procedimentos, como no caso de o animal “congelar”. Comportamentos humanos que aumentam o risco de ferimentos incluem puxar o cabresto, ação frequentemente associada a reações como cabeçadas, além do uso de práticas forçadas, como gritar, bater ou torcer o rabo por longos períodos. Essas interações aumentam significativamente a probabilidade de o tratador ser atingido por um coice, comprometendo a segurança do manejo (Titteringgton et al., 2022).

Ujita et al. (2021) conduziram um estudo com três grupos de novilhas, cada um submetido a diferentes tipos de manejo adaptativo, com o objetivo de avaliar os efeitos sobre o comportamento e a fisiologia dos animais. O primeiro grupo recebeu estímulos táteis diários por meio de escovação no tronco durante sete dias consecutivos, com 10 minutos de aplicação por animal por dia. O segundo grupo passou pelo manejo de passagem pelo tronco de contenção durante o mesmo período, enquanto o terceiro grupo, utilizado como controle, não recebeu nenhum tipo de manejo. Após um intervalo de sete dias do término da fase de manejo, todos os grupos foram levados ao curral para avaliação comportamental e análise da concentração de cortisol plasmático. Os resultados indicaram que os grupos submetidos ao manejo adaptativo demonstraram menor reatividade. Além disso, a análise dos níveis de cortisol plasmático, um hormônio diretamente associado ao estresse, revelou concentrações significativamente mais altas no grupo controle em comparação aos grupos que receberam o manejo.

Ceballos et al. (2018) ressaltam que a responsabilidade pelo manejo inadequado não deve ser atribuída exclusivamente ao tratador, pois muitos adquiriram suas habilidades por meio da prática, sem treinamento formal, acreditando que seus métodos não causam danos aos animais. Além disso, é comum que os tratadores percebam o bovino de corte como um animal perigoso e de difícil manejo. No entanto, as atitudes e comportamentos dos tratadores são fatores determinantes para o sucesso do manejo, o

bem-estar e a produtividade dos animais. Por isso, é fundamental compreender e aprimorar as interações entre humanos e animais nas atividades diárias das fazendas de gado de corte.

Em um estudo conduzido por Jardim et al. (2022), com duração de 490 dias, foram analisadas as respostas de bovinos submetidos a dois sistemas de manejo distintos: o manejo racional, baseado em boas práticas, e o manejo tradicional. Os resultados mostraram que os animais manejados de acordo com boas práticas apresentaram uma redução significativa no tamanho da zona de fuga entre o início e o final do período de avaliação. Em contraste, nos animais submetidos ao manejo tradicional, a zona de fuga aumentou no mesmo intervalo de tempo. Além disso, os bovinos sob manejo racional apresentaram escores comportamentais superiores aos do grupo que recebeu manejo tradicional. Os indicadores fisiológicos de estresse também apresentaram diferenças significativas: os níveis de glicose e cortisol no sangue diminuíram progressivamente nos animais sob manejo racional, enquanto os animais do grupo de manejo tradicional não apresentaram melhorias nesses parâmetros ao longo do estudo.

Um estudo conduzido por Probst et al. (2012) investigou os efeitos de um tratamento baseado em contato físico por meio de ‘toques suaves’ aplicados a bezerros de corte nas primeiras quatro semanas de vida, comparado a um grupo controle que não recebeu esse tipo de interação. O comportamento dos animais foi monitorado ao longo de 8,5 meses, e no 10º mês de vida, todos os bezerros foram abatidos. Os resultados demonstraram que os bezerros submetidos ao tratamento apresentaram uma redução significativa na distância de fuga em comparação ao grupo controle. Da mesma forma, durante a avaliação no box de insensibilização, os animais do grupo controle exibiram maior reatividade e tentativas de evasão, enquanto os bezerros tratados apresentaram comportamentos mais tranquilos. Esses resultados indicam que o contato humano precoce foi eficaz na redução do medo dos animais em relação aos humanos, resultando em comportamentos mais calmos, os quais se mantiveram evidentes até nove meses após o término do tratamento.

Ceballos et al. (2018) analisaram a qualidade do manejo em fazendas com base no nível de treinamento dos colaboradores, observando que as atitudes dos criadores

estavam diretamente associadas ao acesso a programas de capacitação sobre práticas de manejo. Isso sugere que iniciativas de treinamento podem desempenhar um papel fundamental na melhoria das atitudes e comportamentos dos tratadores. Nesse contexto, a postura da gerência surge como um fator crucial para a qualidade do manejo do gado. Os resultados indicaram que os manejadores que participaram de treinamentos formais obtiveram as melhores pontuações positivas e as menores pontuações negativas em relação ao manejo avaliado. Como era esperado, os indivíduos treinados demonstraram comportamentos mais adequados em relação ao gado em comparação àqueles sem treinamento ou orientação sobre boas práticas. Um achado interessante foi que, mesmo manejadores sem treinamento, mas que trabalharam diretamente com indivíduos capacitados, exibiram comportamentos mais positivos do que aqueles sem nenhum tipo de treinamento ou convivência com pessoas treinadas. Esse fenômeno sugere a ocorrência de facilitação social, imitação ou transferência de comportamentos apropriados.

No estudo de Ceballos et al. (2018) também foi observado que nas fazendas onde não houve treinamento, havia uma maior incidência de contenção agressiva, com uso excessivo de força na contenção da cabeça, além de práticas inadequadas na administração de injeções subcutâneas. Esses locais também registraram comportamentos indesejáveis nos animais, como tentativas de fuga e uma maior ocorrência de acidentes, especialmente com machos adultos mestiços. Um resultado relevante do estudo foi a piora na qualidade do manejo ao longo do dia, uma condição observada exclusivamente em fazendas sem treinamento. Isso ocorre porque os tratadores que compreendem e aplicam práticas de manejo racional tendem a enfrentar menos estresse durante o trabalho. Por outro lado, aqueles que não conhecem as técnicas adequadas mostram-se mais propensos ao estresse à medida que o período de manejo avança, o que resulta em atitudes mais negativas e prejudiciais.

Sob uma perspectiva econômica, os hematomas em bovinos representam perdas significativas para a indústria pecuária em diversos países. Essas lesões são frequentemente exacerbadas por práticas inadequadas de manejo ou pelo uso de instalações de embarque inadequadas nas propriedades de origem. Além disso, procedimentos adicionais, como os realizados em leilões para testes de

doenças em vacas, também contribuem para o aumento dessas ocorrências. A presença de hematomas resulta na necessidade de remoção de partes da carcaça durante o abate, o que diminui a quantidade de carne aproveitável, além de comprometer o bem-estar dos animais e evidenciar falhas nas práticas de manejo (Grandin, 2020).

A adoção de práticas de manejo adequadas contribui significativamente para a redução da ocorrência de hematomas e, consequentemente, dos prejuízos econômicos. Assim, é fundamental que os produtores invistam no treinamento contínuo da equipe e realizem inspeções regulares para garantir que as boas práticas de manejo e o bem-estar animal sejam efetivamente aplicadas. Isso não só minimiza a ocorrência de hematomas na carcaça, como também reduz o estresse associado ao manejo, promovendo um aumento na produtividade e prevenindo alterações fisiológicas que possam afetar a qualidade da carne (Bethancourt-Garcia et al., 2019b).

Bethancourt-Garcia et al. (2019b) realizaram uma análise das práticas de manejo aplicadas durante o processo de embarque na propriedade e observaram que a probabilidade de ocorrência de hematomas graves aumentava conforme as condições de manejo se deterioravam. Especificamente, as chances de hematomas foram 1,10 e 3,61 vezes maiores nas condições de manejo classificadas como ‘regular’ e ‘ruim’, respectivamente, quando comparadas às condições de manejo ‘bom’. Esses resultados indicam que uma grande parte dos hematomas encontrados nas carcaças dos animais ocorre durante o processo de pré-embarque. Quando as condições de manejo eram consideradas ‘regulares’ e ‘ruins’, os animais apresentaram, respectivamente, 81,4% e 119,4% mais hematomas graves em comparação àqueles que foram manejados adequadamente.

Ainda conforme Bethancourt-Garcia et al. (2019b), estruturas mal projetadas e a falta de manutenção adequada nas instalações representam riscos substanciais ao bem-estar e à produtividade dos animais. Enquanto os animais raramente sofrem lesões ao entrarem em contato com superfícies planas e lisas, a presença de pregos, parafusos, ângulos, tábuas quebradas e outras saliências expostas nas instalações aumenta significativamente a probabilidade de hematomas nas carcaças, pois o gado pode colidir com esses obstáculos durante o processo de carregamento. Instalações em condições de manutenção

‘ruins’ apresentaram maior probabilidade de causar hematomas graves nas carcaças quando comparadas às bem conservadas. A probabilidade de ocorrência de hematomas graves foi 1,41 vezes maior em instalações com manutenção ‘ruim’ em comparação com aquelas com manutenção ‘adequada’. Além disso, também foi observado que a contagem de hematomas graves por carga aumentou em 66,4% e 164,0% quando as condições de manutenção das instalações foram classificadas como ‘regulares’ e ‘ruins’, respectivamente, em comparação com instalações ‘boas’. Esses resultados demonstram que a presença de fatores predisponentes contribui consideravelmente para as perdas de carcaça devido a lesões. Portanto, é crucial que os produtores invistam na manutenção de suas instalações, garantindo boas condições de uso, o que resultará em redução significativa dos hematomas nas carcaças durante o carregamento.

Dada a importância econômica e ética de um manejo adequado, Grandin (2020) sugere a adoção de princípios que visam aprimorar essa prática, como os seguintes:

• Treinamento de pessoal: Capacitar os funcionários em técnicas de manejo com baixo estresse contribui para a redução de hematomas. O aprimoramento das atitudes dos trabalhadores em relação aos animais é essencial para diminuir o estresse e as lesões nos bovinos.

• Minimização do uso de bastões elétricos: Estes dispositivos devem ser utilizados exclusivamente em situações excepcionais, sendo guardados quando não estiverem em uso. Nunca devem ser aplicados em áreas sensíveis dos animais.

• Aplicação de princípios comportamentais no manejo: Utilizar conceitos como zona de fuga e ponto de equilíbrio facilita o movimento dos animais, tornando o manejo mais eficaz e seguro.

• Movimentação em pequenos grupos: Conduzir os animais em grupos menores reduz o risco de lesões por impacto e facilita a correção da direção caso algum animal se desvie.

• Proibição de arrastar animais: Nos frigoríficos, animais incapazes de se locomover devem ser atordoados antes de serem arrastados, a fim de evitar sofrimento adicional.

IMPLEMENTAÇÃO DO MANEJO RACIONAL NO

SISTEMA PRODUTIVO

Com base nas informações compiladas nesta revisão de literatura, destaca-se a relevância da adoção de técnicas de manejo racional no trabalho com gado de corte nas propriedades brasileiras. Três razões fundamentais sustentam essa implementação: 1) atender às crescentes exigências do mercado consumidor em relação ao manejo e ao bem-estar animal; 2) mitigar os prejuízos econômicos decorrentes da ocorrência de hematomas; e 3) garantir maior segurança aos trabalhadores envolvidos no manejo dos animais, reduzindo os riscos associados a essas atividades.

Para implementar o manejo racional em propriedades rurais e plantas frigoríficas, pode-se desenvolver um plano estratégico estruturado em etapas cronológicas, como segue:

1. Conscientização das gerências: Sensibilizar gestores de propriedades e frigoríficos sobre a importância e os benefícios do manejo racional, destacando as razões já mencionadas, como melhoria do bem-estar animal, redução de prejuízos econômicos e maior segurança para os trabalhadores.

2. Treinamento dos funcionários: Realizar programas de capacitação em manejo racional voltados aos colaboradores que lidam diretamente com o gado, enfatizando técnicas adequadas e os impactos positivos dessas práticas.

3. Manutenção das instalações: Promover melhorias simples e de baixo custo nas estruturas de manejo, como a eliminação de saliências perigosas, oclusão da vista lateral dos troncos de manejo e retirada de objetos e sombras do percurso dos animais.

4. Supervisão contínua: Estabelecer rotinas regulares de supervisão e cobranças para garantir que os funcioná-

rios apliquem as técnicas aprendidas no treinamento.

5. Avaliação de resultados: Monitorar os avanços por meio de relatórios periódicos, mensurando impactos como redução de lesões em animais e trabalhadores, aumento da satisfação dos funcionários e melhorias nos índices produtivos.

6. Investimentos em melhorias estruturais: Com base nos resultados positivos da etapa anterior, incentivar investimentos financeiros mais significativos para modernização e adequação das instalações de manejo.

7. Ciclo de feedback e continuidade: Repetir as atividades de supervisão e avaliação (etapas 4 e 5), reforçando continuamente os benefícios do manejo racional e garantindo que as práticas corretas sejam mantidas ao longo do tempo. Este ciclo assegura a percepção das vantagens e sustenta os investimentos no aprimoramento do manejo.

A velocidade de execução deste plano dependerá do nível de engajamento e conscientização da gerência em cada propriedade ou planta frigorífica. Contudo, à medida que o manejo racional for implementado, seus benefícios se tornarão evidentes, como demonstram os estudos mencionados nesta revisão. Isso deverá aumentar o comprometimento de gestores e funcionários, fomentando um ambiente de melhorias contínuas. A persistência será essencial para o sucesso desse plano estratégico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mudanças no perfil dos consumidores resultam em demandas cada vez maiores para a adoção de práticas sustentáveis que respeitem o bem-estar animal, o que aumenta a pressão sobre o setor pecuário para que se adapte aos rigorosos padrões produtivos exigidos pelos consumidores. Além dos aspectos éticos, o impacto econômico da adoção de boas práticas de manejo é significativo, especialmente quando se considera os prejuízos causados pelo descarte de carne devido à ocorrência de hematomas, bem como pela perda de qualidade da carne resultante das alterações fisiológicas em animais estressados.

Esse cenário destaca a necessidade urgente de implementar e manter práticas de manejo racional em toda a cadeia produtiva pecuária, com o objetivo de garantir o bem-estar dos animais, a qualidade da carne e a aceitação do público, que legitimamente exige um tratamento adequado para os animais, sem estresse ou sofrimento

REFERÊNCIAS

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durante a manipulação pelos criadores e colaboradores. Diversos estudos comprovam a eficácia do manejo racional, com benefícios tanto para os animais quanto para os profissionais envolvidos, o que promove um ambiente de trabalho mais seguro, eficiente e livre de estresse.

Portanto, é fundamental que os gestores de propriedades pecuárias e plantas frigoríficas invistam na capacitação contínua de seus colaboradores, garantindo que as técnicas de manejo racional sejam aprendidas e aplicadas corretamente. Além disso, é essencial a implementação de sistemas de fiscalização eficazes para assegurar que essas práticas sejam rigorosamente seguidas. Com essas medidas, o sistema produtivo será capaz de fornecer carne de alta qualidade, respeitando os direitos dos animais ao bem-estar e à criação livre de estresse.

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IMPACTOS DA MOSCA-DOS ESTÁBULOS NA

PECUÁRIA

OLIVEIRA1, Jade Helena Plaza; LOPES2, Carlos Emanuell Xavier; OLIVEIRA2, Jade Helena Plaza; FERREIRA3, Izabela Silva; NUÑEZ4, Amoracyr José Costa; FERREIRA5, Reginaldo Nassar; BILEGO6, Ubirajara Oliveira

1 Graduanda em Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG; Email: plazajade@discente.ufg.br

2 Graduando em Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG ; Email: carlosemanuell@discente.ufg.br

3 Graduanda em Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária – UniRV; Email: izabelasilvaferreira@gmail. com

4 Engenheiro Agrônomo, DSc. Professor Adjunto, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia – UFG; Email:ajcnunez@ ufg.br

5 Médico Veterinário, DSc. Professor Titular, Instituto de Ciências Biológicas; Email: reginaldo_nassar_ferreira@ufg.br

6 Médico Veterinário, DSc. Pesquisador Veterinário II, Centro Tecnológico COMIGO – COMIGO; Email: ubirajarabilego@ comigo.com.br

Apecuária de corte no Brasil estabeleceu-se como uma atividade econômica significativa, contribuindo para o saldo positivo da balança comercial do país. Com o objetivo de maximizar a produtividade e atender à crescente demanda por carne de qualidade, o confinamento tem se tornado uma importante ferramenta. Segundo a ABIEC (2023), o número de bovinos confinados passou de 7,2 milhões em 2021 para 7,62 milhões de cabeças em 2022.

Sendo amplamente adotado para otimizar a produção, é pertinente destacar que bovinos confinados são expostos a alguns desafios. A partir disso, as pesquisas sobre os impactos da Stomoxys calcitrans (Figura 1), popularmente conhecida como mosca-dos-estábulos na pecuária de corte, têm se intensificado em função dos prejuízos econômicos que a espécie provoca e de seu papel como transmissora e potencial vetor de doenças (ODA; ARANTES, 2010). Nesse cenário, a compreensão da biologia e do comportamento dessa mosca é fundamental para práticas de manejo adequadas e eficientes nas propriedades.

FIGURA 1 – Fêmea adulta Stomoxys calcitrans.

Fonte: Adaptado de Rochon et al., 2021.

Com tamanho entre 4-7 mm, as moscas adultas desta espécie apresentam coloração cinzenta. A probóscide, altamente quitinizada e projetada para a frente, representa uma adaptação morfológica para a alimentação, permitindo que a mosca perfure a pele do hospedeiro (Figura 1). Diferentemente da mosca doméstica (Musca domestica), esta espécie possui aparelho bucal picador devido ao hábito alimentar distinto e apresenta abdômen mais curto. Em relação à mosca-dos-chifres (Haematobia irritans), esta espécie é maior e possui particularidades comporta-

mentais durante o processo de alimentação no hospedeiro (KOLLER et al., 2009).

Nativa da África, a mosca-dos-estábulos tem se espalhado mundialmente. Trata-se de uma espécie altamente influenciada pelas condições ambientais, apresentando um pico populacional no Brasil em novembro ou dezembro. A ocorrência dessas moscas é frequentemente atribuída a sistemas de produção que apresentam falhas no manejo de seus substratos, resíduos e subprodutos (BARROS et al., 2023).

A oviposição e o desenvolvimento larval estão associados à presença de resíduos orgânicos de origem vegetal ou animal em processo de decomposição, sob condições de elevada umidade e temperatura variando entre 15 e 30 °C. O ciclo biológico é composto pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto (Figura 2). A oviposição ocorre em massa, com no mínimo 20 ovos por grupo em substrato orgânico, permitindo que cada fêmea produza entre 500 e 1.000 ovos ao longo de sua vida. O ciclo completo se estende por um período de 2 a 3 semanas, enquanto a longevidade média do adulto varia entre 15 e 30 dias (KOLLER et al., 2009).

FIGURA 2 – Ciclo biológico da Stomoxys calcitrans.

Fonte: Koller et al., 2009.

O desenvolvimento larval da mosca-dos-estábulos não é favorecido pelas fezes bovinas frescas presentes nas pastagens. No entanto, a combinação de esterco e urina do gado com resíduos de ração e outros compostos orgânicos cria um ambiente propício para a proliferação dessas moscas. Vale ressaltar que o descarte desses substratos sem tratamento adequado ou sem proteção contra a chuva favorece a fermentação e aumenta a atratividade para a oviposição. Essa disponibilidade contribui para a manu-

tenção de populações locais e justifica os elevados níveis de infestação em sistemas de confinamento (BARROS et al., 2023).

Os adultos da mosca-dos-estábulos apresentam hábito alimentar hematófago. A perfuração da pele é facilitada por dentes labiais afiados e endurecidos, que permitem o acesso ao sangue. Equinos e bovinos são os hospedeiros preferenciais, comumente atacados nos membros inferiores. No entanto, em situações de alta densidade populacional, outras regiões do corpo, como as orelhas, também são utilizadas como fonte de alimento (KOLLER et al., 2009). Uma característica distintiva da espécie é a orientação com a cabeça voltada para cima durante a alimentação, em contraste com a mosca-dos-chifres (Haematobia irritans), que adota a postura inversa (Figura 3) (ROCHON et al., 2021).

FIGURA 3 – Mosca-dos-estábulos se alimentando com cabeça para cima (A) e mosca-dos-chifres se alimentando com cabeça pra baixo (B).Fonte: Rochon et al., 2021.

A ausência de componentes anestésicos na saliva de Stomoxys calcitrans resulta em picadas mais dolorosas em comparação com outros insetos hematófagos. A frequência alimentar varia em função da temperatura, ocorrendo uma vez ao dia em condições de baixa temperatura e duas vezes ao dia em condições de temperaturas mais elevadas. Após a alimentação, os adultos exibem comportamento característico de repouso em locais como estábulos, árvores, celeiros e cercas, diferenciando-se de outras moscas, que permanecem continuamente sobre o hospedeiro (ROCHON et al., 2021).

As picadas das moscas induzem fortes comportamentos defensivos e estresse fisiológico nos animais. Barros et al. (2010) revelam que, durante os surtos de Stomoxys calcitrans, observa-se um agrupamento do rebanho, que visa

proteger as patas dos animais, que é o local mais afetado, além de sacudir a cauda, contrair a pele e bater os membros inferiores. Tal comportamento intensifica o estresse por calor, responsável pela diminuição do ganho de peso, enquanto o desconforto e o gasto energético com os movimentos contribuem para o restante das perdas.

Além dos impactos diretos sobre o bem-estar e a produtividade animal, a capacidade da mosca-dos-estábulos de atuar como vetor de patógenos representa uma preocupação adicional. O modo de transmissão dos patógenos é mecânico, o que requer a interrupção da alimentação em um hospedeiro infectado e a subsequente alimentação em um hospedeiro não infectado em curto intervalo de tempo. A picada dolorosa leva a interrupções frequentes, e a proximidade física entre os animais facilita esse ciclo completo de transmissão (ROCHON et al., 2021).

Nas últimas cinco décadas, foi observado um aumento na frequência de surtos de mosca-dos-estábulos no Brasil, concentrando-se nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Esses registros tendem a ser associados à presença de usinas de cana-de-açúcar, que geram resíduos e subprodutos que favorecem o desenvolvimento das moscas em larga escala. O levantamento feito por Barros et al. (2023) destaca a evolução dos surtos registrados de 1971 a 2020 (Figura 4).

FIGURA 4 – Evolução dos surtos de Stomoxys calcitrans no Brasil em 50 anos. Fonte: Barros et al. (2023).

Conforme evidenciado, a disponibilidade e a adequação dos substratos orgânicos gerados durante o processo de produção de etanol nas usinas de cana-de-açúcar estão correlacionadas à alta densidade populacional de Stomoxys calcitrans. Ainda que a mosca seja capaz de se desenvolver na fração fibrosa da cana-de-açúcar, os substratos mais favoráveis são a torta de filtro e a palha da cana combinadas com a vinhaça, que proporcionam um ambiente úmido, favorecendo uma capacidade produtiva consideravelmente elevada (BARROS et al., 2023).

Resultante do processo de destilação do álcool, a vinhaça é o principal subproduto na produção de etanol, com produção estimada entre 10 e 11 L de vinhaça para cada litro de álcool produzido. Historicamente, o descarte da vinhaça era feito em corpos d’água e áreas de resíduos, mas a prática foi vedada devido aos efeitos prejudiciais ao meio ambiente. Entretanto, muitos locais ainda apresentam acúmulo desse subproduto (Figura 5). Como alternativa, a vinhaça passou a ser utilizada na fertilização e irrigação de lavouras de cana-de-açúcar, técnica conhecida como fertirrigação (SOUZA et al., 2021).

Ademais, a palha da cana-de-açúcar não era considerada um resíduo significativo devido à prática da queima pré-colheita. Contudo, a partir do final da década de 1990, a legislação ambiental brasileira restringiu essa prática por motivos ambientais. Com o uso crescente da vinhaça na fertirrigação e a diminuição da queima pré-colheita, houve acúmulo de matéria vegetal em decomposição, um substrato favorável para o desenvolvimento de Stomoxys calcitrans (DOMINGHETTI et al., 2015).

Em continuidade com o levantamento feito por Barros et al. (2023), a proximidade geográfica entre as instalações de confinamento e as usinas de cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça representa um risco para o desenvolvimento em larga escala da mosca e facilita a migração, favorecendo o rápido crescimento populacional. Um estudo em ambiente controlado estimou que a produção pode variar de 1.000 a 13.000 moscas por tonelada de palha de cana combinada com a vinhaça, resultando em uma densidade potencial entre 10.000 e 130.000 moscas por hectare.

Em contraste com os surtos de Stomoxys calcitrans observados em usinas de etanol, os sistemas integrados de lavoura-pecuária (ILP) apresentam menor intensidade, abrangência e duração. Contudo, a crescente adoção desse sistema sugere um potencial aumento na frequência de surtos, visto que a combinação dos resíduos do plantio, juntamente com dejetos bovinos e umidade, cria um ambiente propício para a proliferação da mosca-dos-estábulos. Os estados da região Centro-Oeste têm apresentado surtos relacionados a esse sistema de produção. Entre 2011 e 2020, 16 surtos foram notificados, sendo quatro deles no estado de Goiás (BARROS et al., 2023).

Em condições de infestações naturais, observa-se uma média inferior a 30 moscas por hospedeiro, durante um período limitado de semanas. Em casos de surtos, podem ocorrer centenas de moscas por animal ao longo de meses. As perdas econômicas anuais para a pecuária brasileira, sem contabilizar os prejuízos causados por surtos, são estimadas em US$ 335 milhões (BARROS et al., 2023). Um conjunto de medidas preventivas e de controle da mosca-dos-estábulos em usinas de cana-de-açúcar e fazendas foi apresentado. A maior parte dessas recomendações concentra-se em práticas de manejo ambiental que visam eliminar ou tornar menos favoráveis os ambientes propícios ao desenvolvimento das larvas. No caso dessas moscas, a ação preventiva é a abordagem mais eficaz.

No contexto das usinas de cana-de-açúcar, a dosagem de vinhaça a ser aplicada não deve basear-se exclusivamente na concentração de potássio do solo, devendo também considerar a umidade nele presente. Outras medidas recomendadas incluem a incorporação da palha de cana-de-açúcar no solo, o manejo da torta de filtro, a aplicação fracionada da vinhaça e a manutenção de canais de vinhaça a céu aberto. Todavia, a validação da eficácia

FIGURA 5 – Área de canavial com grande quantidade de vinhaça empoçada no município de Borá - SP. Fonte: Bittencourt, 2012.

dessas práticas em condições reais de campo ainda requer o desenvolvimento de metodologias apropriadas (BARROS et al., 2023; DOMINGHETTI et al., 2015).

Entretanto, é importante ressaltar que, uma vez estabelecido o surto de Stomoxys calcitrans, o seu controle torna-se desafiador. A prevenção em sistemas de produção depende da implementação de manejo sanitário, incluindo o tratamento adequado dos dejetos de animais confinados e dos resíduos de ração. Recomenda-se que as propriedades pecuárias intensifiquem as práticas de higiene das instalações e áreas adjacentes, incluindo a remoção do esterco acumulado, dos restos de ração nos cochos e o tratamento adequado do material. Estratégias como esterqueiras, biodigestores ou a cobertura dos montes de esterco com lonas, associadas ao revolvimento do material e à drenagem da água da chuva, reduzem a atratividade para Stomoxys calcitrans (BITTENCOURT, 2012; KOLLER et al., 2009).

Os produtores frequentemente recorrem ao controle químico como principal medida contra a mosca-dos-estábulos, embora essa prática não seja considerada sustentável ou rentável. Os inseticidas comercialmente disponíveis são eficazes contra as larvas, mas a falta de registro e autorização para diferentes culturas limita seu uso. Além disso, o controle químico sobre as moscas adultas mostra-se ineficiente, uma vez que a aplicação deve ser realizada nos animais, sendo o produto rapidamente removido, ou em áreas onde as moscas se refugiam, o que também é proibido por razões ambientais (BARROS et al., 2023).

A resistência a inseticidas em Stomoxys calcitrans desenvolveu-se progressivamente em decorrência da exposição indireta a compostos químicos originalmente destinados ao controle de outros ectoparasitas bovinos.

Entretanto, o uso intensivo de inseticidas em propriedades rurais e em usinas de cana-de-açúcar intensificou a pressão seletiva, elevando a resistência a níveis sem precedentes. No cenário atual, observa-se escassez de estudos acerca da suscetibilidade populacional dessas moscas, principalmente em virtude da dificuldade de se coletar um número adequado de indivíduos, uma vez que estes permanecem por curtos períodos nos hospedeiros (BARROS et al., 2019). A utilização de brincos inseticidas mostra-se ineficiente devido às particularidades do comportamento alimentar da mosca-dos-estábulos. Conforme já mencionado, a preferência por se alimentarem nos membros inferiores dos hospedeiros, aliada ao hábito de se refugiarem em ambientes diversos e distantes, dificulta o contato dessas moscas com os inseticidas presentes nos brincos.

O controle da mosca-dos-estábulos por métodos não químicos apresenta desafios relacionados à falta de disponibilidade comercial e à demanda de mão de obra. Dentre esses métodos, as armadilhas são utilizadas para monitorar, amostrar e gerenciar a densidade populacional da área. O sucesso dessas armadilhas, que empregam a atração visual (fibra de vidro) e estimulantes olfativos, depende do posicionamento adequado, do número de armadilhas por área, da manutenção de rotina e do conhecimento dos padrões sazonais das moscas na região (ROCHON et al., 2021).

Em suma, à medida que novos métodos são desenvolvidos e os avanços tecnológicos se encontram em constante evolução, torna-se imprescindível o trabalho conjunto dos setores envolvidos. Os impactos de Stomoxys calcitrans na pecuária não são recentes, e sua adaptabilidade demanda abordagens eficazes para mitigar os prejuízos econômicos, preservar o bem-estar dos animais e manter sua eficiência produtiva.

REFERÊNCIAS

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ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS PARA PAS-

TOS CULTIVADOS EM REGIÕES DE CLIMA

TROPICAL: REVISÃO

FERNANDES¹, Patrick Bezerra; BILEGO², Ubirajara Oliveira, ³BACKES, Clarice

1 Zootecnista, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador Agronômico I do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde, GO. E-mail: patrickbezerra@comigo.coop.br

2 Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador em Produção Animal do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde, GO. E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br

3 Agrônoma, Dra. em Produção vegetal, Professora do Programa de Pós-graduação em Produção Animal e Forragicultura, Universidade Estadual de Goiás – Campus de São Luís de Montes Belos, São Luís de Montes Belos, GO. E-mail: clarice. backes@ueg.br

INTRODUÇÃO

Os pastos de clima tropical cultivados no Brasil, apesar de apresentarem altos níveis de carboidratos estruturais, o que contribui para elevações nas frações de fibra em detergente neutro (FDN) e baixo teor energético, exibem alto potencial para contribuir para a segurança alimentar. Isso se deve ao metabolismo C4, característico das gramíneas cultivadas nessas condições, que permite elevada assimilação de carbono (C) atmosférico e consequente produção de massa de forragem. Esse recurso constitui a base da alimentação de ruminantes domésticos (ARAÚJO et al. 2022; SILVA et al., 2022), frequentemente utilizados na produção de proteína animal (carne e leite), que por sua vez é essencial para a alimentação humana.

Contudo, em regiões de clima tropical, como no Cerrado brasileiro, não existem recursos forrageiros nativos naturalmente adaptados ao pastejo. Assim, o material genético utilizado como fonte de volumosos provém majoritariamente de pastos cultivados, compostos principalmente por cultivares de Brachiaria spp. (sin. Urochloa spp.) e Panicum maximum (sin. Megathyrsus maximus) Para que esses gêneros expressem seu máximo potencial forrageiro, é necessário o suprimento adequado de nutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), entre outros (SOUSA et al., 2022; ALMEIDA et al., 2023; ALMEIDA et al., 2024). No entanto, os solos do Brasil, especialmente na região Centro-Oeste, apresentam baixos níveis de fertilidade natural, caracterizados por menores frações de matéria orgânica no solo (MOS) e baixa disponibilidade de P (CORREIA et al., 2004). Diante disso, a reposição de nutrientes

via adubação torna-se fundamental para manter a produtividade das pastagens, sendo geralmente realizada com o uso de fertilizantes inorgânicos ou sintéticos.

Apesar dos benefícios proporcionados por esses fertilizantes, como o aumento da atividade fotossintética com a aplicação de ureia, que resulta em maior área foliar e acúmulo de forragem (CAMARGO et al., 2022), e a disponibilidade de P inorgânico, que favorece o desenvolvimento do sistema radicular durante a fase de implantação do pasto (FENG et al., 2025), seu uso representa um alto custo para os produtores, especialmente em cenários adversos da geopolítica internacional, como conflitos bélicos que afetam diretamente sua oferta e preço (SHETH e USLAY, 2023).

Diante disso, torna-se necessária a busca por alternativas que substituam ou ao menos mitiguem o uso de fertilizantes inorgânicos. Uma opção promissora é o uso de fontes orgânicas oriundas da agroindústria, que gera resíduos ricos em macronutrientes como N, P e K (SILVA et al., 2023). Além disso, a introdução de leguminosas forrageiras também pode trazer benefícios, uma vez que essas plantas estabelecem simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio (FBN).

Assim, o objetivo desta revisão de literatura é apresentar os principais aspectos relacionados ao uso de adubos orgânicos, com o intuito de substituir ou reduzir o uso de fertilizantes inorgânicos, bem como discutir a formação de consórcios em pastos de clima tropical, cultivados no Cerrado brasileiro.

ADUBOS ORGÂNICOS UTILIZADOS EM

PASTOS DE CLIMA TROPICAL

A produção animal em sistemas intensivos gera um volume expressivo de resíduos orgânicos, constituídos principalmente pelas dejeções dos animais (urina e fezes), além de restos de ração desperdiçada. Esses resíduos apresentam alto potencial de contaminação ambiental quando descartados de forma inadequada. Contudo, por serem ricos em matéria orgânica, contêm também quantidades expressivas de N, P e K, que podem ser aproveitados como

fertilizantes na produção de grãos e forragem em sistemas agropecuários (BEZERRA et al., 2017). No entanto, antes de serem utilizados como biofertilizantes, é necessário que os dejetos passem por um processo de fermentação, com o objetivo de reduzir a presença de microrganismos patogênicos (MOREIRA et al., 2025). Após esse período de fermentação, o biofertilizante pode ser aplicado em áreas destinadas à produção vegetal (Figura 1).

Figura 1. Modelo conceitual da cadeia de geração e reaproveitamento de resíduos orgânicos da produção animal intensiva em áreas de pastagem (Adaptado de MOREIRA et al., 2025).

A utilização de dejetos ou estercos oriundos da produção animal como fonte de N ainda não está totalmente consolidada. Segundo Gomes et al. (2018), a substituição da ureia por esterco bovino (0; 25; 50; 75 e 100%) resultou em redução de até 46,66% no rendimento forrageiro do capim-marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu), indicando baixa eficiência do esterco como fonte exclusiva de N para essa gramínea. Em contrapartida, no manejo do P, os resultados têm sido mais promissores. Para o capim-vitória (Brachiaria brizantha cv. Vitória), a combinação da correção da acidez do solo com calcário e a aplicação de esterco bovino permitiu reduzir a necessidade de P inorgânico, promovendo aumento na produção de forragem (SOUZA et al., 2010).

De forma semelhante, o capim-mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça), uma espécie de elevada exigência nutricional, apresentou bom desempenho com a substituição parcial (75%) e total (100%) da adubação fosfatada por cama de frango. De acordo com Tomazello et al. (2023), a adubação orgânica proporcionou acúmulos diários de forragem superiores a 100 kg/ha/dia, resultado mantido por dois anos consecutivos. Esses dados sugerem que, enquanto a substituição do N sintético por fontes orgânicas ainda apresenta limitações, mesmo em gramíneas de exigência moderada, como o capim-ma-

randu. Por outro lado, a substituição do P inorgânico por fontes orgânicas tem maior potencial de sucesso em sistemas de produção de plantas forrageiras.

Apesar da resposta positiva e acelerada ao uso de fontes orgânicas como fonte de P na adubação de pastagens, ainda persiste uma questão que necessita de maior compreensão: os efeitos sobre a composição química do solo, especialmente em regiões de clima tropical. Para que a adubação promova alterações significativas nos atributos químicos do solo, principalmente nas camadas mais profundas (20 a 40 cm), é necessária a aplicação contínua de fertilizantes orgânicos. Isso ocorre porque o aumento desejado nas frações de MOS e P não é atingido em curto prazo. Essa limitação foi observada por Rigo et al. (2019), ao utilizarem cama de frango, dejetos de suínos e composto orgânico em áreas sob sistema de integração lavoura-pecuária, onde os efeitos benéficos foram restritos às camadas superficiais do solo. Corroborando esses achados, Rodrigues et al. (2024), ao avaliarem o uso de resíduo de sangue da indústria frigorífica como fonte alternativa de P na adubação de pastagens de capim-marandu, constataram que, embora o produto apresente potencial para mitigar a dependência de fontes inorgânicas, não foram observados incrementos nas frações de MOS, P e K ao longo do perfil do solo.

Benefícios dos consórcios para a formação de pastos de clima tropical

Geralmente, no Cerrado brasileiro, durante a entressafra, período caracterizado pela estação seca, ocorre uma redução na disponibilidade de forragem superior a 60% quando comparado ao período chuvoso (MONTAGNER et al., 2012; EUCLIDES et al., 2022). Entretanto, alternativas como os sistemas consorciados têm se mostrado eficazes para

mitigar essa limitação. Por meio dessa estratégia, é possível produzir silagem de melhor qualidade, graças à introdução de leguminosas forrageiras (Figura 2A). Além disso, as leguminosas forrageiras adaptadas ao clima tropical apresentam plasticidade fenotípica, permitindo sua coexistência com gramíneas para o pastejo (Figuras 2B e 2C).

Figura 2. A: consórcio triplo entre milho (Zea mays), feijão-guandu (Cajanus cajan) e capim-zuri (Panicum maximum cv. BRS Zuri) (SILVA et al., 2024). B: consórcio entre capim-tamani (Panicum maximum cv. BRS Tamani) e estilosante-bela (Stylosanthes guianensis) (imagem cedida por Luciana Maria da Silva). C: mix de gramíneas de clima tropical com feijão-guandu (imagem cedida por Clarice Backes).

Após a colheita da silagem em diferentes arranjos de consórcios (I) milho (Zea mays) , feijão-guandu (Cajanus cajan) e capim-paiaguás (Brachiaria brizantha cv. BRS Paiaguás) ; (II) milho com capim-paiaguás; e (III) feijão-guandu com capim-paiaguás, observou-se que, durante a seca, a disponibilidade de forragem do capim-paiaguás foi semelhante entre os consórcios,

com média de 3,73 t/ha (Figura 3; FERNANDES et al., 2023). Complementando esses achados, Rezende et al. (2022) relataram que o consórcio entre capim-paiaguás e feijão-guandu não apenas resulta em maior produtividade, mas também proporciona maior eficiência na utilização de nutrientes essenciais como N, P e K, tornando-se uma estratégia e economicamente viável.

Figura 3. Consórcio entre duas gramíneas e uma leguminosa visando a produção de grãos, silagem e pasto em sistema de integração lavoura-pecuária. MGC: consórcio entre milho, feijão guandu e capim-paiaguás. MC: consórcio entre milho e capimpaiaguás. GC: feijão guandu e capim-paiaguás. NDT: nutrientes digestíveis totais. PB: proteína bruta (Adaptado de FERNANDES et al., 2023).

Outros consórcios também têm se destacado em diferentes condições edafoclimáticas. A análise cumulativa de todos os cortes indicou que o consórcio entre capim-elefante (Pennisetum purpureum) e a cultivar Bela (Stylosanthes guianensis) apresentou a maior produtividade de forragem, com 13,49 t/ha. Esse desempenho foi atribuído ao aumento populacional da cultivar Bela ao longo dos cortes, demonstrando superioridade em relação a adubação nitrogenada realizada de forma convencional (BEZERRA et al., 2024). Com base nesses resultados, o consórcio entre capim-elefante e a cultivar Bela é recomendado como uma das estratégias mais eficazes para maximizar a produção de forragem, especialmente em regiões com baixos volumes de precipitação.

Além do aumento na produção, o uso de leguminosas forrageiras também pode contribuir para a melhoria da fertilidade do solo, especialmente em áreas de pastagens degradadas. No caso da sobressemeadura de feijão-guandu em pastos de capim-decumbens (Brachiaria decumbens) , combinada com a adubação inor-

CONCLUSÃO

Diante da crescente demanda por práticas agropecuárias mais sustentáveis, torna-se evidente a importância de estratégias que reduzam a dependência de fertilizantes inorgânicos em pastagens tropicais. O uso de adubos orgânicos, apesar de apresentar limitações, especialmente na substituição do N, tem demonstrado bom potencial na adubação fosfatada. Já os consórcios

gânica com P, foram obtidos aumentos nas frações de P no solo, em comparação ao manejo sem a leguminosa (FERNANDES et al., 2025). Esse resultado pode ser explicado pela capacidade do feijão-guandu de acessar formas não lábeis de P, por meio da liberação de exsudatos radiculares e da associação microrganismos solubilizadores de nutrientes (SHIBATA e YANO, 2003). Dessa forma, o uso de leguminosas forrageiras representa uma estratégia promissora não apenas para suprir nutrientes de forma mais sustentável, mas também para reduzir a dependência de fertilizantes inorgânicos em sistemas de clima tropical (AE et al., 1991; MYAKA et al., 2006).

Menezes et al. (2015) reforçam esses benefícios ao demonstrarem que a introdução de leguminosas em áreas de cultivo promove melhorias duradouras nos atributos do solo. Essa condição contribui diretamente para a manutenção da produção de forragem nos anos subsequentes, consolidando o papel estratégico das leguminosas na sustentabilidade dos sistemas pastoris em regiões de clima tropical.

com leguminosas se destacam por sua capacidade de melhorar a fertilidade do solo, aumentar a disponibilidade de forragem e proporcionar maior eficiência no uso de nutrientes. Assim, tanto os biofertilizantes quanto os sistemas consorciados representam alternativas viáveis e promissoras para a sustentabilidade da produção forrageira no Cerrado brasileiro.

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COMO ACELERAR A REBROTAÇÃO DO SEU CAPIM NO INÍCIO DAS ÁGUAS? *

* Texto baseado no conteúdo do livro “PASTO VELOZ – Acelerando a produção de sua pastagem no início das águas” (SANTOS, 2023a)

SANTOS, Manoel Eduardo Rozalino¹

1 Zootecnista, mestre e doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa; professor associado na Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: manoel.rozalino@ufu.br

INTRODUÇÃO

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, a maior parte (70% a 90%, em geral) da produção anual de forragem na pastagem ocorre no período das águas. Com isso, nas águas temos oportunidade de trabalhar com maior taxa de lotação e, com efeito, maior produção animal nas pastagens. Porém, quando os seus capins não crescem rápido no início das águas, você está perdendo uma grande oportunidade de elevar a produção de carne e leite a pasto. O baixo crescimento do pasto no início das águas também prolonga o déficit de forragem em seu sistema de produção.

Por outro lado, o maior crescimento do pasto no início das águas, o que eu chamo de “pasto veloz”, resulta nos seguintes benefícios:

• Seu pasto ficará com mais vigor e, com isso, sua pastagem corre menos risco de degradar;

• O maior crescimento do seu pasto diminui as chances de ocorrer o superpastejo no início da primavera;

• O pasto veloz põe fim mais rápido ao período de escassez de forragem no sistema de produção;

• A antecipação do período de pastejo reduz o custo e o trabalho com a alimentação dos animais no cocho;

• O pasto veloz permite que você coloque mais animais na pastagem (aumento da taxa de lotação) e, com isso, possibilita produzir mais carne ou leite por área de sua pastagem;

• Como resultado, você consegue aproveitar mais e melhor o grande potencial ou oportunidade que o período das águas lhe oferece todo ano.

Ademais, o aumento da taxa de lotação na pastagem com o pasto veloz pode ser feito pela adição de animais que estavam em outras áreas de pastagens da fazenda. Isso permite diminuir a taxa de lotação destas outras áreas, uma ação de manejo essencial para evitar a degradação dos pastos com crescimento mais lento no início das águas.

Esse texto foi escrito com o objetivo de lhe apresentar um método capaz de transformar um pasto lento em um pasto veloz no início do período das águas: o Método PASTO VELOZ. Este será detalhado para que você tenha condições de usá-lo e obter os seus benefícios.

Vale salientar que as informações apresentadas nesse texto são predominantemente sobre pastagens manejadas em condições de sequeiro (não irrigadas) e cultivadas com monocultivo de capins tropicais, com ênfase nos biomas Mata Atlântica e Cerrado.

Por fim, é importante ter em mente que toda ação de manejo da pastagem é condicionada pelo clima, que não é plenamente controlado pelo homem. Com efeito, embora seja possível ao manejador da pastagem acelerar o crescimento dos seus pastos no início do período chuvoso, a efetividade de tal resposta dependerá do clima, notadamente da estabilização das chuvas durante a primavera.

FUNDAMENTOS DO MÉTODO PASTO VELOZ

Para compreender os fundamentos para obtenção de um pasto veloz no início das águas, primeiramente é necessário considerar como o pasto cresce ao longo do tempo e após um corte ou pastejo severo (rente ao solo), que elimina toda ou praticamente todas suas folhas. Esse crescimento do pasto tem um formato sigmoide (que lembra a forma da letra “S”) e é dividido em três fases (Figura 1).

Figura 1 – Representação das três fases do padrão de crescimento do pasto por um longo período de tempo e após um corte ou pastejo severo (SANTOS, 2023a).

A primeira fase é a de “crescimento exponencial”, caraterizada por baixa taxa de crescimento, porque, logo após o corte ou pastejo severo, o pasto possui baixa quantidade de folhas vivas e, portanto, faz pouca fotossíntese. Desse modo, nessa fase inicial, o pasto cresce muito lentamente, via utilização de suas reservas orgânicas. A segunda fase do crescimento é denominada de “fase de crescimento linear”, em que a taxa de crescimento do pasto é máxima, ou seja, o pasto está veloz, porque, agora, o pasto já tem grande quantidade de folhas jovens, o que lhe garante alta taxa fotossintética. Por fim, se deixarmos o pasto crescer por longo tempo, ele alcança a terceira fase, nomeada de “fase de crescimento decrescente”, na qual a taxa de crescimento começa a diminuir, isto é, o pasto perde velocidade, pois, mesmo com maior quantidade de folhas, estas começam a sombrear umas às outras, gerando diminuição da fotossíntese, com prejuízos para o crescimento do capim (DA SILVA & PEDREIRA, 1997) (Figura 1).

No final da época de seca, é comum que o pasto não tenha nenhuma quantidade de folha viva e, quando tem,

essa quantia é bastante reduzida. Desse modo, o pasto não consegue sustentar o seu crescimento inicial na primavera via o processo de fotossíntese, razão pela qual o crescimento inicial do pasto na primavera é dependente das suas reservas orgânicas. Estas são substâncias produzidas pelas plantas e armazenadas em órgãos mais permanentes (base do colmo, raízes, rizomas e estolões), para serem usadas durante e após eventos de estresse, como superpastejo, seca, frio, geada ou queimada. Os compostos de reservas incluem carboidratos (amido, glicose, frutose, sacarose e maltose) e compostos nitrogenados (proteínas, aminoácidos e nitrogênio inorgânico) (NASCIMENTO JR et al., 2002).

Com isso, no início das águas é comum que o pasto comece a crescer mais lentamente, na fase 1 (Figura 1). Nesse contexto, um pasto veloz passa pouco tempo nessa fase 1, ao passo que um pasto com crescimento lento tem a fase 1 do seu crescimento prolongada no início das águas.

Um dos motivos que levam o pasto a ter crescimento lento no início das águas é o esgotamento de suas reservas orgânicas. Isso acontece principalmente quando as pastagens não são adubadas e, ou quando são submetidas a longos períodos de superpastejo (pasto “rapado”). Toda vez que ocorre o superpastejo por longa duração, há o uso contínuo dos compostos de reservas, o que pode levar ao menor vigor de crescimento do pasto no início das águas. Além disso, considerando que, após um pastejo severo, a velocidade de crescimento do pasto é mais dependente das reservas nitrogenadas do que dos carboidratos de reserva (NASCIMENTO JR et al., 2002), uma adequada nutrição mineral dos pastos, com adubação nitrogenada de manutenção, também é muito importante para acelerar o crescimento do pasto no início das águas.

A disponibilidade de compostos de reserva altera o perfilhamento, isto é, o aparecimento de novos perfilhos (brotos) do capim no início das águas. Os perfilhos são as unidades de crescimento do pasto (HODGSON, 1990) e, no início da época das águas, é natural que o pasto tenha mais perfilhos. Estes, ao crescerem, aumentam a produção de forragem do pasto. Na época das águas, o pasto também passa a ser formado por perfilhos mais jovens, que crescem

mais rápido do que os perfilhos velhos (CARVALHO, 2017). Por tudo isso, os pastos com mais reservas têm alto perfilhamento na primavera, são velozes em seu crescimento e se mantêm persistentes na pastagem.

Além da quantidade de reservas, a quantidade de luz que chega até a base do pasto influencia a capacidade do capim de perfilhar, porque os perfilhos surgem a partir de estruturas chamadas de gemas basais, que estão localizadas próximas da superfície do solo. Quando a radiação solar incide sobre essas gemas, elas são estimuladas a se desenvolverem em perfilhos. Nesse contexto, pastos mais baixos ao final do inverno recebem mais luz na base de suas plantas, têm maior potencial de perfilhamento e são mais velozes no início da primavera, em comparação aos pastos mais altos ao término da seca (SANTOS, 2009).

Com base nesse entendimento, para fazer o seu pasto

ser mais veloz e aumentar a produção de forragem no início das águas, é necessário assegurar as condições para que ocorra alta e precoce renovação de perfilhos nos pastos tropicais durante este período. A renovação de perfilhos consiste na substituição de perfilhos velhos por perfilhos novos no pasto. Essa renovação de perfilhos no início da primavera é um processo natural, porém pode e deve ser melhorado por meio de práticas de manejo da pastagem.

A renovação de perfilhos acarreta maior percentagem de perfilhos jovens no pasto logo no início das águas, o que pode aumentar a produção de forragem e, consequentemente, incrementar a taxa de lotação na pastagem. Ao mesmo tempo, mais perfilhos jovens contribuem para a melhoria da morfologia e do valor nutritivo do pasto, que passa a ser mais favorável ao desempenho dos animais em pastejo. Como resultado, a produção animal por área da pastagem pode ser aumentada.

NA PRÁTICA, COMO TER UM PASTO VELOZ NO

INÍCIO DAS ÁGUAS?

O maior crescimento de seus pastos no início das águas pode ser conseguido com a utilização do Método PASTO VELOZ, que engloba três estratégias de manejo da pastagem: manejo sazonal do pastejo; roçada do pasto alto, se necessária; e adubação estratégica. Conforme apresentarei nos próximos tópicos, com a adoção do manejo sazonal do pastejo ou após a realização da roçada estratégica, será necessário realizar um pousio, isto é, deixar a pastagem sem animais. Portanto, o pousio da pastagem também faz parte

do Método PASTO VELOZ.

Ressalto que as pastagens que foram submetidas ao correto manejo em anos anteriores (pastagens adubadas e com adequado manejo do pastejo) são mais responsivas ao Método PASTO VELOZ. Para você não ficar com nenhuma dúvida e saber adotar corretamente o Método PASTO VELOZ, cada uma das estratégias de manejo da pastagem que fazem parte deste método será analisada e explicada em detalhes a seguir.

MANEJO SAZONAL DO PASTEJO

A base do Método PASTO VELOZ consiste em aplicar o manejo sazonal do pastejo, isto é, variar a altura média do pasto entre as estações do ano. Nesse contexto, para melhorar a produção de forragem no início das águas, recomenda-se manejar os pastos com menor altura durante o outono e inverno, em comparação à primavera e ao verão. O pasto mais baixo na época de seca tem menor senescência (morte de folhas e perfilhos) e, consequentemente, possui baixa quantidade de material morto, o que não atrapalha a

radiação solar chegar na base das plantas. Mais luz do sol sobre as gemas basais estimula o aparecimento de novos perfilhos, quando as primeiras chuvas ocorrerem na primavera.

Para o correto manejo do pastejo contínuo, o pasto deve ser mantido com uma faixa de altura média, que resulta em produção de forragem relativamente constante e próxima do máximo durante o período das águas. Essa condição é específica para cada capim e corresponde à capacidade de

suporte da pastagem (SANTOS, 2023b). Porém, para permitir a retomada mais intensa e mais rápida do crescimento do pasto durante as primeiras chuvas de primavera, o pasto sob pastejo contínuo pode ser manejado da seguinte forma durante a partir do outono e no inverno: no limite inferior da faixa de altura recomendada, para o caso das pastagens não adubadas ou estabelecidas em solos de baixa fertilidade; ou com 75% da altura correspondente ao limite inferior da

faixa de altura recomendada, para as pastagens adubadas ou estabelecidas em solos de alta fertilidade natural. Mas, independentemente da intensidade com que o pasto será rebaixado durante o inverno, a partir da primavera, ele deve ser manejado mais alto e dentro da faixa de altura recomendada para o capim. Na Tabela 1, são apresentados os valores de altura do pasto recomendados para o manejo sazonal do pastejo de alguns capins tropicais sob pastejo contínuo.

Tabela 1 – Alturas médias recomendadas para o manejo sazonal sob pastejo contínuo de capins tropicais

Altura do pasto (cm)

Outono e inverno

Capim

Capim-braquiarão

Tifton 85 e Coast Cross

Capim-braquiarinha

Capim-xaraés

Capim-piatã

Capim-humidícola cv. Tupi

Capim-paiaguás

Capim-sabiá

Capim-cayana

Capim-ipyporã

Fonte: SANTOS (2023b).

Primavera e verão

Pastagem com solo de alta fertilidade

Pastagem com solo de baixa fertilidade

Por exemplo, em uma pesquisa com o capim-braquiarinha (Brachiaria decumbens cv. Basilisk) adubado e manejado em pastejo contínuo com bovinos, Santos (2009) comparou duas estratégias de manejo do pastejo: altura fixa (25 cm) ao longo do ano e altura variável ao longo do ano, com pasto baixo no inverno (15 cm) e mais alto na primavera e no verão (25 cm) (manejo sazonal do pastejo). Com esse último manejo, houve maior aparecimento de perfilhos na primavera

e superior número de perfilhos em todo o período experimental, em comparação ao pasto manejado com altura fixa. Como consequência, o pasto sob manejo sazonal do pastejo produziu 3.400 kg/ha de matéria seca de forragem a mais do que aquele manejado com altura constante (25 cm). Se considerarmos uma eficiência de pastejo (percentagem da produção que os animais em pastejo conseguem consumir) de 80% e um consumo diário de forragem por unidade animal

(UA) de 12 kg de matéria seca, esse adicional de produção de forragem possibilitaria aumentar a taxa de lotação em até 1,2 UA/ha durante a época das águas. Esses resultados ocorreriam apenas mudando a forma como a altura do capim foi controlada sob pastejo contínuo, sem gastar com a aquisição de insumos.

Em condições de pastejo rotativo na época das águas, para obter pasto com alta percentagem de folha viva e baixos percentuais de colmo e de material morto, o pasto não deve ultrapassar a altura pré-pastejo na qual ocorre a interceptação de 95% da radiação solar utilizada para o processo de fotossíntese (DA SILVA et al., 2015). No caso da altura pós-pastejo, recomenda-se que esta corresponda à:

• No máximo, 60% da altura pré-pastejo, quando o objetivo for aumentar a taxa de consumo de forragem e o desempenho animal (CARVALHO et al., 2016).

• 50% da altura pré-pastejo, quando o seu objetivo for aumentar a taxa de lotação na pastagem, sem comprome-

ter a rebrotação do pasto (DA SILVA et al., 2015).

Mas, para adoção do manejo sazonal do pastejo rotativo, o pecuarista pode trabalhar com altura pós-pastejo no outono e inverno correspondente à cerca de 35% da maior altura pré-pastejo. Depois, na primavera e verão, a altura pós-pastejo deve ser maior, correspondente à não menos que 40 a 50 % da altura pré-pastejo, dependendo do objetivo a ser alcançado. Por exemplo, para o capim-mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça), cuja recomendação de altura pré-pastejo rotativo é de, no máximo, de 90 cm (Tabela 2), pode-se manter o pasto com 32 cm (35% de 90 cm) de atura pós-pastejo durante o outono e inverno. Porém, a partir da primavera e durante o verão, o pasto deve ser manejado com a altura pós-pastejo mais alta, entre 45 a 54 cm (50 e 60 % da altura pré-pastejo, respectivamente). Essa mesma recomendação exemplificada para o capim-mombaça pode ser feita para os demais capins tropicais, considerando-se suas específicas e respectivas alturas máximas em pré-pastejo rotativo (Tabela 2).

Tabela 2 – Alturas máximas recomendadas para a condição de pré-pastejo rotativo de capins tropicais

Capim-cameroon

Capins BRS Kurumi, BRS Zuri e colonião

Capim-napier

Capim-tanzânia

Capim-mombaça

Capim-massai

Capim- BRS Quênia

Capins BRS Tamani e andropógon

Capins xaraés, paiaguás, ipyporã, mulato e aruana

Capins braquiarão e braquiarinha

Capim-piatã

Fonte: SANTOS (2023b).

Com o manejo sazonal do pastejo, o curto período de rebaixamento do pasto, a partir do outono e no inverno, não comprometeria a cobertura superficial do solo, considerando-se que nos demais meses do ano o pasto seria manejado mais alto. A cobertura da superfície do solo é promovida pelo próprio capim e pela serrapilheira, sendo muito importante para proteger o solo da erosão e para aumentar

a disponibilidade de água no solo para o pasto durante as primeiras chuvas de primavera.

Em algumas situações, pode acontecer de o pasto se encontrar muito alto ao fim da época de seca. Diante desse cenário, uma possibilidade que pode ser usada para promover o rebaixamento do pasto é o uso da roçada.

ROÇADA DO PASTO ALTO NO FINAL DA SECA

A roçada consiste no corte das plantas de capim pelo homem e só deve ser realizada quando o seu pasto estiver muito alto ao término do período de seca. Nessa situação e na época das águas subsequente, o pasto não roçado no fim da seca pode ser constituído de uma mistura de forragem velha (material morto), ainda oriunda da época de seca, com a forragem nova (folha viva), oriunda da rebrotação mais recente. Isso piora o valor nutritivo e a qualidade do pasto, com consequências negativas para o desempenho dos animais nas águas. Para evitar esse problema, a roçada é apropriada. Além disso, a roçada do pasto alto no final da seca elimina o meristema apical do perfilhos velhos, estimulando o aparecimento de novos perfilhos; e promove maior uniformidade do pasto (plantas mais homogêneas). Todavia, há que se considerar que a roçada tem um custo e pode gerar grande quantidade de massa morta sobre a superfície do solo, normalmente com alta relação C/N, o que poderia causar alta imobilização do nitrogênio e, com efeito, reduzir sua disponibilidade no solo.

Nesse contexto, Sousa et al. (2018) avaliaram o efeito de quatro condições de pastos previamente diferidos de capim-braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu) no fim da seca sobre a rebrotação do pasto e a produção animal durante a primavera e o início do verão subsequentes. As condições dos pastos de capim-braquiarão avaliadas no fim do inverno foram: pasto baixo (15,1 cm); pasto médio (23,2 cm); pasto alto (31,4 cm) e pasto alto (31,3 cm) e roçado para 8 cm, não removendo-se a forragem cortada do piquete. Após a época de seca, na primavera, foi necessário retirar os animais das pastagens, até que os pastos alcançassem 35 cm de altura média. Porém, o tempo para os pastos alcançarem estas alturas foi diferente. Os pastos baixo, médio, alto e alto/roçado permaneceram sem animais por 46, 42, 14 e 44 dias, respectivamente. Depois des-

ses tempos de pousio das pastagens (sem animais), teve início o período de pastejo durante a época das águas, em que todos os pastos foram manejados em pastejo contínuo, com ovinos e taxa de lotação variável, para manter a altura média do pasto em 30 cm. Os ovinos tiveram acesso irrestrito ao sal mineral.

O pasto alto e que não foi roçado no fim do inverno apresentou mais material morto e menos folha viva na época das águas. De outra forma, o pasto alto e roçado teve menos material morto e mais folha viva na época das águas. Já os pastos baixo e médio apresentaram valores de material morto e folha viva intermediários aos pastos alto e alto/roçado. Como consequência, os maiores valores de desempenho animal foram observados no pasto baixo, seguido pelo pasto alto/roçado, enquanto que, nos pastos médio e alto ao fim do inverno, o desempenho dos animais foi menor (Figura 2).

Figura 2 – Desempenho de ovinos em pastagens com capimbraquiarão na primavera e no verão de acordo com a condição do pasto no fim do inverno. Fonte: SOUSA et al. (2018).

A roçada do pasto aumentou 33% o desempenho dos ovinos nas águas, em relação ao pasto alto e não roçado ao fim do inverno (Figura 2). Se esse diferencial for suficiente para gerar uma receita com a venda do produto animal superior ao custo da roçada, a técnica poderia ser empregada. Caso você decida realizar a roçada do pasto alto e com muita massa de forragem de baixa qualidade no fim do inverno, seguem algumas recomendações:

• A época mais recomendável para se roçar o pasto é bem no final do período de seca ou logo no início do período das águas.

• Roçar apenas as plantas que estejam mais altas, isto é, acima do resíduo pós-pastejo.

• Se possível, antes de realizar a roçada, aumentar a taxa de lotação na pastagem, utilizando-se animais com menor exigência nutricional, a fim de promover a remoção de parte da forragem velha pelos animais.

• Amolar bem as lâminas da roçadeira, para evitar o dilaceramento dos colmos durante o corte.

• A altura do pasto após o corte (altura pós-roçada) pode ser de 5 a 10 cm para as gramíneas do gênero Brachiaria e de 20 a 30 cm para as gramíneas do gênero Panicum.

• Esperar o pasto atingir a altura média adequada para iniciar o pastejo na primavera. Essa altura deve ser de, no mínimo, 15 cm para as gramíneas do gênero Brachiaria, e de 50 cm a 80 cm para as gramíneas do gênero Panicum de porte mais alto. Até os pastos alcançarem essas alturas, há a necessidade de deixá-los em pousio (descanso). Dessa forma, esse período em que a pastagem ficará sem animais deve ser considerado no momento de realização do planejamento alimentar do sistema de produção, a fim de evitar desequilíbrio entre o suprimento e a demanda de forragem no sistema pastoril.

• Em situações em que não for possível fazer o pousio da pastagem após a roçada, recomenda-se, para minimizar o problema, reduzir a taxa de lotação da pastagem em, ao menos, 50% da sua capacidade de suporte típica da época das águas. Isso visa permitir que o pasto, mesmo sob pastejo, incremente gradativamente a sua altura média até os valores tidos como apropriados.

• Se possível, adubar a pastagem de acordo com a análise do solo e principalmente com adubo nitrogenado. Essa prática estimula o crescimento do pasto, conforme lhe mostrarei no próximo capítulo.

ADUBAÇÃO NO INÍCIO DAS ÁGUAS

A adubação da pastagem consiste em aplicar as doses de adubos na área da pastagem, para manter ou melhorar a fertilidade do solo e, assim, propiciar maior crescimento do pasto (SANTOS & FONSECA, 2016). Por ser uma estratégia de manejo que tem maior custo, a adubação estratégica deve ser a última ação a ser executada no Método PASTO VELOZ.

Se o pasto sob o manejo sazonal do pastejo for adubado durante as primeiras chuvas de primavera, o aparecimento de novos perfilhos ocorrerá mais cedo e mais intensamente. Como consequência, o pasto alcançará mais rapidamente um maior número de perfilhos jovens. Por essas razões, a adubação estratégica ajuda bastante a tornar o seu pasto mais veloz no início do período das águas. De fato, essa adubação reduz a duração daquela primeira fase do crescimento lento do pasto, chamada de

“fase de crescimento exponencial” (Figura 1). Com isso, seu pasto entra mais rápido, logo no início do período chuvoso, na segunda fase do seu crescimento (“fase de crescimento linear”), em que sua velocidade de crescimento é alta (Figura 1).

A adubação estratégica preconizada no Método PASTO VELOZ tem como foco o fornecimento de nitrogênio (N) via adubos, pois o N é o nutriente mineral que estimula muito o crescimento do capim tropical, geralmente bem mais do que os outros nutrientes. Nesse sentido, a adubação nitrogenada faz com que o pasto seja constituído por perfilhos mais jovens, em comparação ao pasto não adubado com N. Por exemplo, em um trabalho de pesquisa com o capim-braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu), Paiva et al. (2011) demonstraram que, durante o verão, a percentagem de perfilhos jovens no pasto pode chegar a 70%, quando

se utiliza uma alta dose de adubo nitrogenado (450 kg/ha de N) na pastagem. Por outro lado, nas pastagens que não receberam adubação nitrogenada, a percentagem de perfilhos jovens no pasto (46%) foi mais baixa. Esse padrão de resposta, somado ao fato de que os perfilhos jovens crescem mais do que os perfilhos maduros e velhos (CARVALHO, 2017), fazem com que o pasto submetido à uma adubação nitrogenada estratégica logo no início do período das águas tenha maior taxa de crescimento neste período.

Na prática e sempre de acordo com o resultado da aná-

lise do solo, a adubação fosfatada pode ser feita com as primeiras chuvas de primavera, enquanto que as adubações nitrogenada e potássica devem ser realizadas idealmente após a estabilização das primeiras chuvas de primavera, para aumentar a eficiência da adubação. A dose de nitrogênio a ser aplicada via adubos no início do período das águas pode variar de 30 a 50 kg/ha de N. Em pastagens manejadas com alta taxa de lotação, a aplicação de outras parcelas de adubos nitrogenados e potássicos é necessária ao longo do período das águas.

OUTRAS AÇÕES DE MANEJO QUE CONTRIBUEM PARA VOCÊ TER UM PASTO VELOZ NO INÍCIO DAS ÁGUAS

Além das estratégias do Método PASTO VELOZ, também existem outras ações de manejo que contribuem para o seu pasto ser veloz no início das águas. Nesse sentido, a utilização de capins com rápida rebrotação no início das águas, como os capins andropógon e massai (BRAGA et al., 2017), é apropriada. Em regiões mais secas, essa característica também é observada no capim-búffel.

A irrigação da pastagem também é adequada para garantir rápida rebrotação no início das águas. Neste período, é comum que o clima seja caracterizado por alta temperatura e luminosidade, mas as chuvas são erráticas. Então, o suprimento de água via irrigação eliminaria o fa-

tor climático limitante ao crescimento do pasto.

O fornecimento de alimentos suplementares (concentrado e, ou volumoso) aos animais durante o início do período das águas também pode ser importante para reduzir e, ou anular a demanda de pasto pelos animais do rebanho. Essa estratégia de manejo é importante em cenários onde é necessário adotar um período de pousio (descanso) da pastagem no início da primavera, para a recuperação do pasto. Essa suplementação estratégica também pode evitar o superpastejo do pasto, bem como a perda de peso dos animais nesse período.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a aplicação do Método PASTO VELOZ, você acelera a taxa de crescimento do seu capim com as primeiras chuvas de primavera. Com isso, é possível que o período de déficit de forragem no sistema de produção, típico do início da primavera, termine mais cedo. Além disso, a utiliza-

ção do Método PASTO VELOZ também permite aproveitar melhor a enorme oportunidade de produzir mais carne ou mais leite em sua pastagem, com baixo custo, durante o período chuvoso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MICA DO SOLO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA, FÓSFORO E POTÁSSIO

FERNANDES¹, Patrick Bezerra; BILEGO², Ubirajara Oliveira, ³SARKIS, Leonardo Fernandes

1 Zootecnista, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador Agronômico I do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde, GO. E-mail: patrickbezerra@comigo.coop.br

2 Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador em Produção Animal do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde, GO. E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br

3 Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, Pesquisador Agronômico I do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde, GO. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br

INTRODUÇÃO

OCerrado brasileiro, localizado na região Centro-Oeste do Brasil, possui manchas de solos com altos níveis de acidez ativa, elevadas concentrações de saturação por alumínio e, associado a esses índices, apresentam-se baixos valores de matéria orgânica, assim como baixos valores das frações de fósforo (P) e potássio (K) (CORREIA et al., 2004), podendo atuar como limitadores na produção vegetal, como grãos e biomassa. Contudo, o terreno dessa região é pouco movimentado (SEVERIANO et al., 2013), o que possibilita o trânsito de maquinários, impulsionando e justificando o investimento no uso de corretivos de acidez do solo e na reposição de nutrientes via fertilizantes químicos e sintéticos para a produção de oleaginosas, cereais e forragens destinadas à nutrição animal e humana.

Por outro lado, existe um abismo entre a realidade da agricultura e da pecuária, uma vez que, no cenário brasileiro, a cada ano que passa, as safras das plantas de alto interesse agronômico, como soja e milho, alcançam recordes de produção (BRASIL, 2025). Porém, quando verifica-se a realidade da pecuária, o cenário é diferente: animais abatidos de forma tardia e baixa taxa de lotação. Isso indica que o pecuarista, principalmente o de gado de corte, não tem como prioridade o investimento na manutenção do solo. Tal fato pode ser comprovado pela área de degradação das pastagens do Brasil, que alcança o valor de 28 milhões de hectares em níveis intermediários e severos de degradação (BOLFE et al. 2024).

Geralmente, os resultados exitosos na pecuária são obtidos em sistemas de integração Lavoura-Pecuária (ILP),

Material e Métodos

Local

Os dados foram obtidos na área experimental do Centro Tecnológico COMIGO, em Rio Verde – GO. Segundo Thornthwaite (1948), o clima de Rio Verde – GO é classificado como úmido, com pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão inferior a 48%.

onde o manejo adotado, associado à inclusão de animais, eleva as frações de P e K, assim como melhora o índice de fertilidade do solo, promovendo aumentos na capacidade de troca catiônica potencial (CTC) do solo (LEAL et al., 2024; FERNANDES et al., 2025). Essa melhoria na composição do solo está associada à deposição de dejetos animais, que altera sua microbiologia e favorece a proliferação de microrganismos mineralizadores de nutrientes (SEKARAN et al., 2021; ALVES et al., 2023; TAVARES et al., 2024).

Em cenários em que não é possível realizar a ILP nem a agricultura, ou seja, apenas pecuária, o correto é seguir as recomendações básicas de manejo: ajuste da taxa de lotação, controle da altura de manejo do pasto, seja em lotação contínua ou intermitente, e o uso da suplementação mineral, proteica e energética. Com a combinação estratégica dessas ferramentas, é possível gerar altos níveis de produção sem degradar a pastagem. Além disso, em áreas exclusivas de pecuária, o ajuste estratégico da taxa de lotação pode favorecer aumentos nas frações de carbono no solo a médio e longo prazo (CHAPLOT et al., 2016).

Baseando-se nessas informações, é possível inferir que uma área de pecuária bem manejada pode exibir parâmetros do solo, como P, K e CTC, adequados para a produção vegetal, podendo alcançar os patamares da agricultura e do sistema integrado. Assim, o objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso, envolvendo os valores absolutos da composição química do solo de áreas de pecuária, integração lavoura-pecuária e agricultura na região do Cerrado brasileiro.

Durante as safras de 2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025, foram realizadas coletas de solo nas camadas de 0–20 cm de profundidade, por meio de coletas em pontos equidistantes. Posteriormente, formou-se uma amostra composta, que foi enviada ao laboratório para a determinação das características físicas e químicas do solo.

Neste estudo, foram considerados apenas os seguintes

parâmetros: P (mg/dm³) e K (mg/dm³), uma vez que esses geralmente apresentam níveis críticos nas condições do Cerrado brasileiro (CORREIA et al., 2004). Além disso, foi escolhido outro parâmetro importante para representar a fertilidade do solo, neste caso representado pela CTC (cmolc/ dm³), que serve como um índice da capacidade do solo de reter nutrientes. A partir desses parâmetros, é possível identificar a real influência da presença de grandes ruminantes, como bovinos, em sistemas agropecuários.

Áreas de estudo

No local onde foi realizada a coleta dos dados, foram selecionadas três áreas, onde são desenvolvidas as atividades de pecuária, integração Lavoura-Pecuária e agricultura. Respectivamente, para essas áreas, foram atribuídas as seguintes nomenclaturas: Pecuária, ILP e Agricultura (Figura 1).

e potássio (Elaborado pelos autores).

Na área de Pecuária, destinada à produção de gado de corte nas fases de recria e terminação, a área de pastagem possui 11 hectares (ha), distribuída em 17 piquetes de tamanhos diferentes, formada exclusivamente de capim Tifton 85, manejado em sistema de lotação intermitente, com taxa de lotação rotativa no período de águas (novembro a fevereiro) e de transição (março a maio). Na safra de

2022/2023, os pastos receberam 300 kg/ha do fertilizante formulado 20-00-20, divididos em duas aplicações (dezembro de 2022 e fevereiro de 2023).

Na safra de 2023/2024 a área recebeu uma adubação de cobertura com o fertilizante formulado (06-30-06) na dose de 750 kg/ha. A segunda adubação foi realizada em cobertura em janeiro de 2024, com o fertilizante (20-00-

Figura 1. Modelo conceitual das áreas de Pecuária, Lavoura-Pecuária e Agricultura, no contexto do estudo sobre capacidade de troca catiônica, fósforo

20) na dose de 150 kg/ha. N safra de 2024/2025, o manejo foi realizado com uma adubação com o fertilizante 2000-20, na dosagem de 250 kg/ha, no início de janeiro e a segunda, com ureia, na dosagem de 100 kg/ha, no final de janeiro de 2025. Nessa área, as taxas de lotação (UA/ha) foram, respectivamente de 5,81 UA/ha, 5,46 UA/ha e 6,26 UA/ha para as safras de 2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025.

Em relação à área de ILP, composta por 0,6 ha, é realizado o cultivo em sucessão soja-capim. Geralmente, no início do período chuvoso, ocorre a formação da lavoura de soja, imediatamente após a colheita do grão, é realizada a semeadura dos pastos que serão destinados ao manejo de bovinos de corte na fase de terminação, na entressafra. Na safra de 2022/2023, A semeadura das gramíneas forrageiras (capim-zuri e capim-quênia) foi realizada no dia 26/02/2023. Para essa atividade, utilizou-se da semeadora-adubadora pneumática Baldan modelo SPDE CXP 5000, com 24 linhas e espaçamento entre linhas de 17 cm. Na semeadura foram utilizados 8,8 kg/ha de semente grafitada com valor cultural 80% para ambas forrageiras. Para a adubação de semeadura foi utilizado o fertilizante do formulado NPK (11-40-00), na dose de 420 kg/ha.

Na safra de pasto (capim-myiagi) de 2024 foi utilizado 10 kg/ha de semente e nenhuma adubação de cobertura. O manejo de 2025 ocorreu de forma semelhante, sem adubação durante a implantação do mix forrageiro (capim-ruziziensis + capim-piatã) e (capim-ruziziensis). As taxas de lotação verificadas nas áreas de pastejo foram de 3,21 UA/ha em 2023, 3,93 UA/ha em 2024 e 3,30 UA/ha em 2025 (em andamento). O protocolo nutricional dos animais durante o período de avaliação da produção animal envolveu suplementação com suplementos energético proteicos, na dosagem de 3 g de suplemento para cada kg de peso corporal.

Na área de Agricultura, formada por 2,71 ha, ocorre o cultivo exclusivo de culturas agrícolas destinadas à produção de grãos. Na safra de 2022/2023, no período das águas, foi realizado o cultivo de soja (cv. CZ37B43), e, na entressafra, foi semeado um mix contendo milheto e capim-piatã como plantas de cobertura, que, no início da próxima safra,

foi dessecado. Ao longo desse ano agrícola, as correções e adubações realizadas foram: 2,0 t/ha de calcário; 152 kg/ha de KCl à lanço e 480 kg/ha de superfosfato simples no sulco de semeadura, sendo essas práticas realizadas no mês de outubro de 2022. Após a soja, foram aplicados 390 kg/ha do formulado 15-15-15 no sulco de semeadura do capim.

Na safra de 2023/2024, no período chuvoso, ocorreu a semeadura da soja (cv. CZ37B43) e, na época das secas, como planta de cobertura, foi realizada a semeadura do capim-ruziziensis. As correções e adubações para o ano agrícola foram: 1,5 t/ha de calcário e 1,5 t/ha de gesso em julho; 360 kg/ha do formulado 5-25-25, sendo 220 kg/ha à lanço e 120 kg/ha no sulco de semeadura em outubro e 76 kg/ha de KCl em novembro. Após a colheita da soja, foram aplicados 200 kg/ha do formulado 20-00-20 em cobertura no mês de março.

Já na safra 2024/2025, no período chuvoso, ocorreu a semeadura da soja (cv. Olimpo), e, na época das secas, como plantas de cobertura, foi realizada a semeadura de um mix contendo milheto + capim-piatã. As correções e adubações para este último ano agrícola foram: 1,6 t/ha de calcário em agosto; 226 kg/ha de KCl + 0,5% B à lanço em outubro; 177 kg/ha de 10-46-00 + 9% S0 no sulco de semeadura em outubro. Após a soja, não foram realizadas adubações para o mix de cobertura.

Análise dos dados

Inicialmente, os dados foram analisados de forma descritiva, com determinação da média, do desvio padrão e dos valores máximos e mínimos dos parâmetros de solo avaliados (P, K e CTC). Para comparar os sistemas avaliados, foi utilizando o programa R (R CORE TEAM, 2025), os dados foram padronizados e submetidos à análise de agrupamento hierárquico, adotando-se os critérios de vizinho mais próximo e vizinho mais distante, com base na matriz de distâncias euclidiana, sendo posteriormente avaliados por meio de dendrograma. Além disso, considerando cada sistema por safra, foram plotados gráficos com os valores absolutos do solo.

Resultados e Discussões

Ao verificar os valores médios de P, K e CTC do presente caso de estudo (Tabela 1), considerando o efeito de três safras, é possível fazer as seguintes observações: em relação ao P, em condições típicas do Cerrado, os valores medidos nas camadas de 0–10 cm e 10–20 cm geralmente são inferiores a 3 mg/dm³ (FERNANDES et al., 2017). No entanto, quando se adotam boas práticas de manejo do solo, com reposição desse elemento por meio de fontes orgânicas ou inorgânicas, é possível elevar as frações de P para valores superiores a 17 mg/dm³, tanto em áreas exclusivamente de pecuária quanto em áreas agrícolas (CORRÊA et al., 2011; GARCIA et al., 2011). Ressalta-se a importância de monitorar esse elemento, devido ao seu impacto direto no desenvolvimento radicular (PÉREZ NARANJO et al., 2004), especialmente em culturas perenes, como pastagens de clima tropical.

Tabela 1. Análise descritiva da as frações de fósforo (P) e potássio (K) e da capacidade de troca catiônica (CTC) em áreas de Pecuária, Integração Lavoura-Pecuária e Agricultura ao longo de três safras (2022/2023 a 2024/2025), na camada de 0–20 cm do solo. Rio Verde, Goiás.

quado de K durante a fase vegetativa traz benefícios na fase reprodutiva, resultando em aumentos no rendimento de grãos (SALVAGIOTTI et al., 2021).

No caso da CTC, observa-se que, em áreas de integração, onde há maiores investimentos tanto na estação chuvosa quanto na seca, ocorrem aumentos nesse índice, conforme relatado por Fernandes et al. (2025). Os autores verificaram que práticas como o cultivo em sucessão da lavoura de milho para silagem na época das águas e a gramínea-leguminosa destinada ao pastejo de bovinos na entressafra, associadas à adubação fosfatada de manutenção, promoveram aumentos nos índices de CTC ao longo de três safras, em comparação com sistemas sem o cultivo sucessivo de lavoura-capim.

A partir da análise por agrupamento hierárquico, representada no dendrograma, as três áreas de estudo se organizam em dois grupos principais (Figura 2). Isso indica que, embora sejam áreas distintas, duas delas (ILP e Agricultura) compartilham características suficientemente semelhantes para formar um único agrupamento, enquanto a terceira (Pecuária) apresenta um perfil distinto.

O K, assim como o P, também é diretamente influenciado pelas decisões de manejo. Por isso, o acompanhamento dos níveis desse elemento por meio da análise do solo é essencial para garantir sua manutenção no sistema de produção. Outro aspecto relevante é o papel do K na fotossíntese: seu suprimento adequado impacta positivamente a produção vegetal, aumentando o acúmulo de biomassa na parte aérea de plantas forrageiras (VERAS et al., 2025). Para culturas graníferas, o fornecimento ade-

Figura 2. Dendrograma dos parâmetros de solo em áreas de Pecuária, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Agricultura ao longo de três safras (2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025), na camada de 0–20 cm do solo. Rio Verde, Goiás.

Ao observar a Figura 3, é possível identificar claramente quais parâmetros do solo contribuem para a distinção entre as áreas estudadas. Na safra 2022/2023, Agricultura e ILP apresentavam a mesma concentração de P. Contudo, a diversificação promovida pela introdução de animais no sistema de produção resultou em aumentos nas frações de P nas safras subsequentes na área de ILP. Assim, infere-se que a ILP contribuiu para a melhoria dos estoques desse nutriente no solo, reduzindo a dependência de fontes inorgânicas em safras futuras. Fato que

confirma-se pela ausência de adubação nas implantações das forrageiras nos anos de 2024 e 2025. No caso da introdução de animais em áreas de agricultura, as dejeções depositadas pelos animais impactam diretamente a microbiologia do solo, criando um ambiente favorável para a proliferação de microrganismos solubilizadores de nutrientes, o que potencializa a disponibilização de P e outros elementos essenciais para as plantas (SEKARAN et al., 2021; ALVES et al., 2023; TAVARES et al., 2024).

Figura 3. Evolução das frações de fósforo (P - A) e potássio (K - B) e da capacidade de troca catiônica (CTC - C) em áreas de Pecuária, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Agricultura ao longo de três safras (2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025), na camada de 0–20 cm do solo. Rio Verde, Goiás.

No caso da atividade Pecuária, os valores de P permaneceram constantes nas duas últimas safras, variando entre 8 e 10 mg/dm³. Essa faixa é considerada segura para manter a perenidade dos pastos, conforme observado por Euclides et al. (2008), os quais indicaram que, em pastos de clima tropical manejados adequadamente, com controle da altura de pastejo e ajuste da taxa de lotação, a reposição de P pode ocorrer em intervalos superiores a três anos, sem comprometer a sustentabilidade do sistema. Contudo, para tomar essa decisão de manejo, é fundamental monitorar a produção de forragem, associando esses dados aos parâmetros do solo, a fim de garantir a sustentabilidade do sistema. Nos três anos mais recentes de produção pecuária houve o manejo de reposição de nutrientes. Em contrapartida, houve alta extração devido às taxas de lotação mais elevadas (média de 5,8 UA/ha). Embora essas lotações representem um dreno expressivo de nutrientes, a redução de suas concentrações no solo foi amenizada pelas constantes dejeções animais, ricas de nutrientes oriundas da digestão dos pastos e dos suplementos energético proteicos.

Em relação às frações de K (Figura 3), observa-se que apenas em uma das safras a Pecuária apresentou destaque nesse elemento. Essa variação pontual sugere que fatores sazonais ou relacionados ao manejo podem ter influenciado os resultados, o que merece investigação em estudos futuros. Quanto à CTC do solo, não se observam diferenças entre as retas de cada sistema ao longo das safras, indicando que, independentemente da atividade, o potencial de fertilidade permanece o mesmo. Esse resultado reforça que, embora os sistemas apresentem dinâmicas distintas para nutrientes específicos como P e K, a CTC do solo se mantém estável, refletindo características intrínsecas da área de estudo.

Vale ressaltar que o presente estudo foi conduzido em condições específicas de clima tropical, o que pode limitar a extrapolação direta dos resultados para outras regiões. Além disso, recomenda-se considerar a influência de fatores externos, como o regime de chuvas e as práticas de manejo, que podem impactar os parâmetros do solo analisados. Dessa forma, destaca-se a importância de inte-

grar os resultados obtidos com informações da literatura científica, fortalecendo as recomendações práticas para os sistemas ILP, Agricultura e Pecuária. A continuidade do

Conclusão

A partir dos resultados obtidos, confirma-se que a ILP se destaca como o sistema mais eficiente para melhorar e conservar a fertilidade do solo no Cerrado brasileiro, uma vez que, eleva as frações de P no solo. Portanto, recomenda-se que produtores do Cerrado priorizem sistemas inte-

Agradecimentos

monitoramento dos parâmetros do solo, associada à avaliação da produtividade vegetal, é essencial para aprimorar a gestão sustentável desses sistemas.

grados, sempre aliados a práticas de manejo adequadas, como controle da taxa de lotação e adubação de manutenção, para garantir a sustentabilidade a longo prazo, tanto da produção agrícola quanto pecuária, sem comprometer os atributos químicos e a saúde do solo.

Agradecemos ao Centro Tecnológico Comigo (CTC) pelo apoio. Sua contribuição foi fundamental para o desenvolvimento e sucesso desta pesquisa.

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MANEJO POR DIAS FIXOS DE OCUPAÇÃO EM SISTEMA INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁ-

RIA: EFEITOS SOBRE A FORRAGEM DE CAPIM-MYIAGUI E NO DESEMPENHO DE BOVINOS

DE CORTE

BILEGO¹, Ubirajara Oliveira; NASCIMENTO², Hemython Luis Bandeira do; FERNANDES³, Rafael Henrique; LIMA⁴, Diego Tolentino de; BRAZ⁵, Guilherme Braga Pereira; BUENO⁶, Amanda Magalhães; SARKIS⁷, Leonardo Fernandes, FERREIRA⁸, Izabela Silva; FERNANDES⁹, Patrick Bezerra

1 Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador em Produção Animal do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br

2 Eng. Agrônomo, Dr. Zootecnia, Pesquisador em Forragicultura e Manejo de Pastagens do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: hemythonluis@comigo.com.br

3 Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador Agronômico em Fitopatologia do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: rafaelhenrique@comigo.com.br

4 Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador Agronômico em Entomologia do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: diegotolentino@comigo.com.br

5Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador em Manejo de Plantas Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: guilhermebraga@comigo.com.br

6 Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: amandamagalhaes@comigo.com.br

7 Eng. Agrônomo, Dr. em Ciência do Solo, Pesquisador Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: leonardofernandes@comigo.com.br

8 Aluna de Medicina Veterinária, Universidade de Rio Verde. UniRV – Rio Verde – GO

9 Zootecnista, Dr em Ciência Animal, Pesquisador Agronômico em Forragicultura e Pastagens do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: patrickbezerra@comigo.coop.br

INTRODUÇÃO

Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) promovem o uso sustentável do solo em regiões de clima tropical como o Cerrado brasileiro. Assim, baseados nas condições climáticas desse ambiente, durante o período das águas, entre os meses de novembro e fevereiro, ocorre a formação de lavouras destinadas à produção de grãos de milho (Zea mays) e soja (Glycine max). Posteriormente, em cultivo de sucessão, é realizada a implantação de gramíneas de clima tropical, que podem ser empregadas como plantas de cobertura durante a entressafra ou podem ser utilizadas como fonte de volumoso para o pastejo realizado por ruminantes domésticos, como gado de corte (DIAS et al., 2021; LIMA et al. 2025). Além disso, a prática de ILP pode promover incrementos de até 15% no uso do solo e promover melhorias na composição química do solo, com aumentos nas frações de fósforo (P) e potássio (K), como observado por Leal et al. (2024) e Fernandes (2025).

Contudo, existem alguns pontos de atenção sobre a produção animal que devem ser considerados, como, por exemplo, a melhor estratégia de colheita da forragem produzida. No caso, quando se implantam pastos menos produtivos, como as cultivares de Brachiaria spp. e com menor exigência de manejo, o método de pastejo em lotação contínua, associado ao controle da altura de pastejo e ao ajuste da taxa de lotação, já são suficientes para assegurar resultados satisfatórios, tanto do ponto de vista da produção vegetal quanto animal. Por outro lado, quando se realiza o cultivo de pastos com maior rendimento forrageiro, como as cultivares de Panicum maximum, é necessário adotar estratégias de manejo que maximizem o aproveitamento da forragem produzida. Assim, o método em lotação intermitente, também denominado como lotação rotativa, pode promover a ocorrência desse evento (AU-

GUSTINE et al., 2023). O método intermitente ou rotativo, é descrito como o método ideal para novas cultivares, que naturalmente são mais produtivas e exigentes em manejo, como os pastos de capim-miyagui (Panicum maximum cv. Miyagui), que exibem alta performance agronômica em condições de boa fertilidade (WIEGERT et al., 2024).

Apesar do método de pastejo em lotação rotativa maximizar o uso da forragem, ainda não estão definidos os critérios de manejo para produção animal em ILP; nem a forma de otimizar essa operação, já que é necessário manejar periodicamente os pastos para iniciar o pastejo com máxima oferta de folhas e gerar resíduo pós-pastejo suficiente para recuperação rápida do dossel e aumento dos ciclos de pastejo (BARBOSA et al., 2007). Com base nisso, para melhorar as questões operacionais, o manejo baseado em dias fixos pode ser uma alternativa promissora, já que no período em que é executada a ILP, compreende um período de pouca precipitação e decrescente incidência solar. Sob tais condições, os pastos apresentam taxas de crescimento e perfilhamento diferentes do período das águas. Assim, gerar um ciclo de pastejo com períodos de ocupação maiores pode assegurar o consumo da pastagem produzida e possibilitar resíduo pós-pastejo que não comprometa a recuperação do dossel forrageiro durante o período de descanso.

Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito de diferentes tempos de pastejo do capim-miyagui implantados em sistema de ILP, sobre as características físicas e químicas da forragem e o desempenho animal.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Centro Tecnológico COMIGO (CTC), em Rio Verde, GO. Segundo Thornthwaite (1948) o clima é classificado em B4 rB’4a’ (úmido, pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão menor que 48%). A área utilizada para o experimento encontra-se sob as coordenadas 17⁰45’48’’ S e 51⁰02’14’’ W, com altitude de 832m e é composta de 2,21 ha (talhão I8) e 2,93 ha (talhão J9), conforme demonstrado na Figura 1. O sistema de produção avaliado foi o ILP, com foco nos aspectos relacionados à interação entre o pasto e a produção animal durante a entressafra. A colheita da soja da safra 2023/2024 ocorreu em 13/02/2024 e, logo em seguida, iniciou-se o segundo ciclo produtivo, correspondente à fase de produção animal. Para essa etapa, implantou-se o capim-miyagui em toda a área experimental destinada ao pasto.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com duas estratégias de pastejo (RL: pastejo realizado em rotação longa, onde os animais permaneciam 14 dias em cada piquete; RC: pastejo de rotação curta, condição em que os animais permaneciam sete dias em cada piquete) como tratamentos, distribuídos em três talhões (Figura 1). Em cada talhão haviam dois tratamentos, distribuídos aleatoriamente, com quatro

repetições (piquetes), para os manejos de pastejo utilizados. Na avaliação da produção animal, os animais foram considerados como unidade experimental.

Antes da implantação do sistema de ILP foram colhidas amostras representativas do solo na área experimental, na profundidade de 0 - 20 cm e enviadas ao laboratório (Rio Verde, GO) para determinação das características químicas (Quadro 1).

Figura 1 – Imagem aérea da área experimental com seus respectivos módulos (Elaborado pelos autores).
Quadro 1. Composição química do solo da área de Integração Lavoura Pecuária na região de Rio Verde, GO

A área experimental destinada à produção animal, composta pelos talhões H7, I08 e J09, foi dividida em seis módulos de pastejo. No talhão I08 ficaram os módulos ILP1A e ILP1B, no talhão J09 ficaram os módulos ILP2A e ILP2B e no talhão H7 ficaram os módulos ILP3A e ILP3B. Após o cultivo da soja o capim-myiagi foi semeado em todos os módulos. Assim, a área foi subdividida em cinco subparcelas denominadas de piquetes, onde quatro foram formadas com a forragem (Figura 1). Para a separação dos módulos e seus respectivos piquetes, utilizou-se de cercas elétricas montadas com auxílio de postes de eucalipto e vergalhões de ferro, isoladores de canto e de linhas e aparelho eletrificador Speedrite® (modelo 6000i – Datamars® – São Paulo, SP), com produção elétrica a partir de placas solares e armazenadas em bateria HELIAR® de 70 amperes.

A semeadura da forrageira foi realizada no dia 17/02/2024, com auxílio da semeadora-adubadora pneumática Baldan® (modelo SPDE CXP 5000 – Matão, SP), com 24 linhas e espaçamento entre linhas de 17 cm e foram utilizados 6,75 kg/ha de semente de capim-myagi, sem adubo. No momento da semeadura foram aplicados no sulco 200 ml/ha do co-inoculante Biomax Azum® (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0 x 103 UFC/mL, Vittia), 500 mL/ha de Meta Turbo® (Metarhizium anisopliae), e 300 ml/ha de Biozyme® e 200 ml de No-nena® (Bacillus amyloliquefaciens isolado BV03 (Mínimo de 3,0 x 109 UFC/mL). As adubações de cobertura foram realizadas em 26/02/2024 e 12/03/2024, com o fertilizante 20-00-20, na dosagem de 150 kg/ha.

Para as duas estratégias de manejo estudadas, o método de pastejo adotado foi o de lotação intermitente, com taxa de lotação variável. As avaliações da estrutura do pasto eram realizadas sempre nas mudanças de piquetes. Sempre antes da entrada (AE: equivale a altura de pré-pastejo) e imediatamente após a saída (AS: equivale a altura de pós-pastejo) dos animais de cada piquete era mensurada a altura (cm) da forragem, assim, foram determinadas como alturas de entrada e saída dos animais durante os ciclos de pastejo. As alturas eram mensuradas em 30 pontos aleatórios por piquete, utilizando-se da régua graduada em centímetros.

Para quantificar a massa de forragem na entrada e na

saída (resíduo), foram colhidas duas amostras de forragem por piquete, em pontos representativos da condição média do pasto. A área contendo a massa a ser colhida era delimitada por moldura de tubos PVC medindo 1,0 m x 1,0 m (1,0 m2). As amostras foram cortadas rente ao solo, pesadas e retiradas duas sub-amostras com aproximadamente 300 g de forragem; a primeira subamostra foi destinada a separação morfológica para determinação da massa de forragem de folha (MFF, %), massa de forragem de colmo (MFC, %) e massa de forragem de material morto (MFMM, %). Após a separação, cada fração dos componentes era colocada em sacos de papel, pesados, levados para secar em estufa de circulação de ar forçada à 55°C por 72 horas e posteriormente pesadas novamente para determinação da massa seca (MS). Com base peso seco obtido das amostras colhidas a campo, foi realizado o somatório das amostras obtidas na entrada. Assim, foi possível determinar o rendimento forrageiro (RF, kg/ha).

A outra sub-amostra, da condição de entrada, foi destinada a realização das análises da composição química da forrageira, sendo acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e levadas para o Laboratório Químico Industrial da COMIGO (Rio Verde, GO), para realização das análises bromatológicas. As amostras foram colocadas em estufa de ar forçado a 55°C para determinação da matéria seca parcial. Em seguida, o material foi moído em moinho com peneira de 1 mm e submetido a análises químicas. Foram realizadas análises de composição química para determinação de proteína bruta (PB), de acordo com as metodologias descritas pela AOAC (1990).

A fibra em detergente neutro (FDN) e a fibra em detergente ácido (FDA) foram estimadas pelo método descrito por Mertens (2002) e nutrientes digeríveis totais (NDT) que foram calculados com base na formula proposta por Chandler et al. (1990); todos os componentes bromatológicos mencionados foram expressos com base MS (%).

Para a avaliar a produção animal na área da ILP, utilizou-se de 24 garrotes da raça Nelore (Figura 2), com idade média de 22 meses e peso corporal médio inicial de 442 kg. Os animais foram pesados sob jejum prévio de alimentos sólidos de 16 horas, em seguida casualizados e distribuídos de forma aleatória entre os tratamentos: RL e RC.

2 – Garrotes da raça Nelore em pastos de capim-miyagui em sistema de ILP, com diferentes estratégias de pastejo. CTC – 2024. Foto tirada em 05/04/2024 (início do experimento).

No início do experimento, a taxa de lotação (animais por módulo) foi ajustada conforme a capacidade de suporte de cada módulo ILP1A (n=4), ILP1B (n=4), ILP2A (n=4), ILP2B (n=4), ILP3A (N=4) e ILP3B (n=4). Para obtenção da taxa de lotação utilizou-se do somatório dos pesos corporais (kg) dos animais de cada módulo, dividiu-se por 450 kg (UA: 450 kg de peso corporal) e ajustou-se ao tamanho da área. Antes do período experimental os animais foram vacinados e desverminados conforme o calendário profilático da propriedade.

Para o fornecimento de água de qualidade ad libitum aos animais utilizou-se de bebedouros metálicos, com enchimento por boias de gravidade e capacidade de 500 litros. O bebedouro ficava centralizado entre os quatro módulos, com livre acesso pelos animais.

Os animais foram inseridos no sistema em 05/04/2024, 48 dias após a semeadura da forrageira e permaneceram até o dia 20/08/2024, perfazendo um total de 137 dias de avaliações. As pesagens dos animais foram realizadas a cada 28 dias e as pesagens inicial e final foram realizadas com jejum prévio de sólidos. Nessas ocasiões também foram realizadas a mensurações morfométricas, com metodologia adaptada de Freneau et al. (2008), visando

avaliar o crescimento dos animais. As medidas morfométricas foram determinadas com auxílio de fita métrica e bengala hipométrica, sendo elas: altura de garupa (AG) – distância entre a tuberosidade sacral, na garupa, e a extremidade distal do membro posterior; altura de cernelha (AC) – distância entre a região da cernelha e extremidade distal do membro anterior; comprimento corporal (CC) – medida entre a articulação escapulo-umeral a articulação coxofemoral; perímetro torácico (PT) – medida com base entre esterno e a cernelha, passando atrás da paleta; e perímetro escrotal (PE) medida na porção mais larga da bolsa escrotal. O escore de condição corporal (ECC) foi avaliado pelo mesmo avaliador treinado em ambas as avaliações.

A suplementação dos animais foi realizada com três suplementos (Quadro 2), atendendo às exigências nutricionais dos animais, e sempre ajustado conforme a qualidade da forragem observada à cada ciclo de avaliações. Foram utilizados os suplementos Cooperbeef Águas® por 29 dias, compreendendo o período de 05/04/2024 até 04/05/2024, o Cooperbeef Transição® por 31 dias, compreendendo o período de 05/05/2024 até 04/06/2024 e Cooperbeef Secas® por 77 compreendendo o período de 05/06/2024 até a saída dos animais em 20/08/2024. A su-

FIGURA

plementação foi realizada com a utilização de cochos de plástico, próximos da fonte de água, com disponibilidade de 40 cm por animal e a quantidade fornecida era ajustada ao peso dos animais, na ocasião das pesagens. O fornecimento sugerido de ambos os suplementos foi de 3 g por kg de peso corporal e as sobras dos suplementos

foram mensuradas sempre que presentes. A quantidade diária de suplemento fornecida por animal foi obtida pelo somatório de fornecimento, dividido pelo tempo de cada suplementação (dias) e pelo número de animais em cada módulo.

Quadro 2 - Níveis de garantia por kg dos suplementos utilizados durante o período experimental.

Ingrediente

Cálcio (mín.), g

Cálcio (máx.), g

Fósforo, g

Sódio, g

Magnésio, mg

Enxofre, mg

Cobre, mg

Manganês, mg

Zinco, mg

Cobalto, mg

Iodo, mg

Selênio, mg

Flúor, mg

Vit. A, UI

Vit. D3, UI

Vit. E, UI NDT, g PB, g

g Narasina, mg

FONTE: Suplemento Mineral COMIGO.

No final do período de avaliações de desempenho, os animais foram encaminhados para um frigorífico comercial (Marfrig, Mineiros/GO) e abatidos por métodos humanitários de acordo com as normas exigidas pela Inspeção Federal Brasileira (MAPA, 2021). O peso da carcaça quente foi obtido ao final da linha de abate e utilizado para calcular o rendimento de carcaça quente. O rendimento de carcaça foi obtido utilizando-se o peso da carcaça quente (kg), dividido pelo peso final (kg) e multiplicado por 100.

Para a mensuração da produtividade animal através das arrobas produzidas por hectare, foram somados os pesos obtidos dos animais de cada módulo, em seguida, foram divididos por 30 kg, considerando o rendimento de carcaça de 50% e ajustado para o tamanho da área

de cada módulo. Para obtenção dos valores de arrobas de carcaça produzidas por hectare, somou-se o peso das carcaças dos animais de cada módulo, dividiu-se por 15 kg e ajustou-se para o tamanho da área de cada módulo. O peso de carcaça inicial foi considerado o equivalente a 50% do peso inicial. Para obtenção do ganho de peso médio diário (GMD) foi utilizado o peso final menos o peso inicial dividido pelo período em dias, que os animais permaneceram no experimento.

Os dados relacionados ao pasto e produção animal foram analisados por meio de análise de variância (ANOVA). Quando detectadas diferenças significativas entre os tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de teste F a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar as alturas de entrada (AE) nos pastos de capim-myagi estabelecidos em sistemas de ILP, constatou-se efeito significativo, em que o manejo RL resultou em incremento de 22,85% na altura pré-pastejo (Tabela 1). Esse resultado evidencia que a maior duração do período de pastejo ocasionou maior crescimento na forrageira nos primeiros ciclos de pastejo pela maior demora na entrada dos primeiros piquetes. Adicionalmente, promoveu a recuperação mais expressiva da altura do dossel forrageiro nos ciclos subsequentes. Entretanto, isso não refletiu em

benefícios para as demais características avaliadas (AS, RF, MFF, MFC, MFMM, PB, FDN, FDA e NDT) nos pastos de capim-miyagui, uma vez que, não foram observadas diferenças entre os manejos empregados. Dessa forma, a variação registrada na altura de entrada reforça a plasticidade fenotípica do capim-myagi, permitindo seu manejo em alturas variando entre 75 e 95 cm, sem prejuízos à composição botânica e bromatológica do pasto durante a entressafra em sistemas ILP.

Tabela 1 – Características do dossel forrageiro e composição bromatológica dos pastos de capim-miyagui em sistema de ILP, com diferentes sistemas de manejo de pastejo. CTC – 2024.

Estratégia de manejo

Variáveis

cm

cm

Médias seguidas de letras minúsculas na mesma linha, diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade. RL: pastejo realizado em rotação longa (14 dias em cada piquete). RC: manejo baseado em rotação curta (sete dias em cada piquete). AE: altura da entrada, determinada na condição de prépastejo. AS: altura da saída, determinada na condição de pós-pastejo. RF: rendimento forrageiro. MFF: massa de forragem de folha. MFC: massa de forragem de colmo. MFMM: massa de forragem de material morto. PB: proteína bruta. FDN: fibra insolúvel em detergente neutro. FDA: fibra insolúvel em detergente ácido. NDT: nutrientes digeríveis totais (NDT). EPM: erro-padrão da média. Valor P: probabilidade de efeito significativo.

O manejo da pastagem baseado em dias fixos de ocupação e descanso não promoveu impactos expressivos sobre o valor nutritivo do capim-miyagui em sistemas de ILP. Essas estratégias podem gerar benefícios adicionais aos responsáveis pela atividade, como a flexibilidade em reduzir o número de movimentações dos animais entre piquetes. Essa estratégia contribui para melhorar a eficiência operacional da pecuária, otimizando o uso da mão de obra empregada. No entanto, tais resultados somente são alcançados quando há adequado controle da taxa de lotação, associado ao monitoramento periódico da altura do pasto. Conforme salientam Euclides et al. (2014) e Fernandes et al. (2020), esses critérios de manejo são fundamentais para assegurar resultados satisfatórios nesse sistema.

Não houve diferenças significativas nos valores de desempenho e carcaça entre os animais manejados com alta ou baixa intensidade de pastejo, durante a segunda safra de 2023/2024, na ILP (Tabela 2). Os animais apresentaram GMD médio de 0,720 kg e foi menor do que o GMD verificado no ano anterior quando foram cultivadas outras cultivares de Panicum maximum (capim-quênia e capim-zuri, respectivamente, 0,820 e 0,860 kg), conforme descrito por Bilego et al. (2023). Muniz et al. (2022), verificaram GMD de 0,830 kg em garrotes Nelore, em pastejo de capim-tamani (Panicum maximum cv. BRS Tamani), nas mesmas condições. Da forma semelhante, não verificou-se diferenças significativas quanto às variáveis: arrobas de peso corporal e de carcaça produzidas por hectare, lotação inicial e lotação final entre os dois tratamentos.

Variáveis

PESOi, kg

PESOf, kg

GMD, kg

PCar inicial, kg

PCar final, kg

RC, %

Arrobas de peso corporal, @/ha

Arrobas de carcaça, @/ha

Lotação inicial, UA/ha

Lotação

Médias seguidas de letras ausentes na mesma linha, não diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade. RL: pastejo realizado em rotação longa (14 dias em cada piquete). RC: manejo baseado em rotação curta (sete dias em cada piquete). PESOi: Peso inicial; PESOf: peso final; GMD: ganho de peso médio diário; PCar incicial: Peso de carcaça inicial; PCar final: Peso de carcaça final; RC: rendimento de carcaça; @/ha: arrobas produzidas por hectare; UA/ha: unidade animal por hectare. EPM: erro-padrão da média. Valor P: probabilidade de efeito significativo.

Tabela 2 – Desempenho de garrotes Nelore em pastos de capim-miyagui em sistema de ILP, com diferentes sistemas de manejo de pastejo. CTC – 2024.
Estratégia de manejo

A produtividade, em arrobas de peso corporal por hectare, apresentou valores expressivos (14 @ por hectare) porém, sem diferenças entre as estratégias de pastejo e muito próximos aos encontrados em pesquisas anteriores, na mesma área. Entretanto, ao avaliar as carcaças dos animais verificou-se que os rendimentos favoreceram a produtividade em arrobas de carcaça por hectare. Esses resultados refletiram o desempenho satisfatório dos animais devido a oferta de pasto de boa qualidade associada à estratégia suplementação.

Os resultados das medidas morfométricas apresenta-

dos na Tabela 3 indicam ausência de diferenças significativas entre os grupos de animais submetidos a diferentes estratégias de pastejo no sistema ILP. As variáveis avaliadas não apresentaram variações estatisticamente relevantes, exceto a AC, que foi superior nos animais manejados sob RL. Tal diferença não era esperada já que as demais variáveis demonstraram similaridade. Esses achados sugerem homogeneidade no desenvolvimento dos garrotes, evidenciando que as rotações mais longas do pastejo, no contexto do sistema ILP, não exerceram influência expressiva sobre as características morfológicas avaliadas.

Tabela 3 – Medidas morfométricas garrotes Nelore em pastos de capim-miyagui em sistema de ILP, com diferentes sistemas de manejo de pastejo. CTC – 2024.

Variáveis

ECC, pontos*

Médias seguidas de letras minúsculas na mesma linha, diferem entre si pelo teste F a 5% de probabilidade. RL: pastejo realizado em rotação longa (14 dias em cada piquete). RC: manejo baseado em rotação curta (sete dias em cada piquete). AG: Altura da garupa. AC: altura da cernelha; LG: largura da garupa. LP: largura do peito CC: comprimento corporal. PT: perímetro torácico. PE: perímetro escrotal; ECC: escore de condição corporal. EPM: erro-padrão da média. Valor P: probabilidade de efeito significativo.

Os consumos dos suplementos Cooperbeef águas, transição e secas foram semelhantes nas diferentes estratégias de pastejo, tanto em gramas quanto em porcenta-

gem do peso corporal (Tabela 4). Os suplementos Cooperbeef águas e transição apresentaram consumos abaixo do consumo estimado (3 g kg-1 de PC).

Estratégia de manejo

Tabela 4 – Consumo dos suplementos de garrotes Nelore em pastos de capim-miyagui em sistema de ILP, com diferentes sistemas de manejo de pastejo. CTC – 2024.

Estratégia de manejo

Variáveis

CSA, g

CSAPC, g/kg

CST, g

CSTPC, g/kg

CSS, g

CSS, g/kg

Médias seguidas de letras ausentes na mesma linha, não diferem entre si pelo teste a 5% de probabilidade. RL: pastejo realizado em rotação longa (14 dias em cada piquete). RC: manejo baseado em rotação curta (sete dias em cada piquete). CSA: consumo diário do suplemento cooperbeef águas; CSAPC: consumo do suplemento cooperbeef águas para cada kg de peso corporal; CST: consumo diário do suplemento cooperbeef transição; CSTPC: consumo de suplemento cooperbeef transição para cada kg de peso corporal; CSS: consumo diário do suplemento cooperbeef secas; CSSPC: consumo do suplemento Cooperbeef secas para cada kg de peso corporal. EPM: erro-padrão da média. Valor P: probabilidade de efeito significativo.

Já o Cooperbeef secas apresentou consumo mais próximos aos valores previstos. O consumo de suplementos abaixo dos valores estimados pode ser explicado pela

Conclusão

O manejo com diferentes tempos fixos de ocupação demonstrou que não há comprometimento das características bromatológicas do capim-miyagui, tampouco do

Agradecimentos

Agradecemos ao Centro Tecnológico Comigo (CTC) pelo apoio. Sua contribuição foi fundamental para o de-

quantidade e da alta qualidade de pastagem ofertada nos primeiros ciclos de pastejo.

desempenho e da produtividade animal em sistema de ILP.

senvolvimento e sucesso desta pesquisa.

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USO DE BIOESTIMULANTES COMO FERRAMENTA PARA INTENSIFICAÇÃO SUSTENTÁVEL

DE PASTAGENS

NASCIMENTO¹, Hemython Luis Bandeira do; BILEGO², Ubirajara Oliveira; FERREIRA3, Izabela Silva

1 Eng. Agrônomo, Doutor em Zootecnia, Pesquisador em Forragicultura do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: hemythonluis@comigo.com.br

2Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador em Produção Animal do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br

3Graduanda de Medicina Veterinária – Universidade de Rio Verde - UniRV

INTRODUÇÃO

Atualmente tem-se observado uma tendência de estreitamento da margem de lucro da pecuária de corte, o que é atribuído principalmente a elevação de preços de terras que nos últimos 5 anos valorizaram aproximadamente 113%. O aumento dos custos de insumos e elevação do preço da reposição, também contribuíram para criar esse cenário. Além disso, nos últimos 20 anos houve um aumento da área cultivada com grãos de 27 milhões de hectares (CONAB, 2025) e redução de cerca de 20 milhões de hectares de pastagens (ABIEC, 2024), indicando claramente que parte das áreas de pastagens tem sido convertidas em lavoura, especialmente as áreas de pastagens degradadas.

Diante desse cenário, fica evidente que para se manter competitivo na pecuária é preciso buscar maior eficiência de processos, e manter o equilíbrio entre aumento de produtividade e lucratividade com sustentabilidade. Nesse sentido, o melhor caminho é investir no pasto, pois com simples intervenções como controle de plantas daninhas, correção do solo, divisão de áreas, manejo adequado do pastejo e reposição adequada de nutrientes é possível aumentar a lotação por área, melhorar desempenho animal e aumentar a produtividade.

Contudo é importante ressaltar que para obter sucesso na implantação de um projeto de intensificação de pastagens, é preciso ter um bom planejamento, definir metas, identificar o nível tecnológico da propriedade, e elencar ordem de prioridades para realização de intervenções e/ou inserção de novas tecnologias no sistema de produção. Para propriedades com pastos limpos, bem nutridos e que já são bem manejados, algumas tecnologias podem ser inseridas no manejo da pastagem a fim de reduzir dependência de fertilizantes químicos e melhorar aspectos fisiológicos da planta, como o uso de bioestimulantes, fertilizantes foliares e bactérias promotoras de crescimento de plantas.

O uso estratégico desses produtos tem como propósito complementar o manejo nutricional do pasto, por meio do

fornecimento de alguns macro e micro nutrientes e aminoácidos via foliar para a planta (bioestimulantes e fertilizantes foliares), além de atuar na fisiologia da planta, estimulando a produção de alguns fitormônios como auxinas, giberelinas, citocininas e etileno, bem como na solubilização e outros mecanismos de absorção do fósforo, como no caso das bactérias do gênero Azospirillum, que também fixam nitrogênio da atmosfera (LEITE et al., 2018) e as bactérias do gênero Pseudomonas, que atuam principalmente em processos microbianos que facilitam a absorção do fósforo.

Estudos recentes realizados no Centro Tecnológico COMIGO, mostraram resultados promissores quanto a utilização dessas tecnologias em pastagens. Nascimento et. al. (2022) avaliaram os efeitos da utilização de fertilizantes foliares e bioestimulantes em pastagens de Brachiaria brizantha cv. Xaraés e de Panicum maximum BRS Zuri e verificaram incremento de produção de forragem, aumento da produção de raiz, melhoria da taxa fotossintética e aumento no teor de proteína do pasto. Ao estudar os efeitos da utilização de bactérias promotoras de crescimento de plantas dos gêneros Azospirillum e Pseudomonas em pastos de B. brizantha BRS Piatã e de P. maximum BRS Zuri, Nascimento et al. (2023) verificaram que a utilização tanto do inoculante a base de Azospirillum isolado quanto a associação entre Azospirillum + Pseudomonas em pastos adubados com uma dose baixa de nitrogênio (50 kg ha-1 ano-1) houve incremento na produção de forragem em relação aos pastos que recebem apenas a adubação nitrogenada (50 kg ha-1 ano1) e semelhante a produção dos pastos que receberam 100 kg ha-1 ano-1 de nitrogênio, indicando que com a adoção da tecnologia é possível reduzir a adubação nitrogenada sem comprometer a produtividade do pasto.

Nesse sentido, objetivou-se com o presente estudo avaliar os efeitos da aplicação de fertilizante foliar e inoculante biológico a base de Azospirillum + Pseudomonas em pastos de B. brizantha BRS Piatã sobre as características produtivas e nutricionais do pasto, bem como no desempenho de bovinos de corte.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Setor de Pecuária do Centro Tecnológico COMIGO, em Rio Verde – GO. Segundo Thornthwaite (1948) o clima de Rio Verde - GO é classificado em B4 rB’4a’ (úmido, pequena deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração no verão menor que 48%).

A área utilizada para o experimento encontra-se sob as coordenadas 17⁰45’48’’ S e 51⁰02’14’’ W, com altitude de

832 m e possui aproximadamente 5,4 ha, divididos em três blocos (Figura 1). O solo da área é do tipo latossolo vermelho distrófico (SANTOS et al., 2018), com teores médios de 21,5% de argila, 1,5% de silte e 77% de areia. As características químicas do solo na ocasião do início do experimento podem ser observadas no quadro 1.

Quadro 1. Composição química do solo do solo da área experimental, Rio Verde – GO.

%

%

V: saturação de bases. MO: matéria orgânica. CTC: capacidade de troca catiônica. Ca: cálcio. Mg: magnésio. Al: alumínio. K: potássio. P: fósforo. B: boro.

Figura 1. Imagem aérea da área experimental, implantada com capim-piatã.

O pasto destinado ao experimento foi implantado em dezembro de 2022 com capim-piatã (Brachiaria brizantha BRS Piatã), após manejo de revolvimento do solo (aração + gradagem), controle de plantas-daninhas e correção do solo para elevação da saturação por bases. A área experimental constitui-se de um pasto de 5,4 hectares, dividido em seis módulos (A1, A2, B1, B2, C1 e C2), com suas respectivas áreas de 0,96, 0,96, 0,85, 0,85, 0,89 e 0,89 ha. Cada módulo foi subdividido em quatro piquetes com tamanhos similares.

Os tratamentos consistiram em dois protocolos de manejo nutricional do pasto. O primeiro, Protocolo Tradicional (TRAD), foi realizado com uso exclusivo de fertilizantes (500 kg ha-1 do formulado NPK 20-00-20, parcelado em duas aplicações de 250 kg ha-1 cada, sendo a primeira aplicação realizada em novembro de 2023 e a segunda em janeiro de 2024). O segundo, Protocolo (CTC), consistiu da aplicação do protocolo TRAD e, adicionalmente, recebeu aplicações de 300 mL ha-1 do inoculante biológico Biopasto® (Pseudomonas fluorescens CNPSo 2719 (75 mL ha-1) + Azospirillum brasilense CNPSo 2083 e 2084 (75 mL ha-1), em dezembro de 2023 e do fertilizante foliar Bioamino Extra® (4% de nitrogênio + 25% de carbono orgânico total) em fevereiro de 2024. A aplicação dos produtos era realizada sempre no pós-pastejo, no período de três a cinco dias após a saída dos animais dos piquetes.

Os dois tratamentos foram casualizados e distribuídos entre os seis módulos. Cada protocolo foi aplicado em três módulos diferentes, definidos como unidade experimental, com três repetições.

Quanto as avaliações da forragem, amostras de capim foram cortadas rente ao solo utilizando-se de uma moldura de 1 m² (1m x 1m), em seguida foram pesadas e retiradas sub-amostras com aproximadamente 500 g de forragem, que foram levadas para estufa de ventilação forçada Tecnal® - Modelo TE-394/3-MP, à 55°C, por 72 horas, para determinação do teor de matéria seca. Antes da coleta de massa de forragem, foi mensurada a altura do pasto em 30 pontos aleatórios por piquete. Para avaliação da composição botânica, densidade de perfilhos e composição morfológica do pasto foram coletadas aleatoriamente mais quatro amostras por unidade experimental usando uma moldura de 0,25 m² (0,5 m x 0,5 m). O corte foi realizado rente ao solo e as amostras coletadas foram levadas para

a sala de processamento de amostras onde foi realizada a separação botânica do material coletado (capim e invasoras), contagem de perfilhos e a separação morfológica do capim (folha, colmo e material morto).

Para estimar o acúmulo total de forragem, somou-se a massa de forragem pré-pastejo obtida no primeiro ciclo de pastejo com a massa de forragem acumulada da rebrota ao longo do período avaliado. O acúmulo de forragem de cada ciclo de pastejo foi obtido pela diferença entre a massa seca de forragem pré-pastejo do ciclo posterior menos a massa seca do resíduo pós-pastejo no ciclo anterior.

Para determinação da composição morfológica e química do pasto, foram retiradas sub-amostras da forragem coletada, e fracionadas em duas partes com mesma massa de forragem, uma parte era destinada à separação dos componentes morfológicos e a outra parte era destinada a análise bromatológica. As amostras utilizadas para determinação da composição morfológica eram separadas em folha (lâmina foliar), colmo (colmo + bainha) e material morto. Após a separação, os componentes foram pesados e colocados para secar em estufa de circulação forçada de ar, a 55 °C até atingir peso constante, para posteriormente, realizar a determinação do peso seco. As amostras destinadas a análise bromatológica da forrageira foram enviadas ao Laboratório Químico Industrial da COMIGO (Rio Verde, Brasil).

Para avaliar a produção animal, foram utilizados inicialmente 29 tourinhos Nelore, com idade de 18 meses e peso médio inicial de 312 kg. Os animais foram identificados, pesados e, em seguida, casualizados e distribuídos de forma aleatória nos seis módulos de pastejo de acordo com a capacidade de suporte de cada área. Antes do período experimental os animais foram vacinados contra clostridioses e desverminados conforme o calendário profilático da propriedade. As pesagens dos animais foram realizadas a cada 28 dias e as pesagens inicial e final de cada período (seca e águas) foram realizadas com jejum prévio de sólidos. Ao longo do período experimental foram realizados ajustes na taxa de lotação animal em função da capacidade de suporte da área. O método de pastejo adotado foi rotativo (intermitente) com taxa de lotação variável. O critério adotado para entrada e saída dos animais em cada piquete foi altura do pasto, sendo que os animais entravam em um novo piquete quando o pasto atingia al-

tura entre 30 e 40 cm e saíam com altura entre 20 e 15 cm.

Para a obtenção do ganho médio diário foi utilizado o peso final menos o peso inicial, dividido pelo período em dias. Já a obtenção da produtividade (arrobas por hectare), utilizou-se do peso final menos o peso inicial de cada animal, em cada período. Em seguida, os pesos foram somados e divididos por 30 (considerando 50% de rendimento de carcaça) e, finalmente, divididos pela área (ha). O grupo

de animais presente em cada módulo foi utilizado como unidade experimental, com três repetições.

Durante o período experimental os animais foram suplementados com suplemento proteico-energético com três composições distintas, atendendo às demandas nutricionais dos animais e às deficiências do pasto em cada momento do período experimental. O nível sugerido da suplementação foi de 0,3% em relação ao peso corporal.

Quadro 2. Composição química e níveis de garantia por kg de suplemento.

NUTRIENTE

Cálcio (Mín.), g

Cálcio (Máx.), g

Fósforo, mg

Sódio, g

Magnésio, mg

Enxofre, mg

Cobre, mg

Manganês, mg

Zinco, mg

Cobalto, mg

Iodo, mg

Selênio, mg

Vit. A, UI

Vit. D, UI

Vit. E, UI

Narasina, mg

Extrato etéreo, g

FDA, g

NDT, g

PB, g

NNP Eq. PB

Cooper BEEF Águas

Cooper BEEF Transição

Cooper BEEF SECA

UI= Unidade internacional; FDA= Fibra insolúvel em detergente ácido FDN= Fibra insolúvel em detergente neutro; PB= Proteína bruta; NNP= Nitrogênio não-proteico. Fonte: Suplemento Mineral COMIGO.

Os suplementos eram fornecidos diariamente, em cochos de plástico, com disponibilidade de pelo menos 30 cm lineares por animal. No local, os animais ainda tinham acesso à água de excelente qualidade, fornecida em dois bebedouros de metal, com capacidade para 1000 L e 500 L respectivamente.

Os dados referentes à produção e composição vegetal foram analisados utilizando o método de modelos mistos com estrutura paramétrica especial na matriz de cova-

riância, por meio do procedimento MIXED com medida repetida no tempo do software estatístico SAS (LITTELL et al., 2006). Os sistemas de manejo consideradas efeitos fixos e os blocos foram considerados efeito aleatório. Para escolher a matriz de covariância foi usado o critério de informação de Akaike (WOLFINGER et al., 1993). As médias dos tratamentos foram estimadas pelo “LSMEANS” e a comparação foi realizada pelo teste de Tukey com nível de significância de 10%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período experimental verificou-se um acúmulo de chuvas de 1.311 mm, que ficou concentrado entre novembro de 2023 e abril de 2024 (águas). A partir desse

momento, não houve registros de chuvas até o final do experimento, em agosto de 2024 (seca).

Figura 2. Acúmulo mensal de chuvas (mm), e médias mensais de temperaturas mínima, média e máxima. (Fonte: Estação meteorológica Plugfield® 00114, Centro Tecnológico Comigo)

A produção, estrutura do pasto e composição química do pasto, bem como a produção animal foram pouco afetados pelo sistema de manejo, sendo observados maiores efeitos de época do ano sobre o padrão de resposta das variáveis. Para facilitar o entendimento do padrão de resposta das variáveis, na tabela 1 encontram-se os resultados da análise de variância dos dados que serão apresentados. Foram verificados efeitos de sistema de manejo apenas para acúmulo de forragem (kg de MS ha-

1), teor de proteína bruta e de FDN do pasto (% da MS), e na produtividade animal (@ ha-1). Em relação às épocas do ano, conforme já era esperado foi verificado efeito sobre a maioria das variáveis, uma vez que no período das águas ocorrem abundância de chuvas, temperatura elevada e alta luminosidade, favorecendo o crescimento do pasto e produção animal. No perído seco, as condições ambientais limitam o crescimento e a produção do pasto, restringindo a produção animal.

Tabela 1. Resumo dos resultados da análise de variância dos dados, considerando efeitos de manejo (Tradicional x Protocolo CTC), época (Águas x Seca) e interação entre os fatores (Manejo x Época).

Variável

Altura pré-pastejo (cm)

Altura pós-pastejo (cm)

Acúmulo de forragem (kg de MS ha-1)

Folha (%)

Colmo (%)

Material Morto (%)

Proteína bruta (% da MS)

FDN (%da MS)

FDA (%da MS)

NDT (%da MS)

Taxa de Lotação (UA ha-1)

Capacidade de Suporte (UA ha-1)

Ganho Médio Diário (kg animal-1 dia-1)

Produtividade (@ ha-1)

Para alturas pré e pós-pastejo não foram verificadas diferenças entre os sistemas de manejo (P = 0,5672 e P = 0,4366 respectivamente). A altura pré-pastejo foi em média 31,7 cm e a altura pós-pastejo 20 cm. Foi observado efeito de sistema de manejo para o acúmulo de forragem (p = 0,0103) que

foi cerca de 16% maior no sistema manejado com o Protocolo CTC. Para as características morfológicas do pasto, não foram verificados efeitos de sistema de manejo, sendo observados valores médios de 54,7% de folhas, 37,6% colmo e 7,8% de material morto na massa de forragem (Tabela 2)

Tabela 2. Estrutura e produtividade de pastos de Brachiaria brizantha BRS Piatã submetidos ao protocolo TRAD (apenas adubação química) e ao protocolo CTC (adubação química + fertilizante foliar + bactérias promotoras de crescimento).

Altura pré-pastejo (cm)

Altura pós-pastejo (cm)

Acúmulo de forragem (kg de MS ha-1) Folha

Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste de Tukey à 10% de significância.

Efeito de Tratamentos
Efeito de épocas

Em relação a composição química do pasto, só foram observados efeitos significativos de sistema de manejo para o teor de proteína bruta (p = 0,0805), que foi 14% maior no sistema manejado com o Protocolo CTC. Não foram observados efeitos de sistema de manejo para as demais características químicas do pasto avaliadas, sendo verificados valores médios de 68% de FDN, 37,2% de FDA e 60% de NDT.

Em relação à produção animal, só foi observado efeito significativo de sistema de manejo para produtividade de arrobas por hectare, sendo verificado incremento de 10,6% na produção de arrobas no sistema manejado com o protocolo CTC em relação ao protocolo TRAD. Para taxa de lotação, capacidade de suporte e ganho médio diário, verificou-se valores médios de 5,37 UA ha-¹, 5,0 UA ha-¹ e 0,754 kg animal-¹ dia-¹.

Tabela 3. Composição química do pasto e produção animal em pastos de Brachiaria brizantha BRS Piatã submetidos ao protocolo TRAD (apenas adubação química) e ao protocolo CTC (adubação química + fertilizante foliar + bactérias promotoras de crescimento).

Efeito de épocas

Proteína bruta (% da MS)

FDN (%da MS)

FDA (%da MS)

NDT (%da MS)

Taxa de Lotação (UA ha-1)

Capacidade de Suporte (UA ha-1)

Ganho Médio Diário (kg animal-1 dia-1)

Produtividade (@ ha-1)

Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem entre si pelo teste de Tukey à 10% de significância.

A maior produção animal nos pastos que foram submetidos ao protocolo CTC ocorreu em virtude da melhor qualidade nutricional, proporcionando maiores níveis de

CONCLUSÃO

A inserção de fertilizantes foliares e bactérias promotoras de crescimento no protocolo de manejo de pastagens adubadas e bem manejadas pode gerar incremento

proteína que, juntamente com as estratégias de suplementação, ocasionaram maior acúmulo de arrobas por hectare.

em produtividade do pasto e da produção animal em sistemas de produção de bovinos de corte em pastejo.

Variável
Efeito de Tratamentos

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DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CAR-

CAÇA DE BOVINOS DE CORTE CONFINADOS RECEBENDO ÁCIDO GUANIDINO ACÉTICO

COMO ADITIVO

BILEGO¹, Ubirajara Oliveira; NUÑEZ², Amoracyr José Costa; RESTLE³, João; FERREIRA⁴, Izabela Silva; FIGUEIREDO⁵, Cibelle Borges; FERREIRA⁶, Reginaldo Nassar

1 Médico Veterinário, Dr em Ciência Animal, Pesquisador em Produção Animal do Centro Tecnológico COMIGO, Rio Verde-GO. E-mail: ubirajarabilego@comigo.com.br

2 Engenheiro Agrônomo, Dr. em Zootecnia, Professor de Produção de bovinos de corte na EVZ – UFG. Email: ajcnunez@ ufg.br

3 Engenheiro Agrônomo, PhD Animal Science. Email: jorestle@terra.com.br

4 Graduanda de Medicina Veterinária – Universidade de Rio Verde - UniRV

5 Zootecnista, Drª em Zootecnia – Gerente de produtos – Rações COMIGO

6 Médico Veterinário, DSc. Professor Titular ICB – UFG – Email: reginaldonassar@gmail.com

INTRODUÇÃO

As demandas mundiais por proteínas de origem animal são crescentes e países que possuem potencial de incremento da sua produtividade podem se beneficiar dessas condições. Nesse aspecto, o Brasil destaca-se por possuir o maior rebanho comercial de bovinos do mundo e ser o segundo maior produtor mundial de carne bovina, com 11,8 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TEC) produzidas no ano de 2024 (ABIEC, 2025). Para garantir consistência no mercado altamente competitivo e manter a sustentabilidade do sistema produtivo, é necessário que os pecuaristas recorram ao processo de intensificação e aumento da eficiência alimentar.

Utilizado como estratégia de intensificação, o confinamento de bovinos de corte é uma prática que tem crescido de forma consistente no Brasil. Em 2024 houve aumento de 8,7% na quantidade de bovinos confinados, passando de 8,07 milhões de cabeças em 2023 para 8,84 milhões em 2024 (ABIEC, 2025). Com o objetivo de garantir alto desempenho dos animais em regime de confinamento, são fornecidas dietas balanceadas utilizando-se de matérias primas oriundas de grãos e de coprodutos. Adicionalmente, são inseridos nessas dietas aditivos nutricionais para minimizar transtornos metabólicos e aumentar a eficiência de conversão dos alimentos em carne.

O uso de aditivos nutricionais tem sido uma realidade transformadora na nutrição de ruminantes nas últimas décadas. Em levantamento sobre práticas nutricionais para bovinos confinados, realizado com nutricionistas que respondem por aproximadamente 4,7 milhões de animais confinados no Brasil, Silvestre & Millen (2021) reportaram que 100% dos nutricionistas entrevistados recomendam a utilização de algum tipo

MATERIAL E MÉTODOS

Ode aditivo nas dietas. Conforme a Instrução Normativa 13/04, define-se como aditivo “substância, microrganismo ou produto formulado, adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizado normalmente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as características dos produtos destinados à alimentação animal dos produtos animais, melhore o desempenho dos animais sadios ou atenda às necessidades nutricionais” (MAPA, 2004).

Recentemente, os aditivos utilizados na nutrição de bovinos de corte têm incrementado de forma positiva a eficiência alimentar e a saúde do trato gastrointestinal dos bovinos. Dentre eles, destacam-se os ionóforos, as leveduras, as enzimas e os extratos naturais de plantas como taninos, saponinas e óleos essenciais. Nesse contexto, destaca-se ainda o ácido guanidino acético (AGA), precursor direto da creatina e estimulador do metabolismo energético da musculatura esquelética (OSTOJIC et al., 2020). Também conhecida como glicosamina, o uso do AGA como melhorador do status muscular já era conhecido na medicina humana há algumas décadas (BORSOOK & BORSOOK, 1951). Posteriormente, seu uso foi estudado em outras espécies animais e considerado seguro. Estudos de nutrição animal forneceram evidências dos efeitos positivos do AGA sobre o desempenho, o crescimento e o rendimento de carne em aves e suínos (EFSA, 2016). Contudo, estudos sobre o uso do AGA em bovinos de corte são escassos, sendo quase que em sua totalidade conduzidos na Ásia com raças nativas ou de origem taurina.

Nesse contexto, o presente experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar o desempenho, as características morfométricas e de carcaça de bovinos de corte terminados em confinamento com dietas contendo o AGA como aditivo.

experimento foi conduzido no Setor de Pecuária do Centro Tecnológico COMIGO, da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano - COMIGO, localizado na microrregião Sudeste do estado de Goiás, no município de Rio Verde (latitude Sul 17° 47’ 53”, longitude Oeste 51° 55’ 53” e altitude média de 815 m).

Foram utilizados 96 tourinhos da raça Nelore (Figura 1), com idade média de 18 meses e peso corporal (PC) inicial médio de 298,44 ± 7,38 kg. Os animais foram divididos em 16 baias (unida-

de experimental) com seis animais, distribuídas aleatoriamente entre dois tratamentos, com oito repetições por tratamento. As baias eram equipadas com cocho de concreto com disponibilidade de 1,2 m lineares por animal e bebedouro de concreto, com capacidade de 500 L e enchimento automático. Os tratamentos avaliados foram: 1) Controle: dieta contendo silagem de milho e ração comercial com monensina; e 2) Creamino: dieta contendo silagem de milho, ração comercial com monensina

e CREAMINO® (Ácido Guanidino Acético – AGA - 0,96 g kg-1). Os aditivos foram fornecidos via concentrado e, em função dos tratamentos, as concentrações com base na matéria natural (MN) foram de 28,8 mg kg-1 de concentrado para a monensina, e 735 mg kg-1 de concentrado para o AGA. Essas dosagens garantiram o fornecimento diário de 24,60 e 625,20 mg kg-1 de MS de monensina sódica e AGA, respectivamente.

Figura 1 – Animais de cada grupo experimental no início do experimento. Foto tirada em 18/06/2024. FONTE: Arquivo pessoal

No início do período experimental, os animais foram identificados com brinco e bóton eletrônico, desverminados e vacinados contra clostridioses e doenças do complexo respiratório bovino. O período de adaptação foi conduzido por meio do protocolo em escada, com fornecimento de dietas com níveis crescentes de concentrados comerciais. No período de adaptação, os animais receberam dietas com relação volumoso:concentra-

do (na MS) de 60:40 por 7 dias, 45:55 por 7 dias e 30:70 por 7 dias. Após o período de adaptação, os animais passaram a consumir a dieta final com a relação volumoso:concentrado de 25:75. Os ingredientes concentrados das dietas foram utilizados na forma de ração comercial previamente misturada. Para as dietas de adaptação foi utilizada a ração comercial Ração Corte 18f® e para a dieta final foi utilizada a Ração Beef 16 AE® (Quadro 1).

Quadro 1 – Ingredientes da dieta experimental (g kg-1) com base na matéria seca

Dietas de adaptação

Silagem de milho

Milho moído

Sorgo Moído

Farelo de soja

Fibra de soja

Calcário

Ureia

Fosfato bicálcico

Sal comum

Premix Mineral Vitamínico Antifúngico

FONTE: Rações COMIGO

As dietas de adaptação e final (Quadro 2) foram formuladas para atender às exigências dos animais estimadas pelo BR-CORTE 2016 (Valadares Filho et al., 2016).

Quadro 2. Níveis de garantia e composição bromatológica dos ingredientes da dieta.

MS, g kg-1 MN

PB, g kg-1 MS

EE, g kg-1 MS

MM, g kg-1 MS

FDN, g kg-1 MS

FDA, g kg-1 MS

CÁLCIO, g kg-1 MS

FÓSFORO, g kg-1 MS

NDT, g kg-1 MS

Monensina, mg kg-1 MS

FONTE: Laboratório Químico Industrial COMIGO e Laboratório 3rlab (Goiânia).

Ração Corte Beef 16 AE®

As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 09h30 e às 15h, por meio da mistura mecânica do volumoso e do concentrado com auxílio do equipamento IPACOL® Mod. VPTM 4.0, Veranópolis- RS, com capacidade de 4 m3, arrastado por trator MF - 275. O consumo de MS foi calculado pela diferença entre a quantidade oferecida e as sobras, que eram pesadas diariamente e mantidas em cerca de 5% a 10% do total oferecido. A mensuração da matéria seca (MS) da silagem de milho era realizada semanalmente através da metodologia Dryer bag® (MACHADO & MARCONDES, 2017) e através de estufa de ventilação forçada (Tecnal® - Modelo TE-394/3-MP, Piracicaba -SP) à 65°C por 72 horas.

As pesagens realizadas no início e no final do período experimental foram conduzidas com os animais sob jejum de sólidos de 16 horas. As pesagens intermediárias foram realizadas a cada 28 dias (sem jejum) para monitoramento do ganho médio diário (GMD), determinado pela diferença entre os pesos final e inicial dividida pelo número de dias de experimento. A eficiência alimentar foi determinada pela divisão do GMD pelo consumo de MS, enquanto a eficiência biológica (EB) foi calculada pela divisão do CMS pelo ganho líquido de carcaça em arrobas.

Durante as pesagens inicial e final, foram realizadas as medidas morfométricas e escore de condição corporal dos animais. As medidas morfométricas foram determinadas com auxílio de fita métrica e bengala hipométrica, sendo elas: altura de garupa (AG) – distância entre a tuberosidade sacral, na garupa, e a extremidade distal do membro posterior; altura de cernelha (AC) – distância entre a região da cernelha e extremidade distal do membro anterior; comprimento corporal (CC) – medida entre a articulação escapulo-umeral a articulação coxofemoral; perímetro torácico (PT) – medida com base entre esterno e a cernelha, passando atrás da paleta; e perímetro escrotal (PE) medida na porção mais larga da bolsa escrotal. O escore de condição corporal (ECC) foi avaliado pelo mesmo avaliador treinado em ambas as avaliações.

As avaliações do escore de fezes foram feitas diariamente, às 08h00, por um mesmo avaliador treinado. Para essa mensuração, quatro a seis bolos fecais por baia foram classificados quanto à sua forma física e consistência, conforme metodologia descrita por Hulsen (2005), utilizando os seguintes escores: 1) bolo fecal líqui-

do, indicando excesso de proteína ou amido; 2) bolo fecal solto, não formando uma pilha, geralmente por falta de fibra efetiva na dieta; 3) pontuação ideal; bolo fecal empilha em altura de até 5 cm, formando vários anéis concêntricos com uma depressão central; 4) bolo fecal espesso, formando pilhas com mais de 5 cm de altura; e 5) bolo fecal seco, formando bolas espessas.

As características de carcaça com a utilização da ultrassonografia foram realizadas no início e no final do confinamento. Para essa mensuração, utilizou-se equipamento de ultrassonografia em tempo real (ALOKA 500V), com transdutor linear de 17,2 cm e 3,5 MHz, bem como um acoplador acústico. Foram avaliadas a área de olho de lombo (AOL), em cm2; a espessura de gordura subcutânea (EGS), em mm; a EGS na picanha (EGSP), em mm; o grau de marmoreio, em percentual; e o ratio, representado pela relação entre a largura e a altura da AOL. As medidas de AOL e EGS foram obtidas entre a 12ª e a 13ª costelas, do lado direito do animal, com o transdutor posicionado perpendicularmente à coluna vertebral e transversalmente sobre o músculo Longissimus thoracis (contra-filé). Para o melhor acoplamento entre o transdutor e a curvatura da costela, utilizou-se um standoff (acoplador acústico de silicone). O grau de marmoreio foi mensurado com auxílio do software BIA (Bovine Image Analysis) autorizado pela Ultrasound Guidelines Council (UGC), diretamente sobre o Longissimus thoracis entre a 11ª, 12ª e a 13ª costelas, em posicionamento longitudinal em relação à coluna vertebral. Para garantir o melhor contato da sonda com o corpo do animal, utilizou-se óleo vegetal como acoplante acústico. Todas as avaliações ultrassonográficas foram realizadas pela empresa DGT Brasil Ltda (Presidente Prudente – SP), por técnicos treinados e credenciados pela UCG. Posteriormente, as imagens foram interpretadas, analisadas, certificadas e arquivadas pelo técnico da DGT Brasil e, em seguida, o relatório final foi encaminhado ao Setor de Pecuária do CTC COMIGO.

Após o período de 122 dias de confinamento, três animais por baia, cujos pesos eram os mais próximos da média geral da baia, foram selecionados, encaminhados para um frigorífico comercial (Marfrig, Mineiros/GO, localizado a 190 km do confinamento experimental) e abatidos por métodos humanitários de acordo com as normas exigidas pela Inspeção Federal Brasileira (MAPA, 2021). O peso da carcaça quente foi obtido ao final da linha de abate e utili-

zado para calcular o rendimento de carcaça quente. Após 24 horas de resfriamento em câmara fria, com temperatura entre zero e 1°C, a meia carcaça direita de cada animal foi avaliada quanto à conformação (1-3: inferior; 4-6: má: 7-9: regular; 10-12: boa; 13-15: muito boa; 16-18: superior), perímetro de braço, comprimento de braço, comprimento de carcaça, espessura de coxão e comprimento de perna (MÜLLER, 1987). Na meia carcaça esquerda, após a separação dos três cortes primários (dianteiro, ponta de agulha e traseiro especial), foi realizado um corte entre a 12ª e 13ª costelas para expor o músculo Longissimus thoracis, onde

a EGS foi medida com auxílio de paquímetro manual.

Os dados foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para as análises de escore de fezes, escore de condição corporal e conformação da carcaça, os dados foram comparados através do teste de Kruskal-Wallis ao nível de 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram conduzidas considerando o delineamento inteiramente ao acaso, com auxílio do pacote estatístico easyanova (ARNHOLD, 2013) do programa computacional R, versão 4.0.2 (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foram observadas diferenças entre os tratamentos para as variáveis PC ao início do experimento, ao final do período de adaptação e ao final do período experimental (Tabela 1). De forma semelhante, a inclusão de AGA na dieta não resultou em incremento no GMD dos animais. Em pesquisas conduzidas na China com bovinos da raça Jinjiang (LI et al., 2021) ou da raça Angus (YI et al., 2024), a

inclusão de AGA na dieta não resultou em diferenças no PC final em comparação aos animais do grupo controle (sem o aditivo). Entretanto, em ambos os trabalhos, os pesquisadores verificaram maior GMD para os grupos tratados com o AGA em comparação com o tratamento controle, embora o desempenho tenha sido inferior ao reportado no presente estudo.

Tabela 1. Desempenho de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta. CTC – 2024.

Peso inicial, kg

Peso adaptação, kg

Peso final, kg

GMD, kg dia-¹

GMT, kg dia-¹

¹ GMD = Ganho de peso diário; GMT = ganho de peso total. 2Erro- padrão da média. 3 Médias seguidas de letras diferentes na mesma diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.

Não foram observadas alterações no consumo de alimentos em função dos tratamentos durante o período de adaptação e no período final do confinamento, tanto em valores absolutos quanto em percentual do peso corporal (Tabela 2). Esses resultados foram semelhantes aos reportados por Li et al. (2021) e Yi et al. (2024), durante 130 dias de confinamento, bem como por Souza et

al. (2024), em estudo com vacas zebuínas no Brasil, que também não observaram efeito do AGA sobre o consumo de matéria seca. Entretanto, os resultados do presente estudo diferem dos encontrados por Sánchez-Villasana et al. (2024), que observaram que a inclusão de AGA na dieta promoveu redução de 12% no consumo de matéria seca em novilhos cruzados jovens, no México.

Tratamentos

Tabela 2. Consumo alimentar de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta, durante as fases de adaptação e final. CTC – 2024.

Tratamentos

CMSadapt, kg dia-¹

CMSadapt, % PC

CMS, kg dia-¹

CMS, % PC

¹ CMSadapt = Consumo de matéria seca durante o período de adaptação; PC = peso corporal; CMS = consumo de matéria seca. 2Erropadrão da média. 3 Médias seguidas de letras diferentes na mesma diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.

Foram observadas diferenças na eficiência alimentar (EA) e na conversão alimentar (CA) entre os tratamentos avaliados (Tabela 3). Os animais suplementados com AGA (Creamino) apresentaram maior EA e melhor CA (P ≤ 0,01) em comparação com os animais que receberam as dietas sem o aditivo. Por outro lado, a eficiência biológica e o escore de fezes não diferiram entre os tratamentos. En-

tretanto, apesar da diferença não significativa, os animais tratados com o AGA apresentaram redução de mais de 8 kg de MS consumida para cada arroba de carcaça produzida. O efeito do AGA no incremento da EA já havia sido relatado por Yi et al. (2024), enquanto a melhora da CA foi reportada por Li et al. (2021).

Tabela 3. Eficiência, conversão alimentar, eficiência biológica e escore de fezes de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta, durante o período experimental. CTC – 2024.

Tratamentos

¹ EA = Eficiência alimentar; CA = conversão alimentar; EB = eficiência biológica, EF = escore de fezes. ²Erro- padrão da média. ³ Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey ou pelo teste de *Kruskal-Wallis.

Nas avaliações de morfometria inicial, houve diferenças entre os tratamentos apenas para a altura da cernelha (Tabela 4). As maiores médias observadas para grupo creamino (P = 0,05) em comparação com o tratamento controle provavelmente ocorreram em função de algum efeito individual aleatório, já que no momento dessa avaliação os animais ainda não estavam recebendo a dieta com a inclusão do AGA. Esse fato foi confirmado ao final do experimento, quando a diferença entre os tratamentos para essa variável deixou de ser observada. Entretanto,

nas avaliações conduzidas ao final do período de confinamento, observou-se que os animais que receberam AGA apresentaram maiores valores (P = 0,01) de altura da garupa. Adicionalmente, foram observadas diferenças no escore de condição corporal, com maiores valores para o grupo AGA (P < 0,01) em comparação com os animais do tratamento controle. Esses valores refletiram o status nutricional dos animais ao final do período de confinamento, embora sem impacto no desempenho animal.

Tabela 4. Morfometria de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta, no início e no final do período experimental. CTC – 2024.

Tratamentos

INICIAL

Altura da garupa, cm

Altura da cernelha, cm

Largura da garupa, cm

Largura do peito, cm

Comprimento corporal, cm

Perímetro torácico, cm

Perímetro escrotal, cm

ECC, pontos

FINAL

Altura da garupa, cm

Altura da cernelha, cm

Largura da garupa, cm

Largura do peito, cm

Comprimento corporal, cm

Perímetro torácico, cm

Perímetro escrotal, cm

ECC, pontos*

¹ ECC = Escore de condição corporal. ²Erro- padrão da média. ³ Médias seguidas de letras diferentes na mesma diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey ou pelo teste de *Kruskal-Wallis.

Tabela 5. Características de carcaça, avaliadas por ultrassonografia, de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta, no início e no final do período experimental. CTC – 2024.

Tratamentos

INICIAL

AOL, cm2

AOL/100, cm

RATIO, cm

MAR, %

EGS, mm

EGS/100, cm

EGPICANHA, mm

FINAL AOL, cm2

cm

RATIO, cm

MAR, %

EGS, mm

EGS/100, cm

EGPICANHA, mm

¹ AOL = Área de olho de lombo: AOL/100 = Área de olho de lombo para cada 100 kg de peso corporal; RATIO = relação entre comprimento e largura da AOL; MAR = marmoreio; EGS = espessura de gordura subcutânea; EGS/100 = espessura de gordura subcutânea para cada 100 kg de peso corporal; EGPICANHA = espessura de gordura na região da picanha. ²Erro- padrão da média. ³ Médias seguidas de letras diferentes na mesma diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.

Variável¹
Controle Creamino
EPM²
Valor de P³

Nas avaliações de carcaça realizadas no frigorífico, observou-se que os animais tratados com AGA apresentaram valores de peso de abate, peso de carcaça quente, AOL e ganho líquido de carcaça superiores em

2,46%, 2,50%, 3,13% e 5,38%, respectivamente, em relação ao grupo controle (Tabela 6). Entretanto, essas diferenças não foram significativas.

Tabela 6. Características de carcaça, avaliadas no frigorífico, de tourinhos Nelore confinados recebendo ou não AGA na dieta, no final do período experimental. CTC – 2024.

Tratamentos

PA, kg

PCQ, kg

REND, %

CB, cm

PB, cm

CP, cm

ECX, cm

CCar, cm

CONF, pontos

EGSf, cm

COR, pts

¹ Peso de abate = Peso de abate; PCQ = Peso de carcaça quente; REND = rendimento de carcaça; CB = comprimento de braço; PB = perímetro de braço; CP = comprimento de perna; EXC = espessura do coxão; CCar = comprimento da carcaça, CONF = conformação; EGSf = espessura de gordura no frigorífico; MARf = marmoreio avaliado no frigorífico; AOLf = área de olho de lombo avaliada no frigorífico; PCARi = peso de carcaça inicial; GLC = ganho líquido de carcaça; RENDGanho = rendimento do ganho. ²Erro-padrão da média. ³ Médias seguidas de letras diferentes na mesma diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade

Em pesquisa prévia, a suplementação com 0,2% de AGA na dieta melhorou a qualidade da carne, refletida em maiores níveis de glicogênio muscular, menores perdas por gotejamento, menor força de cisalhamento e melhores valores de L*, a* e b* de coloração, além do aumento da capacidade antioxidante em touros Jinjiang (LI et al., 2021). Segundo os mesmos autores, essas

Conclusão

O fornecimento de AGA na dieta de tourinhos Nelore confinados melhorou o ECC, bem como a eficiência e a conversão alimentar, sem comprometer o desempenho, a

respostas podem estar associadas à hiper-hidratação celular induzida pela creatina e ao retardo da glicólise post-mortem. Nesse contexto, pesquisas futuras devem ser conduzidas com o objetivo de avaliar os efeitos do AGA sobre as características de qualidade da carne.

morfometria e as características de carcaça, exceto, para espessura de gordura subcutânea avaliada por ultrassonografia, que foi menor nos animais que receberam o aditivo.

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DESEMPENHO DE BOVINOS DE CORTE SOB

DUAS ESTRATÉGIAS DE SUPLEMENTAÇÃO DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ÁGUAS-SECA

BILEGO¹, Ubirajara Oliveira; NUÑEZ², Amoracyr José Costa; RESTLE², João; NASCIMENTO⁴, H. L. B.; LIMA5, Diego Tolentino de; BRAZ⁶, Guilherme Braga Pereira; FERREIRA⁷, Izabela Silva; FERREIRA, Reginaldo Nassar⁸

1 Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal, Pesquisador Veterinário II – CTC - COMIGO.

2 Engenheiro Agrônomo, Dr. em Qualidade e Produtividade Animal, Professor Adjunto da EVZ/UFG.

3 Engenheiro Agrônomo, PhD Animal Science, Professor Voluntário do PPGZ – EVZ/UFG.

4 Engenheiro Agrônomo, Dr. em Zootecnia, Pesquisador Agronômico II – CTC - COMIGO.

5 Engenheiro Agrônomo, Dr. Agronomia, Pesquisador Agronômico II – CTC - COMIGO.

6 Engenheiro Agrônomo, Dr. Agronomia, Pesquisador Agronômico II – CTC - COMIGO.

7 Graduanda de Medicina Veterinária, Universidade de Rio Verde – UniRV.

8Médico Veterinário, Dr em Zootecnia, Professor do ICB - UFG.

INTRODUÇÃO

Aparticipação da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é notória. Reconhecido como o maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil movimentou cerca de R$ 895 bilhões nesse setor no ano de 2023, o que correspondeu a 8,2% do PIB (ABIEC, 2024).

Embora com avanços perceptíveis nos últimos anos, como redução das áreas de pastagens e aumento do rebanho, os índices de produtividade da pecuária brasileira requerem incrementos significativos para que possam ser cada vez mais sustentáveis. Nesse sentido, a pecuária executada de forma intensiva a pasto mostra-se como o caminho mais próspero a ser percorrido, uma vez que, do total de aproximadamente 42 milhões de abates de bovinos em 2023, apenas 16,6% foram de animais confinados, ou seja, 83,4% foram de animais terminados sob alguma estratégia nutricional a pasto (ABIEC, 2024).

A produção de bovinos a pasto evoluiu consideravelmente nos últimos anos, permitindo a redução da idade de abate e o aumento do peso das carcaças. Estratégias que visam o encurtamento da fase de recria e proporcionam maiores taxas de crescimento têm sido cada vez mais utilizadas. Essas transformações foram possíveis graças aos investimentos em pesquisas e à adoção de tecnologias nutricionais como as suplementações estratégicas, o uso de matérias primas de excelente qualidade, a inclusão de coprodutos nas dietas e a participação imprescindível dos aditivos nutricionais.

Na bovinocultura a pasto, um dos maiores desafios do pecuarista é a sazonalidade da produção forrageira. Dentre outros fatores, a variação nos índices de pluviosidade ao longo do ano influencia as forrageiras tropicais a apresentarem alta qualidade e disponibilidade no período das

águas e baixos valores para essas características durante a estação seca, o que resulta em variação da oferta nutricional para o rebanho conforme as condições climáticas (SILVA et al., 2015).

Segundo Detmann et al. (2010), durante os períodos do ano em que ocorrem precipitações de forma regular (transição seca-águas, águas e transição águas-seca), a forragem disponível ao pastejo não pode ser considerada estável do ponto de vista nutricional, pois a forma como o crescimento vegetal se altera durante estes períodos, bem como a interação do animal com a massa disponível podem levar a alterações significativas na qualidade da dieta ingerida. Este comportamento pode alterar alguns elementos limitantes da dieta e demandar alterações quantitativas e qualitativas no suplemento ofertado aos animais.

Portanto, quando o objetivo da fazenda é promover crescimento contínuo dos animais durante a fase de recria, mantendo taxas de ganho superiores a 700 g dia-1 que resultem no abate de animais jovens, suplementações estratégicas durante o período de transição águas-seca podem ser utilizadas (ZERVOUDAKIS et al., 2010). Para Goes et al. (2008), a suplementação proteico-energética associada ao manejo eficiente das pastagens promove melhor digestibilidade das plantas maduras e maior eficiência na utilização dos nutrientes da dieta.

Diante do exposto, objetivou-se avaliar o desempenho, o consumo de suplementos, as características morfométricas e as características da carcaça de bovinos de corte submetidos a duas estratégias de suplementação durante o período de transição águas-seca na região do Sudoeste Goiano.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Setor de Pecuária do Centro Tecnológico da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (COMIGO), localizado na microrregião Sudeste do estado de Goiás, no município de Rio Verde (latitude Sul 17° 47’ 53”, longitude Oeste 51° 55’ 53” e altitude média de 815 m).

Para este experimento, foram utilizados 96 tourinhos Nelore (Figura 1), com idade média de 15 meses e peso corporal médio de 251 kg. Antes do início do período experimental, os animais foram vacinados contra clostridioses, desverminados e identificados.

Após a identificação, os animais foram pesados, casualizados e distribuídos aleatoriamente em dois tratamentos: 1) ATS, que recebeu suplementação proteico-energética específica para o período de transição entre os suplementos de águas e seca; e 2) AS, que não recebeu suplementação específica para o período de transição entre os suplementos de águas e seca (Figura 2). Ambos os suplementos foram fornecidos com o consumo estimado de 0,6% do peso corporal, sendo que cada tratamento possuía 48 animais.

Grupo ATS

Adaptação Cooperbef ÁGUAS Cooperbeef TRANSIÇÃO Cooperbeef SECA

Grupo AS

Adaptação Cooperbef ÁGUAS Cooperbeef SECA

0 14d 14d

Figura 2. Esquema das estratégias de suplementação durante o período experimental.

Figura 1. Tourinhos Nelore durante o pastejo. Foto tirada em 07/04/2024. Fonte: Arquivo pessoal

O período experimental foi do dia 29 de dezembro de 2023 ao dia 27 de maio de 2024, totalizando 150 dias de avaliações. Os primeiros 14 dias corresponderam ao período de adaptação dos animais ao pasto, ao manejo e aos suplementos.

Para o fornecimento dos suplementos, os animais eram diariamente levados ao curral de manejo, localizado ao lado da área de pastagem, separados por tratamento e alojados em baias coletivas com cinco ou seis animais por baia, onde permaneciam das 10:00 às 14:00 h. As baias eram equipadas com cocho de concreto com disponibili-

Quadro 1. Composição dos suplementos utilizados no experimento.

NUTRIENTE

Cálcio (Mín.), g

Cálcio (Máx.), g

Fósforo, mg

Sódio, g

Magnésio, mg

Enxofre, mg

Cobre, mg

Manganês, mg

Zinco, mg

Cobalto, mg

Iodo, mg

Selênio, mg

Vit. A, UI

Vit. D, UI

Vit. E, UI

Narasina, mg

Extrato etéreo, g

FDA, g

NDT, g

PB, g

NNP Eq. PB

FONTE: Suplemento Mineral COMIGO

dade de 1,2 m lineares por animal e bebedouro de concreto com capacidade para 500 L e com enchimento acionado por gravidade.

Os tratamentos foram fornecidos por meio de três suplementos proteico-energéticos comerciais (Quadro 1), sendo eles: Cooperbeef Águas®, Cooperbeef Transição® e Cooperbeef Seca® (proteico energético). Ao término do fornecimento diário de suplemento, os animais eram reconduzidos ao pasto. As sobras eram pesadas diariamente e o consumo médio diário de suplemento foi determinado pela diferença entre a quantidade fornecida e as sobras.

Cooper BEEF Águas

Cooper BEEF Transição

SECA

Os animais foram manejados em pasto constituído por dois módulos de grama Tifton-85 (Cynodon dactylon), com área total de 11 ha distribuídos em 17 piquetes, com dimensões diferentes, variando de 0,33 a 0,86 ha cada piquete. Na área de lazer, comum a todos os piquetes, havia a presença de bebedouros de metal com enchimento acionado por gravidade. Antes do início do experimento, a área recebeu uma adubação de cobertura com o fertilizante formulado (06-30-06) na dose de 750 kg ha-1. A segunda adubação foi realizada em cobertura durante a execução do experimento com o fertilizante (20-00-20) na dose de 150 kg ha-1.

Para as avaliações de desempenho, foram realizadas pesagens a cada 28 dias, sendo as pesagens iniciais e finais realizadas após jejum prévio de sólidos de no mínimo 16 h. As medidas morfométricas foram realizadas no início e no fim do período experimental com uso de fita métrica e bengala hipométrica. As mensurações realizadas foram: altura da garupa (AG) - distância entre a tuberosidade sacral, na garupa, e a extremidade distal do membro posterior; altura da cernelha (AC) - distância entre a região da cernelha e a extremidade distal do membro anterior; largura da garupa (LG) - distância entre os trocânteres maiores dos fêmures; largura do peito (LP) - distância entre as faces das articulações escápulo-umerais; comprimento corporal (CC) - medida que vai da articulação escapulo-umeral à articulação coxofemoral e perímetro torácico (PT) - perímetro tomando-se como base o esterno e a cernelha, passando por trás da paleta. Os escores de condição corporal também foram determinados no início e no fim do experimento por um mesmo avaliador treinado.

As mensurações de carcaça foram realizadas por meio de equipamento de ultrassonografia (ALOKA 500V), em tempo real, com transdutor linear de 17,2 cm e 3,5 MHz e acoplador acústico. Foram avaliadas área de olho de lom-

bo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e espessura de gordura na picanha (EGSP), em mm, bem como o marmoreio em %. As medidas de AOL e EGS foram obtidas entre a 12ª e a 13ª costelas, do lado direito do animal, com o transdutor posicionado perpendicularmente à coluna vertebral e transversalmente sobre o músculo Longissimus thoracis (contra-filé). Para o melhor acoplamento entre o transdutor e a curvatura da costela, utilizou-se um standoff (acoplador acústico de silicone). O marmoreio foi quantificado com auxílio do software BIA (Bovine Image Analysis), autorizado pela Ultrasound Guidelines Council (UGC), em imagens capturadas diretamente sobre o Longissimus thoracis entre a 11ª, 12ª e a 13ª costelas, com o transdutor em posicionamento longitudinal em relação à coluna vertebral. Para garantir o melhor contato da sonda com o corpo do animal, utilizou-se óleo vegetal como acoplante acústico. Todas as avaliações foram realizadas pela empresa DGT Brasil Ltda, por técnicos treinados e credenciados pela UCG. Posteriormente, as imagens foram interpretadas, analisadas, certificadas e arquivadas pelo técnico da DGT Brasil e, em seguida, o relatório final foi encaminhado ao Setor de Pecuária do CTC COMIGO.

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com duas estratégias de suplementação como tratamentos. Os dados foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para as análises de escore de condição corporal, os dados foram comparados através do teste de Kruskal-Wallis, ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise estatística dos dados, utilizou-se o pacote estatístico easyanova (ARNHOLD, 2013), enquanto para as análises de regressão dos pesos no tempo utilizou-se o modelo de regressão não linear (logístico) do pacote estatístico easyreg (ARNHOLD, 2018) do programa computacional R, versão 4.0.2 (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As diferentes estratégias de suplementação (ATS e AS) não influenciaram o desempenho dos animais (P ≥ 0,05) ao longo do período avaliado (Tabela 1), uma vez que ambos os grupos apresentaram valores semelhantes de ganho médio total (GMT), ganho médio diário (GMD) e peso final. O GMD observado no presente estudo foi inferior que os valores médios de 0,66 kg dia-1 encontrados por Vieira (2020) ou que os valores médios de 0,75 kg dia-1 reportados por Lima et al. (2012). Entretanto, é importante ressaltar que a taxa de lotação utilizada por esses autores foi, em média, de 3,2 unidades animais (UA) por hectare. Já no presente experimento, a taxa de lotação média foi de 5,44 UA ha-1, o que resultou em uma produção total de 17,88 arrobas por hectare para ambos os grupos.

Tabela 1. Desempenho de bovinos de corte sob duas estratégias de suplementação durante o período de transição águas-seca. CTC - 2024.

Tratamento²

Peso inicial, kg

Peso final, kg

kg

kg dia-1

¹GMT = ganho médio total; GMD = ganho médio diário. 2ATS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas, transição e seca; AS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas e seca; 3EPM = erro padrão da média; 4Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

As análises das curvas de crescimento permitem avaliar o padrão de desempenho dos animais ao longo do período total de avaliação, e não somente em momentos

específicos. Na Figura 3, é possível constatar que os animais desempenharam de forma similar ao longo de todo o experimento.

Figura 3. Curvas de crescimento de bovinos de corte submetidos a duas estratégias de suplementação durante o período de transição águas-seca.

Quanto às características morfométricas, verificou-se que, na avaliação inicial, o grupo AS apresentou maiores valores (P ≤ 0,05) de altura de garupa (AG) e de perímetro torácico (PT) em relação ao grupo ATS (Tabela 2). Como essa avaliação foi realizada quando os animais estavam recebendo os mesmos tratamentos, essa diferença pode ser atribuída às características individuais, já que os animais adquiridos possuíam diferentes origens. Dessa forma, mesmo dentro da mesma raça e com mesmo peso corporal, os animais podem apresentar estrutu-

ras corporais diferentes em função de fatores como genética, nutrição e manejo. Essas diferenças foram anuladas ao final do experimento, exceto para a variável largura da garupa (LG), que foi maior para o grupo AS na última avaliação. Essas diferenças não eram esperadas, uma vez que as demais características morfométricas e de desempenho foram semelhantes entre os grupos. Características morfológicas podem ser utilizadas como ferramentas complementares para agregar valor aos processos de seleção objetiva (SOARES et al., 2021).

Tabela 2. Características morfométricas de bovinos de corte sob duas estratégias de suplementação durante o período de transição águas-seca. CTC – 2024.

Variável¹

INICIAL

AG, cm

AC, cm

LG, cm

LP, cm

CC, cm

PT, cm

PE, cm

FINAL

AG, cm

AC, cm

LG, cm

LP, cm

CC, cm

PT, cm

PE, cm

130,54b 126,06 43,58 31,92 109,43 150,35b 23,37 140,33 131,62 41,72b 33,95 113,08 158,87 26,31 134,31a 128,43 43,35 33,02 110,66 153,16a 22,79 141,42 132,18 43,08a 33,77 113,56 159,54 25,47

0,0708 0,1447 0,0014 0,3819 0,1734 0,3366 0,0068 0,6813 0,4875 0,6267 0,1199 Tratamento²

¹ AG = Altura da garupa; AC = altura da cernelha; LG = largura da garupa; LP = largura de peito; CC = comprimento corporal; PT = perímetro de tórax; PE = perímetro escrotal. 2ATS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas, transição e seca; AS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas e seca; 3EPM = erro padrão da média; 4Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Com relação às avaliações de carcaça por ultrassonografia, observou-se que o grupo ATS apresentou maior AOL (P ≤ 0,05) no início do período experimental. Entretanto, na avaliação realizada ao final do experimento, constatou-se que as características de carcaça apresentaram valores semelhantes entre os grupos ATS e AS (Tabela 3). Esses resultados confirmam a semelhança nos padrões de crescimento e no ganho de peso dos animais de ambos os grupos, mesmo submetidos a diferentes estratégias de suplementação.

Tabela 3. Características da carcaça avaliadas por ultrassonografia em bovinos de corte sob duas estratégias de suplementação durante o período de transição águas-seca. CTC – 2024.

INICIAL

AOL, cm2

MAR, pts

EGS, mm

PICANHA, mm

FINAL

AOL, cm2

MAR, pts

EGS, mm

PICANHA, mm

¹AOL = Área de olho de lombo; MAR = marmoreio; EGS = espessura de gordura subcutânea; PICANHA = espessura de gordura na picanha. 2ATS= Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas, transição e seca; AS= Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas e seca; 3EPM = erro padrão da média; 4Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade

Tratamento²

O suplemento Cooperbeef Águas®, fornecido durante a fase inicial, apresentou diferentes consumos, seja em g por dia, em g por kg de peso corporal ou em % do total oferecido, conforme apresentado nas Tabela 4 e 5 e nas

Tabela 4. Consumo dos suplementos em g por dia. CTC – 2024.

Tratamento¹

Figuras 3 e 4. Essa diferença era esperada uma vez que, ao iniciar o mês de março, o grupo ATS passou a receber o suplemento Cooperbeef Transição®.

Cooperbeef Águas

Cooperbeef Transição

Cooperbeef Seca

¹ATS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas, transição e seca; AS = Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas e seca; 2EPM = erro padrão da média; 3Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

5.

Tratamento¹

Cooperbeef Águas

Cooperbeef Transição

Cooperbeef Seca

¹ATS= Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas, transição e seca; AS= Grupo experimental que recebeu os suplementos de águas e seca; 2EPM = erro padrão da média; 3Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Na primeira fase da pesquisa, ambos os grupos receberam o suplemento específico para o período das águas (Cooperbeef Águas®). Como a proposta do experimento era substituir o suplemento de águas pelo suplemento de transição (Cooperbeef Transição®) visando antecipar os efeitos negativos da redução na qualidade do pasto nes-

Consumo total de suplementos, kg

A B P ≤,01 B A

3. Consumo de suplementos, em kg, para cada tipo de suplemento.

sa época, o grupo ATS passou a receber o suplemento de transição no início do mês de março. Dessa forma, a diferença no consumo de suplemento de águas no grupo ATS ocorreu devido à substituição pelo consumo do suplemento de transição (Figuras 3 e 4).

de suplementos, em % da quantidade total ofertada, para cada tipo de suplemento.

Tabela
Consumo dos suplementos em g por kg de peso corporal. CTC – 2024.
Figura
Figura 4. Consumo

Mudanças abruptas no consumo de suplementos podem impactar no padrão de fermentação ruminal, interferir nas proporções de ácidos graxos de cadeia curta produzidos no rúmen e, consequentemente, no desempenho animal (BRITO, 2021). Uma das vantagens atribuídas à suplementação de transição é a de proporcionar queda suave no consumo quando o suplemento de águas é substituído, o que de fato ocorreu no presente estudo (Figura 5). Observou-se que na 9ª semana, quando o suplemen-

Consumo semanal médio dos suplementos, g

to de águas foi substituído pelo de transição para o grupo ATS, houve uma redução menos brusca do que aquela observada na 14ª semana, quando o grupo AS passou do Cooperbeef Águas® para o Cooperbeef Seca®. Os animais desse grupo, mesmo submetidos a um período de adaptação ao suplemento de seca, tiveram o consumo reduzido pela metade em relação à quantidade de suplemento de águas ingerida anteriormente.

Figura 5. Consumo médio de suplemento por baia, em g por semana, durante o período experimental.

As estratégias nutricionais requerem planejamento e adequação às condições de manejo e, principalmente, das pastagens. O fornecimento do suplemento de transição teve impacto no total de suplemento consumido por ambos os grupos. Embora essa substituição não tenha exercido influência no desempenho dos animais, verificou-se impacto

Custo total dos suplementos, R$ cab-1

no custo total despendido com a suplementação (Figura 6).

A estratégia de suplementação de transição representou economia de R$ 17,00 por animal. Essa diferença pode impactar a lucratividade da atividade já que com menor valor obteve-se a mesma quantidade de arrobas produzidas.

Figura 6. Custo total dos suplementos, em R$ por cabeça, durante o período experimental.

A ausência de diferença no desempenho dos animais de ambos os tratamentos pode ser explicada pela qualidade da forragem, que permaneceu com níveis de proteína bruta similares e elevados durante quase todo o período experimental, exceto pela redução observada no mês de maio (Tabela 6). Essa condição não era esperada, já que historicamente os pastos de tifton apresenta alteração na sua composição a partir do mês de abril, conforme evidenciado em anos anteriores na mesma área (BILEGO et al., 2021; BILEGO et al., 2022). Isso pode ter ocorrido em razão da frequência regular de precipitação que houve durante

6. Composição bromatológica da grama Tifton-85,

a pesquisa. Durante o período experimental, verificou-se a ocorrência de chuva em todas as semanas (Figura 7), exceto pelas últimas quatro, quando também observou-se temperaturas mínimas abaixo de 15 ºC. Nessas condições, as forrageiras tropicais podem ter o crescimento comprometido e determinar momentos de estacionalidade da produção forrageira (MENDONÇA et al., 2006). Adicionalmente, o período que diferenciou os tratamentos foi de apenas 37 dias, quando o grupo ATS recebeu o suplemento de transição. Esse tempo de fornecimento não foi suficiente para alterações no desempenho dos animais.

¹MS = Matéria seca; PB = proteína bruta; EE = extrato etéreo; FDN = fibra insolúvel em detergente neutro; FDA = fibra insolúvel em detergente ácido; NDT = nutrientes digestíveis totais. 2C.V. = Coeficiente de variação.3 Médias seguidas por letras diferentes na linha diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade

Figura 7. Valores semanais das temperaturas máxima, média e mínima e da precipitação durante o período experimental. Fonte: Estação meteorológica PlugField instalada no Centro Tecnológico COMIGO em Rio Verde, Goiás (S 17°45’45’’ O 51°02’16’’).

Tabela
durante os meses de avaliação experimental. CTC – 2024.

A hipótese de que a suplementação de transição pode influenciar positivamente o ganho de peso dos animais fundamentou-se nas condições da forragem que, a partir dos meses de março e abril, geralmente sofrem alterações, gradativamente perdendo qualidade e reduzindo o acúmulo de matéria seca até que de fato o período seco se estabeleça. Entretanto, essa diferença não ocorreu devido às constantes chuvas que permitiram acúmulo de umidade no solo e, consequentemente, garantiram bom desempenho de ambos os grupos. Em anos de escassez precoce de chuvas, espera-se que a qualidade do pasto seja reduzida de forma mais abrupta, resultando em respostas distintas às observadas no presente estudo. Nesse sentido, mais pesquisas são necessárias para elucidar os impactos das diferentes estratégias de suplementação na produção animal.

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